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OPRESSÃO À CULTURA

NOTURNA EM BRASÍLIA
O DIREITO ACHADO NA NOITE
(projeto de dissertação)

WILLY DA CRUZ MOURA


Mestrado em Direito Humanos e Cidadania
Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares - CEAM
Universidade de Brasília - UnB
2022
Linha de pesquisa 3: Democracia,
constitucionalismo, memória e história

Centrada na concepção de direitos humanos como


uma construção histórica implementada por meio de
ações coletivas voltadas para a conquista da
dignidade humana por intermédio da luta cotidiana a
garantir e criar novos direitos. O ponto de partida são
os bens necessários materiais e imateriais necessários
à vida digna.
PROBLEMÁTICA:

Brasília consolidou um éthos sociocultural hostil à sua cultura noturna, o que


vem legitimando o poder público a violar uma série de direitos humanos — em
especial à cidade, à cultura, à liberdade de locomoção e à ocupação de espaços
públicos, ao trabalho e até mesmo à livre iniciativa — por motivações nem
sempre explícitas de cunho político-administrativo, econômico-financeiro ou
moralista conservador, sem prejuízo de ações diretas dos próprios agentes
econômicos, da parcela hegemonista da sociedade e suas respectivas
instituições.

A crítica contemporânea ao neoliberalismo fornece-nos uma chave de


compreensão (embora não como "causa" reducionista) para a articulação tão
bem engrenada que, no contexto atual, Estado, mercado e sociedade
conservadora operam sobre esse setor da cultura urbana.
PROBLEMÁTICA (cont.):

- "Cultura urbana noturna". ̶D̶ e̶f̶i̶n̶i̶ç̶ã̶o̶ Recorte: reprodução social urbana


desenvolvida noite e madrugada adentro, usualmente (mas não
necessariamente) de caráter festivo, e usualmente (mas não
necessariamente) acompanhada de atividade artística (sobretudo música,
mas também dança, poesia, artes plásticas e outras formas de expressão),
autêntica (que assim será denominada aqui, no sentido de feita, e vivida, por
pessoas notívagas, e não por governos ou grandes empresários capitalistas),
com regularidade (bares, restaurantes, casas noturnas) ou mais
esporadicamente (festas, bailes, shows, raves e outras denominações) em
locais privados comerciais ou públicos — nestes, em reuniões espontâneas
e gratuitas ou em eventos explorados comercialmente, ocasião em que se
pactua o uso do espaço com a Administração.

- Inclui-se a mera boemia (vanguardista, marginal, alcóolica...).

- Noite menos como temporalidade e mais como espaço construído


socialmente.
PROBLEMÁTICA (cont.):

Ações da Administração 1999 - hoje (governos da direita à esquerda):


- articulada com a maioria hegemonista da sociedade (e suas instituições);
- articulada com o setor econômico
- respaldada pela mídia
"dialética do mal" - senso comum hostil

a) 1999-2001: aprovação de lei que proíbe renovação de alvará de


funcionamento de boates e similares em área residencial/mista na RA I
(ordem/moral - exposição de motivos escancarada);

b) Portaria conjunta SESP/SUCAR (2002): Limitação de atividades comerciais


até 22h, 23h ou, nos fds, 2h ou 3h (exposição de motivos emblemática:
ordem/patrimônio/seg. púb./moral).
PROBLEMÁTICA (cont.):

c) 2007 (Decreto + Portaria): operações em nome da segurança pública com


fechamento (inspiração: Diadema);

d) LEI DO SILÊNCIO (4.092/2008): não inova nos db de 1996, mas reforça o


aspecto punitivista/repressivo, e disciplina/operacionaliza a fiscalização.

e) 2011: Portaria e fiscalização SSP/DF: seg. púb. + silêncio

f) 2015: recrudescimento das operações sobre silêncio, fechamento de


diversos locais de música ao vivo, golpe de morte.

g) Carnaval 2018, 2019, 2020: vira matinê, dispersões violentas,


domesticação dos blocos (FAC);
PROBLEMÁTICA (cont.):

Nota: "Padrão silêncio" - covardia: lei fácil de aplicar:

níveis sonoros inviáveis, inferiores a qualquer ruído urbano ordinário;


implicam uma fiscalização seletiva, que afinal se despega de sua
finalidade ambiental e concentra-se na reprodução social e na cultura:
A Administração proibiu a execução de música em bares, cancelou
shows e festas e até mesmo impediu a presença de pessoas em áreas
públicas, especialmente Comércios Locais.
Cafés, bares e restaurantes foram multados, fechados, lacrados,
tiveram atividades suspensas ou foram vedados à execução musical,
ainda que esta fosse sua atividade precípua.
Indelével prejuízo à arte brasiliense, varreu os pontos de música de arte
local e desestimulou os empresários a prosseguir ou ingressar no ramo.
PROBLEMÁTICA (cont.):

