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Bielefeld

Há muitos e muitos anos, quando


Tormenta ainda era publicado por outra
editora, um livro muito querido pelos fãs – e
seus autores – foi lançado: O Reinado D20.
Detalhando os reinos de Arton e recheado
de ganchos de aventura, o suplemento era
capaz de suprir a sede de aventuras de um
grupo por um tempo quase infinito.
Agora, com Tormenta20 se solidifi-
cando como o RPG favorito dos RPGistas

o reino
brasileiros, é hora de uma nova encarna-
ção deste livro. Uma versão atualizada e
melhorada, digna de andar ao lado de seu
irmão, Ameaças de Arton. Embora o Atlas
de Arton tenha lançamento previsto para
2023, achamos que era hora de matar um
pouco da curiosidade de vocês.
O que se segue é apenas uma parte do

dos cavaleiros
texto de Bielefeld, um dos reinos mais ado-
rados pelos jogadores, com suas batalhas
de honra e cavaleiros pomposos. Ainda
que alguns pontos possam ser modificados
até seu lançamento, este é um bom exemplo
do material que será encontrado.
Vocês não perdem por esperar!

Texto por Leonel Caldela


Arte por Samuel Marcelino
M uitos lugares em Arton possuem
grande população de aventureiros ou
já foram palco de sagas épicas. Contudo,
o nome da casa nobre à qual a família Lendilkar servia no
velho continente. O que Thomas queria ao batizar seu reino
assim? Afirmar que era o verdadeiro representante da Casa
por Benthos, o Rei dos Dragões Marinhos. Quando as
tropas de Bielefeld desembarcaram na ilha, os sábios e
xamãs se reuniram e convocaram seu guardião.
Bielefeld? Conseguir o favor desses nobres? Provavelmente A fúria de Benthos foi terrível. Os exércitos de Bielefeld
nenhuma nação é mais voltada ao ideal
nunca se saberá a verdade, mas o nome foi adotado pelo fugiram aterrorizados, suas naus foram destruídas como
heroico que Bielefeld. Com grandes e povo da região. Uma identidade nacional se formou rapi- brinquedos. As ondas rugiram num maremoto incontrolável
orgulhosos castelos dominando terras damente. Em poucos anos os colonos já se consideravam que engoliu a costa de Bielefeld e devastou a capital. Tho-
povoadas por plebeus e fazendeiros, o pertencentes a Bielefeld, não a suas antigas nações. mas Lendilkar, a família real, quase todos os aventureiros de
reino depende da relação de confiança e Independente das ações e motivações do fundador do seu grupo original e vários nobres morreram. Subitamente,
lealdade entre vassalos e suseranos. Em reino, o povo de Bielefeld se apegou ao novo lar. Os nobres Bielefeld era um reino com forte identidade nacional e
Bielefeld, orgulho vale mais que dinheiro. que concordavam com as políticas sangrentas de Lendilkar relações sólidas de lealdade... Mas sem liderança.
E neste reino nada simboliza mais o ficaram concentrados na capital, enquanto aqueles que pro- Talvez Benthos tenha feito um bem imensurável ao povo
orgulho do que as ordens de cavalaria — curavam distância do fundador se espalharam pelo território. do Reinado.
em especial a Ordem da Luz. Entre esses, destacou-se a família Janz, fortes opositores de Deheon interveio, assumindo o papel de liderança que
Lendilkar, que ergueu um forte que mais tarde se tornaria teria para sempre. Um corpo diplomático intermediou a
O jovem rei de Bielefeld, Khilliar Janz, toma poucas o Castelo Roschfallen. Outros fortes foram erguidos por
decisões importantes sem consultar o líder da Ordem, paz entre os nobres restantes de Bielefeld e os regentes de
todo o reino, demarcando feudos. Sem muita relação com Khubar. A duquesa Raissa Janz se destacou nesse acordo,
Alenn Toren Greenfeld. A ordem é ligada ao reino, o o rei, as novas famílias nobres precisavam defender suas
reino tem a ordem como seu maior símbolo. As tramoias, colocando fim aos ímpetos guerreiros de alguns que deseja-
próprias terras. Bastante independentes, criaram entre si vam reparações ou retaliação. Entre os grandes apoiadores
intrigas e jogos de poder dos aristocratas não apagam
laços de suserania e vassalagem que continuariam para de Raissa estavam as famílias Donovan e Devendeer. A
o espírito de Bielefeld: a crença de que a honra defende
sempre. Houve prosperidade. Por um tempo, pareceu que maior voz de dissidência estava na poderosa família Asloth.
