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Filosofia da Índia 1

CURSO DE FILOSOFIA DA ÍNDIA


por Luiz Goulart

ÍNDICE

Índice................................................................1
Introdução ......................................................... 3
Aryavarta .........................................................10
Concepção do Eu .............................................. 18
Estados de consciência ...................................... 24
Mitologia e escolas filosóficas ...........................31
1 - Filosofia Vaizechika .................................... 35
2 - Filosofia Nyaya ........................................... 35
3 - Filosofia Purva-Mimansa ..............................40
4 - Filosofia Sankhya ........................................49
5 - Filosofia Patanjali ........................................54
6 - Flosofia Uttara-Mimansa ou Vedanta .............62
Análise das Escolas Filosóficas ..........................71
A Unidade ...................................................... 80
O Ternário ..................................................... 87
O Septenário ................................................... 95
Princípios da Evolução ....................................103
Kundalini .......................................................111
Estrutura Psíquica e Mental..............................120
A Yoga ...........................................................128
Tantra, Laya e Kriya ........................................136
A Energia de Surya ..........................................144
Vayu .............................................................. 151
Prana - Alento Vital .........................................160
Prana - Matéria Vital .......................................168
Os Princípios da Vida ..................................... 176
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Apas ..............................................................184
Prithivi ...........................................................192
Peculiaridades dos Tattvas ................................200
O poder de Aum ...............................................207
Pranava ...........................................................216
A Palavra perdida .............................................223
O Som Sacrosanto..............................................232
Hierarquias Espirituais .....................................240
O Avatar à luz da Teosofia ................................248
Universalidade da Reencarnação ........................254
A Reencarnação na Índia (upanishads) ...............264
Reencarnação e Metempsicose ...........................271
A Reencarnação segundo ‘o Tibetano’.................280
Os Princípios e a Reencarnação .........................289
Jivatma e Reencarnação ....................................297
A Reencarnação na Escola Sankhya ....................304
A Reencarnação segundo a Vedanta ....................312
Maya e Reencarnação ........................................320
Chitta e Libertação ............................................329
As Escolas menores e a manifestação do homem ..336
Materialistas e Espiritualistas ............................343
O Budismo ....................................................... 351
A Filosofia e dogma do Budismo ........................360
Seitas e Doutrinas .............................................368
A Mensagem Universal ......................................374
Índice................................................................383
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INTRODUÇÃO

Em minhas meditações senti a necessidade de observar


a nítida separação entre a filosofia que tenho procurado
expor e o comum da vida, com seus conflitos, seus
problemas. Esta observação é imprescindível.
A filosofia tem vida independente. Devemos buscá-la cada
vez mais. Vivendo-a vamos ter a força e a vitalidade para
iluminar aquilo que em nós esteja em trevas.
A mente do estudante de filosofia possui reações bem
diferentes da criatura comum. Ela vive a idéia, enquanto que
a criatura comum está presa a coisas e pessoas.
As idéias iluminam as coisas e pessoas geram opiniões
quase sempre restritas e rasteiras.
Com este estado de espírito, podemos ter os olhos mais
altos e assim seguir uma trajetória de estudos mais
proveitosos à nossa existência.
Como não devemos perder tempo, vamos colocar logo em
pauta uma introdução, ou parte da mesma, ao pensamento da
velha Índia. E, diríamos sem receio que este pensamento, para
ser sentido e compreendido, obriga-nos, durante seu estudo, a
nos despojarmos de muita coisa tida como séria. A menos
séria dessas coisas é a nossa personalidade.

* * *
Foi a Índia que mostrou, através de seus arautos, de seus
iogues, de seus místicos profundos – como nenhum povo – a
nulidade das coisas finitas e mortais. Isto, se olharmos a
filosofia extraída da mudança que houve entre a ortodoxia
Bramânica e o ressurgimento do mistério vedantino. Aí já se
podem distinguir dois pontos que devem ser estudados. O
surto Bramânico nunca pode ser definido, em tempo , quando
nasceu. Ele se perde na noite dos tempos. Vamos ver que as
obras mais significativas da velha Índia, como os
Upanishades e outros livros que se perdem numa distância
maior, que vem desde a as codificações dos Manus, foram de
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difícil decifração para o vulgo; e as interpretações trouxeram
sempre muita divisão de conceitos.
Assim, a Filosofia nunca vai ser compreendida como
Bramânica. Ela vai ser sentida, como Vedantina, com os
Vedas. Precisamos também ver uma coisa extraordinária; a
Índia está anexada, de um modo esplendoroso, aos enunciados
persas antigos; e ela se funde, num magnífico processo, entre
as leis básicas do Manu e as forças trazidas por Zaratustra,
sendo que é a Índia mais antiga que o Madzeismo. Ela é mais
antiga que os cânticos dedicados a Surya (o Sol). É mais
antiga mesmo que o culto a Agni, nos seus rituais
arquimilenares.
Essa força do antigo na velha Índia passa a ter valor dentro
de um sábio que expressa uma falange luminosa de Anjos de
Sabedoria: Vyâsa. Nós nunca poderemos esquecer Vyasa , ou
os Vyâsas que trazem os conhecimentos mais profundos da
filosofia Vedanta. É nos Vedas que encontramos a força para
a nossa mente e desenvolvimento de nosso pensamento e
palavra. Nos Vedas encontramos o alento cultural que fez
surgir a maior revolução Mística do mundo Oriental: O
advento de Buddha.
Buddha vem reformular conceitos que se perdiam no
tempo, naquelas regiões que pareciam – de tão embrenhadas
nas selvas da velha Índia – como não existentes. De lá saem
povos e povos que crescem e se agigantam para dentro,
perdendo a estrutura de valores externos, porque essa foi a
grande reformulação e autêntica revolução Budista, à qual
devemos um enunciado de tal ordem que nenhuma filosofia
ocidental logrou atingir. Quando se tenta estudar a realidade
do pensamento humano, dize-se que somente com Buddha a
Índia teve o seu filósofo.
Vai nisso um pouco de desconhecimento de certos
pensadores que antecedem Buddha e que trouxeram a
preparação ao advento do grande sábio.
Não podemos negar, porém, que foi ele que apresentou
proposições definitivas ao ser humano. Proposições essas que
são colocadas em interrogações que não eram feitas pelo
Bramanismo. A mais forte das interrogações foi aquela: “Por
que o homem sofre?”. Essa pergunta, 600 anos antes de
Cristo, continua a reboar pelas montanhas de toda a Terra,
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através de todas as cátedras, dentro dos templos, ressoando
também nas penitenciárias, nos hospitais, nos problemas
dentro dos lares ou individuais. Sempre perguntaremos: “Mas
afinal porque é que eu sofro?”
Buddha levantou esta questão. Uma questão que está
atinente a uma resposta que ningém poderá dar a si mesmo,
sem demorada reflexão e coragem de anulação de muitos de
seus desejos. Talvez de todos, para obter a resposta definitiva
da causa do sofrimento. Buddha nota que o homem e o mundo
são duas coisas distintas. Até então via-se o cenário mesclado
ao homem. O homem, parte deste cenário, presa fácil do
lugar, do ambiente, das pessoas, dos fatos, dos costumes, da
fé, das divisões de classe etc. O homem era algo contido em
si e até dilacerado, destruído pelo ambiente.
Buda mostra que a criatura pode ter um valor intrínseco, e
esse valor sendo subjetivo, seria o meio da libertação.
Primeiro do ambiente, depois dela mesma.
Observai a reformulação de Buddha, Apresentava-se o ser
como vítima de armadilha inexplicável. Segundo as
concepções Bramânicas, puramente religiosas, as almas
traziam da amplidão a liberdade e inesperadamente, viam-se
presas à malha da carne, debatendo-se, sem ter o direito de
indagar. Cabendo-lhes apenas curvar a fronte diante de
Brama, ou mergulhar no Ganges, ou na lama.
A filosofia só nasce quando surge a indagação. Enquanto o
homem não pergunta, não se transforma no Filósofo. O
filósofo que vem poucos séculos depois de Buddha é
Sócrates. E Sócrates é essencialmente Budista, porque não
deixou que nada ficasse sem indagação. Ele perguntava: O
que é isto?
Buddha acha que esta indagação pode ter uma resposta
definitiva. Ele expõe as cores do mundo. Peregrinando,
conseguiu formar em torno dele (ainda lembrando Sócrates),
aqueles que iriam ouvi-lo, como se fora um sofista, na praça.
Todos os que pudessem caminhar com ele – isto foi próprio
dos primeiros pensadores, como igualmente vamos encontrar
seis séculos depois em Jesus – ouviram a afirmação de que os
seguidores deveriam tomar a sua própria cruz . Buddha, neste
ponto, talvez por ser o início do caminho para a verdadeira
libertação da raça humana, logo se tornou universal..+
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Buddha ensinou:
“Existe a dor. O homem sofre porque deseja. Mas, por que
deseja e sofre? Deseja e sofre porque existe uma Lei”
Aí é que Buddha se torna o grande revelador. O revelador
de uma lei que não podemos mudar. Não há criatura capaz de
modificá-la, não houve pensador capaz de trocá-la com
eficiência, por outra proposição: A Lei da Causalidade.
Buddha descobre esta lei no oriente.
Evidentemente, esta Lei não fora somente parte do advento
de Buddha, mas de todos aqueles que atingiram a contextura
íntima da Sabedoria. Vamos encontrar a Causalidade nos 7
princípios de Herméticos. Entretanto, podemos alinhavar que
um grande pensador dos tempos modernos – Kant – coloca a
causalidade como Lei indispensável: “Se não há causalidade,
as coisas são separadas e não agrupadas, nós não podemos ter
uma noção da influência das partes sobre o todo de um grupo”
Realmente o Ser agrupa num só processamento de fatos,
lágrimas e risos. Se tivermos, porém, cada lágrima, cada riso,
cada acontecimento nosso, em separado, nós nos perdemos
nas coisas separadas. Mas se temos o poder de anexação da
Lei, e a razão de ser das coisas, pois nada em nós, nem em
ninguém, aconteceu por acaso, desmembradamente do todo de
cada vida.
A filosofia de Buddha oferece, aos que tenham a
profundidade da reflexão, um grande avanço para
compreender Jesus , quanto ao julgamento. Porque se nós
quisermos colocar em termos de juízo ou de julgamento os
fatos da vida, vamos ser maiores que a Lei e não merecemos a
vida.
Buddha antecede Jesus quanto à causalidade. Jesus
completa: “Não julgueis para que não sejais julgados”.
Daí colocar o perdão como um processamento. Não é o
perdão uma espécie de beneplácito ou alguma coisa que se
faça a alguém porque somos superiores, mas porque, pelo
contrário, somos fracos – mais fracos que a Lei. E é por isso
que o perdão toma uma contextura maior para aqueles que
entendem a filosofia de Buddha. O perdão nunca seria válido
se antes não tivesse aparecido um Ser que iluminasse a
filosofia do mundo com a Lei da Causalidade.
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Se passarmos a refletir melhor, vamos ver que cada caso
acontecido surge por uma causa essencial.
Buddha vai ao âmago da questão e chama de desejo a causa
essencial. Desejo de ter, desejo de continuar, desejo de não
perder – desejo que prende o ser à sua própria vida, deixando
nele o temor da própria morte.
Buddha é um pensador frio. Ele não é nem jamais seria, o
que o falso misticismo religioso fez dele: uma criatura, ou um
Deus, que pudesse atender às rogativas, para modificar nossa
vida.
A piedade, para Buddha, é a compensação da Lei. Pelos
atos diferentes que geraram conflitos atuais nós teríamos
pensamentos e atos novos, que gerariam uma nova estrutura
de vida.
Mas, enquanto persistirmos no mesmo mecanismo limitado
e restrito de nossos desejos, todas os coisas tomam uma
posição restrita e limitada, porque o cerne do sofrimento é o
desejar.
A antítese do processo do desejo é o desprendimento. Daí
se dizer que Buddha é o pensador que abarca em si mesmo
três ensinamentos essenciais:
1 – A causa da dor.
2 – A libertação da dor.
3 – O atingir da beatitude, ou do nirvana.
Não significa, em absoluto, na filosofia de Buddha, ser este
nirvana, uma espécie de céu dos católicos. Não quer dizer
morrer para viver num estado de bem aventurança eterna.
Não! É o nirvana o estado de consciência que logra todo
aquele que pode diminuir, ou acabar com o seu desejo.
Todas as vezes que implica desejarmos alguma coisa
excessivamente, perdemos a tranqüilidade. Os desejos são
sempre mais fortes que as coisas adquiridas pelo desejo.
Isto pode ser traduzido, facilmente, em termos materiais.
Um homem desenvolve uma firma dentro do sistema
capitalista. Cada vez mais amplia seu trabalho e seu capital,
porque achará pouco um e outro. Não só porque ele não
admite mais a normalidade do conquistado, mas sim porque
teme a destruição do que já conquistou. Daí o temor gerado
pelo desejo.
O temor é subjetivamente a corda do desejo.
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Vamos parar um pouco, senão poderíamos pensar que a


