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CAPÍTULO 1 – INTEGRIDADE DE CORAÇÃO

● Quais são os critérios com os quais Jesus julga a nossa vida?

Frequentemente julgamos a vida alheia mais a partir de valores externos,


contábeis e visíveis do que pelo que se passa no coração (I Samuel 16.7 – “Porém o
SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura,
porque o rejeitei; porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o
exterior, porém o SENHOR, o coração”).

“Possuímos uma tendência natural para nos escondermos. Somos, por isso, seres
fabricantes de máscaras (...) para o engano do próximo e manipulação social. Creio que
as máscaras que somos tentados a construir possuem, em um primeiro momento, a
intenção de apresentar uma imagem que julgamos ideal para os de longe.”. (p.11)

“Comumente, essa imagem não representa a verdade do nosso ser, mas uma
ideia utilitária que tentamos vender. Se obtemos sucesso na construção de máscaras que
passem essa imagem aos de longe, somos tentados a construir outras mais elaboradas,
refinadas, que possam enganar também os de perto. É por isso que podemos nos
surpreender com alguém bem perto de nós, de nosso círculo de amizade e
relacionamento, que repentinamente se desvenda como portador de valores e práticas
antagônicas à imagem que dele tínhamos. É que não o conhecíamos. Olhávamos para
ele, mas o que enxergávamos era sua máscara.” (p.11-12)

“Como seres fabricantes de máscaras, [chegamos ao ponto de] construir


máscaras que enganem não apenas o outro, mas também a nós. Chamo a essas máscaras
de máscaras do autoengano.” (p.12)

“O autoengano não é apenas possível, mas, infelizmente, habitual. Pode levar


homens e mulheres a jamais confrontarem suas mazelas e pecados, levando-os a
viverem como se tudo estivesse bem.” (p.12)

“O elemento principal com o qual Jesus nos avalia é bem menos visível, menos
contábil e certamente menos observado por aqueles que nos cercam, pois ele nos vê no
íntimo, sem máscaras, manipulações ou enganos. A Palavra usa expressões como
coração puro (Sl 51.10), de todo o teu coração (Mt 22.37)”, integridade do coração (Sl
78.72) e santidade ao Senhor (Êx 28.36) para nos fazer entender que somos avaliados
por Cristo pelas coisas do coração, e não pela nossa roupagem”. (p.13)
“Entenda claramente que Jesus conhece o secreto da sua vida (...) O Carpinteiro
olha direto para o seu coração e vasculha a sua alma. E é justamente nesse campo que
você será encontrado fiel, ou não.” (p.13)

“Integridade é um termo que está ligado à inteireza. Vem do latim integritas, que
se aplica à retidão, à santidade e a um espírito irrepreensível.” (p.13)

“É fato que não podemos purificar nosso próprio coração. Dentre tantas
verdades marcantes do cristianismo, uma delas é esta: nós dependemos de Deus. E
dependemos dele para crer, para segui-lo e para nos parecermos mais e mais com o
Filho. Assim, creio que o objetivo de Cristo é tão-somente levar-nos a orar como o
salmista: ‘Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito
inabalável’ (Sl51.10).” (p.13-14)

“William Hersey Davis, tentando fazer-nos diferenciar entre a ilusão do palco e


a realidade da vida, compara caráter e reputação, quando diz:

As circunstâncias nas quais você vive determinam sua reputação.


A verdade na qual você crê determina o seu caráter.
Reputação é o que pensam a seu respeito.
Caráter é quem você é.
Reputação é a sua fotografia.
Caráter é a sua face.
A reputação fará de você rico ou pobre.
O caráter fará de você feliz ou infeliz.
Reputação é o que os homens dizem a seu respeito no dia do seu funeral.
Caráter é o que os anjos falam de você perante o trono de Deus.” (p.14)

“O caráter ... é a verdade a nosso respeito, quem de fato somos e como o Senhor
nos vê. Esse é o bem precioso que não devemos negociar.” (p.14)

“(...) a integridade, bem como outras virtudes cristãs, precisa ser construída.”
(p.15)

A integridade vai além da sinceridade

“Gostaria que você entendesse que a integridade vai além da mera sinceridade.
A sinceridade é um comportamento da alma expresso através do reconhecimento da
verdade. A palavra sincero vem do latim sincerus, possivelmente da época em que
ídolos eram esculpidos em madeira e vendidos no mercado. Algumas peças, para
disfarçar as falhas da madeira, recebiam um acabamento com cera que as tornava
imperceptíveis à primeira vista. Todos sabiam que os ídolos esculpidos de forma
perfeita em madeira pura eram ‘sem cera’, ou sincerus.” (p.15)

