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"...tentar apresentar em um único volume a


diversidade dos materiais - mostrar o
Silmarillion como uma criação contínua e
em evolução que se estende por mais de meio
século - levaria de fato apenas a confusão..."

Michael Martinez

E isso é onde todos concordamos.

A ascendência de Gil-galad ainda não se tornou um tópico central


entre os fãs de Tolkien, mas com o tempo irá se tornar. Mesmo
levando-se em conta a pouca informação que temos sobre o rei noldorin mais famoso de Tolkien
as pessoas têm encontrado razões para escrever enormes editoriais sobre ele, e eu não sou uma
exceção. Afinal, o pai de Gil-galad foi Fingon ou Orodreth? Tolkien diz ter sido Orodreth, porém
milhões de fãs parecem discordar dele. O Silmarillion diz claramente que o pai de Gil-galad era
Fingon. Isso deriva de uma nota escrita a lápis nos manuscritos dos Anais Cinzentos (Grey
Annals). Christopher Tolkien nos diz em The War of the Jewels: “quando Fingon se tornou Rei
Supremo dos Noldor, após a morte de Fingolfin, enviou seu jovem filho (Findor?) Gil-galad aos
Portos”. Mas este rascunho, adotado após muita hesitação, devido a vários motivos não se tornou
a última das especulações de Tolkien.

Esta dica tentadora incendiou o primeiro dos debates sobre Gil-galad. Se Fingon não era seu pai, e
Finrod Felagund não poderia ser (uma discussão anterior mostrou que tal idéia foi abandonada por
Tolkien), então quem foi o pai de Gil-galad? Algumas pessoas matem-se firmes ao Silmarillion ,
afirmando que ele deve ser canônico, já que foi fielmente produzido por Christopher Tolkien de
acordo com os desejos de seu pai. Mas isso não é verdade, as intromissões de Cristopher nos
textos do Silmarillion foram tantas que ele chega a ser apelidado por muitos de colcha de retalhos.
Em outro lugar de The War of the Jewels e em vários outros volumes da série The History of
Middle-Earth , Christopher mostra exatamente onde se afastou da visão de Tolkien (na maior parte
devido à pesquisa inadequada, já que estava trabalhando sob pressão e não tinha acesso a todos
os manuscritos do pai). Em particular, ele cita o texto da Ruína de Doriath:

“...ter incluído [As Andanças de Húrin (The Wanderings of Húrin) no


Silmarillion] teria implicado em uma grande redução, na verdade um relato
inteiramente novo, de uma forma que não gostaria de fazer; e já que a
historia é muito intricada tive medo de que isto poderia produzir um denso
emaranhado na narrativa em que se perderia toda a sutiliza, e acima de
tudo poderia diminuir a temerosa figura do velho homem, o grande herói,
Thalion, o inabalável, levando os propósitos de Morgoth ainda mais longe,
como ele estava destinado a fazer. Mas me parece agora, muitos anos
depois, ter havido uma excessiva intromissão nos pensamentos e
intenções de meu pai. Isso faz com que eu me pergunte se, a tentativa de
fazer um Silmarillion unificado, teria sido realmente válida...”

GIL-GALAD FOI UM ELFO REI... 1


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Em uma explicação posterior sobre como a Ruína de Doriath foi incluída mais tarde no livro,
Christopher Tolkien diz o seguinte:

“...esta estória não foi levianamente ou facilmente concebida, mas foi o


resultado de uma longa experimentação entre concepções alternativas.
Neste trabalho Guy Kay tomou a maior parte, e o capítulo que finalmente
escrevi deve-se muito às minhas discussões com ele. É óbvio que um
passo estava sendo tomado de uma ordem diferente de qualquer outra
‘manipulação' dos próprios escritos de meu pai no decorrer do livro;
mesmo no caso da narrativa da Queda de Gondolin, a qual meu pai jamais
havia retomado, alguma coisa podia ser efetuada sem introduzir
mudanças radicais no texto. Pareceu àquela época que havia elementos
na estória da Ruína de Doriath, como ela estava, que eram radicalmente
incompatíveis com o Silmarillion , e havia aqui uma escolha inescapável:
ou abandonar a concepção ou alterar a história. Eu penso agora que foi
uma visão errônea, e que as dificuldades indubitáveis poderiam e
deveriam ter sido tratadas sem ultrapassar as barreiras da função
editorial...”

