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CAMPUS I
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE HISTÓRIA – LICENCIATURA PLENA
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
CAMPINA GRANDE
2019
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CAMPINA GRANDE
2019
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 03
O Tempo e suas Interações no Ensino de História ........................................ 04
RESUMO
O presente artigo tem como pretensão refletir maneiras possíveis de aprimorar o uso da temporalidade
no ensino de história, visto que a metodologia positivista de linha do tempo é cronológica e aos
moldes eurocêntricos, que permeia a didática dos professores e está longe da realidade do aluno.
Conectando o aluno e sua realidade a grade curricular é compreender que das poucas informações que
tem, situa-lo em um tempo distante da sua noção ao invés de ensina-lo, promoveremos uma confusão e
com ela muito preconceito para com a disciplina de História. Aproximar o aluno passo a passo, ano
letivo a ano letivo, para que entenda fatos do seu cotidiano, e depois, afastá-lo repentinamente a uma
temporalidade distante na tentativa de entender os porquês do seu presente é um movimento difícil e
gera resultados que podem na verdade instigar o desinteresse pelo próprio futuro. Assimilar o passado
é também interpretar o presente e conceber o futuro, esse é o movimento natural da vida. Porque não
inverter essa lógica de linha temporal cronológica e linear. Se nossa compreensão de tempo é
geralmente crescente, nascemos, passamos pela infância, adolescência, juventude fase adulta,
envelhecemos e ao fim falecemos, mas antes do nosso igualitário destino, destinamos muito do nosso
tempo revisitando o passado a partir da memória para que essa influa no presente ou até no futuro.
Afinal o mundo moderno trouxe o anseio pela preservação das memórias, a necessidade de narrar o
passado está presente ao redor dos alunos em filmes, séries e novelas com teor histórico, sendo
importante expor aos alunos como a história os cercam e está sempre sendo reapresentada no presente,
não somente no passado “obsoleto” e fatigante dos livros didáticos como também sua própria história.
É com ela que damos continuidade ao oficio do professor, que para além de uma mera reprodução de
conteúdo é lecionar em prol de uma nova história, que não seja meramente decorativa no que diz
respeito a ornamentação, mas também no sentido de fixar na memória e que seja proveitoso e usual na
rotina do aluno. É a partir dessa visão que pretendemos discutir como essa inversão da linha temporal
comumente usada nos livros didáticos pode ser mais inteligível ao aluno, tornando-o crítico e também
construtivo, mantando os valores que são aprendidos, mas, na medida do possível, levantando
questionamentos e o próprio aluno buscando a solução.
Lecionar é uma atividade que, desde os tempos mais remotos, vem possibilitando e
desenvolvendo a evolução humana, notabilizando conhecimentos, até então, não descobertos
ou produzidos. A curiosidade pelo desconhecido, o fato de querer explorar o inexplorado, é
um movimento que está intrínseco ao ser humano no que implica, na maioria dos casos, uma
reflexão sobre si, do tempo vivido e aonde está inserido, gerando uma busca por melhorar sua
vida cotidiana. No filme “Os Croods” (2013), numa representação da vida pré-histórica, onde
uma família “menos evoluída” interage com outro indivíduo mais versado no conhecimento e
experiências, e na trama esse sujeito começa a compreensão de como poderiam melhorar suas
vidas a partir de outras perspectivas práticas do cotidiano. A essa família é proporcionado um
descortinar dos seus olhos, introduzindo o “novo” em suas rotinas que lhes renderiam uma
melhor compreensão do que antes não conseguiam enxergar. Não seria exagero reproduzir
este cenário na educação básica, o professor como o sujeito que instrui a família pré-histórica
representada na animação e a família os alunos. Principalmente, quando se trata do ensino de
história o aluno ainda não percebe que a história tem implicação direta em sua vida. E como
trazer à tona um fato que parece tão distante da sua realidade? Como atrai-lo para perto dessa
compreensão fazendo-o participante? Esses são questionamentos vitais onde o discente tem
por obrigação refletir sobre as formas de pedagogizar o conteúdo de história.
A proposta do artigo é a de esclarecer sobre a temporalidade como instrumento viável
ao ensino de História dentro do âmbito escolar, utilizando recursos e métodos para não só
cativar o aluno, mas também envolvendo-o e fazendo-o interagir, tornando-o parte da história
afastando os preconceitos e o anacronismo.