filosofia de Buddha mescla o pessimismo ao desejo. Não!
Buddha foi capaz de afirmar com doçura que as coisas nascem
e brotam, e vêm a todos os seres naturalmente, vêm para
serem sentidas, vividas e amadas. Mas toda a luta para
conquistar aquilo que se deseja, será sempre uma
continuidade de desejos e de lutas.
Buddha foi possuído, como todo ser grandioso, de um
Amor profundo à espécie. E foi esse amor que fez com que
ele se tornasse cada vez mais desprendido, dizendo mesmo,
num enunciado filosófico, que o Amor glorificava o Ser e o
libertava de seu desejo, porque é um estado e não uma posse.
Se o homem tem alguma coisa material e cultuar o que é
material, Ele só vai ter coisas materiais, que são fáceis de
perder, lembrando mais uma vez Jesus, quando diz:
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a
ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e
roubam.”
Na exemplificação poética – talvez lendária – de Buddha,
diz-se que um príncipe se encanta com as pregações do bem
aventurado ser e lhe traz dois braceletes. Entrega-lhe o
primeiro, enfiando-o em seu braço. Buddha retira-o e o joga
ao rio. O nobre, pensando que aquele gesto fazia parte de
ofício religioso à moda bramânica, diz-lhe:
Senhor, eu ainda tenho outro bracelete, e ainda mais
precioso. – O mestre toma o outro bracelete, jogando-o
também às águas.
O nobre pergunta: - Mas senhor, os braceletes tão
valiosos... porque um e depois o outro?
Responde Buddha: - Eles são iguais e devem ficar juntos,
bem juntinhos, lá no rio. As coisas iguais devem estar sempre
unidas. O bem com o amor, a ternura com a felicidade.
E assim por diante ele vai enunciando todas as coisas que
devem estar unidas e o homem deve vigiar isto e não pensar
em unir coisas heterogêneas...
Costuma-se dizer que dos pensadores orientais – incluindo
os magníficos sábios da China, que Deus há de permitir
também abraçá-los e trazê-los junto a nós, como Fo-Hi, Lao-
Tsé, Confúncio e alguns outros mais. – Buddha foi o filósofo
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positivista. Mas por que positivista? – Porque ele via as
coisas dentro de uma lei irrevogável e não colocava o nome
de Deus na sua filosofia.
Interrogado, porém um dia sobre a ausência de Brahma nas
citações que fazia, o príncipe magnífico eterno e peregrino do
mundo, respondeu:
- Não nego, por não afirmar, mas terá o homem poder para
ir além da Lei?
Ele não negou o poder de Deus, mas achava que a
continuidade dessa cogitação, no caso do Bramanismo, levava
à Fé cega, própria dos ofícios somente religiosos. Seria em
nome de Deus manter permanentemente a criatura acrisolada
ao lodaçal de suas superstições. Nos seus primeiros passos,
bem jovem ainda, quando abandona o palácio do rei, seu pai,
a corte magnífica e até o seu preceptor (o qual era seu grande
amigo desde o nascimento) e peregrina para obter respostas à
causa da dor, ele encontra um célebre sábio de então,
religioso bramânico, que meditava com seus discípulos,
atolado até o pescoço, numa região do Ganges, onde havia
mais lama que água. Ele pede permissão para penetrar no
lodaçal, perguntando se ao penetrar ali obteria resposta àquilo
que era a indagação de sua vida. Todos os religiosos disseram
que o Ganges purificaria de todo o mal, de toda a ignorância,
e que portanto a iluminação se faria.
Eis que penetra no lodo e ali fica. As águas correm e
passam. E o lodo persiste, pegajoso e cruel. Ele na sua
claridade infinita, voa mais alto, com o pensamento. Sacode
um pouco o corpo, ergue-se, lava-se e volta aos que estão
enterrados no lodo. Então, pergunta se o lodo trouxe alguma
resposta àquilo que eles indagavam. Observou que só um
deles tinha ido também indagar alguma coisa.
Os demais não indagavam nada. Penetraram no lodo.
Refere-se um comentador, magnífico adepto, a este assunto,
dizendo ser esta passagem uma parábola, meio lenda, mas
muito verdadeira. Via-se ali a humanidade, no seu processo
de aceitação dos acontecimentos, quer na área social, quer na
religiosa. Todos seguem todos, sem indagar o porquê de seus
pensamentos e de suas palavras.

*
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ARYAVARTA

Queremos ressaltar um ponto imprescindível. Quando nos


referimos à Índia, não localizamos, propriamente, um país
dentro de seus limites territoriais, nem um país conflitado,
como todos os países da Terra. Do mesmo modo não
desejamos estudar a história da Índia, vítima de dominações
estrangeiras, causas prováveis de tanta fome, tristeza e
miséria que nela constatamos.
Preferimos caminhar mais longe, por outras regiões mais
sublimes. Esse mais longe nos leva a uma palavra tida pelos
Rishis como designativa da origem real da Índia – Aryâvarta
ou Aryâvartta – vocábulo sânscrito que expressa a região,
pátria, a terra dos Aryas (ou do Arya, traduzível como nobre
e santo).
Era Aryâvarta a região dos Aryas, autênticos Arianos,
descendentes de uma raça, de origem atlante, que invadiu a
Índia, no período védico. É indispensável lastimarmos que
muitos ilustres eruditos europeus, por desconhecimento da
realidade, se considerem Arianos. Senão, saberiam que quatro
grandes sendas eram apontadas pelos Brâmanes mais sábios,
como indispensáveis à iluminação:
1 - Zrotâpatti (Sotapatti)
2 - Sakridâgamin
3 - Anâg
4 - Arhat.
A primeira expressando o início ou penetração na
verdadeira trilha da iluminação.
A segunda designando aqueles que só necessitam de mais
uma manifestação física na terra.
A terceira apontando os que não devem mais retornar ao
mundo dos homens.
A quarta assinalando a perfeição em toda a sua plenitude.
Assim, Arhat, ou Arahat nasce do mesmo radical que forma
as palavras que designam digno , venerável , santo . Daí os
primeiros sábios Jainas serem chamados de Arahats .
Para Aryâvarta foram conduzidos tesouros preciosíssimos
da Sabedoria Milenar. Quando o velho continente estava
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prestes a desaparecer, tragado pelas águas, os sublimes
mensageiros aportaram em regiões que pudessem preservar o
tesouro da fúria dos elementos da natureza, bem como da
selvageria dos homens. Formou-se, então, junto à migração
normal dos povos, as viagens conscientes dos Adeptos,
sempre prontos a preservar lembranças do que a humanidade
pode fazer de melhor e de mais beleza. Daí as culturas e
idéias e mesmo vocábulos tão semelhantes entre povos de
aparente origem diferenciada. Os Adeptos ou Arahats, sabem
que um único tronco sustenta a árvore da vida humana. Por
isso, é interessante assinalar que quando os Atlantes
chegaram à velha Índia já ali encontraram povos
remanescentes da Lemúria. Daí talvez, essa mescla de
animismo e filosofia, crendice e crença, superstição e
religião, enfim, um desconcertante contraste que a Índia
apresenta, para quem não tem olhos de ver e ouvidos de
ouvir, segundo ensinou Jesus. Lembro também Victor Hugo
que disse: “Toda a lenda tem um fundo de Verdade.”