Arton tanto quanto espadas e escudos.
Bielefeld seria o poder dominante em Arton.

História A Primeira Derrota Uma Nova Dinastia


Com a paz estabelecida, restava achar um rei. Arautos
Nome oficial: Bielefeld Apesar de sua tradição heroica, as raízes de Bielefeld Os olhos de Thomas Lendilkar se voltaram para mais e aventureiros procuraram herdeiros de Thomas Lendilkar;
são encharcadas de sangue. longe. O fundador já havia expulsado nativos da costa de sábios vasculharam tomos genealógicos em busca de
Lema: Afiada É a Lâmina da Justiça
Thomas Lendilkar, o fundador do reino, era um cavaleiro Bielefeld, forçando-os a recuar a sua ilha natal. Em 1037, ligações com outras famílias. Nada foi encontrado. Sem
Gentílico: bielefeldense ele decidiu que o próximo alvo de expansão estava nos um herdeiro, uma assembleia de nobres elegeu Raissa Janz
e líder de um grupo de aventureiros na jovem cidade de
Capital: Roschfallen Valkaria. Thomas acreditava que o destino dos refugiados mares. Na ilha de Khubar. como nova rainha de Bielefeld. Tamanha era sua aclama-
Forma de governo: Monarquia Hereditária de Lamnor não era permanecer sob a proteção da deusa O que o rei queria com uma ilha, quando havia tanta ção que a lei hereditária se manteve, frustrando manobras
para sempre. Assim como muitos outros, empreendeu uma terra para ser conquistada no continente? Talvez a riqueza dos Asloth para que houvesse uma eleição periódica. A
Regente: Khilliar Janz nova família real Janz foi coroada pelo sumo-sacerdote
jornada para desbravar novas terras. Alguns historiadores de Khubar tenha atraído Thomas. Talvez isso fosse só o
Raças principais: humanos, anões, garantem que ele não queria nada além de um lar para seu primeiro passo na formação de uma marinha capaz de de Khalmyr, permanecendo no poder desde então.
goblins, hynne povo. Outros dizem que queria um reino para si próprio. invadir Lamnor. Fosse qual fosse sua intenção nos mares, O reino nunca se recuperou da destruição de sua
Divindades principais: Khalmyr, Lena, Thomas partiu rumo a leste com seu grupo de aventureiros Thomas Lendilkar só conheceu a ruína. Khubar é protegida marinha. A família Janz tem uma desconfiança quase
Aharadak e logo se envolveu em conflitos. Houve interações pacíficas,
mas em geral a passagem dos aventureiros foi marcada por
fogo e aço. Apesar disso, Thomas considerou aquele terreno
ideal para a formação de uma nação independente. Havia “Que a espada de Bielefeld jamais volte a se erguer contra as ilhas! Não por temer a força do
relativamente poucos monstros e muitas riquezas naturais. sagrado Benthos! Não por medo de represálias e punições! Mas por sabermos pela chama
Quando chegou à costa, deixando um rastro de destrui- que arde em nossos corações que esta é a verdadeira justiça. Não a justiça de um rei ou dos
ção, Thomas Lendilkar ordenou a construção de um templo nobres. A justiça de Khalmyr! Sob o julgamento de Khalmyr, aceitamos nossa punição. Sob o
ao Deus da Justiça e fundou oficialmente sua “capital”, que julgamento de Khalmyr, nos rendemos.”
batizou de Lendilkar. O ano era 1021, após a chegada dos
- trecho do discurso de Raissa Janz no pós-guerra contra Khubar
elfos. Ele se declarou rei do novo reino de Bielefeld. Não se
sabe a origem do nome. Alguns afirmam que “Bielefeld” era
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supersticiosa da exploração naval — sobre um cavalo, criminadas pela violência dos mercenários, não demorou
vai-se longe. A bordo de um navio, vai-se longe demais. para que as vítimas revidassem, iniciando uma série de
Este dogma não oficial recebe o apelido de “Doutrina da ataques a cidades do reino. A intriga chegou a Deheon:
Ferradura”: um nobre de Bielefeld deve interferir apenas segundo as mentiras de Portsmouth, mais uma vez Bielefeld
até onde seu cavalo puder levá-lo. se mostrava um conquistador sanguinário. Deheon decretou
A capital passou a ser o ducado de Roschfallen, lar dos que os Ermos Púrpuras seriam independentes e, para todo
Janz, que se expandiu para uma cidade completa. Mas o Reinado, pareceu que Bielefeld era expansionista e tinha
Roschfallen nunca chegou a ser a cidade mais importante sido derrotado mais uma vez. O trono estava desacreditado.
