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DIREITO PENAL !
304
de 1940. Esse dispositivo corresponde, entretanto, ao atual art. ginas 155, 156) .
13, do CP. 20
— A. B. I — :
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308
DIREITO PENAL A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 309
fia. As causas distantes, aquela linha causai infinita que re ; cordância infinita de fatores. Faltasse a concorrência de qual
laciona o lato com as suas remotas raízes, escapam à conside- quer deles, ou qualquer dêles variasse, e o fato resultaria di
i
: ração do penalista. O ponto inicial da conente causa-efeito :: verso do que ocorreu. Não há, pois, que considerar uma con
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para nós é a manifestação de vontade do homem. Estabele dição, mas um complexo total, pois só em relação a êsse todo
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cer se entre esta e o resultado a cadeia causai se manifesta e se pode falar de causa.
;
se mantém é o que faz objeto das váxias teoiias que têm sido ; Essa teoria, que corresponde à realidade das coisas no i5
r sugerida.3 : processo geral dos fenômenos, não se ajusta à solução do pro
Por interêsse metodológico, pode-se distribuir essas teo
i blema dentro da ação humana, onde não se trata de determi-
:
rias em dois grupos: nar as causas de certo resultado, mas de saber se determi
:
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lI nada condição posta pelo homem pode considerar-se causa em
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a) teorias que não vêem diferença entre condição e causa; ; relação a êsse resultado. O que importa não é considerar a
I," fôrça causai das condições em seu conjunto, mas de uma ou
V ■ b) teorias que diferenciam causa e condição e buscam es *
i algumas delas isoladamente.
tabelecer critérios para dentre as condições destacar a :
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. r] : causa. Teoria da equivalência das condições
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;
:Í; Teoria da totalidade das condições i
!. 3. A amplitude da doutrina anterior foi corretamente
1
: limitada pela teoria chamada da equivalência das condições
2. Entre as do primeiro grupo, a mais generalizadora é ou da conditio sine qua non. # _
;
a que considera como causa a soma de tôdas as condições. I Causa não é o conjunto individual das condiçoes, mas
! Não é uma delas, mas o conjunto de tôdas, atuando como um qualquer delas, desde que necessária à produção do resultado,
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complexo individual, que faz surgir o resultado. Não é o gesto uma vez que tôdas se equivalem, e pôr uma delas importa em
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do lavrador lançando a semente, argumenta-se, que faz nascer assumir um nexo causai com o resultado. Só em por essa con-
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a planta, mas ainda os atributos da própria semente, e o cli
ma, e a natureza do solo, e a água, e o sol, e os cuidados do
cultivo. O mesmo, e ainda mais expressivamente, nos fatos do
! dição, o
atuar do agente se fêz causa do fato cconido.
O decisivo é que sem essa condição o resultado não pu-
desse ocorrer como ocorreu. Que, eliminada mentalmeute a
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2> homem em sociedade, que se movem ao impulso de uma con- condição, desaparecesse do mesmo modo o resultado — o cha-
; I
mado processo hipotético de eliminação.1
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3 Não há uma causalidade própria do domínio jurídico. Causa i
lidade é um conceito lógico-naturalista que se aplica a tôda sorte de , Originária de v o n Bu r i , que cita como predecessor.es Kü s t l in ,
H fenômenos e assim, também aos fatos puníveis, que, afinal, se reali
; Be r n e r , Híl e c h k e r . . teoria d. egmjl*£-
' zam no mundo fenomênico. Apenas, no Direito, há têrmos precisos prestígio n. dontrin. “ o““ri”Í Sopremo (M-
entre os quais intervém a noção de causalidade, e que são a mani ::
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festação da vontade do homem e o resultado típico. A consideração
•do nexo causai precede os juízos de valor próprios da apreciação ju
maníia. onde tem se.vid dj^ ^ n>tél„ p,,nal. No mesmo sen-
tido devoi Zl S havia desenvolvido oseu^ conceito
^^ de ^causalidade
IjI se ins-
rídica. É um dado inicial, puramente objetivo, que nos diz apenas se
St u a r t MILL’ embTtrlTechl lin Lehrbuch, 3.* ed„ Berlim-Munique,
: c acontecer que iremos juridicamente considerar é OU não resultado pirou. V. Me z g e r ,
causai da vontade manifesta do homem. Por isso, ultrapassam o pro concepção análoga de Hü m e , v . Ba t t a g l in i, Di -
1949, pág. 113. Sôbre a !
blema da causalidade as teorias que incluem no seu conceito juízos
1í* >;' 1 do valor de relevância jurídica.
