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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE FARMÁCIA
DISCIPLINA FARMACOTÉCNICA I – FAR 613

DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTO MAGISTRAL


PARA USO VETERINÁRIO

Ouro Preto
2022
DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTO MAGISTRAL
PARA USO VETERINÁRIO

Relatório apresentado à Escola de


Farmácia da Universidade Federal de Ouro
Preto, como parte dos requisitos para obtenção
da conclusão do curso de Farmacotécnica.

Discentes: Regiane Silva, Gabriela Pires, Josiane Souza, Hellen de Paula e Paulo Victor
Docente: Prof. Gisele Rodrigues da Silva

Ouro Preto
2022
1 INTRODUÇÃO

Medicamentos veterinários possuem um importante papel na saúde e bem estar


animal e na proteção da qualidade e segurança dos alimentos de origem animal. Os
medicamentos veterinários são comumente usados em animais destinados à produção de
alimentos com a finalidade de tratamento ou prevenção de doenças ou de promoção do
crescimento. (Agência Nacional de Vigilância Sanitária -Anvisa).
De acordo com os Decretos nº 5.053/2004 e nº 8.840/2016, todo estabelecimento que
manipule produto de uso veterinário (independentemente se o(s) insumo(s) utilizado(s) na
preparação forem)de uso comum – humano e veterinário), obrigatoriamente deve estar
registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para efeito de
licenciamento. Revista ANFARMAG Nº116.
A farmácia magistral tem evoluído muito nos últimos anos e a medicina veterinária
também. É notável que a criação de animais domésticos vem aumentando, e que os tutores
vêm humanizando mais seus animais. A manipulação de medicamentos apresenta uma série
de vantagens, principalmente no âmbito da adesão do animal ao tratamento proposto pelo
médico veterinário. A possibilidade de obtenção de medicamentos individualizados, em
formas farmacêuticas e dosagens específicas, com características organolépticas compatíveis
com as exigências dos pacientes, é capaz de proporcionar maior comodidade aos tutores no
momento da administração, principalmente de medicamentos de uso contínuo. ( Diego
Fontana de Andrade; et.al).
Para que um produto seja utilizado e comercializado, ele deve passar por um rigoroso
processo baseado num conjunto de documentos, relatório técnico e comprovação de sua
eficácia, qualidade e segurança. Neste trabalho discutiram-se as etapas envolvidas no
desenvolvimento de medicamento magistral de uso veterinário. Trata- se de um pó
antipruriginoso e secativo.

1.1 Boas práticas de manipulação de medicamentos veterinários

É parte da Garantia da Qualidade (GQ) que assegura que os trabalhos desenvolvidos


no laboratório (análises, calibração de aparelhos, registro de resultados, entre outros) sejam
consistentemente planejados, produzidos, monitorados e registrados, arquivados e relatados, e
atendam aos princípios da qualidade, incluindo a organização e o pessoal. (Formulário
Nacional Da Farmacopeia Brasileira 2ª edição - Revisão 02 2012)
A manipulação de medicamentos para uso veterinário começou a ser normatizada
pelo Decreto 5053/2004que regulamenta a fiscalização de produtos veterinários e dos
estabelecimentos que os produzem, manipulam ou comercializam. Em 2005 veio outras
normativas do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA): IN 11/2005, que
determina as boas práticas de manipulação de produtos veterinários a IN41 que altera e dá
nova redação à IN11/2005, e o Decreto 8084/2016 que altera e dá nova redação ao decreto
5053/2004.
É muito importante a leitura e o conhecimento das legislações pertinentes, antes de
dar a entrada no processo de petição junto ao MAPA, para obtenção da licença para que a
farmácia possa manipular os produtos veterinários. O envio de dados incompletos e/ou
equivocados, como por exemplo, o envio de POPs com a redação: “Em conformidade com a
RDC67/2003....”, quando deveria ser: “Em conformidade com a IN11/2005....”, isto é um dos
motivos de demora na liberação da licença do estabelecimento pelo MAPA
Uma vez liberada a licença, é importante que o farmacêutico já tenha treinado a sua
equipe para a execução de todas as rotinas e técnicas para não cometer erros graves. Por
exemplo, certos ativos são muito tóxicos para gatos, como o paracetamol, ibuprofeno, ácido
acetilsalicílico, etc, quando administrados via oral, e o propilenoglicol e o peróxido de
benzoíla em formas tópicas. 
As conferências inicial e final devem ser feitas observando as doses em mg/kg/dia, e
isto é um grande diferencial do medicamento magistral veterinário frente ao medicamento
industrializado que é administrado em função do porte do animal: pequeno, médio, grande
porte e gigante. Para cães de pequeno porte (até 10 kg), a dose indicada pelo porte do animal
pode intoxicar um cão de peso de 3,0 a 5 kg. 
Uma preparação indevida de um fármaco que leve um cão ou um gato a óbito poderá
levar o estabelecimento e seu responsável a responderem por crime ambiental, que é
inafiançável! Na dúvida, nunca manipule! Procure estudar cuidadosamente com o veterinário,
ou se informe através da literatura especializada a respeito daquela formulação.

1.2 A importância do profissional farmacêutico veterinário


O farmacêutico veterinário é o profissional especialmente treinado que fabrica e/ou
dispensa medicamentos veterinários, suprimentos ou produtos de origem farmacêutica e
indica como utilizá-los adequadamente, atua também em todas as atividades privativas à sua
função dentro do ambiente veterinário, além de cumprir regulamentos rigorosos e defender
práticas terapêuticas de qualidade, baseadas em pesquisa e educação.
A carreira farmacêutica especializada em farmácia magistral é valorizada pelo
mercado de trabalho e vem se tornando cada vez mais complexa com o advento de novas
tecnologias e mudanças na legislação do setor.(ICTQ)
Ser farmacêutico magistral exige do profissional conhecimentos aprofundados de
farmacotécnica, gestão farmacêutica, prescrição farmacêutica e da legislação sanitária do
setor. Habilidade de negociação, aptidão para tarefas administrativas e ser capaz de liderar e
se comunicar de forma efetiva são imprescindíveis, visto que esses profissionais assumem,
muitas vezes, cargos gerenciais nas empresas onde atuam. O inglês é muito importante para
acessar a literatura técnica da área. (ICTQ)

1.2.1 Na farmácia magistral:

- Gerencia os laboratórios de produção de fórmulas magistrais;

- Gerencia a recepção de loja de farmácias de manipulação;

- Gerencia e executa as atividades de controle de qualidade;

- Interpreta e cumpre a legislação pertinente, entre elas a que se refere a substâncias


sujeitas a regime especial de controle;

- Gerencia ou executa a visitação médica;

- Desenvolve formulações farmacotécnicas;

- Qualifica os fornecedores e fabricantes;

- Assegura a aquisição e armazenamento de materiais, como o de preparação,


dispensação e avaliação final;

- Avalia a prescrição quanto à concentração, compatibilidade físico-química dos


componentes, dose e via de administração;

- Garante o controle das informações relacionadas à fabricação, controle de qualidade


e rastreabilidade dos produtos;

- Recebe e acompanha auditoria sanitária;

- Presta serviços de atenção farmacêutica;


- Realiza prescrição farmacêutica.

1.2.2 Em consultorias especializadas:

- Esclarece dúvidas técnicas de clientes;

- Desenvolve formulações para excipientes e bases cosméticas;

- Preparar material técnico para visitação médica;

- Audita sistemas de gestão da qualidade;

- Treinar equipe em Boas Práticas de Fabricação.

1.3 Fisiopatologia do prurido

O prurido pode ser definido como uma sensação desagradável que provoca o desejo de
coçar, manifestado por lambedura, mastigação, roçar em objetos, arranhaduras e mudanças
comportamentais (RESS; LAIDLAW, 1999; LORENTZ et al, 2009). Além disso, o prurido é
um importante sinal de doenças cutâneas e de algumas doenças sistêmicas. A localização, a
presença de lesões e o grau de intensidade do prurido são critérios importantes para definir
diagnósticos diferenciais (SCOTT et al, 2001). É um mecanismo fisiológico auto protetor e,
semelhante a outras sensações cutâneas como dor, toque, percepção de vibração, frio ou calor
que ajuda a defender a pele contra danos do meio ambiente. O prurido pode ser localizado,
regional ou generalizado e pode ser evocado na pele diretamente por estímulos mecânicos e
térmicos, ou indiretamente através de mediadores químicos. Também pode ocorrer como
resultado de doença do nervo periférico ou ser gerado a partir da medula espinhal ou cérebro,
independente da estimulação periférica (STANDER, 2003)

1.3.1 Dermatites

A dermatite atópica canina (DAC) é uma doença cutânea pruriginosa, crônica,


recorrente e multifatorial, que afeta indivíduos geneticamente predispostos. O prurido,
principal sinal clínico desta enfermidade, é um sinal inespecífico presente em diversas
afecções sistêmicas e dermatológicas subjacentes, e é considerado uma das queixas mais
comuns apresentada à clínica veterinária. Devido a uma deficiência na função de barreira
tegumentar, defeitos na resposta imune antimicrobiana e hiper-reatividade cutânea, eventos
imunomediados deflagram inflamação e prurido. 
As dermatopatias são as causas mais frequentes de consultas clínicas médico
veterinárias. Estima-se que entre 20 e 75% de todos os animais examinados na rotina clínica
veterinária apresentem enfermidades do sistema tegumentar como queixa principal ou como
doença secundária. Dentre as afecções mais comumente encontradas, está a Dermatite
Atópica Canina (DAC). Sua prevalência tem sido estimada em cerca de 10% da população
canina e representa a segunda causa mais comum de prurido, sendo a primeira, a dermatite
alérgica à picada da pulga (PRÉLAUD, 2005). Scott et al (2011) estimam que o prurido seja a
principal queixa dos tutores, sendo responsável em média por 30 a 40% das consultas
dermatológicas de cães e gato

2. OBJETIVOS

Manipular um medicamento na forma farmacêutica em pó antipruriginoso e secativo


de uso tópico e veterinário.

3. METODOLOGIA

Foi empregado um estudo exploratório através de pesquisa bibliográfica sobre a


estrutura das farmácias magistrais voltadas para o uso veterinário, bem como, a realização de
uma pesquisa sobre as formas farmacêuticas e suas utilizações. Logo após, foi selecionado
através dos materiais disponíveis em laboratório a preparação de um pó antipruriginoso a base
de cânfora e mentol.

3.1 Forma farmacêutica

Como preparação farmacêutica, um pó é uma mistura de fármacos e ou substâncias


químicas finamente divididas e na forma seca. Alguns pós são destinados ao uso interno e
outros ao uso externo. Em alguns casos podem ser utilizados misturados nos alimentos.
Podem ser classificados em simples, quando derivados de uma droga ou em compostos
quando derivados de uma mistura de duas ou mais drogas.

No caso da nossa preparação, a cânfora e o mentol não devem ser misturados juntos
pois se liquefazem. Por isso foi escolhido o óxido de zinco e o amido como base para mistura
e assim evitar que ambos mentol e cânfora se misturem.

3.2 Materiais e métodos

Materiais: Balança de precisão, cinco vidros de relógio, bastões, béquer, pás para medição,
graal grande e pistilo, dois graal médios e pistilo e embalagem para armazenamento.

Matérias-primas (USO EXTERNO):

Componentes Quantidade a ser


pesada em gramas
Mentol 0,25 g
Canfora 0,25g
Amido 1,5g
Oxido de Zinco 1,5g
Talco 21,50g

3.3 Preparação

Pesou-se todos os componentes da formulação; a cânfora e o mentol foram macerados


para a pesagem, após isso foram deixados separados próximos na bancada. A cânfora foi
misturada suavemente com o óxido de zinco em um graal médio até obter um pó homogêneo,
após isso foi adicionado aproximadamente a mesma quantidade de talco e misturado até obter
um pó homogêneo. Essa preparação foi transferida para um graal maior e reservado.
O mentol foi misturado ao amido em um graal médio até se obter um pó homogêneo,
logo após isso foi adicionada uma proporção aproximada de talco e misturado até obter
homogeneidade.
No graal maior onde a preparação de cânfora estava foi adicionado o restante da
pesagem de talco e misturado até obter homogeneidade, logo após foi adicionado o mentol
com amido e seguindo o mesmo procedimento. Ao final, o preparado foi envasado em um
pote pequeno com a quantidade final de 25g de formulação.

3.4 Propriedades

- MENTOL

Mentol é um composto orgânico obtido por síntese ou da extração do óleo de mentha


piperita ou outros óleos essenciais. Ele é um material ceroso, cristalino, de cor clara ou
branca. Na temperatura ambiente, encontra-se em estado sólido, e entra em estado de fusão a
poucos graus acima. O Mentol também é famoso por suas propriedades anestésicas e anti-
inflamatórias.

- ÓXIDO DE ZINCO

O óxido de zinco é uma substância adstringente com ação antisséptica, secativa e


anti-inflamatória de uso tópico. Essa substância funciona como protetor mecânico da barreira
da pele, não apresentando efeitos tóxicos ou adversos conhecidos.

- CÂNFORA

As propriedades da cânfora incluem sua ação antiepiléptica, antineurálgica,


antirreumática, antiséptica, descongestionante, calmante e sedativa. Apresenta-se na forma de
cristais ou grânulos brancos ou incolores ou também, como uma massa cristalina; possui odor
característico. Topicamente atua como rubofaciente e analgésico suave pode sert também
aplicado localmente para minimizar coceiras causadas pelas picadas de insetos

- TALCO FARMACÊUTICO

O talco farmacêutico é composto de um material inerte e não tóxico utilizado, entre


outras finalidades, como secativo. Quando aplicado sobre a pele, possui um toque bem suave
e macio, o que é muito interessante para essa formulação ja que a pele dos animais pode ser
bem sensível.
O amido é um pó branco, fino, variando suas características de tamanho e formato das
partículas de acordo com sua origem botânica: amido de milho, batata, arroz e trigo, dentre
outros. É amplamente usado como: Espessante; Estabilizante; Agente gelificante; Veículo,
etc.

5. CONCLUSÃO

Neste trabalho aplicamos todo o conhecimento teórico e prático adquirido na


disciplina de farmacotécnica I, para manipular o fármaco pó de sarna. O farmacêutico
magistral deve sempre buscar atualizações na área de manipulação veterinária e informar os
médicos veterinários, além de propor estudos de natureza prática, propor novas formulações
para veiculação de ativos veterinários.

6. REFERÊNCIAS

- DIEGO FONTANA DE ANDRADE EM 05 ABRIL 2019. POSTADO


EM OPINIÃO – DISPONIVEL EM: https://ictq.com.br/opiniao/910-desafios-do-
farmaceutico-na-manipulacao-de-medicamentos-veterinarios.
- PRÉLAUD, P. Dermatite atopique canine. 2. ed. EMC-Vétérinaire, 2005. 14–29 p.
- RESS, J.L; LAIDLAW, A. Pruritus: more scratch than itch. Clinical and Experimental
Dermatology, v.17, p.490-493, 1999.
- SCOTT, D.W; MILLER, W.H; GRIFFIN, C.E. Muller & Kirk´s Small Animal
Dermatology, 6. ed. Pennsylvania: Elsevier, 2001. v.6, p. 1526.
- STANDER, S., STEINHOFF, S., SCHMELZ, M. et al. Neurophysiology of pruritus –
cutaneous elicitation of itch. Archives of Dermatology, v. 139, p. 1463–1470, 2003.

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