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CUE219 - ADOÇÃO DAS IFRS NO BRASIL: EVOLUÇÃO DAS PRÁTICAS

CONTÁBEIS DE DEPRECIAÇÃO SOB A ABORDAGEM DO TRABALHO


INSTITUCIONAL

AUTORIA
GABRIELA DIAS DA SILVA
UNIVERSIDADE DO VALE DOS RIO DOS SINOS

CLÓVIS ANTÔNIO KRONBAUER


UNIVERSIDADE DO VALE DOS RIO DOS SINOS

Resumo
A presente pesquisa buscou investigar como se deu a evolução e a institucionalização na forma como
as empresas depreciaram seus ativos imobilizados após a adoção das IFRS no Brasil, tendo como
motivação a possibilidade de avançar o estudo da temática de depreciação e trazer um panorama mais
atualizado, explorando a abordagem do trabalho institucional. O Trabalho Institucional como lente
teórica permite compreender como as mudanças de comportamento sobre o tratamento da
depreciação de imobilizados ou a persistência da utilização de taxas fiscais estão relacionadas às
intenções do ator social de criar, manter ou interromper instituições. Foi realizada análise de conteúdo
das informações apresentadas entre 2010 e 2018 por 9 empresas do setor econômico de materiais
básicos, pertencentes ao subsetor de siderurgia e metalurgia, da Brasil, Bolsa e Balcão (B3). Os
resultados demonstram que existem esforços das empresas para se adaptarem às normas IFRS no
tocante a depreciação, porém ocorrem deficiências na institucionalização normativa. Ainda,
constatou-se que algumas empresas seguem baseando-se em normas fiscais para depreciação dos
bens, embora transcorridos oito anos da convergência obrigatória pelas companhias abertas.
ADOÇÃO DAS IFRS NO BRASIL: EVOLUÇÃO DAS PRÁTICAS CONTÁBEIS DE
DEPRECIAÇÃO SOB A ABORDAGEM DO TRABALHO INSTITUCIONAL

RESUMO
A presente pesquisa buscou investigar como se deu a evolução e a institucionalização na forma
como as empresas depreciaram seus ativos imobilizados após a adoção das IFRS no Brasil,
tendo como motivação a possibilidade de avançar o estudo da temática de depreciação e trazer
um panorama mais atualizado, explorando a abordagem do trabalho institucional. O Trabalho
Institucional como lente teórica permite compreender como as mudanças de comportamento
sobre o tratamento da depreciação de imobilizados ou a persistência da utilização de taxas
fiscais estão relacionadas às intenções do ator social de criar, manter ou interromper
instituições. Foi realizada análise de conteúdo das informações apresentadas entre 2010 e 2018
por 9 empresas do setor econômico de materiais básicos, pertencentes ao subsetor de siderurgia
e metalurgia, da Brasil, Bolsa e Balcão (B3). Os resultados demonstram que existem esforços
das empresas para se adaptarem às normas IFRS no tocante a depreciação, porém ocorrem
deficiências na institucionalização normativa. Ainda, constatou-se que algumas empresas
seguem baseando-se em normas fiscais para depreciação dos bens, embora transcorridos oito
anos da convergência obrigatória pelas companhias abertas.

Palavras-chave: Depreciação; Ativo Imobilizado; Trabalho Institucional; Vida útil.

1 INTRODUÇÃO
Por muito tempo a legislação tributária exerceu influência significativa nas práticas
contábeis brasileiras, deixando em segundo plano a necessidade de atender às necessidades
informacionais dos usuários. A adoção às normas International Financial Reporting Standards
(IFRS) modificou substancialmente a contabilidade brasileira, exigindo dos contadores
mudanças comportamentais e necessidade de julgamento frente às escolhas contábeis. Neste
sentido, considera-se que houve uma mudança de paradigma da contabilidade e por isso tem se
estudado acerca das diversas consequências advindas desse processo (Salotti, Carvalho &
Múrcia, 2015).
No que tange aos ativos imobilizados, a Norma Brasileira de Contabilidade NBC TG 27
(R3) – Ativo Imobilizado, a qual equivale a International Accounting Standard (IAS) 16,
estabelece que algumas informações devem ser apresentadas pelas empresas no conjunto das
demonstrações, tais como: a forma de reconhecimento dos imobilizados, a determinação dos
valores contábeis e dos valores de depreciação, perdas por desvalorização reconhecidas e a vida
útil desses bens. Em contraponto, para efeitos tributários, a Instrução Normativa da Receita
Federal do Brasil (RFB) nº. 1700 (2017) sugere taxas anuais fixas para cálculo da despesa de
depreciação, de forma que as empresas possam deduzir o valor de depreciação para fins de
cálculo e pagamento de impostos.
Dado que as duas normativas possuem objetivos distintos, as normas contábeis IFRS
devem ser utilizadas para reconhecimento e divulgação dos fatos contábeis e o emprego da
legislação fiscal deve ser somente para fins fiscais. Porém, pesquisas anteriores perceberam um
comportamento heterogêneo após a convergência, sendo que algumas companhias persistem
em adotar as práticas tributárias de depreciação apesar das mudanças normativas (Eckert,
Mecca, Biásio, & Oliveira, 2012; Marques, Carvalho, Louzada, Silva, & Amaral, 2016; Silva
& Pereira, 2014; Telles & Salotti, 2015).
Quando ocorre a criação de normatizações, essas mudanças alteram o ambiente
institucional (Lima, 2017; Liszbinski, Kronbauer, Macagnan, & Patias, 2014; Santos, Calíope,
& Coelho, 2015) e também o comportamento daqueles que preparam as informações contábeis.
Lo e Yeung (2018) encontraram evidências que mudanças institucionais ocasionadas pela
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inserção de novos padrões afetam economicamente a organização. No contexto analisado houve