“Em se tratando da alma humana, sabemos que a sinceridade, por si, não nos
leva a uma vida íntegra, e sim ao reconhecimento da verdade. E reconhecer a verdade,
porém não segui-la, nos conduz tão-somente à autoconsciência de nossa presente
situação.” (p.15)

“Integridade, portanto, não é apenas convicção. É atitude transformadora e


validadora. Leva-nos a uma profunda inquietação que produz transformações internas e
externas. Faz-nos desejar viver de acordo com a nossa fé, nossos valores, nossos
sermões e escritos, nossos ensinos em sala de aula; de acordo coma Bíblia que lemos e o
Deus no qual cremos (...) Faz-nos desejar apaixonadamente uma vida autêntica, perante
Cristo, mesmo quando ninguém está olhando.” (p.16)

“Há em nossa vida, normalmente, conhecimento do caminho, das limitações e da


verdade. E existe uma grande diferença entre o conhecimento e a obediência.” (p.16)

“A grande diferença entre sinceridade e integridade é a obediência. Enquanto a


primeira reconhece suas falhas e erros, a segunda se contorce incomodada por conserto
e transformação. A integridade vai além da sinceridade.” (p.17)

A integridade deve perdurar na inconstância

“Um dos elementos desse processo de superficialidade que luta contra a


integridade em nossa vida é a inconstância humana. Sabemos que o universo no qual
habitamos é marcado pela inconstância derivada da imperfeição. Consequentemente, é
também inconstante nosso coração (...) Somos naturalmente inconstantes.” (p.17)

“Como podemos buscar um coração íntegro se o mundo no qual habitamos, a


sociedade e nossa própria alma estão sujeitos aos abalos sísmicos de um Universo
imperfeito e incerto?” (p.17)

“Em primeiro lugar, precisamos crer realmente que Deus está no controle de
toda e qualquer situação em nossa história pessoal. Que ele detém o direito autoral de
cada capítulo da nossa vida. Que nada, inclusive os momentos mais conflitantes,
produzidos pela imperfeição universal nascida lá no Éden, fogem ao absoluto controle
de Deus. Ele permanece Senhor mesmo quando se cala. E Jesus é a maior demonstração
de como o Pai deseja interagir conosco; não nos tirando do mundo, mas nos livrando do
mal. E nessa dialética existencial, Deus transforma o mal em bem, usa a própria
inconstância humana caída como instrumento de aproximação com o Pai, de conversão,
de quebrantamento e salvação”. (p.17)

“Tenho notado que os maiores erros não resultam de ações, mas de reações. E,
basicamente, em três circunstâncias: diante do pecado, do sofrimento ou das críticas.
Esses três vetores provocam reações que tendem a colocar em xeque a nossa
integridade.” (p.18)

“Há, portanto, duas verdades que servem como âncora para buscarmos um
coração íntegro, mesmo perante a inconstância da vida: a certeza de que o Senhor está
no controle do Universo incerto no qual vivemos e a convicção de que ele nos ama.”
(p.18)

“(...) Em geral, somos treinados para agir bem, mas não para reagir bem. As
reações são mais difíceis que as ações, pois, especialmente na liderança, as ações são
planejadas e seguem um padrão projetado. Um líder, porém, é medido por suas reações.
Se as ações demonstram planejamento, as reações demonstram valores.” (p.19)

“A longanimidade se torna necessária em momentos pontuais e críticos.


Longanimidade, no original grego, significa fôlego profundo, e a ideia é de um atleta
que corre com todas as suas forças durante quilômetros e, quando exausto, ainda respira
profundamente para vencer a última parte da corrida. Precisamos de espírito longânimo
em meio às tempestades. Elas passam.” (p.19)

“Perante um problema, seja circunstancial ou relacional, no qual tenhamos ou


não falta, a melhor reação é a reação lenta. Penso em duas exceções: quando há risco
imediato ou quando o vendaval gera em nós quebrantamento. No primeiro caso, é
necessário reagir rapidamente para conter um possível dano, e não há tempo para um
dimensionamento tranquilo. No segundo caso, o Espírito, nos confronta com o pecado e
não há tempo a perder para cair de joelhos dizendo: ‘Pequei contra ti’. Porém, de forma
geral, toda reação lenta tende a ser a melhor opção.” (p.19,20)
A integridade é vista nos detalhes

