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Aula teórica 2
Ordenação dos números reais. Os axiomas de ordem. O módulo ou valor absoluto. Inequações.
Material de estudo:
[AB] A. Bastos e A. Bravo, Cálculo Diferencial e Integral I. Texto de apoio às aulas, 2010., Cálculo Diferencial e Integral I. Texto de apoio às aulas,.
[CF] J. Campos Ferreira. Introdução à Análise Matemática, Fundação Gulbenkian, 8a ed., 2005.
Na aula anterior foram apresentados os axiomas de corpo que são os que estabelecem as propriedades algébricas dos números reais (relativas às operações definidas em R). Nesta aula será
introduzida a ordenação dos números reais a qual fica caracterizada por dois axiomas, denominados por axiomas de ordem. Referiremos em seguida certas consequências que serão
importantes do ponto de vista prático para a resolução de inequações.
Começemos por notar que, dados dois reais x e y, dizer que y é maior que x, é o mesmo que dizer que y está "à direita" de x na recta real. Ou seja, estamos a dividir a recta real em três
subconjuntos: o constituido pelo próprio x, a semi-recta à esquerda de x e a semi-recta à direita de x. Dizer que y é menor que x, ou que é igual a x ou que é maior que x corresponde a
dizer que y pertence a um daqueles conjuntos por essa ordem. É nesta perspectiva que introduzimos a relação de ordem em R.
Axiomas de ordem: Existe um subconjunto de R, designado por R , dito dos números positivos, tal que +
+ + +
x, y ∈ R ⟹ x + y ∈ R ∧ xy ∈ R ;
2. É verdadeira a propriedade da Tricotomia, isto é, qualquer x ∈ R verifica uma, e uma só, das condições seguintes:
+ +
x ∈ R ou x = 0 ou − x ∈ R .
Definição: Dados x, y ∈ R escreve-se y > x (y "é maior que x"), ou, equivalentemente, x < y (x "é menor que y"), se e só
+
y − x ∈ R
A propriedade da tricotomia diz então que, dados dois reais arbitrários x, y ocorre um e apenas um dos seguintes casos:
x > y ou x = y ou x < y.
Em particular, isto diz que todos os elementos de R são comparáveis o que concede a este conjunto a estrutura de uma recta orientada ("de menor para maior").
A justificação (demonstração) sai imediatamente da definição da relação de ordem e dos axiomas de ordem. De facto, se x < y e y < z , ou seja, +
y − x ∈ R e +
z − y ∈ R , usando o
primeiro axioma sabemos que
+
(z − y) + (y − x) = z − x ∈ R ,
e, portanto, x < z.
Exemplo. Como sabemos que 3 < 5, temos que x < 3 ⇒ x < 5. Obviamente que se trata de uma implicação e não de uma equivalência.
Enumeremos um conjunto de consequências importantes dos axiomas de ordem (e, portanto, são teoremas) que são já vossas conhecidas e que são fundamentais na resolução de
inequações:
1. x > y ⇔ −x < −y
2. Regras de sinais:
xy > 0 ⇔ (x > 0 ∧ y > 0) ∨ (x < y ∧ y < 0)
3. Leis do corte:
x + c > y + c ⇔ x > y
Da observação anterior podemos concluir que as regras de sinais 2. são válidas se substituirmos produtos por quocientes. Por exemplo,
x
> 0 ⇔ (x > 0 ∨ y > 0) ∨ (x < 0 ∨ y < 0).
y
x ⩾ y ⇔ x > y ∨ x = y.
É fácil obter para estas relações de ordem as propriedades correspondentes às consideradas anteriormente para < e >.
Intervalos
São subconjuntos muito especiais de R e desempenharão um papel importante ao longo de toda a disciplina. Podem ser definidos a partir do momento em que temos definida a relação de
ordem em R. Para quaisquer reais a, b definimos:
Repare que se a > b todos estes intervalos se reduzem ao conjunto vazio. Se a = b temos [a, a] = {a} enquanto que todos os outros intervalos se reduzem ao conjunto vazio.