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310
d ir e it o pe n a l
A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 311
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Teoria da causalidade adequada
Na determinação da causalidade adequada, o que importa
é se há um nexo normal prendendo o atuar do agente como
4. Entre as teorias do segundo grupo, a que alcançou causa ao resultado como efeito. O problema se resume, então, ;
i
maior influência e hoje disputa com a da equivalência das em assentar se, conforme o demonstra a experiência da
! condições o apoio da maioria dos autoies é a oe causalidade vida, o fato conduz normalmente a um resultado dessa índole;
adequada. Causa é a condição que se mostra mais adequada se êsse resultado é conseqüência normal, provável, previsível i!
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DIREITO PENAL
312 A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 313
daquela manifestação de vontade do agente. O fundamento Assim, para essa teoria, o atuar do agente não deve ser
désse juízo é um dado estatístico, é um critério de probabili- simplesmente uma condição necessária, mas uma causa ade
dade. quada específica do resultado. Exclui-se o acidental imprevi- i
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Para fixar êsse juízo vários elementos foram propostos, a sível. Admite, assim, a teoria a extinção do primitivo nexo de
sugestão de v o n Kr ie s , de que o grau de probabilidade se apu i
: causalidade, quando uma condição extraordinária, imprevisí
rasse segundo a previsibilidade do próprio agente, foi afastada,
:
vel dê à corrente causai direção diversa e esta nova direção H
porque conduziria a confundir causalidade com culpabilidade. conduza ac resultado, que ocorre, assim, por um processo in
Adotou-se, então, o critério da chamada prognose objetiva pos sólito, que a experiência normal das coisas não permitia pre
terior. sugerido por Ma x Rü m e l in . o u . como diz v o n Lis z t e i
! ver.
hoje vem geralmente repetido, o critério da prognose póstuma. í A teoria da adequação, utilizando o critério da previsibili-
O decisivo é o curso normal da corrente causai que prende dade, transcende do domínio próprio da causalidade e penetra
;
a manifestação de vontade do sujeito ao resultado, previsível, no da responsabilidade penal. Como diz Ba t t a g l in i , introduz
não a priori pelo agente, mas ex-post pelo juiz. Para êsse ! um juízo de cálculo subjetivo, enquanto se trata apenas da
juízo hão-de ser consideradas tôdas as circunstâncias que se ! produção de um fenômeno.» Além disso, como pondera v o n
tenham manifestado na cadeia causai, não só as anteriores Lis z t , faz depender a solução do problema de um número 11-
e concomitantes ao fato, mas ainda as posteriores ou as que só mitado de pressupostos.
posteriormente foram conhecidas.
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Teoria
um resultado quando tenha sido condição do próprio resultado e, 5. Outra das teorias do segundo grupo é a de Bin d in g .
examinada em referência ao momento em que se desenvolveu, cons O grande dogmático alemão ordena as forças que influenciam
titua um perigo em relação à ocorrência do resultado (Gr is pig n i , Di- a produção de determinado fenômeno em dois grupos — o das
ritto italiano, II, cit., pág. 100-101; Gr is pig n i , II nesso causale nel di~ condições positivas, que se dirigem no sentido da produção do
ritto penale, em Revista italiana di diritto penale, 1935, págs. 3 .e
segs.). Nesse mesmo rumo de idéias se insere a teoria proposta pelo fenômeno, e o das condições negativas, que atuam no sentido
ilustre professor argentino Se b a s t iã o So l e r , a sua teoria da causa de impedi-lo. A condição que rompe o equilíbrio dessas forças
intelectualizada, segundo a qual se incluem no curso causai produzido sentido da ocorrência do fenômeno é
e decide do resultado no
pelo agente as conseqüências que razoavelmente deviam suceder, to o que êle chama causa.
mando-se em conta para o juízo do razoável o estado de coisas em
Causa será, assim, a última condição, última e decisiva.
