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DEPARTAMENTO DE COMISSÕES
DIVISÃO DE PROPOSIÇÕES LEGISLATIVAS
Atenciosamente,
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Folheto informativo sobre a Doença de Crohn da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Disponível
no seguinte endereço: https://www.sbcp.org.br/pdfs/publico/crohn.pdf. Consultado a 04/04/18.
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Os pacientes que evoluem com doença por mais de 10 anos precisam ser controlados
através de colonoscopia periódica, pois estão mais sujeitos a maiores riscos de displasia
e neoplasia intestinal2.
O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Doença de Crohn, aprovado pela
Portaria Conjunta n. 14, de 28 de novembro de 2017, da Secretaria de Atenção à Saúde
do Ministério da Saúde, define esta enfermidade do seguinte modo:
A doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória intestinal de origem
desconhecida, caracterizada pelo acometimento segmentar, assimétrico e transmural de
qualquer porção do tubo digestivo, da boca ao ânus. Apresenta-se sob três formas
principais: inflamatória, fistulosa e fibroestenosante. Os segmentos do tubo digestivo
mais acometidos são íleo, cólon e região perianal. Além das manifestações no sistema
digestório, a DC pode ter manifestações extraintestinais, sendo as mais frequentes as
oftalmológicas, dermatológicas e reumatológicas (...). Em países desenvolvidos, a
prevalência e a incidência situam-se em torno de 50:100.000 e 5:100.000,
respectivamente. Uma estimativa da prevalência na cidade de São Paulo encontrou 14,8
casos por 100.000 habitantes (...). A DC tem início mais frequentemente na segunda e
terceira décadas de vida, mas pode afetar indivíduos de qualquer faixa etária.
A menção ao Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas não é redundante, nem
gratuita. Tem o propósito de introduzir no exame da questão de que tratamos um
documento cuja relevância é essencial ao seu esclarecimento, como veremos a seguir.
2. O Sistema Único de Saúde: alguns aspectos essenciais à compreensão do presente
problema – Sobre a impossibilidade de legislar sobre a matéria no âmbito dos Estados
Federados.
O art. 6º da Constituição Federal preceitua que
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (grifo nosso)
O art. 6º consta do Capítulo II, “Dos Direitos Sociais”, que, por sua vez, integra o
Título II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, da Constituição Federal.
Comumente mencionados como liberdades fundamentais, os direitos e garantias
fundamentais são reconhecidos como atributos intangíveis da pessoa humana e, em
decorrência disto, os preceitos que os veiculam gozam de um estatuto privilegiado entre
as normas constitucionais, compondo o que o Prof. José Afonso da Silva chama de
“núcleo imutável” do Texto Magno, o que equivale a dizer cláusula pétrea.
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As informações contidas neste e nos parágrafos anteriores constam do mesmo folheto informativo da
SPCP citado anteriormente.
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Reiterando os termos do art. 6º, o art. 196 da Constituição da República preceitua que
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Desenvolvendo tal princípio, o Texto Magno organiza os serviços públicos de saúde
sob a forma de “uma rede regionalizada e hierarquizada”, constituída como “sistema
único” e organizada segundo as seguintes diretrizes:
(a) “descentralização, com direção única em cada esfera de governo”;
(b) “atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais”, e
(c) “participação da comunidade” (CF, art. 198).
No campo infraconstitucional, a principal norma a organizar o Sistema Único de
Saúde (SUS) é a Lei n. 8080, de 19 de setembro de 1990, que “dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências”.
No art. 6º, I, “d”, do mencionado diploma, o legislador enuncia pela primeira vez o
conceito de “assistência terapêutica integral”, que, posteriormente, será elaborado de
modo mais extenso e profundo no Capítulo VIII, “Da Assistência Terapêutica e da
Incorporação de Tecnologia em Saúde.
Efetivamente, ao elucidar do que se trata esta “assistência terapêutica integral”, o art.
19-M esclarece que ela consistirá da:
(a) dispensação de medicamentos e produtos de interesse para a saúde, cuja
prescrição esteja em conformidade com as diretrizes terapêuticas definidas em
protocolo clínico para a doença ou o agravo à saúde a ser tratado ou, na falta do
protocolo, em conformidade com o disposto no art. 19-P, e da
(b) oferta de procedimentos terapêuticos, em regime domiciliar, ambulatorial e
hospitalar, constantes de tabelas elaboradas pelo gestor federal do Sistema Único de
Saúde - SUS, realizados no território nacional por serviço próprio, conveniado ou
contratado.
E o que seriam estas diretrizes terapêuticas definidas em protocolo clínico? É o que
esclarece, por seu turno, o art. 19-N, II, nos seguintes termos:
“Art. 19-N – (...)
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Este é o nome oficial da famosa “tabela SUS”, que remunera os procedimentos médicos efetuados a
expensas do sistema.
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É ao imaginarmos o teor da Moção que uma questão logo se impõe: No que se apoia
a Comissão de Saúde ao recomendar o transplante de células-tronco?
Antes de tudo, os Membros da Comissão devem se apoiar nos seus próprios
conhecimentos e na sua compreensão da matéria. Não cabe a nós colocar em questão
nenhum destes aspectos, dada, inclusive, a sua subjetividade.
Entretanto, quando lembramos que a prescrição de qualquer medicamento ou
procedimento médico deve ter um fundamento científico, devemos ter em mente que a
existência de tal fundamento só pode ser constatada por meio de um processo de
validação científica, que, logicamente, não terá lugar nas Casas Legislativas ou mesmo
na Administração e, sim, onde a ciência é produzida.
