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Artigos Revista Eletrônica Estudos Hegelianos

Ano 6, nº10, Junho-2009: 27-34

Sobre a (in)certeza sensível em Hegel

Ana Paula Repolês Torres1

RESUMO: Pretendemos demonstrar, através da análise da experiência da “certeza sensível”,


primeiro Capítulo da Fenomenologia do Espírito, a crítica que Hegel realiza a toda imediatez,
o que nos leva a ressaltar a relevância da negatividade, do ser-outro, em seu pensamento.

REVISTA ESTUDOS HEGELIANOS, Ano 6, Nº 10, JUN -2009


Buscamos também compreender, resgatando o legado platônico de Hegel, o que seja a unidade
dialética, isto é, a identidade da identidade e da diferença.

Palavras-chave: Negação, Mediação, Identidade, Diferença, Dialética.

ABSTRACT: Based upon the experience of “sensible certitude” in the first chapter of the Pheno-
menology of Spirit, we aim to demonstrate the critique of all kind of immediateness in Hegel’s
thought, what permit us to focus the relevance of negativity in his work. We also intend to
understand what means the dialectical unity, that is, the identity of identity and difference,
showing the platonic heritage of Hegel.

Keywords: Negativity, Mediation, Identity, Difference, Dialectic.

Introdução

A certeza sensível, primeira figura da consciência natural que apa-


rece na Fenomenologia do Espírito buscando provar, através de sua própria
experiência, seu critério de verdade, qual seja, a imediatez do conhecimen-
to, pode ser visualizada para além dela mesma, na medida em que o re-
conhecimento da mediação, do ser outro, do próprio processo dialético de
constituição do saber, que se torna manifesto nesse momento, pode ser tido
como paradigma para se pensar todos as demais figuras da consciência em
seu desenvolvimento posterior. Na verdade, o capítulo da certeza sensível
pode ser visto como uma crítica a toda imediatez, o que nos faz retornar
à certeza sensível quando chegamos ao final do caminho percorrido pela
consciência, pois o próprio saber absoluto, ao postular uma igualdade entre
sujeito e objeto, reconhece uma mediação nessa identidade.

Por outro lado, toda a questão religiosa que Hegel desenvolve já


no Prefácio da citada obra pode ser resgatada para se demonstrar a im-
portância que o trabalho do negativo, a dor, o desespero, o “calvário da
mediação”(HYPPOLITE, 1999, p. 97) assume em sua obra. De fato, para He-
gel, a substância teve que se tornar sujeito, Deus teve que se fazer homem
para retornar a si mesmo, em outros termos, o absoluto, o incondicionado,
não é alcançado de modo imediato por alguma intuição intelectual ou arte-
fato místico, é necessária a mediação do conceito, por isso não se pode mais
distinguir, tal como fazia Kant, o conhecer e o pensar, o entendimento e a
1. Doutoranda em Filosofia pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, bolsista
da FAPEMIG. Texto submetido em outubro de 2008 e aprovado em Maio de 2009.

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razão, pois o infinito está no finito, não sendo a Verdade algo a ser alcançado
no final do percurso, mas sim o próprio movimento do saber.

O Verdadeiro é o sujeito ou conceito, o que equivale a dizer que ele pró-


prio é esse movimento de tornar-se o que ele é, ou ainda de pôr-se a si
mesmo. O Verdadeiro não é, portanto, o imediato, mas a ‘imediatez-que-
veio-a-ser’ (HYPPOLITE, 1999, 96).

Se é uma necessidade da razão pensarmos o absoluto, Hegel nos


mostra que é o próprio absoluto que movimenta o pensar, que nos faz ir
além do dado, não aceitar os limites, nas palavras de José Henrique Santos,
trata-se da “pulsão de liberdade que o espírito é chamado a efetivar” (SAN-
TOS, 2007, p. 28). O absoluto então não significa saber tudo, a completude
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do conhecer, mas sim o seu devir permanente, a omnipresença do Tribunal


da razão, em outros termos, diríamos, em consonância com toda uma tradi-
ção que entende ser o saber filosófico inesgotável2, que a busca da verdade
já é a própria Verdade, que não há um sentido último a ser alcançado, nas
palavras de Slavoj Zizek, o saber absoluto é um buraco, “o vazio traumático
em torno do qual se articula o processo significante” (ZIZEK, 1991, p. 14).