Essa repudiação da sua mais significante contribuição para o Silmarillion mostra que Christopher
Tolkien não o apresenta como um trabalho canônico. Isso é, ele nunca teve a intenção de que o
Silmarillion publicado representasse a visão de seu pai. Ele foi cauteloso no próprio prefácio do
livro, dizendo que:

“...tentar apresentar em um único volume a diversidade dos materiais –


mostrar o Silmarillion como uma criação contínua e em evolução que se
estende por mais de meio século – levaria de fato apenas a confusão e ao
submergir aquilo que é essencial. Eu me empenhei, portanto, a trabalhar
em um texto único, selecionando e arranjando de uma maneira que me
pareceu produzir a narrativa mais coerente e internamente auto-
consistente. Uma consistência total não pode ser aspirada e só poderia
ser alcançada, se fosse possível, a um custo muito elevado e
desnecessário...”

Nós temos, portanto, razões sólidas, dadas pelo próprio Christopher Tolkien, para questionar a
validade de qualquer afirmação do Silmarillion . Mas isso não significa dizer que tudo o que está no
livro deva ser considerado não-canônico. Preferivelmente, já que temos o material usado como
fonte disponível para nosso próprio estudo, podemos determinar (especialmente com a ajuda do
comentário explícito de Christopher) onde as histórias originais foram alteradas ou não utilizadas, e
porquê. No caso do parentesco de Gil-galad temos mais uma declaração de Christopher. Em
Peoples of Middle-Earth ele dedicou um breve comentário à filiação de Gil-galad. Parece que a
verdadeira genealogia de Gil-galad o coloca como filho de Orodreth, que por sua vez era filho de
Angrod e não um dos filhos de Finarfin: “Não há dúvidas de que esta foi a última palavra de meu
pai sobre o assunto”, Christopher nos diz. Sua declaração final diz: “Análises mais profundas do
material extremamente complexo que eu fiz vinte anos atrás mostram claramente que Gil-galad
como filho de Fingon era uma idéia efêmera”.

Que revelação! Dizer que Gil-galad como filho de Fingon foi “uma idéia efêmera” liberta as chamas
da controvérsia. As pessoas têm argumentado de lá pra cá, ao longo dos anos, sobre qual deve
ser o parentesco correto de Gil-galad. E agora nós temos por meio de Christopher Tolkien que não
há dúvida a respeito de sua filiação: ele era o filho de Orodreth. Mais adiante, Christopher admite
ter mudado o nome de Gil-galad no texto da carta publicada como parte de Aldarion e Erendis nos
Contos Inacabados . Onde o livro mostra “Ereinion Gil-galad, filho de Fingon” Tolkien havia na
verdade escrito “Finellach Gil-galad da casa de Finarfin”. Em outra passagem da história
Christopher também mudou “Rei Finellach Gil-galad de Lindon” para “Rei Gil-galad de Lindon”.

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Então, porque as pessoas continuam a duvidar da palavra de Christopher Tolkien, o homem que
publicou o Silmarillion , admitidamente com a intenção de proporcionar um “texto único”, que
selecionou e arranjou o material para produzir uma narrativa consistente e coerente (um objetivo
que ele não atingiu totalmente, por sua própria admissão)? Eu acho que responder esta questão
requeriria uma análise na forma de uma dissertação. A recusa em aceitar a autoridade das
afirmações de Christopher Tolkien em várias questões é um fenômeno sociológico. Mas nós
podemos examinar Gil-galad no contexto da história correta e determinar algumas coisas a
respeito do seu caráter, o qual nunca fora revelado no Silmarillion . Em outras palavras: podemos
deduzir algo da sua história pessoal.

Orodreth provavelmente nasceu em Valinor. Sua mãe foi Eldalôtë, uma donzela Noldorin a qual o
nome foi facilmente convertido para o Sindarin Edhellos. Quando Finrod construiu sua fortaleza
oculta de Nargothrond, ele governava sobre Tol Sirion e as terras anexas a Angrod, enquanto
Aegnor reteve a soberania sobre os altos campos de Dorthonion que cobriam Ard-galen. Isso
contradiz tudo que nos foi contado no Silmarillion , claro. Quando a Dagor Bragollach irrompeu e os
Noldor foram derrotados, Finrod apressou-se para o norte para reforçar seus irmãos, mas era tarde
demais. O povo de Aegnor fora esmagado, e apesar do povo de Angrod se manter em Tol Sirion
por um tempo, o próprio Angrod finalmente foi morto e Orodreth abandonou a ilha, fugindo para
Nargothrond. Ele levou consigo sua esposa, uma donzela Sindarin das terras do norte, seu filho
(Rodnor Gil-galad) e sua filha (Finduilas).

