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"...de muitas formas, Círdan se parece


com o primeiro Viking: é alto, barbado,
um guerreiro e um marinheiro; e seu povo
lutava usando machados assim
como espadas longas ..."

Michael Martinez

Mithlond seria o único lugar na Terra-média a se parecer com uma


aldeia clássica Inglesa. "Mas e quanto ao Condado? - perguntam ao
mesmo tempo várias vozes na platéia - Nós o pegamos desta vez
(risos)!" Sabiamente eu me rendo as evidências, afinal as curiosas
pequenas aldeias do Condado foram claramente moldadas em aldeias de Warwickshire, mas lhes
faltava alguma coisa que Mithlond possuía: o equivalente de uma igreja. Americanos que
cresceram em cidades pequenas sabem imediatamente o que a presença de uma igreja em
qualquer cidade ou aldeia significa: elas são o coração da comunidade. Esqueça a praça da
cidade, o gramado da aldeia, o velho bar amistoso ou a escola. Aquela igreja é o coração e a alma
da comunidade. As pessoas são batizadas lá, repreendidas lá, mexericavam lá (mas não perto do
pregador, se forem espertas), casavam-se lá, passam pela vergonha do divórcio lá, lamentam
sobre suas perdas lá, socializam lá, e finalmente recebem as despedidas finais lá. Agora, Mithlond
era na verdade um par de cidades, e não uma aldeia. Mas no apogeu de Lindon, durante os anos
do reinado de Gil-galad (a Segunda Era inteira) a cidade mais importante de Lindon era,
provavelmente, Forlond. Mithlond era o domínio de Círdan, os marinheiros de Brithombar e
Eglarest eram seu povo, e haviam lá tantos deles quantos Círdan pôde salvar em seus navios
antes da queda de suas antigas cidades na Beleriand oriental. É quase certo que a maior parte dos
Falathrim - Elfos de Falas - estabeleceram-se em Mithlond durante a Segunda Era do Sol.

Harlindon foi provavelmente colonizada pelos Sindar sobreviventes de Doriath, Nargothrond e


Hithlum (e pelos Elfos Verdes de Ossiriand). Hithlum foi o primeiro reino Élfico a tecer aqueles
mantos cinzentos encantados que eventualmente foram dados pelos Elfos de Lórien à Sociedade
do Anel. Lórien foi originalmente fundada pelos Sindar que estabeleceram-se entre os Elfos
Silvestres nos Vales do Anduin. Os Sindar que migraram para o leste na Segunda Era parecem ter
vindo de Harlindon. Forlindon provavelmente foi colonizada pelos remanescentes dos Noldor de
Nargothrond, Hithlum, Fëanoreanos e Sindar de Gondolin. A maioria das famílias mistas
Noldor/Sindar fixou residência em Forlindon, os Noldor e Sindar que fundaram Eregion quase
certamente vieram de Forlindon.

Estas distinções tribais não são inteiramente necessárias. Os sobreviventes de Gondolin e Doriath,
por exemplo, misturaram-se em Arvernien, e muitos Elfos e Homens juntaram-se a eles através
dos anos anteriores ao Terceiro Fratricídio. E, naturalmente, uma grande parte desta população
morreu no Fratricídio. Assim, eventualmente, a maior parte dos Eldar livres sobreviventes
terminaram na ilha de Balar com Gil-galad e Círdan. Mas não sabemos verdadeiramente nada de
como Balar foi colonizada. Algumas pessoas assumem que havia um grande porto onde todos os
Elfos viviam juntos, mas eu penso ser mais provável que cada grupo partiu e viveu por si só. Pode
ter existido um porto principal, um lugar onde as pessoas mais importantes habitavam. Mas cada
nova onda de refugiados poderia ter fixado residência em uma região diferente de Balar.

