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Introdução:
Para Marc Bloch, a “ciência dos homens” é um termo muito vago, ele propõe a
adição de “tempo” à expressão, tornando–se então: “a ciência dos homens no
tempo”. Não obstante, o tempo, para o autor, é apenas uma medida que tange à
realidade viva e concreta, submetida à rigidez do tempo. Ao contrário do tempo da
história, que tenta compor clareza aos fatos históricos (p. 55);
Para o autor, o tempo é contínuo e suscetível à mudança. E não se deve
considerar o conhecimento mais antigo necessário, ou até mesmo supérfluo, pra
compreender o mais recente. (p. 55-56);
Marc critica historiadores que fazem do passado o seu principal meio de estudo e
que explicam a história pelo mais recente até o mais antigo. O autor chama isso de
“obsessão das origens”. (p. 56);
Para Bloch, a palavra origem é preocupante, pois, ela não significa apenas inícios
ou começos, mas também causas, o que no âmbito religioso, por exemplo, dá
importância à história das mesmas. (p. 56);
“Mas entre os dois sentidos frequentemente se constitui uma contaminação tão
temível que não é em geral muito claramente sentida. Para o vocabulário corrente,
as origens são um começo que explica. Pior ainda: que basta para explicar. Aí mora
a ambiguidade; aí mora o perigo.” (p. 56-57);
O autor faz uma comparação com o “avanço” da Biologia em relação à História,
para ele as Ciências Biológicas ganha um novo estimulo com o evolucionismo, já as
Ciências Históricas, tanto a francesa tanto a alemã, ficam retidas ao estudo das
origens. (p. 57);
Para o autor, o passado geralmente é usado para justificar e condenar. “De modo
que em muitos casos o demônio das origens foi talvez apenas um avatar desse
outro satânico inimigo da verdadeira história: a mania do julgamento.” (p. 58);
Marc Bloch induz ao pensamento de que se Jesus morreu e ressuscitou não é
motivo para que o cristianismo tenha tantos adeptos ao longo dos anos, mas sim,
pelo reconhecimento dos cristãos com o seu meio social. O autor ainda exemplifica
usando o evolucionismo (do carvalho e o da glande), dizendo que o carvalho cresce
e se desenvolve a partir de um ambiente favorável. (p. 58);
“A história religiosa foi citada aqui apenas a título de exemplo. A qualquer atividade
humana que seu estudo se associe, o mesmo erro sempre espreita o intérprete:
confundir uma filiação com uma explicação.” (p. 58);
Ele ainda pontua que o uso etimológico de muitas palavras não atende mais as
suas origens. (p. 59);
Marc Bloch conclui essa discussão dizendo que não se explica o fato histórico fora
de seu momento. E cita um provérbio árabe “Os homens se parecem mais com sua
época do que com os seus pais.” (p. 60);
Marc Bloch compara um historiador que tem ênfase em estudos do passado com
um investigador criminal, pois ambos tentam reconstituir aquilo que não
presenciaram. Sendo assim, um trabalho “indireto”, o que difere, por exemplo, de
um estudo do presente (p. 69-70);
O autor pontua que o historiador com foco no imediato tem o privilégio de estudar o
presente por meio de suas próprias percepções, o que chama de “observação
direta”, e lembra que isso é limitado, pois o estudo histórico geralmente se baseia
em testemunhos de outras pessoas. Ele conclui dizendo que o estudo do presente
não tem uma versão privilegiada ao estudo do passado. (p.70);
Em seguida, Bloch levanta uma nova questão sobre a observação do passado mais
longínquo ser, de certa forma, mais “indireto”. Ele começa uma questão com os
dogmas dos antigos historiadores (ou historiadores que vieram antes dele) que
tratavam a história de uma forma padrão, como em uma “tragédia clássica”. Em sua
concepção, estes historiadores, estão sempre por último na fila para tomar
conhecimento dos fatos. “Não é um bom lugar para ser informado com segurança”
(p. 71). (p. 70-71);
Ele complementa a sua tese (que eu abordei no tópico acima) citando especialistas
do método, que entendem como história indireta aquilo que não toca o espírito do
historiador. (p. 72);
Então Bloch cita uma das faces da observação histórica: os vestígios. E explica que