“Se quisermos conhecer a integridade de um homem, devemos observar os


detalhes. Temos de conhecê-lo na informalidade do lar, no trato com amigos chegados,
na conversa ao telefone. O conceito bíblico de sermos fiéis no pouco para sermos
colocados no muito pressupõe grau de dificuldade e detalhamento. O pouco nos prova
como também nos expõe. É, portanto, no pouco, nos detalhes da vida, que podemos
diagnosticar em nós ou em outros o grau de integridade.” (p.20)

“(…) Se desejamos trabalhar em nosso caráter e fomentar integridade de


coração, comecemos pelas coisas pequeninas, pelos detalhes de cada dia. Da mesma
maneira, se desejamos nos avaliar perante Deus, observemos em nossa vida os
detalhes.” (p.20,21)

“(…) Uma das maravilhas de Deus é que ele nos fez com um espírito
‘ensinável’. Precisamos usar essa oportunidade para construirmos uma vida mais
parecida com a de Cristo, e isso acontecerá a partir das pequenas coisas.” (p.21)

A integridade deve se traduzir em atitudes

“Um dos maiores desafios que enfrentamos, desde os nossos primeiros pais, é a
tradução de nossos valores espirituais e morais para atitudes espirituais e morais.
Permita-me listar aqui, dentre tantas atitudes que buscam a construção de um caráter
íntegro, algumas que considero de extrema colaboração nesse sentido.” (p.21)

Calar-se

Estamos esquecendo do valor do silêncio.

“A integridade é testada na adversidade, e uma das atitudes mais comuns perante


a adversidade relacional é o confronto. Em especial nos contextos ministeriais em que
as críticas nos bastidores ganham a nossa atenção e somos levados a reagir de forma
desproporcional, desnecessária ou mesmo inapropriada. Frequentemente falamos
quando deveríamos nos calar.” (p.22)
“Certamente há momentos de falar, fazer-se ouvir. Mas reconheço que os
homens de Deus que tenho conhecido buscam mais o silêncio do que o confronto verbal
perante as adversidades, e fazem a obra de Deus. Um dos grandes investimentos que
podemos fazer em relação ao outro é justamente ouvi-lo.” (p.22)

“Há, porém, uma forte diferença entre escutar e ouvir. Em inglês, duas palavras
distintas são bem utilizadas. Escutar (to hear) refere-se ao ato físico, funcional do
aparelho auditivo, enquanto ouvir (to listen) diz respeito a um ato mental que nos faz
pensar a partir de algo. Mitas vezes nos acostumamos apenas a escutar sem que aquilo
tenha qualquer chance de nos fazer ponderar, pensar um pouco mais sobre o assunto,
imaginar o outro lado de uma situação. Pessoas que apenas escutam são facilmente
identificadas. Suas respostas são prontas e repetitivas.” (p.22)

“(…) A arte de ouvir de fato deve ser perseguida exaustivamente, pois será de
grande investimento na construção de uma vida íntegra e, sobretudo, de uma liderança
íntegra.” (p.23)

Não negociar a verdade

“Provérbios 12.19 nos diz que ‘Os lábios que dizem a verdade permanecem
para sempre, mas a língua mentirosa dura apenas um instante’ (NVI). Há certos
valores que precisam estar sempre presentes em nossa vida, relacionamentos e
processos de liderança. Um deles é não negociar a verdade. Isso inclui, de forma
especial, a manipulação da verdade. Refiro-me ao evitamento ou maquiagem da verdade
para se contornar um problema ou se beneficiar de um resultado.” (p.23)

“Quando a Palavra nos ensina que a posição do crente, o seu falar, deve ser ‘sim,
sim; não, não’ (Mt 5.37), o que se advoga não é uma atitude de extremos: ou sim ou
não. O assunto aqui é a verdade: dizer sim quando for sim, e não quando for não. No
cenário do genuíno cristianismo, a verdade não pode ser negociada, e ela é um dos
grandes blocos que constroem uma vida íntegra.” (p.23)

“Ao falar sobre a verdade de forma mais objetiva (o que é verdadeiro), posso
dar-lhe a entender, erroneamente, que esta é a única forma de verdade que importa. Há
uma verdade subjetiva, ou seja, os motivos que nos levam a agir e reagir. Os motivos
que nos levam a fazer algo ou deixar de fazer; a falar ou calar. Tais verdades
motivacionais precisam ser observadas de perto, pois elas representam o atual estado de
nosso coração. Muitos líderes podem desenvolver realizações corretas por motivações
erradas.” (p.24)

