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ACADEMIA DE MULTIPLICADORES - MÉDIO EM TEOLOGIA

TEONTOLOGIA ÊNFASE “AÇÃO DE DEUS"


O PLANO DE DEUS - AULA 1
PROFESSOR - PR RENATO SILVA

Para onde vai a história e por quê? E se nada está fazendo com que o padrão da
história se desenvolva como se dese volve? São perguntas com que se
defrontam todas as pessoas que pensam, afetando de modo decisivo todo o
estilo de vida delas. A resposta do cristianismo é que Deus tem um plano que
inclui tudo o que ocorre e que ele está atuando neste momento, concretizando
seu piano.

De nição
Podemos de nir o plano de Deus (que muitas vezes é designado como seus
decretos) como sua decisão eterna no eternidade passada, tornando certa a
concretização de todas as coisas que virão a acontecer. Existem analogias
que, embora necessariamente insu cientes, podem nos ajudar a compreender
esse conceito. O plano de Deus é como os planos da arquiteta, desenhados
primeiro em sua mente e depois no papel, de acordo com a intenção e o desejo
dela, e só posteriormente executados em estr tura concreta. Ou pode-se pensar
em Deus como um general que elabora com cuidado um plano de batalha a ser
executado por seu exército.

Preordenar e predestinar
Vamos usar o termo preordenar em sentido mais amplo, ou seja, em referência às
decisões divinas a respeito de quaisquer questões no âmbito da história cósmica.
"Prede tinar" cará reservado para a questão da salvação ou condenação
eterna. Dentro da predestinação, "eleição" será usado para designar o ato
positivo de Deus ao escolher indivíduos, nações ou grupos para que tenham vida
e comunhão eterna com ele, enquanto "reprovação" será usado para designar a
predestinação negativa ou o ato de Deus escolher alguns para sofrer condenação
ou perdição eterna.

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Antigo Testamento
1. Para os autores do Antigo Testamento, era praticamente inconcebível que
alguma coisa pudesse acontecer à parte da vontade e da obra de Deus.

2. Chover. Como prova disso, considere que expressões impessoais comuns


como "choveu" não são encontradas no Antigo Testamento. Para os hebreus,
a chuva não era algo que simplesmente acontecia; Deus enviava a chuva. O
povo o via como o determinante todo-poderoso de todas as coisas que
ocorrem. Deus mesmo comenta, por exemplo, acerca da destruição in igida
pelo rei da Assíria: "Acaso, não ouviste que já há muito dispus eu estas cousas,
já desde os dias remotos o tinha planejado? Agora, porém, as faço executar e
eu quis que tu reduzisses a montões de ruínas a cidades forti cadas" (Is 37.26).

3. Construção de um reservatório. Até algo aparentemente trivial como a


construção de reservatórios é descrita como um fato planejado com muita
antecedência (Is 22.11). Além disso, no plano de Deus há uma preocupação
especial com o bem-estar da nação de Israel e de cada um dos lhos de Deus
(SI 27.10,11; 37; 65.3; 91; 121; 139.16; Dn 12.1; Jn 3.5).

4. O Antigo Testamento também enuncia a crença na e cácia do plano de


Deus. O que está acontecendo agora acontece porque está (e sempre
esteve) no plano de Deus. O que prometeu, ele o fará. Aliás, em Isaías
14.24-27, lemos não apenas sobre a delidade de Deus a seus propósitos
solenemente declarados, como também sobre a futilidade de se opor a eles:
"Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A
sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?" (v. 27; cf. Jó 42.4; Jr.
23.20; Zc 1.6).

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5. Na literatura sapiencial e nos profetas a ideia de um propósito divino
abrangente é proeminente. Desde o início, por toda a eternidade, Deus tem
um plano abrangente que comporta toda a realidade e se estende até os
menores detalhes da vida. "O SENHOR fez todas as cousas para determinados
ns e até o perverso, para o dia da calamidade" (Pv 16.4; cf. 3.19,20; Jó 38,
especialmente v. 4; Is 40.12; Jr 10.12,13). Nós, humanos, talvez nem sempre
compreendamos quando Deus executa seu propósito em nossa vida. Essa foi a
experiência de Jó ao longo do livro que leva seu nome; ela é articulada
especialmente em 42.3: "Quem é aquele, como disseste, que sem
conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia;
cousas maravilhosas demais para mim, cousas que eu não conhecia".
Portanto, segundo o entender do crente veterotestamentário, Deus criara o
inundo, dirigia a história e tudo isso era apenas a concretização do plano
preparado na eternidade, estando relacionado com sua intenção de ter
comunhão com seu povo.

