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Universidade Lúrio

Faculdade de Engenharia

Disciplina:
Petróleo e Gás e Modelização de Reservatório

Capítulo 2:

A indústria do petróleo e do gás natural

22 | Março|2021 Docente: Eng.o Paulo Nguenha


ÍNDICE |
SUMÁRIO EXECUTIVO ....................................................................................................................................... 4
1| A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO E GÁS NATURAL ......................................................................................... 5
1.1 | OVERVIEW DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO E GÁS NATURAL ............................................................................................................ 5
1.2 | A HISTÓRIA DO PETRÓLEO E GÁS NATURAL ................................................................................................................................... 7
1.3 | A MODERNA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO .......................................................................................................................................... 9
1.4 | A OPEP – ORGANIZAÇÃO DE PAÍSES EXPORTADORES DE PETRÓLEO .........................................................................................19
2| AS CARACTERÍSTICAS DO PETRÓLEO E GÁS NATURAL .......................................................................... 22
2.1 | DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO PETRÓLEO .............................................................................................................................22
2.2 | A ORIGEM E NATUREZA DO PETRÓLEO .........................................................................................................................................27
2.3 | O PETRÓLEO E OS DESAFIOS ENERGÉTICOS DO SÉCULO XXI ................................................................................... 32
3| O MERCADO DE PETRÓLEO .................................................................................................................. 36
3.1 | RESERVAS MUNDIAIS DE PETRÓLEO .............................................................................................................................................36
3.2 | PRODUÇÃO MUNDIAL DE PETRÓLEO ............................................................................................................................................38
3.3 | CONSUMO MUNDIAL DE PETRÓLEO .............................................................................................................................................40
3.4 | REFINAÇÃO MUNDIAL DE PETRÓLEO ............................................................................................................................................43
3.5 | PREÇOS DE PETRÓLEO NOS MERCADOS ........................................................................................................................................45
4| O MERCADO DE GÁS NATURAL ............................................................................................................ 47
4.1 | RESERVAS MUNDIAIS DE GÁS NATURAL .......................................................................................................................................47
4.2 | PRODUÇÃO MUNDIAL DE GÁS NATURAL......................................................................................................................................49
4.3 | CONSUMO MUNDIAL DE GÁS NATURAL.......................................................................................................................................51
4.4 | PREÇOS DO GÁS NATURAL NOS MERCADOS ................................................................................................................................53
5| MOÇAMBIQUE: PETRÓLEO E GÁS NATURAL ......................................................................................... 55
5.1 | HISTÓRIA DO PETRÓLEO EM MOÇAMBIQUE.................................................................................................................................55
6| ANGOLA: PETRÓLEO E GÁS NATURAL ................................................................................................... 59
6.1 | HISTÓRIA DO PETRÓLEO EM ANGOLA ...........................................................................................................................................59
7| BRASIL: PETRÓLEO E GÁS NATURAL ..................................................................................................... 62
7.1 | HISTÓRIA DO PETRÓLEO NO BRASIL ..............................................................................................................................................62
8| LÉXICO DO PETRÓLEO E GÁS................................................................................................................. 80

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SUMÁRIO EXECUTIVO

O MÓDULO 1 - O MERCADO DO PETRÓLEO E GÁS NATURAL do Curso de Engenharia de

Petróleo e Gás Natural tem como objectivo proporcionar um overview sobre a Indústria e o

Mercado de Petróleo e Gás Natural. Encontra-se estruturado da seguinte forma:

▪ A Indústria de Petróleo e Gás Natural, descreve a organização do cluster

da Indústria de Petróleo e Gás Natural e a sua evolução numa perspectiva histórica;

▪ As Características do Petróleo e Gás Natural, descreve as noções elementares dos

hidrocarbonetos, a origem e as suas principais características;

▪ O Mercado de Petróleo, descreve o mercado global ao nível das reservas, produção,

consumo, capacidade de refinação e evolução dos preços do petróleo nos mercados

mundiais;

▪ Mercado de Gás Natural, descreve o mercado global ao nível das reservas, produção,

consumo mundial de Gás Natural;

▪ Moçambique: Petróleo e Gás Natural, descreve o histórico da indústria petrolífera

em Moçambique e as respectivas áreas de concessão de pesquisa e produção;

▪ Léxico do Petróleo, sistematiza os principais conceitos enunciados neste módulo de

formação.

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1 | A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO E GÁS NATURAL

1.1 | Overview da Indústria do Petróleo e Gás Natural

A Indústria do Petróleo e do Gás Natural tem hoje um peso significativo na economia mundial,

porque os hidrocarbonetos são um dos recursos naturais de que a nossa sociedade mais

depende. Diversos produtos que conhecemos e utilizamos no nosso dia-a-dia são derivados

do processamento do petróleo bruto.

As principais petrolíferas mundiais geram receitas que representam um valor semelhante ao

Produto Interno Bruto (PIB) de alguns dos países mais desenvolvidos do Mundo como, por

exemplo, a Espanha ou a Holanda.

A sua importância não se esgota na sua dimensão, mas espelha-se em tudo o que fazemos,

com o que fazemos e como fazemos. O grau de dependência da nossa civilização neste recurso

é a mais alta de toda a história da Humanidade e a sua abundância sabemos que não é para

sempre.

Neste contexto, a Indústria do Petróleo e Gás Natural combina uma gama complexa de

disciplinas e de actividades, sendo normalmente dividida em três áreas bastantes distintas

pelas suas características técnicas, económicas e operacionais, denominadas upstream,

midstream e downstream.

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OVERVIEW DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL

O upstream compreende a exploração e produção (ou pesquisa e produção) de petróleo e gás

natural. Caracteriza-se pelas actividades de pesquisa, identificação e localização dos

reservatórios de petróleo e gás natural, bem como o desenvolvimento dos projectos e a

produção de hidrocarbonetos. Em síntese, são as actividades que contemplam estudos

geológicos e geofísicos de exploração, perfuração e produção.

O midstream compreende a logística, com particular destaque para o transporte e

armazenagem do petróleo, gás e gás liquefeito (LNG). Caracteriza-se pelas actividades de

transporte e armazenagem de hidrocarbonetos, desde dos campos petrolíferos até às

instalações primárias de processamento e às refinarias, onde será posteriormente

processado.

O downstream abrange o processamento de distribuição e comercialização de derivados do

petróleo. Engloba as actividades de processamento dos hidrocarbonetos que são

transformadas em produtos prontos para uso específico (gasolina, diesel, querosene, GLP,

nafta, lubrificantes, etc…). Contempla também o transporte dos derivados do petróleo até os

locais de consumo. Em síntese, são as actividades de processamentos de petróleo e gás

natural e a distribuição e comercialização de derivados do petróleo.

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CLUSTER DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO E GÁS NATURAL.

De um modo geral, as principais empresas petrolíferas integram verticalmente todas as áreas,

estando presentes em todas as áreas: upstream, midstream e downstream, optando por esta

estratégia para minimizar os riscos económicos e outros associados, numa actividade de

elevada densidade de capital e muito regulada a nível mundial.

1.2 | A História do Petróleo e Gás Natural

A humanidade tem vindo a fazer uso do petróleo e das suas propriedades desde há vários

milénios, o que é amplamente demonstrado por estudos arqueológicos.

A cidade da Babilónia tinha as suas ruas pavimentadas com betume. Os povos da

Mesopotâmia e da Judeia já utilizavam o betume também para pavimentação de estradas, e

para calafetação de grandes construções, aquecimento, iluminação de casas, lubrificação e

até como laxativo. As aplicações de betume são conhecidas desde há 8.000 anos como

argamassa de construção na Pérsia e há referência a um imposto cobrado por Thothmes III,

Faraó do Egipto que viveu há 3.500 anos, sobre o betume de embalsamamento.

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As antigas religiões tomavam para si aspectos místicos do petróleo como, por exemplo, os

“fogos perpétuos” de Baku no Cáspio ou as “águas flamejantes” no Japão.

Os árabes davam ao petróleo uso militar e de iluminação. O petróleo de Baku, no Azerbeijão,

já era produzido em escala comercial, para os padrões da época, quando Marco Pólo viajou

pelo norte da Pérsia, em 1271. Além destas, são conhecidas aplicações em flechas

incendiárias, como tratamento para a sarna (Marco Pólo) e como impermeabilizante de

embarcações (Persas, Japoneses e Indonésios).

Nos Cárpatos abundavam oil seeps (fossas de petróleo), sendo recolhidos hidrocarbonetos

através de poços. Há ainda registo de iluminação pública na Polónia, em pleno século XIV, em

Krosno. No entanto, como fonte de iluminação, foi substituída por óleos animais devido ao

mau cheiro.

O Homem tem então contactado com o petróleo desde as épocas mais remotas, mas esse

contacto resumia-se à recolha e utilização directa. No que toca a metodologias de busca e

extracção, apenas se sabia que aflorava à superfície e que por vezes aparecia em rios e lagos.

