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SUMÁRIO
J
A B S T R A C T ....................................................... ...............................................................3
A G R A D E C IM E N T O S........................................................................................................4
A B R EV IA TU R A S................................................................................................................7
IN TRO DU ÇÃ O ................................................1...............................................................8
ABSTRACT
A GRA D ECIM EN TO S
C â n d id o da C o s t a e S i l v a contribuiu c o m in f o r m a ç õ e s s o b r e a H is to r ia da Igreja.
transformava num humor cortante. M as saiba João que eu gostava. Acho agora que
mais palavras são desnecessárias, você bem sabe o que tudo isso representou para
mim.
ceb e r com o se u s asso ciad o s, ainda que p erten cen tes a u m a relig ião oficial,
no c a so o cato licism o , não esq u eceram de sutis trad içõ es. A o invés de co n
perm itia.
N o ss a S en h o ra do R osário se pop u larizo u entre o s negros, to m an d o -se
su a p ro teto ra. N a B ahia a irm andade do R o sário foi erg u id a e confirm ada em
1685 na Sé C ated ral. N o inicio do sécu lo seguinte os co n frad es levantaram
su a p ró p ria cap e la às P ortas do C arm o, atual Pelourinho. E a confraria f i
João P e re ira ,(a igreja existe até hoje na Av. S ete de S etem b ro - M ercês),
R osário dos Q uinze M istério s, nas im ed iaçõ es do Santo A ntônio A lém do
cro n istas ou d a bib lio g rafia secundária. C o rresp o n d ên cias, liv ro s de atas, de
en trad a de irm ãos, livros de rece ita e d esp esa, co m p ro m isso s fazem p arte do
m entos e inventários foram fundam entais p an i ten tar d esco b rir quem eram
e sse s co n frad es.
saírem p arcialm en te vito rio so s, tiveram que ac e ita r a fig u ra auto ritária do
vigário. O principal aqui é dem onstrar que e sse s negros não aceitaram tudo
das v eze s pob res. G arantir recu rso s e equ ilib rar re c e ita -d e sp e sa não era
tareia das m ais fáceis.
10
CAPÍTULO I
ORGANIZAÇÃO INTERNA
a m orte dos asso ciad o s eram d iscip lin ad o s i; organizados, se asseg u rav am
direitos e se exigiam o cum prim ento de d ev ere s. O com p ro m isso , enfim ,
1 Vários autores trabalharam com com promissos de irmandad;s Entre eles destacam-se: Julita
Scarano, D evoção c E scravidão : A Irm andade N ossa S e n h o ra d o R osário d o s P retos no
Distrito D iam antino n o s è a d o X l7I I l , S5o Paulo, N acio n al, 1975: Caio Boschi, Os le ig o s e o
P oder, 33o Paulo, Á tic a , 1986; Patricia Mulvey, " lh e black la y b ro th e rh o o d s o f co lo n ia l Brazil
: a h is to r y " , Tese de Eioutorado , City University o í New York ,1 976, .Jeferson Bacelar &
C oncdt,8o Souza , O R o s in u dos Pretos do P elourinho, Sa'vador, Fundaç&o do Património
ArtiPtifO e Cultural da Bahia, mim eo, 1974; JoSo José Fieis, A M o rte e um a Festa , S5o Paulo,
C & dar l,<rtras , 1991 lvlaricta / J v t s taüiU-rri r r c o iíie c e a importância dos roiriprornissos
enquanto fonte histórica em “ A Importância dos Antigos C om prom issos das Irmandades," m
12
docum entos existentes nos arquivos baianos, e por isso não pude analisá-lo.
O trabalho s e volta então para os seguintes com prom issos: o de 1820, que
organização de um novo com prom isso p ara reg er esta Irm andade [...] em
razão dos n o tá v eis defeitos e om issão que se rece n te o velho com prom isso
que p ro ced en d o com d iv e rsas reform as do ano de 1781 a 1820 ainda rege
com d ecê n cia esta Irm andade.” O p ro jeto não foi adiante e os iim ãos
continuaram com o antigo regim ento. E stu d an d o este e um outro p rojeto
datado de 1873, que não encontrei na d o cu m en tação da irm andade, e que
tam bém não foi aprovado, o antropólogo Jeferson B ace lar e a historiadora
M aria C o n ceição Souza afirm am que não existe nenhum a referên cia quanto à
sua ap ro v ação e vigência, esp ecu lan d o que tais não foram “bem aceito pelas
au to rid ad es, especialm ente na tentativa de elev ação de categ o ria p ara vir
obter priv ilég io s som ente co n ced id o s a ordens te rc e ira s .” A s ordens terceiras
Alves, Folha'; M o rta s que ressuscitam , (Ttefeitura Municipal do Salvador , 3]«ÍF.C , 1 975), pp 1 1 1-
! ) ? Ver taiiibé:.') Ariders'.'!! José Machado de ’j h v t i r a , c C'a’:dade : l">tundadcs
A e h i '1 iisar n o Rio <ie Ja n eiro Im perial ( 18 ài >~I í 89 ) , l-Jitt roi . UFF D iss de Mestrado , 19S'5.
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p re stig io .2
O fim do sécu lo p ro p o rcio n o u à co n fraria a categ o ria de O rdem
O s o c o r r o a o s ir m ã o s
dava na p rá tic a a p o lític a étn ica entre os irm ãos negros. N o caso dos
africanos, e ssa s confrarias de co r eram esp aço s de re criação das identidades
étnicas airican as. Tinham com o principal critério de id en tid ad e a cor d a p ele
em co m b in ação com a n acio n alid ad e.4
A s confrarias de cor rep resen tav am u m a esp é c ie de fam ília ritual, de
p aren tesco . U m a fam ília que p ro cu rav a proteger e am p arar se u s m em bros. O s
irm ãos da m esm a etnia, e em m uitos caso s de g rupos étn ico s diferentes, se
ajudavam e de certa form a p reserv av am ou re criav am su a s identidades.
A nalisando as confrarias m ed iev ais p o rtu g u esas, a histo riad o ra M aria
H elena da C ru z C oelho, entende que n essas a s s o c ia ç õ e s se encontrava a
2 “Projeto de C om prom isso” ( 1872 ), Razões da Apresentaçfio d'este com prom isso, cx.1, doc 2 ;
Jefersori Bacelar & Maria CoriceiçSo Souza, O Rosário d o s F retos d o F clo u rin h o , p.39.
3 "C o m p ro m isso da Venerável Ordem 3’ do Rosário, ( 1 900 ), cy. 1 ,doc 3, m ss A I H-S R
4 Sobre as estratégias de aliai iças na* ronfrarias de cor, ver Reis, A m orte é um a fe s ta , p. 5 5 e João
Reis, “Dilemi<;-as e resis' éir ias no Israsi!” , Tempo, 3, p 5
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fam ília artificial, permeada “por laços de afeição mútua e solidariedade que
reconduzem a segurança aos hom ens ” Insisto m ais uma v e z que, no caso
A qui so lid aried ad e se ap resen ta com o p rin cíp io cristão , traduzido por
38 800 liv res e lib erto s (58% ). O s lib erto s o cu p av am d iv e rsas atividades:
sap a te iro s,c a rp in te iro s, v en d iam n as ru as, carreg av am cesto s etc. O s escrav o s
eco n o m ia in stáv el. A so cied ad e m o stra v a-se ainda m uito desigual, onde o
rico era a sso c ia d o ao b ranco e o negro ao p o b re.7
O s negros do R o sário , enquanto con frad es, p elo m enos tiv eram a certeza
de v er a ten u ad o s os efeito s d a crise econ ô m ica sobre si. U m a v ez que o
lam bém p o ssu e m m em bros d e ssa s o u tras in stituições . P o r exem plo, sobre a
antropólogo Júlio Braga afirm a que nos “ seu s prim eiros anos de existência,
funcionou com o junta, um a esp écie de sistem a ro tativ o de crédito com que
ajudava os se u s a sso ciad o s e p aren tes d estes, que ainda se encontravam
João Reis, R e l-d iâ c Escrava nr. F w sii. 35r- Paulo, fcra*Ui*ruri:, 1 p 1C t 21 , Katia RlaVoso,
T^íhia S fc u io XL\’: V m i }><n’ín a a no h tp ^ n o . Rio dt- .’aneiro. Mova Eronteira. 1992. p 1 20
16
s e c u la r d e “ d ireito ” :
C APÍTULO 4 ( 1900 )
com o in d o lên cia e p reg u iç a.” 10 A carid ad e agora era to lerad a p aia p o u co s.
f Júlio Braga, S o c ie d a d e P rotetora d o s D esvalidos : urna irm a n d a d e de cor. Salvador, laiiamá, 1 987,
d a irm andade não p o d iam e nem queriam ser a sso c ia d o s ao hom em ocioso.
ser ap ro v ad a- faz referência à sorte dos irm ãos cativ o s. S eria de estranhar o
com portam ento da inuandadc ? Ou de fato ela níío teve com o ob jetiv o a
11 1 )•! " J*. " C o r r r ss| >ij: rj r : r t as” , 17 de d'. I M S , C x 2 1 . do<: (.«l-í , ' T r o p n e d a d t - s da
IP! iTi: • , ■>. 1k , d"'C ( .■'-!)
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lib ertaç ão d o s escrav o s m em bros? A au sên cia d e sse item no R o sário m e fez
cap tiv o s qu eren d o L ibertar-se tendo o seu dinheiro e lhe fa lta r p a ra o aju ste
da su a alforria, fara sab er ao regente p a ra este lhe dar as p ro v id ên cias
tra ta sse d essas q u estõ es em p erío d o p ó s-ab o licio n ista. C ertam ente o
regim ento fo ra feito antes de 1888 e só ap ro v ad o posterio rm en te.
C o n su ltan d o o u tro s co m prom issos d as co n frarias de cor, com o o da
1‘ Agradeço fio Prof. Flávio Gomes a indicação do documento dos negros Mnhii . Ver A.N.
“Estatutos da Congregação dos Pretos Mirias Mahii” ( 1 7 8 6 ) , Códice 656 ; AC.M.R .J. ,
“Regimento interno para execução do compromisso da Vene-ável Irmandade de N. S. do R osário e
"5o Benedito dos homens de cor” , ( 1 8 9 1 ) , Cx 1 , p. 137 ; '>er tarnbém A C.M.R .J. , “C om prom isso
da Irmandade de G. Eeriedito erecta na Villa de P arati, Rio de Janeiro", ( 1 814 ) , s / catalogação ; e
A U . , Fundo : Mesa de Consciência e Ordens . “Compromisso de U.S. do R o s á r i o , Bispado de
Mariana” . ( 1816 ' , Códice 826 Sobre os compromissos do período colonial ver Patricia Mulvey ,
P la tk I,f:v Brotherhoods of Colonial praz:! a history" Tc se de Doutorado , City University
"! Mew Y<vl: . 1 "
19
É p re c iso escla recer no entanto, que as co n frarias negras, q u ase sem pre
por não ter liberdade p a ia freq u en tar e estar à d isp o siçã o da irm andade
p ara re a liz a ç ã o dos serv iço s era excluído da m esa. A ex ceção valia p ara os
cativos* que p u d essem d ed icar um pouco de tem po p ara a confraria. No
p rojeto de com prom isso de 1872, não há restriç ão explícita aos escrav o s
exercerem cargos de m esa, m as tam bém não foi en co n trad a esp ecificaç ão
13 Julita Scarario, D evoção e E scravidão ... p.83 ; Cnio Boschi, Os Leigos e o P oder .. p. 156;
14 " C om prom isso da Irmandade de U.S. do Rosário das Portas: do Canno,” (1 820) cap.XVl, cx. 1, doc 1,
mss A l U S R Dos 3.175 innfios ratalogadop no livro de entrada de irrnSos ( 17 1 9-1 8?7 ), 1.821, ou
•‘•■'•ja 5 7 % não registraram sua cowliç&o ( se era escravo ou l o r r o ) 1.148 ( 3 6 % ) eram escravo? e
1 75 se lit-rlarevicn forror ■5 .6 % )
20
lib erto s ou escrav o s. A penas d ev eriam se r hom ens d e co r p reta. C ertam ente
O u tras irm andades negras no B rasil tam bém restrin g iram a p articip ação
O s irm ãos tinham d ev eres a cum prir. E>esviar do m o d elo estab elecid o
p e la irm andade resultava, na m aioria d as v ezes, em ad v ertên cia pelos
prim eira regra era o ato de adm issão. N a irm andade do R o sário , em 1820,
tanto lib erto s com o escrav o s davam com o jóia de en trad a a quantia de 2 $000
réis, devendo “ cum prir as o b rig açõ es da Irm andade no S erv iço da V irgem
S a n tíss im a :’ 17
tratar de um a confraria negra, o com portam ento d o s seu s co n frad es dev eria
ser exem plar, p a ia que não se ab risse b rech a a p o ssív e is in terv en çõ es das
ordem ” n a irm andade. O com prom isso de 1900 co n serv aria b asica m en te as
E L IM IN A Ç Ã O
que se co n v ertessem a uma outra religião. N e ste últim o caso p o d e-se eslar
aludindo à expansão do P rotestantism o na B ahia, que se dá neste período.