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Então, os portos de Círdan na Segunda Era podem dever suas raízes a Brithombar e Eglarest.
Vamos assumir, pelo bem da comunidade, que quando Círdan fixou-se em Balar seu povo
estabeleceu dois portos. Os Elfos, especialmente os Teleri de quem os Falathrim de Círdan
descendiam, tinham um sentimento muito forte de família e comunidade. Muitos dos Teleri que
estavam originalmente relutantes em deixar Cuiviénen mudaram suas opiniões e juntaram-se aos
Eldar porque não desejavam ser separados de suas famílias. Quando Elwë perdeu-se na floresta
de Nan Elmoth, muitos de seus amigos e parentes procuraram-no, e devido a seu amor por Elwë
ficaram nas florestas tempo demais e perderam a viagem para Aman. Os Sindar de Doriath,
Nargothrond e Hithlum eram na maior parte descendentes do povo de Elwë. Alguns do povo de
Círdan migraram para o norte, para Nevrast (provavelmente conduzidos por um irmão mais jovem
não citado deste, que pode ter sido o pai da senhora com quem Aranwë casou, o filho deles
tornou-se o amigo e guia de Tuor, Voronwë). E alguns do povo de Círdan parecem ter se misturado
com os Doriathrim orientais nas terras que se tornaram Nargothrond.

O povo de Círdan era associado com o mar, a vida em uma cidade ou aldeia costeira é muito
similar a vida no interior, com uma exceção principal: o povo sustentar-se em parte do mar. Eles
pescarão, construirão barcos e navios, viajarão para ilhas e ao longo das costas e se engajarão em
tarefas sazonais relacionadas à pesca e a manutenção de seus navios. O porto é uma parte
importante da aldeia pesqueira e a cidade costeira de comércio. Mas o mar sozinho não pode
sustentar uma grande população. De fato, por todo o mundo setentrional que tão pesadamente
influenciou a descrição de Tolkien da Terra-média, os povos costeiros eram usualmente também
fazendeiros. Mesmo no século 20, aldeias pesqueiras têm sido caracterizadas pela presença de
pequenas fazendas, grandes jardins, celeiros e outros sinais de vida rural. E a clássica imagem de
um fazendeiro/navegante é a do guerreiro Viking que plantou suas sementes na primavera, foi para
o mar, e então retornou no inverno para colher a safra.

As tradições do mar não brotam simplesmente durante a noite. Os senhores fazendeiros tem que
desenvolver uma longa tradição de viver e trabalhar com a água antes que se levantem e
comecem a fazer incursões através do mar. Necessitam de habilidades que não vem de criar gado
e vacas leiteiras: alguém tem que construir, alguém tem que fazer as velas, alguém tem que
manejar os navios. As pessoas encontram tempo para desenvolver estas habilidades nos meses
de verão, depois que os grãos tenham sido semeados e enquanto as crianças cuidam dos animais
da fazenda. Os homens iriam para dentro das florestas para cortar árvores. As árvores eram
usadas para construir casas, mobília, cercas, paliçadas, grandes salas, carroças, e para lenha.
Para cortar as árvores e serrar ou aplainar a madeira de modo que pudesse ser moldada em
alguma coisa útil são necessárias habilidades para o desenvolvimento de uma cultura de
navegação. Os Sindar de Círdan realmente cortavam árvores e trabalhavam na madeira.
Brithombar e Eglarest eram originalmente cidades madeireiras até que os Noldor de Finrod
ajudassem a reconstruir estas cidades em pedra.

De muitas formas, Círdan se parece com o primeiro Viking: é alto, barbado, um guerreiro e um
marinheiro; e seu povo lutava com machados assim como espadas longas, muito semelhante aos
Vikings. Depois que os Falathrim foram conduzidos de seus lares para Balar, os marinheiros de
Círdan percorreram de cima a baixo as costas ocidentais de Beleriand, atacando os Orcs e
perturbando os postos avançados de Morgoth. Círdan aliou-se com Hithlum durante as Guerras de
Beleriand, um ato sem dúvida nascido da necessidade, uma vez que seu povo não poderia ser
protegido pelo Cinturão de Melian. Embora os Elfos de Beleriand não avançassem em uma
aventura e conquista de busca ao tesouro viking como os históricos Escandinavos, há algo
distintamente familiar no relato quase casual de como Círdan enviou uma grande frota para o
Estuário de Drengist para aportar um exército, reforçando assim as forças de Fingon nas planícies
setentrionais de Hithlum. O povo de Círdan ajudou a fazer recuar um dos exércitos de Morgoth em
uma das batalhas menores que seguiram a Dagor Bragollach.