De modo simbólico e real, a mais alta tradição da Sabedoria


Indiana mantém-se retida entre as regiões mais elevadas de
suas montanhas sagradas. O mesmo vamos sentir nas
maravilhosas civilizações primitivas da América.
Os vales foram reservados ao comércio e `a vida
supersticiosa e até degradante de muitos povos. O Ganges, em
suas águas que marginam vales, pontilhados de religiosos e
animistas, gurus e faquires, não apresenta, como rio sagrado,
a pureza da fonte que gera suas águas, lá no alto das
montanhas.
Não sem razão, portanto, os sábios e místicos indianos
dizem que o Ganges – ou melhor o Ganga – se refere à deusa
deste nome que se transformara em rio e brota, hoje, dos pés
sagrados de Vichnu. Os mais antigos, em vez dos pés do deus
da energia solar, preferem, para o nascimento do Ganga, as
orelhas de Shiva, que derrama suas águas divinas no lago
Anavatapta – cujo nome pode expressar o ar increado (ou
que nasceu por si) – até sair pela boca de Gomukhi, a vaca de
prata.
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O certo é que o Ganga não pode ser esquecido se falarmos
da Índia. Tal absurdo seria igual a buscarmos os mistérios do
Egito, sem navegarmos nas águas do velho Nilo.
Até hoje o Ganges exerce sua influência naquele povo cujo
fascínio nos tem feito, tantas vezes, modificar, ou tentar
transformar nossa vida para imitá-lo. Milhões de ocidentais
sentiram-se e continuam sendo atraídos pelas “águas
sagradas” do Ganges. Se obtêm resultados ou não, pouco
importa. O certo é que todo ocidental vê seus valores morais
e seus hábitos comprometidos quando se aproxima da Índia e
do Gangâ. Às vezes nem é necessária a viagem do corpo. Um
livro lido, ou uma palestra ouvida, modificam a melodia e o
ritmo de nossa maneira ocidental de ser. Um mantra pode
levar-nos à Índia, na mais perigosa e definitiva viagem, sem
retrocesso. Disse perigosa, no caso de querermos, de novo,
sermos o que éramos, Nenhum povo pode, através de rio,
depois do Jordão bíblico, exercer maior influência no
processo psíquico do Ser. Muitos ocidentais, ilustres
personalidades européias acreditam nas águas regeneradoras
do Ganges. Muitos homens de alta projeção no cenário
político e financeiro, de todas as partes da Terra, não
passavam um ano sem anular a sua vaidade, mergulhando
naquelas águas mescladas de gente, superstição, lenda,
fanatismo e, também muita fé. Mr. Eitel diz textualmente que
“as águas do Ganges têm a virtude de lavar os pecados”.
Sendo isso verdade, a Inglaterra inteira deveria encher-se de
Ganges, pelo que de mal, fizeram tanto tempo ao povo Hindu.
Por isso, o rio sagrado não conta só a história do misterioso
povo indiano, cruzando toda a Índia ocidental, deságua no
oceano do Sul, levando, entre detritos, o suor, o sangue e
lágrimas do povo explorado e traído muitas vezes.
Por isso preferimos o Gangâ, lá no alto, bem acima dos
vales, onde as águas são lentas na correnteza, mas
tumultuadas pela presença da multidão ... Lá no alto está o
Himâlaya. Seus habitantes serenos e alheios ao que se passa
no vale, fora o Amor que procuram transmitir aos que choram
ou desejam, em vão, apenas purificar-se pelas águas do “rio
sagrado”. Daí preferir as lendas, aquela que tem a
característica das descrições helênicas de seus deuses e suas
terras. Diz o povo da montanha que Gangâ é a filha mais
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velha de Himavat (ou o próprio Himalaia) e Menâ - também
Manâh ou Manas, a Mente. Não esquecendo que Himavat é o
habitante da casa da neve, ou do silêncio contemplativo. Dir-
se-ia: a Mente e a Solidão.

Menâh foi a esposa do rei Zantanu e teve um filho, Bhichma –


terrível, travesso. Assim como as águas que correm, assim
como o pensamento que sai de nosso silêncio. O rio nasce da
placidez da neve e adquire movimento, sem parar. Aí está o
filho de Bhichma – também chamado Gangeya. Dizem que o
amor de seus pais fez dar-se também a designação de “alento
do sol” à palavra Gangâ.
Formou-se assim, alguma coisa fantástica, maravilhosa,
naquelas regiões mais altas da Índia. Regiões que guardam
todo o tesouro que desejamos encontrar para nossa grandeza
espiritual.
Erradamente muitos autores, não bem informados, tentaram
dar a toda a Índia Antiga o nome de Âryâvarta. Não. A terra
compreendida pela região dos Âryas diz respeito ao centro
emanador da codificação do Manu, ou Guia da Raça
verdadeiramente Ariana, mas cujos raios de sabedoria podem
e devem atingir todos aqueles que se encontrem preparados
para o recebimento interior da Sabedoria Iniciática. Somente
deve-se, portanto, em sentido secreto, chamar-se de Aryâvarta
às terras pertencentes às alturas das cadeias de montanhas
existentes do Himâlaya a Vindhya. De fato, nestes rincões
sagrados os deuses e os homens parecem ter diálogos livres e
luminosos.
Isto para não fugir à tradição das montanhas na mensagem
universal e eterna de todos os povos, sem esquecermos a mais
bela que corporifica o “Sermão da Montanha”, de Jesus.
Ora a Índia, fora a região compreendida por Aryâvarta (que
erradamente, designa-se como toda a Índia), esteve dominada
por forasteiros e aventureiros. Não é como já dissemos, a
Índia somente no sentido de nação que nós procuramos, mas
sim, aqueles mais sábios que fizeram parte e continuam em
suas perquirições e indagações da sabedoria. São eles os
verdadeiros Mestres, cuja tradição de seus conhecimentos
secretos é dada de geração a geração, quase sempre de boca a
ouvido. Embora haja livros notáveis que expressam tais
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revelações. Isto sem falar em muitos outros livros e obras que
fantasiam e lançam sombras sobre a verdade da revelação dos
Mestres.
Os Mestres ou Rishis merecem todo o cuidado ao falarmos
deles. Em geral dizem-se coisas exageradas sobre eles, que
não condizem com a realidade. Ou ainda deixam outros
escritores de mostrar aspectos de suas notáveis figuras, que
bastante influenciariam, de modo benéfico, ao estudante do
caminho iniciático da Índia.
Comumente os mestres são, modernamente, chamados de
Gurus. Os verdadeiros não fazem caso deste ou de outros
títulos. Não se exaltam, nem se deprimem, pelo tratamento do
Mundo. Amam. Sorriem sem desprezo, dos interesses infantis
de homens e mulheres de todas as idades. Sabem que as
criaturas são mais vítimas que algozes. Observam a Lei de
Causalidade, acompanhando as atitudes humanas. Não se
tomam como juizes, nem jurados, nem advogados de acusação
ou defesa. Oferecem recursos para que os mais capazes
possam modificar seus pensamentos, transformando
logicamente, seus atos e palavras. Não impõem
conhecimentos. Ao contrário dos religiosos, não catequizam,
nem desenvolvem o proselitismo.
Conhecem o mistério das forças naturais e retransmitem
seus segredos aos que estejam aptos para recebe-los. Não
forçam. Esperam a dedicação dos que desejam segui-los. É
claro que não são facilmente compreendidos por todos os
seres. Isto não lhes afeta. Para eles importa-lhes seguir os
ditames de seus ocultos conhecimentos. Sabem que a Lei é a
mesma para ele, como para todos os Seres.
Poucas almas são capazes de maior compreensão. Suas
mentes estão sempre suavemente ocupadas com as coisas
mais simples da natureza. Mas dessa simplicidade passam a
planos de infinita Sabedoria. Tudo porém, lhes acontece
interiormente, como se dormissem ou sonhassem. Daí,
magneticamente nos transmitirem algo indefinível , quando
com eles convivemos. Principalmente neles a liberdade
interior nos fascina. Estão conosco quando nosso estado está
em harmonia com seu interior. Deixam-nos, mesmo
fisicamente, diante de nós, se nossa cogitação perde a
essência do cântaro de suas almas iluminadas.
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A julgar pelo passado mais distante, o termo Rishi cobria
uma imagem mais luminosa dos Adeptos. Tanto assim que,
nos textos védicos, essa designação entra exatamente para
destacar os mais veneráveis santos e Sábios. Até mesmo os
Manus eram, muitas vezes chamados de Rishis. Embora por
Manu sempre se tenha entendido o legislador , no sentido de
pensar . A propósito, não podemos esquecer que se atribui ao
primeiro Manu – Svâyambhuva – o Manava-Dharma-Zâstra,
ou seja o Código de Leis do Manu . Certamente o mais antigo
livro de codificação de leis da Terra. A tradição diz que este
tratado surgiu na Índia há cerca de 30 milhões de anos,
contando com 100.000 versos. Sendo que dele só se conhece
em nossos dias aproximadamente 3.000 versos. Não devemos
nos assustar com os algarismos e o tempo na Índia. Toda a
revelação toma sempre aspectos surpreendentes.
Um dos pontos de maior interesse das questões de estudo
da Sabedoria Indiana está no zelo com que os Mestres
guardam os tesouros de seus conhecimentos ocultos. Isto
principalmente se deve ao Himalaia, inacessível à curiosidade
meramente humana. Suas grutas e escolas iniciáticas, bem
como monastérios e lugares secretos de meditação, deixam
resguardados os seres maravilhosos que zelam pelo
patrimônio do misticismo da raça humana. Para tanto, basta
lembrar suas fantásticas bibliotecas e seus eruditos
bibliotecários. Seres que penetram jovens nos labirintos de
aberturas cavadas nas montanhas, e assumem a
responsabilidade de zelar pelas mais raras obras que lhes são
confiadas. Só eles sabem, muitas vezes, consultar aquele
tesouro gravado, desde os meios de impressão moderna até às
escritas mais estranhas, de símbolos e caracteres totalmente
desconhecidos pela humanidade, colocados em pedras
lavradas, papiros e chapas metálicas. Algumas peças de tais
bibliotecas não encontrariam meios de explicar sua origem
para qualquer criatura não iniciada. Evidentemente os
caracteres conhecidos, escritos em Çâstras (sânscrito) como
também em Grego, em Latim, em Fenício, em Egípcio, em
Caldaico, em Iraniano etc. Isto sem falar em obras de valor
filosófico, nos principais idiomas modernos. Por isso
surpreende a tantos indivíduos, não bem informados da
cultura Filológica dos iniciados, quando eles perguntam a
16
seus visitantes em que idioma querem conversar. Isto
acontece mais amiúde do que se imagina.