D evo n o tar que, ap esar dos negros do R o sário im prim irem um a dim ensão
festiva à seu s ritu ais que ev o cav am as relig iõ es trad icio n ais da Á frica,
aq u eles que deram origem ao candom blé baiano, não encontrei na
d o cum entação co m p u lsad a nem rep u lsa, nem a d e sã o a relig iõ es african as. Em
nenhum dos co m p ro m isso s (1 8 2 0 ,1 9 0 0 ) e no p ro jeto de co m prom isso de
1872 há algo contra “feitiça ria,” com o ocorreu a co m p ro m isso s de outras
irm andades fora da B ahia. N o com prom isso de 1900, a alu são ao
desligam ento d a irm andade aq u eles que “m u d av a de relig ião ” se referia, com o
sab em o s, e até n o sso s dias, o caso do cham ado p o v o -d e-san to , que “p ratica”
tanto o candom b lé, com o o catolicism o. O silên cio em re la ç ã o a e sta d u p la
m ilitância relig io sa sugere que o candom blé, com o hoje, era to lerad o entre os
m em bros d as irm andades negras.
F rancisco H igino C arneiro, que em 1861 foi rep reen d id o p elo s m esário s do
desculpa e d isse “ que dinheiro não hav ia." O vigário tom ou p arte da
que em grande num ero h av ia co n co rrid o ,[e] clam ão co n tra a Irm andade.” O
p u n isse o c u lp a d o .19
O bom p rocedim ento e cará ter d o s se u s m em b ro s era fundam ental
Os leigos no poder
C om o o b jetiv o de ten tar ev itar Eibuso de p o d er d aq u eles que
m esa única, co m p o sta de hom ens e m ulheres, conform e a ta b ela seg u in te:22
C O M P O S IÇ Ã O D A M E S A ( 1900 )
H om ens M u lh e re s
1 P r io r M e s t r e de N o v i ç o s 1 P r io r e z a
1 S u b -p r io r 14 D e f i n i d o r e s 1 S ub - p r io r e z a
] S ecretário M e s t r a de N o v i ç a s
1 T esou reiro 18 C o n d ig n a s
1 P r o c u r a d o r G eral
1 V i g á r i o d e Culto
<:y. 1 , ' 1c i c ?
25
os u te n sílio s d a cap ela, aju d an d o o cap e lão n as su a s o b rig açõ es,d e “ a sse a r e
zelar p e lo patrim ô n io da irm andade.” Em 1872, ju iz e s , escriv ã es, teso u reiro ,
aos n eg ó cio s da Irm andade,” p o r organizar “as p au tas d as m issa s” dos irm ãos
atrib u içõ e s não estão d etalh ad as com o n o s e statu to s p o sterio res. E ra esp erad o
dele in telig ên cia e h ab ilid ad e, p ara lançar toda a rece ita e d esp esa nos
“ * “Projeto de com prom isso” ( 1B72 ), cap.9,13 e 16. cx 1, doc 2,pp.44-46; “C om prom isso ...” ( 1 9 0 0 ) ,
cap 9, cx 1,doc .3
-‘4 "Comprou iir.se ( 1 820 cap. IX-X.cx 1 ,doc.1 .flr..20-21 , "Projeto ... ( 1£72 ), r:ap.9°e
1 1 .doc.2,pp 15-1 “Com promisso ... ( 1 900 ), cap.4, cx 1 ,doc 3.
26
regim entos anterio res d ev eriam scr p e sso a s “p ru d en tes, [de] bom juízo e
' :•> 1 l ^ t ' 1 i, ‘ij1 f 1 2 2 ,"! Ti ict i > í 1 V72 >, -•«(■ 1 l . j . p 3 , " l.'\'>mf.n>rnim>
( ! '. '0 0 !, ' :i| •’<
27
a s re u n iõ e s d a irm an d ad e.26
m esa so licita re eleiçã o p ara continuar “ as q u estõ es que se achão p rin cip iad as
pedindo p ara isso ap p ro v ação da ju n ta.” E m 1882 tam bém h o u v e reeleição
da m esa para que esta p u d esse concluir as o b ras da cap ela. A reeleiçã o
era. assim , fato corriqueiro. C onsultando os livros de atas o b serv ei que
cargo até 1889. C ertam ente esse irm ão g o zav a de p restígio na irm andade
p ara sua re eleiçã o . E m 1889, o vigário o defendia: “ este dev e ser reeleito -
não só p e lo in teresse que tem tom ado p a ra o augm ento d a irm andade, com o
por e s ta r aind a em o b ra a cap ella.” Por o utro lado, m u ito s confrades
que “n e ste anno não tem sido p o ssív el a p are cer um só hom em p a ra aceitar
das co n ta ria s” foi afastado do seu cargo. N a m esm a sessão , o teso u reiro da
a sso c ia ç ã o foi contrário a hom enagear o defin id o r M anoel N ascim en to por
serv iço s p re sta d o s à instituição. E stab elecid a a d isc u ssã o entre eles, a m esa
su sp en d eu a se ssã o “até que acalm asse os ân im o s.” 28
E sses ep isó d io s rev elam que a p o lítica interna no R o sário era ,
con flituosa. A c u sa ç õ e s e descontentam ento dos co n frad es com a m e sa foram
77 /-J.1'1 o.R Teirno de Resolução, 03 de outubro de 1866, cx.3,doc.04,p.34. Sobre reeleição ver
I jv ro s He ./Jas (1 880-1 8^9), cx 4 ; correspondências, cx 2 1, doc 0 2 - í , 1842.
* /■•.] l-J C: K l ^ n n o d c. Kr?'; fu\ ] de dezembro de 1870, cx ^3, do' O-^pp 02-C? , sobre o
derlfilquí vr-- Livre -ir APtr í ) £ !■)). do- <>S-b
29
d u rad o u ra.
e, portanto, brasileira.
' '■!i;';v:; iü s-v. .ir N ” i ■ I- <s;irK' 1 orlar dc ran nc." M 2í |. la:> V. r* .doc 1,fl 14
30
Nagfls 4 0,1 %
Moçambique 3 0,09 %
S/ Declaração de origem 3.157 89,1%
Fonte: Livro de Entrada de IrmSos (1719-1837)
os p atrício s africanos. C u rio sa a dinâm ica étn ica no R o sário . A p esar dos
d iretora. E sta continuava, até aproxim adam ente a seg u n d a m e tad e do sécu lo
XIX, dom inada por crio u lo s e angolas. N a eleiçã o de 1871, crio u lo s e
angolanos continuavam dividindo o p o d er na confraria. P ara I o ju iz o
v en ce d o r foi o angolano G asp ar da C o sta Júlio. D a série d o s crio u lo s, João
L uiz das V irgens( 2o ju iz ). P osteriorm ente a esta d ata não foi encontrado
nenhum docum ento sobre eleiçõ es que d estaq u e a p articip a ção d iferen ciad a
trad ição angolana de interação com o m eio b rasileiro e seu s hab itan tes, entre
que por seu grande núm ero p u d essem n ;p re se n ta r a m eaça à trad ição
angolana. Q u eriam p reserv ar o p o d er utilizando o critério d a an tig u id ad e.31
C o n tro lar a m esa significava, entre o u tras c o isa s, co n tro lar o s irm ãos de
ou tras etn ias, além de adm inistrar d iferen ças étn icas. As irm an d ad es eram
“ can ais d e adm inistração d essas diferenças” . A n g o las uniram -se ao s crio u lo s,
fo ram capazes de organizar estratég ias de alian ça s e riv alid ad e s. O que
cargos de d ireç ão .” M a s tam bém a origem étn ica re v e la que m u itas v ezes
As mulheres na mesa
A s m ulh eres ocu p av am cargos n as co n frarias negras, m as a origem
étn ica tam b ém criav a reg ras entre elas. No caso da Irm andade do B om
Je su s dos M artírio s, de C achoeira, citad a anteriorm ente ap en as as m ulheres
“talv ez p a ra aum entar o estreito m ercado afetiv o dos h o m en s,” sendo elas
p o u co n u m e ro sas na com unidade african a.34
A s irm ãs do R osário d as P o rtas do C aim o p articip a v am de u m a m esa
ex clu siv am en te com posta p o r m ulheres. E ram ju íz a s,m o rd o m a s e p ro cu rad o ras.
As m ulheres crio u las e angolas p oderiam , p elo co m p ro m isso de 1820,
p a rticip a ção adm inistrativa d as m ulheres estav a lim itada, p o is eram do “ sexo
m ulheres se ria assisten cial: “v isitar os enferm os, o rien tar-se do tratam en to [que
os d o en tes] rece b em e d a b o a ordem ” . R u ssel-W o o d assin ala a im portância
d a ala fem inina d as co nfrarias de co r no que d iz resp eito à ativ id ad e de
a ssistên cia social: “ A s m ulheres das irm andades desem p en h av am um papel
p rep aran d o -a com toda lim peza p ara o u so d as M issa s, co sen d o -as e
refo rm a n d o -a s.” 37
3175 irm ãos catalo g ad o s p elo Livro de en trad a de irm ãos p ara o p erío d o
1719-1837 , 2204 eram m ulheres, representando aproxim adam ente 69% dos
m em bros, m as continuavam sem ter p o d er adm inistrativo. D a s 161 escrav as
eram jejes, cinco crio u las e d u as angolas. A qui a p e sa r do núm ero reduzido
* “Projeto de C om prom isso de 1872," cap.6°, cx. 1,doc.2, p. 1ó; “Com prom isso ... (1900], cap.4e
“Alribuir c*es da P rio r « a , Sub Prioreza, Mestra de Hoviça e Condignas", cx 1, doc.3 ; “Compromisso...
11820], cap.XVl, cx 1,doc 1,(116, A.J.R R ussd-W ood, “Black sirid mulatlo brolheroods iri Colonial
Bradl- a st.udy it» collective behavior" apud Lueiano Figueiredo, O A ve sso da M em ó ria . C o tid ia n o e
Traf--:lho d a m u l h e r cm M i n a z O erai? n o sâ cu lo XVH, Educib, .'o sé O lynipio, 1 9 9 3 , p lt'2 .
j ati' 1' ia jóü lv ev, 7b* Piack .V.'\ ... f l* r ,!•>!£. A m o rte é w n a fe~la ...i 5S
34
d iv id iam o s cargos, o que d em o n stra que as reg ras de discrim in ação étnica
eram d a n açã o je je . Isso sugere a não ex clu são étn ica entre as m ulheres, no
atraso d o s aluguéis, são v iú v as defendendo seu s m arid o s das co b ran ças dos
m esário s. O registro de en trad a de irm ãos n so tra z d ad o s sobre a condição
civil d essas m ulheres. M as, atrav és dos te stam en to s de lib erto s p ara o
período de 1790-1844, foi p o ssív el id en tificar que das 38 te stad o ras que
A I N S R L i v r o de entraria de írrriSos d 7 2 2 - 1 8 2 0 , c x 7 . d o c 1
J , u - j a ’io F i i c u r i r e d ” , •'.> A v e s * # d i M c tn ó n a ... p 161
' ]■iCU' irrd J. O í'1' 2
35
tom ando p a rte das d e c isõ e s adm in istrativ as, as irm ãs não estav am na
confraria ap en as em b u sc a de auxílio m aterial. E ssas m ulheres eram
estatu to estiv e sse relacio n ad a ao fato dos irm ãos p ed irem a elev ação da
instituição à categoria de ordem terceira.O que sig n ificav a prestígio na
h ierarq u ia e clesiástica. A q u ela não era um a ép o ca p ro p ícia p ara se aten d er
ab o licio n ista fav o reciam ao s negros e seus defen so res, o que certam ente
contrariava os p o d ero so s da ép o ca. Perm itir aq u e la prom oção poderia
significar um a brecha fav o ráv el ao s irm ãos negros. O s irm ãos se tom ariam
te rc eiro s em 1900. C ertam ente que o m om ento fav o recia a p rom oção, m as
quanto a isso tratarei adiante.
Agradeço gentilmente á Profa. Maria Ines Cortês de Oliveira por ter colocado a minha disposição
a listagem dos testadores que pertenciam as irmandades entre 1790-1890. D o total de 350
testamentos de africanos libertos pesquisados pela autora, 139 pertenciam a alguma irmandade, 52
testadores do período 1790-1844 faziam parte da irmandade do R osário das Portas do Carmo. Listei
o num ero de mulheres testadoras. que mais unia ver eram maioria, e obtive o perfil do estado civil
drlas "obre mulheres libertas e escravas ver M attosc, B ahic ::éc*ilo X D ’: um a p ro vín cia no Império
. . . p . ! .V - 1 i t ' 4 .