Gil-galad não ficou em Nargothrond por muito tempo. Ele provavelmente se estabeleceu lá por
volta do ano 455 (o ano da Dagor Bragollach), e Christopher cita uma nota de seu pai na qual se
diz que: “Gil-galad escapou e finalmente chegou às fozes do Sirion e lá se tornou Rei dos Noldor”.
Sua fuga deve ter sido da destruição de Nargothrond, que ocorreu em 499. Durante esses 40 anos
não ouvimos nada de Gil-galad, mas podemos inferir que deve ter estado presente no grande
debate quando Beren pediu a ajuda de Finrod na busca pela Silmaril. Ele, é claro, não era um dos
doze lordes fiéis que acompanharam Finrod na busca, mas presumivelmente Gil-galad deve ter
sido considerado muito jovem ou muito importante para entrar na busca (na verdade, ele nem
havia sido concebido no pensamento de Tolkien quando a versão completa da história de Beren foi
escrita, na década de 30). Gil-galad não marchou com a companhia de Gwindor para a Nirnaeth
Arnoediad e não parece ter sido um dos soldados do exército de Orodreth que foi vencido pelo
exército de Glaurung na Batalha de Tumhalad.

Faria sentido para Orodreth deixar Gil-galad atrás a defender Nargothrond, pos somente então Gil-
galad deve ter atingido sua total maturidade. Orodreth era usualmente um governante cauteloso,
tendo cedido pela pressão de Túrin e dos lordes Noldorin impacientes que favoreceram o conselho
de Túrin de abandonar a política de defesa escondida de Nargothrond. Assim, quando Glaurung
veio contra a cidade e seus defensores provaram serem demasiado poucos e fracos para resistir
ao dragão, o jovem príncipe deve ter se separado de sua família. Não sabemos o destino de sua
mãe, mas ela provavelmente foi morta ou levada prisioneira, mas Finduilas foi capturada e levada
com outras elfas para Brethil pelos orcs. Lá ela foi mortalmente ferida apesar dos melhores
esforços dos homens da floresta para libertar as cativas.

Fazendo seu caminho para o sul, Gil-galad chegou às fozes do Sirion. A comunidade de Elfos e
Homens que mais tarde fundaria o reino de Arvernien sob o comando de Eärendil ainda não
existia, mas muitos Noldor e Sindar vinham fugindo para o sul por anos, esperando se unir a
Círdan, cujo povo tinha abandonado as Falas depois da Nirnaeth Arnoediad em 473 e fugindo para
a Ilha de Balar. Annael, líder do grupo Sindar que adotou Tuor, finalmente chegou às fozes do
Sirion. Então Gil-galad estabeleceu uma comunidade de Elfos lá, ou fundou uma e foi reconhecido
como líder. Esta comunidade, contudo, deve ter finalmente se movido para Balar, provavelmente
por convite de Círdan, assim assegurando que a Casa de Finwë sobreviveria.

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Gil-galad era nesta época meramente um rei dos Noldor, não seu Alto Rei. O Alto Reinado passou
com a morte de Fingon para seu irmão Turgon, e agora nós sabemos o porquê. Fingon não tinha
filhos, e o reinado, portanto, passou para seu parente masculino mais próximo da linhagem de
Finwë. Quando Gondolin foi destruída no ano 510 e Turgon morto, o Alto Reinado passou para a
Casa de Finarfin, da qual o último descendente masculino era Gil-galad. Durante o restante da
Primeira Era Gil-galad permaneceu em Balar. Ele e Maedhros foram os últimos reis Noldorin a
viver em Beleriand, mas parece que Gil-galad nunca encontrou Maedhros. Ele deve ter conhecido
Celebrimbor, o filho de Curufin, que ficou em Nargothrond depois que Celegorm e Curufin foram
banidos por Orodreth. Celebrimbor não era um rei e não tinha um reino para herdar, embora
tecnicamente deveria se tornar o líder dos Fëanoreanos após a morte de Maedhros e a partida de
Maglor.