* Ações empreendidas:

h) "leis secas": alterações no CTB 2006, 2008, 2012: tolerância 0 e


recrudescimento da fiscalização; ausência de transporte público (MPL,
"toque de recolher");

i) Boate Kiss (RS, 2013): fechamento de diversos estabelecimentos;

j) Pandemia (2020 ->): proibição de festas, flexibilização para todo o resto;


festas clandestinas.
PROBLEMÁTICA (cont.):

* Ações empreendidas:

k) Transformação de setores/áreas predominantemente comerciais/mistos


em residenciais/mistos: Setor de Oficinas Sul, Setor de Oficinas do Cruzeiro,
Centro de Atividades do Lago Norte, Setores Hoteleiros Norte e Sul, SHTN e
agora SAAN; e (case estudado) Setor Comercial Sul (tentativa);

Lógica: apropriar-se do espaço da noite e expulsá-la para lugares cada


vez mais distantes e inóspitos.
PROBLEMÁTICA (cont.):

Frentes da Administração* contra a cultura noturna urbana :


a) Expedição de leis e atos administrativos de cunho negativo (repressivo,
restritivo, proibitivo) a essas atividades: normas de ordem pública: segurança
pública, patrimônio, silêncio, sanitárias, consumeristas, que dificultam a
fruição e desenvolvimento das atividades.
b) Fiscalizações seletivas para aferir o cumprimento dessas normas ou
policiamento direcionado propriamente dito;
c) Favorecimento, com normas e políticas públicas (ações "positivas",
comissivas), a ordem econômica, principalmente a (i) financeira especulativa
imobiliária que, no Distrito Federal, tem a peculiariade de disputar os
espaços para conferir-lhes fim residencial ou (ii) a captura comercial da
atividade noturna autêntica.
PROBLEMÁTICA (cont.):

* As ações opressoras (tanto da Administração, quanto de instituições,


agentes econômicos e sociedade) atendem a três eixos motivadores:

a) Político-administrativo: (i) mais político -> evitar a proliferação de


atividade insurgente, contestadora, opositora ao incumbente; (ii) mais
administrativo -> ordem pública/segurança/saúde (quando é verdade,
quando não é "moral").

b) Econômico-financeiro: impingir a mentalidade concorrencial, precificar e


comercializar toda atividade possível; aqui, em especial, disputar os espaços
e apropriar-se da cultura.

c) Moralista-conservador: defender a incolumidade absoluta da


propriedade privada e do patrimônio, preservar-se na sua individualidade,
subjugar os jovens (adultismo, familismo), excluir os diferentes (elitismo,
racismo, LGBTQIA+fobia), pespegar uma ordem sanitarista/higienista.
OBJETO:

Cena composta por artistas, produtores e frequentadores de uma


autêntica cultura noturna em Brasília, das duas últimas décadas até os
dias atuais, no exercício de suas atividades constantemente violadas por
motivações de ordem hegemônica política, econômica ou moral
incompatíveis com direitos humanos, em especial os direitos à cidade, à
cultura, ao trabalho e à liberdade de locomoção e reunião e até mesmo à
livre iniciativa (de pequenos empreendedores).
PERGUNTA:

Como se articula a opressão política, econômica e social — no mais das


vezes assumida e titularizada pelo Poder Público —, à cultura noturna
autêntica em Brasília, e como atores sociais atingidos podem opor
efetiva resistência e insurgência contra-hegemônica para desarticulá-la?
JUSTIFICATIVA/MOTIVAÇÃO

Trajetória/interesse pessoal.

Possibilidade de colaborar com a mobilização de agentes culturais e


ajudar a denunciar a postura autoritária do poder público, intolerante de
uma parcela da sociedade, e predadora dos agentes econômicos

Certo "ineditismo", parca consolidação acadêmica ou bibliográfica (vide o


exaustivo rol de normas montado e a necessidade de socorrer-se de
material jornalístico.
OBJETIVO GERAL

Dar visibilidade ao problema da opressão à cultura noturna em Brasília,


chamando atenção, em especial, ao seu caráter histórico, reiterado,
sistêmico e articulado, que fatia as ações das instituições, dos agentes
econômicos e da sociedade de modo que o senso comum cristalize-se
desfavoravelmente aos agentes culturais.