Naturalmente, a imagem de Círdan possuindo um rebanho de vacas, ou olhando de seu grande


salão sobre seus campos de feno e celeiros não combina com o Elfo estereotipado que

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supostamente passeia pelas florestas, dançando e tocando lira ou flauta. O povo de Círdan não
precisava ter criado gado para suprir-se com couro. Muitas comunidades pesqueiras,
especialmente no norte distante, suplementavam seu alimento pela caça. Caçadores usam as
peles de animais para fazer couro, e embora algumas pessoas pudessem não gostar da idéia do
povo de Círdan matando focas e leões-marinhos, os Elfos certamente usavam as peles dos
mamíferos marítimos encontrados ao longo das costas setentrionais da Terra-média. Agricultura e
a pecuária não são tão importantes para os Eldar quanto cultivar jardins e pomares. Das várias
ocasiões no Senhor dos Anéis onde são dados queijo ou leite aos Hobbits, este sempre vem dos
Homens. Os Noldor criavam cavalos, é claro, mas o estilo de vida deles não parece incluir o típico
estilo de vida agrícola. Os Elfos provavelmente cultivavam hortas suficientes para suas
necessidades, caçavam o que precisavam para carne e peles, e devotavam o restante do tempo as
artes e ofícios que eram os artigos de consumo de suas economias.

Uma típica propriedade Élfica entre o povo de Círdan pode ter consistido de uma casa, talvez com
dois níveis, uma ou mais oficinas, um quintal murado, um pequeno pomar, um jardim, e
provavelmente um pequeno bosque contíguo. Eles não precisariam de um pasto para animais a
menos que tivessem cavalos, mas podiam ter tido alguns prados na área. Os marinheiros teriam
sido pescadores e mergulhadores. Em Beleriand Círdan negociava pérolas com Thingol e
possivelmente outros senhores Élficos. Uma vez que a agricultura era principalmente
supervisionada pelas mulheres Eldarin os marinheiros Élficos teriam tido mais tempo para se
devotar às ocupações de artes e ofícios. Seus navios seriam, é claro, mais seletamente
desenhados e construídos somente com os melhores materiais. Os portos teriam áreas de pesca e
moinhos para suas principais lojas industriais, com depósitos para armazenar mercadorias e
materiais. Mas também teriam que existir peleiros, curtidores, tecelões, veleiros (fabricante de
velas), fabricante de corda, barris e rede.

Uma área de praia Élfica não precisa ser caracterizada por tavernas e negociantes, mas Elfos
também necessitariam se socializar. Se salões Élficos eram amplos e confortáveis, então as
famílias poderiam entreter-se umas as outras. Porém, se casais Élficos somente criassem uma
criança por vez, seus lares não teriam que ser amplos de modo algum. Acomodações generosas
seriam as responsabilidades dos senhores e chefes de clã. Comerciantes Élficos poderiam ter lojas
e ajuda contratada, mas o comércio pode ter sido conduzido mais como um negócio de família ou
clã.

Mas onde, e o que, pode-se perguntar, é o equivalente Élfico de uma igreja?

Não é pedir demais que os Elfos tenham um lugar de adoração como, na Terceira Era, eles tem
um lugar especial de reverência, uma espécie de santuário. Estou falando, é claro, de Elostirion.
Esta é a torre alta e esguia que Gil-galad construiu para Elendil. Nosso único vislumbre direto de
Mithlond vem exatamente no final do Senhor dos Anéis, quando Círdan encontra o grupo de Elrond
nos portões da cidade e os conduz ao cais onde o navio branco espera. Não obstante, antes de
alcançar Mithlond, o grupo de Elrond passa por Elostirion, "mais adiante [do Condado], erguendo-
se sozinho sobre uma colina verde".

O palantír mais intimamente relacionado a Pedra-mestre de Avallonë foi colocado por Elendil em
Elostirion. No texto "Dos Anéis de Poder e da Terceira Era", Tolkien escreveu: "lá Elendil olharia
sobre os mares circundantes, quando a saudade do exílio estava sobre ele; e acredita-se que
assim veria longe, até mesmo a Torre de Avallonë em Eressëa, onde a Pedra-mestre permanecia e
ainda permanece." Em The Road Goes Ever On, Tolkien escreveu: "depois da queda de Elendil os
Altos Elfos tomaram de volta esta Pedra para seus próprios cuidados, ela não foi destruída e nem
outra vez usada pelos Homens".