Principalmente os bibliotecários, consultores e informantes


da Sabedoria Antiga, falam todos os idiomas que servem de
comunicação aos principais países, em todos os continentes
da Terra.
Surpreende-nos, em nossos estudos, sobre a velha Índia e
seus sábios eternos e mesmo atuais, não sentirmos neles,
sombras de vaidade e mesmo espanto pelo fenômeno de sua
cultura, inteligência e memória. Nada vêem de absurdo ou
sobrenatural. Para eles pode haver o conhecido e o
desconhecido. Eles sentem apenas, como finalidade básica de
sua transmissão, permitir que o homem descubra a
legitimidade de sua origem espiritual.
Todo o esforço dos transmissores da cultura hindu, mesmo
o armazenamento das raridades bibliográficas, tem por
finalidade demonstrar a universalidade da inteligência e uma
única Luz de Amor unindo a espécie humana. Tanto assim
que, a par de todo esse edifício suntuoso de obras escritas e
bibliotecas fantásticas, a filosofia indiana sempre primará
pela descoberta de Deus no próprio homem.
Oh! Que força maternal, fecunda e nobre, deu a Índia a
cada Ser, entregando-lhe a possibilidade de nivelar-se aos
deuses! Mostrou igualmente, a nossa estrutura plena de
sutilizações íntimas e espirituais, levadas às últimas
conseqüências.
Coube à Índia, mais que a nenhum outro país, abrigar, em
seu seio, sábios que mostrassem os planos sutis de nossa
consciência e até mesmo os corpos em várias gradações de
energia que aparentemente formam um só corpo humano.
Foi a Índia como já dissemos, o palco da maior revelação
do pensamento em suas dimensões infinitas.
Tão grande foi essa revolução de idéias que, hoje, não
podemos viver sem os ensinamentos dos Rishis.
Quando dizemos nós, referimo-nos a quantos tenham
ouvido falar, ou lido sobre as revelações indianas que viajam
o mundo todo. Em qualquer lugar da terra sempre haverá um
coração sequioso de mais e mais conhecer aquilo que a Índia
retransmite à humanidade.
17
E por que estamos tão sequiosos de beber a luz do seio da
Mãe Índia?
É fácil responder: - Porque nós, ocidentais, estamos cansados
do materialismo de nossos dias. Estamos cansados de uma
pseudo-realidade corpórea, de uma sociedade organizada em
termos de riqueza e lucro a peso de ouro, guerras, sangue e
lágrimas.
O homem, por mais que tente demonstrar o contrário,
guarda dentro dele a reminiscência de conhecimentos não
revelados, mas intuitivamente segredados aos ouvidos íntimos
de sua alma.
O homem sabe que não é feito de homogeneidade com a
pedra, ou igual aos vegetais, ou similar aos animais, mas sim
que faz parte de um reino superior e deve nivelar-se, por seus
próprios esforços, aos seres que atingiram a plenitude de sua
auto-realização. E esta mudança de conceitos para nós
ocidentais, foi surpreendente. Embora tenha sido sempre
normal ao Hindu em sua forma de sentir e pensar.
Esta anexação entre o critério oriental e ocidental fora
prevista por ilustres pensadores do passado, mesmo antes do
advento da Teosofia, que fez ver quanto necessitava o
Ocidente de beber nas águas puras do nascimento do Lótus
Oriental. A influência fez-se sentir da Índia sobre a cultura
dos povos, principalmente a européia, como também
ramificou-se através de todos os continentes, vindo a reflorir
na América, mediante as visitas ilustres de seus místicos, não
só Yoguis, como também dos Poetas do quilate de
Rabindranath Tagore.
A Índia passou a viver no sentimento das artes plásticas, na
música, na dança e nas atitudes usadas em academias de
realização espiritual. Hoje, qualquer pensador moderno, desde
que não filiado a escolas materialistas, produz suas obras
tocadas da inspiração oriental.
Creio que houve uma determinação dentro da clássica frase
EX ORIENTE LUZ. De fato, a luz nascida no Oriente
despertou sua claridade num meio de vida de maior
subjetividade para muitas criaturas.
Estudar, portanto, a Filosofia Mística da Índia,
paralelamente a suas religiões e símbolos, será o nosso
objetivo permanente. Cremos que já começamos a atingir a
18
porta do mistério. Sabemos, antecipadamente, que sua
revelação estará contida na descoberta do Verdadeiro EU.
A concepção do EU para a filosofia Hindu é de suma
importância. Tanto que, da descoberta do Eu depende o pleno
desenvolvimento do indivíduo.

A CONCEPÇÃO DO EU

O conhecimento do Eu é, porém complexo e requer certo


cuidado na observação do enunciado oriental.
Primeiramente devemos destacar um ternário básico no
pensamento místico dos indianos:
. Atman Atman é considerado
como . Espírito ou sétimo
princípio . do Homem. Sem sua
adoção . Buddhi Manas não se chegaria
à culminância . do conhecimento
do EU. Daí esse conhecimento ser chamado de Atma-bodha.
Bodha é sempre traduzido do sânscrito como conhecimento,
sabedoria e entendimento. Principalmente quanto à aplicação
da filosofia vedantina.
Buddhi toma a acepção de Alma ou sexto princípio do
Homem. Buddhi é considerado como veículo de Atman.
Vemos, desta maneira, uma nítida separação que o indu faz
entre Espírito e Alma. Por sua vez, Buddhi é o meio
transformador de tudo que procede de Manas.

Manas, por si só, isoladamente é traduzível como Mente ou


quinto princípio do Homem. Deriva da raiz MAN (pensar). Os
teósofos costumam dividir Manas em superior e inferior.
Manas Superior é a parte principal do Ser, atinente de fato
ao Eu. Expressa a força mental e intuitiva. Sendo este o ponto
de grandeza dos Mestres propriamente ditos.
Manas Inferior predomina no comum dos Seres. Acha-se
preso aos desejos e prende-se ao instinto.
19
Acreditamos ter colaborado para a compreensão do Eu, em
termos orientais, quando desenvolvemos nossa tese do Eu
Vital. Isto quando partimos da possibilidade de um Átomo
Vital, que teria o mesmo sentido do Âtman Espírito ou
energia. De fato, encontramos também nítida ilação entre
nosso sentido de Autoconsciência e Buddhi , bem como do que
localizamos como Mente, perfeitamente de acordo com o que
se chama de Manas, entre os orientais.
Ao conjunto Átomo Vital, Autoconsciência e Mente
chamamos Eu Vital.
Ao conjunto oriental de Atman, Buddhi e Manas os
orientais chamam de Eu Superior. Assim podemos gravar
melhor: Átomo vital = Atman
Autoconsciência = Buddhi
Mente = Manas
Preferimos interpretar o EU aceito pelos hindus mais como
uma unificação perfeita de Atman + Buddhi + Manas, do que
com as variações interpretativas:
a) Atman + Buddhi = Eu
b) Buddhi + Manas = Eu
Cremos que o Eu implique num todo indissolúvel das três
partes, como desenvolvemos:
Temos assim relativamente ao homem:
VIDA – o Átomo Vital e sua função interna, como gerador
da Autoconsciência, bem como sua expansão interior da
Mente, formando o Ser em si mesmo:

.................Energia
...........Energia e Autoconsciência

......... Energia e Mente

Desse modo, a Vida estaria caracterizada como o Ser em si


mesmo, sem os atributos ainda do Pensamento, para nós
emanação da Mente.
EXISTÊNCIA – Tudo que se passa no homem, desde a
Emanação-Pensamento, incluindo-se os recursos de
comunicação nervosa, através dos sentidos.
20
Damos à Vida as peculiaridades do Átomo-Vital + Auto-
consciência + Mente = Eu Pensante.
O Eu Vital age como Eu pensante através do sistema
nervoso.
As Emanações do Átomo-vital geram átomos formadores da
Autoconsciência.
As emanações da Autoconsciência geram átomos
formadores da Mente.
As emanações dos átomos pensantes geram os átomos dos
sentimentos.
As emanações dos átomos dos sentimentos geram os
átomos das emoções.
As Emanações dos átomos emocionais geram átomos
sensoriais.
As emanações dos átomos sensoriais (através dos
sentidos) ligam o indivíduo ao meio.
Desta maneira encontramos dois tipos de emanações:

Emanações da Vida →Atomo vital / Autoconsciência / Mente


Emanações da Existência →Pensamentos / Sentimentos /
. Emoções / Sentidos
Acrescentemos que as Emanações Primeiras – partidas do
Átomo-vital – nada mais fazem do que dimanizarem-se, até
atingirem as últimas emanações relativas aos sentidos.
Cremos porém, que a vida, pelas emanações, possa
penetrar no domínio da existência, ou do Eu Pensante. Jamais
esta pode penetrar no campo vedado da vida ou do Eu-vital.
Assim, na figura acima, substituindo nossos termos pelas
palavras orientais, temos:
Atman (para o circulo central)
Buddhi (para o circulo do meio)
Manas (para o circulo externo).
Em seu conjunto, unificados os círculos ao ponto ou
circulo central, a Atman temos o Eu Superior ligado à
expressão de Vida, segundo abordamos em nosso livro
“Átomo Vital” já citado.
Ao Eu Inferior, aceito pelos orientais, emprestamos o
mesmo conceito exposto como Existência.
Ao Eu Superior dá a Teosofia o sentido de Individualidade,
do latim Individuus – que constitui um ente, um todo, que não
21
admite divisão, sem perder o seu caráter individual, ou
peculiar, etc. Sentido este, que a Teosofia empresta ao Eu
Superior quando reflete em seu todo a concepção hindu
relativamente ao Eu, ou Vida Interior e eterna do Homem.
Ao Eu Inferior, a mesma doutrina Teosofica possuidora
das chaves interpretativas do misticismo, empresta atributos
relativos à Personalidade , ou parte representativa e mortal.
Dir-se-ia o Eu Maiávico, ou ilusório, por não ser permanente.
Estando, como vimos, ligado ao campo do desejo e das
emoções.
É necessário que situemos o Eu em termos orientais como
JÎVA.
De fato JÎVA toma um duplo sentido:
1º ) Absoluto, quando fora do homem.
2º ) Princípio Vital, quando unido ao homem.
Daí encontrar-se na palavra JIVÂTMA o sentido de Vida
animando o homem encarnado, como Ser vivente, não
podendo o mesmo vocábulo ser usado na acepção de Espírito
Universal, conhecido na Metafísica oriental como
PARAMÂTMAN ou Eu Supremo.
Aqui está um ponto surpreendente: o Individuo
descobrindo o seu Eu, ou seu JIVÂTMA, entra em ligação
com o Eu Supremo, ou PARAMÂTM AN. Equivalência
perfeita da descoberta de DEUS, dentro do próprio homem. Se
Jesus tivesse usado palavras sânscritas teria dito que seu
JIVÂTMAN era parte da mesma unidade de PARAMÂTMAN,
ele simplificou a revelação eterna, dizendo:
“Eu e o Pai somos um”.
Toda dedicação e esforço do Misticismo oriental estão
dirigidos no sentido de unificação da parte com o todo; do
Homem com Deus. Isto vemos não só na filosofia mística,
como nos exercícios praticados na Índia.
Quando o homem se põe em profunda meditação , entra em
ligação com seu Eu e desliga-se do mundo exterior.
Concentrado em seu intimo segredo, valoriza o instrumento
do corpo como harpa que se enriquece, pela beleza da música
que faz brilhar em suas cordas. Voltado para seu mistério, o
homem é semelhante à flor sagrada que exala inebriante
perfume, em plenitude de gratidão pelo cetim das pétalas
coloridas. Abstraído em seu santuário, o homem imita a
22
estrela que, lá no alto, transmite luz, agradecendo a matéria
incandescente de que foi feita.
Quer seja o som, o perfume ou a luz, brotando do homem
envolvido de seu próprio silêncio, nada eles expressariam sem
a realidade de JIVA. De fato, é esse glorioso EU que canta na
Índia as mais belas palavras de enobrecimento da espécie. É
dele, do Eu, que mantran se evola na espiral invisível de
ligação com PARAMATMAN.
É nesse estado que a Yoga toma a transcendência de seu
verdadeiro sentido; ligação entre o finito humano e o infinito
divino.
Nesse estado, tudo se valoriza em presença de Âtman, a
partícula de energia vital deslocada do coração de Deus. Só
quando Buddhi e Manas, como duas pétalas, se tocam,
simbolizando a união do Coração e da Cabeça, do sentimento
e da razão; só assim no homem, como de mãos postas, a luz se
faz.

Foi na descoberta do Âtman em seu coração que o Amor


pôde oferecer ao Místico o néctar sagrado – Amrita –
alimento dos deuses que confere a imortalidade revelada, às
vezes, em curtos instantes de Samadi. Lá está nos Puranas, a
revelação do oceano atingido pelo homem voltado para o
Íntimo de seu lótus sagrado. Lá residia o segredo de Soma.
Primitivamente a inefável embriaguês do Místico que levava à
boca de sua alma a essência Amrita, o sumo do lótus sagrado,
ou do Amor que gerava a Yoga – a união com os deuses, com
a natureza e com todos os Seres.
O Eu e a Yoga se completam num todo. Ela é o modo
humano de agir daquele. Quando o homem se volta
integralmente para seu Eu, unifica-se à eternidade de JIVA.
Não fora, na reclusão das florestas, os pássaros chamarem
de retorno o Yogui, ele se perderia pelas sendas Arrúpicas
(sem forma) do grande oceano de luz. No mundo, dentro das
malhas dos afazeres dos homens em seus trabalhos e
divertimentos, a existência, em sua forma exterior de ser, não
deixa o sagrado perigo de não sermos mais criaturas
humanas... Por isso o ocidental, em suas cidades turbulentas,
anseia mais pelos caminhos religiosos, do que pesquisa a
realidade secreta de Agni, o fogo sagrado que crepita no altar
23
de sua Consciência Superior, modo de ser de seu verdadeiro
EU. Daí os templos de pedra substituírem os santuários
secretos do coração. Daí o religioso anular tantas vezes o
místico na alma de muitos Seres.
Quando o Eu em sua transcendência for mais real para o
individuo do que o modo de ser de sua personalidade, haverá
mais silêncio na Terra e Amor no íntimo de cada criatura.
Logicamente isso é muito mais difícil. Poucos indivíduos
lograram conhecer a revelação do mais fecundo segredo: o
EU. Porém menos criaturas ainda, mesmo conhecendo tais
revelações, tiveram a coragem de abrir mão de seus hábitos,
vícios e preconceitos, oriundos da maneira externa de encarar
a realidade da vida.
Os reais descobridores do Eu são aqueles que traduziram,
na linguagem íntima do entendimento, a voz oculta de
Krishna, quando diz no Bhagavad-gîta:
“Eu, ó príncipe, sou o Espírito que reside na
consciência de todos os seres, e cujo reflexo é
conhecido por todos como o EU. Eu sou o
princípio e o fim de todas as coisas”.
Deslumbrante! Possuímos, em nós a presença daquele que
se une ao Todo e expressa, para nós, a totalidade da vida.
Descobri-lo é encontrar Deus. Isto é o que todos os
descobridores do Eterno e Infinito sentiram; a realidade do
EU. Sem esta realidade em nós Deus não existe. Manifesta-se
como um fantasma. Simples criação de nossos sentidos, capaz
de levantar dúvidas sobre sua existência. Só o EU revela a
verdadeira crença em Deus.
Usando a linguagem neoplatônica e plotiniana, H.P.B.
mostra a origem do Eu, no homem como fruto de um poder de
emanação de Deus:
“E agora teu Eu se encontra perdido no EU;
tu mesmo em ti mesmo, absorvido por aquele EU
do qual tu emanaste primitivamente”. (“A Voz
do Silêncio”).
Dentro do principio de emanações podemos compreender:
24

EU TOTAL

EU SUPERIOR (Individualidade)
EU INFERIOR (Personalidade)

Tem-se portanto, uma emanação partida do poder maior


para o menor. Em convivência permanente com o EU
Superior, segundo o misticismo oriental, criamos um ponto
certo intermediário, mediante a concentração no EU Superior.
Desligado da intromissão dos atributos emocionais
que envolvem o Eu Inferior, este passa a receber
Emanações diretas do Eu Superior que, por sua vez, mais
energia e vida recebe do EU Total. Daí advém, até para a
Personalidade benefícios relativos à saúde do corpo, à
proteção espiritual do mesmo e um equilíbrio mais
condizente com o caminho espiritual.