influência na receita de vendas e na remuneração dos executivos da alta administração.
A literatura de Trabalho Institucional considera que alguns indivíduos levam em
consideração os custos e os benefícios para fazer escolhas que guiam a tomada de decisão, já
outros seguem normas sociais sem questioná-las (Tolbert & Zucker, 1996). Zucker (1977)
entende que uma estrutura está institucionalizada quando é a principal causa de padrões de
comportamento dos atores sociais, embora pra isso, às vezes, essas forças tenham caráter
coercitivo. Lawrence, Suddaby, e Leca (2011) reforçam que o trabalho institucional contempla
a prática dos atores sociais frente as estruturas institucionais, de criar, manter ou interromper
instituições.
Admitindo as mudanças institucionais ocorridas pela convergência às normas
internacionais de contabilidade e considerando que as empresas devem atender o estabelecido
nas normas contábeis para cálculo da depreciação dos ativos imobilizados e segregar os
conceitos tributários dos conceitos contábeis, este estudo buscará resposta à seguinte questão
de pesquisa: Como se deu a evolução e o processo de institucionalização na forma como as
empresas depreciam seus ativos imobilizados após a adoção das IFRS no Brasil?
Neste contexto, o objetivo da pesquisa delimita-se a investigar como se deu a evolução
e a institucionalização na forma como as empresas depreciam seus ativos imobilizados após a
adoção das IFRS no Brasil.
A presente pesquisa se justifica pela possibilidade de avançar o estudo da temática de
depreciação e trazer um panorama mais atualizado, explorando a abordagem do trabalho
institucional, buscando trazer à luz os motivos (intencionalidades) que podem afetar as práticas
de depreciação.
A pesquisa se mostra relevante e inovadora enquanto busca explicar com base na
abordagem do Trabalho Institucional como as mudanças de comportamento sobre o tratamento
da depreciação de imobilizados ou a persistência da utilização de taxas fiscais podem ser
compreendidas. Não foram encontradas pesquisas com essa abordagem teórica ligadas às
mudanças normativas no contexto nacional, conforme pesquisa realizada em 12 de dezembro
de 2018, no Portal de Periódicos da CAPES.

2 REVISÃO DE LITERATURA
Aborda-se nesta seção à depreciação e os efeitos da convergência às IFRS no Brasil e
explora-se a abordagem do Trabalho Institucional como lente teórica de suporte ao estudo, a
fim do alcance do objetivo proposto.
2.1 Depreciação e Efeitos da Convergência às IFRS no Brasil
Desde a adoção da Lei n. 11.638 (2007) a contabilidade brasileira sofreu mudanças
significativas. Para os bens do ativo imobilizado, contrariando as práticas anteriores de
utilização de regras fiscais, a lei exigiu que fossem revisados os critérios utilizados para
determinar o período de vida útil econômica, o que refletiu diretamente no cálculo da
depreciação, exaustão e amortização.
As mudanças ocorridas na contabilidade no ambiente brasileiro com a inserção de novas
normas contábeis despertaram o interesse de pesquisadores, os quais buscaram compreender os
impactos e as consequências desse novo comportamento. Com enfoque na depreciação, essa
subseção aborda algumas pesquisas nacionais que apresentam os efeitos da convergência nas
práticas contábeis de depreciação.
Eckert et al. (2012), por meio de um estudo de caso, constaram que existem diferenças
significativas na apresentação dos demonstrativos contábeis e também no resultado apurado, ao
compararem as informações com base na vida útil econômica dos bens com as informações de
depreciação derivadas das regras tributárias. No caso apresentado, a depreciação era maior com
base em normas fiscais e estava gerando um prejuízo acumulado, o que foi modificado quando
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a empresa adotou as normas IFRS para o tratamento do imobilizado. Os autores mencionam


