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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA- UNEB,

COMPONENTE CURRICULAR: LITERATURA E BAIANIDADE.


DOCENTE: Dr(a) Prof(a) ELIZABETH GONZADA DE LIMA
DISCENTES: BRUNA SILVA E GIZELE DOS SANTOS

Resenha de “A invenção do nordeste” e sua relação com os contos “Ladainha nas


pedras” e “Um anjo mau”

Em “A invenção do Nordeste”, Durval discute sobre algumas obras que descrevem e


nomeiam o Nordeste para identificar determinadas representações dessa região brasileira,
sejam produções literárias ou não. Artistas como Rachel de Queiroz, Luiz Gonzaga, José Lins
do Rego, Joaquim Injosa, José Lins do Rego, Zé Dantas, e alguns outros, são utilizados como
exemplo por Durval para mostrar a forma como cada um realizou suas obras com a intenção
de constituir e construir uma imagem do nordeste em relação às outras regiões do país, obras
essas que dizem narrá-la ou contá-la verdadeiramente, mas que constituem o seu passado
como realidade contínua e experienciada até o presente.

De acordo com a situação histórica, política e econômica do país após a falência da oligarquia
agrária em 1930, as elites se impuseram frente ao crescimento político e econômico do
Sudeste. Temas referentes ao saudosismo da cultura tradicional e o contraponto com a
modernidade foi marcando o cenário político e cultural brasileiro. Alguns argumentos dos
escritores intelectuais do país formaram uma geografia cristalizada e estereotipada do
nordeste e do nordestino, havendo um constante e profundo afastamento das regiões nordeste,
sul e centro-oeste, resgatando certa condição de atraso e subdesenvolvimento nordestino,
proferindo tristezas da seca e suas consequências. Embora as secas, assim como a
mestiçagem, continuem fazer parte de qualquer história da região, não são mais os fatores
sociais que a definem, que dão identidade, que estão na origem da região. São os fatos
históricos e, principalmente, os de ordem cultural que marcariam sua origem e
desenvolvimento com “consciência”. A história é movimento, e se ela não se movimenta, ela
se torna memória.
O que podemos encontrar em comum, portanto, entre todos os discursos, é a estratégia da
estereotipização. As produções que apresentam o nordeste como temática atuaram na
constante alimentação de imagens que são pertinentes até hoje, como tradutoras e
representantes do nordeste e de uma identidade de nordestino, seja ela física, linguística,
econômica, moral e social. Segundo Durval, o discurso tradicionalista faz da história o
processo de afirmação de uma identidade, da continuidade e da tradição, e toma o lugar e
sujeitos reveladores desta verdade eterna, e optar pela tradição, pela defesa de um passado em
crise, este discurso regionalista nordestino faz a opção pela miséria, pela paralisia, mantendo
parte dos privilégios dos grupos ligados ao latifúndio tradicional, à custa de um processo de
retardamento cada vez maior de seu espaço.

O conto “Um Anjo Mau”, de Adonias filho, constrói o estereótipo do “macho nordestino”
reiterando a imagem de um Nordeste rude, áspero e violento. Internalizando inteiramente as
características da terra, esse homem tornou-se hostil, árido e seco. A violência se tornou um
forte constituinte da sua subjetividade, construída diante de uma situação sociopolítica
específica. No conto, em específico, a história começa em torno de uma personagem chamada
Açucena que se amasia com tropeiro Lucas e tem um filho dele. Quando Lucas esteve
ausente, o capataz da fazenda onde Lucas trabalhava tenta se aproveitar de Açucena. O
capataz não teve sucesso e Lucas, para vingar a mulher, espanca violentamente o rapaz. Com
o apoio do patrão, o capataz vai atrás da família de Açucena e o caso acaba em tragédia.
Lucas e o filho são mortos e Açucena passa a morar sozinha. Depois de um tempo ela
conhece o andarilho Martinho Lutador, que desafia os outros para lutas para viver. Os dois se
tornam amantes e Açucena pede a ele que vá até a fazenda e se vingue dos homens que
destruíram a família dela. Percebemos que, a partir desse enredo, em um Nordeste seco e
pobre, o poder político era garantido pelo coronelismo e por uma guerra de valores que fazia
parte de uma tradição. Expostos a uma situação de exploração, os nordestinos identificaram-
se com o estereótipo do Nordeste árido, duro e de natureza agressiva, valorizando os atributos
que garantem a sobrevivência nessas circunstâncias, incluindo a coragem a bravura e
valentia.

O conto “Ladainha nas Pedras”, de Cyro Mattos, também reforça essa imagem
tradicionalista que pensa uma identidade regional feita de estereótipos e traz uma gama de
discursos que são produtos de um tempo e espaço singular e que, de certa forma, constrói,
num discurso institucional e legitimador, determinadas características para essa região. Ao
decorrer do conto, vemos uma imagem miserável se formando no enredo. As moradias são
construções empobrecidas que “estão escoradas com velhas estacas”, “a madeira das paredes
e fachadas encardidas com a sujeira acumulada pelo tempo”, “foram construídos na madeira
empretecida, o mais encardido com uma cobertura de zinco enferrujado”. Os personagens
estão sempre entregues à “labuta do dia-a-dia” para fugir, ou amenizar, a pobreza e a fome.
Os filhos, os vira-latas, a “cumade” doente estão destinados à dependência de algo/alguém e
se apegam sempre, seja na fé ou na raça, a esperança de um destino diferente.
A figura que se trás do nordestino é aquele vitimizado, sofrido, pobre, que vive na seca, calça
sandália de couro, que está sempre na miséria, passa um ar de tristeza, que se apega a uma fé
geradora da força, e diversos outros símbolos e estereótipos que são cristalizados.

Referências:

ADONIAS FILHO. Léguas da promissão. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes.


Recife: Massangana; São Paulo: Cortez, 1999.

MATTOS, Cyro de. “Ladainha nas pedras” de Disponível em:


http://www.jornaldepoesia.jor.br/cmattos9.html

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