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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB SEMESTRE: 2021-1

DEPARTAMENTO CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS I


CURSO:LETRAS VERNÁCULAS
COMPONENTE CURRICULAR: LITERATURA E BIOGRAFIA
CARGA HORÁRIA:60 h
PROFESSORES: Sayonara Amaral eKleber Martiniano Costa
ALUNAS: Bruna Silva e Janine Nunes

ATIVIDADE (Para entrega até 16/04)

TEXTO DE REFERÊNCIA: “ESCRITORES EM ENTREVISTA: CO-AUTORIA E


DISSEMINAÇÃO”(Daisi I. Vogel)

QUESTÕES

1. De acordo com o texto, o escritor, ao se apresentar em entrevistas, oferece uma


dramatização de si no teatro da linguagem, transformando-se, portanto, em uma
personagem. Comente este raciocínio.

A entrevista com o escritor definiu-se como um lugar de enunciação criativa e co-


autoral situada entre a literatura e a informação, com ação articuladora entre ambas as
partes. Pelas próprias características do escritor, que envolvem o seu trabalho poético
com a palavra e a sua autonomia para ordenar a realidade, a entrevista literária resulta
num texto marcado por qualidades estéticas e reflexivas. Nesse caso, o jornalismo se
coloca de maneira investigativa e participativa diante de um personagem tornado notícia
pelo seu fazer literário, criando uma situação peculiar de produção do texto: a entrevista
produz um novo texto do escritor, em parceria com o jornalista, e a literatura ingressa
num espaço em que possibilita a sua discussão, divulgação e mesmo produção. A figura
do escritor entrevistado é, desde o início, aquela que mais perturba, pois ele aí está
porque assinou seu livro, mas não é o seu livro que se mostra, e sim o escritor, em seu
papel constituído.
O escritor em entrevista é considerado um escrevente que tem função de dizer em
qualquer “ocasião e sem demora o que pensa” numa manifestação imediata que é
exatamente o contrário da do escritor. Para o escritor, escrever é um verbo intransitivo,
que se justifica e se cumpre no ato mesmo de escrever; para o escrevente, é transitivo,
na medida em que sua fala não é senão o meio para uma finalidade.
Enquanto escrevente aciona e articula o teatro da linguagem, movendo-se entre um
papel e outro à medida que joga com tais papéis, escrevendo uma trajetória de si, é
formado uma espécie de círculo em um lugar que não é literário por estatuto, pode
difundir o que, à revelia, é também da esfera da literatura.
2. Escolha uma entrevista de escritor(a) que você julgue interessante para
ilustrar/exemplificar um (01) dos tópicos desenvolvidos no texto “Escritores em
entrevista...” Selecione apenas 01 ou poucos trechos da entrevista.

Adélia Luzia Prado de Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 1935),


mais conhecida como Adélia Prado, é uma poetisa, professora, filósofa,
romancista e contista brasileira ligada ao Modernismo.Sua obra retrata o
cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo
aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único. Foi entrevistada por
Tulio Mourão e Renato Saldanha,no Sarau Globo News, no dia 28 de agosto de
2011.

Sarau: Queria que Adélia falasse,do amor,do encantamento,da coisa


aceita na poesia,e na sua poesia.
Adélia:Nossa,as perguntas pra ela são tão fáceis...(risos), as minhas tão
muito difícieis.(risos)
Adélia bota a mão no rosto e pensa por alguns instantes.
Adélia: Meu Deus, olha eu acho que...ah eu acho...que coisa né(risos).
Toda arte,poesia,música composição, ela é um produto elaborado dos
sentimentos humanos né, então aquilo que nos pega de maneira mais forte são as
paixões básicas, o amor, o ódio,a tristeza, a morte,o sofrimento, a alegria,então é
das emoções que a arte nasce...Ai eu tô falando isso parece que eu tô fazendo
prova....(leva a mão ao rosto mais uma vez,risos)
Sarau: Você falou do amor,do ódio e não falou do erótico.
Adélia: Ah o erótico,o erótico é a pulsão vital né,erotismo é aquilo que
está vivo né.Essa pulsão é que produz né,a libido no seu conjunto,das forças
psíquicas,das forças mais profundas nossas que a gente chama de maneira geral
Vida.[...]
Sarau:Quando a gente ouve falar do erótico,do desejo, do carnal,aí o
mineiro imediatamente se tranca e fala é pecado,é pecado.
Adélia: Como é que pode uma senhora mineira,uma pacata senhora
mineira,escrevendo poesias eróticas,misturadas com Deus,com isso e com
aquilo,porque todo mundo de maneira geral fazemos uma distinção muito
grande: aqui é santo e aqui é profano,aqui sim,aqui não,então a “pacata senhora
mineira” descobre,que já tive uma educação repressora,como acho que todos
aqui,eles jovens não,mas eu sim tive um educação religiosa aonde era premiado
tudo que era uma repressão,uma supressão do desejo carnal,do desejo
erótico[...]no meu caso pessoal eu descubro isso através da poesia,sou religiosa
com educação medieval,[...]e através da religião, que de certa forma me
pressionou, eu descubro a beleza,Deus é difícil,mas é bonito demais!

Nessa entrevista, podemos observar bem o que Daisi I. Vogel diz sobre
como o jornalismo se coloca de maneira exploratória e participativa diante de
um personagem tornado notícia pelo seu fazer literário. Criando, desse modo,
uma situação peculiar de produção do texto: a entrevista produz um novo texto
do escritor, em co-autoria com o jornalista, enquanto a literatura ingressa num
espaço de discussão, divulgação e mesmo produção.Adélia, uma poetisa
mineira, criada de forma extremamente religiosa,decobriu na poesia como ela
mesmo disse, um forma de expressar o erotismo que segundo ela, está inclusive
nas sagradas escrituras, “A figura do escritor entrevistado é, desde o início,
aquela que mais perturba, pois ele aí está porque assinou seu livro, mas não é o
seu livro que se mostra, e sim o escritor, em seu papel constituído. Barthes
prefere chamar de escreventes. Acreditamos,que nessa entrevista, Adélia
precisou passar da função de escritora para escrevente,dando sua opinião e
contribuição para comunicação social, função de dizer em qualquer “ocasião e
sem demora o que pensa”. Enquanto escrevente acionou e articulou o teatro da
linguagem, “movendo-se entre um papel e outro à medida que joga com tais
papéis, escrevendo uma trajetória de si”.

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