No testamento de George Washington, há referência a um terreno por ele adquirido na

Pensilvânia, onde havia “…uma nascente de um líquido betuminoso…”,”…de tal forma

inflamável que se incendeia tão facilmente como o álcool e é igualmente difícil de apagar…”.

Entretanto, os oil seeps da Pensilvânia eram conhecidos “desde sempre”. Os Índios Séneca (da

tribo dos Iroquois) usavam petróleo como repelente de mosquitos. Mais tarde os colonos

vendiam garrafas de petróleo chamando-lhes Óleos Séneca.

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1.3 | A Moderna Indústria do Petróleo

A moderna indústria petrolífera data da segunda metade do século XIX. Em 1850, na Escócia,

James Young descobriu que o petróleo podia ser extraído do carvão e de xistos betuminosos

e desenvolveu os primeiros processos de refinação.

Em Agosto de 1859 o norte-americano Edwin Laurentine Drake, perfurou o primeiro poço para

a procura do petróleo (a uma profundidade de 21 metros), no estado da Pensilvânia. O poço

revelou-se produtor e a data passou a ser considerada a do nascimento da moderna indústria

petrolífera. A produção de petróleo bruto nos Estados Unidos, de dois mil barris em 1859,

aumentou para aproximadamente três milhões em 1863, e para dez milhões de barris em

1874.

Na década de 50, do século XIX, começaram a aparecer por todo o mundo experiências em

que se refinava petróleo em óleos leves que ardiam em candeeiros a óleo com bons

resultados. Em Pittsburgh, o Coronel A. C. Ferris teve de deslocar a sua oficina para os

subúrbios devido ao medo da população face às suas experiências de refinação de “óleo de

rocha”. Quando o advogado de Nova Iorque George Bissel soube destas experiências,

contratou Benjamin Silliman Jr. de Yale, para verificar da exequibilidade destes processos,

tendo desta associação nascido a Seneca Oil Company.

A história do primeiro poço de petróleo começou em 1857, com um grupo empresarial de

New Haven (Connecticut), que formou a Pensilvânia Rock Oil Company. O objectivo era extrair

petróleo usando técnicas já usadas na extracção de sal. Este interesse prendia-se com uma

envolvente assente em três factores:

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▪ A crescente procura de querosene como matéria-prima de iluminação pública nas

principais cidades norte-americanas;

▪ A escalada de preços dos óleos dos cetáceos que começavam a declinar devido à pesca

intensiva;

▪ A crescente eficiência dos processos de refinamento que nessa altura se desenvolviam

na Europa.

A escolha do responsável do projecto recaiu sobre Edwin Drake, que na altura estava

desempregado e vivia no mesmo hotel de um dos investidores do projecto. A escolha recaiu

sobre ele, devido às qualidades multifacetadas de Drake e ao facto de ser um homem

determinado e com ligações aos caminhos-de-ferro o que lhe permitia maior mobilidade.

A Pensilvânia Rock Oil Company enviou cartas para o Hotel, anteriores à sua chegada, no

intuito de cimentar a sua credibilidade junto da população e atribuindo a Drake o título de

Coronel.

Inicialmente foram feitas várias tentativas infrutíferas e o primeiro poço produtivo foi

alcançado aos 21 m de profundidade, quando a Pensilvânia Rock Oil Company já tinha enviado

um comunicado ordenando o fim dos trabalhos.

TITUSVILLE – 1850 E 2011 – ILUSTRAÇÃO DOS PRIMEIROS CAMPOS PETROLÍFEROS

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Drake, inicialmente, armazenou o petróleo extraído em todo o tipo de recipientes que pode

encontrar, sobretudo barris de Whisky de 42 galões, dando origem à medida ainda hoje

utilizada na indústria de 1 barril de petróleo = 158,98 litros.

A notícia espalhou-se e rapidamente iniciou-se uma corrida ao petróleo em Titusville onde a

regra era perfurar até aos 21 m. Caso não houvesse ocorrência de petróleo os poços eram

abandonados e aberto um novo ao lado. A seguir a estas descobertas, surgiram novas

ocorrências ainda mais produtivas no Oklahoma, Texas, Califórnia, Rússia e Venezuela.

A proliferação de produtores independentes, ávidos de venderem o seu produto o mais

depressa possível, colocou a logística e refinação como controladores dos preços a praticar.

Em poucos anos, o preço do barril de petróleo desceu dos 10 dólares para os 10 cêntimos.

Historicamente, não é verdade que o poço de Drake tenha sido o primeiro. É aceite que antes

dele já outros tinham sido executados com sucesso incluindo, um ano antes, um poço no

Canadá e em 1848 na Península de Aspheron, perto de Baku pelo engenheiro russo F. N.

Semyenov. No entanto, a data do poço de Drake tem a importância formal de ter sido

considerada a do nascimento da moderna indústria petrolífera.

Os primeiros furos rotativos, surgiram em Inglaterra em 1845. A primeira perfuração offshore

(no mar) data de 1897 em Santa Bárbara, na Califórnia.

Uma das individualidades que marcou a indústria petrolífera, foi John Davison Rockefeller,

que era proprietário de uma pequena refinaria no Ohio e compreendeu a dinâmica e o poder

da logística e refinação face aos pequenos produtores independentes. Adquiriu as quotas dos

seus sócios, e começou a aumentar a sua capacidade de tesouraria, que lhe permitiu adquirir

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outras refinarias assim que a pressão da oferta excessiva fez baixar as margens o que

acontecia devido à maior competição entre operadores.

De seguida, controlando o mercado, começou a investir em oleodutos e a fechar contratos

com os caminhos-de-ferro, de forma a poder fornecer zonas cada vez mais longínquas das

zonas de produção.

Em 1870, Rockefeller fundou a Standard Oil que ao fim de 7 anos dominava cerca de 10% do

sector. A Standard Oil abusou da sua excelente tesouraria fazendo frequentemente dumping

de mercado, conduzindo à falência as companhias rivais. Rockefeller comprava companhias

rivais mantendo essa informação em segredo de modo a que nunca se soubesse quem e para

quem se praticavam determinados preços.

Em 1883, a Standard Oil era uma empresa de integração vertical à semelhança do que hoje

são as maiores petrolíferas mundiais com negócios desde a produção (upstream), transporte

(midstream) e refinação e distribuição (downstream).

No entanto a empresa foi muito atacada na opinião pública. Nesta altura, Rockefeller

contratou Ivy Lee (mais tarde considerado o pai das relações públicas) para representar a

Standard Oil na sequência de uma greve violenta no Colorado que ficou conhecida como o

“massacre de Ludlow”.

A máxima de Ivy Lee, nessa altura, ainda hoje é considerada a regra de ouro na comunicação

das empresas do ramo petrolífero: "Tell the truth, because sooner or later the public will find

out anyway. And if the public doesn't like what you are doing, change your policies and bring

them into line with what people want".

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Em 1906, sob grande ataque de empresas rivais, e de uma má imprensa, foi iniciado um

enorme processo contra a Standard Oil ao abrigo da lei anti-monopólio de Sherman, datada

de 1890.

Este processo arrastou-se em tribunal durante alguns anos acabando na divisão da Standard

Oil em 34 empresas. Rockefeller resolveu somente em parte o problema da má imprensa ao

contratar Ivy Lee. Destas empresas nasceram algumas das que são hoje as maiores

companhias petrolíferas mundiais.

EMPRESAS ORIGINADAS COM A SEPARAÇÃO DA STANDARD OIL

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

SOCONY 1931

SOCONY
VALUCUM MOBIL OIL

VACULUM 1966 EXXON


MOBIL
1999
STANDARD NJ 1931
STANDARD
EXXON
NJ
STANDARD
1972
LOUISIANA
1962

CHEVRON
SOCAL CHEVRON CHEVRON
TEXACO
1931
2000
STANDARD
KENTUCKY

1969
ATLANTIC REFINING
SINCLAIR
ARCO
WATERS PIERCE

STANDARD INDIANA
AMOCO BP AMOCO
STANDARD 1933
1999
NEBRASKA
1969

FUSÃO COM
STANDARD OHIO BP

Até ao final do século XIX, os Estados Unidos dominaram praticamente sozinhos o comércio

mundial de petróleo, devido em grande parte à actuação do empresário Rockefeller.

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A supremacia americana só foi ameaçada, nas últimas décadas do século XIX, pela produção

de petróleo nas jazidas do Cáucaso, exploradas pelo grupo Nobel, com capitais russos e

suecos.

Em 1901, uma área de poucos quilómetros quadrados na península de Apsheron, junto ao

mar Cáspio, produziu 11,7 milhões de toneladas, no mesmo ano em que os Estados Unidos

registavam uma produção de 9,5 milhões de toneladas. O resto do mundo produziu, no total

1,7 milhões de toneladas.

Na Europa passou-se um processo semelhante ao dos Estados Unidos. Como resposta aos

altos preços de óleo de baleia (combustível de iluminação), Ignacy Lukasiewicz desenvolveu

técnicas de refinação de petróleo (proveniente de oil seeps) na continuação do trabalho

anterior de Dr. Abraham Gesner no Canadá. Assim foi desenvolvida a primeira indústria

europeia de refinação, produzindo querosene (patenteada em Viena em 1853).