do reino — Norm sempre teve mais destaque. Era um Foi este poder abalado que enfrentou a sangrenta
arcebispado de Khalmyr, capaz de unir nobres e plebeus, guerra civil de 1389.
tendo uma relevância que Roschfallen jamais conquistou. O Conde Ferren Asloth, conhecido como “o Velho
Até hoje Roschfallen é considerada “terra dos Janz”. Abutre”, era infame em Bielefeld. Portsmouth era uma terra
A história de Bielefeld seguiu sem grandes reviravoltas vasta, mas Ferren se dizia um governante humilde e oprimido.
durante séculos — a cavalaria e a tradição feudal man- Proibia a magia, afirmando que era uma forma de “defender
tiveram a ordem e controlaram a sede de conquista. Até os mais fracos”. Implorava para que os impostos fossem
que, em 1300, as tensões aumentaram de novo. diminuídos — segundo Asloth, um condado que nem mesmo
possuía fortes da Ordem da Luz estava sendo obrigado a
Irmão Contra Irmão pagar pela cavalaria que só existia para pisoteá-lo.
A família Asloth, invejosa e sedenta de poder, nunca A Revolta a Pé, apelido de uma série de ataques de ple-
adotara os valores e tradições da cavalaria. O Condado beus e pequenos nobres contra cavaleiros em Portsmouth,
de Portsmouth, governado pelos Asloth, se dizia uma pareceu um movimento espontâneo, mas não passou de O Século Heroico
“terra de liberdade”, onde os pomposos cavaleiros não uma maquinação de Ferren Asloth — o estopim da guerra
Talvez seja cedo para dizer, mas os bardos já chamam desejando ser escudeiros. A relação de Orion e de Alenn
dominavam a plebe. Os Asloth empregavam companhias civil. Na realidade, as companhias mercenárias já estavam
o período a partir de 1400 de “Século Heroico”. Toren Greenfeld com a Rainha Imperatriz Shivara ajudou
mercenárias em vez de um exército estabelecido, afirman- de prontidão e, assim que houve a primeira retaliação por
Em 1405, o cavaleiro da Luz sir Orion Drake teve para que o reino fosse o principal aliado de Deheon na
do que era a maneira mais justa de defender suas terras. parte dos cavaleiros, atacaram em massa. A justificativa:
independência. A realidade: mais um passo no plano seu filho sequestrado pelo caçador de recompensas Guerra Artoniana. Hoje em dia Bielefeld está intimamente
Na realidade, estavam formando as bases do que seriam
sinistro do Velho Abutre. conhecido como Crânio Negro. O vilão servia à ligado ao Reino Capital. Diz-se que, se Deheon usa a
tropas sem lealdade nenhuma ao povo de Bielefeld.
Tormenta e a luta de Orion contra o vilão e a Tempes- coroa, Bielefeld empunha espada e escudo.