Quando a Guerra da Ira terminou e a Hoste de Valinor retornou ao Oeste, muitos dos Noldor e
Sindar de Beleriand foram com eles. Os remanescentes dos Finwëaneianos (Gil-galad,
Celebrimbor e Galadriel) junto com os lordes dos Sindar (Celeborn e Círdan) optaram por ficar na
Terra-média. A história de Galadriel é muito confusa, mas parece que ela deixou Nargothrond por
volta do ano 495. Então ela e Celeborn devem ter ido ao oeste quando Eonwë convocou todos os
Elfos da Terra-média para navegar a Valinor. Em The Road Goes Ever On , Tolkien escreve que
Galadriel “...foi a última sobrevivente das princesas e rainhas que haviam liderado os Noldor
rebeldes para o exílio da Terra-média. Após a queda de Morgoth e o fim da Primeira Era, uma
interdição foi posta sobre seu retorno, e ela replicou orgulhosamente que também não desejava
faze-lo. Ela passou pelas Montanhas Ered Luin com seu esposo Celeborn (um dos Sindar) e foi
para Eregion...”

A posição de Galadriel entre os lordes Eldarin da Terra-média era única, e ela não parecia ter se
encaixado bem com o reino de Gil-galad. Em outra história, publicada no Contos Inacabados ,
Galadriel e Celeborn primeiramente se estabeleceram em Eriador, próximo ao Lago Vesperturvo
no início da Segunda Era, e lá foram reconhecidos Senhor e Senhora dos Elfos de Eriador. Mesmo
assim, O Senhor dos Anéis nos diz que Celeborn fora vassalo de Gil-galad em Harlindon por um
tempo após o estabelecimento do Reino de Lindon. Elrond, escolhendo em permanecer com os
Elfos, se tornou um conselheiro e aparentemente amigo íntimo de Gil-galad. Sua genealogia com
certeza assegurou a Elrond um alto posto no novo reino élfico. Nascido no meio dos sobreviventes
de Gondolin e Doriath, um descendente de Turgon e Thingol, Elrond foi capturado enquanto ainda
era uma criança pelos Fëanoreanos, ele se seu irmão Elros foram libertados por Maglor. Elrond
assim desenvolveu um relacionamento especial com os Fëanoreanos.

O reino de Gil-galad primeiramente deve ter incluído Elfos de todas as partes da antiga Beleriand:
sobreviventes das Falas e Hithlum, sobreviventes de Nargothrond, sobreviventes de Gondolin e
Doriath, Fëanoreanos, e provavelmente até alguns Laiquendi de Ossiriand e quem sabe
remanescentes dos Avari que haviam alcançado Beleriand. Apesar de tudo ter sido supostamente
perdoado entre os Elfos, não parece que podiam realmente deixar de lado as antigas dores. Os
Doriathrim parecem ter aceitado o governo de Gil-galad primeiramente porque foram eles
(aparentemente) que lideraram a grande migração dos Sindar para longe de Lindon. Os Sindar
iniciaram a migração para o leste ainda na Segunda Era, mas não sabemos quando. E seus
primeiros movimentos podem ter sido apenas para se fixar na Eriador ocidental. A pressão da
população deve ter sido parte da razão do porque deixaram Lindon. Os Elfos continuaram a ter
famílias durante a Segunda e Terceira eras. Mas também pode ser que Gil-galad tenha sido
influenciado pelas políticas Noldorin, suficientes para que os Sindar pudessem sentir que seu reino
não era para eles. Círdan e os Falathrim tinham sempre amizade com os Noldor, e foram de certa
maneira Noldorinizados em Beleriand. (Finrod tinha ajudado a reconstruir suas cidades, por
exemplo). Os Sindar de Hithlum e Nargothrond também teriam sido Noldorinizados.

Foram os Sindar de Doriath que teriam sido mais relutantes em adotar os costumes e a cultura
Noldorin, eles também teriam maior dificuldade para perdoar as mágoas passadas, tendo lutado
diretamente com os Fëanoreanos não uma, mas duas vezes. Virtualmente, todas as queixas dos

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Sindar sobre suas perdas estavam postas aos pés dos Noldor, se fosse neles o lugar para se
colocar a culpa. Então, sua migração para o oeste foi provavelmente também o resultado de
alguma antipatia em relação aos Fëanoreanos. A primeira fase da migração Sindarin teria
provavelmente se completado na época em que os Númenoreanos chegaram à Terra-média e
começaram a visitar Lindon. Nesta época, o porto de Edhellond havia sido estabelecido longe para
o sul e muitos Sindar se fixaram entre os Nandor e Avari de Eriador. O povo de Gil-galad manteve
contato com os Elfos de Eriador, e também haviam entrado em contato com os povos Edaínicos
que ainda viviam lá. Esses Homens enviaram doze de seus líderes para se encontrar com Vëantur
e seus Númenoreanos após pedirem a Gil-galad para organizar o encontro.