Na procura de matéria-prima para a sua refinaria, ele iniciou os trabalhos de construção de

poços profundos de onde extraiu o seu petróleo, tendo alguns destes poços alcançado os 150

metros de profundidade. Este empreendimento antecedeu o de Drake em dois anos.

Outra empresa, a Royal Dutch – Shell Group, de capital anglo–holandês e apoiada pelo

governo britânico, expandiu-se rapidamente no início do século XX e passou a controlar a

maior parte das reservas conhecidas do Oriente Médio.

Este processo foi iniciado pela família Rothchild que, como forma de contornar o poderio da

Standard Oil, ia vendendo no Extremo Oriente os seus produtos. Da associação a Marcus

Samuel (comerciante de conchas) nasceu a Shell.

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A associação dos Rothchild a Marcus Samuel permitiu a criação de um navio para transporte

de querosene, que não transportava o produto em barris mas num grande tanque dentro da

estrutura do navio.

Nasceu a noção moderna de petroleiro. A Shell passou a ser a única companhia a navegar o

Canal do Suez, que proibia a circulação de barris de querosene, e com isso expandiu-se para

os mercados asiáticos. O primeiro navio, o Murex atravessou o Suez em 1892. Mais tarde, a

empresa passou a investir na Califórnia e no México e entrou na Venezuela.

Antes de eclodir a primeira guerra mundial, Marcus Samuel iniciou uma campanha de lobby

junto da Royal Navy (na altura dirigida por Winston Churchill) com intenção de promover a

troca de navios a carvão por navios a fuelóleo.

Esta campanha foi bem sucedida apesar da resistência inglesa em abandonar uma matéria-

prima abundante no Reino Unido por outra, que na altura era proveniente do estrangeiro. No

entanto, os fluxos de fuelóleo mantiveram-se estáveis durante a I Guerra Mundial e os navios

a fuelóleo, mais rápidos que os navios a carvão mostraram a sua superioridade.

A questão da dependência externa do petróleo para a defesa do Reino Unido manteve-se

acesa e só foi definitivamente resolvida quando o Governo Inglês comprou 51% da Anglo-

Persian, que na altura estava completamente descapitalizada. Na altura, foi definido que a

empresa se manteria sempre inglesa e em função disso a presença militar na Pérsia foi

reforçada. Mais tarde o nome mudou para Anglo-Iranian e depois para British Petroleum (BP).

O Reino Unido foi o primeiro país a relacionar a defesa nacional com fluxos estáveis e

constantes de petróleo.

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Depois da I guerra mundial, os vencedores decidiram partilhar a gestão do território árabe

que estava sob o controlo do Império Otomano. Foi formado um consórcio (formado pela

Shell, Anglo-Persian, Deutsche Bank e o prospector C. Gulbenkian) ao qual aderiu mais tarde

um grupo de empresas Norte Americanas, formando a Iraq Petroleum Company.

Na altura, sob controlo inglês, os contratos de concessão cediam os direitos até ao ano 2000.

Gulbenkian definiu então o famoso mapa da linha vermelha (representando os territórios do

antigo Império Otomano) onde as várias companhias não poderiam actuar sem ser em

cooperação. Isto, na verdade, definia um cartel de não concorrência num imenso território

onde efectivamente estão as maiores reservas de hidrocarbonetos do planeta.

MAPA DA LINHA VERMELHA – PARTILHA DO TERRITÓRIO DO IMPÉRIO OTOMANO PELOS


VENCEDORES DA I GUERRA MUNDIAL

Nos anos seguintes à I Guerra, foi-se consolidando a ideia que era na Arábia Saudita que

estavam as maiores reservas e logo se formou um consórcio composto pelas maiores

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companhias americanas para proceder ao desenvolvimento da produção no Reino Saudita

(Saudi-American Oil Company).

O acordo da linha vermelha foi gradualmente posto de lado, e foi substituído por uma

cartelização composta sobretudo por empresas americanas que cooperavam com os vários

estados sob a égide da Administração Federal Norte Americana.

As maiores empresas conseguiram demover da competição os operadores independentes

lesando os reais interesses dos estados que efectivamente possuíam os recursos (Iraque, Irão

e Arábia Saudita).

Estas empresas ganharam a alcunha de sete irmãs (Shell, BP, Socony, SO New Jersey, Texaco,

Socal, Gulf). A política externa dos Estados Unidos confundia-se com os interesses destas

empresas.

Paralelamente, as companhias europeias realizaram intensas pesquisas em todo o Oriente

Médio, e a comprovação de que a região dispunha de cerca de 70% das reservas mundiais

provocou uma reviravolta em todos os planos de exploração.

Durante a II guerra mundial os aliados negaram aos alemães o acesso ao petróleo abundante.

Os pontos de reviravolta na guerra prendem-se com estas acções (defesa do Egipto e de

Estalinegrado). Muitos historiadores dizem, por esta razão, que a vitória aliada foi a vitória do

petróleo.

Seguiu-se então um período no qual várias companhias, sobretudo americanas, reinaram a

nível mundial. O primeiro desafio a este status-quo não surgiu do Médio Oriente.

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Em 1948, o governo venezuelano legislou no sentido de quase nacionalizar o petróleo

promovendo uma renegociação dos contratos que na prática passaram a dividir as receitas de

forma equitativa. No ano seguinte, a Arábia Saudita tentou renegociar os seus contratos tendo

obtido, inicialmente, uma resposta negativa.

No entanto, o empresário J. P. Getty permitiu significativa melhoria das condições destes

países, tendo o efeito Venezuela se propagado ao Iraque e Kuwait. No Irão a BP tentou

inviabilizar alterações dos contratos mas o petróleo Iraniano e as respectivas instalações

foram nacionalizados por Mohammed Mossadegh.

Por influência da BP, a C.I.A. promoveu um golpe de Estado no qual o Xá Mohammad Reza

Pahlavi foi colocado no trono, passando a mensagem aos restantes países e afectando a

geopolítica do médio oriente até hoje.

A partir dos anos 30, a produção petrolífera nos Estados Unidos esteve sujeita a quotas que

limitavam a produção. A procura era suprida, mas quase não havia excedentes no mercado.

As quotas de produção eram definidas com base numa percentagem da capacidade de

produção o que permitiu grande estabilidade de preços baixos durante décadas.

À medida que os Estados Unidos começaram a importar petróleo, nos anos 70, as quotas

foram abandonadas, terminando com a passagem do controlo da produção para os países que

formaram depois a Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP.

A economia Norte Americana é ainda hoje caracterizada por uma alta intensidade energética.

Qualquer alteração na estrutura dos mercados de crude e gás tem impactos muito grandes.

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Existe uma forte correlação entre o preço da energia, incluindo o petróleo, e a inflação, e os

maiores aumentos de preços nos períodos de 1971-73 e 1979-80, resultaram dos chamados

choques petrolíferos.

No período entre 1928 e 1994 a produção foi sempre superior à procura e o período de maior

acalmia dos preços foi o período de ouro das companhias americanas entre a II Guerra

Mundial e a guerra do Yom Kippur.

1.4 | A OPEP – Organização de Países Exportadores de


Petróleo

Em 1955, o presidente do Egipto Gamal Nasser, ainda vivendo as consequências do golpe

contra Mohammed Mossadegh, negoceia armas com os soviéticos. Esta aproximação provoca

um ataque conjunto dos ingleses e franceses ao canal do Suez que culminou com o fim da

influência europeia no médio oriente.

Em 1958 (com influência Egípcia), dá-se um golpe de Estado no Iraque caindo a dinastia

Hashemita, dócil aos interesses ingleses, arrastando consigo a presença das sete irmãs do

Iraque.

Em 1960, devido à abundância de produto nos mercados mundiais e com os preços em queda,

as companhias começam as baixas destes e com isso a reduzir as receitas nos orçamentos dos

estados do médio oriente.

Esta diminuição dos rendimentos provocou uma associação dos Estados produtores, que

ficaram assim a definir quotas de produção de modo a manter os preços estáveis – a OPEP.

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A OPEP foi criada em 17 de Setembro de 1960 no período que se seguiu à Guerra dos Seis dias,

por um grupo de países árabes (Iraque, Irão, Arábia Saudita e Kuwait) juntamente com a

Venezuela, como uma forma dos países produtores de petróleo se fortalecerem frente às

empresas compradoras do produto, em sua grande maioria pertencentes aos Estados Unidos,

Inglaterra e Países Baixos, que exigiam cada vez mais uma maior redução nos preços do

petróleo.

O conflito israelo-árabe resultou no endurecimento da posição por parte da OPEP. Os

objectivos eram centralizar a política petrolífera (do ponto de vista da produção) e exercer

pressão junto do Ocidente que apoiava Israel.

Actualmente a organização lista 16 países membros. Embora sete dos desasseis membros e

ex-membros da OPEP sejam nações árabes, a língua oficial da organização é o inglês. Esta

organização tem uma forte componente política que é comprovada pela presença do Egipto

e da Síria, dois membros não produtores.