ESTADOS DE CONSCIÊNCI A

Encontrado o EU e centralizado seu poder em nossa


concepção espiritual, passamos a sentir, como muito bem diz
Annie Besant, que: “os Jivâtmans fazem parte do ELE; A sua
natureza é a deles e eles não manifestam
os seus poderes na matéria sem que as
condições ambientais chamem esses
poderes à atividade”.
Ora, as “condições ambientais” fazem parte dos recursos
autoconscientes de disciplina, quanto ao uso da concentração
e do alheamento da exterioridade do mundo, desligada da paz
interior. Por isso nada impõe, quanto ao Eu, que fujamos do
mundo. Mas que descubramos, neste, valores simbólicos de
nossa vida íntima e espiritual. Por isso, sentindo que nosso
25
Eu está mergulhado na Unidade, podemos encontrar a Divina
Presença até nas coisas mais simples.
Cremos mesmo que a senda mística tenha grande ligação
com o mundo. Importante é sabermos descobrir na
simplicidade da contemplação, isto que confirmamos.
O Estado Mental é de suma importância para a
valorização do Eu, como também do mundo, onde o temos
como espelho de nossa consciência. De fato, tudo se reduz à
maneira de ver.
Apresenta o místico hindu quatro estados básicos de
consciência:

1) Jâgrat (ponto central)

2) Svapna

3) Sushupti

4) Turîya (circulo externo)

O estado de Jâgrat, ou de Vigília, diz respeito à ligação do


Eu com o mundo de forma consciente. Manas Superior acha-
se perfeitamente ligado a Manas Inferior e tudo – pessoas,
coisas, objetos, imprimem em nosso interior sua presença.
Principalmente, temos a destacar essa impressão como: Som,
Luz, Cor e Forma. Há desse modo, uma impressão que se
grava em nós, de fora para dentro, provando o valor da
objetividade em termos de experiência.

O estado de Svapna, equivale ao sonho, já nos faz ver e


sentir os atributos exteriores mesclados àquilo que é próprio
do Eu em sua maneira secreta de ser. Nada, nesse estado,
toma sentido de realidade total. Dir-se-ia que uma n’voa
colorida envolve a coisa contemplada. Até o som toma a
peculiariedade da própria música indiana ou oriental,
esgarçada em suas notas que parecem buscar o caminho dos
ventos. A consciência , em estado de Svapna, já isola
parcialmente o homem do mundo. É um estado muito comum,
não só nos místicos naturais, como nos verdadeiros artistas.
Faz parte desse estado o coração romântico, tocado de
26
sentimentalismo. Dizem muitos seres encontrarem dificuldade
em ligação com a vida comum. Vivem em Svapna. É neste
ponto que tem inicio o êxtase.

O estado de Sushupti é traduzível como sono profundo –


equivalência do perfeito alheamento do mundo. Nossa
consciência sente-se escondida em sutil invólucro. O mundo
exterior em vão tentará sua penetração no íntimo daquele que
atinge Sushupti. Sabemos de Seres que penetraram nesse
estado para sempre. Nada mais se conseguiu quanto ao
relacionamento entre eles e o mundo. Mesmo para os mais
místicos instrutores, o certo é a entrada e a saída voluntária
desse estado de consciência. Daí a necessidade de um guru ou
instrutor abalizado para quantos desejam a senda mística .

O quarto estado de consciência, Turîya, já ultrapassa os


limites conhecidos da razão, para ser identificado com o
transe real. Equivale a um deslocamento da consciência,
separando-se do cérebro e logicamente do corpo do indivíduo.
Basta dizermos que tal estado corresponde à ligação direta
com Âtman. Os sábios orientais tentam defini-lo como o sono
sem sonhos. Nele, a consciência é como que absorvida pelo
todo. Raríssimos grandes seres logram atingir Turîya, estando
ainda encarnados na Terra. Mesmo os que penetram nesse
estado de sono sem sonhos, não tiveram palavras para definir
ou descrever esse estado – espécie de retorno à origem da
vida. Dir-se-ia mesmo,que é como uma gota que cai no
oceano e retorna a ser uma lágrima na face da existência.

Esses estados que ora descrevemos nem sempre foram


facilmente revelados pelos Rishis, mesmo aos mais aplicados
em suas disciplinas espirituais. Ao público, no passado,
nunca foram expostos. Faziam parte da Târaka-Râja-Yoga,
cuja finalidade era oferecer a gradação dos conhecimentos,
desde aqueles presos aos limites objetivos e materiais – em
Jâgrat – até aqueles que se perdiam nas dimensões infinitas
de Âtman, ou do Espírito, ou de Deus, se quisermos.
Para termos idéia exata do valor da Târaka-Raja-Yoga,
basta observar o real sentido das palavras Sânscritas.
27
Târaka por exemplo, vem de Tara – conhecimento místico,
sabedoria pura, sem nenhuma ritualística. Simbolicamente,
dize-se de um Dâvana – ou espírito gigantesco – cujo poder
afrontava o mistério dos deuses mais austeros.

Raja-Yoga, todos sabem que é o sistema místico que


permite a ligação com o príncipe – ou Jivâtman – que está no
interior de todos os Seres. Príncipe que faz parte do reinado
do Todo. Assim, portanto, a Râja, ligada a Târaka, toma o
sentido mais específico da perfeição da busca do
conhecimento interior. Ainda sobre a Râja-Yoga, nada melhor
do que a palavra autorizada de Vivekananda:
“ Râja-Yoga é o sistema de educação oculta que,
por intermédio da concentração mental,
desenvolve as faculdades superiores do homem
e os poderes psíquicos nele latentes.
Este sistema parte do mundo interno, para
estudar a natureza interior, e que por intermédio
dela o domina completamente, tanto o lado
interno, quanto o externo.Pela aplicação da
mente, podemos colocá-la sob nosso domínio
fazê-la trabalhar à nossa vontade e obrigá-la a
concentrar seus poderes conforme nossos
desejos. Não há limite para o poder da mente
humana; quanto mais concentrada, maior poder
possui para fixar-se em um ponto, até o extremo
de que o Yogui chega a um término, quando as
chamadas “Leis da Natureza não exercem já
influência nenhuma sobre ele, por causa do
domínio que tem sobre a natureza, tanto interna
quanto externa”.
Esta síntese maravilhosa de Vivekananda, extraída de sua
“Filosofia da Yoga”, evidencia o poder central do Eu, através
de Manas. Isto nos faz crer que os estados de consciência
estudados são relativos a mais ou menos concentração do
indivíduo dentro de si mesmo e sobre si mesmo . Na medida
pois, que é atingido maior desligamento do homem de sua
passionalidade, mais cresce seu campo de expansão em
termos místicos e subjetivos.
28
(Poderíamos comparar o Manas Inferior a uma curva
fechada (circulo), e o Manas Superior a uma espiral aberta, os
dois com ponto de origem comum.)

É necessário termos como permanente a noção oriental de


duas mentes – uma concreta e outra abstrata.
Quando Pantanjali,o coordenador do Yoga, diz que esta é
a inibição das funções do mental, não se refere a Manas
Superior ou mente abstrata, mas, sim a Manas Inferior ou
mente concreta. Nesta o Yogui descobre a vontade e a
atividade mesclada de desejo. Por isso ele acredita que com
esta mente restrita pouco será conseguido de verdadeiro.
Permite assim, uma forma de expansão dos pensamentos em
termos emocionais, horizontais e mayávicos (ou ilusórios).
Com tal tipo de mente inferior o homem, preso à ilusão, mais
acirra o poder do Karma sobre sua vida, já que o pensamento
é sempre a semente do fruto do poder energético da Mente.
Usada pois, a mente, nos limites emocionais e mayávicos,
mais fortes ficam as cadeias que prendem o indivíduo aos atos
passados, geradores de causas produtoras de efeitos, sempre
mais fortes, se mais energia mental nós lhe emprestarmos.
Daí, o oriental possuir expressões que nos parecem estranhas
à primeira vista, como estas: “mata a mente; mata o desejo de
pensar”. Ora, tais afirmações não são bem compreendidas e
nos assustam. Em realidade, elas se referem ao empréstimo da
energia mental ao campo emocional de nossa existência. E,
quanto a isso, ninguém ignora o mal que para si mesmo
acarreta quando assim procede.
Este gráfico expressa bem os
c pensamentos que nos conduzem
a planos de superiores e libertadores
de Maya, seguindo a linha vertical
(a-c). Como, igualmente apresenta
. b a d o mesmo, a horizontal de nossos
limites superficiais, geradores de
forças que aumentam o poder de
de causas Karmicas, oriundas do
passado (a-b) e projetadas no
futuro (a-d).
29
Interessa ao seguidor da Râja-Yoga encontrar o Jivâtman.
Isto porque este possui um todo, anexando Manas a Buddhi e
Atman, desse modo, fazendo-se a ligação com o verdadeiro
Eu ou Purusha.
Purusha é um termo importante e indispensável na
Filosofia Sankhya, fundada por Kapila, o excelso Mestre ou
Rishi, enquadrada nas seis Darzanas – ou escolas autênticas
de filosofia da Índia.
Purusha, traduzível como homem, no sentido de perfeição
humana, é também designativo do Eu Espiritual, ao qual
empresta-se tal força que dizem ser capaz de criar todas as
coisas. Diz mesmo Kapila que Purusha, unido a Prakriti
(matéria), são pólos da Vida. Também dizem que Purusha é o
Espírito da Vida que anima a Matéria (Prakriti) e por seu
contacto imprime atividade criadora sobre a natureza.
A união com Jivâtman ou Purusha é, portanto, o objetivo
supremo daquele que pretende imprimir sobre e em si, as
grandezas do Eterno. O limite mental, sem o desligamento,
mesmo parcial e temporariamente de nossa personalidade, só
nos pode acarretar prejuízos ao equilíbrio indispensável à
verdadeira evolução espiritual.
Tudo isso afirmamos no sentido de melhor esclarecer
sobre o verdadeiro poder mental que devemos buscar, em
substituição ao falso poder, gerador de dificuldades de
entendimento. Buscamos encontrar o mental que de início,
vemos ligado a Buddhi e Atman. Como ampliação de
conhecimentos, não podemos esquecer a escola de filosofia
mais conhecida da Índia, a Vedanta. Nesta, o nome de
Antahkarana, cujo sentido literal é “órgão interno”.
Sankaracharya dá à mesma palavra o sentido de entendimento
direto. Cremos que, embora as definições pareçam
discordantes, há sobre Antahkarana, meios de defini-la como
órgão interno do entendimento direto, já que igualmente o
mesmo vocábulo é utilizado na acepção de ponte entre Manas
Superior e Manas Inferior. Melhor dito, seria a faixa de
ligação entre o Eu Divino e o Eu humano, entre a
Individualidade e a personalidade . Realmente faz-se
necessário que encontremos algo que interligue, no homem, a
sua vida abstrata à sua vida concreta, senão seria impossível a
passagem de um estado de consciência para outro. A
30
expressão “ponte” é portanto, muito feliz. Todos nós, se nos
observarmos, vamos constatar que transitamos mentalmente
em nossa vida interior. Partimos muitas vezes das cogitações
mais densas e mergulhamos intimamente em regiões
sutilíssimas, praticamente indefiníveis, para nós. Creio que é
através de Antahkarana que saímos de Jâgrat, passamos por
Svapna, logramos atingir Sushupti e nos abismamos em Turîa.

