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EXPERIÊNCIAS DE RECOLHIMENTO DA REALIDADE PROJETADA

Um momento de diferenciação da realidade projetada foi após uma conversa com


meu pai, que aparece em meu processo como uma sombra da qual preciso me diferenciar. Ao
conversar com ele sobre sua vida, percebi como tendo a repetir inconscientemente sua
postura, ao não me dar conta da repetição do padrão inconsciente, e a semelhança de sua
problemática psíquica com a minha. Sem a participação da consciência, vivo a vida
inconsciente de meus pais, ao invés de minha própria vida. Na identificação com os complexos
parentais, não há escolha. Se é vivido pelos complexos, ao invés de se viver a individualidade.

Este aspecto se exemplifica astrologicamente no fato de ambos os progenitores terem


lua em libra, onde eu tenho meu nodo lunar sul (a cauda do dragão).

Este reconhecimento resultou em uma diferenciação, como se pode ver no sonho


subsequente – onde estou num trem com uma menina que não tem muito a ver comigo – e
digo a mim mesmo que tenho que descer desse trem – e desço.

Me lembro de um outro momento, onde refleti sobre a vida extrovertida e festiva,


ligada a blocos de carnavais, comum de meu grupo social, e como isso pode chegar a um ponto
de hipertrofiar e perturbar o equilíbrio da vida. Nessa noite sonhei que: “agora eu entendi que
não éramos nós que tínhamos o Rio de Janeiro, mas era o Rio que nos tinha”

Ao início da análise, estava com outra visão sobre a psicologia analítica e sobre o que
seria o processo de individuação – que se traduzia em sonhos como uma identificação com
Fausto. A própria visão do inconsciente era vista com lentes do complexo, lentes “fáusticas”,
por uma visão imposta pelo arquétipo. Um sonho que tive foi que Fausto (do qual eu havia
feito um desenho) me agradecia “por lhe ter dado um rosto”. Durante o processo, houve uma
diferenciação de tal complexo, tornando-se a relação com o inconsciente um espaço para a
autorreflexão, exemplificada por um sonho: “em meu quarto, onde havia um quadro de um
desenho de Fausto, agora havia um espelho”.

Esses três exemplos mostram a possiblidade de consciência e diferenciação de


tendências inconscientes. Considerando a força das tendências inconscientes, formular a
sentença “eu projeto” parece presunçoso, pois a projeção mostra-se como ausência de
participação do complexo do ego na dinâmica. Somos parte de uma mesma identidade
inconsciente (participação mística), vivendo no exterior a realidade subjetiva. “Eu projeto” já
denota uma diferenciação, um sujeito projeta um conteúdo, já há a consciência. Subitamente
percebemos que somos parte do conteúdo inconsciente, sem ter havido uma opção
consciente. Damos “rosto”, “corpo”, para o conteúdo inconsciente se manifestar na realidade
concreta – é este que nos tem.

A intervenção da consciência sobre os conteúdos inconsciente abre espaço para que


novidades psíquicas se manifestem.

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