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Universidade Estadual de Ponta Grossa

Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes


Departamento de História
Disciplina: Teoria da História e Historiografia I
Docente: Erivan Cassiano Karvat
Discente: Bruna Gonçalves Ferreira (1°NB)

FICHAMENTO LITERÁRIO DE APOLOGIA DA HISTÓRIA OU O OFÍCIO DE


HISTORIADOR – MARC BLOCH

Introdução:

O livro Apologia da história ou Oficio de historiador de Marc Bloch, aborda os


principais pontos do trabalho de um pesquisador na área histórica. Ele delineia
desde o conceito histórico até os pontos mais profundos de análise. Infelizmente
Bloch é morto pelos nazistas antes do fim desse brilhante livro, o que me faz pensar
que ele é fruto de sua época com posições que precisavam ser abordadas sobre o
seu ofício. O autor também aconselha seus leitores, possivelmente historiadores, a
cumprir seu papel como pesquisador que é informar e esclarecer.
Meu trabalho foi organizado seguindo a maneira como o autor preparou o seu livro,
destaquei cada tópico dos capítulos escritos por Bloch para que a interpretação seja
clara tanto para mim como para o leitor do meu trabalho. Mas basicamente meu
trabalho é composto de paráfrases e citações do livro.
Capítulo I - A história, os homens e o tempo

1.1. A escolha do historiador

 As intenções de Marc Bloch na primeira parte desse capítulo é responder às


“questões o que é História?” e “qual é o trabalho de um historiador?”;
 “A palavra História é uma antiquíssima: [tão antiga que às vezes nos cansamos
dela. Raramente, é verdade, chegou-se a querer riscá-la completamente do
vocabulário]. (...) Seguramente desde que surgiu, já há mais de dois milênios, ela
mudou muito de conteúdo.” (p. 51);
 “(...) face à imensa e confusa realidade, o historiador é necessariamente levado a
nela recortar o ponto de aplicação particular de suas ferramentas; em
consequência, a nela fazer uma escolha (...) que será propriamente uma escolha de
historiador. Este é um autêntico problema da ação. Ele nos acompanhará ao longo
de todo nosso estudo.” (p. 52);

1.2. A História e os homens

 Marc Bloch discorda da ideia de que “a história é a ciência do passado”, para o


autor, o passado não pode ser um instrumento da ciência, pois lhe parece estranha
à ideia de fatos terem apenas em comum a sua contemporaneidade, por exemplo.
(p. 52);
 O autor, então, faz uso da história “o Golfo e o Zwin” e atribui a ela o estudo tanto
geológico tanto o histórico, pois a mudança ambiental que ocorre no relato é
provocada por homens, dando início ao argumento que o objeto de estudo da
História é o homem (p. 53-54);
 “(...) o objetivo da historia, por natureza, é o homem. Digamos melhor: os homens.
Mais que o singular, favorável à abstração, o plural que é o modo gramatical da
relatividade, convém a uma ciência da diversidade. (...) são os homens que a
história quer capturar. (...) Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda.
Onde fareja carne humana, sabe que ali está sua caça.” (p. 54);
 Bloch propõe uma discussão sobre como se deve chamar o estudo da história
“arte” ou “ciência”, já que para ele, existem diferenças entre o humano e o natural.
O autor também difere vários campos de pesquisa, como a matemática da história.
“Não há menos beleza numa equação exata do que numa frase correta.” (p. 54).
Além de acrescentar que para ser um bom historiador precisa-se que haja “tato com
as palavras” (p. 54-55);

1.3. O tempo histórico

 Para Marc Bloch, a “ciência dos homens” é um termo muito vago, ele propõe a
adição de “tempo” à expressão, tornando–se então: “a ciência dos homens no
tempo”. Não obstante, o tempo, para o autor, é apenas uma medida que tange à
realidade viva e concreta, submetida à rigidez do tempo. Ao contrário do tempo da
história, que tenta compor clareza aos fatos históricos (p. 55);
 Para o autor, o tempo é contínuo e suscetível à mudança. E não se deve
considerar o conhecimento mais antigo necessário, ou até mesmo supérfluo, pra
compreender o mais recente. (p. 55-56);

