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Tecnologia para Aprender

Article · January 2015

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Alfred Sholl-Franco Glaucio Aranha


Federal University of Rio de Janeiro State Court of Rio de Janeiro , Rio de Janeiro, Brasil / Tribunal de Justiça do Rio d…
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ESPECIAL

Tecnologia
para aprender
Novas mídias se revelam, ao mesmo tempo, grandes
aliadas e vilãs no conflito de gerações entre professores
e alunos. Por um lado, são um potencial competidor
pelo foco de atenção dos alunos; por outro, se utilizadas
de forma planejada, podem estimular diferentes áreas
cerebrais e facilitar a apreensão das informações

Alfred Sholl-Franco e Gláucio Aranha

a o longo de toda a história, o homem adaptou técnicas


e criou instrumentos. Quando desenvolveu técnicas de
pinturas rupestres, por exemplo, que permitiram registrar infor-
mações sobre a fauna ou sobre as caçadas nas paredes das caver-
nas, ele estava desenvolvendo novas formas de tecnologia. Nesse
caso, a palavra “tecnologia” deve ser entendida como a aplicação
de um conhecimento por meio do uso de ferramentas, processos
ou materiais.
Cada novo avanço tecnológico que surge apresenta uma ma-
neira diferente de experimentar o mundo. Os bancos de dados
da internet e seus velozes sistemas de busca expandem de certa
maneira a capacidade de armazenamento da memória dos indi-
víduos, com a possibilidade de acessar informações específicas a
qualquer momento. As mensagens instantâneas aceleram o con-
tato com pessoas localizadas em espaços diferentes. O comparti-
lhamento de informações em redes sociais acelera e potencializa
a construção de um conhecimento participativo e colaborativo.

42 neuroeducação
neuroeducação 43
Nesse cenário, é importante pensar a
respeito do impacto das novas mídias aS FaSeS da inovacao
digitais (internet, celulares, tablets
etc.) sobre a cognição.
Cada tecnologia exige diferentes A assimilação de uma nova tecnologia ocorre nas seguintes eta-
pas: introdução (da tecnologia nova por um grupo de usuários
competências cognitivas para atingir
inovadores), crescimento (quando surgem os primeiros adeptos),
sua finalidade. Na história humana,
maturidade e declínio. Entre crescimento e maturidade abre-se
os mais variados recursos tecnológi- um abismo – a tecnologia passa a ser usada por algumas pes-
cos foram surgindo a partir de ciclos soas, mas não pela maioria. É preciso um salto para sua efetiva
de inovação. O sociólogo Everett consolidação. Após a maturidade de uma inovação, começará o
Rogers destaca que o processo de seu declínio diante de novas demandas. No Brasil, o uso de tec-
inovação se dá em fases (veja esque- nologia no ensino formal ainda está na fase do crescimento, ha-
ma ao lado). Em dado momento, vendo um abismo para sua aceitação.
há a Introdução de uma tecnologia
nova por um grupo de usuários ino-
vadores. Depois, surgem os primei-
ros adeptos, na fase de Crescimen- Crescimento
to. Nesse momento, instala-se um
introdução
abismo a ser superado com o salto
entre as primeiras tentativas de ins-
tauração da nova tecnologia e a sua CICLO DE
VIDA DO

Maturidade
efetiva assimilação e consolidação.
Algumas propostas têm a adesão de
poucas pessoas, mas não chegam a PRODUTO
se estabelecer, permanecendo o abis-
mo. Por exemplo, o uso de mídias de
forma sistemática no ensino formal
brasileiro ainda está na fase do Cres-
Declínio
cimento. Falta o salto para que atinja
a Maturidade. Entretanto, é impor-
tante ter em mente que nunca se tra-
ta de um processo final, ou seja, após
“o salto”
a Maturidade de uma inovação, co- icial e Maio
meçará seu Declínio diante de novas ria in ria
io
demandas. Ma
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Justamente por estarmos na fase


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tão para ser explorados, bem como