Então, assim que seu reino pareceu estar se desfazendo, Gil-galad foi colocado no cenário da
história mundial por Númenor. E Sauron começava a se atiçar na Terra-média mais uma vez.
Rumores chegaram a Gil-galad acerca de algum poder distante que não era amigável aos Homens
e Elfos. Ele não sabia nada ao certo, mas suas dúvidas e preocupações gradualmente
aumentaram. Quando o jovem príncipe Anardil (posteriormente Tar-Aldarion) começou a se
aventurar na Terra-média, Gil-galad tornou-se seu amigo, e o príncipe Númenoreano fez muitas
jornadas a mando de Gil-galad, visitando Homens por todas as terras do noroeste da Terra-média.
Gil-galad parece ter formado uma política de estabelecer relações mais próximas com os Homens.
Talvez ele estivesse apenas interessado nos Homens descendentes de Edain, já que os Elfos não
confiavam nos Homens de outros parentescos. Mas os povos Edain tinham se espalhado por
longas distâncias. Eles podiam se encontrados tão distante no sul como nas fozes do Sirion,
quanto tão distantes no leste como no Rio Carnen e as Montanhas de Ferro.

O estabelecimento do reino Noldorin de Eregion pode também refletir, em parte, as políticas de Gil-
galad. Apesar de Eregion agir por suas iniciativas próprias, Gil-galad não abandonou o povo de
Eregion durante a Guerra dos Elfos e Sauron. E ele pode ter sido fundamental na decisão de que
os Noldor deveriam estabelecer uma colônia próxima de Khazad-dûm para ter acesso ao Mithril.
Nesse sentido, a civilização Élfica asseguraria o controle de todas as rotas comerciais
Eriadorianas. Quando Sauron começou a se aproximar dos reinos Élficos sob a aparência de
Annatar, Senhor dos Presentes, sentindo neles a preocupação com o destino de por fim
desvanecerem, Gil-galad e Elrond suspeitaram dos motivos de Annatar e recusaram de tratar com
ele. Annatar/Sauron não foi admitido em Lindon e voltou sua atenção para Eregion. Lá,
Celebrimbor, senhor da Gwaith-i-Mirdain, ouviu Annatar e sonhou em transformar a Terra-média
em um paraíso Élfico muito semelhante a Valinor. Os Elfos estavam encarando um problema real
em que eles tinham sua própria forma de morte para enfrentar: o desvanecimento. Eles poderiam
perder seus corpos. Seus espíritos poderiam permanecer, conscientes, mas incapazes de interagir
com o mundo.

Gil-galad entendeu este problema tão bem quanto qualquer um. Mas ele fez a escolha inata de não
se intrometer na natureza. Os Elfos viviam com a vida de Arda. Isto é, seus espíritos não podiam
deixar os círculos do Mundo como os espíritos dos Homens podiam. Então, para eles “vida” não
era simplesmente uma função biológica, mas também espiritual. Eles se perguntavam se seus
espíritos continuariam a existir além da existência do Tempo. Eles sentiam que os Homens foram
assegurados de uma vida contínua e não eram preocupados com a morte do corpo como os
Homens eram. Então, Gil-galad não queria evitar os efeitos do Tempo. E assim, quando os Anéis
de Poder foram feitos e Sauron se revelou para os fazedores de anéis quando colocou o Um Anel,
os Elfos foram incapazes de se obrigar a destruir os Anéis. Celebrimbor deu dois dos maiores
Anéis a Gil-galad, e Gil-galad também não pôde destruí-los. Porquê? Porque ele sentiu que não
havia sentindo em desfazer o que havia sido feito? Teria prejudicado Celebrimbor
irreparavelmente, o fazedor dos Três, para os Anéis serem destruídos? Ou Gil-galad tinha
encontrado uma razão para mudar de idéia após séculos rejeitando as propostas de Annatar?

Os Três Anéis agiram com sua magia nos reinos Élficos mesmo, que ninguém os tenha usado por
todo o restante da Segunda Era. Tolkien escreveu que eles ainda conteriam os efeitos do tempo,
então os Elfos estariam assegurados de não desvanecerem enquanto os Anéis de Poder

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existissem. As políticas de Gil-galad tornaram-se então mais manipuladoras. Quando estava certo
de que Sauron invadiria Eriador, Gil-galad pediu a Númenor que ajudasse a defender os Elfos e
Homens que lá viviam. Mas ele não disse aos Númenoreanos do que se tratava a guerra. Só é
possível imaginar quais argumentos devem ter sido usados nos mais elevados conselhos Élficos
antes que a chamada às armas fosse feita. Era justo omitir informações vitais dos Homens que
estariam arriscando suas vidas a favor dos Elfos que ousaram se intrometer com a natureza?