Sobre a (in)certeza sensível

A certeza sensível é a primeira figura da consciência natural na qual


o sujeito ainda não se tornou o objeto da consciência (Consciência de si),
o objeto de conhecimento então é algo exterior, independente, mesmo que
nesse processo haja uma sucessão de experiências em que a consciência vai
gradativamente relacionando a Verdade do objeto (Em si) com seu próprio
Saber (Para si), até o momento em que a coisa em si kantiana é ‘exorcizada’,
passando então a consciência a se reconhecer em seu objeto de conheci-
mento. No início do processo de conhecimento, devemos afirmar então que
a consciência se constituiu como tal a partir da separação entre sujeito/
certeza e objeto/verdade, haja vista que “a alma que sente não se distingue
ainda de seu objeto” (HYPPOLITE, 1999, p. 99). O fato é que a consciência
separa o seu saber da verdade, postulando ainda uma igualdade, uma re-
lação imediata entre sujeito e objeto. Entretanto, a própria distinção entre
sujeito e objeto, um sendo essencial e outro não, como veremos em por-
menores ao analisar a seguir a experiência da certeza sensível, pode ser
vista como um desdobramento, como mediação, sendo esta, para Hegel, a
“diferença capital” (HEGEL, 2008, p. 86).

A certeza sensível acredita que seu saber é rico porque o “aqui” e o


“agora” podem abarcar qualquer dimensão do espaço ou momento do tem-
po, mas “para nós”, que estamos rememorando os passos da consciência

2. Leo Strauss sintetiza bem essa compreensão da atividade filosófica, cuja origem remonta à
Grécia antiga: “Philosophy is essentially not possession of the truth, but quest for the truth. The
distinctive trait of the philosopher is that ‘he knows that he knows nothing’, and that his insight
into our ignorance concerning the most important things induces him to strive with all his power
for knowledge” (STRAUSS, 1988, 11).

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natural, trata-se de um saber pobre já que impreciso, incapaz de deter-


minação. Ao tentar apreender o mais concreto, a certeza sensível cai num
universal, sendo levada a reconhecer uma multiplicidade no que entendia
unicamente singular. Vejamos quais são as experiências que a certeza sen-
sível realiza para tentar provar seu critério de saber.

Num primeiro momento, o objeto é o essencial, onde se situaria a


imediaticidade do saber, assim a certeza sensível realiza a experiência na
perspectiva temporal, a afirmação do agora como noite é refutada quando
se anota essa primeira verdade e se percebe que ela não permanece, que

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em outro momento o agora é dia; de modo semelhante, na perspectiva es-
pacial também ocorre um deslocamento, pois o “isto é uma árvore” não se
sustenta quando nos viramos e visualizamos o “isto é uma casa”. Dessa for-
ma, ao buscar alcançar o agora, a consciência natural depara-se com todos
os agoras, ao tentar capturar o aqui, ela se defronta, de modo semelhante,
com todos os aquis. Em outros termos, diríamos que a consciência natural
não consegue apreender o objeto em sua singularidade ao visá-lo como o
imediato, como aquilo que é, que permanece sempre o mesmo (referência
a Parmênides e Zenão que negam o movimento, afirmando o ser como re-
pouso), pois o que se consegue nessa busca é um universal, a ausência de
determinação.

Diante da frustração em captar o singular tendo o objeto como pa-


drão de imediaticidade, a consciência natural realiza uma inversão, o obje-
to passa a ser o inessencial e o sujeito/saber o essencial, trata-se de um
momento reflexivo em que a certeza sensível é recambiada ao Eu, mas não
ocorre aqui uma suprassunção, a imediatez ainda continua a ser o padrão
de medida. A certeza sensível ainda persevera em seu discurso, situando a
verdade não mais no objeto, mas no “meu” visar, no “meu” saber sobre o
objeto, ou seja, não se fala mais no “agora é noite” ou no “isto é uma ár-
vore” como algo que é em si, mas sim como um ser-para-mim. A certeza
sensível acredita, nessa segunda experiência, que o sujeito, na imediatez do
seu ver e ouvir, é o que permanece, é o que se mantém único, singular, no
desvanecer do agora e aqui. Hegel então refere-se implicitamente à tese do
homem-medida de Protágoras3 e à concepção de ciência como sensação dos
sofistas. “A verdade é aquilo que experimento imediatamente enquanto a
experimento” (HYPPOLITE, 1999, p. 109). Trata-se de uma concepção relati-
vista que nos leva a aceitar toda opinião como verdadeira, não obstante uma
se contrapor à outra, mas, como podemos apreender de Platão, não se trata
de uma verdadeira contradição, o que só seria possível pela afirmação da
possibilidade do falso4. Dessa forma, ao se tentar assegurar a singularidade
e credibilidade de cada saber, de cada Eu, o que a certeza sensível consegue
é o Eu como um universal.