;
que a ação foi empreendida, os cálculos feitos pelo próprio agente condicão que alcança preponderância sobre as outras.
í É esta a
sôbre o curso dos acontecimentos e os que razoàv.elmente devia fazer Daí a denominação de teoria da preponderância (Theone des
e\ P°r _fím, examinando-se o curso efetivamente seguido a ver se
nèle não existe algum acontecimento excepcional, fortuito e autô Vbergewicht) que ela recebeu.
nomo. Segundo essa teoria, a análise do problema obedecerá ao se- l
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gum e esquema, verificação da causalidade simples, conforme a teo- 66 tfe evidente tudo o que se refere
i
: evidente, acrescenta
ao Ba t tfazer
a g l in i , que
com 0 nex0 causai em sen-
na a equivalência, verificação do conteúdo normativo da figura ao elemento psíquico nada tem a , v
R Diritto penale, P. gen. cit., pag. no). v.
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se em conta os fatores objetivos e os subjeti-
tido objetivo (Ba t t a g l in i,
Lehrbuch, págs. 121-122; v o n Lis z t -Sc h mid t ,
: • Me z g e r , Strafrecht. Ein Der Aufbau der Verbrechensleh-
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i vpi • °S qualificados pelo resultado, possibilidade razoá-
Derechn vpvnjlmite í fortuito incalculável e incalculado (S. So l e r ,
Derecho penal argentino, I, Buenos Aires, 1945, págs. 323 e segs.
Lehrbuch, pág. 162; Gr a f zu Do h n a ,
re, pág. 19.
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I DIREITO PENAL
314 ; :
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que êsse elemento decisivo, verdadeiramente causai, não é uma : teoria da equivalência das condições. O que faz a teoria da
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condição qualquer, mas uma condição qualitativamente dis adequação não é determinar o nexo causai, mas a relevância )!
!
tinta — é o atuar voluntário do ser humano, que põe a serviço jurídica da condição — não resolve o problema da causali
: !
da sua deliberação as forças naturais, desdobrando-as, multi dade, mas o da responsabilidade penal.
Essa exigência de relevância Me z g e r formula sob o crité i
h;•, •* tr^u a s„rra adequada, Ma x Lu d w ig -Mü l l e r cons- ainda mais expressivamente o problema do nexo causai para
* b ITv IZZT ^ rel6VânCÍa ^ -eita entre ou- dentro da sua teoria da tipicidade.10 Não basta o caráter de
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. i da resnnnqavr í vi^rcc*uz 0 Pr°blema da causalidade no plano I
,4 ;
qLsi rL ní i h PfnaL ^ °S seSuid^s da doutrina, o » Me z g e r , ob. cit., pág. 122.
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quesito da causalidade propriamente dita se resolve só pela io Aliás Ma x Lu d w ig -Mü l l e r já havia formulado a sua teo- !
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:
I: ria em conexão com os tipos penais. Sôbre a posição de Be l in g , v .