Visibilizar a cultura noturna... como cultura que permite invocar um


direito a ela.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Relacionar cronologicamente as ações repressivas e comissivas


operadas pelo poder público direta ou indiretamente contra a cultura
noturna desde 1999,

b) Propor uma classificação sistematizada para compreensão e análise


das opressões:
- Quanto ao ato: negativo (repressivo, restritivo, proibitivo), "positivos" ou
comissivos (políticas públicas prejudiciais), omissivos;
- Quanto à motivação: político-administrativa, econômico-financeira,
moral conservadora;
- Quanto ao agente: Estado (Administração, Legislativo...), agentes
econômicos (imobiliários, eventos, mídia...), sociedade (coletivos,
instituições...)

*Consolidar a pesquisa como um documento sistematizado que possa servir


de referência para atores sociais interessados no assunto.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS

c) Demonstrar como se articulam técnicas de poder na opressão à


cultura noturna em Brasília, em especial o neoliberalismo, em sua
conjugação de autoritarismo, mercadificação e moralidade
conservadora aplicados às atividades humanas, mas sem ignorar formas
mais antigas empregadas nessa tarefa, quais sejam, o poder disciplinar e
biopoder.

d) Apresentar ações desenvolvidas pelos atores sociais atingidos no


sentido de desarticular as ações políticas, econômicas e sociais
opressoras, bem como alguns caminhos alternativos inovadores já
postos em prática num sentido emancipatório.
MARCO TEÓRICO

Crítica contemporânea ao neoliberalismo. Wendy BROWN (2019b):


sentido não de reduzir ao neoliberalismo a causa das catástrofes que
afligem a contemporaneidade, mas de assimilar que “nada fica intocado
pela forma neoliberal da razão e da valoração, e que o ataque do
neoliberalismo à democracia tem, em todo o lugar, infletido lei, cultura
política e subjetividade política” (BROWN, 2019a, p. 16-17)

Viés neomarxista: "conjunto de políticas econômicas que promove ações


sem restrição, fluxos e acumulações de capital por meio de tarifas baixas
e impostos, desregulamentação das indústrias, privatização de bens e
serviços previamente públicos, desmonte do Estado de bem- estar social
e a destruição do trabalhismo organizado”

Viés foucaultiano: racionalidade governamental produtiva, formadora do


mundo: sujeito empresarial e mentalidade concorrencial.
MARCO TEÓRICO (cont.)

Wendy Brown (2019) na sua inovação na crítica ao neoliberalismo,


entendeu que, além do projeto de mercado , existe um projeto de
moralidade tradicional/conservadora presente desde os cânones
neoliberais. Brown debruça-se sobre Hayek (corrente
austroestadunidense), mas Dardot e Laval (2016) também nos permitem
identificar projetos morais na corrente ordoliberal e estadunidense.

* Não avanço sobre o "neoconservadorismo" ou congênere (degeneração)


que profere ódio à cultura e aos artistas, mas sim a moralidade
tradicional de quem inclusive se diz apoiador. Senso comum.

Estudo de cidades de Harvey: concorrência entre os centros urbanos,


mercadificação da cultura, lógica consumista e, principalmente, o aspecto
da especulação imobiliária, da disputa de espaços e da destruição criativa
MARCO TEÓRICO

Michel Foucault, em "O Nascimento da Biopolítica": cristalização de um


poder "neoliberal" (concorrência, sujeito empreendedor). Adverte que esse
advento não extingue o poder disciplinar a impor-se sobre os corpos
dóceis -- tão ao gosto da polícia e fiscalização brasiliense -- nem o
biopoder -- ao qual atendem (ou fingem atender*) as motivações de
ordem, segurança e saúde públicas, e inclusive de ordem moral, entre
outras. Agamben em sua ótica sobre as restrições da Covid (com muitas
restrições a suas colocações, mais como uma ponderação).
MARCO TEÓRICO

Herrera Flores: Direitos humanos como produtos culturais, resultantes


de processos de luta pela dignidade humana, num continuum de forma a
propiciar e consolidar espaços de luta. (i) Visibilizar, (ii) desestabilizar, (iii)
propor novos caminhos. Direito à música ou à ocupação noturna dos
espaços públicos, saídas operacionais encontradas com a criatividade
dos agentes.

Idem: Concepção dialética do direito pautada no pluralismo jurídico.