Em 1973, a Guerra do Yom Kippur enfureceu as opiniões públicas árabes que, de certa forma,

compreendiam que um fluxo irregular de petróleo aos EUA, Europa Ocidental e Japão, iria

dificultar o apoio ocidental a Israel.

Houve então uma paragem na exportação de petróleo por parte dos membros da OPEP, com

consequências a nível mundial, e nos preços de matérias-primas e bens manufacturados.

O Xá do Irão, em entrevista ao New York Times em 1973, referiu: ”…É claro que (o preço do

petróleo) vai aumentar. Certamente, e como Vocês (países do Ocidente) aumentaram o preço

do trigo vendido que nos vendem em 300%, o mesmo ocorreu com o açúcar e com o

cimento...”.”…vocês compram nosso petróleo bruto e vendem-no de volta beneficiado na

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forma de produtos petroquímicos, por uma centena de vezes o preço pelo que vocês o

compraram...”. “…Será no mínimo justo que, daqui para frente, vocês paguem mais pelo

petróleo, poderíamos dizer umas 10 vezes mais…”.

A OPEP é o exemplo mais conhecido de cartel. O seu objectivo é unificar a política petrolífera

dos países membros, centralizando a administração da actividade, o que inclui um controle de

preços e do volume de produção, estabelecendo pressões no mercado.

Os seus países membros possuem 78% das reservas mundiais de petróleo, suprem 40% da

produção mundial e metade das exportações mundiais. Graças à organização em cartel, os

países garantem para si a grande parte dos proveitos do petróleo que detêm. Em 2014, as

reservas de petróleo existentes que pertencem aos membros são calculadas em 1,2 trilhões

(mil milhões) de barris face às reservas totais mundiais calculadas actualmente em 1,7 trilhões

de barris.

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2 | AS CARACTERÍSTICAS DO PETRÓLEO E GÁS
NATURAL

2.1 | Definição e Características do Petróleo

A definição de petróleo vem do latim: petra (pedra) e oleum (óleo), ou seja, óleo da pedra. O

petróleo de forma simplificada pode ser definido como uma substância oleosa, inflamável,

menos densa que a água, com cheiro característico e coloração variando entre o negro e o

âmbar (castanho–claro).

É constituído da mistura de compostos químicos orgânicos formados por grande percentagem

de carbono e hidrogénio (hidrocarbonetos). Outros constituintes aparecem em menor

percentagem, sendo os mais comuns o enxofre, oxigénio e nitrogénio.

Os principais constituintes do petróleo bruto, com destaque para o alto percentual de

carbono, são os seguintes:

CONSTITUIÇÃO TÍPICA DO PETRÓLEO BRUTO (% em peso)

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De acordo com a ASTM – American Society for Testing and Materials: “O petróleo é uma

mistura de ocorrência natural, consistindo predominantemente de hidrocarbonetos e

derivados orgânicos sulfurados, nitrogenados e/ou oxigenados, o qual é, ou pode ser,

removido da terra no estado líquido”.

Os hidrocarbonetos são constituídos essencialmente pela mistura de milhares de compostos

orgânicos formados pela combinação de moléculas de carbono e hidrogénio, de longas

cadeias parafínicas abertas e cicloparafinas ou anéis aromáticos ligados por complexos

orgânicos variados.

Conforme enunciado, têm ainda na sua composição, quantidades variáveis de nitrogénio,

oxigénio, enxofre, juntamente com elementos traços metálicos, tais como vanádio, níquel,

cromo, entre outros elementos.

Os hidrocarbonetos ocorrem nas condições naturais nos estados sólido, líquido e gasoso. Os

sólidos são conhecidos como asfalto, piche e gilsonita. Os líquidos são denominados de

petróleo bruto. E os gasosos são referidos como gás natural, que se exclui, neste caso, os gases

naturais de outras fontes, como as emanações vulcânicas.

22 | 86
Os hidrocarbonetos podem ocorrer no petróleo desde o metano (CH4) até compostos com

mais de 60 átomos de carbono. Os átomos de carbono podem estar conectados através de

ligações simples, duplas ou triplas, e os arranjos moleculares são os mais diversos, abrangendo

estruturas lineares, ramificadas ou cíclicas, saturadas ou insaturadas, alifáticas ou aromáticas.

NATUREZA DOS HIDROCARBONETOS vs COMPOSIÇÃO DE CARBONO

ASFALTO
SÓLIDOS
(TB. PICHE E GILSONITA)

LÍQUIDOS PETRÓLEO

GASOSO

Partindo de uma classificação que leve em conta apenas o produto, o petróleo enquadra-se

no segmento de produção de commodities.

Como as commodities em geral, o petróleo é um produto oferecido em bases relativamente

homogéneas.

As diferenças entre os tipos de petróleo residem em certas características físico-químicas que

levam à classificação da seguinte forma: leve, médio, pesado e extrapesado.

As distintas características físico-químicas do petróleo resultam em composições diferentes

de derivados na etapa de refinação, ainda que o desenvolvimento tecnológico ao longo do

tempo tenha permitido maior controle na obtenção do mix de derivados mais adequados a

cada mercado de consumo.

O petróleo, portanto, é um hidrocarboneto, de substância oleosa, menos densa do que a água.

Sua cor varia de acordo com a origem e composição, que oscila do negro ao âmbar (castanho-

23 | 86
claro). Apresenta-se sob a forma fluida ou semi-sólida, de consistência semelhante à das

graxas, e encontra-se no subsolo a profundidades variáveis.

2.1.1 | GRAU API

O grau API (American Petroleum Institute) permite classificar o petróleo quanto à densidade

(índice adimensional) sendo inversamente proporcional à mesma. Define-se pela seguinte

fórmula:

O D.o.E. (Department of Energy) define a fronteira entre óleos leves e pesados como o grau

API=22º.

TIPO DE ÓLEOS VERSUS GRAU API E DENSIDADE

PESO ESPECÍFICO GRAU API

LEVES < 870 Kg/m3 > 31,1

MÉDIOS > 870 Kg/m3 e < 900 Kg/m3 > 22,3 e < 31,1

> 900 Kg/m3 e < 1000 Kg/m3 > 10 e < 22,3


PESADOS

> 1000 Kg/m3 < 10


ULTRAPESADOS

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2.1.2 | MASSA ESPECÍFICA, VOLUME ESPECÍFICO E DENSIDADE

Existem outras características do petróleo, que serão objecto de análise, sendo as mais

importantes as seguintes: Massa Específica, o Volume Específico e a Densidade.

A massa específica de uma mistura líquida ou de uma substância é definida pela a relação

entre a sua massa e o seu volume:

O volume específico de uma mistura líquida ou de uma substância é a relação entre o volume

e a massa:

A densidade é definida como a razão entre a massa específica de uma substância e a massa

específica de uma outra usada como referência (a água é geralmente empregada como

referência), ambas medidas na mesma condição de pressão e em condições de temperatura

preestabelecidas. A fórmula da densidade é a seguinte:

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2.2 | A Origem e Natureza do Petróleo

Existem duas teses principais explicativas acerca da origem do petróleo: a tese biogénica (a

mais consensual e adoptada pela maioria dos geólogos) e a tese abiogénica.

A primeira linha é a clássica. Nesta teoria pressupõe-se que durante longos períodos de

tempo, nos leitos de mares e lagos, se acumularam depósitos de algas, pequenos crustáceos

e resíduos vegetais que, posteriormente, foram cobertos por lodos que consolidaram dando

origem a rochas sedimentares.

A matéria orgânica, sob a acção bacteriana e posteriormente de altas pressões e

temperaturas, terá produzido o petróleo.

Não há ainda uma concordância total sobre a origem do petróleo e sobre os mecanismos que

levaram a acumulações de hidrocarbonetos de exploração viável, embora as grandes jazidas

sejam muito difíceis de explicar pela teoria abiogénica.

Há ainda algumas discussões sobre se o petróleo tem origem inorgânica ou orgânica, isto é,

se deriva de reacções entre minerais ou se deriva de tecidos orgânicos.

Existe um certo consenso entre geólogos acerca da segunda tese, sendo a linha abiogénica

apoiada, sobretudo, pelas escolas do antigo bloco de leste (União Soviética).

No entanto ainda hoje é dada alguma credibilidade a estas teorias espelhadas em recentes

perfurações encomendadas pelo governo sueco em formações graníticas que formam a

cratera de um impacto de um meteorito do tipo condrites carbonáceas onde ocorrem alguns

hidrocarbonetos.

26 | 86
2.2.1 | TEORIA ABIOGÉNICA

Segundo a Teoria Abiogénica o petróleo tem origem inorgânica. Até meados do século XX,

muitos geocientistas acreditavam numa origem magmática dos hidrocarbonetos. Entre os

apoiantes destas ideias estavam geógrafos (Alexander Von Humboldt) e químicos (Joseph

Louis Gay-Lussac), entre outros. Mendele´ev sugeriu a existência de Cohenite no Manto que

reagiria com água para formar metano e outros hidrocarbonetos:

A existência de carboneto de ferro no manto permanece actualmente por provar, mas a ideia

de uma génese profunda e inorgânica de hidrocarbonetos mantém-se, apoiada sobretudo por

Químicos e Astrónomos.