As funções mentais do individuo ficam definidas por


Sankaracharya, no todo compreendido pela unificação de uma
superconsciência global, atingindo o homem e seu Espírito.
Reforcemos nossos conhecimentos ouvindo o que diz,
mais uma vez, Annie Besant:
“Antahkarana, dizem-nos, é quádruplo, porque é
constituído por Manas, Buddhi, Ahamkara e
Chitta. Bem curiosa é esta divisão! Nós
conhecemos Manas, Buddhi e Ahamkara, mas que
se deve entender por Chitta?
Perguntai-o a quem quiserdes, mas observai a
resposta; esta será sempre muito vaga.
Tentemos, nós próprios analisar esta nova palavra
Talvez ela não se encontre elucidada pela idéia
teosófica de três elementos resumidos num quarto
que não é propriamente mais um elemento
adicional, mas a soma dos outros três.
Manas, Buddhi e Ahamkara, são os três lados de
um triângulo que nós chamamos de Chitta.
Chita não é um quarto elemento, mas a soma dos
três primeiros, Manas, Buddhi e Ahamkara.
Encontramos aqui a idéia da trindade na unidade.
Quantas vezes Helena P. Blavatsky completa
igualmente os seus grupos de três princípios!
Porque ela segue os métodos antigos. O quarto
elemento, que resume os três primeiros, não é um
elemento distinto, mas faz uma unidade da sua diversidade
aparente. Apliquemos esta idéia a
Antahkarana”.

De fato, H.P.B. toma o sentido ternário como básico em


suas explanações. Tanto assim é, que diz:
31
“Os fatores ou princípios internos Buddhi, Manas
e Antahkarana, considerados coletivamente,
constituem o órgão interno (antahkarana) ou
Alma, cuja atividade, diferentemente dos
sentidos, se estende não só ao presente, como
também ao passado e futuro. Os três princípios
indicados formam, por assim dizer, os três lados
de um triângulo cuja soma é Chitta (mente,
pensamento e inteligência), com o qual se realiza
a idéia da trindade na unidade”.
Desse modo, H.P.B. responde satisfatoriamente a Annie
Besant o que é Chitta. Mais uma vez colaborando conosco
para que sintamos um todo – Chitta – dentro de múltiplos
aspectos da constituição interna de nosso ser em sua
subjetividade.
*

MITOLOGIA E ESCOLAS FILOSÓFICAS

Na profundidade mostrada pelo Eu pode o homem lograr


atingir o pensamento secreto da Índia.
Misteriosamente o sentido religioso cede lugar à Poesia. E
dentro dos invólucros de imagens, divindades, Deuses e
demônios, surge o pensamento metafísico tocado da mais
profunda Filosofia. Por isso o poeta e mesmo o versejador
parece dar lugar aos primeiros transmissores públicos dos
ensinamentos das escolas secretas indianas. Aliás este
fenômeno é comum a todos os povos que formaram sua
literatura em bases mitológicas. Todos eles tiveram Deuses
que expressaram as variáveis gradações da evolução de suas
criaturas e o jogo por vezes terrível, de qualidades morais e
falhas humanas. Na Índia, como na Grécia, em suas origens
perdidas no tempo, o bem e o mal, a beleza e a fealdade
estiveram sempre confundidos. Melhor dito, o fenômeno ético
e estético se mesclam num todo. O bem sempre foi belo.
Talvez seja este o sinal de profundidade filosófica e estética
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da Índia. Daí o valor que o hindu dá a seus cantores
primitivos e seus poetas iluminados.
Inúmeros são os poemas e epopéias que expressavam em
sânscrito o sentimento do povo indiano. Todos eles, entre
imagens poéticas e metáforas filosóficas, retratam o
primitivismo da alma mística da Índia, quer na pintura de
seus antigos costumes (muitos conservados até nossos dias),
quer no comportamento dos seres ante os poderes religiosos
dominantes. Esses mesmos poderes que descobrimos
dominando a psique dos gregos, egípcios, caldeus, babilônios
e judeus (que se conservam paradoxalmente dominados pelo
passado num mundo tão distanciado de seus profetas).
Nenhum povo usou um volume tão grande de palavras para
expressar, só num poema isolado, o que ele sentiu, pensou e
viveu. Haja visto o “Mahâbhârata”, que suplanta de muito, em
tamanho, a Ilíada e a Odisséia reunidas. Não se trata porém
somente do número de versos. É importante que situemos o
valor iniciático nos textos indianos, todos, por fim, de caráter
sagrado. Isto sem falar nos Vedas, quase ritimados e
metrificados, mostrando assim que a literatura sânscrita
esmerava-se igualmente pela forma. O que, do mesmo modo,
descobrimos no Mahabharata.

A jóia das obras literárias da Índia é o Râmâyana, cujo


autor, Valmîki, merece figurar ao lado de Homero, Virgilio,
Dante, Camões e Shakespeare. Há nele a perfeição, própria
dos gênios de cada povo; idéia e forma mesclados num todo
inseparável.
A própria vida de Valmîki assume a grandeza da lenda. O
certo é que foi discípulo de Nârada um dos mais elevados
Rishis conhecidos na história do pensamento indiano. Seu
nome vem mesmo depois de encontrar seu mestre. Valmiki
quer dizer “o nascido entre as formigas”. Isto porque,
segundo a lenda, ele cometeu antes da iniciação muitos
crimes, como salteador de estradas. Nârada o conduz à
meditação e ela se tornou tão profunda que não lhe permitiu
notar os formigueiros que se formavam em torno de suas
pernas entrelaçadas.
Há muito da infância de um povo na lenda de seus
gigantes. O certo é que o Ramayana vale mais que a descrição
33
mística. Ele é, em seu todo, no dizer de Michelet, não apenas
um poema, mas uma espécie de Bíblia, que contém, além das
tradições sagradas, a natureza, a sociedade, as artes do país
indiano, os vegetais, os animais, as transformações do ano no
singular encanto das estações... Longe de serem caos, as
variedades concordantes se engalanam com sortilégio mútuo.
Tudo é amor ali, tudo amizade e recíproco afeto; Tudo
homenagem aos deuses, respeito aos brâmanes, aos santos e
aos anacoretas, sendo neste último ponto, sobretudo,
inesgotável o poema.
Valmîki escreveu o Ramayana aproximadamente cinco
séculos antes de Cristo, criando desse modo uma ponte
literária entre os milenares livros sagrados da Índia e a
filosofia que seria desenvolvida até chegar a nossos dias. De
fato sem antecessão da religião não há Arte e sem a Arte não
há meio de transmissão da Filosofia. Ao pensamento certo
deve acompanhar a palavra exata que o expresse. Daí a
literatura abrir caminho à expressão do vôo das idéias.
Os grandes trabalhos como o Mahâbharata e anteriormente,
os próprios Vedas, não bastariam para legar ao mundo o teor
místico que eles contém. Foi necessário o Poeta que desse à
história da raça o sentimento criado sobre as montanhas
misteriosas da Religião. Por isso os poetas tocaram, muitas
vezes, mais o coração do mundo do que os sacerdotes. Se
estes não aprenderam a falar segundo o revestimento da
poesia, podem dominar e amedrontar, mas não libertam os
seguidores da fé esposada.
Todo povo possui o transmissor do Verbo pela palavra
perfeita, capaz de dar moldes à evolução do pensamento. Os
grandes poemas correm vivos na voz que segrede o
pensamento, na língua em que foram escritos os versos do
Vate da raça. Valmîki é o poeta do sânscrito. Daí os livros
mais antigos, escritos em sânscrito, puderam ser sentidos e
compreendidos mais claramente depois do Ramâyana.
Mesmo as escolas filosóficas da Índia, as mais antigas e
tradicionais, só puderam ser redescobertas quando o místico
pôde, pela linguagem exposta, descobrir o segredo das
palavras que cabe ao poeta revelar. Pela revelação mística da
palavra descobrimos o mistério dos enunciados antes secretos.
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A preparação literária para a compreensão do pensamento é
indispensável. Vejamos, no caso as duas personagens
principais do Ramâyana; Rama e Sitâ. Ele expressa o sentido
perfeito de Prakriti – o conhecimento e domínio da matéria.
Ela equivale a Purucha, a perfeição espiritual ou anímica.
O vocábulo Rama toma o sentido de sedutor, como
descendente da raça solar, de Dazaratha, seu pai e rei
poderoso. Rama é considerado como encarnação de Vishnu,
segunda pessoa da Trimûrti ou Trindade Eterna: Brahma,
Shiva e Vishnu.
Sitâ (ou Zitâ) era a deusa Lakshmî transformada em
mulher. Lakshmî, traduzível como esplendor e beleza, é
considerada a Vênus, ou melhor, Afrodite nascida da espuma
dos oceanos. Esposa de Vishnu e mãe de Kâma, o Eros
indiano.
Ora, Rama descende pois do Sol, do Fogo; e, Sitâ tem sua
origem nos oceanos, nas águas.
Seguindo as dimensões metafísicas do Ramayana, vemos a
dualidade permanente, manifestada em forças antagônicas, no
plano da densidade emocional e humana, enquanto o sentido
dual se estabelece no plano sutil da consciência como Prakriti
e Purucha.
Esse mesmo critério dentro da dualidade (tão própria da
índole do homem) vemos nas grandes obras arquimilenares da
Índia, como o Mahabarata, de onde se extrai o drama
filosófico do Baghavad-Gita (o canto do Senhor) que mostra a
sabedoria de Krishna e o aprendizado de seu chela Arjuna.
Não sem razão, portanto, as Darsanas ou escolas
filosóficas da Índia se dividem em dois grupos compostos de
seis sistemas ou chad-darzanâni:
1- Vaizechika
2- Nyâya ou Buddhismo submetidas a Prakriti
3- Pûrva-Minansâ
4- Sânkhya
5- Patañjali submetidas a Purucha
6- Vedanta ou Utara-Mimansa

