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Aconselhamento

diretivo
DISCIPLINA: ACONSELHAMENTO E ORIENTAÇÃO EM PSICOLOGIA
DOCENTE: REGINA NEVES
Aconselhamento Diretivo
Kurt Lewin, Gordon Allport e Gardner Murphy constituem um grupo de
renomados psicólogos que defendem os princípios da interação social,
nos quais se baseia o aconselhamento diretivo.
Neste sentido, o aconselhamento sustenta-se no conceito unitário de
ambiente e organismo, em que não se pode subtrair o sujeito do meio
em que vive; na influência do grupo social e do ambiente sobre o
indivíduo como sustentação de suas emoções, ações, sentimentos e
percepções; na importância do estudo das situações sobre o sujeito; e na
importância das forças do campo social sobre este.
Assim, na orientação diretiva um dos aspectos mais priorizados é o
estudo do ambiente, em que se deve procurar conhecer o efeito do
ambiente nas atitudes e comportamentos do sujeito, e deste mesmo
sobre o próprio ambiente. (Scheeffer, 1976)
A partir destas bases teóricas, o aconselhamento diretivo objetiva a
retirada de obstáculos que possam dificultar a aprendizagem do sujeito
no que concerne ao “ajustamento atual e remoto do indivíduo ao seu
meio.”
Não objetiva-se apenas o ajustamento pessoal, mas também o social.
(Scheeffer, 1976, p. 27)
Deste modo, é possível definir este aconselhamento como sendo um
processo educativo, que almeja alcançar uma adaptação social e
pessoal suficientes, por meio da aprendizagem de atitudes apropriadas.
Com esta técnica o sujeito adquire novos conhecimentos sobre o
ambiente em que vive e sobre si mesmo.
Esta é a forma de aconselhamento aplicada no campo da orientação
profissional, sendo considerada uma forma clássica de aconselhamento.
(Scheeffer, 1976)
A evolução da orientação profissional proporcionou o desenvolvimento
desta técnica diretiva, estando estes dois processos diretamente ligados,
sendo que no início tratava-se de uma técnica mecânica, em que se
priorizava o fornecimento simples de informações ao sujeito.
Ao logo do tempo, tal técnica passou a se desenvolver como um método
dinâmico concebido por uma relação entre dois sujeitos.
Neste método dinâmico, o orientador assume uma postura relativamente
neutra, em que as decisões devem ser feitas pelo orientando e estas
respeitadas pelo orientador. (Scheeffer, 1976)
Esta neutralidade do orientador, todavia, é passível de discussões, visto
que não é possível assumir uma postura genuinamente neutra, pois esta
condição pode denotar uma atitude de indiferença por parte do
orientador no que concerne a adaptação do orientando ao seu meio.
Denotação esta errônea, visto que o orientador sempre almeja a
resolução satisfatória de seus casos.
Nesta perspectiva, seria uma atitude irreal assumir uma neutralidade
absoluta. (Scheeffer, 1976)
Além disso, o orientador em muitas situações deverá comandar o
processo de aconselhamento, a fim de impedir que o indivíduo submirja
em seus conflitos e culmine em uma perda de foco.
Com este propósito, o orientador deve ser ativo, evitando assumir uma
postura passiva. Mesmo assim, isto não deve ser confundido com a
postura que deve assumir o orientando.
Este também não deve ser passivo, mas deve procurar aprender por si
mesmo, agindo, sendo auxiliado pelo orientador, o qual terá a
responsabilidade fornecer as precisadas correções e esclarecimentos.
Desta forma, o orientador desempenhará o papel de assistente, que procurará
impedir os erros que possam prejudicar a aprendizagem do orientando, por
meio de intervenções em momentos certos e de forma adequada. Isto auxiliará
o sujeito a encontrar a resolução para seus conflitos. (Scheeffer, 1976)
Como qualquer método, para atingir os objetivos descritos e almejados, o
aconselhamento diretivo se constitui de etapas que devem ser seguidas, são
elas:
o rapport; obtenção do autoconhecimento pelo orientando; planos de ação, em
que são utilizadas diversas técnicas, como fornecer a opinião quando for
solicitado pelo orientando, ou quando este segue um caminho que lhe pode ser
maléfico.
Outras técnicas utilizadas são as persuasivas, interpretativas, explanatórias. A
última etapa deste aconselhamento se constitui no encaminhamento.
(Scheeffer, 1976)
O aconselhamento diretivo ainda tem como pressuposto o fato de que a
individualidade do sujeito deve ser analisada no aconselhamento, no que
se refere ao passado, presente e futuro.