Verbrechen, Tübingen, 1906, págs. 30 e 208;
TZnmatTleltZZio “nulla poena sine lege penale" nela deíer-
;i:
: V
; minazione âei concetti fondamentali ãi dintto penale em Giustizia
í penale, 1931, págs. 12 e segs. da separata; Esquema de Derecho penal
eM.E.MAVER, Der allaemeinr rr» L , ’ pág' 121 ’ nota 67> (Grundzüge), trad. So l e r , págs. 36 e segs. Colaborando em uma
berg, 1923, pág. 144, nota 1 S deutschen Strafrechts, Heidel- \ ria da relevância, também En g is c h , que, partindo da teoria da equi-
valência, se vale para completá-la do que êle chamou a formula da
Hcmges im des Kausalzusammen- I fazer ou não fazer do
; agente^deve^onter emí a^rovo^ação do perigo do resultado (En -
Strafrecht. Ein Lehrbuch, § i5> Iv tzrecht> Tübingen, 1912; Me z g e r , i
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DIREITO PENAL
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317
A RELAÇAO DE CAUSALIDADE
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conditio sine qua non que o atuar do sujeito apresente. O de i
cisivo é que seja capaz de gerar a figura delituosa típica da é essencialmente lógico-naturalista.11 A relação causai de
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senvolve-se dentro da ação naturalisticamente consideiada e
i
lei penal. O problema da causalidade, para êle, só se pode re í
solver sob a inspiração da parte especial do Código, em con fundamenta apenas, pràticamente, a existência de deter ; í
fronto com cada uma das figuras de crime. O que há a dis minada ação — comportamento e resultado — como fisica
tinguir é se o atuar do agente corresponde à ação caracterís ■
mente imputável ao agente, ação que poderá servir de supoxte
tica que determina a figura típica, se êsse atuar se ajusta ou
;
■
aos atributos-valores do conceito do crime, Mas em si mesma 1
não ao tipo legal. a relação causai não importa em nenhum juízo de caráter ju- l ;
i
rídico-penal. Êste só virá depois que se tenha verificado na U
Nesse rumo, Be l in g , na realidade, põe fora de cogitacão o
i- problema da causalidade em seu sentido próprio. Afasta a
i
ação a presença das características da tipicidade, antijuridici- u
;• dade e culpabilidade. O comportamento do agente pode ser |<
possibilidade de um princípio unitário que reja a matéria e
naturalisticamente causai em relação ao resultado e escapar a
■
1
I' subordina a exigência da causalidade a uma norma objetiva ação do Direito Penal por não ser típico, ou não ser antijun-
de Direito. Alas o certo é que êle não resolve nem anula o
dico, ou nao ser culpável. É claro, assim, que nem todo curso
problema, que do mesmo modo que se distingue do da culpa
I causai é relevante para o Direito, mas somente aquêle em que
bilidade, é perfeitamente distinto do da tipicidade.
a ação praticada pelo sujeito se reveste das características do
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DIREITO PENAL
A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 319
que é razoável admitir, impondo a fixação de uma cadeia cau anterior do agente. Não colabora com êsse fato inicial. A
sai pràticamente absurda. partir da sua incidência, o processo causai passa a ser intei
: Dificuldades surgem sobretudo quando na linha causai ramente outro e o indivíduo vem a morrer de maneira comple
iniciada pelo comportamento do agente interfere outra con tamente diversa daquela que resultaria do golpe que o agente
dição que se sobrepõe à primeira, conduzindo os fatos, por ca vibrou. A condição interferente torna-se uma causa necessá-
minho diferente, até o resultado. Se a nova condição se apre ria e suficiente para determinar o resultado nas condições em
:
É senta como de todo independente da anterior, abrindo novo ;
;
que ocorreu, sem ser preciso levar além a investigação e fazer
i.
curso causai, que chega ao resultado por sua própria força, i valer ainda a condição inicial posta pelo agente, condição que,
II i:
então é evidente que a primeira condição já não figura no aliás, não conduziria os acontecimentos segundo a linha em
processo. O homem, gravemente alcançado por um golpe do ! que de fato êles ocorreram. Seria como se praticássemos a
;
seu adversário, segue para casa através da floresta e é ful regressão infinita na série causai, desnecessária para funda-
I: minado por um raio; o barqueiro ferido morre, não dos feri :
■
mentar a causalidade do resultado ocorrido. Aquêle trecho
mentos, mas por soçobrar o barco em meio a um temporal. ! do curso causai que nos interessa, compreendido entre o fazer
; !
: Então, o resultado, absolutamente independente do fato do a- ou não fazer do agente e o resultado, sem consideração das
gente, já não pode relacionar-se a êste como à sua causa. A condições antecedentes ou das ocorrências posteriores que têm
.