Roberto Lyra Filho. Sentidos de legitimidade atribuídos ao direito a partir
das práticas sociais, da rua, para a construção de uma rede urbana
popular e para a própria criação do direito à cidade, em movimento: O
Direito Achado na Rua, José Geraldo de Sousa Junior, Alexandre
Bernardino Costa, Antônio Escrivão Filho.
MARCO TEÓRICO

Conceito de Festa para o recorte do o'bjeto:


a) Bakhtin: Festividades são forma primordial, marcante, da civilização
humana; caráter indestrutível. O poder sempre teve de tolerá-la e
legalizá-la;
b) Duvignaud: Elemento de negação, ruptura, anarquia, fim em si mesmas,
criativa no âmbito das formas, apropriação "destrutiva" do espaço
(consumível);
c) Roberto DaMatta: Transcende o espaço físico, é espaço de conexão
entre polos. Ligação forte entre a casa e a rua.
d) Michel Maffesoli: orgiasmo como essência, ludismo, dispêndio,
inutilidade, confusionalidade x invididualismo e utilitarismo;
e) Associação Brasileira de Antropologia: Rita Amaral e Léa Freitas Perez:
diferença festa x divertimento/ritual/espetáculo e classificação (uso
profana e festividades)
MARCO TEÓRICO

Sobre Brasília: "Brasília, urbs, civitas, polis: moradia e dignidade humana".


José Geraldo de Sousa Júnior e Alexandre Bernardino Costa". Introdução
crítica ao direito urbanístico (O Direito Achado na Rua, vol. 9).
Aldo Paviani
ABORDAGEM METODOLÓGICA

Realidade do autor. Observação. Hipótese: existe um éthos


sociocultural hostil à cultura noturna peculiar em Brasília.

Rol de violações, uma evidente opressão em três eixos:


político/administrativo, econômico-financeiro, moral/ordem pública.

Contato com a crítica contemporânea ao neoliberalismo e os cânones


do neoliberalismo, chave que articula os três eixos, então ainda
nebulosos (a classificação se afigurou recentemente).
ABORDAGEM METODOLÓGICA (cont.)

Recorte histórico: Governos após o fim do mandato de Cristovam


Buarque. 1999 até hoje. Foco nas ações da última década + pandemia.

Recorte geográfico: Plano Piloto (centralidade). Importância da


conquista da centralidade.
Atos da Administração nas cidades do DF.

Recorte de objeto: foco nas ações diretas da administração (embora


qualificadas não apenas por política, mas principalmente por mercado e
moral), aborda lateralmente as acões diretas de agentes econômicos e
sociedade hegemonista.

Foco no silêncio, padrão mais contemporâneo de repressão, mas


também aborda ordem pública, segurança e saúde.
ABORDAGEM METODOLÓGICA (cont.)

1) Análise bibliográfica: direitos humanos - Joaquín Herrera Flores,


Roberto Lyra Filho, O Direito Achado na Rua. Festas (Fernanda Machado,
Bakhtin, Duvignaud, Maffesoli, DaMatta; ABA); crítica ao neoliberalismo
(Brown, Dardot e Laval, Harvey); poder disciplinar e biopoder (Foucault,
Agamben).

2) Pesquisa legislativa minuciosa: Rol de normas expedidas desde 2001,


leis, decretos e normas menores que de alguma forma buscaram
interferir na noite de Brasília, relacionadas às suas motivações e
consequências (fatos decorridos/ações);

3) Pesquisa documental em periódicos e sites, reconstruindo a narrativa


dialogando com a cronologia dos fatos e embasando uma memória que
era primordialmente pessoal/particular e guiada intuitivamente.
ABORDAGEM METODOLÓGICA (cont.)

Não considero dada a opressão (inclusive um dos objetivos é dar


visibilidade ao problema).

PERCURSO COMPROBATÓRIO

Normas <---> Notícias


ações normativas <--> ações executivas

+ depoimentos (complemento)
ABORDAGEM METODOLÓGICA (cont.)

