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João Gabriel Artioli Nº 10 3º Ano do Ensino Médio

No Brasil atual as pessoas estão mais envoltas ao deus Apolo ou


Dionísio?

Na peça “O Mercador de Veneza” de William Shakespeare, Bassânio, um


veneziano nobre, mas falido, apaixona-se por Portia, uma mulher rica e bela
que morava em Belmonte e possuía muitos pretendentes. Diante disso, com o
fim de viajar à cidade de sua amada, o rapaz contata Antônio, um dos mais
insignes negociantes da cidade e seu melhor amigo, pedindo-lhe que
emprestasse certa quantia para conseguir realizar a expedição. O mercador
aceita o pedido, porém afirma não possuir a quantia necessária no momento,
pois todos seus investimentos estão em uma frota de navios e, por isso, sugere
ao companheiro que peça o estipulado a algum usurário de Veneza. Dessa
forma, Bassânio aceita a ideia e solicita o dinheiro a Shylock, um agiota judeu
com quem Antônio tinha inimizades. O semita, querendo se vingar de seu rival,
concorda com o empréstimo, contudo, pede como garantia uma libra
(aproximadamente quinhentos gramas) da carne do comerciante. Com isso, o
homem apaixonado diz ao seu amigo que desista da ideia, mas este, tomado
pela emoção de satisfazê-lo, tranquiliza-o garantindo que seus navios
chegariam dentro de dois meses, ou seja, um mês antes do término do
contrato, o que não ocorre e, em decorrência disto, o caso vai para a Justiça.

Ao analisar o enredo da obra shakespeariana, observa-se que Antônio,


segundo as denominações do filósofo Nietzche sobre arte, tomou uma atitude
“Dionisíaca”, ou seja, a emoção e a vontade impetuosa de agradar ao amigo se
sobrepõem à razão e fazem com que ele coloque em prática uma proposta
equivocada. Fora da ficção, muitos brasileiros, assim como o mercador de
Veneza, adotam medidas dionisíacas e isso pode ser provado através de sites
de compra e venda, onde alguns usuários, por terem achado um produto
barato, em vez de pesquisarem se aquela página é confiável, preferem efetuar
a transação, e isto, em várias ocasiões, acaba implicando em situações de
fraude nas quais o produto não chega ao local destinado. Portanto, esses
indivíduos se deixam levar pelos próprios desejos e esquecem que, para obter
os resultados esperados, é preciso antes refletir e perscrutar se a escolha
tomada pode acarretar consequências adversas.

Apesar disso, no contexto brasileiro, também há pessoas apolíneas, as quais


preferem fazer uso da racionalidade em vez da emoção, e logo, seus métodos
são pautados com o fim de manter um equilíbrio. Nesse contexto, como
exemplo, é possível dizer que se enquadram em tal princípio os profissionais
os quais trabalham na área científica ou dão uma grande importância ao
trabalho. Tendo isso em vista, esse estilo de vida pode gerar um melhor
controle sobre a vida produtiva, todavia, se a razão for usada de forma
exagerada, o individuo começa a tratar com seriedade tanto o âmbito privado
como o público. Dessa forma, há a possibilidade de a relação com a própria
família ser instabilizada, já que a emoção, em tal ocasião, é negligenciada e,
por conseguinte, a demonstração de sentimentos se mostra pouco aparente.

Por fim, não é possível dizer se há um maior predomínio de “Apolíneos” ou


“Dionisíacos” no Brasil, porquanto existem os que assumem tanto aquela como
esta personalidade. Assim, pode-se dizer apenas que o necessário é haver um
equilíbrio entre esses estados, ou seja, é preciso saber julgar as situações e,
após essa análise, utilizar-se do conceito mais propício aos diferentes
momentos do cotidiano, para as relações sociais e as escolhas individuais não
serem prejudicadas.

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