Os intervalos anteriores dizem-se intervalos limitados. Definem-se também os seguintes intervalos não limitados:
]a, +∞[ = {x ∈ R : x > a}, [a, +∞[ = {x ∈ R : x ⩾ a}
Atenção: uma união de intervalos em geral não é um intervalo. Exemplos: [0, 1] ∪ [1, 2], {0} ∪ [1, 2]. No entanto, a intersecção de dois intervalos é sempre um intervalo (podendo
eventualmente ser vazio).
Aplicação a inequações
Resolver uma inequação significa obter o seu conjunto solução através de uma cadeia de equivalências onde se usam as propriedades vistas atrás. Tomemos, por exemplo, a inequação
1
< 1.
x
Usando sucessivamente a regra do corte, propriedades algébricas e regra de sinais, podemos escrever
1 1 1 − x
< 1 ⇔ − 1 < 0 ⇔ < 0 ⇔ (1 − x > 0 ∧ x < 0) ∨ (1 − x < 0 ∧ x > 0).
x x x
Uma forma de facilitar estes cálculos será aplicar em alternativa a vossa bem conhecida "tabela de sinais".
Veja os seguintes exemplos como exercícios (de revisão):
1. 2
x (1 − x) ⩽ 0 ⇔ x ∈ {0} ∪ [1, +∞[.
2
x
2. ⩽ 0 ⇔ x ∈ {0} ∪ ]1, +∞[
1 − x
2
x
3. < x ⇔ x ∈ ]0, 2[.
x − 2
x, x ⩾ 0
|x| = {
−x, x < 0.
Geometricamente, |x| representa a distância de x a 0. De facto, para quaisquer x, y ∈ R, |x − y| representa a distância entre os pontos x e y.
1. |x| ⩾ 0, |x| = 0 ⇔ x = 0 ;
2. |−x| = |x| ;
x |x|
3. |xy| = |x||y|, = ;
y |y|
4. |x|
2 2
= |x | = x ;
2
Por vezes, para resolver inequações com módulos, é útil pensar no módulo como distância. Dois exemplos:
|x| < 5 significa que "a distância de x a 0 é menor que 5." Obviamente estamos a dizer que x ∈ ]−5, 5[.
|x − 2| > |x − 5| significa que "x está uma distância maior de 2 do que está de 5." Facilmente se vê que isto é o mesmo dizer que x está à direita do ponto médio entre 2 e 5, isto é
7
x ∈ ] , +∞[.
2
No entanto, no caso geral, pode não ser tão simples recorrer a argumentos simples deste tipo e é conveniente termos algumas regras gerais puranente analíticas a que recorrer. Duas são
particularmente úteis:
Para qualquer a ∈ R,
|u| < a ⇔ u > −a ∧ u < a (que também se escreve −a < u < a).
⇔ −a < u < a
⇔ u > a ∨ u < −a
Exemplo: Resolver |x 2
− 2x| < x . Usemos a primeira das duas propriedades anteriores:
2 2 2
|x − 2x| < x ⇔ x − 2x < x ∧ x − 2x > −x.
Como,
2 2
x − 2x < x ⇔ x − 3x < 0 ⇔ x(x − 3) < 0 ⇔ x ∈ ]0, 3[
e,
2 2
x − 2x > −x ⇔ x − x > 0 ⇔ x(x − 1) > 0 ⇔ x ∈ ]−∞, 0[ ∪ ]1, +∞[,
Exemplos: resolver em R :
1. |x − 1| <
1
2
⇔ −
1
2
< x − 1 <
1
2
⇔
1
2
< x <
3
2
.
3. |x − 2| < |x + 1| ⇔ x >
1
2
.
2
x − 4
4. ⩽ 0 ⇔ −2 ⩽ x ⩽ 2 ∧ x ≠ −1 ⇔ x ∈ [−2, −1[∪] − 1, 2]
|x + 1|
|x − 1| − 1
5. ⩾ 0 ⇔ x ∈ ]−∞, −1[ ∪ [0, 1[ ∪ [2, +∞[.
|x| − 1