que essas mudanças exigem investimentos em serviços de profissionais multidisciplinares, o
que pode ser um custo indesejado para as empresas, embora possa proporcionar uma
informação mais transparente.
Marques et al. (2016) investigaram acerca do nível de aderência às novas normas
contábeis de depreciação após a convergência às IFRS, em empresas com ações negociadas na
bolsa de valores no período de 2007 a 2014. Seus resultados demonstram que nem todos os
itens sugeridos pela norma são apresentados nas demonstrações das companhias analisadas e
que, apesar disso, ocorreu uma melhoria na divulgação ao longo do tempo, tanto
quantitativamente quanto qualitativamente.
Telles e Salotti (2015) estudaram a divulgação de informações do imobilizado em
companhias abertas, com demonstrações apresentadas entre 2006 e 2012. Seus achados
demonstram que a utilização do método linear é predominante na amostra. Os autores tinham a
expectativa de que ocorresse o abandono da utilização das taxas fiscais com a adoção às IFRS,
o que não ocorreu na prática. Perceberam também que algumas empresas informam intervalos
de taxas ou prazos, o que pode obscurecer a informação, dependendo da distância entre os
extremos, de modo que não se sabe em qual barreira do intervalo a depreciação foi calculada
no ano analisado.
Ainda, os autores perceberam que após as IFRS as empresas começaram a apresentar
nas notas explicativas taxas médias de depreciação por tipo de imobilizado, assumindo que
esses têm prazos diferentes de depreciação, o que está de acordo com as normas vigentes. Em
contrapartida, algumas empresas ainda utilizaram taxas fiscais e outras não realizaram a revisão
das taxas, como estabelecido pelas normas contábeis.
Viviani, Beck, Hall e Klann (2014) constataram que as taxas de depreciação eram itens
evidenciados nas notas explicativas da maior parte de 34 empresas abertas em 2011, embora
essas não tenham atendido a todos os itens sugeridos pelas normas de depreciação, contrariando
as expectativas dos autores. Os autores assumem que os resultados são heterogêneos para o ano
analisado, dado que enquanto algumas evidenciam informações de forma completa, outras
companhias apresentam as informações de forma deficiente.
Freire, Machado, Machado, Souza e Oliveira (2012) analisaram as informações
apresentadas em notas explicativas por companhias abertas nos anos de 2008 a 2010, com a
intenção que houvesse uma transição consecutiva entre os anos, com a mudança de taxas fiscais
para a adoção da vida útil econômica para a depreciação dos ativos, dados os eventos ocorridos
com a convergência. Com base nos dados, os autores concluíram que a utilização de taxas
fiscais era preponderante até 2008. Porém, de forma gradual, as companhias passaram a adotar
os critérios de taxas de depreciação baseados na vida útil econômica dos bens, para os anos de
2009 e 2010. Por fim, observaram que a permanência da utilização de taxas fiscais para a
depreciação contábil demonstra que o processo de mudança normativa não ocorreu com
totalidade até o fim do período analisado.
Em suma, ressalta-se que essa mudança de práticas contábeis trazem numerosos reflexos
para a contabilidade e também que o processo de aceitação de novas normas não é simples e
linear, de forma que é exigido uma nova reflexão dos contadores para emitir julgamentos ao
tratar os ativos imobilizados, o que converge para a abordagem do trabalho institucional
(Arroyo, 2012; Lawrence et al., 2011).
2.2 Trabalho Institucional
A abordagem do trabalho institucional tem como foco os esforços dos indivíduos que
aderem a novas estruturas institucionais, com base na intencionalidade (escolhas conscientes e
estratégicas) e no esforço (mental e físico) necessário. Neste sentido, a prática de criar, manter
ou interromper com instituições é inerente às escolhas comportamentais dos indivíduos para a
tomada de decisões (Lawrence et al., 2011).
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O processo de mudanças institucionais é complexo, dinâmico e não linear. Os motivos


que causam essa mudança não são exaustivos e conclusivos e fatores como pressões
institucionais coercitivas e busca por legitimidade podem reger o comportamento dos
envolvidos (Arroyo, 2012). Cabe salientar que nem sempre essas mudanças normativas (ditas
institucionais) servem para melhorar o ambiente, dado que a alteração de padrões normativos,
devido as intencionalidades, tem como foco atender a grupos específicos de atores sociais,
podendo ser os interesses dos reguladores responsáveis pelas mudanças (Eesley, 2009).
O processo de mudança normativa é assíncrono e ações institucionais são importantes
para que as regulamentações sejam eficazes na resolução de problemas os quais se propõe a
resolver (Shi, 2009).
Troshani, Janssen, Lymer e Parker (2018) investigaram como a mudança de relatórios
tradicionais para a adoção de relatórios digitais podem ocorrer sem comprometer a eficácia das
regulamentações. Os resultados apontam que os preparadores tinham crenças de que os
reguladores eram os principais beneficiários dos relatórios digitais e por isso não agiam de
forma proativa. A proatividade só se dava por intermédio de concessões, de compromissos e de
incentivos oferecidos pelos reguladores.
Em países de economia emergente, onde as práticas contábeis estabelecidas são
relacionadas as regulamentações, ao se depararem com mudanças significativas com a adoção
de novas normas contábeis como IFRS, os contadores enfrentaram inúmeros desafios para se
adaptarem à nova realidade e deslocaram algumas de suas atividades aos auditores devido à
especialização necessária para entendimento das IFRS (Aburous, 2018).
Os órgãos reguladores são atores envolvidos no processo de criação de novas normas e
também tiveram estímulos para implantar regulamentações contábeis na Irlanda, onde a
autorregulação era predominante por mais de um século, conforme percebido por Canning e
O’Dwyer (2016). O estudo buscou compreender as motivações, os interesses e os esforços dos
atores com intenções de criar, de manter e de alterar instituições, examinando os esforços de
indivíduos para estimular mudanças institucionais na regulação da profissão contábil por meio
da formação e da operação de um órgão de supervisão independente. Foi percebido que os
fatores sociopolíticos da Irlanda, em grande parte, embora não inteiramente, reforçaram as
ações do regulador ao invés de restringir a implementação de instituições e os indivíduos
aderiram às mudanças.
O trabalho institucional contribui para a transformação dos campos organizacionais.
Limites e práticas são mantidos por conjuntos de mecanismos criados pelos atores interessados,
que buscam a manutenção das instituições ao longo do tempo, as quais são potencialmente
vulneráveis à ruptura. A existência de conflitos de interesses interfere nesse processo não
paradoxal de mudanças institucionais (Zietsma & Lawrence, 2010).
Nessa seção foi possível compreender a contribuição que a abordagem do trabalho
institucional pode oferecer ao tema de mudanças de normas. Ainda assim, auxilia na
compreensão da evolução de práticas contábeis de depreciação no decorrer do tempo, já que o
processo não é linear e demora para que as normas se tornem institucionalizadas.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com base nos procedimentos adotados a pesquisa é qualitativa, devido à necessidade de
interpretação e de descrição das práticas adotadas pelas empresas no tocante ao imobilizado e
a depreciação. Foi realizada uma classificação com base na abordagem teórica definida.
A amostra é composta por 9 empresas do setor econômico de materiais básicos,
pertencentes ao subsetor de siderurgia e metalurgia, com informações financeiras divulgadas
na página eletrônica da Brasil, Bolsa e Balcão (B3) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O subsetor foi definido pela representatividade do imobilizado das companhias em função das
suas atividades econômicas exploradas. Foi excluída uma empresa da amostra porque esta foi
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desalistada da B3 em 2018 e está em recuperação judicial desde 2014. A composição da amostra


é apresentada no Quadro 1.