Os Asloth também recrutaram outro tipo de “tropas”. Ao A Guerra Civil de Bielefeld foi triste e brutal. Al-
deias separadas por um mero riacho massacraram-se tade Rubra colocou todo o reino em marcha contra Bielefeld foi fundamental para a derrota dos Puristas
longo de anos, cooptaram bardos, espiões e planejadores
em todo o Reinado. Usaram-nos de forma insidiosa, como mutuamente. Familiares lutaram entre si, famílias foram um exército corrompido. Com seu avanço detido na — e sofreu por isso. Após a morte do então rei Igor Janz,
agentes infiltrados em castelos, tavernas, fazendas, cidades… dilaceradas. Os mercenários decaíram para hordas fronteira do reino que hoje é a Supremacia Purista, seu filho Khilliar Janz assumiu o trono. Inexperiente, no
Inúmeros pontos do continente, sempre se fazendo passar por de carniceiros — quando não havia saque suficiente Bielefeld precisou pagar Wynlla por um imenso ritual meio de uma guerra de proporções inéditas, o jovem rei
“gente comum”. Esse verdadeiro exército da intriga foi mais nas terras inimigas, saqueavam as próprias aldeias de de transporte de tropas. Os cofres de Roschfallen triunfou com o apoio de heróis aventureiros. A Ordem da
tarde apelidado em Bielefeld de “Ordem dos Covardes”. Portsmouth. Muitos morreram, muitos perderam tudo. nunca se recuperaram, mas os soldados e cavaleiros Luz assumiu a liderança em diversas batalhas. O ódio dos
Vários cavaleiros da Luz construíram suas reputações chegaram a tempo para se unir ao Exército do Reinado Puristas contra Bielefeld foi tamanho que o reino chegou
Usando seus agentes, os Asloth começaram uma
na Guerra Civil, fazendo defesas heroicas contra as e derrotar as hordas aberrantes na beira de uma área perto de se desfazer. A capital foi sitiada e recoberta
bem-sucedida campanha difamatória contra a coroa de
Bielefeld e a cavalaria. Até hoje vários artonianos ouvem traiçoeiras tropas de Portsmouth. de Tormenta. Durante esta guerra, o jovem cavaleiro de névoa escura e mágica. Norm foi invadida, tropas
a palavra “cavaleiro” e pensam em um aristocrata brutal Deheon interveio uma última vez, com uma neutralida- Vincent Gherald se revelou corrompido e espalhou a inimigas chegaram aos portões do Castelo da Luz. Nobres
e autoritário. As próprias ordens foram prejudicadas por de que afrontava Bielefeld. A indignação ameaçou fazer corrupção por toda uma geração de cavaleiros em ficaram ilhados, a cadeia de lealdade foi ameaçada. Por
isso, com vários jovens honrados rejeitando a cavalaria o reino inteiro se voltar contra o Reinado — o que talvez Norm, resultando numa noite de massacres — vetera- um tempo, parecia que Bielefeld iria desmoronar em uma
e muitos ambiciosos mesquinhos se voltando a ela. fizesse parte do plano de Ferren. Mas, no final, a paz nos contra novatos, pais contra filhos. série de pequenos feudos.
Os mercenários de Portsmouth atacaram as nações no continente era mais valiosa. Seguindo orientação (ou As ações de Orion Drake, que incluíram a destruição Felizmente, isso foi evitado. A vitória do Reinado numa
dos Ermos Púrpuras, usando armaduras de cavaleiros e comando) da Coroa do Reinado, Bielefeld reconheceu a da primeira área de Tormenta e a libertação da ilha de batalha crucial foi a força que impulsionou Bielefeld a
estandartes de famílias nobres de Bielefeld. A região dos independência de Portsmouth. Tamu-ra, levaram a cavalaria mais uma vez ao ápice do resistir, mais unido do que nunca. A Espada e o Escudo
Ermos era autônoma, apesar de nos mapas ser parte do Reduzido a uma fração do que era, Bielefeld embar- ideal heroico. Bielefeld viu um enorme influxo de jovens do Reinado permanecem erguidos.
reino. Com as famílias nobres e ordens de cavalaria in- cava numa nova era de provações.
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Geografia
Bielefeld é uma terra cercada de inimigos. A oeste, a
Supremacia Purista se espalha, vasta e poderosa. Uma
área que costumava pertencer ao Reino da Cavalaria
agora é território disputado entre as duas nações — a
Conflagração do Aço. A leste, Aslothia, terra de mortos-
-vivos e mercenários cruéis. A norte, os Ermos Púrpuras
poderiam ser neutros ou até aliados, mas o histórico de
Bielefeld cobra seu preço. O mar é a única saída do reino,
mas a marinha de Bielefeld ainda não se recuperou de
séculos de negligência.
Assim, simplesmente chegar a Bielefeld é uma aventura.
O reino não passa fome devido a seu terreno naturalmente
favorável, mas qualquer transporte é caro e demorado.
Nobres contratam grupos de aventureiros para escoltá-los
através de Aslothia, enquanto cavaleiros buscam heróis
para acompanhá-los nessa jornada. A coroa do reino tam-
bém busca aventureiros para ir até Doherimm e negociar
a construção de passagens subterrâneas com os anões.
A fronteira com Aslothia é especialmente perigosa
— uma divisão tanto política quanto mística. A Floresta
de Jeyfar marca o limite entre os dois reinos. Enquanto a
maior parte de Jeyfar é de um verde escuro e profundo,
a orla leste apresenta árvores ressequidas, sem folhas, o
sol surgindo esmaecido por entre os galhos.