É a partir da compreensão desta individualidade que o orientador poderá
aconselhar e proporcionar melhor ajustamento ao sujeito.
Para a obtenção de maiores informações sobre o orientando, esta
técnica se utiliza também dos testes psicológicos e das entrevistas,
sendo aqueles considerados preciosos para o aconselhamento, visto que
permitem adquirir um maior conhecimento em relação ao orientando.
(Scheeffer, 1976)
Mas existem várias objeções feitas à utilização dos testes no aconselhamento,
em que se apontam as fraquezas e os defeitos dos mesmos.
A teoria não-diretiva, por exemplo, que será posteriormente abordada, pouco
se utiliza de tais testes.
, para a teoria diretiva desde que os testes sejam aplicados e interpretados com
os devidos cuidados, eles devem ser utilizados como um recurso do
aconselhamento. (Scheeffer, 1976)
Outra questão relevante, é que nesta abordagem a relação humana
existente no processo se baseia em uma ênfase maior no aspecto
intelectual e em menor grau no emocional, visto que se prioriza a
informação como material de trabalho, sendo que as experiências
vivenciais do sujeito são menos importantes que o histórico do caso.
(Scheeffer, 1976)
O processo do aconselhamento diretivo segue uma seqüência análoga à
da orientação médica, por isso esta técnica é também denominada de
aconselhamento clínico.
Assim, neste processo o orientador deve seguir as seguintes etapas de trabalho:
análise; que diz respeito a coletas de dados para uma melhor compreensão do
sujeito; síntese dos dados obtidos; diagnóstico; prognóstico; referente ao
desenvolvimento futuro do conflito manifestado pelo orientando;
aconselhamento propriamente dito, em que há o trabalho em conjunto da dupla
na avaliação de determinadas atitudes do orientando; e o seguimento, que
procura averiguar a eficácia do conselho, bem como dar assistência ao indivíduo
em problemas futuros. Além disso, esta última etapa, o seguimento, se constitui
na única forma de se constatar a validade tanto do diagnóstico, como do
prognóstico. (Scheeffer, 1976)
No que diz respeito propriamente à orientação profissional, o aconselhamento
se constitui, nestes casos, como um processo de longa duração, na medida em
que tem início no curso secundário e se espaça pela vida toda, visto que não
termina quando o sujeito se decide por um campo profissional e ingressa neste.
O orientando continuará sendo acompanhado caso necessite e considere
preciso. (Scheeffer, 1976)
Abordagens Psicoeducacionais
Este tipo de abordagem geralmente visa a ajudar o paciente a
reconhecer os sintomas de sua doença, interpretar os danos causados
pela mesma e planejar estratégias de convívio com a doença. Nesta
etapa, os pacientes sentem-se reconfortados por terem, pela primeira
vez, uma explicação para seus problemas.
O paciente também pode se beneficiar tendo acesso a materiais
impressos contendo informações detalhadas sobre a doença, assim
como hoje em dia pela internet11. Existem no mercado livros para o
público leigo que oferecem uma boa gama de informações16,17, assim
como muitos sites sobre o tema.
Um problema importante neste tipo de abordagem é a falta de guias
técnicos que orientem a abordagem do ponto de vista pedagógico.
Existem na literatura referências a técnicas psicoeducacionais que
simplesmente apresentam aulas expositivas a respeito de
conhecimentos técnicos da doença.
São raros os trabalhos que pormenorizam as técnicas pedagógicas
empregadas, o tipo de aula, a duração, a freqüência, a avaliação da
efetividade e a comparação com medidas controle
Para outros transtornos, já há trabalhos como o de Anderson, Hogarty e
Reiss19. Estes autores descrevem pormenorizadamente as técnicas
psicoeducativas utilizadas no tratamento de famílias que apresentavam
um membro com Transtorno do Humor ou Esquizofrenia.
Eles propõem os seguintes objetivos para uma abordagem
psicoeducativa:
• Capacitar o paciente e sua família a aceitar o fato de que o paciente
sofre de uma doença médica que produz sintomas que afetam a auto-
estima, o humor, a fala, o sono, o apetite e o comportamento social e
sexual;
• Ensinar o paciente e sua família a identificar e caracterizar sintomas
específicos que ocorrem no início de um episódio;
• Demonstrar para a família que os episódios da doença têm,
inevitavelmente, um impacto sobre seu estilo de vida;
• Examinar as mudanças de papel que ocorrem durante uma crise
aguda, especialmente o papel do paciente na família;
• Transmitir a ideia que as doenças do humor são “transtornos familiares”
e auxiliar os familiares a distinguir casos da doença em outros familiares;
• Explicar as vantagens do tratamento preventivo a longo prazo;
• Explicar as vantagens do monitoramento laboratorial a longo prazo e
encorajar a família a compartilhar as decisões terapêuticas com o
paciente;
• Auxiliar a família a distinguir os efeitos colaterais das medicações e
diferenciá-los dos sintomas da doença.