Quadro 1 - Empresas que compõem a amostra final do estudo


Subsetor de Siderurgia e Metalurgia
Código Razão social Nome no pregão
1 Companhia de Ferro Ligas da Bahia FERBASA
2 Companhia Siderúrgica Nacional SID NACIONAL
3 Gerdau S.A. GERDAU
4 Mangels Industrial S.A. MANGELS INDL
5 Metalúrgica Gerdau S.A. GERDAU MET
6 Panatlântica S.A. PANATLÂNTICA
7 Paranapanema S.A. PARANAPANEMA
8 Tekno S.A. TEKNO
9 Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. USIMINAS
Fonte: Dados da Pesquisa, extraídos de B3.
Os procedimentos para coleta dos dados priorizaram a análise documental. O objeto de
análise são as notas explicativas, referentes ao período de 2010 a 2017. O período de análise foi
definido com o objetivo de visualizar a evolução das práticas contábeis de depreciação, nos 8
anos de adoção obrigatória às normas IFRS pelas empresas brasileiras. As notas explicativas
foram extraídas da página eletrônica da Brasil, Bolsa e Balcão (B3) e a coleta ocorreu em 09 de
janeiro de 2018.
As informações foram coletadas e tabuladas em planilha Excel, sendo extraídas das
notas as principais informações divulgadas a respeito do imobilizado e da depreciação, no
tocante as taxas/períodos de depreciação e outras informações consideradas relevantes para os
resultados. Por meio desta análise foram realizadas comparações e transcrições de partes de
alguns parágrafos de forma que se possa perceber a evolução entre os períodos. Foram buscadas
informações sobre taxas de depreciação e vida útil dos ativos imobilizados. Para a busca, foram
utilizadas as palavras-chave: vida útil (e variações), depreciação e imobilizado. Encontrados os
termos de busca, realizou-se a leitura dos parágrafos e aqueles que tinham conexão com o objeto
de análise e fazem jus a destaque foram apresentados nos resultados.
Para o tratamento e análise dos dados se fez o uso da técnica de análise de conteúdo.
Segundo Bardin (2011), a análise de conteúdo tem por objetivo a manipulação da mensagem a
fim de evidenciar indicadores que permitam a inferência sobre uma realidade diferente daquela
proposta pela origem da mensagem. Para isso, por meio da leitura e interpretação das
informações evidenciadas em notas explicativas buscou-se fazer análises mais aprofundadas,
fora do escopo da leitura imparcial apresentada na mensagem.
Após a realização dessa análise da evolução das informações contábeis apresentadas
pelas companhias que pertencem à amostra, as informações de cada empresa foram
classificadas com base na abordagem do trabalho institucional, de modo que elas como atores
sociais têm a possibilidade de criar, manter ou interromper instituições, tais como normas
contábeis e fiscais. Admite-se que os processo de “criação/interrupção” é relacionado à
adoção das IFRS para tratamento da depreciação e desligamento das práticas tributárias e
“manutenção” está ligada à permanência do uso de práticas tributárias para fins contábeis,
conforme resumido no Quadro 2.

Quadro 2 – Classificação com base na abordagem do trabalho institucional


Formas Reação
Criação/ Interrupção Adoção das normas IFRS
Manutenção Permanência do uso normas tributárias
Fonte: Elaborado pelos autores, com base na literatura.
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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS


Os principais resultados estão apresentados nessa seção, oriundos da leitura das notas e
analisados com a utilização da técnica de análise de conteúdo. A coleta e a análise aconteceram
de forma concomitante, havendo necessidade de realização de uma pré análise e triagem do
conteúdo, com o intuito de verificar seu alinhamento com o objeto estudado e sua contribuição
para os resultados.
4.1 Análise de Conteúdo das Informações de Depreciação
As companhias Gerdau S.A. e Metalúrgica Gerdau S.A. apresentaram as informações
de vida útil dos imobilizados de forma imprecisa, dado que existem intervalos expressivos no
período de vida útil, dificultando que os usuários saibam quais foram as bases utilizadas para o
cálculo. Com exceção do ano de 2010, no qual a Gerdau S.A. divulgou o período de vida útil
coincidente com taxas baseadas na legislação fiscal (os quais foram convertidos), conforme
pode ser observado na Tabela 1. Esses resultados convergem com os encontrados por Telles e
Salotti (2015) no tocante aos hábitos de algumas empresas informarem a vida útil ou taxas de
depreciação dentro de intervalos, dificultando a compreensão do usuário, de forma que não se
sabe em qual barreira do intervalo a depreciação foi calculada no ano analisado.