Exceto por Jeyfar, Bielefeld não tem grandes áreas
florestais. Planícies férteis dominam a maior parte do
reino. Não sendo especialmente urbanizado, Bielefeld
possui horizonte amplo, onde se pode viajar por dias sem
encontrar cidades, castelos ou outros marcos.
O clima é ameno, com estações bem marcadas. No
verão, a região se torna muito viva e vibrante, explodindo
com colheitas fartas e árvores carregadas de frutos. No
inverno há nevoeiro e chuva, além de uma neve fina que
no chão se transforma em lodo ou gelo. As estradas se
tornam escorregadias e traiçoeiras, o gelo fino esconde
verdadeiros fossos de lodo.
Povo e Costumes A Cavalaria
Humanos compõem quase toda a população de Bie- Existem muitas ordens de cavalaria em Arton — algu-
lefeld. A maior comunidade de não humanos é formada mas pouco mais que clubes de nobres, outras verdadeiros
por anões, seguidos de goblins, hynne e um punhado de exércitos de guerreiros jurados a fazer o bem. O início
representantes de outras raças. das ordens de cavalaria remonta ao antigo continente,
antes da Grande Batalha. Elas cumpriam um papel seme-
A moda em Bielefeld é bastante tradicional. Barbas
bem aparadas, como é usual na Ordem da Luz, vestidos lhante ao dos grupos de aventureiros hoje em dia: eram
longos e até um pouco antiquados. É comum ver pessoas bandos de pessoas extraordinárias que ganhavam a
trajando armaduras ou portando armas embainhadas, vida corrigindo problemas grandes demais para o povo
principalmente entre a nobreza. Nobres em Bielefeld comum. Enquanto grupos de aventureiros sempre foram
não vestem casacas refinadas e camisas bufantes — variados e seguiram suas próprias regras, ordens de
cobrem-se de aço, preparados para defender a plebe. cavalaria adotaram o método de luta mais tradicional e
Pelo menos em teoria. longos e detalhados códigos de conduta. Os cavaleiros
do velho continente vieram parar aqui, dando início ao
Alguém certa vez disse que “por causa de sir Orion
Drake, está na moda ser chato em Bielefeld”. Um estrangei- modo de pensar de Bielefeld.
ro poderia pensar isso: o povo é sério e formal. Contudo, Essas várias ordens sempre compuseram a alma do
aqui seriedade e formalidade não são sinal de frieza ou reino. Nenhuma família nobre estava completa sem pelo
antipatia. Levar a sério o que alguém diz e ser sério em menos um cavaleiro; os plebeus podiam ser sagrados
troca, tratar todos com deferência e esperar deferência cavaleiros e assim ascender à nobreza por bravura.
em troca são sinais de respeito e estima. Apenas alguém
Um tipo de relação fundamental em Bielefeld é entre
que desprezasse outra pessoa poderia tratá-la com inti-
cavaleiro e escudeiro. Escudeiros servem a cavaleiros para
midade sem primeiro desenvolver uma relação próxima.
aprender a parte prática e moral da cavalaria. Mais que
Isso deixa os forasteiros enlouquecidos. Um aventureiro
um mestre, o cavaleiro se torna quase um pai ou mãe.
pode ser tratado com formalidade pelo cavaleiro cuja vida
Para o escudeiro, trocar de senhor não é uma opção — ele
acabou de salvar... E ver o mesmo cavaleiro sendo natural
e descontraído com o inimigo que tentou matá-los! Para pode ser obrigado a servir um cavaleiro cruel por boa
o cavaleiro, faz todo sentido: por que se esforçar para parte de sua infância e adolescência. O inverso também
tratar bem um crápula? é verdadeiro: mesmo frente a um escudeiro preguiçoso
ou incompetente, nenhum cavaleiro pode largá-lo sem
Contudo, na guerra toda formalidade desmorona
e relações íntimas se formam em questão de dias. Os
enfrentar vergonha e desaprovação. Já houve casos de
cavaleiros expulsos da Ordem da Luz por terem abandona-
Cavaleiros sem Ordem
habitantes de Bielefeld se abraçam, riem, tratam-se por
do escudeiros em lugares perigosos ou sem outras opções Bielefeld é um reino tão ligado à existência da Ordem inspiração para suas armaduras e armas. Sua variedade
apelidos e se apegam com extrema rapidez.
