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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO- UFRPE

UNIDADE ACADÊMICA DE SERRA TALHADA- UAST


DISCENTE: JOICE DE SOUZA BOAVENTURA

Transferência e implicação subjetiva: Reflexões Psicanalíticas a partir de uma


pesquisa- ação.

O trabalho analisado faz uma relação entre alguns elementos psicanalíticos e uma
pesquisa-ação realizada em uma associação de catadores de resíduos sólidos
domésticos, localizada em um município de pequeno porte na região metropolitana
de Minas Gerais.
Inicialmente foi apresentado o processo de interação que o pesquisador precisa
desenvolver com os participantes de uma pesquisa-ação. É nesse contexto que a
psicanálise busca aprofundar estudos nos mecanismos que provocam a
autorreflexão dos envolvidos, ou seja, na capacidade que cada um apresenta em
fazer uma autocrítica de suas ações. Essa visão psicanalítica nesse tipo de
pesquisa é um instrumento importante para que o conhecimento a ser apresentado
seja erguido solidamente. Assim, o pesquisador pode construir sua identidade a
partir de sua relação com o contexto e com os participantes da pesquisa-ação,
levando em consideração a capacidade de autorreflexão e a intersubjetividade dos
envolvidos.
A pesquisa realizada na associação teve como objetivo apoiá-los no processo de
gestão democrática e em sua metodologia foi optado por não utilizar técnicas
psicanalíticas propriamente ditas. Com isso, essa atuação manteve sua função de
gestão e utilizou ferramentas colaborativas, com o apoio da psicanálise apenas
como um referencial na interpretação psíquica.
Ao relacionar psicanálise com a pesquisa-ação é importante analisar a relação
entre o pesquisador e os participantes da pesquisa, ou seja, o processo de
transferência e contransferência pois essa interação traz importantes contribuições.
Ao tratar de transferência é necessário que o pesquisador use a neutralidade, para
que ele saiba impor seu papel diante da situação que lhe é apresentada. Do mesmo
modo, é preciso manter controlada a contransferência, que seria o resultado das
influências que os participantes da pesquisa exercem sobre os sentimentos
inconscientes do pesquisador.
A pesquisa-ação é gerida por uma metodologia que envolve os pesquisadores e
os atores envolvidos na prática, portanto, é necessário que haja uma relação de
reciprocidade e colaboração. Para tornar estruturada a pesquisa deve seguir
algumas etapas essenciais para seu desenvolvimento. São elas:
- Fase exploratória: nessa etapa é realizado um diagnóstico participativo para
identificar as possibilidades de ação e intervenção;
-Pesquisa aprofundada: onde utiliza-se diversos instrumentos para coleta de dados,
os quais são discutidos e interpretados sucessivamente;
- Ação: partindo de um planejamento é nesse ponto onde as ações serão
executadas pelo grupo incluindo intervenções por parte dos pesquisadores; e
- Avaliação dos resultados: nesta etapa observa-se o andamento das ações,
redirecionando o que acontece e buscando produzir conhecimento no decorrer do
processo, além de gerar feedback para o grupo e considerações a respeito das
diretrizes teóricas utilizadas.
A pesquisa-ação realizada na associação teve uma duração de 27 meses. Logo
de início foi observado uma sobrecarga de trabalho por parte das associadas, além
de constantes conflitos internos, o que impactava de forma negativa no
desenvolvimento da produtividade. Dessa forma foi desenvolvido um conjunto de
ações para apoiar a organização interna do grupo. Os pesquisadores utilizaram
diversas ferramentas de apoio à gestão colaborativa com o intuito de promover
maior efetividade nas interações.
A equipe de pesquisa foi bem recebida desde o primeiro dia de visita, no entanto,
o vínculo com o grupo não aconteceu de forma instantânea e sem contradições.
Nas primeiras entrevistas notou-se um distanciamento entre as associadas e o
grupo de pesquisadores, elas pareciam tímidas e receosas em falar sobre algumas
informações. Em pouco tempo perceberam que elas passaram a aceitar a equipe,
demonstrando confiança e sendo mais participativas.
Foi observado que quanto mais as interações aconteciam maior eram as relações
libidinais entre as associadas e a equipe. Com isso foi possível identificar que a
maioria das associadas não exercia crítica com relação às intervenções sugeridas,
avaliando-as sempre de forma positiva.
Nos encontros posteriores essa relação começou a se modificar. Durante a fase
da Ação da pesquisa houve um aumento nos conflitos e contradições no grupo. As
ações dessa pesquisa eram direcionadas a busca da integridade da associação e
esse posicionamento despertou diversas emoções ao longo do processo: alegria
diante dos sucessos, tristeza diante das dificuldades e angústia diante das
frustrações.
Ao final dos encontros foi possível concluir o quanto é importante a realização de
uma pesquisa-ação, pois a mesma evidencia influências subjetivas na interação
entre pesquisadores e pesquisados. Sendo a partir dessas interações e dos
processos de transferência e contratransferência envolvidos na pesquisa que os
resultados e conhecimentos obtidos através da mesma torna-se mais
compreensível.

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