os historiadores pesquisam e estudam aquilo que resta dos fenômenos. (p. 73);
“Como primeira característica, o conhecimento de todos os fatos humanos no
passado, da maior parte deles no presente, deve ser, [segundo a feliz expressão de
François Simiand,] um conhecimento através de vestígios. Quer se trate das
ossadas emparedadas nas muralhas da Síria, de uma palavra cuja forma ou
emprego revele um costume, de um relato escrito pela testemunha de uma cena
antiga [ou recente], o que entendemos efetivamente por documentos senão um
“vestígio”.” (p. 73);
Marc evoca a discussão de que o passado é algo mutável, mas a pesquisa sobre o
passado não é, muito pelo contrário, o estudo do passado está em progresso que
se transforma e se aperfeiçoa. (p. 75);
Ele conclui dizendo que existem áreas na história que os historiadores dificilmente
vão conseguir entender, como a cabeça do homem no século XI, que é o exemplo
citado por Bloch, porque, segundo ele, não existem vestígios suficientes para fazer
essa reconstrução. (p. 75);
2.2. Os testemunhos
Marc inicia esse capítulo criticando a veracidade dos testemunhos e vestígios. Ele
diz que muitas vezes esses “dados” podem falsificados ao longo do tempo. (p. 89);
““Com tinta, qualquer um pode escrever qualquer coisa”, exclamava no século XI,
um fidalgo provinciano loreno, em processo contra monges que armavam-se de
provas documentais contra ele.” (p. 89);
Porém, o ceticismo é simplista no ponto de vista de Marc Bloch, assim como a
credulidade mais fecunda. Mais a frente o autor explica que o progresso no campo
da história veio com a dúvida, e a descreve como “examinadora”. (p. 90);
Para Bloch a palavra crítica ganha um novo sentido de prova e veracidade, além de
agregar uma descoberta de método. (p. 91);
“A crítica, “essa espécie de archote que nos ilumina e conduz pelas estradas
obscuras da Antiguidade, fazendo-nos distinguir o verdadeiro do falso”: assim se
exprime Elias du Pin.” (p. 91);
Bloch diz que os métodos da crítica foram praticados de forma regular, quase que
exclusivamente por eruditos, exegetas e curiosos. Para ele a história corre um
perigo, no âmbito do estudo, de empasse entre a preparação e realização, como em
dupla face. “Não sendo mais guiado de cima, arrisca-se a se agarrar
indefinidamente a problemas insignificantes ou mal-formulados. Não existe pior
desperdício do que o a erudição quando gira no vazio, nem soberba mais deslocada
do que do orgulho do instrumento que se toma por um fio em si.” (p, 93);
Marc diz que talvez nunca os pesquisadores tenham desenvolvido a crítica de
forma plena, ele se inclui nessa pauta. E critica a maneira como muitas vezes a
História chega aos leitores, sem seriedade e com aparência de “falso brilhante”. E
acrescenta que cabe ao historiador dizer a proveniência dos documentos que usou
para escrever a sua pesquisa. (p. 93-94);
Ele infere que à medida que os testemunhos involuntários vão ganhando destaque,
começa-se a procura de informações que não estavam explícitas anteriormente. (p.
95);
Para o autor, o pesquisador não tem mais essa forma rabugenta, mas não se
tornou crédulo com as informações nas quais se depara, o historiador sabe que
suas testemunhas podem se enganar ou mentir, mas o mais importante é ouvi-las
para entendê-las. E isso se torna o mais belo método crítico que não foi modificado
em seus primórdios, em sua concepção. (p. 96);
Marc Bloch inicia esse tópico falando que o pior veneno dos testemunhos é a
impostura. (p.96);
“Deveria ser supérfluo lembrar que, inversamente os testemunhos mais insuspeitos
em sua proveniência declarada não são, necessariamente, por isso, testemunhos
verídicos.” (p. 97);
Para Bloch não basta saber que existem testemunhos falsos, precisa-se conhecer
os seus motivos. Ele ressalva que a mentira muitas vezes serve como testemunho,
e que é muito importante conseguir achar a raiz desse “erro” para compreendê-lo.
(p. 98);
Para Marc, a crítica é automaticamente levada a buscar a mentira por trás do
testemunho, ou melhor, a buscar quem é o mentiroso por trás do da mentira.