3. Protágoras afirmava que “el hombre es la medida de todas las cosas; de las que son como
medida de su ser y de las que no son como medida de su no-ser”(PLATON, 1973, 52).
4. “Dizer que a opinião é sempre verdadeira significa dizer que o que importa é que aquilo que
aparece é experimentado de tal ou tal modo, suspendendo a possibilidade de dizer a verdade
compreendida como ‘dizer o ser’” (MARQUES, 2006, 120).

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O ‘visado’ pela certeza sensível, o eu singular, único, é negado então


seja pela existência de outro Eu ou seja pela consideração de mim mesmo
em outra ocasião. O fato é que a pluralidade dos eus nos faz já antever a
noção de Espírito hegeliana: “Este eu que é um nós, este nós que é um eu”
(HEGEL apud HYPPOLITE, 1999, p. 110). O gênero do outro, como podemos
apreender da leitura do Sofista de Platão, é universalmente participado, isto
é, o um está mediatizado por todos os outros, cada indivíduo é idêntico con-
sigo mesmo e outro em relação aos outros. Dessa forma, não obstante Hegel
se opor a qualquer tipo de dualismo, vemos que ele retoma o pensamento
platônico no que se refere à afirmação de que tanto o ser quanto o não-ser,
a identidade e a diferença, o repouso ou o movimento fazem parte do Ser.
“O múltiplo eleático é a negação absoluta do Ser-Uno. O múltiplo platônico
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é a posição de um ‘ser-outro’, que torna possível a unidade distinta de cada


Idéia” (VAZ, 2001, p. 50). Ressalte-se, todavia, que essa experiência da
unidade, o terceiro momento dialético, faz com que abandonemos a certeza
sensível, já que esta não reconhece a mediação do imediato, e passemos
para a figura da percepção.

Podemos ver, ainda no Capítulo sobre a certeza sensível, uma refe-


rência implícita a Aristóteles, quando o mesmo diz que a substância última,
o indivíduo sensível, concreto e singular sobre o qual recaem as predicações
só pode ser indicado pelo pronome demonstrativo - este homem, mas a pre-
tensão de mostrar o concreto, por ser realizado por meio do logos universal,
leva-nos à indeterminação, à indiferenciação5.

Dessa forma, como através do “isto” ou do “visar” a certeza sensível


não conseguiu apreender a singularidade, sendo a universalidade a verdade
de ambos, ela parte então para uma terceira experiência onde ainda defende
seu discurso, qual seja, da imediatez da verdade, sendo que esta não será
mais garantida pelo sujeito ou pelo objeto, mas sim pela relação que se
constitui entre eles. Não há que se falar mais nem mesmo em essencialidade
ou inessencialidade, negando assim a certeza sensível qualquer diferença,
qualquer movimento. Como podemos ver no texto da Fenomenologia do
Espírito, o eu “não se vira”, “não toma conhecimento de um outro Eu”, “não
compara”, “se atém firme a uma relação imediata: o agora é dia” (HEGEL,
2008, p. 90).

Hegel passa então a nos mostrar como a certeza sensível constitui


essa relação imediata entre sujeito e objeto, e será então ao nos indicar
essa relação que a própria certeza sensível irá topar com o movimento do
pensamento, a mediação que nega a sua própria verdade, forçando-nos a
passar então para a nova figura da consciência, a percepção. Temos então a
diferença entre o agora mostrado e o mostrar do agora, sendo que o primei-

5. Sobre o tema, interessantes são as seguintes palavras de Giorgio Agamben:“A cisão aristoté-
lica da ousia (que, como essência primeira, coincide com o pronome e com o plano de ostensão
e, como essência segunda, com o nome comum e com a significação) constitui o núcleo orig-
inário de uma fratura, no plano da linguagem, entre mostrar e dizer, indicação e significação,
que atravessa toda a história da metafísica e sem a qual o próprio problema ontológico perman-
ece informulável” (AGAMBEN, 2006, 34).