Na verdade foram identificados 3 tipos de ocorrência de hidrocarbonetos de origem ígnea:

▪ Gases hidrocarbonetos, betumes e líquidos em vesículas e inclusões microscópicas e

irregulares em massas rochosas (ocorrência na península de Kola no norte da Rússia e

em sienitos nefelínicos), sobretudo de metano e etano e alguns traços de betumes

(alcanos de cadeia longa).

▪ Hidrocarbonetos presos em intrusões ígneas em sedimentos. Nestas condições

ocorrem, por exemplo, no Texas onde a intrusão penetra calcários do Cretácico e

argilas, tendo, inclusive, sido feitos cerca de 17 poços de produção.

▪ Hidrocarbonetos em soco ígneo presos por baixo de desconformidades. Este é o tipo

onde ocorrem hidrocarbonetos mais abundantes. Aqui a porosidade do reservatório é

devida à alteração (exemplo de Augila- Nafoora, na Líbia).

27 | 86
Sabemos que o metano pode ser gerado em laboratório, sujeitando alguns minerais a calor

extremo e altas pressões, é portanto aceite uma génese inorgânica para os hidrocarbonetos.

Porém, é pouco provável a sua acumulação em quantidades comerciais. Em qualquer dos

casos acima descritos, as formações em causa estão próximas de formações ricas em matéria

orgânica, passíveis de serem rocha-mãe numa perspectiva biogénica.

A teoria abiogénica propõe a origem dos hidrocarbonetos (sobretudo metano), nas camadas

superiores do manto. Este metano terá então migrado e maturado em hidrocarbonetos mais

complexos migrando através de falhas, sendo aprisionado em bacias sedimentares ou sendo

dissipado na superfície. Esta visão contempla a existência de depósitos de gás profundos e a

posterior polimerização destes, levando à criação do petróleo. Esta visão é apoiada pela

libertação de gases nas falhas, (por exemplo metano) aquando a ocorrência de sismos.

Todavia esta visão não tem em conta a crescente diminuição com a profundidade da

porosidade e permeabilidade, que impede a existência de grandes reservatórios de gás a

grandes profundidades. Além disso, é possível distinguir os hidrocarbonetos de origem

biogénica dos hidrocarbonetos de origem abiogénica através do peso dos isótopos C12 e C13

do carbono.

Quando o metano é biogénico, está enriquecido em C12 e quando é abiogénico está

enriquecido com C13. A comparação destes isótopos é apenas conclusiva para o metano

proveniente dos hotspots (mar vermelho e lago Kivu).

28 | 86
2.2.2 | TEORIA BIOGÉNICA

Dadas as grandes quantidades de hidrocarbonetos existentes, quando se procura a génese

destes mesmos hidrocarbonetos, deve-se procurar organismos que geraram massa suficiente

ao longo dos tempos para justificar as reservas existentes.

A quantidade total de carbono da crosta terrestre foi calculada em 2,65 × 1020. Cerca de 82%

é carbono sob a forma de CO3 (calcários, dolomites, etc..).

Os restantes ocorrem sob a forma de carvões, petróleos e gases. Aqui a reacção chave é a

conversão de carbono inorgânico em hidrocarbonetos através da fotossíntese:

Apenas uma pequena parte da matéria orgânica existente à superfície da terra num dado

momento, poderá ser sujeita a fenómenos de preservação e enterramento. A grande maioria

é decomposta rapidamente por actividade bacteriana.

A deposição de sedimentos, ricos em matéria orgânica, depende então de uma elevada taxa

de produção e alto potencial de preservação. Os organismos capazes de criar matéria orgânica

em quantidades suficientes para criar hidrocarbonetos de acordo com as reservas previstas

são os foto-sintetizadores – fitoplâncton pelágico e algas bentónicas. A actividade destes

organismos depende muito da temperatura e da luz, que são função da turbidez da água,

profundidade e latitude. A actividade destes organismos é máxima em zonas de baixa

profundidade (zona fótica).

Para além disso, a produtividade é máxima em ambiente rico em nitratos e fosfatos, que

favorecem a produção de matéria orgânica. No entanto, as zonas de mais alta produtividade

29 | 86
orgânica, não são necessariamente as zonas onde a matéria orgânica está mais bem

preservada, pois a preservação ocorre em zonas anaeróbicas e com taxas de sedimentação

óptimas. Johnson Ibach desenvolveu um estudo integrado no Deep Sea Drilling Project, que

chegou à conclusão que uma taxa lenta de deposição permite uma oxidação da matéria

orgânica com a sua subsequente perda. Por outro lado uma taxa de deposição

demasiadamente alta como que “dilui” a matéria orgânica.

Temos então que para cada litologia existe uma taxa de sedimentação ideal para o máximo

da preservação de matéria orgânica. Estudos demonstram que a quantidade de matéria

orgânica é o factor fundamental na sua preservação.

Um outro elemento extremamente favorável à preservação é a formação de lâminas de água

com características diferentes. Normalmente, nos ambientes de deposição, a água mais

quente está à superfície e a mais fria no fundo.

Na zona fótica, e por consequentemente mais oxigenada, a vida prolifera enquanto que nas

zonas mais profundas e frias o nível de oxigénio tende a baixar. Nestas condições pode haver

acumulações de matéria orgânica e subsequente preservação.

Estes processos podem ocorrer num lago, numa laguna com entrada esporádica de água ou

nos fundos oceânicos.

O plâncton microscópico e algas em zonas oxigenadas próximas da superfície funcionam como

fonte de matéria de origem orgânica. De seguida tem de haver uma acumulação desta matéria

e seu rápido enterramento, impedindo a acção de decomposição bacteriana.

30 | 86
Um exemplo deste mecanismo passa-se, hoje em dia, no Mar Negro, onde correntes de águas

ricas em matéria orgânica do Mediterrâneo mergulham através do Bósforo no Mar Negro a

grandes profundidades em águas de baixa oxigenação e luminosidade. Nessa altura, as algas

e plâncton morrem, sendo enterradas em fundos silto-argilosos impedindo a acção bacteriana

(meios euxínicos).

De seguida, estes sedimentos orgânicos são litificados (à escala geológica) em rochas negras

compondo assim uma formação de rocha-mãe. Na Geologia de Petróleo, uma das tarefas mais

importantes é identificar a rocha-mãe. No entanto, a matéria que se forma hoje em dia no

Mar Negro está longe de se assemelhar a petróleo.

Na génese do petróleo actua outro fenómeno – diagénese – que irá transformar a matéria

orgânica proveniente do plâncton em hidrocarbonetos com quantidades comerciais e que

será objecto de estudo na Geologia do Petróleo.

2.3 | O Petróleo e os Desafios Energéticos do Século XXI

Dizem que depois da descoberta do fogo, a invenção do motor a combustão, que converte

calor em energia, foi a segunda tecnologia que elevou o poder do ser humano.

Nesse sentido, os hidrocarbonetos destacam-se, pois produzem um excedente de energia

muito maior do que outros conversores anteriormente conhecidos e normalmente usados,

como a força humana e a animal.

Esse excedente de energia foi a base energética da Revolução Industrial do Século XIX. Além

do excedente de energia, os combustíveis fósseis produzem energia com qualidade, e a

qualidade da energia desempenha um papel importante na determinação da quantidade de

31 | 86
energia que uma sociedade precisa para produzir riqueza, ou seja, quanto mais energia com

qualidade à disposição, a sociedade terá maior capacidade para progredir. Por isso, é que os

combustíveis fósseis possuem uma capacidade sem paralelo de produzir riqueza económica.

Decorrido um século e meio de história do petróleo, pode-se concluir que talvez o petróleo e

a indústria que dele se originou, mais do que qualquer outro sector da economia, tiveram

forte influência na política e na economia dos países produtores, importadores e

consumidores de seus derivados. Como afirma Walter Levy: “O petróleo faz a política da paz

e a política da guerra”.

Partindo do princípio que o petróleo é um recurso finito, e que a sua quantidade é reposta a

uma taxa imensamente menor àquela em que foi produzido (conceito de recurso não

renovável), então terá de existir um momento (Pico Global da Produção Petrolífera) onde

metades das reservas totais, já tenham sido exploradas.

Existe a ideia de que o Pico Global da Produção Petrolífera (P.G.P.P.) tenha sido atingido

algures entre os anos de 2004 e 2005.

No entanto, a maior parte dos especialistas aponta ainda a ocorrência deste momento para a

segunda década do século XXI. Esta incerteza contribui, de certa forma, para a instabilidade

de preços verificados no período que vivemos.

A dificuldade em definir as reservas globais, em termos absolutos, prende-se com a

“tentação”, por parte das petrolíferas (nacionais e privadas), de inflacionarem as mesmas

porque qualquer pequena diferença nas reservas significam diferenças nos activos das

companhias que quanto mais alto é o preço do petróleo, mais afectam os resultados

contabilísticos das companhias e a respectiva cotação em bolsa.