de sustento. O caráter e a habilidade do escudeiro são da Luz que é comum imaginar que todo o contingente de é imensa: alguns podem tentar replicar os feitos de algum
“Honra” é uma palavra ouvida constantemente no rei- responsabilidade do cavaleiro. cavaleiros se resume a suas fileira. Isso, porém, está muito herói lendário, carregando assim seu legado, enquanto
no. Mas o que é honra? Cada habitante tem uma definição longe da verdade. outros podem se basear em elementos, ou adotar as ca-
própria. Para muitos, é honestidade e cumprimento das Essa importância fundamental e o prestígio associado
racterísticas de uma ameaça que admiram.
levaram a uma certa banalização do papel dos cavaleiros. Além de contar com inúmeras ordens menores, algumas
leis. Outros consideram que só é honrado aquele que não Assim, Sir Towasson, Cavaleiro da Mantícora, por
tolera nenhum desrespeito ou insulto — o que pode levar à Em Bielefeld, muitas vezes “cavaleiro” não é sinônimo dissidentes de suas irmãs mais famosas, com suas próprias
de “herói” ou mesmo “combatente”... Alguns cavaleiros regras e condutas, há também em Bielefeld a figura do exemplo, traz em seu elmo as asas de um dragão, a pata
violência. Heróis como Alenn Toren Greenfeld dizem que de um leão em sua ombreira, os espinhos da cauda do
honra é ativamente fazer o bem e combater a maldade, se surpreendem com a mera sugestão disso! Para eles, cavaleiro sem ordem. Um herói independente, que viaja
pelo reino realizando feitos de bravura sem precisar prestar monstro em sua maça, e o rosto ameaçador gravado em
enquanto Orion Drake considera que honra é ausência “sir” é só mais uma honraria na longa lista de títulos
contas a uma instituição. seu enorme escudo.
de soberba e cumprimento do dever a qualquer custo. O que esfregam na cara dos plebeus. Bielefeld enfrenta a
conceito é parte integral da vida de nobres e plebeus. Em praga da intriga e a cavalaria é onde ela se espalha com Acompanhados de escudeiros ou não, estes cavalei-
Bielefeld, o mais reles fazendeiro prefere ficar sem comida maior facilidade. Há uma luta constante entre cavaleiros ros errantes costumam tomar um tema específico como
a ficar sem honra. honrados e conspiradores ambiciosos.

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Locais Importantes seus negócios. Isso criou a impressão de que Roschfallen
é um lugar transitório, onde se compra e vende, mas não
Roschfallen abriga estabelecimentos que quase não
existem no Reinado, como bancos, casas de chá, em-
qualquer ponto da cidade. No pátio central, o próprio
Deus da Justiça surge acima das muralhas, na forma de
se vive. A capital é grande e rica, mas artificial. pórios de vinhos e lojas de poções. Esses lugares só se uma estátua com mais de 60 metros de altura. A mão
Roschfallen (capital) Talvez por isso, o número de estalagens e tavernas é sustentam por seus altíssimos preços, tendo visitantes
como seus principais clientes. Isso separa ainda mais a
divina de Khalmyr se ergue, como se estendesse sua
enorme. A população tem o curioso hábito de se enfurnar justiça para todos. O castelo brilha à noite, espalhando
Roschfallen começou como um castelo, o centro de poder
em tavernas no primeiro dia frio do outono. Isso torna capital do resto do reino. uma luz prateada e suave que não deixa os cidadãos
da família Janz. Quando Os Janz assumiram o trono de
esses estabelecimentos superlotados e provoca inúmeras Também na capital há o Templo da Justiça, um dos esquecerem que estão sob a proteção e vigilância de
Bielefeld, o Castelo Roschfallen foi expandido e as terras a
brigas. A mais cara e luxuosa estalagem de Roschfallen mais impressionantes tribunais do mundo conhecido. seu padroeiro.
seu redor foram muradas para que se convertesse em cidade.