1.4. O ídolo das origens

 Marc critica historiadores que fazem do passado o seu principal meio de estudo e
que explicam a história pelo mais recente até o mais antigo. O autor chama isso de
“obsessão das origens”. (p. 56);
 Para Bloch, a palavra origem é preocupante, pois, ela não significa apenas inícios
ou começos, mas também causas, o que no âmbito religioso, por exemplo, dá
importância à história das mesmas. (p. 56);
 “Mas entre os dois sentidos frequentemente se constitui uma contaminação tão
temível que não é em geral muito claramente sentida. Para o vocabulário corrente,
as origens são um começo que explica. Pior ainda: que basta para explicar. Aí mora
a ambiguidade; aí mora o perigo.” (p. 56-57);
 O autor faz uma comparação com o “avanço” da Biologia em relação à História,
para ele as Ciências Biológicas ganha um novo estimulo com o evolucionismo, já as
Ciências Históricas, tanto a francesa tanto a alemã, ficam retidas ao estudo das
origens. (p. 57);
 Para o autor, o passado geralmente é usado para justificar e condenar. “De modo
que em muitos casos o demônio das origens foi talvez apenas um avatar desse
outro satânico inimigo da verdadeira história: a mania do julgamento.” (p. 58);
 Marc Bloch induz ao pensamento de que se Jesus morreu e ressuscitou não é
motivo para que o cristianismo tenha tantos adeptos ao longo dos anos, mas sim,
pelo reconhecimento dos cristãos com o seu meio social. O autor ainda exemplifica
usando o evolucionismo (do carvalho e o da glande), dizendo que o carvalho cresce
e se desenvolve a partir de um ambiente favorável. (p. 58);
 “A história religiosa foi citada aqui apenas a título de exemplo. A qualquer atividade
humana que seu estudo se associe, o mesmo erro sempre espreita o intérprete:
confundir uma filiação com uma explicação.” (p. 58);
 Ele ainda pontua que o uso etimológico de muitas palavras não atende mais as
suas origens. (p. 59);
 Marc Bloch conclui essa discussão dizendo que não se explica o fato histórico fora
de seu momento. E cita um provérbio árabe “Os homens se parecem mais com sua
época do que com os seus pais.” (p. 60);

1.5. Passado e presente


 Marc Bloch levanta pontos contra o estudo do “presente”, ele diz que o estudo
do imediato se tornou mais tênue, por estar, mais próximo de nós. Ele também
infere que muitos que fazem do presente o seu principal meio de estudo,
desconsideram a sua ligação com o passado. (p. 60);
 O autor observa que o presente é algo efêmero, “um instante que nasce e
morre”. Além de acrescentar que o “presente” significa “passado recente” e nos
convence a aceitar esse termo que, em sua concepção, é frouxo. (p. 60);
 Ele critica a forma a qual foi ensinado a entender história, “ “ A partir de 1830, já
não é mais história” dizia os nossos professores de liceu, que era [muito] velho
quando eu era muito jovem: “é política”. Não diríamos mais hoje “a partir de
1830” – As Três Gloriosas, por sua vez, envelheceram – nem “é política”. Antes,
num tom respeitoso: “é sociologia”; ou, com menos consideração, “jornalismo”.
Muitos porém repetiram de bom grado: a partir de 1914 ou 1940, não é mais
história. Sem aliás, entenderem-se muito bem sobre os motivos desse
ostracismo.” (p. 61);
 O autor então diz que para estudar o presente precisa-se que haja uma
interpretação do passado: “para explicar à tarde, bastasse conhecer no máximo,
a manhã” (p. 62). Para ele a compreensão do que é atual muitas vezes se torna
impossível sem recorrer a fatos históricos mais antigos. (p. 62-63);
 “A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado.” (p.
65);
 E concluindo esse pensamento Marc Bloch diz que a História é a ciência que
unifica o estudo dos mortos e dos vivos, sempre terá um ponto de partida que é o
tempo.
 “Uma ciência, entretanto, não se define apenas por seu objeto. Seus limites
podem ser fixados, também pela natureza própria de seus métodos. Resta
portanto nos perguntarmos se, segundo nos aproximemos ou afastemos do
momento presente, as próprias técnicas da investigação não deveriam ser tidas
por essencialmente diferentes. Isto é colocar o problema da observação
histórica.” (p. 68);
Capítulo II - A observação histórica