CAPÍTULO II
so lid a ried ad e , principalm ente quando se tra ta v a do relacionam ento entre ir
m ãos e clérigos. Q u eix as contra o vigário d a freg u esia, o cap elão d a Igreja,
a vig ilân cia e o controle p o r estes d a coriduta m oral d o s irm ãos, su a intro
m issão n as festiv id ad es d as asso ciaç õ es, que freqüentem ente co n sid erav am
um esp e tá c u lo profano, além do não pagam ento d e serv iço s p restad o s p elo s
p o b res e, tam bém , a p restaç ão de co n tas d e ste s à instituição - eis alguns dos
m otivos m ais co n stan tes d o s conflitos, m u itas v eze s acirrad o s, entre p ad res
e irm ãos p reto s de N o ss a S enhora do R osÉrio às P o rtas do C arm o de S a l
vador.
É interessan te o b serv ar que tais conflitos tinham u m a lógica própria.
O s leigos se co n sid erav am a pró p ria Igreja e, num a irm andade negra, e ssa
tendência aum entava co n sid erav elm en te p o rq u e e sta rep resen tav a um a das
cid ativ as a resp eito d as rela çõ es de p o d e r estab e lecid as, e às vezes do con
rei de P ortugal.
A firm a a h isto riad o ra K atia M atto so que, so b o instituto do P ad ro ad o ,
M a tto so , foi com o estím ulo da Igreja que a ação dos leigos se lom ou
p o s s ív e l.3
dos freq ü en tem en te de co b rar p re ç o s exorbitantes p elo s serv iço s, o clero en
trava em cho q u e com os m em bros das irm andades. A lguns d esses ep isó d io s
serão an a lisa d o s adiante. .Antes disso é bom e sc la re c e r q u ais os p ap éis d e
sem penhados p elo s p ad res na ordem religiosa.
o ficialm en te p e lo E stad o e seu cargo era v italício . O s vig ário s tam bém p o
irm andades eram m aioria. N e sse caso, o cap elão era nom eado p ela M e s a
Q u eix as d as irm andades contra os p áro co s e cap elães foram freq ü en tes
durante o p erío d o colonial e im perial. O s fiéis não viam seu s p ad res com o
m odelo de com portam ento. E s s e s eram freqüentem ente v isto s com o m ercen á
rios, p re o c u p a d o s m ais com bens m ateriais do que com a assistên cia esp iri
tual. P o r outro lado, os p ad res queriam ser p ag o s pelos serv iço s p restad o s,
p o is p re c isa v a m de dinheiro p ara seu sustento. O com portam ento dos p ad res
b rasileiro s seria típ ico ? Q ue lb rm ação teriam rece b id o n o sso s clérigos? É no
m ínim o in teressan te conhecer um pouco da história d esses sacerdotes.
R em ontando a uma ép o ca distante, conta-nos Tliales de A zevedo que
T rab alh an d o com 114 testam entos e 29 inventários de p ad res fale cid o s
na B ahia entre 1801 e ! 8 8 7 , K atia M atto so pôde o b serv ar que o clero, a p e
sar de se d eclarar celib atário , testava a fav o r d o s seus filhos, reconhecendo
seu s d eslizes. E ntretanto, M atto so acredita que não se tratav a de nenhum a
aventura am o ro sa e sem conseqüências, poií; “ap en as 25 % dos p ad res d e c la
raram um filho. Q uarenta p o r cento d eles chefiavam fam ílias n u m ero sas, com
três filhos ou m ais o que exclui a idéia de rela çõ es acid en tais, resu ltan tes
A lém de com portam ento clerical não tão exem plar, a situ ação m aterial
deles era d elicad a. O s vencim entos, quando receb id o s, eram m inguados. “ O s
p á ro c o s raram en te atingiam os níveis d a rem u n eração m éd ia re c e b id a por
artesão s, p ed reiro s e m arceneiros, que era de 200 mil ré is anuais.” O s v ig á
rios co la d o s p o ssu íam fontes num erosas, m as “ as qu an tias arrecad ad as v a ria
vam segund o o núm ero e a riq u eza dos p aro q u ia n o s.” A situ ação dos v ig á
rios en com en d ad o s “ era p ior j á que só p o d iam contar com a g en ero sid ad e
dos p aro q u ia n o s.” E ssa situação v ex ató ria explicaria em p arte os in teresses
do clero nas recom pensas m ateriais da v id a religiosa. T erem os, d esse m odo,
p ad res-fu n cio n ário s mal pagos pelo E stad o que com p letav am o orçam ento
cobrando p o r seu s seiv iço s v alores às v ezes ex o rb itan tes.9
Entre 1703-170-1 os irm ãos conseguiram levantar su a pró p ria cap ela às P o r
tas do C arm o. Q uando, em 1718, a nova freg u esia do P asso foi d esm em b ra
r V ; . s ! ' . r \ fy .’>« a J . < XIX... ]• /J K l-?ene Kr ll^i , 22 l< I 1ÜK. Ur- l K f 7 , - j o - , «. *12
! ' li*' i ^' 1. / Sí r- ..r
41
A os paro q u ian o s do P asso, não restou outra altern ativ a senão aca tar a
d ecisã o do Rei e construírem su a própria m atriz. “ Q ue ho u v e m uita o p o si
trabalhos se arrastaram por vários anos e não se d evem ter m udado para a
nova m atriz antes de 1 7 4 0 ." 11
N e sse acontecido, a justiça p rev aleceu g raça s à altiv ez d esses negros,
m as o apoio do conde certam ente m uito contribuiu p ara o desfech o . R esta
bom sen so, tentando evitar alguma razão dos negros. H avia negros rebeldes
de negros, pedindo justiça, e ninguém sabe onde isso poderia dar. Favorecer
mandade de cor fo sse permeado por m uitcs conflitos, tanto no período co
lonial com o imperial. Afinal, o controle social era uma razão fundamental
para a tolerância d essas instituições e, se tanto o poder eclesiá stico com o o
não iriam aceitar q u alq u er tipo de injustiça. E isso sc confirm aria, com o v e
rem os m ais adiante. A p esar de socialm ente fraco s, os negros da irm andade
p ro cu rad o res para defendê-la. A via utilizada p ara lutai' e garantir os d ireito s
dos irm ãos negros era, além da p etição às altas au to rid ad es, a via ju ríd ic a .
A m aioria d as cau sas que envolvia a Irm andade era defen d id a p o r um P ro
curador G eral. O com prom isso dc 1820 estab e lecia que tal caipo fo sse ocu-
n ‘»’I if JS r I ]'!!! -V I il-i '.l: li:-; r | ' 0 'f i Ve;' J (' f; f R r 1.N, " 1J ; ]1 ; i*..c r :'rVo]t;.!í- f S' r;V.’aí- TlC í r ; ; S : ! , "
43
pado p o r u m irm ão, rev ezan d o -se os d a série A ngola com os da série dos
direitos diante de auto rid ad es civis e e c le siá stic a s, p elo sim p les fato de não
adm itirem que a p alav ra do p ad re, p o r exem plo, fo sse co n sid erad a com o a
últim a n o s assu n to s da confraria. Q u ase sem pre, quando um novo co m p ro
m isso e s ta v a p ara ser aprovado, e sse s conflitos afloravam . Foi o que aco n te
os defuntos em sua casa antes que venhão a ser enteirados nesta Irmanda
de.” Por outro lado, o padre V icente Ferreira de O liveira se opunha ao esta
tuto por este ser “m uito ofensivo e destrutivo dos D ireitos Paroquiais,” con
siderando-se também espoliado pela irmandade. O que podem os deduzir, e
verem os adiante, é haver um conflito de interesses não apenas espiritual, mas
sobretudo material entre a irmandade e o vigário.15
A g ressõ es, xingam entos constam das c a l a s en v iad as p elo p rocurador, do
sem pre o p a d re era definido com o serv içal do D iab o , que infernizava os
ten tar d en u n ciar à C o ro a o m au funcionário esp iritu al, q u e teria um c ará ter
m esq u in h o e ganancioso. E videntem ente o vigário p recisa v a de dinheiro p a ra
do is con ten d o res. A irm andade ten tav a lim itar as fu n çõ es p aro q u iais e o v i
gário im p o r su as v o n ta d e s.17
O q ue te ria o novo com prom isso p a ra d esag rad ar e enfurecer o p áro co
a ponto d e ste ser tão veem entem ente contiário a su a ap ro v ação ? Q u ais os
fato s q u e teriam tirad o o sossego e a paz dos irm ãos e do seu p áro co ?
A lguns cap ítu lo s p ro p o sto s p elo s irm ãos não foram aceito s p elo p ároco p o r
que, seg u n d o este, v io lav am o que d eterm inava o D ireito E clesiástico . T rês
ais. P elo d esejo do representante do R osário, o dito vigário náo seria “pago
1 A.1.H.3.R Corresporidí-ncias ( Cartas do Rio ), 25 de março de 1816, Cx. 20, doc.02*l>; sobre os
conflitos referentes a falta de pagamento ver Termos de ResoluçSo, cx, 03.
A partir das cartas do procurador José Vicente de Santa Ana, que se encontram no arquivo da
irmandade do Rosário, corneçei a buscar o que teria motivado de fato a contenda. Infelizmente a
docum entação encontrada na igreja do Rosário sobre o episódio apresentava lacunas, algumas inclusi- ■
determinadas pela aç5o do tempo Restnva tentar obter inform ações rio Arquivo Nac ional, partieu-
Iarmei iH através do Hmdo de Mesa de Consciência e Ordens e do Desembargo do Par, o Ksprr ífi-
*;uiii»-ii**• na d o c u m e n ta d o da Mesa de Consclé-nc ia e Ordens localinei dois m aços recheados de
K i í o n r j . j - x- lunvan».nu- sobre o .«nfronto Esses dó' umentor me «iiu-Jararn a d y idíir <•
■ p >r ‘ ' -a; ia r e h : \ c i o n a d a anT.f-ín ^ntre inn'os nep'os e o s e 1! v - ^ a r i o
46
g u esia de origem , o que era de acordo com as C o n stitu içõ e s P rim eiras do
m ento p erm itid o p ela C o n stitu ição ... só o su p lican te se ach a esp o liad o d este
D ireito, sem que os S u p licad o s apresentem título algum legítim o, que o ex
clua, não querendo eles que o Suplicante encom ende os cad áv eres, nem que
exija o seu resp ectiv o benez, e só sim que o seu cap elão assista a se m e
freg u esia s poderiam perfeitam ente entrar em acordo e am b o s receb erem seu s
um a irm andad e co m p o sta “ de hom ens p reto s, fo rro s, calçad o s, rico s.” E v id en
tem ente q u e denom inar a irm andade de ric a e lista r ap en as os fo rro s com o
irm ãos d a co n fraria era inverdade era m ais um exagero do p áro co , j á que
1 8 2 0 ,n o cap ítu lo “ do enterram ento e m issas dos irm ãos fa le c id o s,” o p áro co
nâo era o resp o n sáv el p ela realização d as cerim ônias fü n eb res. A irm andade
que continuav a a vigorar para o sécu lo seguinte, legalm ente resp a ld a d o pelo
T ribunal.
rem onta ao sécu lo XVIII, quando os irm ãos do R o sário tiveram praticam en te
tom ada sua igreja pela paróquia do P asso . A rela çao entre esta p aró q u ia e
a capela da irm andade negra sem pre fo ra difícil. O vigário da freg u esia do
ainda que a cap e la não era filial do P asso e que os negros seriam seus
prom isso. E les exigiram que tais cargos fo sse m o cu p ad o s p o r negros. E ssa
atitude desagradou m ais um a vez ao p áro co do P asso , que em 1814 achava
sem pre E scriv a n s e T h eso u reiro s hom ens b ran co s.” C o n sid erav a ain d a a b su r
serem v ítim a s de racism o: “ O s hom ens b ran co s que co stu m av ão serv ir estes
p rom isso, hav ião p o u co s p reto s que so u b esse m 1er, escrev er e co n tar.” A c u
savam tam bém os b ran co s de exercerem ab so lu to d esp o tism o , p rev aricação , e
u su rp ação d o s dinheiros da c o n fra ria /6
*' / . ) - ] I :1'.' ' ’O'iSMi.'lJ' lei (: ' .'-T'Jt.'î IS rjt- ol.i* !jL'î'O Ji ]S] d û . 5'J
‘ A -u ■*■'!js'. h-!)' ic: '.it ma?*-; r \ù 1 ^ ! 5, y. 2 s b . \ •<. k -:iuc f-i1
50
negros do R o sário das P o rtas do C arm o, estes não aceitaram os brancos nos
p rin cip ais cargos. Igual atitude tom ou os je je s e b en g u elas do R osário da
R u a do Jo ã o P ereira. Em 1784, tentaram “ d em o v er os b ran co s dos cargos de
te so u reiro e escriv ão .” A p resen ça d o s b ran co s g e ra v a te n sõ es e intranqüili
dade em algum as asso ciaç õ es n eg ras.27
rador an u n ciav a aos irm ãos baian o s v itó ria n este ponto: os cargos de te so u
reiro e escriv ã o seriam o cu p ad o s p o r negros. Se não conseguiram afastar o
As cartas escritas p elo p ro cu rad o r rev elam que ele acred itav a não
que lhe em p restav a dinheiro p ara dar andam ento à causa. Sobre S o ares, sei
apenas que enviou de S alv ad o r a qu an tia de 60$r. p ara Jo sé V icente, en tre
gue p elo seu correspondente, Sr. Jo sé G om es P ep e C orreia, no R io de J a
neiro. E le ta lv ez fo sse apenas interm ediário do dinheiro da asso ciação , quem
rav a n eg o ciad o r hábil, em quem os irm ãos deviam confiar. Ele se v an g lo ria
va de “ que tem sabido desem penhar os v ív eres da am izade p ara os por
livre de hum ju g o p ezad issiin o do vigário ” A qui, de novo o p ro cu rad o r
d erro ta era n ece ssário reco rrer a au to rid ad es m ais perto do m o narca e de
D eu s, com o no caso do Infante D . S eb astião , tid o com o p ro teto r d a cau sa do
R osário, a qu em Jo sé V icente cham a de “ am o e senhor.” T u d o indica que o
Iníante era n eto de D .Jo ão VI, m as n e ssa ép o ca, ele era ap en as u m a criança.