Trabalhos prévios:
a) Direito e Arte (livro Direito Vivo, o DANR, vol. 5): Bakhtin, Roberto Aguiar
e carnavalização;
b) Tentativa de criminalização da cultura funk que tramitou no Senado
Federal (Enepcp 2021, anais);
c) Festas clandestinas e restrições durante a pandemia (CEAM);
d) Neoliberalismo e opressão à cultura urbana em Brasília (Tópicos
Especiais - Neoliberalismo - Prof. Alexandre): eixo político-administrativo,
econômico-financeiro, moralista conservador (p/ livro);
e) A moralidade tradicional no pensamento neoliberal (Brown, Laval e
Dardot) austro-estadunidense, ordoliberal e anarcocapitalista (p/livro);
f) Tentativa de introdução do uso residencial no Setor Comercial Sul
(p/RBDU): ataque imobiliário aos espaços públicos e aos comerciais
privados;
g) Aplicação seletiva da lei e regulamentação na opressão-repressão à
cultura urbana noturna em Brasília (Universidad Pablo de Olavide).
ABORDAGEM METODOLÓGICA (cont.)

Entrevistas semiestruturadas (por fazer; comitê de ética):


a) Representante de coletivo de resistência
b) Representantes culturais de ressignificação de área comercial;
c) Proprietária de estabelecimentos perseguido pela Administração.
* Intuito primordial apenas de preencher algumas lacunas e confirmar
algumas percepções. Coerência com as premissas investigativas.
Responsabilidade ao trazer essa visão dos coletivos para a academia
(ineditismo).

Metodologia baseada no pensamento dialético. Método dialético


histórico-estrutural (DEMO, 2019)?: reconhece-se uma estrutura,
reconhece-se a determinação do tempo e do espaço na produção do ser
social, mas o conhecimento por este produzido e acumulado possibilita
construir a história e propor intervenções na realidade (DEMO, 2019).
CRONOGRAMA

MAIO
- Submissão à comissão de ética
- Quallificação
- Redação do primeiro capítulo

JUNHO
- Redação do segundo capítulo

JULHO
- Entrevistas
- Redação final
- Depósito

AGOSTO
-Defesa
ESTRUTURAÇÃO
CAPÍTULO I

1.CULTURA URBANA NOTURNA EM BRASÍLIA


1.1. Categoria Festa:
1. Bakthin: forma primordial, conteúdo essencial, sentido profundo, caráter
indestrutível. Introdução na cotidianidade e vida privada.
2. Duvignaud: deve ser negação, ruptura, anarquia. Foi morta pela produção
econômica e crescimento industrial, mas observou uma em Paris que remete às
nossas;
3. Maffesoli: orgiasmo. Holismo das festas contra o princípio da individuação
contempoâneo. Acaba por domesticar (e aliar-se) à ordem;
4. ABA: Festas. Classificação.
1.2 Categoria Boemia: a figura do boêmio no imaginário e na contemporaneidade.
1.3. Categoria Noite, como espaço construído.
1.4. Recorte do objeto: Cultura noturna em Brasília. Época observada. Centralidade.
Autenticidade. Arte (música e dança) ou apenas cultura boêmia. Pode escapar à
noite. Cotidianidade, esporadicidade, espaços privados ou públicos.
ESTRUTURAÇÃO
CAPÍTULO I (cont.)
2. A OPRESSÃO EM BRASÍLIA
- Quadro de violação de direitos humanos (cultura, cidade, trabalho, liberdade de
locomoção). Roteiro guiado pela legislação, entrecortado pelas ações. Falar de
tudo:
1. Disposição dos comércios locais anos 60 (desvirtuação)
2. Cristovam: arte por toda parte, legislação conciliadora; ressaltar que mesmo no
período autoritário havia uma tolerância maior que a de hoje;
3. 1999-2001: ordem pública, moral e degradação
4. 2007: segurança pública (Diadema 2002)
5. 2008 em diante: silêncio
6. Lei seca e fiscalização
7. Boate Kiss e segurança
8. Avanço residencial sobre a cidade. Destacar SCS.
9. Pandemia. Longa exposição. Um mote inicialmente verdadeiro de saúde pública.
10. Por fim, ilustrar, mas retirando do objeto: omissões do Estado, intervenções
diretas dos agentes econômicos, da sociedade civil, Judiciário, Ministério Público,
sem fechar a porta.
ESTRUTURAÇÃO
CAPÍTULO I (cont.)