êste mesmo resultado por condição, reduz-se, então, ao espaço
N supressão em pensamento do fazer do agente não faria desa
parecer necessàriamente o resultado. contido entre a nova condição interferente no processo e o
fj! Mais complexo é o caso em que a nova condição, condu
acontecer final. O que interessa é saber se êste trecho se ex
' í!•;:í; plica suficientemente, se a nova condição basta, sem recorrer
zindo, embora, ao resultado por um desvio do curso causai, se
M: : insere na linha de causalidade provocada pelo agente — como
à condição anterior posta pelo agente, para explicar o resul
tado. Se assim é, a condição inicial apaga-se para a nossa
i
ocorre nos seguintes exemplos clássicos: o ferido vem a mor consideração e o ciclo causai se fecha entre a nova condição
i
: ■ rer, não por fôrça dos ferimentos, mas pelo acidente de trá-
e o resultado ocorrido.
fego, na ambulância que o transporta ao pôsto de assistência* Aí termina o problema da causalidade pura e simples.
ou no incêndio que consome o hospital a que se recolhera em Depois é que virá a consideração da responsabilidade penal,
:
1
ÜT tiatamento, ou intoxicado por ação de uma droga, que, por onde representa o papel de maior relevância a culpabilidade.1-
engano, lhe administrou a enfermeira. Argumenta-se então:
se não fosse o atuar criminoso do agente, a vítima não iria ao 12 Mguns autores têm procurado na culpabilidade um critério
pôsto de assistência ou ao hospital e não viria a morrer no aci
t
dente da ambulância, ou no incêndio, ou pelo veneno. Elimi
: nada em pensamento a condição posta pelo agente, desaparece
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EiÜ em conseqüência a possibilidade do resultado.
Devemos observar, entretanto, v.
i chiscen Strafrechts, I. Viena, 1933, pág. 71. Mas então Ja nao e da
causalidade que s.e está tratando, mas das suas consequências em
relação à responsabilidade penal. Note-se que Me z g e r que fala em
! que, na hipótese, há radi
: cal transformação da corrente causai, culpabilidade na matéria da relação causai, nao a mclui como fator
■i que toma novo rumo e
i;i conduz ao resultado em circunstâncias diversas daquelas a limitativo na causalidade, mas a apresenta como pressuposto da pu-
H: que
. conduziria o comportamento do agente. O nova condição
nibilidade em concorrência com o nexo causai e a relevância (Lehr-
buch. pág. 122). Mas é claro que, assim, se adianta um problema que
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COm° Se ^01 si s° viesse a produzir o resultado, indepen nada tem a ver propriamente com a causalidade. Observe-se amda
§ dentemente, embora só em aparência, do fazer ou não fazer \
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320 A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 321
Mas então já é outro o problema, e é sempre interessante para A punibilidade da omissão é outro problema, cuja solução
a dogmática pôr uma linha de distinção entre eles. depende da comprovação da concorrência dos outros elemen-
tos do fato punível, a partir da antijuridicidade, resultante do
A causalidade na omissão
dever jurídico de agir, que incumbia ao omitente.
8. A omissão é causai em relação ao resultado quando, se O nexo d© causalidade
o omitente tivesse praticado a ação omitida, o resultado não n o Código Penal
teria ocorrido, isto é, dentro do raciocínio fundamental da con-
áitio sine qua non, quando não se possa conceber como reali 9. O nosso Código resolveu expressamente o problema da
zada a ação omitida sem que desde logo desapareça o resul- causalidade, consagrando um dispositivo à matéria.
O sistema do Código é construído sobre a teoria da equiva
tado.13
deutschen Strafrecht, pág. 60; Ma u r a c h , Grundriss des Strafrechts. de v o n Lis z t -Sc h m id t (Lehrbuch, págs. 163 e segs.) e Ge r l a n b (Deu-
Allg. T., pág. 52; Ne l s o n Hu n g r ia , Comentários ao Código Penal, I, tsches Reichsstrafrecht, 2.a ed„ Berlim, 1932, pág. 164) podemos
Rio de Janeiro, 1949, pág. 242; Ne l s o n Hu n g r ia , As concausas e a cau | juntar, na Itália, Gr is pig n i , que julga absurdo falar, do ponto de vis-
salidade por omissão perante o novo Código Penal, em Revista Foren i ta naturalista, de uma causalidade da omissão. A omissão, para ele,
se, 1942, págs. 851 e segs. Por muito tempo recusou-se a doutrina a é só uma causa normativa do resultado (Gr is pig n i , Diritto penale, II,
admitir um nexo causai ení referência à omissão idêntico ao vigente pág. 42). Nesse conceito normativo da causalidade na omissão têm
entre a ação e o resultado. Dominava o argumento de que “de nada insistido outros autores. Para Be t t io l , a eficácia causai da omissão
nada pode provir”, o que é verdadeiro somente, como observa v o n resulta, de que o omitente tinha o dever jurídico de agir para ímpe-
dir o resultado, como já era concepção de v o n Ba r . V. Be t t io l , Diritto
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—- A. B. I —
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DIREITO PENAL
\ 322
í A RELAÇAO DE CAUSALIDADE 323
. "S Causa é tôda conditio sine qua non: “considera-se causa tôda
condução ao hospital nem morte pelo acidente. A colisão en
ação ou emissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”
contra-se na série causai determinada pelo fato do agente, mas
(art. 11). O resultado é o têrmo final de uma cadeia de con !
não coopera com êste para o desenlace; inicia outra corrente
dições sucessivas ou concomitantes. O homem que concorre
de causalidade e de maneira por assim dizer autônoma, como
com uma dessas condições sob a forma de ação ou omissão re
se fosse por si só, produz o resultado.
puta-se ter produzido o resultado, desde que sem ela êste não
1
| pudesse ocorrer. Se a causa superveniente se encontra inteiramente fora
■
1 Não importa que outras causas se articulem na cadeia, ■
dessa corrente causai, se é absolutamente independente da
9 mesmo de maneira preponderante. Nem influi que essas con : ação do agente e, dêsse modo, determina o resultado, a situa
:: ção já está resolvida pelo dispositivo do próprio art. 11. Se B.
dições concorrentes sejam fatos naturais ou fatos humanos
í
<■
voluntários ou não, fatos do próprio agente ou de outrem, da é ferido e ao encaminhar-se para casa é fulminado por um
própria vítima inclusive. raio, não há relação causai alguma entre o ferimento e a mor
te. O ferimento não é conditio sine qua non do evento. O
No corpo do artigo, a teoria apresenta-se com tôda a am
h' R . I agressor responde, apenas, pelos fatos puníveis que tenha real
I! plitude que lhe é própria.
mente praticado, lesões corporais ou tentativa de homicídio.
Entretanto, o Código, sem haver admitido como comple
I a , mento nenhuma outra doutrina, criou no parágrafo único do O parágrafo único do art. 11 não resolve a hipótese de
■
> referido art. 11a limitação necessária à teoria da equivalência. causas antecedentes ou concomitantes. Estas só excluem o :
“A superveniência de causa independente”, diz o parágrafo, nexo causai iniciado pelo atuar do agente, se realmente por si
I “exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado”. sós determinam o resultado. Nesse caso se mostram absolu-
; !• i tamente independentes da ação ou omissão do sujeito. Acon
1 Mesmo então continua rigorosamente objetivo o caráter da
tece, então, como no exemplo de Ma g g io r e : B., que se encon-
I : .'5 |
causalidade no Código. Não interfere aí nenhuma condição
i :; de previsibilidade ou probabilidade do curso dos acontecimen tra em um barco, é ferido por A. e morre, não do ferimento,
mas porque soçobra o barco, que já vinha apresentando nc
í tos, como é essencial na teoria da causalidade adequada.
costado larga abertura, a que B., ferido ou não ferido, não po
Por si só não quer dizer independente da concorrência de
dería absolutamente remediar. A causa antecedente produz por
ií
i> qualquer outra condição, o que seria negar a realidade das
si só o resultado, desenvolvendo-se o curso causai até o even
1 coisas, tão bem expressa no princípio da equivalência das con-
to de maneira completamente independente. Mas, então, não
dições. Quer dizer apenas de maneira independente do fato
é por extensão do disposto no parágrafo único do art. 11 às
i do primeiro agente. E essa independência mesma há-de ser causas antecedentes ou concomitantes, que se resolve a hipó
apenas relativa. Na realidade, a causa superveniente de que
; !
tese; é por aplicação pura e simples do princípio contido no
. :
trata o citado parágrafo insere-se na linha de causalidade pro corpo do artigo: causa é a ação ou omissão sem a qual o re
i ui
■
h vocada pela ação ou omissão do sujeito; apenas dá nova dire sultado não teria ocorrido. No caso, o resultado ocorrería do
P ção ao curso dos acontecimentos e com isso atua como se inau mesmo modo sem a intervenção do agente. A ação do sujeito
m i
gurasse outra corrente causai, que por si só conduz ao resul não é uma conditio sine qua non do resultado. É diverso do
tado. É o caso do ferido que, em caminho para o hospital, que ocorre no exemplo do incêndio do hospital, O incêndio se
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morre na ambulância em conseqüência de uma colisão de veí
culos. A colisão que vitima o ferido é só relativamente inde
insere na cadeia causai do atuar do agente. Embora remota,
a ação do sujeito é uma condição do resultado. O que ocorre
!
: • pendente do fato do ferimento, porque sem êste não haveria
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DIREITO PENAL
324
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é que a causa superveniente é suficiente por si só para deter
5. minar o resultado e se incluir na hipótese do parágrafo.
Se a causa preexistente ou concomitante penetra na linha
. causai do fato do agente, concorre com êste, e êste será sem
H pre, assim, uma conditio sine qua non do resultado. A con-
causa, então, não modificará o nexo de causalidade criado pela
! manifestação da vontade do agente. Ocorre como no caso, CAPÍTULO XIV
I por exemplo, do hemofílico, do diabético, do portador de um
pneumatórax, em que a lesão se agrava e se faz mortal em ra A TIPICIDADE
: zão daquela situação concorrente anterior, que fica, entretan
1 to, sem influência sôbre o valor causai do fato do agente. A Tipo e iipicidade1
vítima não morreu de diabete ou de hemofilia, mas do feri
mento, agravado embora por uma dessas condições patoló 1. Quando a consciência jurídica impôs ao Direito Penal,
í i gicas. com o fim de segurança, a exigência de uma definição clara
I e precisa dos fatos em razão dos quais a sanção se aplicaria,
o meio criado pelos juristas para resolver êste problema capi
Si tal foi o tipo, isto é, a descrição exata das circunstâncias ele
' mentares do fato punível.
!'
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■í: 1 A teoria do tipo e da tipicidade, isto é, a elaboração dogmá
tica dêste importante elemento do conceito do crime, foi iniciada
!n propriamente por Be l in g , em Die Lehre vom Verbrechen, Tübingen,
% 1906. Antes disso, como acontece ainda em alguns autores modernos,
íí aparecia a figura do tipo, mas com um conceito amplo que abran
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gia o conjunto dos pressupostos da punibilidade, incluídos os elemen
§i tos do injusto e do culpável, e com tal amplitude de conceito não se
atingiam o sentido e a função própria da figura típica legal. Be l in g
:l! libertou o tipo dessa esdrúxula posição limitando-lhe o conceito e pondo
ií a tipicidade na dianteira entre os elementos do fato punível. O tema
foi retomado por outros autores, como M. E. Ma y e r , Der Allgemeine
rí;.-,li Teil des deutschen Strafrechts, 2.a ed., Heidelberg, 1923 (l.a ed., 1915),
págs. 89 e segs.; por Sa u e r , Grundlagen des Strafrechts, Berlim, 1921,
§ 13; por Eb h . Sc h m id t , no Lehrbuch, de v o n Lis z t , págs. 175 e segs. O
|y :'i próprio Be l in g veio a esclarecer e completar a sua teoria em Grund-
züge des Strafrechts, 11.a ed., Tübingen, 1906. V. Cl a s s , Grenzen des
i Tatbestandes, I (Straf. Abh., fase. 323), Breslau-Neukirch, 1933, págs.
R f ■ jn 10 e segs., e 68 e segs. Outra valiosa contribuição à elaboração do
tema foi trazida por Me z g e r . mas em verdade reduzindo o tipo a um
atributo do ilícito, estudando-o, no seu Lehrbuch, dentro da seção
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