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Exploração dos

problemas
DISCIPLINA: ACONSELHAMENTO E ORIENTAÇÃO EM PSICOLOGIA
DOCENTE: REGINA NEVES
Um objetivo decisivo da experiência do aconselhamento é
que o cliente passe a ter insight , e esse é o importante
trabalho da segunda fase do processo.
De fato, a opinião de que a tomada de consciência leva
ao crescimento é um pressuposto-chave do modelo
genérico apresentado neste texto.
Tipos distintos de insights podem ser importantes para
clientes diferentes, mas o modelo de aconselhamento que
oferecemos tem como base a convicção de que a
mudança positiva ocorre através da tomada de
consciência.
Nem todo cliente necessita do mesmo tipo de insight.
Uns podem precisar de um quadro mais explícito de exemplos de
interesses e capacidades relacionados à escolha profissional.
Outros, de esclarecimento sobre como o seu comportamento afeta as
outras pessoas.
Clientes confusos podem necessitar de ajuda para compreender
convicções e percepções internas que criam conflito.
Outros, ainda, podem beneficiar-se ao tomar consciência de suas
emoções íntimas e de como são expressas, dissimuladas ou reprimidas.
O insight desenvolve-se através do processo de exploração de temas,
padrões, preocupações e problemas significativos.
Durante a primeira fase, alguns desses aspectos são identificados.
Na segunda, tornam-se o foco da atenção e são explorados em
profundidade.
À medida que o cliente explora e o conselheiro apresenta um feedback ,
elementos dos pensamentos do cliente que estavam no fundo emergem
ao primeiro plano perceptual.
Experiências pessoais com feedback
Feedback pode ser entendido como informação sobre os efeitos das
ações ou declarações de uma pessoa.
Toda pessoa recebe feedback do começo ao fim de sua vida.
Algumas dessas experiências são encorajadoras e gratificantes, como,
por exemplo, quando uma pessoa significativa faz uma afirmação do tipo:
“Gosto da sua aparência” ou “Gostei de suas observações em nossa
reunião ” . Outras vezes, o feedback toma a forma de crítica, por
exemplo: “Não entendo o que você está me dizendo” ou “Você teria sido
mais eficiente se tivesse se limitado a ouvir” .
Lembre-se de algumas experiências recentes nas quais recebeu
feedback.
Que notou em relação a como o feedback lhe foi dado?
Que observou no tom de voz e na atitude, para com você, da pessoa que
proporcionou o feedback ?
Do que se tornou consciente em seu íntimo, enquanto recebia o
feedback?
Em seguida, lembre-se de uma situação em que lhe foi dado um
feedback destinado a encorajá-lo a fazer ou dizer alguma coisa, de modo
diferente. Que percebeu sobre o conteúdo, sobre as ações da pessoa
que lhe proporcionou o feedback e sobre suas reações internas?
Princípios sobre feedback
É difícil receber feedback: todo feedback , mesmo quando aprobativo,
encontra alguma resistência.
Muitas vezes, ao recebermos feedback aprobativo, experimentamos
emoções misturadas: apreciamos e, ao mesmo tempo, nos sentimos
incomodados.
O feedback crítico tipicamente encontra resistência. Se oferecido num
contexto de atenção e apoio, podemos ser capazes de acolher algo dele.
O feedback que não se ajusta à imagem que a pessoa faz de si mesma
será ainda mais difícil de ser aceito do que o feedback compatível com a
auto-imagem.
Se um cliente me diz que aprecia meus insights e sensibilidade, posso
aceitar esse feedback ; ele se ajusta e é compatível com o modo como
percebo a mim mesmo.
Porém, se um cliente diz que eu não compreendi a profundidade de suas
preocupações, minha reação tende a ser defensiva: muito provavelmente
reagirei de um modo que impede o feedback de chegar além da superfície;
o feedback não se ajusta à imagem que faço de mim mesmo e aceitá-lo é
uma experiência dolorosa.
O feedback aprobativo que não se ajusta às percepções que tenho de mim
mesmo também será bloqueado.
Durante a experiência que acabou de relembrar você pode ter tido a
sensação de querer incorporar e de, ao mesmo tempo, também querer
rejeitar o feedback.
O feedback nunca é plenamente incorporado no momento em que é
recebido: grande parte disso, particularmente aquilo que não se ajusta às
percepções que temos de nós mesmos, é rejeitada ou não é levada em
conta.
Outras partes são reconsideradas várias vezes, antes de serem aceitas.
Incorporar ou fazer com que o feedback se ajuste é um processo lento;
mesmo quando desejamos isso, resistimos (Harrison, 1973).
O feedback é mais fácil de ser aceito se vem de uma fonte confiável.
Nesse contexto, uma fonte confiável é uma pessoa cujos juízos,
percepções e observações são considerados válidos.