é a Espada de Khalmyr, de posse de uma família de Um lugar onde clérigos de Khalmyr resolvem disputas Como qualquer construção anã, o Castelo da Luz com-
Mesmo assim, Roschfallen sempre permane- anões. Alguns dizem que é lugar para turistas e ricaços comerciais, condenam criminosos, conciliam famílias bina beleza e poder. Catapultas e balestras se espalham
ceu como “o lar dos Janz”. Dizem que não sem bom gosto — a “cerveja anã especial” da taverna rivais, protegem misticamente documentos, intermediam por muralhas e torres, misturando-se com a arquitetura. A
tem cidadãos, apenas hóspedes. O Caste- seria uma receita rejeitada em Doherimm, aguada para acordos, celebram casamentos e determinam a vera- entrada principal é uma ponte levadiça que conduz a uma
lo Roschfallen foi rebatizado — hoje em se adaptar ao gosto dos humanos. cidade de alegações, o enorme e simétrico prédio é antecâmara cheia de armadilhas e seteiras. Os corredores
dia, oficialmente é o “Palácio Real”, uma cacofonia de orações, discursos e discussões. O são amplos e os salões são vastos — o Castelo da Luz é
A milícia de Roschfallen está sempre em volta das
mas ninguém na cidade o chama Templo não emprega clérigos-juízes, apenas abriga as uma das poucas fortalezas cujo interior foi pensado para
brigas de taverna, pois não há muito mais a fazer. A ferra-
assim. Por incentivo da família sessões com clérigos escolhidos pelas partes. Assim, o cargas de cavalaria.
menta mais importante de um miliciano é seu apito, usado
real, muitos burgueses ricos prédio sempre está cercado de jovens clérigos de Khalmyr
para chamar reforços — o que já levou jovens milicianos A população inchou quando filhos de famílias nobres
vieram para cá estabelecer a imaginar se em algum momento a milícia efetivamente tentando convencer cidadãos a contratá-los como juízes se mudaram para cá, na esperança de integrar a Ordem
fará algo, ou se apenas ficarão chamando uns aos outros. e alavancar suas carreiras. da Luz. Não demorou muito para que Norm se tornasse
Contudo, o crime sempre se esconde nas sombras. Um mais populosa que Roschfallen.
notório esquema que vitimiza recém-chegados é o “golpe Norm Hoje em dia, quase tudo em Norm existe para apoiar
do escudeiro”: criminosos localizam um visitante rico que Se Roschfallen é a capital de Bielefeld, Norm é seu a Ordem da Luz. Guildas de ferreiros e artesãos trabalham
esteja acompanhado de sua família. Então simulam uma coração. Quando a Ordem da Luz foi estabelecida aqui, unicamente em armas, armaduras e ferramentas para os
“injustiça” na frente de um filho ou filha adolescentes. Se a cidade se tornou um símbolo das tradições, o lar do cavaleiros. Fazendas ao redor das muralhas alimentam
o jovem intervier, “salvando o dia”, surge um cavaleiro da orgulho feudal e heroico. a Ordem. A presença dos cavaleiros estimula a devoção
Luz impressionado com seu heroísmo e o convida religiosa, multiplicando os templos.
Norm era um arcebispado de Khalmyr, uma espécie
para se apresentar como escudeiro no Palácio
de pequena teocracia leal à família nobre Donovan, que Os habitantes de Norm vivem uma existência
Real. Tomado pela emoção do combate e
vivia num castelo a dias de distância. A cidade parecia tradicional e guerreira, voltada à manutenção dos
impressionado pela armadura brilhante,
destinada a ser uma nota de rodapé. Quando Arthur campeões e nobres locais. Não existe muita noção de
o rapaz ou a moça insiste com seus pais.
Donovan II voltou de uma peregrinação mística com o enriquecimento, mobilidade social ou mudança de vida
O “cavaleiro” então o leva... E no
dever de fundar a Ordem da Luz, tudo mudou. O duque — exceto através da cavalaria. Há grandes áreas onde
dia seguinte os pais recebem uma
não quis que a sede da Ordem fosse seu próprio castelo, se organizam justas e torneios. Não se vê ruelas cheias
mensagem com a quantia que
pois não desejava que ela pertencesse à família. Também de gente, mas espaços amplos onde transitam cavalos.
devem pagar como resgate.
relutou em erguer um castelo numa região erma — Dono- As casas são baixas e espalhadas, dando destaque
van enxergava a Ordem da Luz como uma força presente a prédios imponentes como os templos — e sempre
no dia a dia do povo. Assim, a nova ordem de cavalaria deferentes ao Castelo da Luz.
fez sua sede numa cidade. Donovan usou boa parte das Quase 20 anos atrás, Norm sofreu um duro golpe. A
riquezas da família na contratação de engenheiros e Queda de Norm, quando jovens cavaleiros corrompidos
trabalhadores anões, para que construíssem a fortaleza pela Tormenta queimaram a cidade e enfrentaram as gera-
que abrigaria os novos cavaleiros. O Castelo da Luz se ções mais velhas, é um trauma que a cidade talvez nunca
ergueu com velocidade estonteante. Em poucos anos, supere. A Guerra Artoniana também chegou à cidade. Os
Norm se transformou. cavaleiros foram paralisados por uma maldição, salvos
O Castelo da Luz é uma das construções mais impres- apenas pela intervenção de um grupo de heróis. Ferida,
sionantes do continente. Suas torres de prata e mármore Norm se tornou ainda mais aguerrida e tradicional — mais
imitam a forma da espada de Khalmyr, visíveis de quase do que nunca, o lar da Ordem da Luz.