32 | 86
Todos os dias são abertos novos pontos de produção e todos os dias são actualizados algures

no mundo os valores relativos às reservas de determinado poço, além de que, com o aumento

da eficácia da exploração e a utilização de melhores técnicas de recuperação, as reservas

poderão aumentar.

Hoje em dia, o chamado recovery rate tem subido e muito. Muitos países aproveitam também

para manipular os valores das reservas como forma de aumentar produções enquanto

membros da OPEP, ou como forma de melhor negociar empréstimos com o Fundo Monetário

Internacional (FMI).

Numa escala mundial, os hidrocarbonetos proporcionam mais da metade da energia primária

consumida. Em particular, 31% do consumo energético primário global provém do petróleo,

sendo assim a fonte energética mais utilizada.

MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL – 2015 - 2035

Durante os próximos anos não se esperam grandes mudanças. Segundo a Agência

Internacional da Energia (AIE), no seu cenário base do World Energy Outlook de 2015, o

petróleo registará uma contracção de 4% na matriz energética de 2035 em relação a 2015.

33 | 86
Pela sua parte, o Gás Natural alcançará uma participação de 24% em 2035, numa procura

energética total estimada em 17.386 milhões de toneladas equivalentes de petróleo.

O Petróleo e o Gás Natural continuam a ser dos recursos naturais de que a nossa sociedade

mais depende, porém, é uma fonte de energia não renovável, e no momento uma das maiores

fontes de energia para a humanidade e muito versátil em comparação com as demais fontes.

34 | 86
3 | O MERCADO DE PETRÓLEO

3.1 | Reservas Mundiais de Petróleo

Em 2017, as reservas provadas de petroleo no mundo atingiram a marca de 1,7 trilhao de

barris, mantendo-se no mesmo patamar de 2016, com um pequeno decrescimento de 0,03%.

As reservas dos membros da Organizacao dos Paises Exportadores de Petroleo (Opep)

cresceram 0,1%, totalizando 1,2 trilhao de barris (71,8% do total mundial); enquanto as dos

paises que nao fazem parte da Opep tiveram decrescimo de 0,4%, somando 477,8 bilhoes de

barris.

O volume de reservas do Oriente Medio, região que concentra a maior parte das reservas

mundiais, atingiram 807,7 bilhoes de barris (47,7% do total mundial) e se mantiveram estável

em 2017 com relacao a 2016.

EVOLUÇÃO DAS RESERVAS PROVADAS DE PETRÓLEO – 2008-2017

35 | 86
Dentre os paises, a Venezuela seguiu como detentora do maior volume de reservas

petroliferas, com 303,2 bilhoes de barris (17,9% do total mundial), apos ter ultrapassado a

Arabia Saudita em 2010. As reservas sauditas mant veram-se estaveis, totalizando 266,2

bilhoes de barris (15,7% do total mundial), o que situou a Arabia Saudita na segunda posicao

do ranking mundial de reservas provadas de petroleo.

O volume de reservas de petroleo variou pouco em relacao a 2016. Na America do Norte, caiu

0,7%, totalizando 226,1 bilhoes de barris (13,3% do total mundial). Na regiao que compreende

Europa e Eurasia, houve crescimento de 0,2%, somando 158,2 bilhoes de barris (9,3% do total

mundial). Por sua vez, as reservas da Africa registraram queda de 0,1%, atingindo 126,5

bilhoes de barris (7,5% do total mundial). E as reservas da regiao Asia-Pacifico registraram

queda de 0,5%, totalizando 48 bilhoes de barris (2,8% do total).

RESERVAS PROVADAS DE PETRÓLEO, SEGUNDO REGIÕES GEOGRÁFICAS (BILHÕES BARRIS)


– 2017

36 | 86
Por fim, as reservas das Americas Central e do Sul tiveram acrescimo de 0,4%, somando 330,1

bilhoes de barris (19,5% do total mundial). O Brasil ficou na 15a posicao no ranking mundial

de reservas provadas de petroleo, com um volume de 12,8 bilhoes de barris.

3.2 | Produção Mundial de Petróleo

O volume de petroleo produzido no mundo em 2017 aumentou 625,4 mil de barris/dia (0,7%)

em relacao a 2016, passando de 92 milhoes de barris/dia para 92,6 milhoes de barris/dia.

Os paises produtores da Opep registraram queda de 0,4%, com um decréscimode 165,3 mil

barris/dia. Ja a producao dos paises que nao fazem parte da Opep registrou crescimento de

1,5%, equivalente a um aumento de 790,6 mil de barris/dia.

Entre os paises que fazem parte da Opep que registraram as maiores quedas de produção

estao Venezuela (-11,6%) e Gabao (-9,3%), que foram compensadas pelas altas registradas na

producao da Libia (102,9%),do Ira (8,2%) e da Nigeria (4,5%).

Enquanto isso, entre os paises que nao fazem parte da Opep, o Iemen foi o responsavel pelo

maior crescimento da producao (21,8%), equivalente a 9,4 mil barris/dia. Outros paises que

registraram aumento foram Congo (16,4%) e Cazaquistao (10,8%).

Os Estados Unidos foram o maior produtor mundial de petroleo com volume medio de 13,1

milhoes de barris/dia (14,1% do total mundial).

A Arabia Saudita ocupou o segundo lugar no ranking, com producao media de 12 milhoes de

barris/dia (12,9% do total mundial), um decréscimo de 3,6% ante 2016.

37 | 86
Em seguida, vieram Rússia (12,2% do total mundial), Ira (5,4% do total mundial) e Iraque (4,9%

do total mundial). O Brasil se situou na 10a posicao, apos o acrescimo de 4,8% no volume de

oleo produzido, totalizando 2,7 milhoes de barris/dia (3% do total mundial).

É importante mencionar que no calculo da producao de petróleo é considerada tambem a

producao de Liquido de Gas Natural (LGN).

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE PETRÓLEO – 2008-2017

O Oriente Medio continuou como a regiao de maior producao de petroleo, com um volume

medio de 31,6 milhoes de barris/dia (34,1% do total mundial), apos decrescimento de 0,8%

em comparacao com 2016. A America do Norte veio em seguida, com producao media de 20,1

milhoes de barris/dia (21,7% do total mundial), apos crescimento de 4,3%.

A região que compreende Europa e Eurasia ocupou o terceiro lugar, com 17,8 milhoes de

barris/dia (19,2% do total mundial), apos acrescimo de 0,4%. Em seguida vieram as Americas

Central e do Sul, com queda de 3,2% em sua produção de petroleo, atingindo 7,2 milhoes de

barris/dia (7,8% do total mundial).

38 | 86
PRODUÇÃO DE PETRÓLEO, SEGUNDO REGIÕES GEOGRÁFICAS (MILHÕES BARRIS/DIA) -
2017

A regiao Asia-Pacifico registrou queda de 2,1% em sua producao, totalizando 7,9 milhoes de

barris/dia (8,5% do total mundial). Por fim, veio a Africa, com media de producao de 8,1

milhoes de barris/dia de petroleo (8,7% do total mundial), apos acrescimo de 5% em relacao

ao ano anterior.

3.3 | Consumo Mundial de Petróleo

Em 2017, o consumo mundial de petróleo totalizou 98,2 milhoes de barris/dia, apos aumento

de 1,8% (1,7 milhao de barris/dia) em comparacao a 2016.

No ranking de países que mais consumiram petroleo em 2017, os Estados Unidos se

mantiveram na primeira posicao, com 19,9 milhoes de barris/dia (20,2% do total mundial). A

39 | 86
China veio em seguida, com consumo medio de 12,8 milhoes de barris/dia de petroleo (13%

do total mundial).

Na terceira colocacao ficou a India, com 4,7 milhoes de barris/dia (4,8% do total mundial).O

Brasil alcancou o setimo lugar, com consumo de cerca de 3 milhoes de barris/dia (3,1% do

total mundial).

Dentre as regioes, a posicao de maior consumidora de petroleo continuou ocupada por Asia-

Pacifico, com 34,6 milhoes de barris/dia (35,2% do total mundial). O crescimento do consumo

nessa regiao foi de 3% (+1 milhao barris/dia), sendo mais de um terco do consumo

correspondente a China.

PARTICIPAÇÃO DE PAÍSES SELECIONADOS NO CONSUMO MUNDIAL DE PETRÓLEO – 2017

40 | 86
Em seguida veio a America do Norte, com 24,2 milhoes de barris/dia (24,7% do total mundial),

cujo consumo cresceu 0,6% em relação a 2016. A regiao que compreende Europa e Eurasia

cresceu 1,7%, com 19,3 milhoes de barris/dia (19,6% do total).

O Oriente Medio, por sua vez, foi responsável por 9,5% do consumo mundial, com 9,3 milhoes

de barris/dia, um crescimento de 1,4% em relacao a 2016. Os maiores aumentos de consumo

de petroleo nessa região foram registrados por Ira (+93 mil barris/dia) e Iraque (+33 mil

barris/dia).