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quais aspectos na relação entre neu- s


s

re
rociências e educação precisam ser ado
v
Ino
conhecidos e dominados por educa- 2,5% 13,5% 34% 34% 16%
dores e estudantes.
As mídias são tecnologias que Introdução Crescimento Maturidade Declínio
têm por fim a comunicação. Sua re-
lação com os processos de aprendi-
zagem e memória normalmente está
44 NeUROeDUcaÇÃO
esPecial

associada com seu uso para expandir


a capacidade de armazenamento de criar conTeudo para novaS midiaS
dados e compartilhar informações, eXige uma conSTanTe adapTacao
transformando-as em conhecimento.
As novas mídias digitais fazem parte cogniTiva doS proFeSSoreS, para
desse processo. que Saibam Falar adequadamenTe
JanelaS de oporTunidade aTraveS deSSaS TecnologiaS
A cognição pode ser entendida
como o resultado da ativação de maturação e a seleção funcional de nado campo e não em outro. Assim,
uma série de processos cerebrais diferentes estruturas do sistema por exemplo, ao verificarmos que na
que envolvem aspectos como mo- nervoso, bem como a formação de fase de 3 a 5 anos a criança tem maior
tivação, atenção, aprendizagem, ra- conexões (sinapses) entre os neurô- propensão a ganhos de aprendizagem
ciocínio e memória. Tais processos nios. Por essa razão, buscar enrique- em interação social, deveríamos estar
não são estáveis e imutáveis, pelo cer cognitivamente o ambiente da atentos ao fato de que não é um bom
contrário: estão constantemente criança é um importante passo para período para expô-la às mídias que
sendo desenvolvidos e aperfeiçoa- estimular o desenvolvimento de seu valorizem o isolamento, pois podem
dos. Essas mudanças ocorrem por potencial. Entretanto, é preciso ter perder um estágio importante de ga-
causa de procedimentos de adapta- cautela. Embora a exposição precoce nho social.
ção e plasticidade neural que ocor- às mídias contribua para a melhor Aproveitar bem esses fenômenos
rem durante toda a vida de uma formação da rede neuronal que está de plasticidade para o processo de
pessoa. Começam já no estágio em- na base da construção dos esquemas aprendizagem, alinhando os estí-
brionário e avançam até o final da cognitivos, a superexposição pode mulos midiáticos adequados a cada
vida, sendo influenciados por nu- gerar estresse ou déficits no amadu- período crítico, pode resultar no
merosos fatores. E o uso de mídias recimento social, no caso de crian- processamento dos estímulos de for-
pode ser entendido como um deles. ças que percam o espaço de convívio ma eficaz e integrativa pela memória
O pesquisador David Perkins, com outras pessoas (isolamento so- de trabalho, favorecendo a consoli-
da Universidade Harvard, consta- cial) em razão da superexposição às dação de conteúdos (memória) e a
tou que o uso sistemático de novas mídias. Vale lembrar, nesse sentido, utilização destes como base para as
mídias (celulares, mensagens ele- que todo excesso é prejudicial. diferentes inteligências. Assim, as
trônicas, livros eletrônicos, TVs Há alguns marcos etários, conhe- mídias poderiam ser usadas como
interativas, jogos eletrônicos, in- cidos como “períodos críticos”, que ferramentas eficientes para a estimu-
ternet, mídias sociais, entre outras) funcionam como janelas temporais lação do sistema, contribuindo para
pode contribuir, por exemplo, para (veja quadro na pág. 46). São etapas o seu estado de constante ampliação
uma melhora das estratégias de da vida em que se observa a maior e (re)construção.
pensamento já existentes em um possibilidade de desenvolvimento
indivíduo, bem como para estimu- de determinadas habilidades, como uSo pedagogico
lar o surgimento de outras novas. visão binocular, controle emocional, O uso de mídias como ferramen-
Colaboram, assim, para o desen- linguagem, entre outras. Esses perío- ta para o processo de aprendizagem
volvimento de funções cognitivas dos são momentos de maior plastici- passou até agora por três momentos
mais elaboradas e para a formação dade do sistema nervoso, ou seja, fa- importantes. O primeiro caracteri-
e modificação de padrões neurais. ses de maior propensão para ganhos zou-se por uma grande efervescência
Obviamente, não devemos descon- e alterações nos padrões sinápticos, o em torno dessas tecnologias durante
siderar a base genética e a existência que não significa que em outras fases a década de 1960. As mídias de maior
de outros estímulos, como a cultura da vida não existam ganhos. Apro- destaque nesse período foram: o rá-
local, a família, o ambiente, entre ou- veitar essas “janelas” significa, sim, dio, alguns experimentos incipientes
tros. Já nos primeiros anos de vida, explorar o melhor período para que a com computadores e, principalmen-
é possível observar o crescimento, a criança seja estimulada em determi- te, a televisão.
NeUROeDUcaÇÃO 45
O segundo momento tem como nal J. Michael Spector, da Universi- cia”. Neste momento, o computador
marco o início da década de 1980, dade do Norte do Texas, chama esse pessoal (PC) assume o papel de pro-
com o boom de novos dispositivos período de “era empírica”, destacan- pulsor do processo de convergência,
midiáticos e novas formas de consu- do o surgimento de mídias como o impulsionando a tendência de aglu-
mo de informação. A nova geração diskman, videocassete e outros. tinação de funções pertencentes a
de tecnologias educacionais lançava O terceiro período (atual) é mar- outros dispositivos de mídia. O PC
mão de estratégias de aprendizagem cado pelo surgimento e disseminação assimilou diversas tecnologias ante-
inovadoras, tais como simuladores. de projetos tecnológicos que investem riores, tais como: máquina de escre-
Entretanto, em termos quantitativos, na participação e colaboração dos ver, aparelho de som, reprodutor de
seu uso ainda era muito limitado. usuários, bem como na convergência vídeo, console de game, telefone, fax
Tratava-se de um período mais cen- das mídias. Henry Jenkins, estudioso e outras. Esse processo de assimila-
trado na experimentação do que na de mídias da Universidade do Sul da ção de outras mídias foi denomina-
disponibilização de dispositivos. O Califórnia, atribui a essa característi- do “remidiação” pelos pesquisadores
pesquisador de tecnologia educacio- ca a expressão “cultura da convergên- Jay David Bolter e Richard Grusin:

periodoS criTicoS
Algumas faixas etárias estão relacionadas à maior possibilidade de desenvolvimento de determinadas
habilidades. Esses períodos são momentos de maior plasticidade do sistema nervoso, ou seja, fases de
maior propensão para alterações nos padrões sinápticos, o que não significa que não existam ganhos
em outras fases da vida.

Idades (em anos)


Funções
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Visão binocular
Audição
Reconhecimento de fonemas

Linguagem

Controle emocional

Formas comuns de reação


Reconhecimento de símbolos

Percepção relativa de quantidades

Habilidades sociais
Segundo idioma

Música
Metacognição

Períodos mais restritos Períodos de plasticidade Períodos de plasticidade


de plasticidade intermediária contínua

46 NeUROeDUcaÇÃO
especial

cionais. Esse modo fragmentado de


Pesquisadores sao contrarios a acessar o conteúdo é característico das
visao simplista de que o computador e novas mídias, rompendo o paradig-
ma do texto impresso, que avança por
apenas um entretenimento, destacando um caminho bem delineado rumo à
seu potencial como elemento construção de um argumento. Essa
nova forma de acesso exige também
motivacional da aprendizagem novas formas de organização da in-
formação, uma vez que delega ao lei-
à medida que vão surgindo, as no- to seu uso é principalmente voltado tor maior capacidade de criação de li-
vas mídias não apenas substituem as para a recreação (jogos, navegação gações entre os blocos de informação.
que antecederam, mas incorporam e informal pela web, bate-papo etc.). Para Glassman, as mídias seriam
aperfeiçoam suas funções. Essa visão normalmente assume uma ferramentas capazes de expandir a
Atualmente, o paradigma socio- posição de resistência à integração de capacidade cognitiva do ser huma-
cultural está marcado pela convergên- novas mídias ao processo de aprendi- no para além dos limites biológicos,
cia das tecnologias e sua presença nos zagem. Se olharmos os computadores atuando como uma espécie de próte-
mais variados aspectos do cotidiano: como mídias cognitivas, poderemos se cognitiva, o que permite assumir,
caixas de autoatendimento dos ban- ver melhor seu potencial como fer- por exemplo, as mídias de armazena-
cos, SMS, WhatsApp etc. No campo ramenta formal, ou seja, integrada mento de dados (bancos de dados vir-
da educação, as novas mídias se reve- ao processo instrucional. James Paul tuais, pendrives etc.) como extensões
lam, simultaneamente, grandes aliadas Gee, da Universidade do Arizona, do cérebro humano e os dispositivos
e vilãs no conflito de gerações entre é contrário à visão simplista de que imersivos de ambientes de realidade
professores e alunos. Por um lado, elas a mídia é apenas um entretenimen- virtual e ampliada, como extensões
podem ser vistas como potencial ele- to, destacando seu potencial como do corpo do usuário, possibilitando
mento distrator ou, pelo menos, com- elemento motivacional da aprendi- a manipulação de objetos virtuais.
petidor pelo foco de atenção dos alu- zagem. Seguindo essa mesma linha Dessa forma, com esses recursos o es-
nos (saiba mais em artigo na pág. 24); de pensamento, os cientistas Brad tudante poderia, por exemplo, “mani-
por outro, o processo de aprendizagem Hokanson e Simon Hooper, da Uni- pular” objetos aos quais no cotidiano
depende de uma série de fatores inter- versidade de Minnesota, alertam para nunca teria acesso: tocar peças anatô-
nos (biológicos e psicológicos) e exter- o fato de que cresce cada vez mais o micas, caminhar por sistemas solares,
nos (contextuais, condicionantes etc.), número de instituições educacionais interagir com moléculas etc. Cada