Em outros termos, não é a própria Administração que, no âmbito dos serviços de
saúde, deve constatar a validade científica de uma nova intervenção terapêutica. É à
pesquisa médica, realizada segundo os princípios e normas do ambiente acadêmico, que
cabe realizar tal demonstração. E, ao fazê-lo, ela oferece às instâncias administrativas da
Saúde Pública um fundamento legítimo para adoção daquele mesmo procedimento
como uma de suas práticas correntes.
A pesquisa médica de que tratamos é, geralmente, desenvolvida por meio de ensaios
clínicos. Os ensaios clínicos
São utilizados para investigar novos procedimentos clínicos ou novos medicamentos
destinados a identificar, prevenir ou tratar doenças. Os ensaios clínicos que envolvem
medicamentos podem ser realizados em consultórios médicos, clínicas ou centros de
estudo.5
Todo o processo é delineado por um documento escrito, a que se dá o nome de
“protocolo de estudo”. Segundo a Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa
Clínica (SBPPC), o protocolo de estudo “define todo o planejamento do projeto” e deve
descrever, dentre outros aspectos, os seguintes:
(1) Países que participarão do estudo e o número de pacientes que serão incluídos no
estudo;
(2) Critérios de inclusão e exclusão para a seleção dos participantes (Por exemplo:
mulheres, de idade superior a 18 anos, portadoras de câncer de mama, que não estejam
grávidas nem amamentando, etc.);
(3) Número de consultas que serão realizadas (Por exemplo: uma consulta a cada 15
dias durante 6 meses);
5
O que são ensaios clínicos? Texto disponível na seguinte página da MSD na Rede Mundial de
Computadores (Internet): http://msd.pt/ensaios-clinicos/o-que-sao-ensaios-clinicos/ Consultado no dia
16/04/2018.
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(4) Os exames que serão realizados e com que frequência (Por exemplo: o paciente
realizará exame de sangue – hemograma – a cada 15 dias; radiografia de tórax a cada 2
meses, etc.);
(5) A medicação que será estudada, a dose, forma de administrar (Por exemplo: a
paciente receberá o medicamento “x” por uma infusão intravenosa a cada mês, durante
1 ano);
(6) Os possíveis efeitos colaterais do medicamento e o que o investigador deve fazer
para contornar (tratar) estes efeitos e até mesmo quando ele deve interromper o
tratamento com o medicamento do estudo, e
(7) A duração do estudo, ou seja, por quanto tempo o projeto acontecerá.6
Conforme o Prof. Álvaro Oscar Campana 7, o ensaio clínico controlado randomizado
é, a investigação preferida quando o objetivo é testar a eficiência do tratamento por
drogas, por um procedimento cirúrgico ou por outro tipo de intervenção8.
Em essência, dois grupos idênticos de pacientes são estudados, num delineamento
prospectivo, isto é, em que os dados são coletados depois que se deu início ao estudo. De
preferência, uma única variável é avaliada - por exemplo, o efeito de uma droga contra o
efeito placebo. Ambos os grupos são acompanhados durante tempo especificado, após o
que é analisado o comportamento da variável, tal como definido no início do estudo – na
realidade, isto corresponde ao resultado final (“end point”) do ensaio; pode ser, por
exemplo, a concentração do colesterol no soro ou, mesmo, algum evento clínico.
(...)
O tamanho da amostra é fator importante quanto à credibilidade dos resultados
fornecidos pelo ensaio. A partir de um número pequeno de casos analisados, existe o
risco de se chegar a uma conclusão que não corresponde à realidade. Esse problema pode
ser superado pelo delineamento em que se preveja a participação colaborativa de mais de
um ou de vários centros de pesquisa.
Outra modalidade de ensaio clínico muito utilizado na pesquisa de novos trtamentos
é o “ensaio clínico cruzado” (crossover), que o Prof. Campana explica do seguinte
modo:
Delineamento em que metade de um grupo de indivíduos recebe um tratamento (por
exemplo, uma droga) e a outra metade, o tratamento alternativo (placebo); a seguir, após
6
Conforme o portal da SBPPC na Internet: http://www.sbppc.org.br/portal/index.php?
option=com_content&task=view&id=18&Itemid=41 Consultado no dia 16/04/2018.
7
Professor Titular do Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP.
8
In Metodologia da investigação científica aplicada à área biomédica : 2. Investigações na área médica. Texto
disponível na Internet, no seguinte endereço: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
35861999000200005 Consultado a 17/04/2018.
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Idem.
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As informações relativas à Reunião da Comissão de Saúde de 20/03/2018 foram obtidas por esta
Divisão junto ao Serviço de Audiofonia desta Casa, que as forneceu por meio do arquivo contendo o
registro sonoro pertinente.
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Conclus ões
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CDD
Hpb - AL
Referências
Legislação:
Constituição da República Federativa do Brasil.
Constituição do Estado de São Paulo.
Lei Federal n. 8.080, de 19 de setembro de 1990.
Lei Federal n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990.
Decreto Federal n. 7.646, de 21 de dezembro de 2011.
Portaria Conjunta n. 14, de 28 de novembro de 2017, da Secretaria de Atenção à
Saúde do Ministério da Saúde, que aprovou o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas – Doença de Crohn.
Fontes:
Campana, Álvaro Oscar. Metodologia da investigação científica aplicada à área
biomédica : 2. Investigações na área médica. Texto disponível no seguinte endereço:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-35861999000200005
Consultado a 17/04/2018.
Folheto informativo sobre a Doença de Crohn. Portal da Sociedade Brasileira de
Coloproctologia (SBCP). https://www.sbcp.org.br/pdfs/publico/crohn.pdf. Consultado a
04/04/18.
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