Novo Testamento
1. Jesus. O plano e o propósito de Deus é também proeminente no Novo
Testamento. Jesus a rmou que Deus havia planejado não apenas os eventos
grandes e complexos, tais como a queda e destruição de Jerusalém (Lc
21.20-22), mas também detalhes, como a apostasia e a traição de Judas e a
delidade dos demais discípulos (Mt 26.24; Mc 14.21; Lc 22.22; Jo 17.12;
18.9). O cumprimento do plano de Deus e da profecia do Antigo Testamento é
um tema proeminente nos escritos de Mateus (1.22; 2.15, 23; 4.14; 8.17; 12.17;
13.35; 21.4; 26.56) e João (12.38; 19.24, 28, 36). Embora os críticos possam
objetar, alegando que algumas dessas profecias foram cumpridas por pessoas
que as conheciam e poderiam ter interesse em vê-las cumpridas (e.g., Jesus
cumpriu SI 69.21 ao dizer "Tenho sede" [Jo 19.28]), é notável que outras
profecias tenham sido cumpridas por pessoas que não tinham desejo de
cumpri-las e, provavelmente, nem as con eciam, tais como os soldados
romanos que lançaram sortes sobre a túnica de Jesus e não quebraram
nenhum de seus ossos.3Mesmo quando não havia nenhuma profecia

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especí ca a cumprir, Jesus transmitia um senso de necessidade quanto aos
eventos futuros. Por exemplo, ele disse aos discípulos: "Quando, porém,
ouvirdes falar de guerras e rumores de guerras, não vos assusteis; é necessário
assim acontecer, mas ainda não é o m [...] é necessário que o evangelho seja
pregado a todas as nações" (Mc 13.7,10).

2. Os apóstolos. Os apóstolos também destacaram o propósito divino. Pedro


disse em seu discurso no Pentecostes: "este [foi] entregue pelo determinado
desígnio e pre ciência de Deus, vós o matastes, cruci cando-o por mãos de
iníquos" (At 2.23). Ao escrever o livro de Apocalipse, o apóstolo João deu-nos
um exemplo especialmente notável de fé no plano divino. O tom de certeza
que permeia todo o livro, toda a série de eventos ali preditos, brota da fé no
plano e na preordenação de Deus.

3. Paulo. É nos escritos de Paulo que o plano divino de acordo com o qual tudo
acontece torna-se mais explícito. Tudo que ocorre acontece por escolha de
Deus e de acordo com sua vontade (ICo 12.18; 15.38; Cl 1.19). A própria sorte
das nações é determinada por ele (At 17.26). A obra redentora de Deus
desenvolve-se de acordo com seus propósitos (G1 3.8; 4.4,5). A escolha de
indivíduos e nações para si e os acontecimentos conseqüentes são obras
soberanas de Deus (Rm 9 —11). Pode-se muito bem usar a gura do oleiro e
do barro, que Paulo emprega em uma referência um tanto especí ca e limitada
(Rm 9.20-23), e vê-la como expressão de toda sua loso a de história. Paulo
entende que "todas as cousas" que acontecem são parte da vontade de Deus
para seus lhos (Ef 1.11,12). Assim, Paulo diz que "todas as cousas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo
o seu propósito" (Rm 8.28), seu propósito sendo o de que sejamos "conformes
à imagem de seu Filho" (v. 29).

A natureza do plano divino

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Agora precisamos compilar, dessas referências bíblicas numerosas e variadas,
algumas características gerais do plano de Deus. Isso nos permitirá compreender
de modo mais completo como é esse plano e o que podemos esperar de Deus.

1. O plano de Deus é desde a eternidade passada. O salmista disse que Deus


planejou todos os nossos dias antes de haver algum deles (SI 139.16). Em
Efésios, Paulo indica que Deus "nos escolheu, nele [Cristo], antes da
fundação do mundo" (1.4). Tais decisões não são tomadas à medida que a
história se desenvolve e os fatos ocorrem. Deus manifesta seu propósito
dentro da história (2Tm 1.10), mas suas decisões foram tomadas desde a
eternidade, antes do início do tempo (veja tb. Is 22.11).