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Aventuras
Sem grandes pragas de monstros e com fortes relações Muitas aventuras em Bielefeld envolvem intriga
de lealdade, Bielefeld pode parecer um reino seguro. Em palaciana ou o modo de vida da Ordem da Luz. Aven-
geral é — mas a segurança existe principalmente dentro tureiros podem encontrar torneios abertos com grandes
dos castelos. somas em dinheiro ou até itens mágicos como prêmio
Como nação rural, Bielefeld apresenta vastas áreas sem principal. Esses torneios são centrados ao redor da
justa (competição com lanças entre cavaleiros), mas
sinais de civilização. Cada nobre cuida de suas terras,
também há a liça (uma batalha a pé entre múltiplos
sem que um exército real forme perímetros ou estabeleça
oponentes), campeonatos de arquearia e até duelos
muitos postos de vigilância. Nesses lugares desprotegidos,
mágicos. Embora a justa seja teoricamente reservada a
um único monstro pode ser um grande perigo. Há muitos
portadores do título sir, qualquer um pode se inscrever
casos de ogros e trolls que tomam o controle de uma ponte
como um “cavaleiro misterioso”, escondendo o rosto e
ou trecho de estrada, exigindo algum tipo de tributo. Cabe
o brasão, desde que tenha cavalo, lança e armadura. A
à família nobre local lutar contra essas ameaças — ou
vitória de um cavaleiro misterioso muitas vezes é causa
contratar aventureiros. de interesse quase frenético nas cortes.
Outro risco em Bielefeld são cavaleiros tentando Outro fenômeno comum em Bielefeld são cavaleiros
amealhar ouro e glória. Alguns são honrados membros e aventureiros que ativamente procuram injustiças para
da Ordem da Luz, que desafiam para duelos e justas corrigir e maldades para punir. Mesmo que um monstro ou
guerreiros capazes de se defender. O vencedor tem direito vilão não esteja ameaçando seu feudo, talvez um nobre
às armas, armadura e talvez até ao cavalo do perdedor. queira partir para caçá-lo, apenas porque é a coisa certa
Ignorar esses desafios traz vergonha e fama de covarde a fazer. E para isso precisa de valorosos companheiros.
a um cavaleiro... E pode render um ataque unilateral a Aventureiros podem cumprir uma dessas missões como
um não cavaleiro. Afinal, como um mero guerreiro ousa teste de suas capacidades e espírito galante.
recusar o desafio de um nobre?
Quase todos os aventureiros saídos de Bielefeld são
Também há o que se chama de “cavaleiros bandidos”. combatentes. A cavalaria inspira todos: guerreiros trajam
Não são membros da Ordem da Luz, mas baixos nobres armadura pesada e armas tradicionais, caçadores esco-
que portam o título de sir. Atacam grupos de aventurei- lhem montarias como companheiros. Clérigos de Khalmyr
ros ou plebeus, roubando tudo que têm e sequestrando e Lena também são comuns e o reino é um dos únicos
alguns. Eles se aproveitam de seu título para escapar das que possui grande número de paladinos. Outros tipos de
punições que recairiam sobre um bandoleiro comum. Mas, aventureiros muitas vezes começam como “auxiliares”
por trás das armaduras e brasões, é isso que são. Muitas de cavaleiros experientes, formando uma comitiva. Na
vezes, quando um aristocrata é raptado por um cavaleiro verdade, um dos mais tradicionais tipos de grupos de
bandido, a lei de Bielefeld não pode fazer nada, pois aventureiros em Bielefeld é um jovem nobre acompanhado
costumes antigos ditam que nobres rivais podem ser feitos por servos e vassalos de sua casa: o aprendiz do mago
prisioneiros, desde que sejam “tratados adequadamente”. da corte, a cavaleira jurada, a filha da mestra de caça,
Resta à família pagar o resgate ou recorrer a aventureiros. o espião em treinamento, a noviça da capela...

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