E scolhê-lo com o p ro teto r da c a u sa do R o sário significou aproxim ação com o
p o d er real a fim de garantir p arec er fav o ráv el à irm andade. A sag acid ad e do
p ro cu rad o r é dem o n strad a atrav és do b aju lam en to deste p a ra com a au to ri
dade. S u a g ratid ão àq u ele “ senhor” era tam anha que Jo sé V icente encom enda
“ ao m elhor p ro fe sso r d esta cid ad e hum a Im agem de São S eb astião , com to d a
p erfeição com resp len d o r de ouro, cuja Im agem a pedi de p ed ra Jasp e,” p ara
' I 32 " <•*» •
p resen tea-lo . “ O s irm ãos p o d iam se r p o b res, m as não econom izavam na hora
de p a rticip a r com dignidade da econom ia da tro ca de fav o res, da lógica de
recip ro cid ad e tão cara ao clientelism o.
que dizem d ela [ a irm andade ] o vigário, e ;i v.m . nada tem p ara darem este
hé o m otivo de quem tem cu stad o o q u ersrem dar razão à Irm andade.” Se
sem re lig io so s.” A M esa aco n selh av a ao Rei so b re cap ela, ho sp itais, ordens
relig io sas, p aró q u ia s e tc .3'1 Foi esse o Tribunal que Jo sé V icente enfrentou,
entre vigário e irm andade, com p arec er fav o recen d o o páro co . M a s este co n
tinuava q u eix an d o -se da d eso b ed iên cia dos irm ãos, “dita Irm andade sem pre
se tem m o stra d o orgulhosa, e não q uerendo nunca consentir, nem dar-se por
’ ' " o b r e iif- ;v iisir,ú< s do p r o i u r a d u r c o n t r a i> Tr i bunM «er C o r r e * ; ; ' ^n u i i i Ma í , 11 de a b o r t o >le 1fc]5,
<y. 2U, <k>c (,’2 - b ; s o b r e D S e b a s t i ã o ' C o r r e s p o n d ê n c i a s , 04 de abril de 1 81 C, c x 2 0 . d o c , 0 2 - b
M M u l v e y , "ÍS la vc C o n fr a te n n t i c s . " p 4 4
JO l :■ I‘-.r j ,1 .. . J,' ... ; i . ver t i l Mi b r Ol l / . . : ' / 1. è i e ' . ), f u O
■’ .’ at i e iT' \ J . ! -! r . , ] 1 . I ■1 1 4
54
contra tem po . A ssim dizia o estatuto: “ os Irm ãos P ro cu rad o res terão to d o o
cu id ad o de sab er as horas em que o R ev eren d o V igário se ha de achar
para a dilta M issa a fim de que não haja p ertu b arção nem dem ora.” ' 7
riam d esviar dos padrões estabelecidos. Mas:, ainda que não hou vesse d e sfe
cho favorável aos confrades do Rosário, com desenvoltura, eles souberam
C a p e lã e s X ir m ã o s
D esen ten d im en to s entre p ad res e irm ãos continuariam acontecendo no
d ec o rre r do sécu lo XIX. O s m otivos m ais freq ü en tes d e ssa s d esav en ças se ri
am as q u eix as do clero em relação ao pagam ento de seu s ordenados. E m
agosto de 1827, o então capelão da irm andade, P e. F au stin o da C osta G om es,
reclam o u a o s m esário s sobre o atraso do pagam ento d esd e “ a últim a de s e
tem bro do próxim o p assad o anno... e rogo a p rom pta p ro v id ên cia da m inha
ju s tíss im a rep reze n taça o .” O capelão acu saria o te so u reiro , “que de nenhum
m odo m e tem querido pagar.” ?8
sario tratav am os cap e lães com o seu s em pregados, que realm ente eram a s s a
lariados da irm andade. A legando zelo com a:? c o isa s da Irm andade, o cap elão
dizia tam bém cuidar “do aceio de tudo quanto pertence ao Altar.” Por tudo
que fora exposto, afirmava :
“ d ev id am en te com p ro v ad o s,” dem onstrando que o dito c ap e lão não era digno
de serv ir à irm andade. D ep o is de an alisad a a d o cu m en tação , a M e s a su sp e n
" Ivez servir a uma irm andade de negros, co m p o sta por p e sso a s de
pouca* >osses, não agradasse ao reverendo João da Cruz. O pad re realm ente
fez uin jo g o de classe na sua carta., ao falar de sua boa rela ção com gente
de dinheiro. O s m esários do R osário, p o r su a vez, sen tiram -se o fendidos em
que isto não continue d 'e s ta form a, e p arece-m e que d ’esd e o prim eiro athé
o últim o lm ião deve se reccntir deste p ro ced im en to .’" ''
cap elão se to m o u m ais efetiva. Q uando d a s;ua co n tratação , os irm ãos faziam
tulo do com prom isso referente às m issas que ele te ria de celebrar, a m e sa
e sc la re c ia so b re seu ordenado, p ara que não p a ira sse m d ú v id a s a resp eito ,
co isas m ateriais. A ssim , a irm andade do R o sário reu n iu -se, ein setem b ro de
1866, a fim de determ inar as fu n çõ es do p ad re frei Jo ão do C o ração de
Jesus, “ ce le b ra r m issas aos dom ingos p e la s sete horas da m anhã, e dias
san to s...en co m en d ar os corpos dos irm ãos que fale cen d o v ierem a cap ella,
“P adre C ap ei Ião, no d ia de seu s vencim entos, e p ara isto reserv ará os p ri
m eiros dinheiros que receber.
Vitória Negra?
O ep isó d io de ap ro v ação do co m p ro m isso de 1820, é re v e la d o r de
re sistê n c ia negra. O s confrades do R o sário ten tav am garan tir seu s direitos,
im pondo-se diante da introm issão d o s vig ário s. D en u n ciaram p ráticas ab u si
v as, reco rrera m às au to rid ad es, às v eze s v enciam , o u tras p erdiam .
N ão conseguiram afastar o p áro co de su a s fu n çõ es p rin cip ais, m as
conseguiram que os p rincipais cargos da irm andade fo sse m ex ercid o s por
eles e não p o r b ran co s. E im possível d eix ar de v e r n e ssa h istó ria a afirm a
ção de um a identidade racial. A s irm an d ad es negras, p o d e -se dizer, foi no
CAPÍTULO III
m iuçai- as d esp esas e re c e ita s que esta p o ssu ía. Q u ais os g asto s m aiores
da confraria? C om o salário dos seu s fu n cio n ário s, com m issas, festas relig io
sas, enterro s? É interessante conhecer esse u n iv erso econôm ico em núm eros,
que p o r m ais ab o rrecid o s que pareçam , rev ela a v id a m aterial de um d e
term inado grupo, su as p reo cu p açõ es, bem com o contrapõem um a econom ia
sim bólica a um a m aterial. Q ue inform ações são rev elad as a p artir dos li
vro s de rece ita e d esp esa? E dos testam en fo s e inventários? O s irm ãos ao
moiTcrem deixavam bens p ara a irm andade? O R o sário post-m ortem lucrava
o >11) a m orte dos seus associados':' As p o s s i\ eis re sp o sta s para essas
61
q u estõ es ap are cerão no d eco rrer d este cap ítu lo . M a s inicialm ente, apresento
com o os com p ro m isso s tratav am das finanças d a confraria.
À s o b r ig a ç õ e s e c o n ô m ic a s
b rar que m u ito s eram “negros de ganho.” Eram negros vendedores, carreg a
dores, arte sã o s etc, que geralm ente auferiam m ais do que a som a contratada
para pagai- seu s senhores. E tam bém os donos de escrav o s podiam p ag ar a
m ensalidade d o s cativos, certam ente um a form a en co n trad a para tê-lo s sob
m essa vinha acom panhada de dinheiro ( tam bém cham ada de jó ia de en tra
da ) que cad a m esário doava. H avia um a h ierarq u ia nas doações das esm o
las. Juiz e escriv ão doavam as m aiores esm o las. P elo com prom isso de
1S20, o ju iz deveria “ dar no fim do annc 165000 réis; o E scrivão 8$000
lim ites.2
O p ro jeto de com prom isso de 1872 e sta b e le c ia a q u an tia de 15$000
com o artigo an teced en te3 será co n sid erad a Irm ã[...] fo ra esse acto pagará
cad a um a jó ia do artigo citad o ” , ou seja, 15$000. E ssa s jó ia s tinham prazo
p a ra serem p ag as. E m 1820, o prazo era m iis longo, uin ano após a p o sse
dos m e sário s. N o p rojeto de 1872, o irm ão tinha trinta d ias p ara quitar. Se
p o d erá se r novam ente subm etido a ella [ap ro v ação ] apresentando a referid a
jó ia ”4
Em 1900, p aia ser irm ão do R osário, exigia-se um a jó ia no v alo r de
50$000 réis. Entre 1889-1930 a d ep reciação do mil réis se fez de m aneira
b astan te acelerad a. R epetindo a trad ição do estatu to de 1820, o de 1900
' Sobre os negros de ganho ver Maria Inés Cortês de Oliveira, O L iberto: o se u m undo e os ou
tros, S5o Faul o, C om ipio, 1988, 1 8 , sobre a ocupação do::negros ver também João Reis, “A greve
negra de 1 857,” USP, 28, 1993, pp.8-28; sobre o pagamento das mensalidades dos escravos ver Julita
Scarario, D evoção e E scravidão. A Irm andade de N ossa S en h o ra do R osário dos Pretos n o D istri
to D iam antino n o século W i l l , 35o Paulo, Nacional, 1975, p.67.
' O artigo afirma o seguinte: "Poderá ser apresentado para innã o toda pessoa que professar a santa
P.Higi&o CaÜiólica, que tenha bons costumes e pose de perfeita s a ú d e ’’ DJ "Projeto de com prom isso
í 1 *■“ 2 1,” 1. cy. 1 ,.px 2. :ii?s A ! K 2 F.
* "P roiH o ie ■:■'iiipi ^iiiiFSi'." [ ’ S7 2 c .ip 2r . ! x 1, do . 2, I 4
63
esp ecifica o valor que cada m esário deveria dar no ato de entrada. E sses
são os valores:5
gra. Tal prestig io , tal poder, tal privilégio, com o em outras instituições, tinham
seu preço.
tem ente viram , no decorrer do sécu lo XIX, sua d esp esa c rescer e a receita
m inguava. U m a das form as segura que a irm andade p o ssu ía para garantir
dinheiro 110 cofre eram as p ro m essas de irm ãos que assu m iam cargos. O s
estatu to s tam bém deixavam claro que seu s a sso ciad o s com uns d everiam fa
irm andade não era m enos a u ste ra com co b ran ça de dív id as. E la em p restav a
dinheiro p a ra se u s irm ãos, m ae exigia o p agam ento p ontualm ente, Q u ase
N ico lao d e P olentino C anam erim , com unicou ao s m e sário s que h a v ia co n se
irm andade, ta lv ez co n traíd as p elo seu finado m arido. A b rig a entre ela e
irm andade se prolongaria até 1846, quando, na “p rim eira V ara C ível do
de urna quantia. E ntretanto, o p arec er foi fav o ráv el à irm andade. N ão s a tisfe i
ta a v iú v a apelou “p ara o S uperior Tribunal da R e la ç ã o .’’ O então p ro c u ra
dor da confraria, N ico lau C yrilo, com unicou ao s m esário s que, ap ó s essa
atitude da reclam ante, o p ro cesso em p en ara. O ep isó d io dem onstra que nem
sem pre era fácil ob ter em préstim os de volta, e além d isso re v e la tam bém
que q u ando o assu n to era dinheiro os irm ãos se estranhavam . A q u ela idéia
de confraria harm ônica cedia lugar a uma irm andade com os p ro b lem as
65
A R E C E IT A D O R O S Á R IO
O s L egados
lor das d o açõ e s. V alores inferior a 100$000 réis eram os m ais freq ü en tes
total de 34S 400. A s esm olas variaram de 4 $ 0 0 0 a 16SOOO réis neste p e río
do. Um ju iz de dev o ção doou nesse m esm o ano 4 $ 0 0 0 reis. A s ju íz a s do
ano de 1840-41, doaram 61$000 réis. O s fiéis d o aram para esse m esm o ano
31 $370 reis. A rece ita da irm andade p aia o ano de 1843-44 indicava a
em sua m a io ria pobres. O s testam entos já foram utilizad o s p o r h isto riad o res
com o o b jetiv o de fornecer inform ações a resp eito de d o açõ e s d eix ad as
p e lo s m em b ro s d as irm andades. N esse sentido são clássico s os trab alh o s de
K atia M a tto so e M aria Inês O liveira a resp eito dos libertos no sécu lo XIX.