“O comentário da Bíblia Shedd fala a respeito de Jó, que foi chamado de íntegro
em Jó 1.1. Comenta-se ali: ‘Homem íntegro. Literalmente: completo, que não significa
sem pecado, mas um homem de honradez, reto, com o temor de Deus em seu coração’.
Interessante o destaque para o temor e a sua ligação com a integridade. De fato, ‘o
temor do Senhor é o princípio da sabedoria’, conforme Salomão escreveu em
Provérbios 1.7. A busca pela verdade motivacional que nos leva à integridade de vida
passa pelo temor do Senhor.” (p.24)

“A integridade, que não negocia a verdade, seja objetiva ou subjetiva, alimenta


um caráter mais parecido com o de Cristo.” (p.25)

Assumir a responsabilidade

“Uma vida íntegra leva em consideração a possibilidade da falha, do pecado e da


queda. Ou seja, precisamos assumir a responsabilidade perante nossas atitudes a fim de
mantermos a integridade espiritual e moral. E essa é uma das lições mais difíceis de
serem aprendidas. No caso de uma queda, o caminho aparentemente mais curto – a
negação do pecado e sua responsabilidade sobre ele – não é de fato curto, pois não nos
leva aonde Deus nos quer.” (p.25)

“Precisamos assumir a responsabilidade por aquilo que de fato somos


responsáveis, seja algum detalhe ou um grande ato. No caso de uma queda moral, não
raramente se vê, na vida daquele que caiu, um sentimento de indignação com a igreja,
que o ignora e não colabora para sua recuperação. Certamente essa é uma grande falha
da igreja em nossos dias, e também na história. Porém, eu gostaria, neste momento, de
tratar sobre os sentimentos e atitudes daquele que caiu. O caminho de Deus para a
restauração passa pelo quebrantamento. É normalmente um caminho que se tenta evitar,
pois é um caminho de humilhação.” (p.25)

“Não há restauração sem que se reconheça e assuma a responsabilidade pelo


erro.” (p.26)
“Leon Tolstoi sabia que ‘todos pensam em mudar a humanidade, mas ninguém
pensa em mudar a si mesmo’, atestando que é sempre mais fácil falar sobre os
problemas universais do que sobre o pecado do coração.” (p.26,27)

“Nenhum de nós está isento da possibilidade do erro. Uma das admiráveis


atitudes de Davi foi justamente assumir integralmente a sua responsabilidade quando
Natan lhe disse, após falar sobre alguém que roubara a única ovelhinha do vizinho: ‘Tu
és o homem’ (2Sm 12.1-7). Davi não deu desculpas. Não racionalizou dizendo: Outros
fizeram pior do que eu. Nem mesmo tentou explicar suas motivações. Caiu de joelhos e
colocou-se nas mãos de Deus. O coração de Davi dizia: ‘Sou responsável’. E ele se
tornou o homem segundo o coração de Deus.” (p.27)

Aprender com os erros

“Precisamos compreender que integridade não é uma atitude medida pela


ausência de erros, mas pela decisão de não repeti-los. Quando assumimos
responsabilidades, o fazemos também em relação aos nossos erros. Precisamos entender
que integridade é um hábito que se ganha na rotina diária, quando procuramos agir de
forma pura e justa. E mesmo quando isso não acontece, devemos aprender com nossos
erros.” (p.27)

“Pensando em líderes, devemos compreender o que muito bem foi colocado por
Kevin Cashman, ao expor que a habilidade que temos de crescer como líderes é limitada
pela habilidade de crescermos como pessoas. Não devemos jamais distinguir nossa
função de liderança (mesmo porque é passageira) de nossa identidade pessoal. Um
grande engano em época de empreendedorismo é um auto investimento no perfil de
liderança. Não que isso não seja efetivo, porém é passageiro. Investir tempo, forças e
energia para se qualificar como um bom líder pode lhe privar de investir tempo, forças e
energia para crescer como pessoa e como cristão. Como líder, posso dar-me ao luxo de
seguir em frente, mesmo tendo cometido erros. Porém, como pessoa e como cristão,
devo fazer com que meus erros se tornem minha melhor oportunidade de conserto e
crescimento.” (p.28)
“Muito se fala sobre aprender com os próprios erros, porém pouco se vê
acontecendo nesse sentido. Um dos principais motivos para a tendência de sermos
recorrentes nos mesmos erros é a falta de entendimento sobre eles.” (p.28)

“Não raramente nos pegamos pensando em pessoas com problemas mais graves
apenas para nos escondermos da óbvia necessidade de sermos confrontados e de
crescermos. Inúmeros erros não advêm de queda espiritual ou moral objetiva, mas tão
somente da ausência de crescimento. Muitos não tiveram a oportunidade de amadurecer
e carregam as mesmas manias e birras de quando eram crianças. E isso gera grandes
perdas, tanto pessoais como para os que estão ao redor.” (p.28)

“A crítica compulsiva é um agente do diabo para a destruição da vida alheia; um


desencorajamento que pode marcar uma pessoa pelo resto da vida, além de um
mecanismo que faz o coração do crítico adoecer com a amargura. Não conheço pessoas
críticas felizes.” (p.29)

“C. S. Lewis nos ensina que, ‘quando um homem se torna melhor, compreende
cada vez mais claramente o mal que ainda existe em si. Quando um homem se torna
pior, percebe cada vez menos a sua própria maldade’. Para aprendermos com nossos
erros, é necessário levá-los a sério, conversar com o Pai sobre eles, pedir forças para
mudarmos e amadurecermos, crescer um pouco mais.” (p.29)

Cuidar do próprio coração

“O Senhor sonda nosso coração. Portanto é nossa imagem interna, e não a


externa, que precisa de maior cuidado. Em dias de ufanismo e triunfalismo, somos
levados a procurar sempre o que nos destaca, ou destaca o nosso trabalho. Esse é um
grave engano, visto que o Senhor não sonda nossos relatórios, mas o nosso coração. O
Dr. Augustus Nicodemus, exímio expositor da Palavra, afirma que Deus não nos chama
para termos sucesso sempre, mas para sermos fiéis.” (p.29-30)

“(…) é importante termos uma visão correta a nosso próprio respeito. Quem
afinal somos nós? Quem define a nossa identidade? A verdade é que muitas vezes não
somos quem as pessoas pensam que somos, pois mesmo os amigos mais chegados nos
conhecem apenas a partir dos sinais externos. Nossas emoções, os medos secretos, as
esperanças pessoais, os paradigmas da alma, estes formam um cenário totalmente
desconhecido por aqueles que se colocam ao nosso lado.” (p.30)

“Mas também não somos quem nós pensamos que somos. Isso porque o nosso
poder de autocompreensão é por demais limitado. Somos enganados pela falsa
sinalização dos sentidos, pelas nossas próprias tendências subconscientes, além da óbvia
falta de capacidade de um completo autoconhecimento. Aristóteles, filósofo grego e
aluno de Platão, já afirmava que ‘somos seres desconhecidos. Especialmente eu’.”
(p.30)

“É, portanto, necessário aceitar que somos quem o Senhor diz que somos. A
verdade a nosso respeito não está guardada em um arquivo na casa do amigo nem
mesmo em nossa própria posse. Está no julgamento de Deus. Ele nos ‘sonda e nos
conhece’ (Sl 139.1) e julga-nos com exatidão, pesa a nossa alma e categoriza todos os
nossos sentimentos mais profundos. Você é quem Deus diz que você é.” (p.30,31)

Priorize o crescimento do seu caráter.

CAPÍTULO 5 – INTEGRIDADE NA LIDERANÇA

A necessidade de liderar com coração íntegro


“Muitas vezes nos impressionamos com homens e ministérios que não impressionam a
Deus” Dr. Russell Shedd

“O principal elemento a ser julgado [na nossa liderança] é a fidelidade do


coração.” (p.77)

Obs.: Se a genuína liderança é a influência naquilo que se sabe e em áreas que já se


experimentou, por outro lado, a liderança que agrada a Deus não é manipulação das
massas através de máscaras e imagens bem produzidas.

Há “(…) ministérios que não impressionam a Deus. E não o impressionam, por


assim dizer, porque não trazem mais do que palavras ao vento, o conteúdo proferido
contraria o testemunho diário. Há mais conhecimento e habilidade para o trabalho do
que seriedade e compromisso com Cristo.” (p.78)
Integridade na visão

“Não há nada tão perigoso, na liderança, como perder o rumo de Deus para sua
vida e seu trabalho; perder a visão do Alto.” (p.78)

“Penso que o perfil de um líder segundo a Palavra é profundamente distinto de


um líder dos sonhos do mercado.” (p.78) Quais são os valores do mercado? Produção,
qualidade e lucro. Valores como o perdão e o investimento naquele ou naquilo que está
fraco e não está dando retorno, não fazem parte dos valores do mercado. O líder no
Reino de Deus segue os valores do Evangelho.

Qual o principal elemento que define o teu trabalho e ministério? “Devemos


viver e trabalhar tão somente para saciar a expectativa de Deus para conosco.” (p.79)

“Precisamos aprender a parar para ouvir a Deus; buscá-lo e rever nossos


caminhos, nossas direções e escolhas (…) Mais importante que a pressa é estarmos
convictos de que andamos na visão de Deus.” (p.79)

“O ponto crucial em nosso trabalho como líderes é perseguir a visão do Alto e,


se nos aquietarmos e buscarmos o Senhor, ele a colocará em nosso coração de forma
clara e certa.” (p.80)

“(…) Padecemos mais pela ausência de visão do que pela ausência de recursos.”
(p.80)

Hoje vive-se uma conjuntura que pode levar o líder “… a andar de acordo com a
maré social e perdermos a visão. Líderes que não lutam mais pelo que creem, e creem
bem menos do que antes. Líderes que se moldam à tendência do momento e corrompem
a sua visão de ministério. Que trocam a vocação pelo status; o ministério de Deus por
uma posição em que recebem benefícios e reconhecimento; o caminho do Senhor por
um lugar seguro ou mais desenvolvido.” (p.80,81)

Integridade na influência

“Liderar é influenciar pessoas (…) ao seu redor.” (p.81,82)

“Francis Schaeffer previa um tempo em que a aparência moral seria mais


importante que os valores morais. Vivemos essa época hoje e podemos percebê-la
nitidamente pelo rápido desenvolvimento do hedonismo em nosso meio. O homem
nascido sob o signo do hedonismo busca insaciavelmente a própria felicidade.” (p.82)

“Há uma clara diferença entre liderança e gerenciamento. O líder possui uma
visão definida e influencia pessoas a seguirem em tal caminho. O gerente organiza as
funções e atividades. Quando lideramos, precisamos ser líderes como também gerentes.
Uma liderança sem gerência promoverá sonhos ilusórios que, por falta de competência,
jamais serão atingidos. Uma gerência sem liderança criará uma máquina de trabalho
sem rumo, que anda muito bem, mas não se sabe para onde.” (p.83)

“Na liderança, não precisamos ter os atributos necessários para influenciar e


gerenciar. Podemos nos cercar de pessoas que tenham tais dons. O importante, porém, é
desenvolvermos uma postura íntegra ao gerenciarmos pessoas, ajudando-as a saírem de
sua zona de conforto, sem, contudo, lançá-las além de suas limitações. Tenho para mim
que essa não é uma tarefa fácil, pois um prejulgamento equivocado a respeito de alguém
será o suficiente para errarmos no gerenciamento. E conhecer as pessoas implica tempo
de convivência.” (p.83)

“Assim, ao influenciarmos, precisamos fazê-lo de forma íntegra. Isso significa


que, se você está cercado por pessoas com um chamado de Deus, sua missão é fazê-las
crescer e amadurecer a fim de que cumpram o chamado do Senhor. Não devemos usar
os que estão ao nosso redor para servir-nos. Devemos, entretanto, sermos usados para
que cresçam e sejam e cumpram o que o Altíssimo tem para a vida delas. Integridade na
influência é um conceito definido pela direção. Em que direção influenciamos aqueles
que nos cercam? Há três possibilidades mais claras: para que nos sirvam, para que
sirvam a instituição ou para que sirvam a Deus. Precisamos cuidar para que os
influenciemos de tal forma que desejem servir a Deus, e tão somente a Deus.” (p.83)

Integridade na vida diária

“Saber disciplinar nossa vida diária e direcioná-la para Deus e perante Deus é o
caminho da sabedoria. Para tal, proponho falarmos de algumas atitudes que passam pelo
desenvolvimento da simplicidade, fortalecimento dos relacionamentos pessoais e
tratamento da ansiedade.” (p.83,84)
Simplicidade na vida diária

“A simplicidade é uma virtude provida por Deus, pois somos naturalmente


tendentes à complexidade, a demandas e ao desequilíbrio.” (p.85)

“A cobiça o leva a desejar ter, ser e estar onde não poderia e não deveria. E a
cobiça mata a simplicidade da vida tanto em um monastério distante quanto em uma
grande cidade capitalista. O que deve ser domado é o coração.” (p.85)

“A perda da simplicidade é consequência de um coração alimentado pela cobiça


que nos leva a crer e viver em mentiras. Algumas delas são mais frequentes, e gostaria
de mencioná-las. A primeira é a que diz que precisamos do reconhecimento de todos
para sermos felizes (…) A segunda mentira é que precisamos de mais bens e de mais
tecnologia de ponta para sermos efetivos (…) A terceira mentira afirma que a felicidade
é proporcional ao conforto, e este deve ser comprado com dinheiro… A felicidade é
encontrada em Deus, e ele se revela em ambientes de simplicidade, onde há menos
dispersão.” (p.85)

“Um exercício simples e útil que podemos fazer é este: pensar no que é
desnecessário. Chegamos então à conclusão de que um líder: a) não deve gastar mais do
10% de seu tempo útil de trabalho com atualização de ferramentas tecnológicas; b) deve
administrar o uso do telefone de forma que não seja um empecilho para relacionamentos
e para conversas face a face; c) deve concentrar-se mais em seus alvos e usar apenas as
ferramentas necessárias para alcançá-los, por mais atrativas que outras lhe pareçam.”
(p.87)

Relacionamentos profundos e duradouros

“O líder, quando obstinado apenas em seus ideais, cultivará ao seu lado


seguidores. Mas, se interessado em pessoas e relacionamentos, cultivará amigos. Os
amigos não apenas nos humanizam como também são parte vital de nosso crescimento
em Cristo. Precisamos investir em relacionamentos duradouros.” (p.88)

“A trajetória de Jesus foi marcada por relacionamentos, e relacionamentos


duradouros. Seus discípulos não se encontravam com ele nas reuniões formais, mas
caminhavam com ele no dia-a-dia. O assunto das conversas não versava apenas sobre o
ministério público, mas tratava da família, dos corações, das aflições, das alegrias.
Frequentemente comiam juntos. Com regularidade se reuniam em casas de amigos.
Viajavam também juntos. Jesus, ao liderar, liderava com amizade. O custo certamente é
maior. A possibilidade de decepção e mesmo traição é proporcionalmente agravada.
Porém, no Reino de Deus, não se caminha sozinho. Fomos feitos para a comunhão.”
(p.88,89)

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas


orações” (At 2.42)

O cuidado com a ansiedade

“Entre os líderes, noto que a ansiedade está ligada a dois fatores principais: a
responsabilidade e a expectativa. Responsabilidades que se sobrepõem à capacidade
individual deflagram uma dinâmica de ansiedade. Expectativas geradas por nós a nosso
próprio respeito, por nós a respeito de outros ou por outros a nosso respeito, quando não
condizentes com a realidade e as limitações, possuem o mesmo efeito. Tanto a
responsabilidade quanto a expectativa, postas dessa forma, geram um grande mal: o
coração ansioso, que não descansa, que não sossega, que não dorme e jamais se alegra.”
(p.91)

“Um dos maiores erros dos obreiros cristãos é tentar realizar a obra de Deus sem
os recursos de Deus.” (p.91)

“A certeza de estar agindo no poder de Deus gera… homens e mulheres de


iniciativa, íntegros na ação, resolutos, determinados, audazes, destemidos, desprendidos
e prontos para andar a segunda milha.” (p.91)

“O principal instrumento que nos leva a apagar a ansiedade da nossa alma é a fé


(…) A fé é transformadora e consoladora, fundamentada em um Deus que controla o
incontrolável.” (p.93)

“Crer em Deus faz descansar o espírito, sossegar a mente e relaxar o corpo. Crer
em Deus leva-nos a compreender – e sentir – que ele controla o incontrolável; que a
ansiedade nada mais é que nossa momentânea fraqueza de espírito, que ainda não
consegue enxergar que a mão do Senhor está sobre nós e nos guarda.” (p.93)
Integridade perante as tentações

“Para alcançar os objetivos da integridade em sua luta, é importante que o líder


saiba buscar o amadurecimento.” (p.93)

As marcas de uma personalidade amadurecida, interagindo ideias bíblicas e da


psicologia:

1. É realista quanto a si próprio, aceitando-se como é (senso de realidade).

2. Aceita frustrações e desapontamentos sem reagir erradamente (aptidão para tolerar


desconforto e inconveniência).

3. Nega a fama em prol do grupo.

4. Sabe utilizar os dons de forma ideal.

5. É independente. (Não depende obrigatoriamente da opinião alheia para suas


decisões).

6. Pode adiar uma satisfação no presente para garantir um benefício maior no futuro.

7. Toma decisões ajuizadas, baseadas em fatos e circunstâncias (senso de


responsabilidade).

8. Tem a capacidade de perseverar.

9. Sabe receber louvor e críticas sem perder o equilíbrio.

10. Não pede nem espera a perfeição em ninguém, nem em si mesma.

11. Tem o hábito de realizar mais do que o dever lhe impõe.

12. É flexível (não interpreta concessões como prova de fraqueza).

13. Ama os outros como a si própria.

O Dr. Arthur Bietz aponta como sinal de falta de maturidade:

1. Recusa em enfrentar a realidade.

2. Racionalização, ou seja, o hábito de alegar razões, embora tolas, para justificar um


comportamento infantil.
3. Falta de coerência na conduta.