CONSUMO DE PETRÓLEO, SEGUNDO REGIÕES GEOGRÁFICAS (MILHÕES BARRIS/DIA) –


2017

As Americas Central e do Sul registraram diminuição de seu consumo de petroleo, com queda

de 0,2%, totalizando cerca de 6,8 milhoes de barris/dia (6,9% do total mundial).

41 | 86
Por ultimo, a Africa apresentou elevacao de 2,5%, totalizando 4 milhoes de barris/dia no

consumo de petroleo (4,1% do total mundial).

3.4 | Refinação Mundial de Petróleo

Em 2017, a capacidade efetiva de refino instalada no mundo era de 98,1 milhoes de barris/dia,

0,6% (+577 mil barris/dia) maior que em 2016.

Dentre os paises que aumentaram a capacidade de refino, a India se destacou com um

incremento de 351 mil barris/dia, totalizando 5 milhoes de barris/dia. Em seguida, veio a

China, com um aumento de capacidade de 336 mil barris/dia, somando 14,5 milhoes de

barris/dia.

PARTICIPAÇÃO DE PAÍSES SELECIONADOS NA CAPACIDADE TOTAL EFETIVA DE REFINAÇÃO


– 2017

42 | 86
Em contrapartida, alguns paises tiveram diminuição na capacidade de refino. As maiores

reducoes ocorreram no Japao (-257 mil barris/dia), no Coveite (-200 mil barris/dia) e Arabia

Saudita (-78 mil barris/dia).

No ranking de paises com maior capacidade de refino, os Estados Unidos se mantiveram na

primeira posicao, com 18,6 milhoes de barris/dia (18,9% da capacidade mundial). Em

sequencia vieram China, com 14,5 milhoes de barris/dia (14,8% da capacidade mundial);

Russia, com 6,6 milhoes de barris/dia (6,7% da capacidade mundial); India, com 5 milhoes de

barris/dia (5,1% da capacidade mundial); e Japao, com 3,3 milhoes de barris/dia (3,4% da

capacidade mundial). Juntos, estes cinco paises responderam por 48,9% da capacidade

mundial de refino.

CAPACIDADE DE REFINAÇÃO, SEGUNDO REGIÕES GEOGRÁFICAS (MILHÕES BARRIS/DIA) -


2017

43 | 86
O Brasil foi o oitavo colocado no ranking, com capacidade de refino de 2,3 milhoes de

barris/dia (0,5% da capacidade mundial), apos decréscimo de 0,2% em sua capacidade efetiva

de refino instalada.

Dentre as regioes, Asia-Pacifico foi a de maior capacidade de refino, com 33,3 milhoes de

barris/dia (33,9% da capacidade mundial), 1,7% (+550 mil barris/dia) a mais que em 2016.

3.5 | Preços de Petróleo nos Mercados

Em 2017, o oleo do tipo Brente teve cotação media de US$ 54,19/barril no mercado

spot,registrando crescimento acentuado de 23,9% em relacao a 2016. Enquanto isso, o

petróleo do tipo WTI teve cotacao media de US$ 50,79/barril, apos crescimento de 17,2% ante

2016.

A diferenca de precos entre o Brent e o WTI passou de US$ 0,39/barril, em 2016, para US$

3,40/barril, em 2017. Nos ultimos dez anos, a queda media anual dos precos WTI e Brent foi

de 0,9%.

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS MÉDIOS ANUAIS NO MERCADO SPOT DOS PETRÓLEOS DOS TIPOS
BRENT E WTI – 2008-2017

44 | 86
Em 2015 o preço do petróleo caiu substancialmente, devido ao excesso de produção e à

redução do consumo com a crise económica mundial. O preço do barril de petróleo estava

com a cotação na ordem dos 30 a 38 USD/barril em Janeiro de 2016, o valor mais baixo das

últimas duas décadas.

PRINCIPAIS MERCADOS DE NEGOCIAÇÃO DE PETRÓLEO BRUTO

45 | 86
4 | O MERCADO DE GÁS NATURAL

4.1 | Reservas Mundiais de Gás Natural

Em 2017, as reservas provadas mundiais de gas natural somaram 193,5 trilhoes de m3, um

crescimento de 0,2% em comparacao com o ano anterior.

As reservas dos paises-membros da Opep, que concentraram 48,9% do total, se mantiveram

estaveis, totalizando 94,6 trilhoes de m3. Já as reservas dos outros paises somaram 98,8

trilhoes de m3, apos crescimento de 0,4% em relacao a 2016.

No ranking de paises com maiores reservas provadas de gas natural, o primeiro lugar foi

ocupado pela Russia, com 35 trilhoes de m3 (18,1% do total mundial). Em seguida, vieram

Irao, com 33,2 trilhoes de m3 (17,2% do total) e Catar, com 24,9 trilhoes de m3 (12,9% do total

mundial). Juntos, esses tres paises responderam por 48,1% das reservas globais de gas natural.

EVOLUÇÃO DAS RESERVAS PROVADAS DE GÁS NATURAL – 2008-2017

46 | 86
Dentre as regioes, a maior parte das reservas provadas se concentrou no Oriente Medio,

somando 79,1 trilhoes de m3 (40,9% do total). Depois, vieram Europa e Eurasia, com 62,2

trilhoes de m3 (32,1% do total), apos crescimento de 0,3%.

A regiao Asia-Pacifico, com 19,3 trilhoes de m3(10% do total), registrou crescimento de 0,4%

em suas reservas de gas natural. Por sua vez,as reservas da America do Norte registraram

queda de 1%, totalizando 10,8 trilhoes de m3 (5,6% do total). E, na Africa, as reservas

mantiveram-se estaveis, totalizando 13,8 trilhoes de m3 (7,1% do total).

RESERVAS PROVADAS DE GÁS NATURAL, SEGUNDO REGIÕES GEOGRÁFICAS (TRILHÕES

M3) - 2017

Por fim, as Americas Central e do Sul registraram queda de 0,5% no volume de suas reservas,

que totalizaram 8,2 trilhoes de m3 (4,2% do total). O Brasil ocupou a 37a colocacao do ranking

das maiores reservas provadas de gas natural do mundo.

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4.2 | Produção Mundial de Gás Natural

Em 2017, a producao mundial de gas naturalalcancou 3,7 trilhoes de m3, apos alta de 3,7%

em relacao a 2016. A Russia registrou o maior crescimento volumetrico (+46,3 bilhoes de m3)

na producao anual de gas natural.

Outros paises,como Ira (+20,7 bilhoes de m3), Australia (+17 bilhoes de m3) e Arabia Saudita

(+6,1 bilhoes de m3) tambem obtiveram significativos aumentos de producao. Por outro lado,

Holanda (-5,4 bilhoes de m3), Turcomenistao (-4,9 bilhoes de m3) e Mexico (-3 bilhoes de m3)

sofreram os maiores declinios em termos volumetricos.

A producao de gas natural dos membros da Opep atingiu 786,7 bilhoes de m3 (21,4% do total

mundial), apos expansao de 4,2% (+32 bilhoes de m3) ante 2016, enquanto a dos países que

nao fazem parte da Opep totalizou 2,9 trilhoes de m3 (78,6% do total mundial), apos

crescimento de 3,5% (+98,6 bilhoes de m3) em comparacao com 2016.

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE GÁS NATURAL - 2008-2017

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No ranking global de maiores produtores de gas natural, os Estados Unidos se mantiveram em

primeiro lugar, com 734,5 bilhoes de m3 (20% do total mundial), apos aumento de 0,7% ante

2016. Em seguida veio a Russia, com 635,6 bilhoes de m3 (17,3% do total mundial), apos alta

de 7,9%.

O Brasil se situou na 30ª posicao no ranking mundial de produtores de gas natural, com

producao de 27,5 bilhoes de m3 (0,7% do total mundial), apos alta de 12,1%.

Dentre as regioes, a area que compreende Europa e Eurasia se manteve como maior

produtora global de gas natural, com 1,1 trilhao m3 (28,7% do total mundial), apos alta de

4,9% (+49 bilhoes de m3). Em seguida, veio a America do Norte, com producao de 951,5

bilhoes de m3 (25,9% do total mundial), apos crescimento de 0,7%.

PRODUÇÃO DE GÁS NATURAL, SEGUNDO REGIÕES GEOGRÁFICAS (BILHÕES M3) - 2017

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O Oriente Medio obteve um crescimento volumétrico de 29 bilhoes de m3 na produção de

gas natural, totalizando 659,9 bilhoes de m3 (17,9% do total mundial), apos alta de 4,6%,

mantendo-se como terceira maior região produtora. Em seguida, veio a região Asia-Pacifico,

com acrescimo de 4,7% (+27,3 bilhoes de m3) em sua producao, que alcançou 607,5 bilhoes

de m3 (16,5% do total mundial).

Por sua vez, a Africa registrou crescimento de 8,7% (+18,1 bilhoes de m3), somando 225

bilhoes de m3 (6,1% do total mundial). Por fim, as Americas Central e do Sul registraram

crescimento de 0,1% (+0,2 bilhao de m3), totalizando 179 bilhoes de m3 (4,9% do total

mundial).