O indivíduo, quando se prep arav a p a ia a m orte, legalizava atrav és do te s ta
a form a com o seria seu enterro. A hora da m orte era o últim o m om ento
g ar.” 11
am m uito m ais n ecessitad o s do que a in stitu iç õ es.” M esin o assim , O liv e ira
encontrou p ara esse m esm o p erío d o ,(p rim eira m etad e do sécu lo XIX ) que
16,1% dos testad o res e 2 4 ,5 % das te stad o ras d eix aram às igrejas, irm anda
m andade. O u tra razão, seria que elas tinham m aio r co m prom isso que os h o
unia das m ais citadas nos testam entos dos lib erto s.V in te e seis hom ens e
” Ka'.iii I/aU osK , Tc.-lumfHton de F,xcr<:vi>~ U lvtlot '<■? Bahia no nfc.dn XL\'. >Ttna fonlc puni o
, \ i , 4 , 1 .. ■ ".I II ■■ , ’ J f •■{- :i, 1"F.l , 1 , ’’ <1 r.’i i r ; 1., < ’ 1: h i 1 ’ ->'7 , l / : i H < ly ih u :
68
gum legado p ara irm andades, e d esses ap en as q u atro leg aram à co n fraria
ção, fez seu testam ento. E le declarou p erten cer à s seg u in tes irm andades: R o
A s d o açõ e s realizadas p elo s testad o res não eram u niform es. D o av a-se
m ais para um a determ inada irm andade. D inheiro ou o u tro s b ens, com o
im óveis, eram os legados m ais freq ü en tes. T alv ez as d o açõ e s fo sse m de
acordo com o prestígio que cada asso ciação p o ssu ía ou o m aio r co m p ro
rarquia das doações. Localizei apenas um reg istro de testam ento, onde o
A listagem dos testamentos foi gentilmente cedida pela Frofa Maria Inês de Oliveira A amostra
se concentrou na primeira metade do século XIX, porque a maioria dos testadores que disponho se
concentrou nesse j.crlodo. 1 5? africano? liberte»!', dos quais 52 pertenciam è irmandade do R osário
das Portas do Carmo I'ara consultar esses testamentos, ver os 64 Livros de Registros de Testamen
tos
u / J E t L r .T 2' . f,s 1 77v-l 2v'". '*2';
1 .'J F I: LkT
69
um a d e s s a s irm an d ad es.16
A q u an tid ad e de bens que e sse s co n frad es do R o sário d eclarav am nos
do lim ite da m iséria.” P rovavelm ente aq u eles te sta d o re s p erten ciam a esse
g ru p o .17
P ara as últim as d éca d as do sécu lo XIX, encontrei trê s testam en to s e
testam entos do início do sécu lo XX, que p erten ciam a d o is m esário s que se
d estacaram na irm andade do rosário. E ram p e sso a s de recu rso s. U m íoi p ro
cará ter m ais m odesto. P ara se r enterrado n e sse s carn eiro s, p ag av a-se um
U m c a r n e ir o p or 3 an os para cr ia n ça 25$000
U m c a r n e ir o p o r 6 an o s para cr ia n ça 50S000
L i c e n ç a ptira c o l o c a ç í i o de in s c r iç õ e s 5$000
L i c e n ç a p a ra c o l o c a ç ã o de u m a s em c im a d o s m e s m o s 20S000
caro, m as tin h a-se a g aran tia de deixar, n aq u ele local, a lem brança eterna
fo sse a c erteza de que, p elo m enos, e sse s carn eiro s seriam locais de en
ser p o b re.” E ra costum e tam bém alugar caix õ es e esq u ifes. “ O R o sário da
A lguns co m prom issos previam sep u ltu ras p riv ileg iad as. “Em P ernam buco,
sepultam ento tam bém era negociado. Q uanto m ais próxim o do altar m ais
v alo rizad o . F ica r p erto dos santos era o p a ssa p o rte m ais eficaz p ara se g a
F alei até agora som ente d aq u eles que p o d iam pagar seus enterros e
sufrágios. O s que não tinham renda suficien te p ara realizar seu próprio fu n e
entes, negros, m estiço s tinham direito a u m a m orte digna. C ertam ente estes
funerais seriam sim ples, sem pompa., sem luxo, fugindo do estilo funeral e s
C arm o rezav a que “o irm ão que fallecer em estad o de pobreza, e sem ter
p esso a algum a de sua fam ília que prom ova o seu enterram ento a M esa
até a quantia de trinta mil réis.” N o estatu to de 1900, o enterro ain d a era
u m a das atrib u içõ es da confraria, ressalta n d o to d a v ia que “ logo que a Or
m ente, nos testam en to s dos irm ãos. E estes não se contentavam com p o u cas
m issas. A salv aç ão da alm a estav a co n d icio n ad a ao núm ero de m issas que
irm andade do R o sário das P o rtas do C arm o, determ inou, no seu testam ento,
'".'s gnfoB sSso jsif-uR Ver A.1 )■) 3 R ‘T r c ie lc df c onipromtRno <1 £72'), caj.- 17. cx 1 ,doc 2;
” ' Vi : i j T: >: i i !W dít V ' ’• ? ' >R- Ri.-mimo <1 9 !>'■i. >«[> , nr**' 11, x ’ , dc»
! ■ ' ! ! , / "ii " i r I'.!- : > T 11.fh- T /.'v -2 ' ~
74
que p a g a v a corretam ente o aluguel e agressivam ente argum entou que a ir
sá rio .26
r-ol.rc f das nnssar ver R e i s . » m oric 229 ; / J ’EP. 1J-:T 1 C, tis t.8v-7 5 v /I f-2C
'*■ I J K s }•-. c ó r r r r ^ o í r i r r r u í i í , 1 2 o r l i r - c m b r o -jc 1 M 7 , c x 2 1 , <ioc 03 *p ; C o r r r s p w i d c i i c i o s , 0 * dc
m 'i. i y . l Z . i : ' ' (lA-t.
75
igreja. N ã o sei até que ponto o asp ecto legal fa v o re c ia a irm andade, m as o
que c a u s a estranham ento é ju sta m en te e sse tip o de argum ento. A s re la ç õ e s
As propriedades
A s irm an d ad es de m aneira geral p o ssu ía m p ro p ried a d es. E sta s eram
co n seg u id as, n a m aioria das vezea, com o j á foi v isto , atra v és de leg ad o s de
irm ãos.
PROPRIEDADES
QUANT. LO CALIZAÇÃO ESPECIFICA ÇÃ O
01 - Ladeira da Rua do Passo i f 9 - Casa térrea
08 - Rua dos Carvões n°54,28,66,10,14,33,65,74 - Casas térreas
03 - Beco do mingau n°l 2,13, n° 19 -C a sa térrea
01 - Ladeira do Carmo n° 36 -Sobrado
01 - Situada próxima a Igreja do Rosário ^ 2 5 - Casa térrea
01 - Taboão np9 -Sobrado
02 -R u a da Saúde nc’68,245 -C a sa térrea
01 -L adeira da Ordein 3“ de S. Francisco n^M -C asa térrea
01 - Fortinho de São Alberto n°l 11 -C asa térrea
01 - Beco do Queiroz n° 1 - Casa térrea
76
O s alu g u éis d as p ro p ried ad es com plem entavam o orçam ento d a irm an
d ade. A p o n tu alid ad e no seu pagam ento era u m a regra que os inquilinos
um m ês ven cid o no valor de 4S000 de L ibanea M aria. O s dem ais alu g u éis
atra sa d o s p erfizeram um total de 89$lO O .<0
77
com atra so . C reio que e sse s pagam entos resu ltaram de v itó rias ju d ic ia is.
S egue u m a p e q u e n a tab ela do pagam ento dos alu g u éis em atraso p a ra os
anos 1 8 4 8 -4 9 .31
237S860
1873, com p rav am -se, corn 230$37, 156 kg de carne v erd e, cinco anos de-
po is a m esm a quantidade de carne era com prada por 353$96. A alta de
p reço s era freqtienlem cnle p rovocada p elas secas e epid em ias. N o caso dos
O patrim ônio do R osário era m odesto (20 p ro p ried a d es), p rincipalm ente
se com pararm o s com as in n an d ad es de b ran co s. A O rd em 3a do C am io
um a irm andade com posta p o r negros, p o ssu ir vinte p ro p rie d a d e s sig n ificav a
m uito. M e lh o r seria tentar com parar os bens do R o sário com outras asso ei-
3^
açõ e s negras, m as não p o ssu o dados sobre estas. '
L egad o s, serv iço s prestad o s, aluguéis de p ro p rie d a d e s co n stitu íram então
m andade p o ssu ía. Seria a receita su p erio r que à d esp esa da asso ciaç ão ?
A D e s p e s a d o R o s á r io
fraria. D e acordo com os livros de d esp esa que cobrem o p erío d o de 1822
a 1899, os gastos m ais freqüentes da irm andade eram com as festas relig i
osas, incluindo d ecoração, orquestra, serm ão, com ida, fo g o s de artifício, velas,
m issas, hó stias. O s funerais tam bém im plicavam g a sto s com a celeb raçã o de
nado do pad re, pagam entos de d ív id as co n traíd as tam bém on erav am a as
so ciação .
A s d esp esas reg istrad as nos liv ro s d a irm andade dem onstram que a
fe sta dos san to s cató lico s estav a sem pre em prim eiro plano e o seu cu sto
nâo era desp rezív el. A p reo cu p ação em realizar fe s ta s com brilho e esp len d o r
tem um a lógica: a fe sta era um acontecim ento p ú b lico , onde a irm andade
dem onstrav a a capacidade para a cidadè que o s negros possuíam de afir
brar a vida. D aí, os g asto s com a fe sta o cu p arem grande p arte d o s livros
de receita.
tes, 14$400. N o d eco rrer do século, a d e sp e sa com a festa foi aum entando,
sáv eis p elo aum ento da desp esa. Em 1846, o co n h ecid o vigário, V icente F e r
com prada para a festa custou 2175630. M issa s, T e-D eu m e fogos de artifí-
p o u cas, p o r exem plo. A liás, afirm a R eis que as m issa s em to d as as irm an-
dades rep resen tav am o “grosso d as d e sp e sa s.” G a sta v a -se com m issas de
N atal, m issa s fú n eb res e dias santos. C eleb rar m issa s sig n ificav a g a sta r v e la s
e, principalm en te, com p ad res. A falta de p ag am en to s d e ste s re su lta v a em
conflitos com o foi visto anteriorm ente. A ssim , o p ad re cap e lão Jo sé F au sti-
oito m issas, celeb rad as pelos fin ad o s desta irm an d ad e.” A situ ação d o s co
tam bém estiv eram na lista d as d esp esas. A s obras tam b ém oneravam b a s ta n
do P a sso custaram 3 7$100. E m preender o b ras sig n ificav a tam bém incluir nos
gastos os jornais de p edreiros, serventes. As o b ras eram n ece ssárias p ara
■’ . M U í R Rf-ce-ita . c x 1 2, do- 14 [ 1
w /.IK '" h T.,;- »•(!.•: , '.y. 1 2. í 1 0 - 4 k j , } v ■■ r y. 1 f' , ii <- M - V [ 1 ) %T .v u .,A ttioru
81
co n serv ar o patrim ônio. E m algum as situ a çõ es can c elav a m -se certos serv iço s
A situ a ção do patrim ônio da irm andade refle tia s u a situ a ção econôm i
ca. Em 1889, os m esário s enviaram um req u erim en to ao A rceb isp o da
antigas sep u ltu ras, fazer-se todo ladrilho de m á rm o re.[..]” O dinheiro gasto
até então som ava 15:859$000. C om unicaram ainda que, d e sd e 1880, “não foi
g overno.’’ O requerim ento dos in n ã o s inform ava ao A rceb isp o que a igreja
1^-y,
82
sem arrancad o d as m ãos leg ad o s tão p recio síssim o s de seu s an tep assa
dos!!!” 38
trab alh o tentando eq u ilib rar rece ita e d esp esa. Infelizm ente, p ara as d écad as
de 1820 e 1830, a docum entação não fo rn ece inform ação sobre a rre c a d a
dêm icos. A receita cresceu no p erío d o de 1853/55 o que pode ter sido
orçam ento d a confraria, certam ente m uitos re c u rso s foram utilizados. Foi o
centos rriil réis, agora porém resta-se trez contos e n o vecentos mil ré is ”
C om o se vé, em préstim o b ancário era outro expediente u sad o p elo s irm áos
O teso u reiro não aceito u , alegando que “ ignorava ter sido m arcada a p re s ta
ção de co n tas para a referida sessão , [...] no que fora contestado pela
84
so u reiro en treg asse a grade ou p ag asse o p reço v erd ad eiro . A p ro p o sta foi
não foi aceito p elo teso u reiro e este foi obrigado a d ev o lv er a grade p ara
a c a p e la.41
A fo rtu n a d o s ir m ã o s
principalm ente entre os m esários, resp o n sáv eis direto s p elo bom andam ento
da irm andade. E stes, com o vim os, ajudavam a receita do R osário através
ocuparam cargos. A p esar de insuficiente p ara tra ç a r o p erfil econôm ico, dos
irm ãos p o ssu íam tanto testam entos com o inventários. S egundo M atto so , e ssa
fa lta de co rresp o n d ên cia se ex p lica p elo fato d e nem to d o testam en to d ar
so frid a.” Q uando tinham p ro p ried ad es, eram q u ase sem pre c a sa s térreas, p o u
C ertam ente p o ssu ir casa própria, ainda que térrea, rep resen tav a algum
bem -estar no século XIX, principalm ente se lev arm o s em co n sid eração que a
e sob te to de p alh a.” A lguns irm ãos do R o sário rep resen tav am talv ez um a
T er um ou d ois escrav o s não era sinônim o de riqueza, em bora rep resen tasse
um degrau acim a do lim ite da m iséria. R eferindo-se às d iv e rsas facetas da
po b reza, W al te r F raga analisa a situ ação dos escrav o s desses senhores po
bres. “D ifícil a situ ação d esses escrav o s que, além de lutarem p ela p ró p ria
su b sistên cia, eram obrigados a carregar nos om bros a p o b reza de seu s se
nhores. P o ssu ir escrav o s era a asp iração de m uitos, e tam bém dos que v iv i
am à b e ira da indigência.”46
em 1815, que p o ssu ía os bens que existiam em su a casa, além de ter cin
consultores, escriv ães, teso u reiro s. N ov am en te reco rro aos testam en to s e in
B oinfim G aliza.