Uma pesquisa (Goldstein, 1971) mostra consistentemente que é mais
provável as pessoas rejeitarem ou não levarem em conta o feedback de
uma pessoa relativamente estranha ou de alguém cujas percepções não
valorizam.
Na experiência do aconselhamento, o cliente (seja uma criança ou um
adulto) simplesmente não coloca qualquer energia para assimilar o
feedback de um conselheiro que não é percebido como digno de
confiança.
Em geral, o profissional é considerado mais digno de crédito se passou
por uma experiência similar à do cliente, sentiu stress e cresceu com
essa experiência tensionante.
O feedback é mais fácil de ser aceito quando a pessoa que o
proporciona oferece-o com uma presença calma.
Essa atitude ajuda o cliente na assimilação.
Se estiver ansioso, irritado ou confuso, o cliente irá se sentir inseguro e
bloqueará a assimilação. Essas pessoas proporcionando feedback têm
especial dificuldade com este princípio, quando se projetam no papel de
receptor e, na verdade, dizem para si mesmas: “ Eu não desejaria
receber o que estou dando.”
O feedback é mais fácil de ser aceito quando transmitido em línguagem
direta ao invés de defensiva ou obscura. Uma fala clara requer
linguagem direta e concreta.
A linguagem vaga obscurece as mensagens e torna difícil sua
compreensão para o receptor. Para oferecer uma mensagem de
feedback de modo explícito, deve-se ter clareza sobre que informação
dar, e estar muito à vontade para proporcioná-la.
Duas importantes razões pelas quais os conselheiros têm dificuldade
com feedback são: não ter clareza sobre que feedback dar e se é correto
dá-lo. A dificuldade em qualquer uma das duas áreas pode resultar em
fala defensiva.
O feedback é mais fácil de ser aceito quando é apresentado para
consideração e não para ser comprado Geralmente, quando um
conselheiro proporciona feedback a um cliente, espera que este lhe
“compre” ou aceite o feedback. Aceitar é um voto de confiança para o
conselheiro.
O bloqueio demonstra rejeição ou falta de confiança. Inerente a dar
feedback está uma mensagem de venda: “Eu quero que você o adquira.”
Infelizmente, essa mensagem, implícita ou declarada, provavelmente
cria resistência. Os conselheiros podem minimizar essa fonte de
resistência, ao assumirem que provavelmente o cliente não aceitará
feedback da primeira ou segunda vez que for oferecido, não porque o
conselheiro seja incompetente, mas porque a resistência ao feedback é
natural.
Sumário sobre feedback
O feedback ajuda as pessoas a crescerem e aprenderem sobre si
mesmas, e seu meio também as auxilia a tornarem seu com portamento
futuro mais efetivo que o passado.
As pessoas tendem a estar em conflito em relação ao feedback'.
desejam-no e, ao mesmo tempo, resistem a ele.
A essência do trabalho na segunda etapa é prover os clientes com
feedback sobre eles próprios, de modo que possa ser assimilado e
usado para o crescimento.
Como sempre se opõe resistência ao feedback , oferece-lo é uma forma
de arte. Trabalhar segundo os princípios que acabamos de desenvolver
aumentará as chances para sua assimilação e uso.
Voltamo-nos a seguir para a empatia em nível avançado, imediação,
confrontação, interpretação e dramatização como formas de
comunicação para proporcionar feedback consistente com os princípios
discutidos.
Empatia avançada
No capítulo anterior, definiu-se empatia como a capacidade do
conselheiro “ para penetrar no mundo objetivo do cliente — sentir o
mundo do cliente como se fosse o seu próprio, sem nunca perder a
condição ‘como se’ ” (Rogers, 1961, p. 284).
A empatia primária, nível apropriado à fase inicial do aconselhamento, é
transmitida através de respostas indicativas de que o conselheiro
compreendeu os temas perceptíveis para o cliente e para ele.
Comunicação não-verbal e respostas permutáveis foram expostas como
formas importantes de transmitir empatia primária.
A segunda fase é caracterizada por um nível mais profundo de abertura
no cliente — uma prontidão maior para explorar temas importantes e
para tornar-se consciente dos significados menos óbvios que se
encontram por trás desses temas.
Concomitantemente, o grau de empatia do conselheiro deve passar do
nível primário para o avançado.
O profissional com alto grau de empatia é capaz de tomar contato com
material subentendido ou menos evidente, atuando de modo a trazê-lo
para a superfície a fim de que possa ser visto mais claramente e
explorado mais totalmente.
A empatia primária ajuda o cliente a ver, de modo mais claro, o material
perceptível; a empatia avançada o ajuda a tomar contato com o material
novo.