2.1. [Características gerais da observação histórica]

 Marc Bloch compara um historiador que tem ênfase em estudos do passado com
um investigador criminal, pois ambos tentam reconstituir aquilo que não
presenciaram. Sendo assim, um trabalho “indireto”, o que difere, por exemplo, de
um estudo do presente (p. 69-70);
 O autor pontua que o historiador com foco no imediato tem o privilégio de estudar o
presente por meio de suas próprias percepções, o que chama de “observação
direta”, e lembra que isso é limitado, pois o estudo histórico geralmente se baseia
em testemunhos de outras pessoas. Ele conclui dizendo que o estudo do presente
não tem uma versão privilegiada ao estudo do passado. (p.70);
 Em seguida, Bloch levanta uma nova questão sobre a observação do passado mais
longínquo ser, de certa forma, mais “indireto”. Ele começa uma questão com os
dogmas dos antigos historiadores (ou historiadores que vieram antes dele) que
tratavam a história de uma forma padrão, como em uma “tragédia clássica”. Em sua
concepção, estes historiadores, estão sempre por último na fila para tomar
conhecimento dos fatos. “Não é um bom lugar para ser informado com segurança”
(p. 71). (p. 70-71);
 Ele complementa a sua tese (que eu abordei no tópico acima) citando especialistas
do método, que entendem como história indireta aquilo que não toca o espírito do
historiador. (p. 72);
 Então Bloch cita uma das faces da observação histórica: os vestígios. E explica que
os historiadores pesquisam e estudam aquilo que resta dos fenômenos. (p. 73);
 “Como primeira característica, o conhecimento de todos os fatos humanos no
passado, da maior parte deles no presente, deve ser, [segundo a feliz expressão de
François Simiand,] um conhecimento através de vestígios. Quer se trate das
ossadas emparedadas nas muralhas da Síria, de uma palavra cuja forma ou
emprego revele um costume, de um relato escrito pela testemunha de uma cena
antiga [ou recente], o que entendemos efetivamente por documentos senão um
“vestígio”.” (p. 73);
 Marc evoca a discussão de que o passado é algo mutável, mas a pesquisa sobre o
passado não é, muito pelo contrário, o estudo do passado está em progresso que
se transforma e se aperfeiçoa. (p. 75);
 Ele conclui dizendo que existem áreas na história que os historiadores dificilmente
vão conseguir entender, como a cabeça do homem no século XI, que é o exemplo
citado por Bloch, porque, segundo ele, não existem vestígios suficientes para fazer
essa reconstrução. (p. 75);

2.2. Os testemunhos

 O autor inicia a explicação sobre os testemunhos citando dois exemplos: o


primeiro deles é de Heródoto de Túrio, que escreve seus relatos a fim de deixar
para outras gerações, o que Bloch chama de testemunhos voluntários. E o
segundo são os relatos que os egípcios antigos levavam para o túmulo, que no
livro é descrito como testemunho involuntário. (p.76);
 Para Marc Bloch os testemunhos involuntários são mais seguros e confortáveis
para pesquisa, pois são feitos sem a intenção de estudos postumamente. Já os
testemunhos voluntários carregam a intenção de serem lidos e estudados, e
podem reservar um pouco de seletividade. (p.77);
 Para que se possa conduzir uma boa pesquisa histórica, segundo Bloch,
precisa-se saiba conduzir bem suas testemunhas e seus registros. Pois os
documentos não dizem por eles mesmos, precisa-se saber manipulá-los. “No
princípio, diriam de bom grado, eram os documentos.” (p. 78-79);
 Os historiadores quando entram em contato com documentos precisam ler,
interpretar e avaliar a veracidade e autenticidade do mesmo, para então se
nortear dentro da pesquisa, pois segundo Bloch observação passiva não leva
lugar nenhum, ou como ele diz não “fecunda”. (p. 78-79);
 “Naturalmente, é necessário que essa escolha ponderada de perguntas seja
extremamente flexível, suscetível de agregar, no caminho, uma multiplicidade de
novos tópicos, e aberta a todas as surpresas. De tal modo, no entanto, que
possa desde o início servir de imã às limalhas do documento. O explorador sabe
muito bem, previamente, que o itinerário que ele estabelece, no começo, não
será seguido ponto a ponto. Não ter um, no entanto, implicaria o risco de errar
eternamente ao acaso.” (p. 79);
 Para Bloch, existe uma infinidade de testemunhos históricos sobre o homem, e
tudo o que ele diz, escreve ou toca vira uma informação sobre ele. O autor ainda
aborda que os fatos humanos são mais complexos que muitos outros, pois o
homem está na ponta extrema da natureza. (p. 79-80-81);
 Seria bom, segundo Bloch , que o historiador tivesse pelo menos um breve
conhecimento sobre todas as técnicas do seu trabalho. (p. 81);

2.3. A transmissão dos testemunhos

 Para Bloch selecionar os documentos de pesquisa histórica é a parte mais difícil


pra um historiador, por isso se deve contar com a ajuda de arquivos e bibliotecas
para fazer essa difícil escolha. (p. 82);
 Segundo o autor, é impossível que um historiador não tenha um conhecimento
prévio sobre sua pesquisa. Ele aborda a importância das fontes históricas para um
estudo, e aconselha pesquisadores a escreverem em suas análises quais foram os
métodos e os livros, por exemplo, usados para concluir sua tese. (p. 83);
 O autor explica como a pesquisa da História está subjugada a sorte. Como por
exemplo, as guerras que algumas vezes destruíram com acervos de pesquisa
importantíssimos. E a erupção de Vesúvio, que de certo modo ajudou aos
pesquisadores a terem conhecimento sobre a Pompéia. (p.84-85);
 Nesse tópico do capítulo Marc denuncia o descaso com as fontes históricas que
muitas vezes são omitidas pelos próprios homens. Ele se preocupa com as
sociedades que não cuidam de seus arquivos e documentos, principalmente com as
pessoas que escondem os vestígios históricos causando o que o autor chama de
“sigilo”. (p. 85);

Capítulo III - A crítica

3.1. Esboço de uma história do método crítico

 Marc inicia esse capítulo criticando a veracidade dos testemunhos e vestígios. Ele
diz que muitas vezes esses “dados” podem falsificados ao longo do tempo. (p. 89);
 ““Com tinta, qualquer um pode escrever qualquer coisa”, exclamava no século XI,
um fidalgo provinciano loreno, em processo contra monges que armavam-se de
provas documentais contra ele.” (p. 89);
 Porém, o ceticismo é simplista no ponto de vista de Marc Bloch, assim como a
credulidade mais fecunda. Mais a frente o autor explica que o progresso no campo
da história veio com a dúvida, e a descreve como “examinadora”. (p. 90);
 Para Bloch a palavra crítica ganha um novo sentido de prova e veracidade, além de
agregar uma descoberta de método. (p. 91);
 “A crítica, “essa espécie de archote que nos ilumina e conduz pelas estradas
obscuras da Antiguidade, fazendo-nos distinguir o verdadeiro do falso”: assim se
exprime Elias du Pin.” (p. 91);
 Bloch diz que os métodos da crítica foram praticados de forma regular, quase que
exclusivamente por eruditos, exegetas e curiosos. Para ele a história corre um
perigo, no âmbito do estudo, de empasse entre a preparação e realização, como em
dupla face. “Não sendo mais guiado de cima, arrisca-se a se agarrar
indefinidamente a problemas insignificantes ou mal-formulados. Não existe pior
desperdício do que o a erudição quando gira no vazio, nem soberba mais deslocada
do que do orgulho do instrumento que se toma por um fio em si.” (p, 93);
 Marc diz que talvez nunca os pesquisadores tenham desenvolvido a crítica de
forma plena, ele se inclui nessa pauta. E critica a maneira como muitas vezes a
História chega aos leitores, sem seriedade e com aparência de “falso brilhante”. E
acrescenta que cabe ao historiador dizer a proveniência dos documentos que usou
para escrever a sua pesquisa. (p. 93-94);
 Ele infere que à medida que os testemunhos involuntários vão ganhando destaque,
começa-se a procura de informações que não estavam explícitas anteriormente. (p.
95);
 Para o autor, o pesquisador não tem mais essa forma rabugenta, mas não se
tornou crédulo com as informações nas quais se depara, o historiador sabe que
suas testemunhas podem se enganar ou mentir, mas o mais importante é ouvi-las
para entendê-las. E isso se torna o mais belo método crítico que não foi modificado
em seus primórdios, em sua concepção. (p. 96);

