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DIREITO PENAL !
304

elemento psíquico da vontade, mesmo na sua forma mais ele 1


mentar e imperfeita. Mas se, anormalmente, o impulso de II
um sonho leva o indivíduo, já meio despertado, a de fato agir ;
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no sentido do resultado punível, ou nos estados crepusculares \\
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que podem ocorrer no começo ou no fim do sono, “entre dor ,
mindo e acordado”, então o movimento obedece a uma von !
tade, por mais imperfeita ou viciada que seja na sua origem e CAPÍTULO XIII
li
:
processo, e pode-se falar de uma ação, impunível por inimpu- .
tabilidade. :
1 A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE ;
Na fôrça absoluta, o coacto não participa de modo algum
i
da ação nem com a vontade nem sequer com o movimento Posição do problema
corporal da execução, como quando alguém move com a pró
pria mão a mão de outrem e o faz vibrar o golpe ou danificar ■

1. Dentro da ação, a relação causai estabelece o vínculo


ou subtrair a coisa. O que falta, então, em relação ao pseudo- entre o comportamento em sentido estrito e o resultado. 1
-agente, não é só a culpabilidade, é a ação mesma. Na reali i
Ela permite concluir se o fazer ou não fazer do agente foi ou
dade, em relação a êle, não existe ação, nem como manifestação não o que ocasionou a ocorrência típica, e êste é o problema
da vontade. O fato resulta, não do impulso volitivo nem do inicial de toda investigação que tenha por fim incluir o agente
gesto do executor, mas do poder externo que sôbre êle se exer i no acontecer punível e fixar a sua responsabilidade penal.
cita. Juridicamente, o executor coacto fica estranho ao fato, Mas a questão da responsabilidade é posterior. É preciso dis
mero instrumento que é, no sentido mais estrito, do verdadei I tinguir o problema do nexo causai do da culpabilidade. Uma
ro autor, como o seria uma arma ou qualquer meio mecânico coisa é determinar se o fato surge como resultado da manifes-
de que êste se valesse. Acontece o mesmo nos casos em que o i
i
coagido é privado da sua liberdade, atado, encerrado em um
aposento, impedido, em suma, de locomover-se, de exercitar a i A posição da causalidade dentro do esquema conceituai do
crime não é ponto pacífico. Uns a incluem na ação, da qual viria a ser
sua atividade própria, como se vê geralmente nos crimes omis- !
um dos elementos. Na realidade, ela vem compreendida na ação, não
sivos, espécie em que mais freqüentemente se dá a coação. Aí como elemento, mas como o vínculo que prende o resultado à mani
o coacto não delibera nem age, nem pela omissão. Em todos festação da vontade do agente, incorporando-o à estrutura da ação
esses casos quem realmente age é o coactor, que é quem realiza entendida como uma unidade que se constitui, no seu aspecto exter
o crime com o elemento da inteligência e vontade livre, e por no, por aquêles dois momentos. Para outros, o nexo causai faz parte
i
do tipo. V. A. We g n e r , Strafrecht. Allg. Teíl, Grettingen, 1951, pág. 93;
êle é juridicamente responsável. Sc h õ n k e , Strafgesetzbuch, 4.a ed., Munique-Berlim, 1949, pág. 17. No
;
1 te-se que em algumas teorias, como as de Be l in g e Ra n ie r i , a causa
lidade se apresenta como uma adequação ao tipo. Alguns colocam o ! i
Componente UFBA: Teoria do Dir. Penal II - Prof. Dr. Eduardo problema antes da tipicidade. Para Ma u r a c h é um problema-limite
Viana que deve situar-se entre a ação e o tipo (Deustches Strafrecht., Allg.
Teü, Kalrsruhe, 1954, pág. 153). Seria uma conseqüência da concepção I
Bruno, Aníbal. DP, T I. Forense: Rio, 1959. finalista, que põe a ação metodològicamente antes do tipo, e consi-
OBS: O autor faz referência ao art. 11, então vigente parte geral dera o resultado, distinto da ação, elemento objetivo do tipo (pá- i
i

de 1940. Esse dispositivo corresponde, entretanto, ao atual art. ginas 155, 156) .
13, do CP. 20
— A. B. I — :
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306 DIREITO PENAL


A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 307

tação da vontade do agente, isto é, se entre o seu atuar e o


resultado típico existe a necessária relação de causa a efeito de solução fácil e imediata, mas que às vêzes é capaz de obs r:
(imputação de fato); outra, se, verificada esta relação, com curidades e incertezas difíceis de remover. O problema pode
ela concorrem os pressupostos necessários da responsabilidade tornar-se, então, verdadeiramente árduo, como acontece em *
>
penal (imputação de Direito). A simples relação objetiva en certos crimes de homicídio, lesões corporais ou estelionato.
tre o comportamento e o resultado não basta para justificar Essa possibilidade mais geral de solução corrente para a
a responsabilidade penal. É preciso que ao fato, com os seus
atributos de tipicidade e antijuridicidade, se juntem os ele
maioria dos casos da Justiça penal fêz que o problema só apa
recesse, entre os juristas antigos, em raros fragmentos dos
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- ;
mentos que justificam o juízo da culpabilidade. A relação textos. Os práticos do Direito intermédio, mesmo, se dêle se I
causai faz apenas do agente o causador material do fato, mas j; ocuparam, foi sem a amplitude que lhe é própria, limitando-o,
em geral, ao estudo das concausas no homicídio. Ainda nos
não o transforma desde logo em autor no sentido jurídico-
-penal. É na confusão entre essas duas posições, que se po í começos do século XIX, não se tinha feito da causalidade um
princípio geral. Como observa H. Ma y e r , em vão procura
dem suceder, porque sem a primeira não pode ocorrer a se :
ríamos na parte geral das obras de Fe u e r b a c h , Wà c h t e r , Kõs-
gunda, mas que são perfeitamente distintas, que vêm cair as
TLIN ou seus contemporâneos uma teoria da relação causai.
teorias que fazem incluir no conceito do causai elementos do
I Coube à doutrina alemã moderna assumir a responsabilidade
problema da culpabilidade. da elaboração dêsse importante tema jurídico-penal, e na li
Seja embora de maior relevância em alguns tipos penais, teratura alemã e depois na italiana é que encontramos as mais
i
como os crimes contra a vida ou contra a integridade corporal, valiosas contribuições na matéria, que se tem desenvolvido
'
a causalidade é um problema geral, não específico de deter 1 com o caráter que ora apresenta a partir da segunda metade !

minadas categorias de crime.2 Geralmente é questão prática, do século passado.


! No Direito Penal não apresenta o tema da causalidade
aquela largueza de limites que oferece na lógica ou na filoso-
2 No conceito geralmente adotado de ação e mesmo no Direito
Penal fundado na concepção, que ainda não se conseguiu vàlidamente setor das novas concepções sôbre a ação. Como diz Ma u r a c h , tôdas as
substituir, da lesão de um bem jurídico, o princípio da causalidade é tentativas de revisão do conceito da ação dirigem seu primeiro ataque
fundamental. Autores modernos contestam essa importância ao nexo contra o “dogma causai” (Ma u r a c h , Deutsches Strafrecht. Altg. Teil,
causai, tornando-o merecedor de consideração apenas em certos cri cit., pág. 150). Mas a doutrina dominante continua a conceder à ques
mes e nestes mesmos recusam-se a reconhecer-lhe a importância tão’ da causalidade a mesma relevância. V., por exemplo, Rit t l e r ,
que a maioria da doutrina lhe concede. O Willenstrafrecht alemão, Lehrbuch des ósterreichischen Strafrechts, I, 2.a ed., Viena, 1954,
com a sua finalidade de substituir o objetivismo da concepção atual págs. 96 e segs.; Me z g e r , Strafrecht. Ein Studienhuch, 4.a ed., pags.
do Direito punitivo pelo subjetivismo pouco preciso que o caracteri 57 e segs.; We g n e r , Strafrecht, págs. 93 e segs.; Sc h o n k e , Strafgesetz-
zava, teria de atacar a posição que o tema da causalidade conquis huch, pág. 18; v o n We b e r , Grundriss, 2.a ed., pág. 60, e, em geral, os
tara na doutrina geral. Depois, contestou-se que o crime se apresen autores italianos, baseados, aliás .em um Código que destina disposi- I
tasse sempre como a voluntária causação de lesão ou ameaça a um bem tivos especiais à matéria. Sôbre as novas opiniões contrárias ao “dog
jurídico. Ao lado de processos causais tidos por criminosos em razão ma da causalidade” v. Sa u e r , Allgemeine Strafrechtslehre, Berlim,
do desvalor do resultado produzido pela ação, afirmou-se a existência 19*o pág 73- We l z e l , Das ãeutsche Strafrecht, Berlim, 1947, pag. 25;
de tipos penais simplesmente finalistas, cuja criminosidade resulta Ma u r a c h , Grundriss, Allg. Teil, pág. 49; Ma u r a c h , Deutsches Stra
somente da reprovabilidade do próprio comportamento, não do re frecht. Allg. Teil, págs. 149 e segs. He l l m u t h Ma y e r , Strafrecht. AUg.
sultado, e onde o nexo causai entre êste .e aquêle já não tem impor Teil, Stuttgart, 1953, págs. 124 e segs. V. ainda Be t t io l , Dxntto penale,.
tância. A contestação ao valor da causalidade proveio também do P. generale, 2.a ed., Palermo, 1951, pág. 181.

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308
DIREITO PENAL A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 309

fia. As causas distantes, aquela linha causai infinita que re ; cordância infinita de fatores. Faltasse a concorrência de qual
laciona o lato com as suas remotas raízes, escapam à conside- quer deles, ou qualquer dêles variasse, e o fato resultaria di
i
: ração do penalista. O ponto inicial da conente causa-efeito :: verso do que ocorreu. Não há, pois, que considerar uma con
íi
para nós é a manifestação de vontade do homem. Estabele dição, mas um complexo total, pois só em relação a êsse todo
f
cer se entre esta e o resultado a cadeia causai se manifesta e se pode falar de causa.
;
se mantém é o que faz objeto das váxias teoiias que têm sido ; Essa teoria, que corresponde à realidade das coisas no i5
r sugerida.3 : processo geral dos fenômenos, não se ajusta à solução do pro
Por interêsse metodológico, pode-se distribuir essas teo
i blema dentro da ação humana, onde não se trata de determi-
:
rias em dois grupos: nar as causas de certo resultado, mas de saber se determi
:
■: ■
lI nada condição posta pelo homem pode considerar-se causa em
’■

a) teorias que não vêem diferença entre condição e causa; ; relação a êsse resultado. O que importa não é considerar a
I," fôrça causai das condições em seu conjunto, mas de uma ou
V ■ b) teorias que diferenciam causa e condição e buscam es *
i algumas delas isoladamente.
tabelecer critérios para dentre as condições destacar a :
1 i !
. r] : causa. Teoria da equivalência das condições
£
i
;
:Í; Teoria da totalidade das condições i
!. 3. A amplitude da doutrina anterior foi corretamente
1
: limitada pela teoria chamada da equivalência das condições
2. Entre as do primeiro grupo, a mais generalizadora é ou da conditio sine qua non. # _
;
a que considera como causa a soma de tôdas as condições. I Causa não é o conjunto individual das condiçoes, mas
! Não é uma delas, mas o conjunto de tôdas, atuando como um qualquer delas, desde que necessária à produção do resultado,
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complexo individual, que faz surgir o resultado. Não é o gesto uma vez que tôdas se equivalem, e pôr uma delas importa em
:
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do lavrador lançando a semente, argumenta-se, que faz nascer assumir um nexo causai com o resultado. Só em por essa con-
1

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a planta, mas ainda os atributos da própria semente, e o cli
ma, e a natureza do solo, e a água, e o sol, e os cuidados do
cultivo. O mesmo, e ainda mais expressivamente, nos fatos do
! dição, o
atuar do agente se fêz causa do fato cconido.
O decisivo é que sem essa condição o resultado não pu-
desse ocorrer como ocorreu. Que, eliminada mentalmeute a
I : ■ i ■

2> homem em sociedade, que se movem ao impulso de uma con- condição, desaparecesse do mesmo modo o resultado — o cha-
; I
mado processo hipotético de eliminação.1
u
3 Não há uma causalidade própria do domínio jurídico. Causa i
lidade é um conceito lógico-naturalista que se aplica a tôda sorte de , Originária de v o n Bu r i , que cita como predecessor.es Kü s t l in ,
H fenômenos e assim, também aos fatos puníveis, que, afinal, se reali
; Be r n e r , Híl e c h k e r . . teoria d. egmjl*£-
' zam no mundo fenomênico. Apenas, no Direito, há têrmos precisos prestígio n. dontrin. “ o““ri”Í Sopremo (M-
entre os quais intervém a noção de causalidade, e que são a mani ::
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festação da vontade do homem e o resultado típico. A consideração
•do nexo causai precede os juízos de valor próprios da apreciação ju
maníia. onde tem se.vid dj^ ^ n>tél„ p,,nal. No mesmo sen-
tido devoi Zl S havia desenvolvido oseu^ conceito
^^ de ^causalidade
IjI se ins-
rídica. É um dado inicial, puramente objetivo, que nos diz apenas se
St u a r t MILL’ embTtrlTechl lin Lehrbuch, 3.* ed„ Berlim-Munique,
: c acontecer que iremos juridicamente considerar é OU não resultado pirou. V. Me z g e r ,
causai da vontade manifesta do homem. Por isso, ultrapassam o pro concepção análoga de Hü m e , v . Ba t t a g l in i, Di -
1949, pág. 113. Sôbre a !
blema da causalidade as teorias que incluem no seu conceito juízos
1í* >;' 1 do valor de relevância jurídica.
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A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 311
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Teoria da causalidade adequada
Na determinação da causalidade adequada, o que importa
é se há um nexo normal prendendo o atuar do agente como
4. Entre as teorias do segundo grupo, a que alcançou causa ao resultado como efeito. O problema se resume, então, ;
i
maior influência e hoje disputa com a da equivalência das em assentar se, conforme o demonstra a experiência da
! condições o apoio da maioria dos autoies é a oe causalidade vida, o fato conduz normalmente a um resultado dessa índole;
adequada. Causa é a condição que se mostra mais adequada se êsse resultado é conseqüência normal, provável, previsível i!

a produzir o resultado. Com isso elimina desde logo a idéia !


da equivalência das condições. Dentre as diversas forças que
Die systematische Bedeutung der ad“^aten KausaZiíâísítóorie /úr
condicionam o resultado, destaca-se como causa a condição H
que, segundo a experiência comum e o julgamento normal dos den Aufbau des VerbrecHensbegriíJs, Berlim 192'
Strafrechtslehre, págs. 71 e segs. Ma u r a c h admite i teon.» £
: homens, se mostra mais apta a determinar um resultado da ! auacão como teoria corretiva nos crimes qualificados pelo resultado
natureza daquele que ocorreu. Essa*é a causalidade típica ou e em certos casos de curso causai atípico (Ma u r a c h , ^undnss des
adequada, que se opõe à causalidade não adequada ou fortui Stralrechts. AUg. T„ pág. 50). Na Itália adotaram essa te°„a Ma s s a r i
Le dottrine generale dei diritto penale, Nápoles 1930 pags^ 13

ta, que só por acidente pode relacionar o ato com o resultado.5


. segs.; Be t t io l , Diritto penale italiano, I,delia
2a ed., Palermo, 1950,
causalita adequada,
! págs. 187 e segs.; Gu a r n e r i , La difesa 91
'
5 A história da teoria começa com os nomes de v o n Ba r e v o n em Annali di dir. e proc. penale, 1934, Pags. ^321 e segs.; Pe -
h{ t r o c e l l i Principi di diritto penale, I, Nápoles, 1949 pag. 326 Va-
Kr ie s . êste, professor de Fisiologia em Friburgo. Citam-se dêsses au ; riantes da teoria da adequação são a teoria da causa humana exclu-
: I •
tores: v o n Ba r , Die Lehre vom Kausalzusammenhange im Rechte, siva de An t o l is e i , e a da condição qualificada pelo perigo de Gms-
i |j besonders im Strafrechte, 1871; v o n Kr ie s , Die Principien der Wahrs-
cheinlichkeitsrechnung, 1866; Über den Begriff der Objektiven mo-
S m U» . «to* * em ““>
if glichkeit und einige Anwendungen desselber, 1888. Hoje, a teoria se i
apóia em grande número de penalistas, como v o n Hippe l , Deutsches
;
Strafrecht, II, Berlim, 1930, págs. 143 e segs.; Tr a e g e r , Der Kausal-
Üíl begriff im Straf und Zivilrecht, Marburgo, 1904, pág. 130; Ta r n o w s k i ,
lilif ■
penale, Padua, 1934, pags. 178 e g ■> segs* i
ritto penale, P. gen., 3.a .ed., Pádua, 1949, pág. 179, nota 1. De v o n i
Bu r i , citam-se geralmente: Über Kausalitàt und deren Verantwor-
•I tung (1873), e Die Kausalitàt und ihre strafrechtlichen Beziehung
(1885). V. Me z g e r , ob. cit-., pág. 112, nota 9. Segue essa teoria, hoje, a
!!■'

! !f : maioria da doutrina. V. v o n Lis z t -Sc h m id t , Lehrbuch des deutschsn


*i - ; Strafrechts, 25a ed., Rerlim-Leipzig, 1927, pág. 158; Ra d b r u c h , Die
: *. • uma
Lehre von der adàquaten Verursachung, Berlim, 1902; M. E. Ma y e r ,
( ' sua
Der Allgemeine Teil, págs. 135 e segs.; Gr a f z u Do h n a , Der Aufbau
úer Verbrechenslehre, 4.a ed., Bonn, 1950, pág .18; Sc h õ n k e , Strafge- !
:
1 setzbuch, Kommentar, 4a ed., Munique-Berlim, 1949, págs. 18 e segs.;
conta as circunstâncias preexis en , experiência, como
v o n We b e r , Grundriss des deutschen Strafrechts, 2.a ed., Bonn, 1948, ;
pág. 60. Na Itália, Rocco, Voggetto dei reato, Roma, 1932, pág. 302; i
idônea a
:
Va n n in i , n problema delia causalità, em La Giustizia penale, 1948, resultado temido, que
[ ■
conduta é considerada causa de
II, pags. 113 e segs.; Va n n in i , Manualedi diritto penale, Florença, 1948, : !
do ponto de vista normativo uma
pag. 125; Ba t t a g l in i , Diritto penale italiano, cit., págs. 178 e segs. I
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DIREITO PENAL
312 A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 313

daquela manifestação de vontade do agente. O fundamento Assim, para essa teoria, o atuar do agente não deve ser
désse juízo é um dado estatístico, é um critério de probabili- simplesmente uma condição necessária, mas uma causa ade
dade. quada específica do resultado. Exclui-se o acidental imprevi- i
!l
Para fixar êsse juízo vários elementos foram propostos, a sível. Admite, assim, a teoria a extinção do primitivo nexo de
sugestão de v o n Kr ie s , de que o grau de probabilidade se apu i
: causalidade, quando uma condição extraordinária, imprevisí
rasse segundo a previsibilidade do próprio agente, foi afastada,
:
vel dê à corrente causai direção diversa e esta nova direção H
porque conduziria a confundir causalidade com culpabilidade. conduza ac resultado, que ocorre, assim, por um processo in
Adotou-se, então, o critério da chamada prognose objetiva pos sólito, que a experiência normal das coisas não permitia pre
terior. sugerido por Ma x Rü m e l in . o u . como diz v o n Lis z t e i
! ver.
hoje vem geralmente repetido, o critério da prognose póstuma. í A teoria da adequação, utilizando o critério da previsibili-
O decisivo é o curso normal da corrente causai que prende dade, transcende do domínio próprio da causalidade e penetra
;
a manifestação de vontade do sujeito ao resultado, previsível, no da responsabilidade penal. Como diz Ba t t a g l in i , introduz
não a priori pelo agente, mas ex-post pelo juiz. Para êsse ! um juízo de cálculo subjetivo, enquanto se trata apenas da
juízo hão-de ser consideradas tôdas as circunstâncias que se ! produção de um fenômeno.» Além disso, como pondera v o n
tenham manifestado na cadeia causai, não só as anteriores Lis z t , faz depender a solução do problema de um número 11-
e concomitantes ao fato, mas ainda as posteriores ou as que só mitado de pressupostos.
posteriormente foram conhecidas.
^ ^ p j* 0 ^ q m j ^ n cia
Teoria
um resultado quando tenha sido condição do próprio resultado e, 5. Outra das teorias do segundo grupo é a de Bin d in g .
examinada em referência ao momento em que se desenvolveu, cons O grande dogmático alemão ordena as forças que influenciam
titua um perigo em relação à ocorrência do resultado (Gr is pig n i , Di- a produção de determinado fenômeno em dois grupos — o das
ritto italiano, II, cit., pág. 100-101; Gr is pig n i , II nesso causale nel di~ condições positivas, que se dirigem no sentido da produção do
ritto penale, em Revista italiana di diritto penale, 1935, págs. 3 .e
segs.). Nesse mesmo rumo de idéias se insere a teoria proposta pelo fenômeno, e o das condições negativas, que atuam no sentido
ilustre professor argentino Se b a s t iã o So l e r , a sua teoria da causa de impedi-lo. A condição que rompe o equilíbrio dessas forças
intelectualizada, segundo a qual se incluem no curso causai produzido sentido da ocorrência do fenômeno é
e decide do resultado no
pelo agente as conseqüências que razoavelmente deviam suceder, to o que êle chama causa.
mando-se em conta para o juízo do razoável o estado de coisas em
Causa será, assim, a última condição, última e decisiva.
;
que a ação foi empreendida, os cálculos feitos pelo próprio agente condicão que alcança preponderância sobre as outras.
í É esta a
sôbre o curso dos acontecimentos e os que razoàv.elmente devia fazer Daí a denominação de teoria da preponderância (Theone des
e\ P°r _fím, examinando-se o curso efetivamente seguido a ver se
nèle não existe algum acontecimento excepcional, fortuito e autô Vbergewicht) que ela recebeu.
nomo. Segundo essa teoria, a análise do problema obedecerá ao se- l
i1
gum e esquema, verificação da causalidade simples, conforme a teo- 66 tfe evidente tudo o que se refere
i
: evidente, acrescenta
ao Ba t tfazer
a g l in i , que
com 0 nex0 causai em sen-
na a equivalência, verificação do conteúdo normativo da figura ao elemento psíquico nada tem a , v
R Diritto penale, P. gen. cit., pag. no). v.
!
«"«‘SÔ-116
.
,,pl“>: Iar*as tle"ras —■ pr°baM-
se em conta os fatores objetivos e os subjeti-
tido objetivo (Ba t t a g l in i,
Lehrbuch, págs. 121-122; v o n Lis z t -Sc h mid t ,
: • Me z g e r , Strafrecht. Ein Der Aufbau der Verbrechensleh-
n
wf
i vpi • °S qualificados pelo resultado, possibilidade razoá-
Derechn vpvnjlmite í fortuito incalculável e incalculado (S. So l e r ,
Derecho penal argentino, I, Buenos Aires, 1945, págs. 323 e segs.
Lehrbuch, pág. 162; Gr a f zu Do h n a ,
re, pág. 19.

;
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! i
:
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I DIREITO PENAL
314 ; :
r í A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 315

Mas não ficou aí a construção de Bin d in g . Observa êle


! I
que êsse elemento decisivo, verdadeiramente causai, não é uma : teoria da equivalência das condições. O que faz a teoria da
i
condição qualquer, mas uma condição qualitativamente dis adequação não é determinar o nexo causai, mas a relevância )!
!
tinta — é o atuar voluntário do ser humano, que põe a serviço jurídica da condição — não resolve o problema da causali
: !
da sua deliberação as forças naturais, desdobrando-as, multi dade, mas o da responsabilidade penal.
Essa exigência de relevância Me z g e r formula sob o crité i

: plicando-as, orientando-as segundo o fim visado. É dessa ma- .


:' rio da antijuridicidade, em referência aos tipos penais legais.
í neira que o agente se torna autor. Autor é o que pretende
É a sua conformidade com a antijuridicidade típica que torna
:
:
realizar o total da figura delituosa e não apenas concorrer com
uma condição. Por isso, observa Bin d in g , quando a lei enten a conexão causai objeto de consideração jurídica. A corrente
j causai a partir do atuar do agente há-de desenvolver-se de ma ';
de considerar autor aquêle que apenas estabelece uma condi
neira ajustável à fórmula das figuras penais.
ção, há-de dizê-lo expressamente, como acontece na respon O mérito da teoria está em dar o devido relêvo à exigên
fi:; sabilidade por homicídio em rixa.
■ I cia da relevância jurídica. Mas, na realidade, essa teoria es

Para Bin d in g , é o atuar humano, dirigido pela vontade, i tende o problema, de maneira incorreta sob o ponto de vista
*
: que dá preponderância a uma das condições positivas do resul metodológico, além do terreno da pura causalidade. Me z g e r
tado sôbre as negativas. Dêsse modo pretendeu Bin d in g fir mesmo reconhece essa extensão quando distingue entre os
ij mar um conceito especial da causalidade, “próprio das ciên ! pressupostos da punibilidade: d) a conexão causai do ato de
cias do espírito”, como diz êle. Mas, com isso, como observa í vontade com o resultado; b) a relevância jurídica da referi
Me z g e r , restringiu o problema a um dos aspectos apenas da !
II da conexão; c) a culpabilidade do sujeito.9 O tema da re

teoria geral da causalidade.7 levância jurídica é estranho à causalidade. É preocupação I
que nasce somente quando o problema se desloca para o plano i
:
; Teoria da relevância jurídica •da responsabilidade penal. E então o problema com que nos
-■

íj; defrontamos é outro.


;
:
fnm6' Ps-rtúido da teoria da equivalência e combinando-a A teoria foi acolhida por Be l in g . Mas Be l in g conduziu
■■

h;•, •* tr^u a s„rra adequada, Ma x Lu d w ig -Mü l l e r cons- ainda mais expressivamente o problema do nexo causai para
* b ITv IZZT ^ rel6VânCÍa ^ -eita entre ou- dentro da sua teoria da tipicidade.10 Não basta o caráter de
3: R
Pi
. i da resnnnqavr í vi^rcc*uz 0 Pr°blema da causalidade no plano I
,4 ;
qLsi rL ní i h PfnaL ^ °S seSuid^s da doutrina, o » Me z g e r , ob. cit., pág. 122.
rr i

quesito da causalidade propriamente dita se resolve só pela io Aliás Ma x Lu d w ig -Mü l l e r já havia formulado a sua teo- !
lii
:
I: ria em conexão com os tipos penais. Sôbre a posição de Be l in g , v .
Verbrechen, Tübingen, 1906, págs. 30 e 208;
TZnmatTleltZZio “nulla poena sine lege penale" nela deíer-
;i:
: V
; minazione âei concetti fondamentali ãi dintto penale em Giustizia
í penale, 1931, págs. 12 e segs. da separata; Esquema de Derecho penal
eM.E.MAVER, Der allaemeinr rr» L , ’ pág' 121 ’ nota 67> (Grundzüge), trad. So l e r , págs. 36 e segs. Colaborando em uma
berg, 1923, pág. 144, nota 1 S deutschen Strafrechts, Heidel- \ ria da relevância, também En g is c h , que, partindo da teoria da equi-
valência, se vale para completá-la do que êle chamou a formula da
Hcmges im des Kausalzusammen- I fazer ou não fazer do
; agente^deve^onter emí a^rovo^ação do perigo do resultado (En -
Strafrecht. Ein Lehrbuch, § i5> Iv tzrecht> Tübingen, 1912; Me z g e r , i

1 fl ;
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DIREITO PENAL
316
317
A RELAÇAO DE CAUSALIDADE
I!
conditio sine qua non que o atuar do sujeito apresente. O de i
cisivo é que seja capaz de gerar a figura delituosa típica da é essencialmente lógico-naturalista.11 A relação causai de
í
senvolve-se dentro da ação naturalisticamente consideiada e
i
lei penal. O problema da causalidade, para êle, só se pode re í
solver sob a inspiração da parte especial do Código, em con fundamenta apenas, pràticamente, a existência de deter ; í
fronto com cada uma das figuras de crime. O que há a dis minada ação — comportamento e resultado — como fisica
tinguir é se o atuar do agente corresponde à ação caracterís ■
mente imputável ao agente, ação que poderá servir de supoxte
tica que determina a figura típica, se êsse atuar se ajusta ou
;

aos atributos-valores do conceito do crime, Mas em si mesma 1

não ao tipo legal. a relação causai não importa em nenhum juízo de caráter ju- l ;
i
rídico-penal. Êste só virá depois que se tenha verificado na U
Nesse rumo, Be l in g , na realidade, põe fora de cogitacão o
i- problema da causalidade em seu sentido próprio. Afasta a
i
ação a presença das características da tipicidade, antijuridici- u
;• dade e culpabilidade. O comportamento do agente pode ser |<
possibilidade de um princípio unitário que reja a matéria e
naturalisticamente causai em relação ao resultado e escapar a

1
I' subordina a exigência da causalidade a uma norma objetiva ação do Direito Penal por não ser típico, ou não ser antijun-
de Direito. Alas o certo é que êle não resolve nem anula o
dico, ou nao ser culpável. É claro, assim, que nem todo curso
problema, que do mesmo modo que se distingue do da culpa
I causai é relevante para o Direito, mas somente aquêle em que
bilidade, é perfeitamente distinto do da tipicidade.
a ação praticada pelo sujeito se reveste das características do
:>■

i,

í;i : fato punível. A imputação do fato não inclui desde logo o


Conclusão agente na categoria de autor, acarretando para ele o onus
f! da responsabilidade penal. Falta acertar ainda os outros ele
i
!
I
m 7. A doutrina não parece haver encerrado Bi discussão mentos do fato punível e, em relação ao agente, sobretudo a
do tema da causalidade. A elaboração realmente continua, e
!
1; ,
Ü
a incerteza e a multiplicidade das teorias revelam um anseio
culpabilidade.
Pôsto o
problema da causalidade nessa posição exata, é a
i
11 Ü!
I ini! :
ainda insatisfeito de verdade. teoria da equivalência das condições a que mais corretamente
No ponto em que nos encontramos, tôda meditação do atende a resolvê-lo. Por isso a ela é que recorrem geralmente
I: *
assunto ha-de partir da teoria da conditio sine qua non e, os autores, ou como teoria independente ou como ponto de

liP para nos, nela deve concluir-se. Essa teoria oferece o critério partida para a atitude complementar de outras teorias. -I
p eciso para detemnnai o enlace causai entre o comportamen- É natural que não tenha ficado isenta de criticas, e den-
j! i
to do agente e o resultado, como um acontecer que se desen- tre as mais severas que lhe tem sido feitas deve destacar-se a
i
en ro o mundo fenomênico, excluindo ao mesmo tem de que ela pode conduzir-nos, na prática penal, muito além do
: po, com justeza, desse momento inicial, todo elemento de valor.
:
t ■ ii sôbre a idéia de uma causalidade jurídica e em particular
A idéia de umaia causalidade especificamente jurídica, que de uma causalidade própria do Direito Penal, v. Ma g g k jr e *>r5”IOL
, inspira, em geral, as outras teorias, desvirtua o problema, que \ diritto venale, I, Bolonha, 1937, págs. 229e.segSp ^ “"o c e l u i' !|
nara cuem o juízo de causalidade e um ju íz o de valor e Pe t r o c e l l i ,
afhma que “iZ problema dei rapporto causale tra Vazione e le-
que
veJoMe leve avere earattere nettamentefundi£
: ! Tübingen! SgTSfSegS Stra.tre^htlichen Tatbestãnde,
! ritto penale italiano, 1, pág. 189; Pe t r o c e l l i , P« I pas; 324.. Em :
vii levância, também Ho n ig ' Kmitnt 7 ° da teOTÍa dE sentido contrário, We l z e l , Das deutsche Strafrecht, 5.» ed.„ Me z g e r ,
1 >1
em Festgabe für R. Frank, i. Tüblngen, S, pígf^ ZurechnUr*’ Strafrecht. Ein Lehrbuch, pág. 121. i
174 e segs.

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i
i i 318
DIREITO PENAL
A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 319

que é razoável admitir, impondo a fixação de uma cadeia cau anterior do agente. Não colabora com êsse fato inicial. A
sai pràticamente absurda. partir da sua incidência, o processo causai passa a ser intei
: Dificuldades surgem sobretudo quando na linha causai ramente outro e o indivíduo vem a morrer de maneira comple
iniciada pelo comportamento do agente interfere outra con tamente diversa daquela que resultaria do golpe que o agente
dição que se sobrepõe à primeira, conduzindo os fatos, por ca vibrou. A condição interferente torna-se uma causa necessá-
minho diferente, até o resultado. Se a nova condição se apre ria e suficiente para determinar o resultado nas condições em
:
É senta como de todo independente da anterior, abrindo novo ;
;
que ocorreu, sem ser preciso levar além a investigação e fazer
i.
curso causai, que chega ao resultado por sua própria força, i valer ainda a condição inicial posta pelo agente, condição que,
II i:
então é evidente que a primeira condição já não figura no aliás, não conduziria os acontecimentos segundo a linha em
processo. O homem, gravemente alcançado por um golpe do ! que de fato êles ocorreram. Seria como se praticássemos a
;
seu adversário, segue para casa através da floresta e é ful regressão infinita na série causai, desnecessária para funda-
I: minado por um raio; o barqueiro ferido morre, não dos feri :

mentar a causalidade do resultado ocorrido. Aquêle trecho
mentos, mas por soçobrar o barco em meio a um temporal. ! do curso causai que nos interessa, compreendido entre o fazer
; !
: Então, o resultado, absolutamente independente do fato do a- ou não fazer do agente e o resultado, sem consideração das
gente, já não pode relacionar-se a êste como à sua causa. A condições antecedentes ou das ocorrências posteriores que têm
.
êste mesmo resultado por condição, reduz-se, então, ao espaço
N supressão em pensamento do fazer do agente não faria desa
parecer necessàriamente o resultado. contido entre a nova condição interferente no processo e o
fj! Mais complexo é o caso em que a nova condição, condu
acontecer final. O que interessa é saber se êste trecho se ex
' í!•;:í; plica suficientemente, se a nova condição basta, sem recorrer
zindo, embora, ao resultado por um desvio do curso causai, se
M: : insere na linha de causalidade provocada pelo agente — como
à condição anterior posta pelo agente, para explicar o resul
tado. Se assim é, a condição inicial apaga-se para a nossa
i
ocorre nos seguintes exemplos clássicos: o ferido vem a mor consideração e o ciclo causai se fecha entre a nova condição
i
: ■ rer, não por fôrça dos ferimentos, mas pelo acidente de trá-
e o resultado ocorrido.
fego, na ambulância que o transporta ao pôsto de assistência* Aí termina o problema da causalidade pura e simples.
ou no incêndio que consome o hospital a que se recolhera em Depois é que virá a consideração da responsabilidade penal,
:
1
ÜT tiatamento, ou intoxicado por ação de uma droga, que, por onde representa o papel de maior relevância a culpabilidade.1-
engano, lhe administrou a enfermeira. Argumenta-se então:
se não fosse o atuar criminoso do agente, a vítima não iria ao 12 Mguns autores têm procurado na culpabilidade um critério
pôsto de assistência ou ao hospital e não viria a morrer no aci
t
dente da ambulância, ou no incêndio, ou pelo veneno. Elimi
: nada em pensamento a condição posta pelo agente, desaparece
■' ■

í
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EiÜ em conseqüência a possibilidade do resultado.
Devemos observar, entretanto, v.
i chiscen Strafrechts, I. Viena, 1933, pág. 71. Mas então Ja nao e da
causalidade que s.e está tratando, mas das suas consequências em
relação à responsabilidade penal. Note-se que Me z g e r que fala em
! que, na hipótese, há radi
: cal transformação da corrente causai, culpabilidade na matéria da relação causai, nao a mclui como fator
■i que toma novo rumo e
i;i conduz ao resultado em circunstâncias diversas daquelas a limitativo na causalidade, mas a apresenta como pressuposto da pu-
H: que
. conduziria o comportamento do agente. O nova condição
nibilidade em concorrência com o nexo causai e a relevância (Lehr-
buch. pág. 122). Mas é claro que, assim, se adianta um problema que
f
COm° Se ^01 si s° viesse a produzir o resultado, indepen nada tem a ver propriamente com a causalidade. Observe-se amda
§ dentemente, embora só em aparência, do fazer ou não fazer \

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320 A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 321

Mas então já é outro o problema, e é sempre interessante para A punibilidade da omissão é outro problema, cuja solução
a dogmática pôr uma linha de distinção entre eles. depende da comprovação da concorrência dos outros elemen-
tos do fato punível, a partir da antijuridicidade, resultante do
A causalidade na omissão
dever jurídico de agir, que incumbia ao omitente.
8. A omissão é causai em relação ao resultado quando, se O nexo d© causalidade
o omitente tivesse praticado a ação omitida, o resultado não n o Código Penal
teria ocorrido, isto é, dentro do raciocínio fundamental da con-
áitio sine qua non, quando não se possa conceber como reali 9. O nosso Código resolveu expressamente o problema da
zada a ação omitida sem que desde logo desapareça o resul- causalidade, consagrando um dispositivo à matéria.
O sistema do Código é construído sobre a teoria da equiva
tado.13

is Sc h ò n k e , Strafgesetzbuch, pág. 26; v o n We b e r , Grundriss des


í
;
lência das condições. Não distingue entre condição e causa.

deutschen Strafrecht, pág. 60; Ma u r a c h , Grundriss des Strafrechts. de v o n Lis z t -Sc h m id t (Lehrbuch, págs. 163 e segs.) e Ge r l a n b (Deu-
Allg. T., pág. 52; Ne l s o n Hu n g r ia , Comentários ao Código Penal, I, tsches Reichsstrafrecht, 2.a ed„ Berlim, 1932, pág. 164) podemos
Rio de Janeiro, 1949, pág. 242; Ne l s o n Hu n g r ia , As concausas e a cau | juntar, na Itália, Gr is pig n i , que julga absurdo falar, do ponto de vis-
salidade por omissão perante o novo Código Penal, em Revista Foren i ta naturalista, de uma causalidade da omissão. A omissão, para ele,
se, 1942, págs. 851 e segs. Por muito tempo recusou-se a doutrina a é só uma causa normativa do resultado (Gr is pig n i , Diritto penale, II,
admitir um nexo causai ení referência à omissão idêntico ao vigente pág. 42). Nesse conceito normativo da causalidade na omissão têm
entre a ação e o resultado. Dominava o argumento de que “de nada insistido outros autores. Para Be t t io l , a eficácia causai da omissão
nada pode provir”, o que é verdadeiro somente, como observa v o n resulta, de que o omitente tinha o dever jurídico de agir para ímpe-
dir o resultado, como já era concepção de v o n Ba r . V. Be t t io l , Diritto

We b e r (ob. cit., pág. 61), quando se compreende a causalidade não ;


como um conceito de relação, mas, de maneira inexata, como um con : penale italiano, Parte gen., pág. 194; v o n Ba r , Gesetz und Schuld im
ceito fisico de fôrça. O pensamento preponderante opunha-se a um Strafrecht, II, Berlim, 1907 , pág. 261. Uma confusão com a antijurl-
conceito naturalista da omissão, não se apercebia de que a omissão dicidade gera também no tema da causalidade da omissão a teoria
da ação esperada, de Me z g e r (Me z g e r , Strafrecht. Ein Lehrbuch,
também é um comportamento do indivíduo e que êsse comporta
mento pode entrar como condição na série causai que conduz ao re pág. 136) . Tem sentido normativo também a posição de Sa u e r , que
i fala igualmente em ação esperada que teria impedido o resultado
sultado. Hoje ainda não se pode dizer que a paz se tenha feito nesse
debatido setor da causalidade, mas há um esforço evidente por cons (Sa u e r , Allgemeine Strafrechtslehre, pág. 79; Sa u e r , Kausalitat und
Rechtswidrigkeit der ünterlassung, em Festgabe für Frank, I, Tübin-
truir uma explicação do enlace causai nos fatos omissivos que os
gen, 1930, págs. 202 e segs.) ou a de Pe t r o c e l l i , que nega todo valor
eauipare aos casos de ação em sentido estrito. A êsse esforço corres causai à omissão, admitindo apenas “un rapporto di causalita morale
ponde a posição de autores como os acima citados. Aquela atitude I o giuridica, nel sonso che si attribuisce il prodursi deli evento nel
negativista, entretanto, não desapareceu. Aos nomes, por exemplo, viondo esterno a chi, avenãone la possibilità e il devere, non lo ha
i impedito,> (Pe t r o c e l l i , Principi, pág. 340). Sôbre o assunto, v. ainda
Gu a r n e r i , Causalità delVomissione, em Annali di diritto e procedura
que tomar a culpabilidade por elemento limitativo do enlace causai ■penale, 1934. páss. 1.005 e ~egs.; Gu a r n e r i , Omissione causale e obbli-
conduziria a excluir o problema em relação aos inimputáveis, impos
go di impedire Vevento, em Foro italiano, 1936, II, págs. 26 e segs.,
sibilitando a aplicação aos mesmos das necessárias medidas de se
Co s t a n z o , La causalità delVomissione, em Giustizia penale, 1949, II,
gurança. V. Be t t io l , Diritto penale italiano. P. Gen., pág. 189. Em págs 177 e segs.; Gu a r n e r i , II delitto di omissione di socorro, Padua,
suma, a reiação causai é uma relação de fato entre o atuar do agente
e o resultado. O apêlo à culpabilidade para explicar uma solução na 1936* A. Da l l 'Or a , Condotta omissiva e condotta permanente nella
teoria generale dei reato, Milão, 1950, pág. 132 e segs.
matéria é conceitualmente incorreto.

1
—- A. B. I —

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DIREITO PENAL
\ 322
í A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 323

. "S Causa é tôda conditio sine qua non: “considera-se causa tôda
condução ao hospital nem morte pelo acidente. A colisão en
ação ou emissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”
contra-se na série causai determinada pelo fato do agente, mas
(art. 11). O resultado é o têrmo final de uma cadeia de con !
não coopera com êste para o desenlace; inicia outra corrente
dições sucessivas ou concomitantes. O homem que concorre
de causalidade e de maneira por assim dizer autônoma, como
com uma dessas condições sob a forma de ação ou omissão re
se fosse por si só, produz o resultado.
puta-se ter produzido o resultado, desde que sem ela êste não
1
| pudesse ocorrer. Se a causa superveniente se encontra inteiramente fora

1 Não importa que outras causas se articulem na cadeia, ■
dessa corrente causai, se é absolutamente independente da
9 mesmo de maneira preponderante. Nem influi que essas con : ação do agente e, dêsse modo, determina o resultado, a situa
:: ção já está resolvida pelo dispositivo do próprio art. 11. Se B.
dições concorrentes sejam fatos naturais ou fatos humanos