4.3 | Consumo Mundial de Gás Natural

Em 2017, o consumo global de gas natural apresentou aumento de 2,7%, superior a media de

crescimento dos ultimos 10 anos (1%), alcancando 3,7 trilhoes de m3. China e Ira foram os

paises com maior incremento volumetrico no consumo de, respectivamente, 31 bilhoes de

m3 (+14,8%) e 13,1 bilhoes de m3 (+6,5%). Em contrapartida, os Estados Unidos

experimentaram a maior queda, de 10,8 bilhoes de m3 (-1,4%).

No ranking de maiores consumidores de gas natural,os Estados Unidos permaneceram na

primeira posicao, com 739,5 bilhoes de m3 (20,1% do total mundial), seguidos da Russia, com

424,8 bilhoes de m3 (11,6% do total mundial).

Por regioes, a area que compreende Europa e Eurasia continuou como maior consumidora de

gas natural, totalizando 1,1 trilhao de m3 (30,1% do total).

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PARTICIPAÇÃO DE PAÍSES SELECIONADOS NO CONSUMO MUNDIAL DE GÁS NATURAL –
2017

Em seguida, veio a America do Norte, com 942,8 bilhoes de m3 (25,7% do total mundial), apos

queda de 0,9%. A regiao Asia-Pacifico registrou aumento de 5,9% no consumo de gas natural,

que subiu para 769,6 bilhoes de m3 (21% do total mundial).

Por sua vez, o Oriente Medio apresentou crescimento de 5,4%, totalizando 536,5 bilhoes de

m3 (14,6% do total mundial). Ja a Africa teve crescimento de 6,5%, alcançando 141,8 bilhoes

de m3 (3,9% do total mundial). Nas Americas Central e do Sul, a queda do consumo foi de 1%,

atingindo 173,4 bilhoes de m3 (4,7% do total mundial).

O Brasil registrou crescimento de 1,7%, totalizando 38,3 bilhoes de m3 (1% do total mundial),

e ocupou a 26a posicao no ranking de maiores consumidores de gas natural.

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CONSUMO DE GÁS NATURAL, SEGUNDO REGIÕES GEOGRÁFICAS (BILHÕES M3) - 2017

4.4 | Preços do Gás Natural nos Mercados

Contrariamente ao Petróleo Bruto, a maioria das transacções de Gás Natural a nível mundial

é negociado no mercado SPOT, directamente entre as Petrolíferas e os Clientes, porém,

existem alguns índices mundiais como o Henry Hub Natural Gas.

O Henry Hub Natural Gas é uma categoria de gás natural que é produzida nos Estados Unidos

e através da plataforma no local Henry Hub, Louisiana. Os preços do gás natural nos EUA são

determinados em bolsa e dependem, sobretudo, do saldo da oferta/procura. Além disso, a

dinâmica do seu preço depende dos perfis de produção, das condições climatéricas e, em

menor grau, dos preços do petróleo.

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O Preço do Gás Natural é negociado na Bolsa de Nova York e sua cotação é referência para o

mercado norte-americano.

PREÇOS MÉDIOS DO GÁS NATURAL HENRY HUB NATURAL GAS

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5 | MOÇAMBIQUE: PETRÓLEO E GÁS NATURAL

5.1 | História do Petróleo em Moçambique

A história do Petróleo e Gás Natural em Moçambique tem mais de um século, podendo ser

considerado sete importantes períodos:

▪ 1900 – 1959 – Início das primeiras pesquisas de hidrocarbonetos;

▪ 1960 – 1974 – Primeiras descobertas de Gás Natural;

▪ 1975 – 1990 – Desenvolvimento da Indústria Petrolífera;

▪ 1991 – 2004 – Consolidação da Indústria Petrolífera;

▪ 2005 – 2014 – Descobertas enormes reservas de Gás Natural;

▪ 2015 – “...”– Desenvolvimento dos Projectos de Produção

O período de 1900 a 1959 é caracterizado pelas primeiras pesquisas, onde foram descobertas

diversas manifestações de hidrocarbonetos na parte continental da Bacia Sedimentar de

Moçambique. A fraca tecnologia aliada à escassez de recursos financeiros impossibilitou o

avanço de uma pesquisa adequada de hidrocarbonetos.

Depois de um período de paragem, durante os anos da Segunda Guerra Mundial, houve várias

companhias internacionais a desenvolveram uma intensa pesquisa de hidrocarbonetos em

Moçambique, com maior incidência nas áreas terrestres.

Durante o período de 1960 a 1974, são feitas as primeiras descobertas de Gás Natural em

1961 em Pande, à qual se seguiram as descobertas das jazidas de Buzi e Temane, em 1962 e

1967, respectivamente.

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Estas descobertas foram declaradas inicialmente como não comerciais, embora tenha havido

sucessivos estudos, até terem sido concessionadas no ano 2000 à empresa petrolífera sul-

africana SASOL.

O período de 1975 a 1990 coincide com o período da independência de Moçambique e com a

criação da ENH – Empresa Nacional de Hidrocarbonetos –, bem como na promulgação pelo

Governo da primeira Lei do Petróleo, ambos em 1981. Este período coincide também com as

primeiras iniciativas do Governo de Moçambique para o desenvolvimento da sua indústria

petrolífera, sendo de destacar a criação de um banco de dados geológico e geofísico.

O período de 1991 a 2004 marca um período de consolidação da Indústria Petrolífera em

Moçambique, sendo de destacar o estudo com novas tecnologias das reservas de gás natural

nos jazigos de Pande e Temane, o desenvolvimento de um projecto-piloto de utilização de Gás

Natural nos distritos de Inhassoro, Govuro e Vilanculos, a introdução da geração de energia

eléctrica a partir do Gás Natural, a edificação de infra-estruturas importantes para a produção

de gás natural em Pande e Temane, tais como a Central de Processamento de Temane e a

construção de um gasoduto com 865 Km entre Temane na Província de Inhambane e Secunda

na República da África do Sul, que permitiu a Moçambique tornar-se exportador de Gás

Natural na África Austral.

Destaca-se que em 2001 foi promulgada a Lei 3/2001, de 21 de Fevereiro, denominada por Lei

do Petróleo. Posteriormente, em 2004 foi promulgada a Lei 24/2004 e a Lei 25/2004, ambas

de 20 de agosto, com o Regulamento de Operações Petrolíferas e a criação do INP – Instituto

Nacional de Petróleo, respectivamente.

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Durante o período de 2005 a 2014, e como consequência de um novo quadro jurídico de

referência houve um crescimento do volume de actividades de pesquisa em Moçambique com

a entrada de novas empresas internacionais, impulsionando o conhecimento do potencial de

hidrocarbonetos em Moçambique. Neste período, foram descobertas novas jazigas de Gás

Natural na Província de Inhambane (Pande e Temane), no offshore da Província de Sofala e no

onshore e offshore da Província de Cabo Delgado.

Em 2014, foi estabelecido um novo quadro jurídico com a promulgação da nova Lei do

Petróleo (Lei/21/2014) e de um conjunto de outros decretos lei para regulamentar o sector

petrolífero em Moçambique, sendo de destacar a Lei 2/2014 e 25/2014.

Em 2015 foi lançado pelo INP – Instituto Nacional de Petróleo o 5th Licencing Round,

contemplando 15 novos áreas de concessão. As petrolíferas adquiriram os direitos de

pesquisa e produção de 6 destes blocos.

LICITAÇÃO DE ÁREAS DE CONCESSÃO PETROLÍFERA EM MOÇAMBIQUE

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Estas descobertas e as novas áreas de concessão, permitem que Moçambique apareça com

destaque no mapa dos países com potencial de hidrocarbonetos no mundo, e se espera que,

em médio prazo, Moçambique possa ser um dos maiores produtores de gás natural no

mundo.

A pesquisa de hidrocarbonetos foi definida como uma das áreas estratégicas do sector

energético do país, com vista ao investimento em projectos de pesquisa e produção de

hidrocarbonetos e para o desenvolvimento da indústria de downstream.

Como forma de responder a estratégia do sector de recursos minerais, a ENH – Empresa

Nacional de Hidrocarbonetos –, está participando em todos blocos e áreas de pesquisa de

hidrocarbonetos, como braço comercial do Governo de Moçambique.

A ENH actua como parceiro e participa na pesquisa, produção, desenvolvimento e produção

e deve reportar ao Governo sobre o decurso das actividades e seus resultados. Em

Moçambique encontram-se 17 áreas activas na pesquisa de hidrocarbonetos e a ENH detém

participações entre 10 a 25%.

Existem actualmente um conjunto de petrolíferas a operarem em consórcio regulado por

contratos em modelo JOA – Joint Operating Agreement – em cada um destes blocos, de Norte

para Sul de Moçambique em onshore e em offshore, sendo de destacar a ANADARKO, SASOL,

ENI e mais recentemente a EXXON e a TOTAL.

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