M anoel F riandes d eclarou p ossuir, em 1902, ano do seu testam en to e
47 Citando Stuart Schwartz, a historiadora Maria ]riés Oliveira afirma que "a coartacion" era um esta
tui o legal da América esparihola “que permitia ao escravo exigir a fixação de um preço ju sto para
•!>ic trabalhasse e pudesse romprar s*ua liberdade ” Entretanto, a autora desconhece corno funcionava
iiiki ii'ii>,:'io no I'r;::;i! "]’( lo que pudemos inferir dns testamentos, o esciv.vo coartado titdia seu
o fr/.íido. não sal •»•mos- s> a seu pedido ou pela voiftad* do p r o p r ie tá r io ” Ver Ohvcira. O h b e r -
i ...,| Z^ . v , T Uml" m / J i j : . M fis : 1-1 K v/ 1>-1 í , JJ-.T .Hs ! OS-1 11 '1 s." LRT 5. fls 203-
88
H enriques, d e clarav a que não p o ssu ía bem algum , além dos seis escrav o s
ex-juíza A na M arg arid a T eixeira de M en ezes, lib erta, era m ais m odesta. P o s
diadas. O s dem ais confrades, que não aparecem nos testam entos e nos in
ventários, p odem rep resen tar aquele estrato da p o p u la ção baiana que vivia
89
ção eco n ô m ica dos m esário s. O dinheiro ou a fa lta d e sse trouxe inúm eros
CAPÍTULO IV
M o rrer com p o m p a e cerim ônia era sinal de que o m orto não era q u alq u er
se p erío d o . T ho m as Lindley escrev eu que um dos p rin cip ais d ivertim entos
form avam , à s v ezes, em verd ad eiras p ro cissõ es. D e aco rd o com Jo ão R eis, a
m orte era um a festa, p orque “p ara os baianos m orte e fe s ta não se ex clu í
am .” 1
dade relig io sa e ou tro s tem as. Os testam entos fornecem inform ações a r e s
sas. B asta lem b rar que, em 1836, as irm andades relig io sas p ro m o v eram um a
revolta contra um cem itério, pertencente à iniciativa p riv ad a, que retirav a
n ovam ente se rã o fo n tes n ece ssárias p a ra entender com o a irm andade tratav a
d a m o rte d o s se u s asso ciad o s. Em um outro m om ento os rito s fü n eb res não
serão festa, m a s m o strará o seu lado m ais aterrorizante. As ep id em ias da
m ais hum ildes, eram m ais p o p u la re s entre os irm ãos d as co nfrarias negras.
O m om ento da festa cató lica era tam bém m om ento de congraçam ento, além
A ssim com o a m orte, a fe sta p o ssu ía seu ritu al. S erm ão, novenas, m is
sas e, principalm en te, a p ro cissão constituíam esp e tá c u lo s p ú b lico s. N e sse s
T en tav a-se im por u m a religião m ais ortodoxa, sem m u ito su c e sso . A tu alm en te
C om o j á foi visto no cap ítu lo anterior, a situ a ção fin an ceira restringiu a
pom pa & o luxo d as festiv id ad es em m om entos de crise. M a s , nem por
isso deix av am de ser realizadas. O s com prom issos re ssa lta v a m a im portância
IR M A N D A D E S E F U N E R A IS
C om o aco n te c ia nas confrarias de brancos, o s co m p ro m isso s d a s d iv e r
fará ao s filhos dos irm ãos cm local previam ente destin ad o : “ do A ltar do
Senhor p ara b aix o .” P ara aq u eles que não fo ssem irm ãos e q u isessem ser
aco m p an h ad o s p ela irm andade, “ darão de esm ola p ara ella do n s mil ré is .” 3
das P o rtas do C arm o prom etia tratar dos seus m o rto s no d eco rrer do sécu lo
XIX.
e sta v a diretam en te ligada ao cargo que o fale cid o tiv esse o cupado.
algum cargo não deveriam em h ipótese algum a fa lta r a e sta s so len id ad es.
dos Irm ãos fa lle c id o s terão to d a a esp ecial deligencia em não faltarem ; p o r
que além de se r acto da obrigação do cargo q u e exercem , tam bém o hé de
charidade, que se deve p raticar com o últim o b en eficio que receb em [os
“ “C om prom isso da lrrnaridade de H S do Rosário das Portas do Carmo [ 1 820],” cap.XXI: “Do enter
ramento e M i s « * dos lrruSos fallecidos,” c x l . d o c 1. fl ? 1, rriss. A l H S.F.
“ • '’ M i i j - r o r i í i v s ; ! ' [ ’ M o ] . <; i p IX “ D i > O f f í ' ir> d ó : . J u i t p ü jí; o b n ^ ri'; ò e s , ” c x 1 . d o c ] , fi 2 0 v, r n s s .
.u k :-]-.
94
do sécu lo , à ex ceção do núm ero de m issas, a irm andade g aran tia a igualdade
de to d o s na hora da m orte, m as posteriorm ente isso m u d a ria .6
N o p ro jeto de com prom isso de 1872, u m a d as o b rig açõ es d o s irm ãos
era “p restar-se ao acto de acom panham ento do irm ão que fallecer, e por
m eio das o ra ç õ e s conhecidas, im plorar a salv ação de su a alm a [...]” O p ro je
O s irm ãos falecid o s tinham direito à enco m en d ação e acom panham ento
fam ília.” Isso quanto aos irm ãos em dia com seu s d ev ere s fin an ceiro s, com
su as m en salid ad es. Q uanto ao asso ciad o que m o rresse em estad o d e p o b re
O funeral constava tam bém no com prom isso de 1900, e com d ireito s
am pliados a m em bros da fam ília do asso ciad o . T o d o irm ão tinha direito à
sep u ltu ra, bem com o “ seus filhos legítim os ou leg itim ad o s p o r lei até a ida-
* “C om prom isso ... (1820], cap.XXHl “Da Cliaridude que se praticara com o* Inriflos doentes, pobres e
f j i i t a r c e r a r l o s r c x 1, d o e 1, f i . 3 3 . n i s s A . L N S R
' “J r o je t o de <.ornj»romisscr [ 1 &72], cap 17 "Dos S uffrépos que ter&o os irrn&os falecidos,” cx.1,
•k''. 2 , |'j --17 - 4 S, i : iss A.1 3.R
“> O [1^ 72 !, ca!11 i ,1-47
95
trajeto fú n eb re e ra sinônim o de eleg ân cia e o sten tação , tendo sido seu uso
difundido ao longo do sécu lo XIX. R ezav a ainda o estatu to que o m orto
c eleb raçã o do d ia d o s m ortos. E ssa com em oração era re a liz a d a n a prim eira
segunda fe ira do m ês de n o v em b ro .9
A v isã o d o s africanos so b re a m orte era tão com p lex a quanto a do
catolicism o b arro co . A m orte era en carad a com o p assag em , um a m u d an ça de
passag em tran q ü ila a este m undo p aralelo . “O m orto que não rece b e os c u i
dad o s n e c e ssá rio s, corre o risco de p erd er su a id en tid ad e no cam inho que
que a m orte “ cató lica b arro ca” tam bém era com plexa, os rito s eram im p res
cindíveis na cerim ônia. Os testad o res tinham extrem ada p reo cu p a ção com
seu s lim erais, no que náo diferiam do costum es p redom inante na ép o ca en
dava direito ao s ritos fúnebres. O negro que não tiv esse esse direito podia
0 " ’.'otiij-roiriifst.» d;j V rn e rá v H O rd em do R o s á r i o ,” cap 4- a l " 1 2-1 5-1 S, ex 1. doc.3, nirs. A 1.1-1 E.R
lc .'jdii l'il" !!i dós r r I ,ï < , ''Vi> ï', j ‘I S-?, pp 5 - 54
? vm<s' t ;i ii io r u ;uj ri Ohvt ira. C .'j ' v r'.<■... p ?0
96
corpo en terrado n esse tip o de cem itério levou, p articu larm en te, m u ito s e s c ra
M a ria de F reitas G uim arães dav a p referên cia ao aco m p an h am en to da irm an
O enterro devia sem pre oco rrer de acordo com a v o n tad e do testad o r,
viço d a confraria. A s vezes surgiam d isp u ta s entre a irm andade e paren tes
do fo sse realizad o na própria asso ciação , não viu o serv iço realizad o p orque
fez acto algum e nem sep u lto u -se o dito c a d á v e r.” G erald o d as M e rc ê s
11 R e i i ' , A m o rte i í-
l» i c f c i l a ...]' 1
3.)V tv ']•; I- * w c t r o 'Ji- 7 t i!taiin ?n > o í ( I , K T 5 Í V . F L S 2 í “ /2 7 5 - ií> '.'ü
’ ' /-A 14 " T>. "’.•n o-lí-n- ií« \ 2 2 . >io- 0 .'- '
97
m enteiro o “ p agam en to d a d ita esm ola, visto te r a Irm andade com prido seu
d ev er.” O te stam en teiro neg av a que a irm andade co m p arecera a resid ên cia
o carneiro e o dito B ebiano sem pre deixava para d ep o is. O teso u reiro afir
mou que tudo não p assara de um mal entendido e que a irm andade cu m
prira seu pap el e p o r isso não devia nada à viúva.
C aso contrário, o innáo era olhado com d esco n fian ça. A organização dos
funerais estav a, na m aioria das vezes, co n d icio n ad a à d isp o n ib ilid ad e finan
ceira. Em 1850, os m esários do R osário afirm aram que os filhos falecid o s
(.los irm aos som ente teriam direito à sep u ltu ra, caso a joia do m em bro a s
99
sociad o tiv esse sido quitada. E no caso dos irmãos m esários que não tiv e s
sem “com pleto o anno de seu emprego, e que no m eio d ’elle faleça-lhe o
filho, para poder fruir da referida graça, pagará logo sua jó ia .” 17
à irmandade cum pri-los. Quando isto não acontecia, a confraria era acusada
p ela fam ília do falecido.
A v o n ta d e d o s irm ãos
A u to res com o K atia M atto so , M aria Inês O liv eira e Jo ão R eis j á a s s i
n alaram a im p o rtân cia dos testam entos com o fo n tes im portantes p ara an álise
do c o raç ão ou d a m em ória.” 18
sab er o que de m im D eo s quer fazer e quando será serv id o lev ar-m e p ara
m edo do p ó s-m o rte fez com que Rita p rep arasse seu testam en to . C u id o u dos
*' A.1.1J 3 K C o iT esp in id ÊT ic ias, 17 <Je m;-tr<r o <Je 15*50. <x 2 .\ rJuc 0 1 -f
" M :it* i 7 'c 'it - m u n l ele c - c n w " 11 . v< r i <lr 1 ' !. t ( n
!-.r •: , ■! -U- , u!-,-; ...