***
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FILOSOFIA VAIZECHICA

1) A Filosofia Vaizechika é surpreendentemente a


iniciadora do critério científico-filosófico de nossos dias.
Kanâda, o fundador dessa escola, já afirmava a existência
de uma lei (que hoje se diria mecânica) inerente às partículas
que tomariam modernamente o nome de átomos, para o
filosofo, primordiais e eternos. Sem ter nenhuma ligação com
a filosofia grega, afirmava que os átomos constituem os
quatro elementos: Ar, Fogo, Água e Terra, cujas agregações,
embora temporárias, formavam os universos e tudo o que
neles está contido.
Periodicamente porém, sofriam pequenas desagregações
que modificavam a estrutura da natureza em seus reinos,
havendo desagregações (hoje diríamos desintegrações), que
motivariam fim aos universos. Por tal motivo os estudiosos da
filosofia indiana batizam a escola Kanâda, de sistema atômico
oriental, também chamada escola Materialista. Não
esqueçamos, para espanto nosso, que o fundador da escola
Vaizechista, viveu no século VIII A.C. – Se seu sistema é
materialista, Kanâda foi um vidente que milênios antes
anteviu nossa Era Atômica. Não seria impossível um indiano
afirmar que ele reencarnou no corpo de um cientista moderno,
em nosso século.

FILOSOFIA NYAYA

2) A Filosofia Nyâya equivale ao critério dialético


adotado quer pelos filósofos idealistas, quer pelos
materialistas. Ela é o pensamento real daquele que foi
chamado de Buddha. Quando porém se analisa seu
pensamento, refere-se o estudioso somente à filosofia de
Gautama . Isto para que não se criem liames com o lado
devocional, religioso, sempre propenso a criar ilusões e até
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mentiras sobre a realidade filosófica de um pensador. Não se
deve portanto confundir o sistema de Gautama com o
Budismo clerical e dogmático.
Nyâya, termo sânscrito que significava discriminação,
toma no ocidente o sentido de Lógica . Isto pelo
processamento de seu método, que visa a atingir, pela análise,
a libertação do falso conhecimento imposto pelo hábito e pelo
preconceito.
Nyâya considera as substâncias como as partes essenciais,
separa as qualidades internas do ser das ações. Sustenta
valores absolutos da Consciência. Gautama não liga seu
sistema a Deus. Admite porém um deus interno,
soberanamente independente da fugaz existência humana.
A Libertação é a chave mestra de Nyâya. Não indagando
do Absoluto, tem sido julgada agnóstica. De fato a maior
cogitação de Gautama é a Libertação do lado efêmero do Ser.
Isto podendo se dar pelo conhecimento da fonte do desejo ,
causa real de todo o sofrimento.
A doutrina de Buddha está sintetizada na prédica de
Benares:
1 – A existência é sofrimento
2 – A causa do sofrimento é o desejo .
3 – Liberta-se o Ser do sofrimento, superando o desejo
4 – Para superar o desejo, é necessária a prática dos
oito mandamentos fundamentais:
I – Crer retamente
II – Querer retamente
III – Falar retamente
IV – Agir retamente
V – Viver retamente
VI – Esforçar-se retamente
VII – Pensar retamente
VIII – Meditar retamente.
Só assim, liberto do desejo, e entregue à meditação o
homem se transforma num Arhat, ou seja: um auto-iniciado.
Já que a senda de Gautama não reconhece intermediários
entre o Homem e a Sabedoria.
Queiram ou não os eruditos e orientalistas, as doutrinas
esposadas pelos dois Gautamas se completam num todo de
Sabedoria, cuja finalidade é a Libertação.
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Dois Gautamas? – Sim . O mais antigo é nome daquele
Gautama Zaradivat, autor de um Darma-Zastra, considerado o
verdadeiro fundador da Escola Nyâya, setecentos anos antes
de Cristo. É porém impossível negar a realidade do sistema
Nyâya na filosofia do célebre Sidhârtha, filho do rei Sâkya,
que se tornou o “Buddha” ou o “iluminado”, vivendo segundo
se crê no século VI A.C.
De uma forma ou de outra, dando-se aos dois Gautamas
origens e períodos históricos diferentes, a Filosofia Nyaya
está presente em ambos os seres, quanto à essência real do
pensamento místico.
Teria o príncipe Sidhartha assimilado a filosofia do mais
antigo Gautama? – Creio que sim. Talvez assim certas
dúvidas e cruéis confusões calam por terra. O certo é que o
príncipe que também se tornou conhecido como Sâkya-Muni,
não tendo escrito sua doutrina, encontrou em seus discípulos
necessidade de unificação de seus ensinamentos. Fato que se
deu nos concílios de Râdjâgrihâ e de Vaiçâh.
Gautama (ou Sâkia-Muni) nunca aspirou a uma origem
divina ou mesmo sobrenatural. Após a sua partida da Terra, o
que é normal, seus discípulos criaram o culto de
reconhecimento e gratidão ao Mestre. Em pouco tempo não
tardou que a gratidão se transformasse em veneração
religiosa. – Dessa forma, aquele que não colocou o Absoluto
em seu sistema, e mesmo condenou o sacrifício, que preferia
a meditação à oração, passou a ser um deus a mais, para o
qual se faziam sacrifícios e longas orações, imagens de ouro e
templos suntuosos para louvor do que pregou o
desprendimento e a morte do desejo.
Assim, a Filosofia de um pregador autêntico transformou-
se num dogma religioso. E à sombra da ilusão criada pelos
homens, a tradição da Sabedoria Budista se perdeu para o
comum das criaturas. É fato real que duas correntes
estabeleceram dois partidos em torno da Mensagem de Sâkya-
Muni, cuja expressão é encontrada em duas escrituras:
Hînayâna e Mahâyâna

Hînayâna, relativo ao chamado Budismo do Norte ,


traduzível como Pequeno Veículo , sendo eminentemente
religioso.
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Mahâyâna, relativo ao budismo do sul , cujo significado,
Grande Veiculo , expressa de fato a filosofia Budista
coordenada por Nâgârjuna, no segundo século antes de Cristo.
Sendo precisamente no Mahayana que vamos encontrar as
ilações perfeitas do Budismo não religioso com a escola
Nyâya.
O ponto certo, indubitável, é que a filosofia Nyâya
anexada ao conceito do Mahâyâna (o Grande Veículo) se
encontra na intimidade do pensamento dos Mestres Tibetanos.
De fato estes sábios nunca adotariam como norma de sua
filosofia os conceitos exotéricos do Pequeno Veículo do
budismo religioso (ou Hinayana). – Esta verdade vem sendo
assinalada desde o primeiro século depois de Cristo, quando
surge o legítimo representante do pensamento esotérico do
budismo, Açvaghosha, considerado por muitos como o
precursor do Nihilismo, o que é um erro crasso. – Se se
colocasse Nâgârjuna como o filósofo do Niilismo, cuja escola
floresceu no segundo século de nossa era. Prontamente com
tal afirmação concordaríamos, pois faz parte de suas sûtras o
absurdo conceito de que a existência é nula e vazia, o espírito
está perdido, Sansâra e Nirvana são o mesmo nada... – Tantas
incongruências e loucuras não expressam de maneira nenhuma
a filosofia serena e equilibrada do verdadeiro Budismo.

G. Tucci em sua “Storia della filosofia indiana” coopera


com nosso ponto de vista quando afirma que Nyaya enumera
quatro meios de conhecimento: Percepção, Inferência,
Analogia e Testemunho. Afirmando igualmente que a Nyaya
define o conhecimento verdadeiro como aquele que não está
sujeito a contradições ou a dúvidas e que reproduz o objeto
com ele e ajusta meios para determinar o elenco dos objetos
cognoscíveis e de seus traços característicos.
Quem pode negar que os quatro meios de conhecimento
não encontram ilação com as quatro chaves que Buddha
enuncia em seu sermão de Benares?

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