não sendo possível atribuir a um só que estão explorando o uso pedagó- mídia ampliaria, assim, a própria no-
aspecto a causa de sucesso ou fracas- gico das novas mídias. Entendem, ção que um indivíduo possui da ma-
so. É um processo ativo, intimamente ainda, que as novas tecnologias po- terialidade do seu corpo.
relacionado à dinâmica das funções dem promover um aumento e uma
superiores, dentre as quais podemos expansão da capacidade cognitiva do aprendizagem colaborativa
destacar a memória e a atenção como ser humano, ampliando a capacidade O uso de multimídia e transmídia
os dois principais, mas não únicos, cerebral para um ambiente informa- em experimentos tem revelado signi-
pilares. Assim, distúrbios que afetam cional mais vasto. Nesse sentido, tais ficativos ganhos cognitivos, no senti-
essas funções podem causar compro- recursos contribuiriam como um do de trabalhar com diferentes tipos
metimentos, de maior ou menor grau, processo natural de ampliação da ca- de inteligência para a construção do
no funcionamento e na evolução cog- pacidade de processamento da infor- conhecimento. O processo de apren-
nitiva de uma pessoa, principalmente mação pelo cérebro. dizagem por meio da multimídia se dá
nas fases iniciais da vida. Ao fazerem uso de estruturas tex- quando o sujeito é capaz de construir
O pesquisador Michael Glassman tuais não lineares e não hierárquicas, mentalmente representações usando
entende que ainda há uma visão mui- as informações se entrelaçam por “si- uma ou mais mídias combinadas, o
to comum de que o computador é um napses” (links) e o leitor salta de um que pode reforçar a exposição de um
meio de comunicação útil, entretan- conteúdo a outro por conexões rela- conteúdo por mais de um estímulo,
neuroeducação 47
por exemplo: áudio + ilustrações, ani- distrator, prejudicando a aprendiza- sign instrucional tem um importante
mação + texto impresso, fotografia + gem. Mayer denominou esse resulta- papel para o desempenho cognitivo,
website + áudio etc. do de “efeito coerência”. Descobriu, não bastando o uso sobreposto de
O pesquisador Richard Mayer, ainda, que os alunos aprendem mais mídias pelo professor. É necessário
da Universidade da Califórnia, des- quando a ilustração é colocada pró- que exista um diálogo entre diferen-
creveu um fenômeno chamado de xima da palavra ou frase que busca tes formas de mídia para que haja
“efeito multimídia”, no qual houve ilustrar, criando um “efeito de con- melhor aproveitamento. A criação
melhores resultados no processo de tiguidade espacial” (tanto em livro de ambientes de ensino tecnologica-
aprendizagem envolvendo palavras quanto em computador). Por fim, mente enriquecidos pode valorizar e
+ ilustrações do que apenas com verificou que os melhores resultados expandir as possibilidades de apreen-
o uso de palavras. Observou, ain- na aprendizagem se deram quando são do conteúdo, aproveitar e estimu-
da, que os alunos aprenderam mais as palavras foram apresentadas por lar o uso de diferentes tipos de inteli-
quando um material inusitado foi meio de um discurso dialógico , e gência, bem como reforçar o processo
excluído do que quando foi inclu- não em um discurso formal, tanto de armazenamento da informação
ído, ou seja, a escolha da ilustração nos livros quanto no uso de com- (memória) ao ativar diferentes áreas
deve ser cuidadosamente planejada, putadores, o que chamou de “efeito cerebrais. Assim, o conteúdo lido, ou-
tendo vínculo preciso com o conteú- personalização”. vido e visto tende a estabelecer uma
do, sob pena de funcionar como um Constatou-se, portanto, que o de- rede de relações mais rica, facilitando