Segundo o autor, a mentira pode ter uma infinidade de motivos, mas que na maioria
das vezes ela não é sensata, e cita André Gide para dizer que a mentira é “um ato
gratuito”. (p. 98);
Então Bloch fala sobre a psicologia dos testemunhos que estão rodeados de
incertezas, pois existem muitas falsificações de relatos, desde erros que não são
intencionais até os erros propositais. (p. 105);
3.3. Tentativa de uma lógica do método crítico
Marc Bloch inicia esse tópico inferindo que a crítica do testemunho é uma arte tanto
sensível como racional, ou seja, que tem uma dialética própria e que induz à
dedução. (p. 109);
Segundo o autor, só se estabelece uma data para um determinado fato histórico,
quando sua inserção se dá por ordem cronológica, através de comparações entre
relatos. Mas essas comparações não são automáticas, elas têm o objetivo de
avaliar suas semelhanças e diferenças, causando muitas vezes conclusões distintas
sobre o mesmo fato. (p. 109);
Para verificar a veracidade de relatos, Bloch aconselha que os pesquisadores
recorram a outros testemunhos, sendo assim existe a necessidade que um deles
não se sustente para a legitimação do outro. (p. 109/110);
“O princípio da contradição proíbe impiedosamente que um acontecimento possa
ser e não ser ao mesmo tempo.” (p. 110);
Para Bloch, existem também os testemunhos plagiados, que podem ou não beber
da mesma fonte, o que dificulta o trabalho do pesquisador. No entanto, para trazer à
luz o verdadeiro testemunho precisa-se que haja comparação entre os mesmos,
fazendo uso de critérios externos. (p. 112-113);
Bloch aborda o método da crítica estatística para exemplificar a pesquisa em
moedas e preços, e diz que para que ele possa existir é necessário que se faça uso
do raciocínio crítico, ou princípio da semelhança limitada. (p. 113-114);
Segundo Bloch, para que um relato seja tido como verídico é preciso que exista
alguma semelhança com outros testemunhos. (p. 115);
“Mesmo negando à crítica do plágio, cuja alma é a negação das repetições
espontâneas ou de acontecimentos de palavras, a coincidência é uma das
bizarrices que não se deixam eliminar da história.” (p. 116);
A crítica varia-se entre o pró e o contra, quando os relatos se colidem, surgindo
assim à dúvida de conhecimento que precisa priorizar a incerteza e a comparação.
(p.117);
“Avaliar a probabilidade de um acontecimento é estimar as chances que tem de se
produzir. Posto isso, será legitimo falar da possibilidade de um fato passado? No
sentido absoluto, evidentemente não. Só o futuro é aleatório. O passado um dado
que não deixa mais lugar para o possível.” (p.117);
Para Bloch se analisarmos com calma o que a pesquisa histórica faz com o que
existe de provável, não terá resquícios de que a probabilidade não é contraditória.
Para ele um historiador que faz a comparação entre os relatos se “transporta” para
momentos antes dos acontecimentos para validarem os testemunhos, provando que
a probabilidade se dá no futuro. “Mas tendo sendo sido a linha do presente, de certo
modo, imaginariamente recuada, trata-se de um futuro de outrora, construído com
um pedaço daquilo que, para nós, é atualmente o passado.” (p.117);
Marc analisa a ideia de se escrever história, e cita Rank e Heródoto que pregam o
relato fiel aos acontecimentos, o que exprime certa passividade diante dos fatos.
Segundo o autor, isso acarreta em dois problemas centrais: a imparcialidade
histórica e a reprodução histórica. (p. 125);
O autor amplia a sua ideia de imparcialidade histórica, ao indagar sobre a
problemática da imparcialidade, dizendo que seu uso anterior foi equivocado. Ele
delimita duas maneiras de ser imparcial que é a do cientista
(historiador/pesquisador) e a do juiz. (p. 125);
O historiador tem o papel de pesquisar, observar e explicar. Já o Juiz tem o “poder”
de declarar a sentença ao culpado. (p. 125);
Marc critica o historiador que julga as ações de homens passados, e que o
julgamento pode levar o pesquisador a “perder o gosto” de explicar os fatos e cita
Montaigne que diz que quando a história se volta para um lado, os fatos ficam
distorcidos. (p. 126);
“Uma palavra, para resumir, domina e ilumina nossos estudos: “compreender”. Não
digamos que o historiador é alheio às paixões; ao menos, ele tem esta. Palavra, não
dissimulemos, carregada de dificuldades, mas também de esperanças. Palavra,
sobretudo, carregada de benevolência. Até na ação, julgamos um pouco demais. É
cômodo gritar “à forca”. Jamais compreendemos o bastante. [...] A História, com a
condição de ela própria renunciar a seus falsos ares de arcanjo, deve nos ajudar a
curar esse defeito. Ela é uma vasta experiência de variedades humanas, um longo
encontro dos homens. A vida, como ciência tem tudo a ganhar se esse encontro for
fraternal.” (p. 128);
O autor diz que a compreensão não é simultânea à passividade, pois para fazer da
História uma ciência é necessário uma realidade e um “homem”. Ele acrescenta que
a percepção do cientista é fundamental para o seu ofício assim como a análise. (p.