Empreender nas futuras gerações a noção do quão necessário é refletir sobre seu
tempo, é uma responsabilidade incumbida ao historiador. Perante esse ofício, em específico,
esta intrínseco a tarefa do educador, a está função, respeito e admiração sempre foi atribuída,
a exemplo do próprio D. Pedro II que em José Murilo de Carvalho manifesta seu desejo pela
profissão, “Alegou que se os brasileiros não o quisessem como imperador iria ser professor”
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reforçando o quão notável é o valor dado ao profissional do ensino, os Griots mesmo na
figura de um ancião que estava responsável por manter viva a história da tribo nas sociedades
africanas, também exerciam o papel de educadores levando em consideração que as
1 CARVALHO. 2012, p. 110.
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experiencias vividas por eles eram de grande valia, tanto para os jovens, como para a
comunidade. Contudo, as dificuldades encontradas no passado, até mesmo hoje no nosso
tempo presente, são questões para além do plano físico das quatro paredes da sala de aula, na
verdade perpassa, alcançando o lado emocional desses profissionais que por muitas vezes
adentram madrugada horas a fio na tentativa de conciliar sua vida individual e os desafios no
decorrer do ano letivo escolar.
Importante salientar que essas dificuldades possuem braços, e se estendem até o
aluno, esse que é receptor tanto do conhecimento passado pelo professor quanto é filtro das
adversidades passadas por eles, observam a realidade enfrentada pelos profissionais em
momentos tendem a ajudar, outros não demonstram interesse algum. Quanto a rede pública, a
má infraestrutura oferecida é um dos fatores que os profissionais sondam meios para
contornar, pois é um limitador cruel no emprego de novas perspectivas e métodos para o
ensino. O aluno inicia o processo de aprendizagem na infância e se estende até a vida adulta
(em menor proporção), e a percepção do tempo e do espaço advém das experiências vividas
durante este período, sejam elas experiências de outros sujeitos ou convividas dentro do
próprio âmbito familiar. A memória passa a ser construída por intermédio da oralidade ou da
observação visual. E essas memórias exercem um papel fundamental de inclusão social, a
partir dela revisitamos fatos passados rememorando e perspectivando-o de modo a estabelecer
interação com o tempo vivido, que o tempo presente. Afinal, ao lecionar história o professor
precisa sondar entraves que estão além das dificuldades físicas do seu ofício, prevendo o
comportamento do aluno ao se deparar com o conteúdo abordado, questionando a si mesmo se
será de fácil absorção o conteúdo? O aluno tem algum conhecimento prévio? Se sim, como
foi construído esse assunto? Se não, como é possível aborda-lo de maneira prática? É com o
emprego da memória que aproximamos o aluno da sua própria realidade e existência,
respondendo muito dos questionamentos que são construídos pela observação cotidiana do
seu próprio meio social. O ensino de História é norteado pela base comum curricular que
durante o período da redemocratização é discutido a participação do aluno no processo
educacional, como também a necessidade de objetivar alunos que possuam senso críticos,
construindo um cidadão ativo e consciente sobre sua realidade, como também a do outro.
Todavia, conectar o passado a o presente é uma missão árdua e tempestuosa, tendo em
vista a pré-conceituação da disciplina de História como sendo uma disciplina essencialmente
informativa, levando uma leitura meramente decorativa, que “só fala de pessoas mortas”,
sobre “o que já passou” e isso nada tem a ver com o presente ou a realidade.
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A base educacional aplicada no meio escolar, hoje, tem por ênfase no ensino de
história a construção de um aluno cidadão, construtor do seu próprio tempo diferenciando-se
das diretrizes educacionais pregadas até meados do século XX. Essa realidade distancia-se do
ideal de que o ensino de história é a porta de entrada para o questionamento do presente
vivido, projetando uma reflexão sobre os erros e acertos do passado. Sob essa análise, o
tempo cronológico e o tempo histórico andariam de mãos dadas, levando em consideração
que o ensino de história não pode ser meramente factual, e sim explicativa, sintetizando um
senso crítico.
[...] Permita ao indivíduo a indagação sobre o passado de forma que a resposta lhe
faça algum sentido no presente e que de alguma maneira esse sujeito encontre uma
orientação histórica para a sua vida cotidiana 2.