Tabela 1- Taxa média anual de depreciação (em %) ou vida útil (em anos)
Equip. de
Máquinas Móveis e Inform./
Empresa Período Edifícios Instalações Veículos
e Equip. Utensílios Proces. de
dados
2010 4% 10% 10% 10% 20%
Gerdau S.A.
2011-2017 20 a 33 10 a 20 10 a 20 5 a 10 3a5 2,5 a 6
Met. Gerdau S.A. 2010-2017 20 a 33 10 a 20 10 a 20 5 a 10 3a5 2,5 a 6
Fonte: Dados da pesquisa.
Com base nas informações apresentadas, foi possível perceber que embora pertencentes
ao mesmo grupo econômico, as empresas relacionadas na Tabela 1 têm atividades econômicas
distintas e com base nisso seus imobilizados devem ter padrões distintos de consumo.
Nas notas explicativas do ano de 2010 a Companhia de Ferro Ligas da Bahia informou
que revisou a vida útil de alguns imobilizados, conforme transcrito a seguir:

“(...) A Companhia efetuou a revisão da vida útil estimada de seu ativo imobilizado e alterou
a estimativa de vida útil individual dos ativos incluídos nos grupos de máquinas,
equipamentos e veículos sobre os saldos registrados em 1º de janeiro de 2010. A avaliação
da vida útil dos ativos foi concebida com auxílio dos engenheiros da Companhia.”
A utilização dos esforços de profissionais de outras áreas é importante na revisão de
vida útil, conforme sinalizado por Eckert et al. (2012), de forma que seja apresentada uma
informação mais acurada dos bens.
No ano de 2011 houve alteração da vida útil das máquinas e equipamentos, a qual se
repetiu no ano de 2012 e 2013, conforme o exposto na Tabela 2. Um item que carece atenção
em todos os anos é a classificação de bens em “Outros”, sem a divulgação de detalhamentos
sobre a composição desse item, o que obscurece a informação. A partir do ano de 2014 a
empresa passou a apresentar a vida útil em anos, convertidas em taxas na Tabela 2, com o
intuito de demonstrar que as taxas coincidem com as estipuladas pelas normas fiscais (com
exceção do item “Outros”, o que pode ser um indício de que as normas de depreciação não
foram institucionalizadas na totalidade, contribuindo com o resultado de Freire et al. (2012) .
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Tabela 2- Taxas médias anuais depreciação (em %)


Equip. de
Máquinas e Móveis e Inform./
Empresa Período Edifícios Veículos Outros
Equip. Utensílios Proces. de
dados
2010 4,0 9,7 10,0 14,4 20,0 10 a 20
Companhia
2011 4,0 7,1 10,0 14,4 20,0 9,7
de Ferro
2012-2013 4,0 7,1 10,0 14,4 20,0 9 a 17
Ligas da
Bahia 2014-2015 4,0 10,0 10,0 20,0 20,0 11,1
2016-2017 4,0 10,0 10,0 20,0 20,0 20,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Ainda, constatou-se que o texto das notas explicativas referentes ao imobilizado
possuem um padrão de informações, semelhante para todos os anos. Embora tenha sido mantida
expectativa de vida útil entre 2014 e 2017, no ano de 2017 a empresa informa que revisa a vida
útil anualmente, conforme apresentado:

"(...) Conforme descrito na Nota 6 (f), a Companhia revisa a vida útil estimada dos bens do
ativo imobilizado e a reserva lavrável estimada das minas, anualmente, no fim de cada
período de relatório."

A informação transposta das notas explicativas permite por em dúvida se essa revisão
tem ocorrido efetivamente e se não houveram alterações nos últimos anos, o que contribui com
a pesquisa de Viviani et al. (2014), os quais constataram que em algumas empresas as
informações são apresentadas de forma deficiente. Fazendo uma análise geral, parece que no
ano de 2010, buscando atender o exigido pelas novas normas, houve um esforço da companhia
para elaborar a revisão. Porém, no decorrer do tempo voltou a adotar as taxas fiscais para a
depreciação o que sugere que não houve a institucionalização das normas.
A companhia Panatlântica S.A. divulgou informações sucintas acerca do imobilizado,
tendo como padrão o mesmo texto no período de 2014 a 2017:

"(...) Edificações, Terrenos, Instalações, Máquinas e Equipamentos são os itens principais


do imobilizado, sendo demonstrados pelo custo de aquisição ou avaliação. A depreciação
dos bens é feita pelo método linear. O ativo imobilizado é segregado em classes bem
definidas e relacionado às atividades operacionais. Sobre os mesmos existem controles
eficazes que possibilitam identificação de perdas e/ou mudanças de estimativas de vida útil
(Nota 09)."

No ano de 2010 e no período de 2012 a 2017 as informações sobre taxas de depreciação


foram apresentadas em percentuais médios e de forma imprecisa, dado o intervalo expressivo
para todas as classes de itens, semelhantes aqueles percebidos por Telles e Salotti (2015). No
ano de 2012 a companhia e suas controladas adotaram o custo atribuído para determinar o valor
justo do ativo imobilizado e justificaram que por isso não divulgaram taxas de depreciação.
Todas as informações podem ser analisadas na Tabela 3.