128);
Marc enuncia uma discussão sobre os fatos humanos, usando como exemplo as
religiões, que tem em comum a emoção. Ele usa esse enredo para dizer que os
fatos humanos podem auxiliar na compreensão de estudos do mesmo gênero. (p.
129);
“Na medida em que sua determinação é operada do mais antigo para o mais
recente, os fenômenos, humanos se orientam, antes de tudo, por cadeias de
fenômenos semelhantes. Classificá-los por gêneros é portanto desvelar linhas de
força de uma eficácia capital.” (p.130);
Marc aborda um pouco da “geografia humana”, que ele diz ser um fator histórico. A
antropogeografia segundo Bloch estuda as sociedades e suas relações com o meio
físico, ou seja, a influência que o homem exerce sobre as coisas, e que estas
exercem sobre o homem. (p. 131);
“Ora o, homo religiosus, homo oeconomicus, homo politicus, toda essa ladainha de
homens em us, cuja lista poderíamos estender à vontade, evitemos toma-los por
outra coisa do que na verdade são: fantasmas cômodos , com a condição de não se
tornarem um estorvo. O único ser de carne e osso é o homem, sem mais, que reúne
ao mesmo tempo tudo isso.” (p.132);
Marc Bloch diz que um homem pode ter varias versões de si mesmo, e que a
função do pesquisador é também analisar as relações do homem, com a religião,
como sua classe social e grupos políticos, para então recompor ou “reconstruir” o
homem em um todo. (p. 133-135);
4.3. A nomenclatura
Marc Bloch inicia esse tópico inferindo que é necessário que se consiga distinguir
as instituições que existem dentro de um sistema político. Ele aprofunda aqui
dizendo que dentro de uma mesma religião existem várias práticas, e que muitas
vezes é difícil designar uma classificação, que se torna também um problema á
nomenclatura. (p. 135);
O autor fala que toda a analise depende de um instrumento de linguagem
apropriado, e cita Paul Valéry que diz os historiadores não chegaram a uma
exatidão, e Marc indaga se algum dia chegará a alguma exatidão. (p.135-136);
O autor então coloca em cheque a questão da nomenclatura. Mais precisamente
sobre como os nomes que são dados a acontecimentos podem mudar ao longo do
tempo. Ele exemplifica com o termo patrício que na antiguidade designava as
pessoas com poder e que na modernidade essas pessoas são chamadas de
burguesia. (p. 137-138);
“Essas divergências verbais apresentam, em si mesmas, fatos bastante dignos de
atenção. Porém, ao conformar a isso sua própria terminologia, o historiador não
comprometeria apenas a inteligibilidade de seu discurso; impossibilitaria até mesmo
o trabalho de classificação, que figura entre seus primeiros deveres.” (p.138);
Marc Bloch fala um pouco sobre as traduções de palavras que às vezes podem
criar divergências em seus significados. Ele também falou um pouco sobre o
bilinguismo hierárquico que se enfrentam, pois uma língua sempre será popular e a
outra culta. (p.138);
Ele reflete um pouco sobre o surgimento da palavra Capitalismo e a sua
transformação ao longo dos períodos. (p. 145);
Marc Bloch aconselha que os historiadores sempre que fizerem uma análise façam
um recorte sobre os temas abordados por eles, para que tenham uma maior
interpretação do todo. (p. 147);
Marc crítica a maneira como muitas vezes os historiadores classificam a ordem
cronológica, mas precisamente a criação do que é chamado por século. “Na
confusão de nossas classificações cronológicas, uma moda insinuou-se, bem
recentemente creio, tanto mais intrusiva, em todo caso, quanto menos sensata.
Com naturalidade, contamos por séculos.” (p. 149);
Marc conclui dizendo que uma sociedade raramente será igual do começo ao fim,
assim como mudam os hábitos e comportamentos de uma geração para outra, as
sociedades também mudaram ao longo dos anos. (p.151);
Referência: