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FICHAMENTO

IDEALISMO – GEORG HEGEL

A filosofia para poder abordar o conhecimento, deve acordar “sobre o


conhecer, o qual se considera ou um instrumento com que se domina o
absoluto, ou um meio através do qual o absoluto é contemplado”.

Essa colocação se dar por conta de haver diversos conhecimentos que


são precisos de cuidados. “Alguns poderiam ser mais idôneos que outros para
a obtenção do fim último, e por isso seria possível uma falsa escolha entre
eles. Há também outro motivo: sendo o conhecer uma faculdade de espécie e
de âmbito determinados, sem uma determinação mais exata de sua natureza e
de seus limites, há o risco de alcançar as nuvens do erro em lugar do céu da
verdade”.

“Esse cuidado chega até a transformar-se na convicção de que constitui


um contra-senso, em seu conceito, todo empreendimento visando conquistar
para a consciência o que é em si, mediante o conhecer; e que entre o conhecer
e o absoluto passa uma nítida linha divisória. Pois, se o conhecer é o
instrumento para apoderar-se da essência absoluta, logo se suspeita que a
aplicação de um instrumento não deixe a Coisa tal como é para si, mas com
ele traga conformação e alteração. Ou então o conhecimento não é
instrumento de nossa atividade, mas de certa maneira um meio passivo,
através do qual a luz da verdade chega até nós; nesse caso também não
recebemos a verdade como é em si, mas como é nesse meio e através dele”.

“O temor de errar introduz uma desconfiança na ciência, que, sem tais


escrúpulos, se entrega espontaneamente à sua tarefa, e conhece
efetivamente”.

“Essa consequência resulte de que só o absoluto é verdadeiro, ou só o


verdadeiro é absoluto”.
“Como o caminho da alma, que percorre a série de suas figuras como
estações que lhe são preestabelecidas por sua natureza, para que se possa
purificar rumo ao espírito, e através dessa experiência completa de si mesma
alcançar o conhecimento do que ela é em si mesma”.

“A consciência natural vai mostrar-se como sendo apenas conceito do


saber, ou saber não real”.

“A dúvida [que expomos] é a penetração consciente na inverdade do


saber fenomenal; para esse saber, o que há de mais real é antes somente o
conceito irrealizado”.

“A série de figuras que a consciência percorre nesse caminho é, a bem


dizer, a história detalhada da formação para a ciência da própria consciência”.

“O cepticismo que incide sobre todo o âmbito da consciência fenomenal


torna o espírito capaz de examinar o que é verdade, enquanto leva a um
desespero, a respeito de representações, pensamentos e opiniões
pretensamente naturais”.

“A consciência distingue algo de si e ao mesmo tempo se relaciona com


ele; ou, exprimindo de outro modo, ele é algo para a consciência. O aspecto
determinado desse relacionar-se - ou do ser de algo para uma consciência - é
o saber”.

“A consciência sabe algo: esse objeto é a essência ou o Em-si. Mas é


também o Em-si para a consciência; com isso entra em cena a ambiguidade
desse verdadeiro. Vemos que a consciência tem agora dois objetos: um, o
primeiro Em-si; o segundo, o ser-para-ela desse Em-si. Esse último parece, de
início, apenas a reflexão da consciência sobre si mesma: uma representação
não de um objeto, mas apenas de seu saber do primeiro objeto. Só que, como
foi antes mostrado, o primeiro objeto se altera ali para a consciência; deixa de
ser o Em-si e se toma para ela um objeto tal, que só para a consciência é o
Em-si. Mas, sendo assim, o ser-para-ela desse Em-si é o verdadeiro; o que
significa, porém, que ele é a essência ou é seu objeto. Esse novo objeto
contém o aniquilamento [nadidade] do primeiro; é a experiência feita sobre ele”.

“O saber que, de início ou imediatamente, é nosso objeto, não pode ser


nenhum outro senão o saber que é também imediato: - saber do imediato ou do
essente. Devemos proceder também de forma imediata ou receptiva, nada
mudando assim na maneira como ele se oferece, e afastando de nosso
apreender o conceituar”.

“A certeza, sensível aparece como a mais verdadeira, pois do objeto


nada ainda deixou de lado, mas o tem em toda a sua plenitude, diante de si”.

“Coisa é, e ela é somente porque é. A Coisa é: para o saber sensível


isso é o essencial: esse puro ser, ou essa imediatez simples, constitui sua
verdade. A certeza igualmente, enquanto relação, é pura relação imediata. A
consciência é Eu, nada mais: um puro este. O singular sabe o puro este, ou
seja, sabe o singular”.

“Nós denominamos um universal um tal Simples que é por meio da


negação; nem isto nem aquilo - um não-isto -, e indiferente também a ser isto
ou aquilo. O universal, portanto, é de fato o verdadeiro da certeza sensível”.

“Portanto, o puro ser permanece como essência dessa certeza sensível,


enquanto ela mostra em si mesma o universal como a verdade do seu objeto;
mas não como imediato, e sim como algo a que a negação e a mediação são
essenciais. Por isso, não é o que 'visamos' como ser, mas é o ser com a
determinação de ser a abstração ou o puro universal. Nosso 'visar', para o qual
o verdadeiro da certeza sensível não é o universal, é tudo quanto resta frente a
esses aqui e agora vazios e indiferentes”.

“Vemos, pois, nesse indicar só um movimento e o seu curso - que é o


seguinte:

1) indico o agora, que é afirmado como o verdadeiro; mas o indico como o-que-
já-foi, ou como um suprassumido. Suprassumo a primeira verdade, e:

2) agora afirmo como segunda verdade que ele foi, que está suprassumido.

3) mas o-que-foi não é. Suprassumo o ser-que-foi ou o ser-suprassumido - a


segunda verdade; nego com isso a negação do agora e retorno à primeira
afirmação de que o agora é”.

“O falar tem a natureza divina de inverter imediatamente o 'visar', de


torná-lo algo diverso, não o deixando assim aceder à palavra. Mas se eu quiser
vir-lhe em auxílio, indicando este pedaço de papel, então faço a experiência do
que é, de fato, a verdade da certeza sensível: eu o indico como um aqui que é
um aqui de outros aquis, ou que nele mesmo é um conjunto simples de muitos
aquis, isto é, um universal. Eu o tomo como é em verdade, e em vez de saber
um imediato, eu o apreendo verdadeiramente: [eu o percebo]”.

Em resumo, a consciência humana progride por meio de contradições e


superação delas. É por enfrentar desafios e conflitos que a consciência
humana se desenvolve e alcança estágios superiores de compreensão e
liberdade. Hegel traçou o processo da experiência da consciência que partindo
aparentemente do mais simples, a certeza sensível, se elevou ao saber
absoluto, chegando à Ciência, ao conceito. Eis a reconciliação do Espírito e
sua consciência.

HEGEL, Georg. Fenomenologia do Espírito. Trad. Paulo Meneses. 2. ed.


Petrópolis: Vozes, 1992. ISBN: 85-326-0687-3 (Introdução / Consciência – pp.
63 – 94).

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