3.2. Em busca da mentira e do erro

 Marc Bloch inicia esse tópico falando que o pior veneno dos testemunhos é a
impostura. (p.96);
 “Deveria ser supérfluo lembrar que, inversamente os testemunhos mais insuspeitos
em sua proveniência declarada não são, necessariamente, por isso, testemunhos
verídicos.” (p. 97);
 Para Bloch não basta saber que existem testemunhos falsos, precisa-se conhecer
os seus motivos. Ele ressalva que a mentira muitas vezes serve como testemunho,
e que é muito importante conseguir achar a raiz desse “erro” para compreendê-lo.
(p. 98);
 Para Marc, a crítica é automaticamente levada a buscar a mentira por trás do
testemunho, ou melhor, a buscar quem é o mentiroso por trás do da mentira.
Segundo o autor, a mentira pode ter uma infinidade de motivos, mas que na maioria
das vezes ela não é sensata, e cita André Gide para dizer que a mentira é “um ato
gratuito”. (p. 98);
 Então Bloch fala sobre a psicologia dos testemunhos que estão rodeados de
incertezas, pois existem muitas falsificações de relatos, desde erros que não são
intencionais até os erros propositais. (p. 105);
3.3. Tentativa de uma lógica do método crítico

 Marc Bloch inicia esse tópico inferindo que a crítica do testemunho é uma arte tanto
sensível como racional, ou seja, que tem uma dialética própria e que induz à
dedução. (p. 109);
 Segundo o autor, só se estabelece uma data para um determinado fato histórico,
quando sua inserção se dá por ordem cronológica, através de comparações entre
relatos. Mas essas comparações não são automáticas, elas têm o objetivo de
avaliar suas semelhanças e diferenças, causando muitas vezes conclusões distintas
sobre o mesmo fato. (p. 109);
 Para verificar a veracidade de relatos, Bloch aconselha que os pesquisadores
recorram a outros testemunhos, sendo assim existe a necessidade que um deles
não se sustente para a legitimação do outro. (p. 109/110);
 “O princípio da contradição proíbe impiedosamente que um acontecimento possa
ser e não ser ao mesmo tempo.” (p. 110);
 Para Bloch, existem também os testemunhos plagiados, que podem ou não beber
da mesma fonte, o que dificulta o trabalho do pesquisador. No entanto, para trazer à
luz o verdadeiro testemunho precisa-se que haja comparação entre os mesmos,
fazendo uso de critérios externos. (p. 112-113);
 Bloch aborda o método da crítica estatística para exemplificar a pesquisa em
moedas e preços, e diz que para que ele possa existir é necessário que se faça uso
do raciocínio crítico, ou princípio da semelhança limitada. (p. 113-114);
 Segundo Bloch, para que um relato seja tido como verídico é preciso que exista
alguma semelhança com outros testemunhos. (p. 115);
 “Mesmo negando à crítica do plágio, cuja alma é a negação das repetições
espontâneas ou de acontecimentos de palavras, a coincidência é uma das
bizarrices que não se deixam eliminar da história.” (p. 116);
 A crítica varia-se entre o pró e o contra, quando os relatos se colidem, surgindo
assim à dúvida de conhecimento que precisa priorizar a incerteza e a comparação.
(p.117);
 “Avaliar a probabilidade de um acontecimento é estimar as chances que tem de se
produzir. Posto isso, será legitimo falar da possibilidade de um fato passado? No
sentido absoluto, evidentemente não. Só o futuro é aleatório. O passado um dado
que não deixa mais lugar para o possível.” (p.117);
 Para Bloch se analisarmos com calma o que a pesquisa histórica faz com o que
existe de provável, não terá resquícios de que a probabilidade não é contraditória.
Para ele um historiador que faz a comparação entre os relatos se “transporta” para
momentos antes dos acontecimentos para validarem os testemunhos, provando que
a probabilidade se dá no futuro. “Mas tendo sendo sido a linha do presente, de certo
modo, imaginariamente recuada, trata-se de um futuro de outrora, construído com
um pedaço daquilo que, para nós, é atualmente o passado.” (p.117);