Quando a guerra finalmente veio, Númenor estava a postos com o reino Élfico, sem dúvida em
consideração à antiga amizade e porque qualquer um que conhecia as antigas lendas e histórias
das Guerras de Beleriand sabia que Sauron era um cara mau. Que ele devia estar usando Orcs e
Trolls em seus exércitos, e que os Gwathuirim com quem os Númenoreanos tiveram problemas
haviam se aliado a Sauron, apenas encorajaria a crença de que era correto ajudar o povo Élfico.
Esta questão se tornou de sobrevivência para todos os Elfos e Homens. Os Anéis de Poder foram
escondidos de Númenor assim como de Sauron, e seu segredo mantido por séculos. Gil-galad
deve ter achado que acertou em sua decisão de não dividir tudo com seus aliados nos anos que
seguiram à guerra. Sauron foi vencido e mandado de volta a Mordor, e seu poder para ameaçar
Eriador foi diminuído. Ele voltou sua atenção para as terras do leste da Terra-média, onde decidiu
que poderia construir um grande império capaz de desafiar Númenor e Gil-galad. Mas por volta do
ano 1800 os Númenoreanos começaram a exibir novo comportamento. A Guerra dos Elfos e
Sauron mostrou-lhes que eram fortes, e esta força estava agora voltada para dominar e escravizar
outros Homens ao invés de ajudá-los.

Seria perigoso revelar a existência dos Anéis de Poder para essa nova Númenor, pois logo os
Dúnedain começaram a questionar sua sina e ansiar a vida dos Elfos. Quanto disso chegou aos
ouvidos de Gil-galad somente podemos supor, mas depois que os Númenoreanos começaram a se
dividir em Fiéis e Homens do Rei, e apenas os Fiéis continuaram a se fixar ou visitar o nordeste da
Terra-média, deve ter sido óbvio que os Reis de Númenor tinham colocado a si próprios em um
caminho de autodestruição.

Gil-galad, por sua vez, tinha seus próprios problemas. Muitos Eldar deixaram a Terra-média depois
da Guerra entre os Elfos e Sauron. Provavelmente parecia apenas uma questão de tempo até
Sauron crescer novamente em poder o suficiente para desafiar Gil-galad e os voluntariosos
Númenoreanos. Então o poder de Gil-galad estava diminuído e os Elfos permaneciam em sob
constante ataque mesmo durante os séculos em que a atenção de Sauron estava voltada para o
leste. Quando os Númenoreanos começaram a conquistar porções da Terra-média finalmente
entrariam em conflito com o reino de Sauron. As guerras para conquista poderiam aliviar a pressão
nos Elfos, mas seus Dias de Fuga pareciam ter continuado até a decisão fatal de Ar-Pharazon de
tirar de Sauron o controle sobre a Terra-média.

Tecnicamente, Númenor deve ainda ter estado aliada de alguma maneira com os Elfos. Pelargir, o
pátio real de barcos (essencialmente uma base naval), tinha sido fundada perto das fozes do
Anduin em 2350. Apesar de haver se tornado o maior porto ao sul dos Númenoreanos Fiéis, o
nome da cidade implica que fora construída com patrocínio real e deve ter servido como uma base
de operações em conflitos com o reino de Sauron. O poder reunido pelos Númenoreanos em
Pelargir através dos séculos deve ter servido para combater e provocar Sauron, embora Mordor
pudesse naquele tempo ter sido mais um posto avançado do império de Sauron do que seu
coração. Gil-galad não agiu quando Ar-Pharazon trouxe uma armada para a Terra-média. Umbar,
onde Ar-Pharazon aportou, era provavelmente muito distante ao sul para Gil-galad marchar ou
navegar até lá, e Ar-Pharazon muito provavelmente não queria nenhuma ajuda Élfica. Ele veio para
clamar seu lugar como Rei dos Homens, e nenhum Elfo devia ser necessário para ajudá-lo a
afirmar sua autoridade. De qualquer forma, o exército de Ar-Pharazon era tão grande que os
aliados de Sauron o abandonaram. O Um Anel falhou com Sauron mais uma vez. Então Sauron
deixou Mordor e se rendeu a Ar-Pharazon, permitindo que o rei o levasse a Númenor.