48 neuroeducação
esPecial

o registro mental dos conteúdos e a orientações sobre que outros cami- mídias mais antigas (impressa ou
criação de variados arranjos para res- nhos podem ser mais enriquecedo- oral), pois fatalmente se distanciará
gate da informação. Outros estudos res. O prêmio final é a construção do resultado pretendido. Nesse sen-
mostram consistente melhoria tam- participativa do conhecimento. tido, o professor precisa se familiari-
bém no grau de atenção, motivação e A aprendizagem colaborativa zar com o uso e consumo das mídias
entendimento do conteúdo. deve ser entendida como um modelo que pretenda usar.
Outra forma de veiculação de que opta pela adoção de estratégias É preciso ter em mente que as
conteúdo que tem chamado atenção centradas em um aprendizado ativo, mídias podem facilitar, ampliar ou
é a transmídia, que propõe o uso de investindo na elaboração de con- alterar os processos cognitivos e o
diferentes conteúdos distribuídos por textos alinhados com a proposta de comportamento das novas gerações
diferentes mídias, mas de forma en- um ambiente instrucional tecnolo- que surgiram após o boom da inter-
trelaçada e interdependente. Esse sis- gicamente enriquecido, valorizando net e da mediação digital crescente.
tema pode combinar imagens, textos múltiplas inteligências e diferentes Todavia, usar a mídia pela mídia
escritos, áudios de narração, vídeo, competências cognitivas. Vale desta- não adianta muito. As novas gera-
música e outras mídias, formando car que é possível implementar um ções trabalham com um paradigma
um ambiente complexo e conver- projeto de aprendizagem colabora- de aceleração das transformações de
gente e podendo agregar até mesmo tiva tanto em ambientes presenciais interfaces; expansão numérica do
mídias mais tradicionais (livros, jor- quanto em ambientes a distância. consumo de informação através de
nais etc.) para a difusão do conteúdo. Mais uma vez, é importante dispositivos móveis; expansão dos
Assim, o aluno pode começar a ler ter em mente que não basta que as pontos de acesso e inovação cons-
o conteúdo em uma página da web, mídias estejam disponíveis, sendo tante. Criar conteúdo para novas
continuar em uma webquest, com- fundamental que possuam conteú- mídias exige, nesse sentido, também
plementar a informação com um ví- dos de qualidade e alinhados com a uma constante adaptação cognitiva
deo, discutir o assunto em uma rede lógica das estruturas de mídia esco- dos professores para que acompa-
social e tantas outras possibilidades. lhidas. Um grande risco é adotar um nhem tais mudanças e saibam, as-
A combinação é muito vasta, sendo projeto em multimídia e transmídia sim, falar adequadamente através
importante que a estratégia adotada que esteja atrelado à lógica de outras dessas tecnologias. ◗
esteja aberta e estimule a participa-
ção e colaboração do aluno. A apren-
LEITURAS SUGERIDAS
dizagem baseada em uma aborda-
Cognição e mídias: o uso de novas tecnologias nos processos de
gem transmídia deve articular dois aprendizagem e memória. Alfred Sholl-Franco e Gláucio Aranha. As novas
níveis de conteúdos: o primeiro nível tecnologias e os desafios para uma educação humanizadora. Biblos, págs.
apresenta conteúdos autônomos em 1-23, 2013.
diferentes mídias, enquanto o segun- Evolução e adaptação nos sistemas da escritura: narrativa transmídia e
do apresenta uma unidade entre as cognição. Alfred Sholl-Franco e Gláucio Aranha. Novos horizontes para a
teoria da literatura e das mídias. Editora Ulbra, págs. 93-105, 2012.
diferentes mídias que possibilite a
clara percepção da interdependência Electronic versus traditional storybooks: relative influence on preschool
children’s engagement and communication. A. K. Moody, L. M., Justice e S.
entre cada parte. Assim, cada mídia Q. Cabell, em Journal of Early Childhood Literacy, no 10, págs. 294-313, 2010.
colabora na construção do conheci- Sensitive periods in brain development: implications for education
mento, como se o aluno fosse mon- policy. M. S. C. Thomas e V. C. P. Knowland, em Touch Briefings of Brain
tando um quebra-cabeça. Development, vol. 2, no 1, págs. 17-20, 2009.
O ideal é que os sujeitos envol-
vidos no processo possam acessar, OS AUTORES
separadamente ou em pequenos gru-
Alfred Sholl-Franco é neurocientista, professor da Universidade Federal do Rio
pos, as mídias que mais lhes agradam de Janeiro (UFRJ), coordenador do Núcleo de Estudos em Neurociência e Educa-
e depois trocar informações com ção (Neuroeduc).
o grupo ou outros grupos, eviden- Gláucio Aranha é pesquisador na linha de Novas Mídias, Narratividade e Cogni-
ciando suas descobertas e buscando ção da Organização Ciências e Cognição (OCC), coordenador do Neuroeduc.

NeUROeDUcaÇÃO 49

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