Por esse contato adicionar elementos à informação do cliente sobre si, a
empatia avançada é muitas vezes chamada “ empatia aditiva”
(Carkhuff, 1969, 1971; Egan, 1982; Gladstein, 1977; Means, 1973;
Rogers, 1967, 1975).
A seguir, serão focalizados elementos do mundo objetivo do cliente
acessíveis ao contato da empatia avançada.
Será dada atenção ao valor potencial de fazer contato em cada área.
As várias áreas para contato representam diferentes opções para o
conselheiro. Com o sempre, as decisões tomadas são determinadas pela
prontidão do cliente, pelos objetivos do aconselhamento, pelo impacto
pretendido e pelas tendências pessoais do conselheiro.
Percepções sobre si e sobre os outros
As percepções referem-se aos modos singulares pelos quais os
indivíduos interpretam assuntos ou acontecimentos significativos.
Se as decisões, as ações e as emoções são influenciadas pelas
percepções da pessoa, esclarecê-las é sempre uma importante parte da
experiência do aconselhamento.
É importante tornar claras as percepções de uma pessoa sobre si
mesma, sejam quais forem os objetivos do aconselhamento.
Esclarecer percepções sobre outras Pessoas pode ser útil,
especialmente quando o problema do cliente é um conflito interpessoal.
Nesta área, a empatia avançada efetiva leva o cliente a compreender
mais acuradamente suas percepções e a explorar seu significado e
importância.
Pressupostos sobre acontecimentos
importantes da vida
Um pressuposto pode ser entendido como uma convicção que uma
pessoa tem, a qual é aceita com base na fé.
Muitas vezes, as pessoas agem a partir de pressupostos, sem ter uma
consciência clara do pressuposto envolvido.
Trazer à consciência pressupostos subjacentes ajuda o cliente a
evidenciá-los, a reconsiderar sua validade e a examinar como seu
comportamento está sendo influenciado por eles.
Alguns exemplos de reações de empatia avançada que convidam a esse
trabalho de esclarecimento são:
Parece-me que você possivelmente está pressupondo que se fosse
sincera com seu marido, ele se tornaria violento.”
— ‘‘Soa como se você estivesse pressupondo que seu patrão não está
interessado no stress que você está sentindo no trabalho.”
Trazer à consciência pressupostos pouco claros é uma experiência de
feedback que encoraja reexame e possível mudança em direção a
pressupostos mais precisos ou razoáveis.
Essa é a orientação básica de Albert Ellis (1973 - 197?) e outros que
consideram o aconselhamento como o processo de ajudar o cliente a
raciocinar precisamente e a usar raciocínio acurado, para tomar decisões
inteligentes e superar emoções autodestrutivas
Desejos pessoais importantes não-
satisfeitos
É da natureza da vida que alguns desejos importantes não sejam
satisfeitos imediatamente. De fato, estudiosos da personalidade tão
diferentes como Freud (1954), Maslow (1971), Perls (1969), Murray
(1938) e Ellis (1973), concordam que parte da adaptação às realidades
da vida exige que as pessoas aprendam como adiar a satisfação de
desejos.
Esses estudiosos também observam que os desejos que permanecem
insatisfeitos por um extenso período são lançados fora da consciência
(reprimidos), e que agarrar-se a algo desejado há longo tempo origina
emoções de ansiedade, raiva e mágoa.
Quando um desejo importante é reprimido por tempo suficiente, essas
emoções podem tornar-se parte penetrante da personalidade de um
cliente.
Os desejos satisfeitos através de interações interpessoais parecem ser
os mais problemáticos.
Eles podem implicar afeição, reconhecimento, atenção, companheirismo,
intimidade e, algumas vezes, poder e vingança.
Emoções
As emoções são o caminho para a autoconsciência.

Tomar contato com as emoções conduz a uma compreensão mais clara


do mundo objetivo e do comportamento do cliente. Isso inicia o processo
de desenvolvimento de maior autodomínio.
O contato acurado compreende qualificação correta do tipo e intensidade
da emoção: a raiva pode ir desde a leve irritação à fúria intensa; a
ansiedade pode estender-se do nervosismo ao terror.
As emoções são em grande parte experiências internas com
componentes fisiológicos, cognitivos e comportamentais.
Por exemplo, os sintomas fisiológicos da ansiedade podem abranger
gases estomacais, boca seca, palmas das mãos suadas e músculos
tensos; os cognitivos podem incluir pensamento confuso, consciência de
estar ansioso, e incapacidade para concentrar-se no trabalho; os sinais
comportamentais podem compreender fuga de situações ameaçadoras,
evitar o contato nos olhos e a gagueira.
Prestar intensa atenção pode ajudar o conselheiro a identificar o tipo e o
nível da emoção que o cliente está experimentando.
As respostas abaixo demonstram empatia avançada, que reflete as
emoções do cliente.