4. Ressentimento básico contra autoridade.

5. Hábito de esquivar-se de tarefas difíceis.

6. Egoísmo e inveja.

7. Acesso de ira em face de frustrações.

8. Dependência doentia de outros.

9. Hábito de fanfarronar.

“A imaturidade espiritual gera grandes oportunidades para o diálogo com as


tentações da carne, do mundo e do diabo.” (p.94,95)

Tentações inerentes à função de liderança

A tentação da autossuficiência

“Trata-se do caminho trilhado por muitos, onde não há prestação de contas ou


subordinação.” (p.95)

“Devemos fugir da autossuficiência devido a um princípio sobretudo espiritual,


que afirma nossa dependência em Cristo Jesus, igualando todos os homens como
carentes da graça de Deus. O instrumento que aprisiona e faz cessar a autossuficiência é
a humildade. De fato, essa é uma arma para várias guerras. Ela luta contra o orgulho, a
vaidade, a soberba e a autossuficiência.” (p.95)

A tentação do poder

“É da natureza carnal humana utilizar o poder para exaltar os amigos e perseguir


os inimigos. É também da nossa natureza usar o poder para explorar os menos
protegidos.” (p.96)

“O poder humano, social e temporário, pode e deve ser exercido para defender
os valores e glorificar o Rei. O Senhor o dá com um propósito que deve ser seguido
com humildade e sabedoria. O uso do poder para cultuar a personalidade, fomentar o
destaque, atacar os inimigos e impor as ideias é pernicioso. Um dos efeitos mais carnais
do poder se mostra quando este é utilizado para a perseguição pessoal. Saul o usou
abundantemente contra Davi. Perseguiu-o e levou outros a persegui-lo. O Senhor resiste
a tal atitude e a condena.” (p.97)

A tentação das riquezas do mundo

“A Palavra nos diz: ‘Quem anda em integridade, anda seguro’ (Pv 10.9). Faz-se
também necessário andarmos com integridade quando lidamos com o dinheiro.” (p.97)

“O dinheiro é um instrumento de bênção de Deus, e com ele muita coisa boa


pode ser feita. O amor ao dinheiro, entretanto, é a raiz de todos os males.” (p.98)

“Creio que há alguns princípios que pastores e líderes devem observar no trato
com o dinheiro. Um deles é que aquele que toma decisões não deve ter a chave do
cofre.” (p.99)

“(…) creio que nenhum pastor deva administrar as finanças da igreja que lidera.
Com isso, quero dizer que os dízimos e ofertas devem ser entregues ao tesoureiro. É o
tesoureiro que deve administrar as retiradas e manter os relatórios financeiros em dia.”
(p.99)

“O contentamento com o que temos é relativo ao contexto e ao coração.” (p.100)

“Pensando sobre o assunto, creio que a maior arma para lidar bem com o
dinheiro – a abundância ou a ausência dele – é o coração grato.” (p.100)

Conselhos operacionais para um líder

1. Faça uma clara distinção entre problemas e conflitos.

2. Avalie um possível líder de acordo com a capacidade de resolver problemas e


solucionar conflitos.

3. Não confronte tudo.

4. Mantenha em mente que investir em pessoas é uma ação de médio e longo prazo.
5. Tenha em mente a visão geral e os poucos elementos não negociáveis.

6. Desenvolva amigos na equipe que tenham liberdade para lhe apontar o erro.

7. Não procure agradar em tudo.

8. Procure não atrapalhar.

9. Pondere sobre o custo/benefício entre a instituição e as pessoas.

10. Enfraqueça sua liderança em momentos tranquilos, a fim de que novas lideranças
surjam.

11. Fortaleça sua liderança em momentos de crise, para que o essencial no trabalho seja
mantido.

12. Leve a equipe a assumir os sacrifícios pastorais, investindo em pessoas, para que o
caráter de todos seja forjado de acordo com o amor, e não apenas pela justiça.

13. Procure ser um exemplo nas três principais áreas: tolerância, iniciativa e amor.

14. Trate cada membro de acordo com seu perfil e habilidade.

15. Descubra o potencial dos membros de sua equipe.

16. Lembre-se de sua missão perante a instituição.

17. Lembre-se de sua missão perante as pessoas.

18. Invista em pessoas para a vida.

19. Não terceirize o pastoreio e não permita a mobilização de grupos contra um


indivíduo.

20. Defenda o fraco para que não se quebre.

21. Identifique os líderes em potencial.

22. Mantenha-se perto de todos, mas especialmente dos novos e dos enfraquecidos.

23. Seja pastoreado.

24. Não instrua abusivamente.

25. Prepare a equipe para funcionar bem com pouca liderança.

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