[...] os tempos históricos podem ser distinguidos claramente dos tempos naturais,
embora ambos se influenciem reciprocamente. O percurso regular e repetitivo do
Sol, dos planetas, da Lua e das estrelas, assim como a rotação da Terra, remetem a
medidas temporais constantes - anos, meses, dias e “constelações” -, bem com o à
sucessão das estações do ano. Todos esses decursos de tempo foram impostos ao ser
humano, mesmo que ele tenha aprendido a interpretá-los e, sobretudo, a calculá-los
graças a realizações culturais e intelectuais. 5
Consequentemente, o ato de lecionar, seja ele pelo professor ou até mesmo pela
família, está intimamente ligado às experiências vividas, notavelmente a noção de tempo será
cíclica, e a partir dessa ideia que pode vir a surgir o anacronismo. O ser humano tende a dar
ênfase aquilo que é de prioridade, naturalmente quando ocorrem mudanças climáticas, como
na passagem das estações do ano nos vestimos de acordo o clima, nos preparamos porque
4 KOSELLECK, 2014, p.13.
5 KOSELLECK, 2014, p. 9.
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temos um conhecimento prévio do que a de acontecer, mesmo assim cada inverno, por
exemplo, tem suas particularidades e nem sempre são notadas e é oficio do historiador
entender essas peculiaridades. O historiador precisa recorrer ao uso da metáfora, sendo esse
uma ferramenta interessante que nos propicia um passeio pelo tempo sem destruir as
representações pelos movimentos em unidades espaciais 6 que já vivemos.
Nesse sentido, Immanuel Kant em 1755, ano de publicação da sua obra “Allgemeine
Naturgeschichte und Theorie des Himmels” (História Natural Genérica e Teoria dos Céus),
fez uma analogia interessante sobre a exuberância das montanhas na transcrição de um fato
temporal.
Para que se alcance a perfeição, decorrerão milhões e montanhas de milhões de
séculos, durante os quais sempre surgirão novos mundos e novas ordens cósmicas
nos âmbitos naturais mais distantes. 8
Perceba que ele utiliza um misto de cronologia (séculos), unidades (milhões), metáfora
(montanhas de milhões), para intensificar e cativar o leitor a observação dessa perfeição quase
“inalcançável” tanto quanto o pico de uma montanha que, às vezes, nem é possível alcançá-lo
fitando os olhos no horizonte de tão alta. Com todo esse esboço teórico, é importante
aproximar a leitura temporal do aluno, na perspectiva que ele tem de tempo. Pode não ser uma
“montanha”, mas pode ser algo ainda mais próximo do aluno, como o uso de termos regionais
em sua fala, a descrição de objetos antigos, cultura familiar e tantos outros meios que podem
fazer esse movimento, atraindo o aluno a compreensão histórica.
Cainelli e Schmidt (2009) nos traz uma classificação da relação entre passado-presente
em duas dimensões. A primeira com a ideia de que o passado ajuda a explicar o presente.
Explicar os fatos históricos é um meio eficaz porque torna acessível à compreensão do aluno
para questões do tempo presente, no entanto, deve ser utilizado com atenção. Alertam sobre a
utilização dessa primeira ideia Cainelli e Schmidt (2009)9 onde, “à proporção que o ensino
factual predomine sobre o explicativo, há o perigo de se utilizar a inteligibilidade do presente
6 KOSELLECK, 2014, p. 9.
7 KOSELLECK, 2014, p. 9.
8 KANT. 1755. p. 335.
9 CAINELLI. SCHIMIDT. 2009. p. 99.
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para explicar ou ilustrar o passado e deslizar para o senso comum”. A segunda é a de respeitar
a peculiaridade do próprio passado, não significando que os fatos passados devam ser
remetidos ao presente. Uma forma de evitar essa confusão na cabeça do aluno, como as
autoras apontam, é fazendo-o se interessar por outras civilizações, entendendo suas diferenças
e evitando o anacronismo e analogias duvidosas, ensinando-o a contextualizar as informações
e incluir-se nela. Ressaltando essa ideia afirmam que “na verdade é importante entender a
originalidade de civilizações em que as representações coletivas e a mentalidade não podem
ser comparadas as nossas. (CAINELLI. SCHIMIDT. 2009. p. 100). É importante frisar quanto
ao uso dessa segunda ideia o seguinte, o aluno precisa entender sua própria realidade, de onde
veio e onde está inserido e os porquês disso, e só após essa compreensão de si, partir para
conhecimentos externos a sua realidade. Esse movimento acaba fomentando no aluno a
alteridade, o respeito, empatia e interesse pelo outro, construindo um discurso que
desprivilegie a figura do vencedor e do correto. Essa perspectiva promove um movimento
facilitador a compreensão do aluno, principalmente quanto as noções de sucessão, durações,
simultaneidade, mudanças e permanências. Tendo em vista que a construção de imagens
representativas e os eventos, que dentro de um tempo cronológico são de número limitado,
acabam ganhando um reforço no discurso histórico.
Imaginemos que fatores biológicos, genéticos e comportamentais já são um grande
“fio da meada” para discutir sobre o local social do aluno. Questões como sobrenomes,
sotaque e cultura são também elementos que interessam, inserem e cativam a atenção. A
compreensão do termo “justiça”, como por exemplo, sempre foi usada por diversos povos,
essa como uma das instituições humanas mais antigas, no entanto, a diferença situava-se no
senso de justiça, pelas experiências vividas e observações de si próprios e do outro,
influenciados pelos modos operantes divinos, essas civilizações criavam um código de
conduta a ser seguido, tanto por eles quanto pelas futuras gerações. A essência do termo
permanecia, no entanto, as noções do que seria e de quem seria submetido a aplicação dessa
justiça mudavam de civilização para civilização. Outra questão, são as apropriações, como no
exemplo do termo “burguês”, uma classe que surgiu na transição entre a Idade Medieval para
a Idade Moderna. O termo é usado para julgar a ação de qualquer indivíduo que esteja
ostentando, ou não, um bem recém-adquirido, mas o termo que de fato é utilizado no tempo a
que pertence não tem nada a ver com o que hoje é compreendido, e é um anacronismo.
temporal que é possível compreender a medida e as mudanças do tempo e fazer relação com
as informações. Geralmente, utilizando apenas como suporte pedagógico, os gráficos das
linhas temporais têm maior eficácia, salientando que o aluno assimila as imagens e as
proporções com maior facilidade. Promovendo a capacidade de identificação histórica, uma
visão mais sensível e o aprimoramento da compreensão de fatos que já foram compreendidos
no passado.
Os calendários, um instrumento a ser utilizado na construção da noção temporal,
ajudam-nos a entender a necessidade de relativizar e discutir os períodos, é importante
mobilizar o tempo para que haja a compreensão das durações. Como em Braudel (1990), onde
as durações são estabelecidas numa divisão tripartite da noção temporal, o primeiro como um
tempo estrutural, longo, imóvel e duradouro relacionando com a história das mentalidades;
conjunturais e médias, a exemplo da história da vida social, constituído pelas ciclicidade da
história e por último episódicas e curtas, como na história das biografias e acontecimentos
cotidianos.
Muitas vezes, o aluno está limitado as descrições perceptíveis do passado como se esse
passado fosse estático e sem interação alguma com o presente, consequentemente não
conseguem estabelecer qualquer diálogo. Nos anos iniciais, como aponta Cainelli e Schmidt,
o aluno tem a percepção de um passado fixo, a medida que vai sendo trabalhado essa
percepção o passado passa a ser melhor interpretado e, mais à frente nos últimos anos, esse
passado deve tomar um caráter reconstruído e interagido com o presente, ao menos essa é a
proposta. Mas essa percepção precisa ser aguçada de modo que primeiramente ele
compreenda a si e seu próprio passado. Como entender a si e seu próprio passado, a História
Local pode ser um ponto de partida, pois já é exercitada no âmbito social e familiar. Incitar
sobre sua genealogia, buscar no aluno um espirito pesquisador, fazendo-o entender que os
sujeitos que ele tanto preza fazem parte da história assim como ele próprio, isto é, seus pais,
avôs, bisavôs, etc. Todos esses podem contribuir com o entendimento/construção dessa
história. Após entender os contextos da sua localidade ligando seus pares, isto é, a própria
família a história da sua localidade, a História Nacional pode trazer respostas as
peculiaridades do tempo. Esses assuntos abordados passando pela História Contemporânea
para que se entenda o local onde aluno está situado, tanto geograficamente quanto temporal.
Adentrando a História Moderna, o aluno passa a entender de como e onde viveram seus
antepassados (bisavós) e quais costumes e contribuições trouxeram seus familiares ao âmbito
nacional, traços culturais que ainda permanecem. Já na História Medieval ele entende como
questões esses traços foram fixados com o passar do tempo. Na História Antiga o aluno
entende como esses traços foram constituídos. Por último, o aluno compreende como essa
jornada é extensa e que ela está intrinsecamente ligada a ele, e é com a Pré-História, que ele
entende como esses traços culturais se fundamentaram. E todo esse processo evolutivo trouxe
peculiaridades importantes a sobrevivência, e que se mantiveram até hoje.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
nele e atente as particularidades de cada momento sem deixar de reparar naquilo que respinga
sobre o mundo ao qual ele vivencia cotidianamente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS