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All content following this page was uploaded by Alfred Sholl-Franco on 18 July 2016.
Tecnologia
para aprender
Novas mídias se revelam, ao mesmo tempo, grandes
aliadas e vilãs no conflito de gerações entre professores
e alunos. Por um lado, são um potencial competidor
pelo foco de atenção dos alunos; por outro, se utilizadas
de forma planejada, podem estimular diferentes áreas
cerebrais e facilitar a apreensão das informações
42 neuroeducação
neuroeducação 43
Nesse cenário, é importante pensar a
respeito do impacto das novas mídias aS FaSeS da inovacao
digitais (internet, celulares, tablets
etc.) sobre a cognição.
Cada tecnologia exige diferentes A assimilação de uma nova tecnologia ocorre nas seguintes eta-
pas: introdução (da tecnologia nova por um grupo de usuários
competências cognitivas para atingir
inovadores), crescimento (quando surgem os primeiros adeptos),
sua finalidade. Na história humana,
maturidade e declínio. Entre crescimento e maturidade abre-se
os mais variados recursos tecnológi- um abismo – a tecnologia passa a ser usada por algumas pes-
cos foram surgindo a partir de ciclos soas, mas não pela maioria. É preciso um salto para sua efetiva
de inovação. O sociólogo Everett consolidação. Após a maturidade de uma inovação, começará o
Rogers destaca que o processo de seu declínio diante de novas demandas. No Brasil, o uso de tec-
inovação se dá em fases (veja esque- nologia no ensino formal ainda está na fase do crescimento, ha-
ma ao lado). Em dado momento, vendo um abismo para sua aceitação.
há a Introdução de uma tecnologia
nova por um grupo de usuários ino-
vadores. Depois, surgem os primei-
ros adeptos, na fase de Crescimen- Crescimento
to. Nesse momento, instala-se um
introdução
abismo a ser superado com o salto
entre as primeiras tentativas de ins-
tauração da nova tecnologia e a sua CICLO DE
VIDA DO
Maturidade
efetiva assimilação e consolidação.
Algumas propostas têm a adesão de
poucas pessoas, mas não chegam a PRODUTO
se estabelecer, permanecendo o abis-
mo. Por exemplo, o uso de mídias de
forma sistemática no ensino formal
brasileiro ainda está na fase do Cres-
Declínio
cimento. Falta o salto para que atinja
a Maturidade. Entretanto, é impor-
tante ter em mente que nunca se tra-
ta de um processo final, ou seja, após
“o salto”
a Maturidade de uma inovação, co- icial e Maio
meçará seu Declínio diante de novas ria in ria
io
demandas. Ma
ta
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O ABISMO
ard
eir
atá
Pr
re
rociências e educação precisam ser ado
v
Ino
conhecidos e dominados por educa- 2,5% 13,5% 34% 34% 16%
dores e estudantes.
As mídias são tecnologias que Introdução Crescimento Maturidade Declínio
têm por fim a comunicação. Sua re-
lação com os processos de aprendi-
zagem e memória normalmente está
44 NeUROeDUcaÇÃO
esPecial
periodoS criTicoS
Algumas faixas etárias estão relacionadas à maior possibilidade de desenvolvimento de determinadas
habilidades. Esses períodos são momentos de maior plasticidade do sistema nervoso, ou seja, fases de
maior propensão para alterações nos padrões sinápticos, o que não significa que não existam ganhos
em outras fases da vida.
Linguagem
Controle emocional
Habilidades sociais
Segundo idioma
Música
Metacognição
46 NeUROeDUcaÇÃO
especial
48 neuroeducação
esPecial
o registro mental dos conteúdos e a orientações sobre que outros cami- mídias mais antigas (impressa ou
criação de variados arranjos para res- nhos podem ser mais enriquecedo- oral), pois fatalmente se distanciará
gate da informação. Outros estudos res. O prêmio final é a construção do resultado pretendido. Nesse sen-
mostram consistente melhoria tam- participativa do conhecimento. tido, o professor precisa se familiari-
bém no grau de atenção, motivação e A aprendizagem colaborativa zar com o uso e consumo das mídias
entendimento do conteúdo. deve ser entendida como um modelo que pretenda usar.
Outra forma de veiculação de que opta pela adoção de estratégias É preciso ter em mente que as
conteúdo que tem chamado atenção centradas em um aprendizado ativo, mídias podem facilitar, ampliar ou
é a transmídia, que propõe o uso de investindo na elaboração de con- alterar os processos cognitivos e o
diferentes conteúdos distribuídos por textos alinhados com a proposta de comportamento das novas gerações
diferentes mídias, mas de forma en- um ambiente instrucional tecnolo- que surgiram após o boom da inter-
trelaçada e interdependente. Esse sis- gicamente enriquecido, valorizando net e da mediação digital crescente.
tema pode combinar imagens, textos múltiplas inteligências e diferentes Todavia, usar a mídia pela mídia
escritos, áudios de narração, vídeo, competências cognitivas. Vale desta- não adianta muito. As novas gera-
música e outras mídias, formando car que é possível implementar um ções trabalham com um paradigma
um ambiente complexo e conver- projeto de aprendizagem colabora- de aceleração das transformações de
gente e podendo agregar até mesmo tiva tanto em ambientes presenciais interfaces; expansão numérica do
mídias mais tradicionais (livros, jor- quanto em ambientes a distância. consumo de informação através de
nais etc.) para a difusão do conteúdo. Mais uma vez, é importante dispositivos móveis; expansão dos
Assim, o aluno pode começar a ler ter em mente que não basta que as pontos de acesso e inovação cons-
o conteúdo em uma página da web, mídias estejam disponíveis, sendo tante. Criar conteúdo para novas
continuar em uma webquest, com- fundamental que possuam conteú- mídias exige, nesse sentido, também
plementar a informação com um ví- dos de qualidade e alinhados com a uma constante adaptação cognitiva
deo, discutir o assunto em uma rede lógica das estruturas de mídia esco- dos professores para que acompa-
social e tantas outras possibilidades. lhidas. Um grande risco é adotar um nhem tais mudanças e saibam, as-
A combinação é muito vasta, sendo projeto em multimídia e transmídia sim, falar adequadamente através
importante que a estratégia adotada que esteja atrelado à lógica de outras dessas tecnologias. ◗
esteja aberta e estimule a participa-
ção e colaboração do aluno. A apren-
LEITURAS SUGERIDAS
dizagem baseada em uma aborda-
Cognição e mídias: o uso de novas tecnologias nos processos de
gem transmídia deve articular dois aprendizagem e memória. Alfred Sholl-Franco e Gláucio Aranha. As novas
níveis de conteúdos: o primeiro nível tecnologias e os desafios para uma educação humanizadora. Biblos, págs.
apresenta conteúdos autônomos em 1-23, 2013.
diferentes mídias, enquanto o segun- Evolução e adaptação nos sistemas da escritura: narrativa transmídia e
do apresenta uma unidade entre as cognição. Alfred Sholl-Franco e Gláucio Aranha. Novos horizontes para a
teoria da literatura e das mídias. Editora Ulbra, págs. 93-105, 2012.
diferentes mídias que possibilite a
clara percepção da interdependência Electronic versus traditional storybooks: relative influence on preschool
children’s engagement and communication. A. K. Moody, L. M., Justice e S.
entre cada parte. Assim, cada mídia Q. Cabell, em Journal of Early Childhood Literacy, no 10, págs. 294-313, 2010.
colabora na construção do conheci- Sensitive periods in brain development: implications for education
mento, como se o aluno fosse mon- policy. M. S. C. Thomas e V. C. P. Knowland, em Touch Briefings of Brain
tando um quebra-cabeça. Development, vol. 2, no 1, págs. 17-20, 2009.
O ideal é que os sujeitos envol-
vidos no processo possam acessar, OS AUTORES
separadamente ou em pequenos gru-
Alfred Sholl-Franco é neurocientista, professor da Universidade Federal do Rio
pos, as mídias que mais lhes agradam de Janeiro (UFRJ), coordenador do Núcleo de Estudos em Neurociência e Educa-
e depois trocar informações com ção (Neuroeduc).
o grupo ou outros grupos, eviden- Gláucio Aranha é pesquisador na linha de Novas Mídias, Narratividade e Cogni-
ciando suas descobertas e buscando ção da Organização Ciências e Cognição (OCC), coordenador do Neuroeduc.
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