Capítulo 4 - A análise histórica

4.1 Julgar ou compreender?

 Marc analisa a ideia de se escrever história, e cita Rank e Heródoto que pregam o
relato fiel aos acontecimentos, o que exprime certa passividade diante dos fatos.
Segundo o autor, isso acarreta em dois problemas centrais: a imparcialidade
histórica e a reprodução histórica. (p. 125);
 O autor amplia a sua ideia de imparcialidade histórica, ao indagar sobre a
problemática da imparcialidade, dizendo que seu uso anterior foi equivocado. Ele
delimita duas maneiras de ser imparcial que é a do cientista
(historiador/pesquisador) e a do juiz. (p. 125);
 O historiador tem o papel de pesquisar, observar e explicar. Já o Juiz tem o “poder”
de declarar a sentença ao culpado. (p. 125);
 Marc critica o historiador que julga as ações de homens passados, e que o
julgamento pode levar o pesquisador a “perder o gosto” de explicar os fatos e cita
Montaigne que diz que quando a história se volta para um lado, os fatos ficam
distorcidos. (p. 126);
 “Uma palavra, para resumir, domina e ilumina nossos estudos: “compreender”. Não
digamos que o historiador é alheio às paixões; ao menos, ele tem esta. Palavra, não
dissimulemos, carregada de dificuldades, mas também de esperanças. Palavra,
sobretudo, carregada de benevolência. Até na ação, julgamos um pouco demais. É
cômodo gritar “à forca”. Jamais compreendemos o bastante. [...] A História, com a
condição de ela própria renunciar a seus falsos ares de arcanjo, deve nos ajudar a
curar esse defeito. Ela é uma vasta experiência de variedades humanas, um longo
encontro dos homens. A vida, como ciência tem tudo a ganhar se esse encontro for
fraternal.” (p. 128);

4.2. Da diversidade dos fatos humanos à unidade da consciência

 O autor diz que a compreensão não é simultânea à passividade, pois para fazer da
História uma ciência é necessário uma realidade e um “homem”. Ele acrescenta que
a percepção do cientista é fundamental para o seu ofício assim como a análise. (p.
128);
 Marc enuncia uma discussão sobre os fatos humanos, usando como exemplo as
religiões, que tem em comum a emoção. Ele usa esse enredo para dizer que os
fatos humanos podem auxiliar na compreensão de estudos do mesmo gênero. (p.
129);
 “Na medida em que sua determinação é operada do mais antigo para o mais
recente, os fenômenos, humanos se orientam, antes de tudo, por cadeias de
fenômenos semelhantes. Classificá-los por gêneros é portanto desvelar linhas de
força de uma eficácia capital.” (p.130);
 Marc aborda um pouco da “geografia humana”, que ele diz ser um fator histórico. A
antropogeografia segundo Bloch estuda as sociedades e suas relações com o meio
físico, ou seja, a influência que o homem exerce sobre as coisas, e que estas
exercem sobre o homem. (p. 131);
 “Ora o, homo religiosus, homo oeconomicus, homo politicus, toda essa ladainha de
homens em us, cuja lista poderíamos estender à vontade, evitemos toma-los por
outra coisa do que na verdade são: fantasmas cômodos , com a condição de não se
tornarem um estorvo. O único ser de carne e osso é o homem, sem mais, que reúne
ao mesmo tempo tudo isso.” (p.132);
 Marc Bloch diz que um homem pode ter varias versões de si mesmo, e que a
função do pesquisador é também analisar as relações do homem, com a religião,
como sua classe social e grupos políticos, para então recompor ou “reconstruir” o
homem em um todo. (p. 133-135);