3. CLASSIFICAÇÃO (E ENQUADRAMENTO)

1. Quanto ao agente: Estado, agentes econômicos (imobiliário, mídia e outros),


sociedade;
2. Quanto à motivação: política (em sentido estrito)/administrativa (inclui ordem
pública/segurança/saude), econômica, moralidade tradicional.
3. Quanto à ação: repressivo, comissivo/opressor em sentido estrito, omissivo.
—> Esclarecer que o objeto é Administração (P.E. e P.L.), pelas três motivações
(econômica, moral e administrativa/estritamente política (mais difícil hoje); e as
repressivas e comissivas. Como se articula um quadro tão concertado em
Brasília? Gancho para o neoliberalismo.
ESTRUTURAÇÃO
CAPÍTULO II

1. TÉCNICAS DE PODER

1. Poder disciplinar e biopoder (Foucault).


2. Neoliberalismo: Definição mais difundida (marxista) e foucaultiana. Wendy
Brown: conciliação.
3. Estado como agente do neoliberalismo. Falácia do Estado mínimo.
4. Virada de Brown: projeto moral tão importante quanto o de mercado.
Complemento com Dardot e Laval.
5. Brasília: utopia, autoritarismo, redemocratização, especulação
imobiliária/neoliberalização.
ESTRUTURAÇÃO
CAPÍTULO II (cont.)

2. OS EIXOS

1.Político (decaído)

a) Propriamente dito (neutralizar o inimigo): após a redemocratização, sempre foi o


mais disfarçado (Roriz 2001) e hoje em dia é o menos importante, pois o político já
parece ter sido "destronado" (Brown) pelo neoliberalismo, pelo menos quanto a esse
aspecto de associação com a área cultural, após a captura inclusive de governos de
esquerda, federais e distritais. O neoconservadorismo sim se divorciou do cultural,
mas aqui no DF não chega a ser o caso da Administração;

b) Administrativo: razões (reais) de ordem pública, segurança, saúde, etc. No mais


das vezes virou puro disfarce do eixo moral. Mas também pode ser verdadeiro e
ainda assim desproporcional, violador de direitos. Mais associado a poder disciplinar
e biopoder. Pode ser legítimo (ex.: pandemia, no início; blocos exponencialmente
grandes).
ESTRUTURAÇÃO
CAPÍTULO II (cont.)

2. OS EIXOS (cont.)

2. Moral

a) Capturou todos os argumentos que antes eram do biopoder, mas antes pelo
menos eram "legítimos". Hoje, a moralidade tradicional camufla-os todos: ordem
pública, segurança pública, segurança no trânsito, segurança nos eventos,
patrimônio público, política antidrogas, meio ambiente (silêncio). Mesmo a pandemia,
que começou como um argumento legítimo, e ainda o seria até o fim, rapidamente
revelou o tratamento diferenciado. O que sobressai é o projeto moral neoliberal:
individualismo, defesa da propriedade privada, familismo/adultismo, elitismo, racismo,
lgbtqia+fobia;

b) Não que não venham prosperando os argumentos descaradamente morais-


conservadores: machismo, intolerância religiosa, lgbtfobia, etc. (vide Crivella/RJ, por
exemplo). Não recair na tentação maniqueísta.
ESTRUTURAÇÃO
CAPÍTULO II (cont.)

2. OS EIXOS (cont.)

3. Econômico:

a) a apropriação comercial/domesticação da cena cultural com avanço sobre


espaços públicos. Não está exatamente no objeto proposto, mas proponho falar
alguma coisa sobre o Carnaval

b) caminho aberto para o governo patrocinar o avanço de bairros residenciais sobre


bairros comerciais e espaços públicos (gentrificação à candanga: avanço residencial,
novas fronteiras imobiárias, degradação de bairros comerciais e expulsão de
população de rua). Destruição criativa (criadora). O caso do Setor Comercial Sul.
ESTRUTURAÇÃO
CAPÍTULO III (último.)

RESISTÊNCIA E INSURGÊNCIA
1. Herrera Flores: Direitos humanos como processos de luta. Visibilizar,
desestabilizar, propor. Visibilizar a opressão à cultura noturna no DF como um
sistema articulado, e não fatiadamente.
2. O Direito Achado na Rua: a Rua como o espaço de criação e realização do
direito, apresentado e posto à disposição do povo na qualidade de sujeito
histórico com capacidade criativa, criadora e instituinte de direitos.
3. A festa como insurgência. Resgate de Bakhtin, Duvignaud, Maffesoli.
4. Quem Desligou o Som? (2014-2018) Música não é barulho. Direito à ocupação de
espaços. Frustração do projeto de revisão da Lei do Silêncio.
5. Ocupações: Balada em tempos de crise, Festival Ocupa! (Piscina de Ondas),
revitalização espontânea do Setor de Diversões Sul.
6. Desestabilizar: inclusão da cultura noturna nos discursos oficiais; suspensão da
"revitalização" do SCS no Iphan-DF.
7. Propor caminhos: insistir na legislação? Novas audiências públicas na CLDF.
Arrefecimento da pandemia: e agora?

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