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A partida de Sauron parece ter trazido um fim efetivo às guerras dos Elfos. Ao longo dos 57 anos
seguintes, Gil-galad esteve apto a estender sua influência por todo o norte do mundo, até mesmo
nos altos Vales do Anduin. Quando Elendil e seus filhos trouxeram nove navios de sobreviventes
do desastre de Númenor para a Terra-média em 3319, Gil-galad se tornou seu amigo e os ajudou a
estabelecerem os reinos de Arnor e Gondor. O Rei Elfo construiu três torres voltadas para o Golfo
de Lûn para Elendil, e estas podem ter sido o primeiro lar do rei Dúnadan na Terra-média. Mas
apesar de ter cedido vasta autoridade a Elendil sobre Eriador, Gil-galad permanecia sem dizer
nada (ao que parece) sobre os Anéis de Poder. Não seria antes do ano 3429, quando o
reconstituído Sauron se sentiu forte o suficiente para atacar Gondor, que Gil-galad teria encarado o
dilema moral dos Anéis. Ele havia mantido Narya e Vilya escondidos por mais de 1000 anos. Nem
ele nem outro Elfo tinham colocado ou usado ativamente os Anéis durante aquele tempo. não
ousaram faze-lo, mas tinham se beneficiado com a habilidade dos Anéis de inibir os efeitos do
Tempo. Deve ter parecido óbvio para Gil-galad que os Elfos somente adiaram a inevitável decisão
de destruir os Anéis. Ele não deve ter sido convencido da necessidade de fazê-lo ou de que os
Três falhariam se o Um Anel fosse desfeito, mas como Sauron permanecia uma ameaça aos
Homens e Elfos não havia nenhuma esperança em utilizar o benefício total dos Anéis.

Foi então Gil-galad revelou tudo a Elendil e seus filhos. Finalmente os Elfos confessaram seus
próprios pecados e decidiram junto com os Dúnedain em empreender uma guerra final contra
Sauron, guerra que deveria resultar em sua derrota completa. Eles tinham o poder militar para
alcançar esse fim. O povo de Gil-galad havia crescido novamente em número, mas ele também
tinha estabelecido relações com Oropher e Amdir. Elfos, Homens, e Anões se uniram com um
único propósito e formaram o maior exército que a Terra-média tinha visto desde o fim da Primeira
Era. Mas os argumentos persuasivos de Gil-galad não parecem ter conseguido cativar totalmente
Oropher, que sendo um Elfo Doriathrim tinha inimizade com os Noldor. Deve ter sido somente a
relação de Gil-galad com Thingol e a necessidade de se fazer algo com relação a Sauron (que
havia devastado as terras a leste das Montanhas da Névoa e Eriador) que levou Oropher a se aliar
com Gil-galad. Oropher, contudo se recusou a marchar sob o brasão de Gil-galad.

Levou três anos para que Gil-galad e Elendil preparassem seus exércitos. Eles tiveram que
recrutar e treinar seus soldados, e aparentemente forjar armas e armaduras. Mas também tiveram
que gastar um tempo considerável construindo uma estratégia preparatória: explorar as terras,
testar as defesas de Sauron, talvez enviando reforços a Gondor para assegurar que Anárion não
seria subjugado. Deve também ter sido debatido acerca de como atacar Sauron. Deveria uma força
do norte atacar Mordor enquanto o exército principal cruzava as montanhas, ou deveria o assalto
principal vir do norte?

Em 3431, Gil-galad e Elendil cruzaram as Montanhas da Névoa e marcharam rumo ao sul. A se


juntaram com os exércitos de Khazad-dûm, Lórien e da Floresta Verde. A estratégia que haviam
selecionado foi de se dirigir direto a Mordor. Deve ter sido necessário tomar este caminho por
diversas razões, não sendo a menor delas o fato de que seus exércitos serem grandes demais
para serem levados a Gondor. Mas Sauron parece ter construído suas defesas nos altos vales do
Anduin, então Lórien e a Floresta Verde foram ameaçadas diretamente. Então a estratégia de Gil-
galad teria libertado esses reinos de qualquer perigo imediato. A primeira grande batalha ocorreu
ao sul da Floresta Verde, onde as Entesposas haviam construído seus jardins. O destino das
Entesposas nunca foi conhecido, mas acredita-se que elas tenham sido destruídas quando Sauron
queimou suas terras para impedir que a Última Aliança conseguisse alguma ajuda de lá. As
Entesposas teriam no mínimo suprido os exércitos do Oeste com alimentos. Sauron se retirou para
o sul e a Última Aliança o seguiu. Eles alcançaram seu exército na planície de Dagorlad, e lá
infligiram uma severa derrota a Sauron massacrando seus orcs numa longa e cruel batalha. Mas
nem tudo correu bem, pois Amdir e o exército de Lórien foram isolados nos Pântanos dos Mortos e
mais da metade deste exército élfico pereceu lá.

A Última Aliança posicionou suas forças antes da entrada norte de Mordor (onde o Morannon mais
tarde seria erguido), mas Gil-galad não pôde conter Oropher, que lançou um assalto

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prematuramente contra as forças de Sauron. Tolkien não diz como correu a batalha, mas Gil-galad
muito provavelmente seguiu os passos de Fingon, milhares de anos antes, na Nirnaeth Arnoediad.
Ele muito provavelmente pôs seu elmo e entrou na batalha na cola do ataque de Oropher, porém
tarde demais para salva-lo. Mas os exércitos do Oeste venceram o dia abrindo caminho para
dentro de Mordor. O que sobrou das forças de Sauron devem ter se retirado ou sido aniquiladas, e
o próprio Sauron ficou confinado em Barad-dûr. O rei élfico instalou a velha política élfica de sitiar o
Senhor do Escuro em sua fortaleza e tomou sua posição no Orodruin, perto das Sammath Naur
onde o Um Anel fora forjado. Neste momento Gil-galad poderia ter destruído os Três Anéis, talvez,
mas ou não desejou faze-lo ou os Anéis não foram levados para a guerra. Contudo ele deve ter
fortificado a montanha. Tolkien nos diz que haveria muitas manobras durante os próximos sete
anos, e após seis anos de cerco Sauron ainda estaria apto a arremessar pedras de Barad-dûr, pois
Anárion foi morto por uma dessas pedras.

A estratégia de Gil-galad mudou radicalmente. A Última Aliança não mais tentou vencer Sauron
pela força e a guerra se arrastava. Eles poderiam apenas esperar para então diminuir as forças de
Sauron através de atritos, esperando que, no fim, ele se rendesse. Mas Sauron se tornou tão
desesperado que formou um plano diferente. Ele saiu de Barad-dûr num ataque rápido e arrasador
fugindo para Orodruin, onde Gil-galad o atacou. Elrond disse ao povo de Valfenda que apenas
Elendil se manteve perto de Gil-galad e que apenas ele (Elrond), Círdan e Isildur viram o que
aconteceu. Gil-galad atingiu Sauron mortalmente, mas ele mesmo estava ferido e quase morto. O
corpo de Sauron caiu sobre Gil-galad, e era tão quente que queimou o rei élfico o matando
incinerado. Elendil correu e desferiu um golpe fatal em Sauron. O Senhor do Escuro apesar disso
ainda foi capaz de retaliar e derrubou Elendil sobre sua espada que se quebrou.

A estratégia final contra o Senhor da Escuridão funcionou, mas provavelmente não como Gil-galad
esperava. Teria ele realmente pretendido lutar sozinho com Sauron? Gil-galad parece ter sido um
rei cauteloso por toda sua carreira. Para preparar uma Guerra entre Elfos e Sauron, o rei élfico
ergueu suas defesas ao longo do Rio Baranduin. Ele deu a Elrond o comando de um pequeno
exército que tentou reforçar Eregion, mas que foi obrigado a retornar ao norte. Sauron forçou seu
caminho através do Baranduin e Gil-galad estava apto apenas para manter Lune contra ele. Assim,
os recursos do rei eram limitados e os limites de seus recursos devem ter ditado sua política.

A única vez em que Gil-galad foi para a ofensiva, foi quando ele e Elendil formaram a Última
Aliança. Neste momento, deve ter parecido óbvio que Sauron estaria apto a reerguer seu poder
com o Um Anel toda vez que alguém o vencesse. O objetivo de Gil-galad deve ter sido o de
encontrar e levar Sauron prisioneiro, e então de alguma forma tomar o Um Anel dele. Gil-galad não
poderia ter conhecido os segredos dos fazedores de anéis, mas deve ter sido capaz de aprender o
suficiente para compreender o verdadeiro perigo que o Um Anel representava. Alguém deve
imaginar que, se Gil-galad jamais tivesse usado os Três Anéis, ou permitido seu uso, teria ele
vivido e Isildur ainda tomaria o Anel de Sauron. A prudência teria aconselhado os Elfos a não
usarem seus Anéis após Isildur ter desaparecido no norte. Mas apesar de sábio, Elrond não seguiu
o caminho da prudência.

GIL-GALAD FOI UM ELFO REI... 8

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