R osário e sep u ltad o na porta principal da igreja. Sinal de p restíg io ? T alv ez.
local exato da sep u ltu ra. A ssim , em 1825, G ertru d es do E sp írito S anto, irm ã
de cinco irm an d ad es, entre elas o R osário las P o rta s do C arm o , determ inou
que seu co rp o fo sse enterrado no convento dos R elig io so s do C arm o , ,na
irm andade de Je su s M aria José, m as as dem ais co n frarias seriam a v isa d a s
p a ra o acom p an h am en to do féretro. A esco lh a p o r u m a irm an d ad e n a h o ra
do sep u llam en to aco n tecia devido a v ário s fato res: sim p atia do irm ão, m en o
lem brar que o b ran co era cor cristã: “havia um a re la ç ã o m ais d ireta com o
b ian co do .Santo Siulaiio, o pano que ciivoIvl-u o c ad á v er de C risto e com
102
o qual ele m ais tarde ressuscitou e ascendeu ao céu .” O liveira aventa duas
h ip óteses para explicar obso costum e: o sig ..ficado africano da cor e a outra
o fato de que p esso a s que não tivessem com o adquirir o hábito francisca-
no, cHmielita ou qualquer outro, escolhiam a mortalha branca, por ser m ais
barata.24
confraria, entre os q u ais d eslac a-sc a m issa dos finados, com p ro c is s ã o .2'1
le c id o .26
“'4 IVl-astifcc' M oiilriro di» Vide, C onstitu içõ es .... TTT LVI - dec ência das sepulturas, c.852 , Reis, A
< w*itj ú i::ía.\> ) 1 k , ' ' l i v e i r a , O L ib e rto
‘ ».mrs-ür j 11!i» i>r< v w /r f A *ri<‘rlc r ic sln - 2CM- 2 K ' ; A J 1*1 o K “ ,’?c»!ri],rf'iri)í*}?c>
í. ;i ■■
■ ‘ . ' !-i 1* r I I«: 1 r 5i:' , 1~ <1' <'I V‘A<!'<1 ò» '.y r 2. ■ 2Z . ' U' 1 ] - U
103
sas por sua alma. O seu pedido era m odosto, principalmente se comparado
proibia as intim ações no interior dos tem p lo s, "en tretan to os v elh o s h ábitos
eram d ifíceis de serem d esen raizad o s, a p e sa r de já h av er leg islação contra
20 Aima Ariudia Vieira Nascimento, Ljcz ftc £ u r s ia s da cid a d e d o S a lva d o r, Salvador, F undarão Cu!
lurai do Estado da I-ahia, 1'-'í-C', p 1 65
,J A l N o R T em io de Ki.-solu^ão, cx (j?, loc 02. II 277
*' ' 'rnldi- )•:> ir Davi d, O in im ig o mvir:vri...p
‘ 1 *i"i ■ ' I f>.!} I - ... j •
'. ] ]•’ l *i i ií-i i< i;ü‘. i ■ '.it.- H.i: ■ ^ f f- , . y. \ \ 2 , <i'
t
105
réis, p o rq u e o fin ad o não era irm ão d aq u ela confraria. E m 1870, F ran celin a
decente e os m o rto s fo ssem sem p re lem b rad o s atra v é s d o s su frág io s, tam bém
não se esq u ece u d o s vivos. A festa da san ta p ad ro eira era e ain d a é um
m arco no calen d ário dos irm ãos do R osári O d iv ertim en to , a fé, a p reser-
/43'a>k-',o ao Irofe JoSo heis j.<or ler colocado a mil a disj.osiç&o a documentaçSo referente a
>.oiiHlni'.So do i mui m i > da in uai idade. Ver Tm no de rrsolirç&o, 21 de junho de 1657 e 30 de
I ! K; ] C' 'ir lh's
'• J ^ >11 l>'n i»s>. 1? d< d>-;:«.-!iil'rc d< 1*'.'5, >x 22. d<x 05-1 , Temii' de rcmMu'&o, 12 dc
1 . 1/ v i '-■*. |. : 2, ' / . ‘o . jS 'i' ■i<-; f-T: il ■ òt ,j ,, C2-'-3
106
e o m u n d o .36
O c a to lic is m o fro u x o
A s p ráticas dos cató lico s b aian o s /...ram m o tiv o s de esp an to para
aq u eles que desco n h eciam nossa cultura. Os v isita n te s ach av am que os
b aian o s profan av am as fe sta s católicas. Pi' r e V erg er cita o caso de F ra n
çois F roger, que p assan d o pela Bahia no sécu lo XVII, se escan d alizo u com
as p ro c is s õ e s religiosas:
R o^ er Pastide. As rc lig iirs africanas no Btasil. 3 ão Paulo, Liv ra ria Pio n e ira / E D U 3 P , 1&71 , v. 1 ,
.
40 V,’hlrl( Tijrir Mattr>í', ívoliiçã o hntfinca c cultural do }'ciounnhu, Kio cio Janeiro, Cia Editora Grá-
111 a 1: arl'iTi>, ] '.’7 s,p ~1
1,1 1 f t í:. ) cí~fr;iv?c' nar pr;i't:ir " j- Moti. irja-Mo t: vivc-ncia re-lipiosa' Eiiírt- a ca;*ela (■
■■ ■ l !•; i-V nm 'id- ■ !•;i L u u r í ) d. ] '.>!!(’ f l.'1' A ('-'!>') a fia l ri J a i n v a d a no
-ii. • i a ' .'v. ’ia: v 1, : '~ 1 : >. F 1v i .n • i : i . ;z i ’ < .j«vr*í '3'- .. l> i 2.;
108
O s negros se id entificavam com esse cato licism o . C ato lic ism o b arro co ,
“rep leto de so b rev iv ên c ias pagãs, com seu p o liteísm o d isfarça d o , su p e rstiç õ e s
e fe itiç o s.” 4j C ato licism o em que os negros tinham san to s com o in te rc e sso
res, prin cip alm en te os santos negros. Era so b retu d o um a relig ião de contrato.
P ed ia -se um a g raça ao santo e em troca, quando aten d id o , o d ev o to p ag av a
geralm ente na form a de m issas ao santo p elo serv iço p re sta d o . U m c a to li
1,2 François Fro-^er apud Pi erre Verger,‘‘Procissões e Oarn ival no Brasil,” E n s a i o s / P e s q u i s a s , ri° 5,
Salvador. CEAO, Out, 1 , p.2
' Sobre lestas medievais ver Jacquc-s Hn*rs, Festas dc louros c carnavais, Lisboa, D om Quixole,
1 C'£7 ; V erte r, " P rocissões e Carnaval” , p 5
44 V erter. “P ro c issõ e s ” pp 6-7 ü autor chama atençSo para o falo de que as procissões e certas
<enrnómas possuíam um aspecto carnavalesco
‘ ' ''am p .'s Al-r* u, l'!ip c ri o ;io L .n w .o " : F c-< li 7 }.. < C u l t w a p ,> p u ia r n o R io d c
; •/,I ;„| | | , , T, ■■
■< ,i. I ...«!•
109
que um fo s se m ais im portante que os dem ais. Todos eram co n sid erad o s
p o d e ro so s entre os d ev o to s. O cotidiano, no dizer da h isto riad o ra L aurinda
F a ria dos S an to s A breu, era santificado. C a d a dia p e rte n c ia a um santo. A
igreja “te a tra liz a v a o esp aço sagrado, elegeu m o m en to s m a io res no calen d ário
litúrgico e to m o u -o s festiv o s fom entando a ex terio riz ação d a fé e sacian d o
um im aginário áv id o de m arav ilh o so e de i p re se n ta ç õ e s d ra m á tic a s.” 47
O ritual da festa
A festa de N .S . do R o sário envolvia to d o s os co n frad es e, p rin cip al
4< P(.-'Jn> A. Ribt iro iJc oliueira, Fu-ligião e D onunaçâo de. Cltisse, I etropolis, Vozes. 1985. p 11 3.
Uliveira, Aí <■ ... p 1 14 , Laurmda Faria dos Ôanto:: Abrt-n, "C o n fraria t lm iandade;; A Saritifi-
•:j', 'Jc> n-i.-'t idiai k m A '"V-r/.v . p ~ ?.0 c
“f ...... ....... v., . , . . , , . ... ,... , ,, , , , ,
110
gros, p rin cip alm en te nas p ro cissõ es, que eram um “v erd ad e iro teatro am b u lan
p elo s brancos, q u e acreditavam que as m áscaras facilitasse m ato s reb eld es.
M esm o assim , a m em ória africana não d esap arec eu d as fe sta s d a s irm anda-
d es de cor.
N o d eco rrer do século XIX, as m áscaras p raticam en te d e sa p a re c e m d as
m as. B ace lar e S ouza acred itam que a inexistência de co n tato d o s “ negros
bantos” com a Á frica fez com que estes não ren o v assem se u s v alo re s. E n
m esário p o ssu ía. E ra term ôm etro de statu s. C om isso os m e sário s receb iam
os d iv id en d o s de seu s investim entos em tem oo e dinheiro p ara a irm anda
de. E stav am ali com o líderes legítim os de um a co m u n id ad e de d ev o to s. E é
le tiv o :' E em que os negros eram “ su jeito s de sua relig io sid ad e .” ' 4
112
fogos, fo g u etes, m u sica, organistas e d esp esas com vigário eram os p rin cip ais
.U-si* d;i : 'l l .V A ' t j i 11; ,ok, "J Tt'f i s s f ' c s T n i d K io iiu i :: da Buliiíi” in A u a i d o A r q u iv o J'uLdico d o E ‘j-
/..Vj,. H ih u : v Z~, 1 '.-1 1 , |: -1 •--í
I ” k 1 í 'TT* : | i r i - i i.is. I (■ de t-ulul-ro d< 1KOI. '.y. 2:’., do». 05
A : K :• ! ili 1 x H, 2 1 dr I dc- ”, b y».'
’’ ! r . - ; , .|, I-,. . !!;• . -.x. 12.-J<- 1 j’.*:
D espesa do Io trimestre ................................................ 189S044
D espesa do 2otrim estre ................................................... 327S670
D espesa d o 3 ”tr im e s tr e ............................................................... 245Î455
As Irm an d ad es e o R osário
A Igreja do R o sário d as P o ita s do C arm o abrigava, nos s e u s a lta re s
, j j a eles.
R osário:
s u a s fe s tiv id a d e s . E m 1 8 5 7 , o a rc e b is p o d a B a h ia , ju iz e p ro te to r d a Irm an -
«
59 AI.N.S.R. Actividades de outras devoções. Irmandades e A ssociações, 1836, cx. 18, doc.l
60 João da Silva Campos,“P rocissões Tradicionais da Bahia," p.494.
ei AI.N.S.R. Actividades ..., cx. 18, doc.l ; cx. 17, doc.01-f
dade de S ão F ran cisco X av ier, en v io u convit-j ao s m e sário s do R o s á rio p a ra
Á in f lu ê n c ia d a R o iu a n iz a ç ã o n o R o s á r io
C o m o jú foi visato, o cato lio iein o leigo na B rasil não ora s e m p re
a q u e le d ita d o p e la s a u to rid a d e s e c le s iá s tic a s . O s c a tó lic o s fre q u e n te m e n te se
in te re ssa v a m m a is p e la s f e s ta s d e sa n to s do q u e p e la s m issa s. E o s líd e re s
m iss a d o m in ic a l.” 63
62 AI.N.S.R. Actividades, missas, procissão, festa, cx. 17, doc. Jl-0. Encontrei nos maços sobre corres
pondências vários convites do Arcebispo aos mesários do Rosário para participarem da P rocissão
do Corpus Christi.
63 Oliveira, R eligião e Dominação d e C lasses, p.285
um a te n d ê n c ia , seg u n d o H ugo F ra g o so , à eu ro p e iz a ç ã o , re je ita n d o o s v a lo re s
to s s u b o rd in a d o s a eles. “E s te é um p o n to -cíiav e no p ro c e s s o d e ro m a n iz a
m ão s d o v ig á rio .” 66 S u rg em c o n g re g a ç õ e s co m o S ag rad o C o ra ç ã o d e J e s u s , A
6,1 José Oscar Beozzo (cord), Ihstôria d a Igreja no Brasil segunda época. 3* e d , Pelrópolis, Vozes,
Paulinas, torno TU2, 1992, pp. 143-44
65 Oliveira, Religião e Dominação d e C la sse s,p .2 7 9
6<s Cândido da Costa e Silva & Riolando Azzi, Dois estudos so b re D. Romuald o Antonio d e Seixas
Arcebispo d a Bahia, Salvador, CEB, 1982, p. 19 ; Oliveira, Religião ...p.282
67 Oliveira, p.287
M as a ro m an izaçã o nao co n se g u iu ex term in ar as fe sta s tra d ic io n a is. O
cíp io de R io de C o n ta s re c o rd a v a m co m n o sta lg ia d a s fe s ta s d a sa n ta p a
droeira.
O co n ju n to de tra n s fo n n a ç õ e s p e la q u al p assava a s o c ie d a d e e a
sário s do R o sá rio e s c re v e ra m ao a rc e b is p o p ed in d o p a ra se to m a re m T e r c e i
ros:
''eloúrinho.
I
C O N S ID E R A Ç Õ E S F IN A IS
en trelaçaram e c o n stitu ía m o s m o m en to s m áx im o s de e x e rc íc io s d e s s a c id a
dania m ística.
B aix a d e Q uintas.