Tabela 3 - Taxas médias anuais de depreciação (em %)


Equip. de
Máquinas Móveis e Benfeitorias Inform./
Empresa Período Edifícios Instalações Veículos
e Equip. Utensílios em imóveis Proces.
de dados
2010 2 a 10 3 a 10 2 a 10 5 a 10 20 12 a 20 20
Panatlântica
S.A. 2011 sem informações
2012-2017 2 a 10 3 a 10 2 a 10 5 a 10 20 12 a 20 20
Fonte: Dados da pesquisa.
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A Mangels Industrial S.A. informou que no ano da adoção obrigatória às normas IFRS
revisou a vida útil dos ativos, conforme transcrito a seguir:

“(...) A Companhia revisou a vida útil econômica estimada do seu ativo imobilizado durante
o exercício de 2010. Essa revisão teve como objetivo ajustar a vida útil econômica, para fins
de apuração da depreciação de seus bens, tendo em vista os investimentos relevantes
realizados nos últimos cinco anos, no ótimo nível de manutenção industrial de seu parque
fabril, bem como no nível de utilização de seus ativos. Essa revisão foi efetuada com o
auxílio de empresa especializada em controle patrimonial, avaliações e inventários de ativos.
O laudo de avaliação da vida útil econômica foi elaborado em conformidade com todos os
fundamentos necessários para o pleno atendimento às práticas contábeis vigentes."

Porém, no ano de 2011, assim como outras empresas da amostra, a Mangels informou
percentuais dentro de intervalos, para máquinas e equipamentos, instalações e móveis e
utensílios, o que dificulta a compreensão das informações. Já no período de 2012 a 2017 os
bens foram depreciados com os mesmos percentuais médios, não havendo revisão ou
informações adicionais, conforme Tabela 4. Ainda, constatou-se que o conteúdo divulgado
sobre o imobilizado é repetido em cada período e semelhante ao apresentado pelas demais
empresas.

Tabela 4 - Taxas médias anuais de depreciação (em %)


Máquinas e Móveis e Benfeitorias
Empresa Período Edifícios Instalações Veículos
Equip. Utensílios em imóveis

Mangels 2010 3,0 12,4 12,4 13,5 20,0


Industrial 2011 3,0 2,7 a 25 2,7 a 25 3,7 a 25 20,0
S.A. 2012-2017 2,0 6,3 6,3 11,0 2,0 20,0
Fonte: Dados da pesquisa.

As informações de vida útil dos ativos imobilizados da Paranapanema S.A. foram


revistas no ano de 2010 por ocasião de adoção as normas IFRS, o que pôde ser verificado nas
notas explicativas:

“(...) Ajuste de depreciação em função da nova vida útil dos bens, calculada pelo método
linear dos bens reavaliados pelo uso do dispositivo previsto no ICPC 10 / CPC 27, onde a
Paranapanema considerou o tempo de vida útil remanescente estimado através de laudos de
avaliação patrimonial que determinou os novos valores atribuídos aos bens do seu ativo
Imobilizado."(...) O valor residual e vida útil dos ativos e os métodos de depreciação são
revistos no encerramento de cada exercício, e ajustados de forma prospectiva, se necessário."

No ano de 2011 foram adotadas as mesmas taxas utilizadas para depreciar os bens no
ano de 2010, de acordo com a Tabela 5. Contudo, observou-se também o uso das mesmas taxas
médias de depreciação entre 2013 e 2016, com o acréscimo do item “Benfeitorias” no ano de
2016. Apesar disso, a companhia informou em 2013, 2014 e 2015 que realizou a revisão em 31
de dezembro de cada ano. No ano de 2017 foram apresentadas novas taxas médias anuais de
depreciação para edifícios (3%), instalações (11%), máquinas (7%), móveis e utensílios (11%)
e benfeitorias (4%), devido a nova revisão de vida útil.
9

Tabela 5 - Taxas médias anuais de depreciação (em %)

Edifícios e Máquinas Móveis e Aterro


Empresa Período Benfeitorias Veículos
Instalações e Equip. Utensílios industrial

2010-2011 2,2 3,1 10 20 25


2012 2,2 10 a 15 10 20 25
Paranapanema
2013-2014 2,2 8,5 10 20 25
S.A.
2015-2016 2,2 8,5 10 2,2 20 25
2017 3 e 11 7 11 4 20 25
Fonte: Dados da pesquisa.

A Companhia Siderúrgica Nacional apresentou a estimativa de vida útil em anos em


todo o período analisado. Realizou a revisão de vida útil em todos os períodos, embora algumas
classes de ativos imobilizados tenham permanecido inalteradas por alguns anos, com base no
apresentado na Tabela 6. Em todos os períodos analisados a empresa divulgou informações
sobre os motivos que levaram a alteração das vidas úteis. O parágrafo a seguir foi extraído das
notas explicativas do ano de 2014, na qual houve um maior detalhamento e pode ser
confrontado com os dados da Tabela 6.

"(...) Dada a necessidade de revisão das vidas úteis, no mínimo a cada exercício, a
administração realizou em 2014 a revisão para todas as unidades da Companhia. Devido ao
investimento corrente em manutenção nos equipamentos do parque fabril, o trabalho de
revisão de vida útil constatou um alongamento no prazo de vida útil das máquinas e
equipamentos. Dessa forma, as vidas úteis estimadas para o exercício corrente são as
seguintes: (...)"

Como ponto negativo, destaca-se que a companhia também utilizou o termo “Outros”,
o que contribui para a desqualificação da informação apresentada e para o surgimento de
dúvidas. O mesmo comportamento foi percebido na Companhia de Ferro Ligas da Bahia em
todo o período analisado (Tabela 2). No caso específico da Companhia Siderúrgica Nacional,
dadas as demais classes, acredita-se que os itens veículos e equipamentos de informática podem
estar agrupados em “Outros”, pois não foram encontradas informações pertinentes a eles nas
notas explicativas, quando constatada esta situação. Ainda mais, é aceitável que esses tipos de
bens tenham vidas úteis distintas, devido as suas diferentes tecnologias e formas de utilizações.

Tabela 6 - Vida útil para depreciação (em anos)


Máquinas e Móveis e
Empresa Período Edifícios Instalações Outros
Equip. Utensílios
2010 45 15 15 10 15
2011 44 13 13 10 13
2012 45 12 12 10 12
Companhia
Siderúrgica 2013 41 13 13 11 18
Nacional 2014 42 18 18 11 13
2015 43 18 18 11 11
2016 42 19 19 11 11
2017 41 24 24 12 12
Fonte: Dados da pesquisa.

A empresa Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. mencionou nas notas explicativas
dos 8 períodos anuais que houve revisão de vida útil de itens do imobilizado, conforme pode
ser observado na Tabela 7. Nos de 2010 a 2013 foram apresentadas as vidas úteis em anos e
convertidas na tabela abaixo a fins de padronização, já que nos períodos subsequentes foram
10

exibidas taxas médias percentuais. Um item que necessita atenção é a similaridade do conteúdo
apresentado em todos os anos analisados pela companhia, que mesmo alterando as estimativas
de vida útil não evidencia detalhamentos a respeito. Por exemplo, nos anos de 2016 e 2017
houveram alterações significativas nas taxas médias anuais de veículos e de equipamentos de
informática, embora não tenham sido divulgadas informações mais detalhadas dos eventos que
geraram essa mudança.

Tabela 7 - Taxas médias anuais de depreciação (em %)


Equip. de
Ferramentas,
Máquinas Móveis e Inform./
Empresa Período Edifícios Instalações aparelhos e Veículos
e Equip. Utensílios Proces. de
implementos
dados
2010 4,0 6,7 6,7 12,5 12,5 12,5 33,3
2011 4,2 5,6 7,1 12,5 12,5 14,3 33,3

Usinas 2012 3,3 4,8 3,8 14,3 14,3 14,3 33,3


Siderúrgicas de 2013 3,4 4,8 4,0 14,3 14,3 14,3 33,3
Minas Gerais 2014 4,0 5,0 4,0 16,0 15,0 20,0 34,0
S.A.
2015 4,0 5,0 5,0 14,0 16,0 26,0 34,0
2016 4,0 5,0 4,0 17,0 20,0 44,0 46,0
2017 4,0 5,0 4,0 17,0 20,0 66,0 29,0
Fonte: Dados da pesquisa.

No processo de adoção às normas IFRS, a Tekno S.A. informou que realizou a revisão
de vida útil dos imobilizados em 2010, com a utilização de laudo técnico emitido por empresa
especializada. As mesmas taxas foram utilizadas no ano de 2011, com exceção dos
equipamentos de informática que variaram de 14,07% para 23,75%, conforme descrito na
Tabela 8. Nos demais anos a empresa divulgou diferentes vidas úteis para todas as classes de
ativos imobilizados, embora apresente textos semelhantes em todos os anos e não constem
maiores detalhamentos das bases utilizadas para a revisão de vida útil nos demais anos.
Tabela 8 - Taxas médias anuais de depreciação (em %)

Equip. de
Máquinas e Móveis e
Empresa Período Edifícios Instalações Veículos Inform./ Proces.
Equip. Utensílios
de dados

2010-2011 1,21 7,31 1,68 6,55 20 14,07 e 23,75


2012 1,3 7,4 1,7 8,1 19,1 24,6
2013 2,2 9,3 3,9 9,2 21,2 21,7
Tekno S.A. 2014 1,7 7,3 2 8,4 20,7 19,4
2015 1,9 7,1 10 9,8 15,6 17,1
2016 1,7 6 5,5 8,8 11,8 12,1
2017 1,6 4,1 5,5 8,7 7,5 12,3
Fonte: Dados da pesquisa.

A Companhia Siderúrgica Nacional, a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A e a


Tekno S.A. demonstraram, por meio das informações acerca da vida útil dos ativos, que embora
com algumas deficiências, houve uma melhoria e esforços para atender a norma e refletir um
padrão mais atualizado de uso de seus imobilizados. Esse achado é convergente com o de
Marques et al. (2016), os quais constatam uma melhoria nas informações quantitativas e
qualitativas apresentadas por empresas de capital aberto após a adoção das IFRS.
11

Nesta subseção, a análise foi agrupada por similaridade das informações prestadas pelas
empresas em algumas situações e em outras foram apresentadas individualmente de forma a
perceber como esse panorama de institucionalização de novas normas para depreciação tem
ocorrido.
4.2 Classificação das Informações com Base na Abordagem do Trabalho Institucional
Com base nas informações analisadas, percebeu-se que dados os diferentes níveis de
esforços das empresas para atender a um item específico da NBC TG 27 (R3), referente as
revisões de vida úteis, as quais refletem quantitativamente nos resultados, pode depreender-se
que em algumas empresas as normas sob esse aspecto estão mais ou menos institucionalizadas,
com base na abordagem do trabalho institucional.
Nesse contexto é apresentada uma classificação das empresas com base nos preceitos
estabelecidos no Quadro 2.

Quadro 3 – Classificação das empresas sob a abordagem do trabalho institucional


Empresa Forma de institucionalização
Companhia de Ferro Ligas da Bahia manutenção
Companhia Siderúrgica Nacional criação/ interrupção
Gerdau S.A. manutenção
Mangels Industrial S.A. criação/ interrupção
Metalúrgica Gerdau S.A. manutenção
Panatlântica S.A. criação/ interrupção
Paranapanema S.A. criação/ interrupção
Tekno S.A. criação/ interrupção
Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. criação/ interrupção
Fonte: Elaborado pelos autores, com base nas informações analisadas.
Após a realização da análise da evolução das informações contábeis apresentadas pelas
companhias que pertencem à amostra, as informações de cada empresa foram classificadas com
base na abordagem do trabalho institucional, de modo que elas (empresas) como atores sociais
têm a possibilidade de criar, manter ou interromper instituições, tais como normas contábeis
e fiscais. Assumiu-se que a criação/interrupção se deu pela adoção das IFRS para tratamento
da depreciação e de forma concomitante, ocorreu o abandono das práticas tributárias e a
manutenção está ligada a permanência do uso de práticas tributárias para fins contábeis.
Com base nas informações analisadas na subseção 4.1, conclui-se que a Companhia de
Ferro Ligas da Bahia ainda mantém institucionalizadas práticas anteriores de depreciação,
devido ao fato de que embora tenha ocorrido um esforço entre 2010 e 2013 para revisar as vidas
úteis dos ativos, a empresa retomou à utilização das taxas fiscais para a depreciação contábil
em 2014 e perdurou até 2017. Esse resultado converge com o observado por Arroyo (2012), a
qual sustenta que o processo institucional é complexo, dinâmico e não é linear e com Shi (2009),
o qual observa que o processo de institucionalização de novas normas é assíncrono.
Frente ao que foi analisado da Gerdau S.A. e da Metalúrgica Gerdau S.A. pode-se inferir
que as empresas não institucionalizaram a norma referente ao tratamento da depreciação, pois
embora explorem atividades diferentes entre si, possuem percentuais médios e estimativas de
vida útil padrão em todos os anos analisados, o que permite concluir que o trabalho institucional
ainda não foi efetivo. Ainda, os limites superiores dos intervalos apresentados coincidem com
as taxas fiscais.
Mesmo em planos distintos, houveram esforços para a institucionalização de novos
procedimentos contábeis para a depreciação nas seguintes empresas: Companhia Siderúrgica
Nacional, Tekno S.A. e Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A., as quais divulgaram as
revisões de vida útil tempestivamente em cada período, salvo algumas exceções.
Já nas informações da Mangels Industrial S.A., da Panatlântica S.A. e da Paranapanema
S.A. também foi constatado um esforço para atendimento da NBC TG 27 (R3) nos anos iniciais
12

da adoção obrigatória, porém fica o alerta do uso de taxas inalteradas por três ou quatro
períodos, o que pode ser compreendido como um descuido ou falta de esforço para a
manutenção das informações de depreciação atualizadas, com a realização de revisões de vida
útil anuais. Essas empresas podem ter carecido da capacidade de geração de informações
tempestivas e especializadas necessárias ao processo de implantação das IFRS (Aburous, 2018).
Em suma, nesta seção foi proposto um novo olhar acerca das informações analisadas,
referente a depreciação, com enfoque na vida útil. Essa abordagem pode abranger outros itens
relacionados às informações evidenciadas para usuários externos, contribuindo para a evolução
da temática em pesquisas futuras.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo se delimitou a investigar como se deu a evolução e a
institucionalização na forma como as empresas depreciaram seus ativos imobilizados após a
adoção das IFRS no Brasil. A possibilidade de avançar a pesquisa da temática de depreciação
e trazer um panorama mais atualizado, explorando a abordagem do trabalho institucional,
motivou a sua realização.
O diferencial da pesquisa está na tentativa de explicar com base na abordagem do
Trabalho Institucional como as mudanças de comportamento sobre o tratamento da depreciação
de imobilizados ou a persistência da utilização de taxas fiscais podem ser compreendidas.
Com base nos resultados encontrados foi possível percebem que existem esforços das
empresas para se adaptarem as normas IFRS no tocante a depreciação, porém existem
deficiências consideráveis na institucionalização normativa. Ainda, constatou-se que algumas
empresas seguem baseando-se em normas fiscais para depreciação dos bens, embora
transcorridos oito anos da convergência obrigatória pelas companhias abertas.
Ainda, por meio das evidências foram percebidos conteúdos semelhantes nas notas das
empresas em todos os anos, o que não parece ser relevante para os usuários, de forma que não
agrega conhecimento específico da situação da empresa. Por isso, infere-se que as informações
sobre depreciação precisam ser melhoradas e que as empresas devem procurar, por meio de
julgamentos e escolhas individuais, racionalizar os conteúdos que são relevantes para
apresentação.
A análise de conteúdo qualitativa depende do pesquisador e de sua percepção sobre o
tema investigado, porém isso pode ser compreendida como uma limitação da presente pesquisa.
Em contrapartida, a subjetividade e a sensibilidade do pesquisador podem proporcionar novos
horizontes para a pesquisa, até então não abordados pela literatura. Nessa tentativa foi realizado
o estudo, com enfoque no trabalho institucional.
A escassez de tempo acarretou algumas limitações ao estudo, sendo que a pesquisa de
campo seria uma possibilidade de triangular os dados e dar mais robustez às análises. A coleta
de dados por meio de entrevistas ou de questionários, com os principais preparadores das
informações contábeis dessas empresas, pode proporcionar um maior nível de detalhamento e
possibilitar novos avanços à pesquisa.
Como proposta de estudos futuros envolvendo esta temática, sugere-se análises com
métodos mais robustos que possibilitem novas inferências acerca das consequências da
permanência das práticas fiscais de depreciação. Sugere-se também a utilização da abordagem
do trabalho institucional no intuito de compreender as intencionalidades dos indivíduos
enquanto fazem escolhas contábeis específicas, tais como aquelas referentes a depreciação.

REFERÊNCIAS

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