Os mesmos autores propõem que o atendimento seja feito em grupos e
que sejam realizadas cinco sessões.
A primeira sessão seria utilizada para discutir as crenças da família a
respeito da doença.
Esta sessão seria apenas para entender as teorias familiares sobre a
doença, sem interferência da equipe.
Na segunda sessão, são apresentadas as informações adequadas
sobre a etiologia, curso, sintomas e tratamento.
A segunda sessão tem um formato de perguntas e respostas abertas.
Geralmente ocorrem acaloradas discussões nesta fase do tratamento,
principalmente em relação às causas biológicas da doença.
Em sessões subsequentes, os pacientes são encorajados a relatar as
suas vivências subjetivas dos sintomas.
Na quinta sessão – a de encerramento –, é revisado o que a família
aprendeu a respeito da doença e são discutidas estratégias para lidar
com futuras crises
Aconselhamento em orientação
profissional
A Orientação Profissional, como uma prática majoritariamente voltada
para estudantes que aspiram à carreira universitária, ou o “teste
vocacional” no senso comum, está consolidada.
Como o acesso à universidade e à orientação profissional não é
amplamente democrático, nesse cenário há necessidade de ampliação
do atendimento nas redes da Educação e Trabalho e de avaliação e
aperfeiçoamento das práticas instituídas.
Em outros cenários e contextos, inúmeros projetos foram e estão sendo
desenvolvidos em nosso país com populações e objetivos específicos e,
devido à natureza particular de suas ações educativas, muitas vezes, tais
práticas não são vistas como sendo do domínio da Orientação
Profissional.
Inicialmente cumpre rever alguns conceitos básicos.
O que significa orientação? Na língua portuguesa, genericamente,
encontra-se que orientação consiste em “ato ou arte de orientar(-se)”
(Ferreira, 1986, p. 1232).
Assim, enfatiza-se que as pessoas tomam decisões por si mesmas sem
necessariamente a ajuda de algum especialista em Orientação
Profissional. Portanto, a orientação pode ser necessária para indivíduos
em determinados momentos de sua carreira.
Na perspectiva dos orientadores, quanto mais pessoas puderem
beneficiar-se com Serviços de Orientação qualificados e desenvolvidos
por técnicos competentes e credenciados, melhor será para o
desenvolvimento da carreira pessoal e profissional dos cidadãos e para o
país.
“Geralmente as expressões ligadas à orientação são: vocacional,
profissional e educacional, para nos restringirmos ao campo do
comportamento vocacional” (Martins, 1978, p. 13).
O conceito vocacional tem sido entendido como referente à vocação.
Vocação, do latim vocatione, significa ato de chamar, escolha,
chamamento, predestinação, tendência, disposição, talento, aptidão. O
conceito profissional é definido “como respeitante ou pertencente à
profissão, ou a certa profissão”; “que exerce uma atividade por profissão
ou ofício”.
O conceito orientação profissional, na perspectiva psicológica significa a
ajuda prestada a uma pessoa com vistas à solução de problemas
relativos à escolha de uma profissão ou ao progresso profissional,
tomando em consideração as características do interessado e a relação
entre essas características e as possibilidades no mercado de emprego”
(Brasil, s/d).
O conceito orientação profissional tem sido utilizado para denominar
muitas disciplinas e estágios dos cursos de Psicologia e Pedagogia
(Melo-Silva, 2003), na legislação que criou a profissão do psicólogo e na
Recomendação (87) da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
(Brasil, 1949).
No senso comum, a terminologia mais utilizada é orientação vocacional,
sobretudo nas intervenções no campo da Psicologia.
Muitos autores fazem uso dos dois conceitos como sinônimos enquanto
outros definem o vocacional como mais amplo, ou seja, o sentido que se
atribui à vida que inclui o profissional, relativo ao exercício de uma
profissão, de uma ocupação.
O conceito orientação educacional consiste em um “processo intencional
e metódico destinado a acompanhar, segundo técnicas específicas, o
desenvolvimento intelectual e a personalidade integral dos estudantes,
sobretudo os adolescentes, orientação escolar” (Ferreira, 1986, p. 1232).
Aos termos vocacional ocupacional, profissional e educacional pode-se
acrescentar referente à ocupação, trabalho, ofício.
De acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), “define-
se a ocupação como um conjunto de postos de trabalho
substancialmente iguais quanto à sua natureza e às qualificações
exigidas”.
A quem os serviços de Orientação
Profissional se destinam?
Em muitos Serviços de Orientação Profissional observa-se que a procura
de jovens é maior. Quanto à procedência escolar, alunos do ensino
médio público e particular buscam de maneira relativamente equilibrada.
Quanto ao sexo, a busca é maior por parte das moças, sendo mais
recente o aumento da procura por parte do sexo masculino.
A demanda torna-se mais equilibrada quando o atendimento é destinado
a populações adultas.
Homens e mulheres acabam tendo contato com a Orientação
Profissional quando procuram serviços para seus filhos.
Algumas pessoas na faixa etária entre 40 e 50 anos, etapa do ciclo vital
na qual atualizam seus conflitos vocacionais, percebem que também
podem ser beneficiados com ajuda profissional para lidar com questões
do mundo do trabalho e outras demandas emocionais.
Em geral, os serviços e programas brasileiros de Orientação Profissional
visam a auxiliar pessoas a tomarem decisões acerca do estudo,
formação e trabalho.
Tradicionalmente, tais programas foram e são destinados,
predominantemente, a jovens em dúvida sobre a escolha da carreira
universitária. É mais recente o crescimento da demanda de adultos em
Orientação Profissional.
Adolescente em opção
profissional
O desenvolvimento de estratégias de intervenção destinadas a jovens
que aspiram à Educação Superior decorre do sistema brasileiro de
acesso à universidade, que se dá por meio do exame vestibular,
existente há várias décadas. O exame vestibular por si só é altamente
estressante.
Cumpre refletir sobre o significado do termo “vestibular” na língua
portuguesa. A palavra vestibular é relativa a “vestíbulo”, ou seja, “espaço
entre a rua e a entrada de um edifício”; “porta principal” ou “designação
genérica de espaço situado à entrada de canal”.
Diz-se do “exame de admissão a um curso superior, aberto aos
candidatos que houveram concluído o ensino médio, e designado a
avaliar o preparo de tais candidatos e sua aptidão intelectual”, “exame
vestibular” (Ferreira, 1986, p. 1771).
Assim, a Orientação Profissional no Brasil desenvolveu-se
principalmente destinada a estudantes do ensino médio – sobretudo o
privado – e de cursos preparatórios para o vestibular, que aspiram ao
acesso à universidade.
A procura de estudantes brasileiros por universidades públicas é
muito grande, pois além do fator econômico que leva a essa
busca, a qualidade é reconhecida nacional e internacionalmente.
A universidade constitui-se em espaço de manutenção do status
da classe média alta e, por outro lado, em possibilidade de
ascensão social de pessoas da classe média baixa que
conseguem romper as barreiras ritualizadas do vestibular
(Teixeira, 1981).
Aqueles cujas famílias podem custear os estudos, possuem
graus maiores de “liberdade de escolha” de uma carreira
universitária ou tecnológica.
Outros precisam trabalhar para a própria manutenção, nesses
casos, os graus de “liberdade de escolha” de uma carreira
universitária ou tecnológica diminuem, como mostram estudos
sobre o perfil do aluno de cursos noturnos ou de carreiras cuja
relação candidato/vaga é menor.
A Orientação Profissional realizada no Brasil circunstanciou-se,
principalmente, no atendimento de jovens do ensino médio,
desenvolvendo temas como escolha (graus de liberdade, influências),
autoconhecimento, informação sobre as profissões e vestibular, entre
outros emergentes.
Para Carvalho (1995), a Orientação Profissional tem sido a porta de
entrada dos atendimentos psicológicos em Clínicas-Escola. Outros
autores consideram a Orientação Vocacional/ Ocupacional como um
atendimento que pode ser definido como Psicoterapia Breve Focal
(Levenfus, 1997), e que se caracteriza pela técnica e não pelo tempo de
duração.
A técnica, nesse caso, é baseada na tríade: atividade, planejamento e
foco.
O foco na Orientação Profissional é o trabalho, via inserção imediata ou
por meio de estudos profissionalizantes em diferentes níveis.
Muitos adultos procuram ajuda e são atendidos em Clínicas-
Escola ou Serviços de Extensão Universitária oferecidos por
cursos de Psicologia, em consultórios psicológicos privados e
instituições que atuam no campo da assessoria, consultoria e
colocação em emprego – tanto em agências públicas quanto
privadas.
A demanda por Orientação Profissional, portanto, existe e é
crescente.

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