O s irm ãos s o u b e ra m co n fro n ta r a arro g ân cia d as a u to rid a d e s, c o n q u ista ra m o
direito de reu n ir-se, de d irig ir su a in stitu iç ão m ais au to n o m am en te. E s te s sã o
d escen d e n tes.
- P a s ta s : irrn an d ad es e c a p e la s
- F u n d o : M e s a d e C o n s c iê n c ia e O rd en s (1 8 1 0 a 1 8 2 1 )
- F u n d o : D e s e m b a rg o d o P a s s o ( 1810 )
- C o m p ro m isso s
ANEXOS
C O M P R O M IS S O D A IR M A N D A D E DE N O SSA S E N H O R A D O
R O S Á R IO D O S H O M E N S P R E T O S ( 1 8 2 0 ) l
CAPÍTULO I
Da Instituição e Ereção da Irmandade
CAPÍTULO II
Da obrigação Christã q. deve ter cada Irmao
CAPÍTULO IV
Da dispozição da Festa, Procissão e solennidade do seu dia
A Festa da Virgem N o ssa Senhora tio Rozario, se fará annuaJmente com toda
solennidade devida na segunda Dominga do mez de Outubro, com M issa cantada;
Sermão e Sacramento exposto; preparando-se para isso a Igreja com asseio, e ornato
necessário: precedendo em nove tardes sucessivas a N ovena da mesma Senhora, com
M usica ou orgão: e no dia d a F esta se fará à Procissão com aquella solennidade, que
se requer em semelhante acto, a qual hirá pelas ruas da Cidade até as Portas de São
Bento, donde voltará as horas que se recolha sem detrimento, e escandalo, e nella
hirâo às mais Irrnandades erectas na mesma C apella com suas charolas decentemente
ornadas seguindo a ordem dos lugares pelas suas antiguidades. G uiará a Procissão os
Juizes que tiverem servido o anno antecedente, ou os que forem inimediatos, e adiante
da charola de N o ssa Senhora irá o Irmão Thesoureiro actua] com capa e vara; e
aíraz fechará o Irmão Escrivão actual, dando a direita ao nosso Reverendo Padre
Capellão, o qual acompanhará de sobrepelliz, e tocha de armas. Os dous Juizes actua-
es fechão igualmente atraz do Pallio. Quando haja Procissão, não deixará de hir o
Santíssimo Sacramento conduzido pelo Reverendo Parocho d a Freguezia, levarão as
varas do Pallio os Irmãos, que tenhão servido de Juizes, em falta destes supprirão os
Escrivães, e Thesoureiros. A despeza d a charola de N o ssa Senhora será feita p e la
Irmandade: Os diamantes, jo ias, e aprestos p ara o melhor brilhantismo, e asseio com
que se deve ornar a R ainha dos Anjos, procurarão os Irmãos Thesoureiro, e Escrivão.
A disposição da esmolla, que a Irmandade deve dar pelo Sermão pertence a M eza,
assim como também a eleição do Sacerdote; porém se algum Irmão, Juiza, ou qualquer
devoto queira dar o Sermão p a ra o dia da Festa, se lhe acceitará, fazendo então a
Irmandade a Festa de manhã: Cazo algua M eza queira fazer Tedeum, o fará a sua
custa, entrando a Irmandade p a ra esse fim só com a cêra do Throno. A s novenas
serão feitas pelo Reverendo Parocho, e quando a Irmandade se ache im possibilitada,
se farão pelo nosso R everendo C apellão, cujas N ovenas se a M eza actuai a quizer
fazer com o Santíssimo Sacram ento exposto, será a sua custa; assim como em quanto
a Irmandade se achar individada, não será obrigada a fazer Procissão, e se a M eza a
quizer fazer, não concorrerá a Irmandade com couza alguã p ara ella, pois a da M eza
fará a sua custa
CAPÍTULO V
Da disposição, e factura da Eleição
CAPÍTULO VI
Dos Offíciais que hão de servir na Mesa e posse delles
CAPÍTULO VII
Dos Mordomos da Festa
CAPÍTULO VIM
Das Juizas, Mordomas e Procuradoras
CAPÍTULO X
Do Officio de Escrivão e sua obrigação
Será o Irmão E scrivão obrigado a ter em seo poder os Livros dos A bce-
darios, dos annuaes, e dos mortos, e todos os mais estarão dentro do archivo do nos
so Consistorio, e querendo ver algum Livro, ou papel respectivo a Irmandade p ed irá
ao Irmão Thezoureiro p ara lhe ab rir a porta do Consistorio, e tirará no A rchivo o
Livro que carecer, e alii vera o q. quizer. O Escrivão a respeito do qual se observa
rá para a Eleição deve ser p esso a que saib a ler, escrever e contar ou alias assignar
o seo nome, terá obrigação de assistir a todas as mesas, e proporá nella os negocios
e matérias que carecerem ser decididas p ela M esa, e do que se assentar lav rará ter
mo no Livro delles p ara ser assignado por toda a M esa como tambem tom ará por
inventario todos os papeis relativos a Irmandade o novo Escrivão do que assignará
termo junto com a M e s a D a m esm a form a lavrará termo no Livro do Inventário que
haverá donde conste dos bens, jo ia s, e mais alfaias existentes. T erá o ditto E scrivão
muito cuidado em lavrar os termos dos Irmãos e Irmãs que entrarem no seo anno, e
quando se fizer cobrança dos annuaes fará descarga no Livro delles os annos que
cada hum satisfazer, e da m esm a sorte o assento dos mortos. He da econom ia do
Escrivão passar bilhetes p ara os Irm ãos fallecidos declarando nelles o que deve de
annuaes para serem cobrados por seos bens havendo, isto he, do que for rem isso ein
pagallos; logo que qualquer Irmão que falleça nada deva de annuaes terá logo cuida
do de passar os bilhetes das M issas, e fazer remetter pelo Irmão Procurador ao Ir-
mào Thesoureiro para as mandar dizer e n;lo se demorar com os sullbigios das a l
m as. N a Procissão hira com capa, e vara. fechíuido no meio a Corporação dos mais
M esários, adiante da Cliarola de N ossa Senhora, e nos enterros hirá encorporando
com os da M esa no lugar imediato, ou fronteiro ao Thesoureiro, no meio dos quaes
hirá o Juiz com vara.
CAPÍTULO XI
Do Thesoureiro e suas obrigações
C A P ÍT U L O Xll
Do Procurador Geral, Procuradores da M esa e suas obrigações
H averá na M esa hum Procurador Geral pessoa agil e deligente que j á tenha
servido o cargo de Juiz; este p rocurará as demandas da Irmandade, e dependencias
delias a este terá a M esa todo respeito; hum anno será da serie dos A ngolas, outro
da serie dos Crioulos, o Procurador Geral tom ará conhecimento de todas as determ i
nações da M esa que não for a bem d a Irmandade p ara se oppor e protestar, e quan
do não queira protestar v irá logo com a Junta p ara esta determinar. O ditto P rocura
dor Geral terá assento em frente dos Juizes. Como seja precizo p ara coin m ais sua
vidade, e menos detrimento se cuidar no zelo e serviço da Irmandade haverão quatro
Procuradores, que serão annualinente eleitos como fica determinado no Cap. 5 o . Os
quais terão summo cuidado e deligencia procurarem tudo quanto pertencer a Irm anda
de. A vizará com deligencia p reciza a todos os Irmãos Juizes, e M esários: d a m esm a
forma farão saber aos Irmãos Zeladores quando há enterros p ara que se não atribua
a ignorancia, e falta de notícia qualquer descuido, ou omissão que p o ssa haver. Terão
também a incumbência avizar os Irmãos da M esa p ara se fazerem estas quando os
Irmãos Juizes lhes determinarem que o fação, alem das q. annualmente se fizerem ; e
cazo hajão algumas demandas na Irmandade também p o r conta delles corre agencia
rem; e procurarem auxiliando ao Procurador Geral, o qual será obrigado a d ar em
M esa conta do estado delias, e o importe das despezns, que se fizerem receb erá do
'ITiesoureiro, que constando serem precizas contribuirá sem a menor duvida. Terão
taõem os ditíos Procuradores grande cuidado em arrecadarem tudo quanto pertencer a
Irmandade fazendo entrega ao Thesoureiro, e siente a M esa para cujns expedições se
recommenda muito que elejão pessoas menos occupadas em que concorrão agilidade,
viveza, e exatidão.
CAPÍTULO xm
Dos Consultores e suas obrigações
CAPÍTULO XIV
Dos Reverendos Capellão, Sachristão e suas obrigações
Convem muito liaver nesta nossa. Irmandade dons Irmãos. com occupaçtlo
de Zeladores, os quaes serão nomiados pela M esa na prim eira que se fizer depois
que tomarem Posse, e serão pessoas que tenhão bastante conhecimento dos Irm ãos da
IrthrüültuU, i|nt> »«jfta ntpçoH, 9 i4e> Híúmoa ddljggiot«’«); hum diia Aíigoln«, outro tio«
Crioulos, podendo ser, não obstará se forem ambos de huã só qualidade. He obriga
ção delles annualmente avizarein os Irmãos para os enterros dos fallecidos, e se lhes
recom enda niuito que se esmerem em convocar bastantes Irmãos, p ara que este acto
de charidade se execute com hum numeroso acompanhamento, evitando a desculpa que
pode haver da ignorância por falta de avizo, por ão poderem os Procuradores somen
te fazer geral participação a Irmandade; logo que tiverem certeza da hora do enterro
a farão constante aos Zeladores p ara estes sahirem a convocar os Irmãos, ficando da
parte dos Procuradores avizar aos Juizes, e mais M esarios como j a fica tractado no
Cap.12. Tambem fica da obrigação de avizar ao Padre Capellão para os enterros.
CAPÍTULO XVI
D a qualidade dos Irmãos da M esa
P ara Juizes, Procuradores, e mais Irmãos da M esa se elegerão pessoas lib er
tas e izemptas de escravidão, p ara que sejão promptos em exercer e satisfazer os
actos da Irmandade; e vivão livre d ’alguã infamia a que está sugeita a condição
servil de q. nascerá sem duvida magoa aos companheiros q. lhes forem afeiçoados,
assim como prazer nos males dos que forem mal affectos. A excepção porem dos
Irmãos M ordomos da Festa, por que estes poderão ser pessoas sugeitas com tanto
que possão cumprir com as suas obrigações no decurso do anno e satisfazerem as
devidas esmolas costumadas. Assim como tambem no cazo, que algum Irmâo sem
embargo da sugeição seja bem procedido, e o seo captiveiro suave p o d erá ser Irmão
de M esa; mas em nenhum cazo será Juiz, Escrivão, Thesoureiro ou Procuradores; por
que estes rigorozamente devem ser pessoas libertas. E da mesma sorte as Juizas,
M ordom as e Procuradoras, lhe não servirá de objeção a falta de liberdade; p o r q. p ela
qualidade do sexo não exercitão acto de M e sa
CAPÍTULO XVII
D as promessas que farão os Irmãos da M esa
CAPÍTULO XVIII
Do Cofre, que deve haver na Irmandade
CAPÍTULO XIX
Dos livros que haverão na Irmandade
C A P ÍT U L O XXI
Do en terram en to e M issas dos Irm ãos fallecidos
C A P ÍT U L O XXII
Dos suffragios que se h a de faze r no Domingo depois da F e sta de N ossa S enhora
CAPÍTULO XXIII
D a C h arid ad e que se p ra tic a ra com os Irm ãos doentes, pobres e en carcerad o s
He a charidade o acto que mais se deve prezar, pois a praticarão Varões exem plares
em virtudes, por isso a devemos exercer com os nossos Irmãos enfermos. Os Irmãos
Procuradores terfto cuidado em vizitar qualquer Irmão desta nossa Irmandade, que se
ache enfermo; saber se lhe he m ister alguma couza tanto para o corporal, como esp iri
tual, e se achar em desamparo e extrema necessidade, dará parte a M esa, ou ao Irmão
Juiz; para lhe mandar applicar a providencia que parecer justa; e sendo summamente
pobre e necessitado, lhe confirá a M eza como cabeça da Irmandade alguma esmola.
F. fallecendo com effeito no estado de pobreza, será enterrado pela Irmandade da
mesma forma que outro qualquer irmão que a fortuna o constituísse em abimdancia
de bens, e lhe dará pelo amor de D eos huma mortalha branca. D a mesma form a os
Irmãos Procuradores terão igual cuidado em vizitar os cárceres onde achando algum
Irmão desta Irmandade, pobre e enfermo prezo, e que se ache detido. Tambem he do
justo dever dos dittos Procuradores vizitar o hospital da Sancta Caza a ver se tem
algum Irmão que esteja a fallecer, ou fallecido para dar parte à Irmandade p ara lhe
fazer o enterro, como he costume.
CAPÍTULO XXIV
D e como se elegera a Junta e quando sera convocada
BIBI J OGKAKI A
Mulvey, Patricia “ T h e b l a c k l a y b r o t h e r h o o d s o f c o l o n i a l B r a z i l : a h i s t o r y ,” T e
se de Doutorado, City University o f N ew York, 1976.