í
<■

voluntários ou não, fatos do próprio agente ou de outrem, da é ferido e ao encaminhar-se para casa é fulminado por um
própria vítima inclusive. raio, não há relação causai alguma entre o ferimento e a mor
te. O ferimento não é conditio sine qua non do evento. O
No corpo do artigo, a teoria apresenta-se com tôda a am
h' R . I agressor responde, apenas, pelos fatos puníveis que tenha real
I! plitude que lhe é própria.
mente praticado, lesões corporais ou tentativa de homicídio.
Entretanto, o Código, sem haver admitido como comple
I a , mento nenhuma outra doutrina, criou no parágrafo único do O parágrafo único do art. 11 não resolve a hipótese de

> referido art. 11a limitação necessária à teoria da equivalência. causas antecedentes ou concomitantes. Estas só excluem o :
“A superveniência de causa independente”, diz o parágrafo, nexo causai iniciado pelo atuar do agente, se realmente por si
I “exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado”. sós determinam o resultado. Nesse caso se mostram absolu-
; !• i tamente independentes da ação ou omissão do sujeito. Acon
1 Mesmo então continua rigorosamente objetivo o caráter da
tece, então, como no exemplo de Ma g g io r e : B., que se encon-
I : .'5 |
causalidade no Código. Não interfere aí nenhuma condição
i :; de previsibilidade ou probabilidade do curso dos acontecimen tra em um barco, é ferido por A. e morre, não do ferimento,
mas porque soçobra o barco, que já vinha apresentando nc
í tos, como é essencial na teoria da causalidade adequada.
costado larga abertura, a que B., ferido ou não ferido, não po
Por si só não quer dizer independente da concorrência de
dería absolutamente remediar. A causa antecedente produz por

i> qualquer outra condição, o que seria negar a realidade das
si só o resultado, desenvolvendo-se o curso causai até o even
1 coisas, tão bem expressa no princípio da equivalência das con-
to de maneira completamente independente. Mas, então, não
dições. Quer dizer apenas de maneira independente do fato
é por extensão do disposto no parágrafo único do art. 11 às
i do primeiro agente. E essa independência mesma há-de ser causas antecedentes ou concomitantes, que se resolve a hipó
apenas relativa. Na realidade, a causa superveniente de que
; !
tese; é por aplicação pura e simples do princípio contido no
. :
trata o citado parágrafo insere-se na linha de causalidade pro corpo do artigo: causa é a ação ou omissão sem a qual o re
i ui

h vocada pela ação ou omissão do sujeito; apenas dá nova dire sultado não teria ocorrido. No caso, o resultado ocorrería do
P ção ao curso dos acontecimentos e com isso atua como se inau mesmo modo sem a intervenção do agente. A ação do sujeito
m i
gurasse outra corrente causai, que por si só conduz ao resul não é uma conditio sine qua non do resultado. É diverso do
tado. É o caso do ferido que, em caminho para o hospital, que ocorre no exemplo do incêndio do hospital, O incêndio se
w; ;; j
morre na ambulância em conseqüência de uma colisão de veí
culos. A colisão que vitima o ferido é só relativamente inde
insere na cadeia causai do atuar do agente. Embora remota,
a ação do sujeito é uma condição do resultado. O que ocorre
!
: • pendente do fato do ferimento, porque sem êste não haveria
I

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DIREITO PENAL
324
{
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é que a causa superveniente é suficiente por si só para deter
5. minar o resultado e se incluir na hipótese do parágrafo.
Se a causa preexistente ou concomitante penetra na linha
. causai do fato do agente, concorre com êste, e êste será sem
H pre, assim, uma conditio sine qua non do resultado. A con-
causa, então, não modificará o nexo de causalidade criado pela
! manifestação da vontade do agente. Ocorre como no caso, CAPÍTULO XIV
I por exemplo, do hemofílico, do diabético, do portador de um
pneumatórax, em que a lesão se agrava e se faz mortal em ra A TIPICIDADE
: zão daquela situação concorrente anterior, que fica, entretan
1 to, sem influência sôbre o valor causai do fato do agente. A Tipo e iipicidade1
vítima não morreu de diabete ou de hemofilia, mas do feri
mento, agravado embora por uma dessas condições patoló 1. Quando a consciência jurídica impôs ao Direito Penal,
í i gicas. com o fim de segurança, a exigência de uma definição clara
I e precisa dos fatos em razão dos quais a sanção se aplicaria,
o meio criado pelos juristas para resolver êste problema capi
Si tal foi o tipo, isto é, a descrição exata das circunstâncias ele
' mentares do fato punível.
!'
I *i
■í: 1 A teoria do tipo e da tipicidade, isto é, a elaboração dogmá
tica dêste importante elemento do conceito do crime, foi iniciada
!n propriamente por Be l in g , em Die Lehre vom Verbrechen, Tübingen,
% 1906. Antes disso, como acontece ainda em alguns autores modernos,
íí aparecia a figura do tipo, mas com um conceito amplo que abran
<31
gia o conjunto dos pressupostos da punibilidade, incluídos os elemen
§i tos do injusto e do culpável, e com tal amplitude de conceito não se
atingiam o sentido e a função própria da figura típica legal. Be l in g
:l! libertou o tipo dessa esdrúxula posição limitando-lhe o conceito e pondo
ií a tipicidade na dianteira entre os elementos do fato punível. O tema
foi retomado por outros autores, como M. E. Ma y e r , Der Allgemeine
rí;.-,li Teil des deutschen Strafrechts, 2.a ed., Heidelberg, 1923 (l.a ed., 1915),
págs. 89 e segs.; por Sa u e r , Grundlagen des Strafrechts, Berlim, 1921,
§ 13; por Eb h . Sc h m id t , no Lehrbuch, de v o n Lis z t , págs. 175 e segs. O
|y :'i próprio Be l in g veio a esclarecer e completar a sua teoria em Grund-
züge des Strafrechts, 11.a ed., Tübingen, 1906. V. Cl a s s , Grenzen des
i Tatbestandes, I (Straf. Abh., fase. 323), Breslau-Neukirch, 1933, págs.
R f ■ jn 10 e segs., e 68 e segs. Outra valiosa contribuição à elaboração do
tema foi trazida por Me z g e r . mas em verdade reduzindo o tipo a um
atributo do ilícito, estudando-o, no seu Lehrbuch, dentro da seção
m;
)■

destinada à antijuridieidade, como injusto típico (Me z g e r , Strafrecht.


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