Cada afirmação identifica um sentimento que o conselheiro percebeu em
declarações anteriores e que vai um pouco além das palavras reais do
cliente.
_ “Você parece triste e irritado com a decisão de seus pais se
divorciarem.”
_ “Parece-me que você está se sentindo como que apanhado numa
armadilha .
_ “ Você trabalha com afinco no em prego, e seu patrão lhe disse que
aprecia seu trabalho.
Mas, parece-me, você tem dúvidas, ao invés de satisfação, em relação a
seu desempenho.”
Confusão e conflito
Todo cliente que busca voluntariamente a ajuda de um conselheiro está
vivenciando, em algum nível, confusão e conflito. Alguns conflitos são
fundamentalmente interiores (“Eu não sei qual é a minha posição sobre
aborto”).

Outros se relacionam ao próprio cliente e aos outros (“ Nosso


relacionamento parece ter-se deteriorado numa luta por poder. Sabemos
perturbar um ao outro emocionalmente” ).
Todos os conflitos têm componentes perceptuais, emocionais e
comportamentais e, basicamente, têm sua origem em alguma dimensão
da personalidade do cliente.
Como os exemplos a seguir indicam, a empatia avançada pode incitar o
trabalho de exploração e ajudar o cliente a passar da confusão para a
clareza.
No processo, o cliente aprenderá algo sobre características de sua
própria personalidade.
— “ Da forma como percebo, ter seu filho ou interromper a gravidez é a
questão que você está procurando responder.
Cada uma dessas alternativas apresenta alguma atração e alguns sérios
problemas.”
— Para um estagiário em aconselhamento:
“ Sinto que a luta que está travando é entre ajudar a cliente a fazer a
própria escolha, e achar que é moralmente mais correto encorajá-la a
não fazer um aborto. Parte de você percebe que é importante respeitar o
direito de a cliente fazer as próprias escolhas e parte sente que aborto é
moralmente errado. Ambas as posições morais são quase igualmente
fortes para você.”
— Para um a cliente adulta:
“ Parece-me que parte de você deseja continuar vivendo em casa para
cuidar de seus pais, e outra parte quer alugar um apartamento num lugar
distante, de modo que você possa afirmar sua independência.”
— Depois, com a mesma cliente: “ Ficar em sua casa resulta em sentir-
se presa e ressentida; o pensamento de partir origina sentimentos de
culpa.”
Pensamento sobre o futuro
Toffler (1972) observou que o pensamento das pessoas, quanto ao
futuro, inclui imagens sobre o desejável, cenas sobre o possível e
antecipação sobre o provável.
Numa era de mudança rápida e tempos econômicos difíceis, pensar
sobre o futuro pode ser confuso e assustador.
Durante crises e períodos de depressão pessoal, as perspectivas das
pessoas sobre o futuro tornam-se particularmente pessimistas e
desanimadoras.
Prestar atenção e reagir aos pensamentos quanto ao futuro pode levar a
superar ansiedade e depressão, e ajudar as pessoas a lutarem mais
efetivamente contra a tensão e as crises.
Seguem-se exemplos de respostas que ajudam a focalizar o que é
desejável, possível e provável.
— “ Você parece seguro de querer educação universitária, mas
necessita de algum esclarecimento sobre o que pretende da
experiência.”
— “ Do modo como entendo, seu conflito está entre permanecer no
emprego atual ou tentar uma nova oportunidade.”
— “ Você pode viver de modo satisfatório sem o seu marido, mas parece
que a parte mais difícil do divórcio é o que você deveria dizer a seus
parentes e amigos íntimos.”
Relações entre acontecimentos
Ajudar os clientes a desenvolver uma compreensão ou a esclarecer suas
próprias compreensões sobre as relações entre acontecimentos pode
auxiliá-los a descobrir modos de adquirir maior controle de si mesmos e
de seu meio.
O que, por sua vez, pode levar a menos confusão e a maior senso de
domínio pessoal.
Parte do importante trabalho de estabelecer conexões pode envolver
relacionar: experiências internas a ações exteriores, condições de
estímulo a comportamento pessoal, e este a resultados desejados e
reais.
A comunicação com alto grau de empatia pode iniciar uma exploração
em torno de um tema ou de uma combinação desses temas.
Seguem-se, abaixo, exemplos de respostas possíveis:
— “ Se percebo corretam ente, quando em seu íntimo você fica
assustado procura ocultar isso falando muito.”
— “ Do modo como entendo, você se sente gelar quando os em
pregados que supervisiona desafiam suas ideias. Isso, por sua vez, faz
você se sentir incompetente.”
— “ Quando você desafia seu marido, parece que ele fica defensivo e
irritado, o que a bloqueia para partilhar suas ideias.”

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