4.3. A nomenclatura

 Marc Bloch inicia esse tópico inferindo que é necessário que se consiga distinguir
as instituições que existem dentro de um sistema político. Ele aprofunda aqui
dizendo que dentro de uma mesma religião existem várias práticas, e que muitas
vezes é difícil designar uma classificação, que se torna também um problema á
nomenclatura. (p. 135);
 O autor fala que toda a analise depende de um instrumento de linguagem
apropriado, e cita Paul Valéry que diz os historiadores não chegaram a uma
exatidão, e Marc indaga se algum dia chegará a alguma exatidão. (p.135-136);
 O autor então coloca em cheque a questão da nomenclatura. Mais precisamente
sobre como os nomes que são dados a acontecimentos podem mudar ao longo do
tempo. Ele exemplifica com o termo patrício que na antiguidade designava as
pessoas com poder e que na modernidade essas pessoas são chamadas de
burguesia. (p. 137-138);
 “Essas divergências verbais apresentam, em si mesmas, fatos bastante dignos de
atenção. Porém, ao conformar a isso sua própria terminologia, o historiador não
comprometeria apenas a inteligibilidade de seu discurso; impossibilitaria até mesmo
o trabalho de classificação, que figura entre seus primeiros deveres.” (p.138);
 Marc Bloch fala um pouco sobre as traduções de palavras que às vezes podem
criar divergências em seus significados. Ele também falou um pouco sobre o
bilinguismo hierárquico que se enfrentam, pois uma língua sempre será popular e a
outra culta. (p.138);
 Ele reflete um pouco sobre o surgimento da palavra Capitalismo e a sua
transformação ao longo dos períodos. (p. 145);

4.4. V (Sem título)

 Marc Bloch aconselha que os historiadores sempre que fizerem uma análise façam
um recorte sobre os temas abordados por eles, para que tenham uma maior
interpretação do todo. (p. 147);
 Marc crítica a maneira como muitas vezes os historiadores classificam a ordem
cronológica, mas precisamente a criação do que é chamado por século. “Na
confusão de nossas classificações cronológicas, uma moda insinuou-se, bem
recentemente creio, tanto mais intrusiva, em todo caso, quanto menos sensata.
Com naturalidade, contamos por séculos.” (p. 149);
 Marc conclui dizendo que uma sociedade raramente será igual do começo ao fim,
assim como mudam os hábitos e comportamentos de uma geração para outra, as
sociedades também mudaram ao longo dos anos. (p.151);

Capítulo 5 - (Sem título)

 Marc inicia seu último capítulo criticando assiduamente a tentativa positivista de


eliminar a ideia de causa, pois a metafisica das causas, para Bloch esta fora do
nosso ponto de visão, além de o emprego de causalidade como saber histórico
exige uma “consciência crítica”. (p. 155);
 Bloch enuncia que causa é diferente de condição e cita Simiand, que diz que para
um médico a propagação de um micróbio é a causa e a sujeira é a condição. (p.
156-157);
 Ele adverte os perigos de se acreditar em um causa única, pois para ele o
pesquisador precisa perguntar o porquê dos fatos e aceitar uma longa resposta. (p.
157);
 “Os fatos históricos são por essência, fatos psicológicos. É portanto em outros fatos
psicológicos que encontram geralmente seus antecedentes.” (p.157);
 O autor começa uma discussão sobre o erro do historiador dizendo que o erro é
análogo, e necessita de explicações. (p. 158-159);
 “Resumindo tudo, as causas, em história como em outros domínios, não são
postuladas. São buscadas.” (p.159);

Referência:

BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar Editor, 2002.

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