Os Noldor que viviam fora de Lindon visitam Elostirion de tempos em tempos, e olhavam o palantír
"para vislumbrar a distante Eressëa e as Praias de Valinor. O hino em Vol. I , p. 250, é um hino
apropriado para os Elfos que acabaram de voltar de tal peregrinação." O hino ao qual o comentário

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de Tolkien se refere é aquele (aparentemente) cantado por Arwen em Valfenda, mas o povo de
Gildor canta uma canção similar no Condado logo antes que encontrar os hobbits que fugiam dos
Cavaleiros Negros. Tolkien observa que Gildor e seu povo estão viajando para o leste, e devem ter
visitado Elostirion. A torre alta junto ao mar seria tão próxima a estrutura de uma igreja na Terra-
média quanto Tolkien a descreveu. Os Altos Elfos faziam peregrinações para lá e cantavam hinos
para os Valar que reconheciam suas jornadas. Embora a vida Élfica não fosse tão focada em volta
da torre como uma aldeia Européia seria ancorada por sua igreja, o povo de Círdan teria tradições
especiais concernindo a torre. Um grande tesouro como o Palantír não teria sido descuidado nem
teria usado frivolamente. O uso seguro e próprio dos Palantíri requeria autoridade. Isildur ou
Valandil devem ter restaurado formalmente o Palantír de Elostirion para os Noldor no início da
Terceira Era.

Mithlond, ou ao menos seu porto oriental, era tão próximo de uma cidade sagrada quanto Tolkien
pode fazê-la. Não era "o coração do reino Élfico na Terra-média", como Aragorn descreveu Lórien,
mas em vez disso era a cidade que guardava o maior tesouro Élfico remanescente, além dos
próprios Três Anéis. E, diferente dos Anéis de Poder, o palantír era um artefato de Aman, dado aos
Númenoreanos Fiéis pelos Eldar de Tol Eressëa quando não podiam mais visitar Númenor. A
Queda de Númenor e a mudança do mundo representaram grande perda para os Eldar assim
como para os Númenoreanos. Glorfindel retornara para a Terra-média na Segunda Era, quiçá o
único Elfo a alguma vez fazer algo assim, mas depois da Queda não havia esperança de qualquer
Elfo fazer aquela jornada novamente.

Exatamente o quão próximo o paralelo entre Mithlond e as aldeias pesqueiras do norte pode ser
traçado é impossível saber. Deveríamos visualizar pescadores entre as rochas, abrindo mariscos
na pedra úmida para usa-los como isca? Haviam garotas Élficas estripando o peixe com os quais
os marinheiros retornavam? Os marinheiros Élficos se juntam no cais e cantam hinos? Existia um
barco salva-vidas usado para resgatar marinheiros em perigo quando os mares se tornavam
violentos? Havia uma ou mais torres ao longo da costa, servindo como faróis e estações de
resgate?

Os Elfos de Tolkien eram tão encantadores que é um pouco desapontador imaginar suas vidas
mundanas. Eles indubitavelmente usavam suas habilidades sub-criativas para cumprir as
obrigações necessárias de suas várias ocupações. Talvez as mulheres Élficas cantassem para os
moluscos livres das rochas enquanto colocavam-nos em cestas leves. Talvez os homens Élficos
cantassem para os caranguejos e lagostas, incitando-os a sair da água para dentro de gaiolas.
Quiçá quando as redes eram lançadas os pescadores Élficos combinavam suas vontades e
atraiam o peixe para suas linhas iscadas e rapidamente puxavam-nos em grandes pescas.

Os portos de Mithlond podem ter sido o centro de uma série de cidades e aldeias ao longo da linha
costeira. Conforme as populações de Elfos aumentavam, eles se espalhavam pela Terra-média. É
difícil ver os marinheiros de Círdan deixando suas amadas ondas e marchando para o interior na
busca de florestas. Eles perderiam a vista de balsas cruzando entre os portos, os sons de
pescadores gritando uns com os outros onde a pesca estava boa, onde as ondas estavam
agitadas, onde os ventos estavam ágeis e fortes. Um marinheiro podia ficar cansado do mar, mas
um povo do mar raramente se cansa. E os Eldar nunca poderiam esquecer o mar, que estava
sempre em seus corações.

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