2. O plano de Deus é eterno por isso não contém nenhuma seqüência


cronológica, mas lógica. Não existe nem antes nem depois na eternidade.
Existe, é claro, uma seqüência lógica (e.g., a decisão de deixar Jesus morrer
na cruz segue, logicamente, a decisão de enviá-lo à terra), e existe uma
seqüência temporal na concretização dos acontecimentos que foram
decretados; mas não existe seqüência temporal no ato divino de desejar algo.
E uma decisão simultânea coerente.

3. O plano eterno é Deus que tomou decisões livres. Isso é inferido de


expressões como: "beneplácito de sua vontade". Também está implícito no
fato de ninguém tê-lo aconselhado (nesse sentido, não há ninguém que possa
aconselhá-lo). Isaías 40.13,14 diz: "Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou,
como seu conselheiro, o ensinou? Com quem tomou ele conselho, para que
lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou
sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento?" Paulo cita essa
mesma passagem na conclusão de sua grande declaração sobre a soberania
e a inescrutabilidade das obras de Deus (Rm 11.34). Assim como as decisões
de Deus não brotam de nenhuma determinação externa, também não são fruto
de uma compulsão interna. Isto é, embora as decisões e os atos de Deus
sejam bem coerentes com sua natureza, não são coagidos por sua natureza.

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Deus não teve de criar. Ele precisava agir com amor e santidade em tudo
quanto zesse, mas não se exigia que criasse. Livremente, por razões que nos
são desconhecidas, ele resolveu criar.

4. O propósito do plano de Deus é Sua glória. Paulo indica que Deus nos
escolheu em Cristo e nos destinou "segundo o beneplácito de sua vontade,
para louvor da glória de sua graça" (Ef 1.5,6). O que Deus faz, ele o faz por
amor ao seu próprio nome (Is 48.11; Ez 20.9). Jesus disse que seus seguidores
deveriam permitir que suas luzes brilhassem de modo que os outros
pudessem ver suas boas obras e glori car o Pai no céu (Mt 5.16; cf. Jo 15.8).
Isso não signi ca que não haja motivações secundárias por trás do plano de
Deus e das ações dele resultantes. Ele providenciou os meios de salvação
para consumar seu amor pela humanidade e sua preocupação com seu bem-
estar. Isso, porém, não é o m último, mas apenas um meio para atingir o
grande m, a glória da própria pessoa de Deus.

5. O plano de Deus inclui tudo. Isso está implícito na grande variedade de itens
mencionados na Bíblia como partes do plano de Deus. Além disso, entretanto,
há declarações explícitas sobre a amplitude do plano de Deus. Paulo fala de
Deus como aquele que "faz todas as cousas conforme o conselho da sua
vontade" (Ef 1.11). O salmista diz: "ao teu dispor estão todas as cousas" (SI
119.91). Se todos os ns fazem parte do plano de Deus, assim também todos
os meios. E apesar de às vezes carmos inclinados a pensar em áreas
sagradas e áreas seculares da vida, do ponto de vista de Deus tal divisão não
existe. Não há áreas que estejam fora de sua consideração e decisão.

6. O plano de Deus cumpre-se. O que ele ordenou desde a eternidade com


certeza acontecerá. O Senhor diz: "Como pensei, assim sucederá, e, como
determinei, assim se efetuará [...] Porque o Senhor dos Exércitos o determinou;
quem, pois, o invalidará? A sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar
atrás?" (Is 14.24, 27). Ele não mudará de idéia nem descobrirá fatores até
então desconhecidos que o façam alterar suas intenções.

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7. O plano de Deus diz respeito ao que Ele decidiu e faz, não ao que Ele é.
Diz respeito a suas decisões quanto ao que deve fazer, não a seus atributos
pessoais. Deus não precisa escolher ser amoroso ou poderoso; aliás, ele não
poderia fazer outra escolha. Portanto, as decisões de Deus dizem respeito a
objetos, eventos e processos externos à sua natureza divina, não ao que é ou
ao que se revela em sua pessoa.

8. O plano de Deus diz respeito ao que Deus faz, garantindo que façamos
livremente o que planejou. Isso também envolve a vontade e a ação humana,
mas apenas de forma secundária, ou seja, como um meio para alcançar seus
propósitos ou como conseqüência de ações por ele praticadas. Note que,
aqui, a função de Deus é decidir que certas coisas ocorrerão em nossa vida,
não dar ordens para que atuemos de determinada forma. O plano de Deus não
nos força a agir de maneira especí ca, mas assegura que vamos agir
livremente daquela forma. Portanto, embora o plano de Deus diga respeito
principalmente ao que Deus faz, também inclui os atos humanos. Jesus
observou, por exemplo, que a reação dos indivíduos à sua mensagem era
conseqüência da decisão do Pai (Jo 6.37, 44; cf. 17.2, 6, 9). Lucas disse em
Aios 13.48 que "creram todos os que haviam sido destinados para a vida
eterna".

9. O plano de Deus inclui boas obras é até as más obras. Os maus atos dos
indivíduos, que são contrários à lei e aos propósitos morais de Deus, também
são vistos nas Escrituras como parte do plano de Deus, como obras
preordenadas por ele. A traição, a condenação e a cruci cação de Jesus são
um exemplo destacado disso (Lc 22.22; At 2.23; 4.27,28).

10. O plano de Deus em seus aspectos especí cos não muda. Deus não muda
de idéia nem altera suas decisões a respeito de determinações especí cas.
Isso pode parecer estranho quando pensamos na suposta alteração de seus
propósitos em *relação a Nínive (Jn) e seu aparente arrependimento por ter

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criado os seres humanos (Gn 6.6). A declaração em Gênesis 6.6, porém, deve
ser entendida como um antropomor smo e o anúncio da destruição iminente,
feito por Jonas, deve ser visto como um alerta usado para concretizar o
verdadeiro plano de Deus para Nínive. Precisamos ter em mente que a
constância é um dos atributos da grandeza de Deus.

O plano de Deus vem antes da vontade humana


Apesar das di culdades em relacionar a soberania divina com a liberdade
humana, ainda chegamos, com base na Bíblia, à conclusão de que o plano de
Deus é incondicional, e não condicional, no que diz respeito à escolha humana.
Não há simplesmente nada na Bíblia que dê a entender que Deus escolhe os
homens por causa do que eles vão fazer por si.

1. Presciência de Deus. O signi cado da palavra (prognõsís) em Rm 8.29 é mais


amplo que simplesmente ter conhecimento prévio ou precognição do que está
por vir como acreditam os arminianos. Parece possuir, como pano de fundo, o
conceito hebraico de yãda, que muitas vezes signi cava mais que simples
consciência. Sugeria um tipo de conhecimento íntimo —chegando a ser usado
para intercurso sexual.

2. Exemplo: Israel não queria Deus. Quando Paulo diz que Deus conheceu de
antemão o povo de Israel, ele não se refere apenas a um conhecimento prévio
de Deus. Aliás, ca claro que a escolha que Deus faz de Israel não foi feita de
acordo com um conhecimento prévio de uma resposta favorável da parte do
povo. Se Deus tivesse previsto tal resposta, certamente estaria errado.
Observe que em Romanos 11.2 Paulo a rma: "Deus não rejeitou o seu povo, a
quem de antemão conheceu", seguindo-se uma discussão sobre a
incredulidade de Israel. Com certeza, nessa passagem, presciência deve
signi car mais que conhecimento prévio. Em Atos 2.23, a presciência está
vinculada à vontade de Deus. Além disso, em IPedro 1, lemos que os eleitos
são escolhidos de acordo com a presciência de Deus (v. 2) e que Cristo era
pré-conhecido antes da fundação do mundo (v. 20). Insinuar que presciência,

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aqui, signi ca nada mais que conhecimento prévio é praticamente privar esses
versículos de todo e qualquer signi cado real. Precisamos concluir que o
termo presciência, conforme empregado em Romanos 8.29, transmite a idéia
de disposição favorável ou seleção, bem como conhecimento prévio.

3. Mais exemplos. Além disso, há passagens em que a natureza incondicional


do plano seletivo de Deus ca bem explícita. Isso é visto na a rmação de
Paulo a respeito da escolha de Jacó em detrimento de Esaú: "E ainda não
eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o
propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por
aquele que chama), já fora dito a ela [Rebeca]: O mais velho será servo do
mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú" (Rm
9.11-13). Parece que Paulo está se esforçando para destacar a natureza
imerecida ou incondicional da escolha que Deus faz de Jacó. Adiante, no
mesmo capítulo, Paulo comenta: "Logo, tem ele misericórdia de quem quer e
também endurece a quem lhe apraz" (v. 18). É muito difícil escapar do
signi cado da gura subseqüente do oleiro e do barro (v. 20-24).
Semelhantemente, Jesus disse a seus discípulos: "Não fostes vós que me
escolhestes a mim: pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei
para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça" (Jo 15.16). Em razão
dessas considerações e outras semelhantes, precisamos concluir que o plano
de Deus é incondicional, e não condicional, em relação aos atos humanos que
ele conheceu de antemão.

Liberdade Humana
Que signi ca dizer que sou livre?

1. Sou livre para fazer qualquer coisa que quero.


2. Mas, sou livre para querer? Pelo que se percebe, não. O que quero é fruto de
quem sou.

3. Outra questão é: desde do início da minha existência, genes e história de vida,


tive liberdade para escolher quem sou? Pelo que se percebe, não.

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4. Minha liberdade, portanto, existe dentro dessas limitações. Por conseguinte,
minha liberdade deve ser compreendida como minha capacidade de escolher
entre várias opções de acordo com o que sou.
5. E o que sou é uma conseqüência da decisão e da atividade de Deus. Deus
está no controle de todas as circunstâncias que regem minha situação de vida.
Ele pode empregar (ou permitir que sejam empregados) fatores que farão com
que determinadas opções sejam atraentes para mim. Por meio de todos os
fatores que atuaram na minha vida no passado, ele me in uenciou para que eu
fosse o tipo de pessoa que sou agora. Aliás, ele afetou o que aconteceu ao
desejar que eu fosse a pessoa a ser trazida à existência.

Vontade de Deus e liberdade humana


1. Possibilidade e realidade. O fato de Deus garantir as decisões e ações
humanas é compatível com a liberdade humana? Nossa resposta depende do
que entendemos por liberdade. De acordo com a posição que estamos
defendendo, a resposta à pergunta: "Será que o indivíduo podia ter feito outra
escolha?" é sim, mas a resposta à pergunta: "Mas ele fez outra escolha?" é
não. Em nosso entendimento, para que exista a liberdade humana, só é
necessário que a primeira pergunta seja respondida de modo a rmativo. Isso
signi ca que em nosso entendimento, o ser humano ter possibilidade de
escolher qualquer coisa já é liberdade humana. Mas, não signi ca que só
porque ele tem todas as possibilidades é que ele vai quere-las. Aí, não.
Resumindo: tenho todas as possibilidades, mas não quererei todas.

2. Erro dos arminianos. Mas outros diriam que a liberdade humana só existe se
ambas as perguntas puderem ser respondidas a rmativamente; ou seja, se o
indivíduo não apenas pudesse fazer outra escolha, mas também pudesse ter o
desejo de fazer outra escolha. Segundo entendem, liberdade signi ca
espontaneidade total, escolha aleatória. Destacaríamos para eles que, no que
diz respeito a decisões e ações humanas, nada é completamente espontâneo
ou aleatório. Há uma medida de ‘previsibilidade' no comportamento humano; e
quanto mais conhecemos o indivíduo, mais temos condições de prever suas

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reações. Por exemplo, um amigo chegado ou parente pode dizer: "Sabia que
você ia falar isso". Se concluirmos que liberdade signi ca escolha aleatória, a
liberdade humana é uma impossibilidade prática. Mas se liberdade signi ca
capacidade de escolher entre opções, a liberdade humana existe e é
compatível com o fato de Deus garantir nossas decisões e ações. Deve-se
notar que se a certeza do que ocorrerá é incompatível com a liberdade, a
presciência de Deus, como os arminianos a entendem, apresenta tantas
di cu dades para a liberdade humana quanto a preordenação divina. Pois se
Deus sabe o que vou fazer, deve haver alguma certeza de que eu o farei. Se
não houvesse certeza, Deus não teria como sabê-lo; ele poderia cometer erros
(eu poderia agir de modo diferente do que ele espera). Mas se o que vou fazer
é certo, então com certeza vou fazê-lo, quer eu saiba quer não o que vou fazer.
Vai acontecer! Mas nesse caso será que sou livre? No entender daqueles cuja
de nição de liberdade exige a implicação de que não pode haver certeza de
que determinado fato ocorrerá, presume-se que eu não sou livre. Para eles, a
presciência divina é tão incompatível com a liberdade humana quanto a
preordenação.

3. Deus e as possibilidades. Pode parecer que a escolha divina que


defendemos seja igual à idéia arminiana de presciência. Mas há uma diferença
signi cativa. Na concepção arminiana, é uma presciência de entidades
realmente existentes. Deus simplesmente escolhe con rmar, digamos, o que,
segundo ele prevê, os indivíduos reais vão decidir e fazer. Em nossa
concepção, no entanto, Deus tem presciência de possibilidades. Deus prevê o
que pessoas em potencial farão caso sejam colocadas em certas situações,
com todas as in uências que estarão presentes naquele ponto do tempo e do
espaço. Tomando isso por base, ele escolhe os indivíduos em potencial que
tomar-se-ão reais e as circunstâncias e in uências que estarão presentes.Ele
tem conhecimento prévio do que esses indivíduos vão fazer livremente, pois,
na prática, tomou tais decisões ao escolher trazer exatamente eles à
existência.

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Vontade de Deus: o que lhe agrada e o que decide.
1. Entenda: A primeira (agrada) é intenção geral de Deus, os valores com que se
agrada. A última (decide) é a intenção especí ca em dada situação, o que ele
decide que deve de fato acontecer. Há ocasiões, muitas delas, em que Deus
deseja permitir e, portanto, faz com que ocorra, o que ele na realidade não
quer. É o caso do pecado. Deus não deseja que o pecado ocorra. Há ocasiões,
no entanto, em que ele simplesmente diz: "que seja", permitindo que o homem
escolha livremente uma conduta pecaminosa.Por exemplo, o pecado é
universalmente proibido, mas, ao que parece, Deus quer que ele ocorra. Com
certeza, as Escrituras proíbem o homicídio, mas execução de Jesus foi, ao que
parece, desejada por Deus (Lc 22.22; At 2.23). Além disso, é dito que Deus não
deseja que ninguém pereça (2Pe 3.9), mas, ao que parece, na realidade ele não
quer que todos sejam salvos, já que nem todos serão salvos.

2. Exemplo: pais e lhos. Somos aqui lembrados da forma como os pais às


vezes tratam os lhos. A mãe pode querer que o lho evite certo tipo de
comportamento, e pode dizer-lhe isso. Mas há situações em que, apesar de ver
o lho prestes a concretizar o comport mento proibido, ela escolhe não
intervir para evitá-lo. Eis um caso em que a mãe anseia claramente que a
criança não tenha um comportamento, mas a vontade dela é que o lho faça o
que quer. Ao escolher não intervir para prevenir o ato, a mãe está, na prática,
desejando que aquilo aconteça. Essa talvez deva ser a maneira de entender o
tratamento que José recebeu da parte dos irmãos. Aquilo não agradou a Deus;
não estava de acordo com o que ele é. Deus porém, quis permiti-lo; ele não
interveio para que fosse evitado. E o mais interessante é que Deus usou a ação
deles para produzir a própria coisa que eles queriam evitar —a ascendência de
José.

Vontade de Deus e a proatividade humana


1. Faz sentido agir? Se Deus já garante o que vai acontecer, faz algum sentido
carmos tentando cumprir sua vontade? Aquilo que fazemos realmente afeta o
que acontece? Essa questão interessa principalmente à evangelização. Se

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Deus já escolheu (elegeu) os que serão salvos e os que não serão, que
diferença faz se nós (ou qualquer outra pessoa) procurarmos propagar o
evangelho? Nada pode mudar o fato de que os eleitos serão salvos e os não
eleitos não serão.

2. Faz sentido evangelizar? Dois pontos devem ser destacados à guisa de


resposta. (1) Um é que se Deus já tem estabelecido o m, esse plano também
inclui o meio para alcançá-lo. Seu plano bem pode incluir nosso testemunho
como o meio pelo qual uma pessoa eleita chegará à fé salvadora. Assim, é
preordenado por Deus que testemunhemos àquela pessoa. (2) A outra
consideração é que não conhecemos em detalhes o plano de Deus. Portanto,
precisamos proceder com base no que Deus revelou acerca de sua vontade.
De acordo com ela, precisamos testemunhar. Isso pode signi car que uma
parte do nosso tempo é gasta com alguém que, no nal, não vai entrar no reino
do céu. Mas isso não signi ca que perdemos tempo. Isso bem pode ser o meio
de cumprir outra parte do plano de Deus. E, em última análise, à delidade não
o sucesso, é a medida com que Deus avalia nosso serviço.

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