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ro deixa de ser quando é indicado. Podemos visualizar assim o movimento


dialético dessa indicação do agora: 1) O agora é – primeira verdade; 2) O
agora não é, foi, não-ser do agora – negação da primeira verdade; 3) O
agora é e não é – negação da negação, isto é, unidade da identidade e da
diferença.

Nesse terceiro momento dialético constatamos a superação da pró-


pria certeza sensível, pois a afirmação do agora não é mais imediata, o ago-
ra é algo“que permanece no ser-Outro o que ele é” (HEGEL, 2008, p. 91).
Podemos recordar, mais uma vez, do Sofista de Platão, onde se reconhece

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que o falso, o não-ser, a imagem, também é, mesmo não sendo verdadei-
ramente, o que nos leva a afirmar que o passar pelo seu ser-outro é funda-
mental para a constituição do aqui e do agora. Nesse sentido é que podemos
entender o ceticismo amadurecido de Hegel, pois a negação não significa um
“puro nada”, mas um “nada determinado” (HEGEL, 2008, p. 76), o que quer
dizer que toda determinação é negação e toda negação é determinação.

Hegel também realiza a experiência da imediaticidade na relação en-


tre sujeito e objeto na dimensão espacial, mas o aqui “visado”, imediato,
não se mantém, sendo também ele um “múltiplo ser-Outro”, pois quando
se indica este aqui, temos simultaneamente muitos outros aquis. Os termos
utilizados por Hegel: “complexo simples”, “pluralidade simples de agora” ,
“multiplicidade simples de aqui”, mostra a articulação de elementos opostos:
singular e universal, imediato e mediatizado, simples e múltiplo, ser e não
ser, positivo e negativo, coisa que a certeza sensível não admite, sendo en-
tão o resultado de sua experiência sua própria superação.

Ocorre que somos capazes, na medida em que rememoramos a ex-


periência da certeza sensível, de constatar algo que a consciência ingênua
não conseguia perceber, ou seja, resta clara “para nós” a existência de uma
incompatibilidade entre sua opinião, seu critério de verdade, qual seja, a
imediatez, e o resultado de sua própria experiência. A certeza sensível “quer
dizer” o imediato, mas o “dito”6 a destrói, ou seja, ao buscar o singular, a
certeza sensível alcança um universal, tornando o saber que se pretendia o
mais concreto, um saber abstrato, indeterminado.

A referência aos mistérios de Eleusis, de Ceres e de Baco, revela-


nos não só que o Espírito se presentifica pela aniquilação, negação, perda
da naturalidade, mas também que a impotência do espírito para alcançar o
singular não se deve à ele próprio, mas à própria natureza.
A verdade das coisas sensíveis é a contingência do desaparecimento que
toda a natureza celebra, ao contrário do espírito, que paira sobre os abis-
mos, acima de todo limite, porque ultrapassa tudo o que os sentidos ofe-
recem. A força do tempo não tem poder sobre o espírito (SANTOS, 2007,
p. 55).

6. “Hegel sabe, pois, que sempre dizemos demais ou de menos: em suma, algo diferente em
relação ao que queríamos dizer; é essa discordância que constitui a mola do movimento dialé-
tico, é ela que subverte toda proposição”(ZIZEK, 1991, 23).

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Em outros termos, diríamos que a natureza é sempre fugidia, sempre


procura ocultar-se, sendo que toda apreensão da mesma é manifestação do
Espírito, é transposição do dado, por isso Hegel busca “exorcisar” o objeto
como algo outro que a consciência, como o “Em si”, diríamos então que é
através do sacramento que o “comer o pão” e o “beber o vinho” podem
permanecer para além da imediaticidade, podem ser apreendidos após a
consumação do ato.

Para finalizar, diríamos, com Platão, que o Ser não pode ser alcan-
çado pelo logos, que discurso é imagem, “é algo de outro e semelhante
àquilo de que é imagem” (MARQUES, 2006, p. 325), dessa forma, a certeza
sensível se desdiz ao passar para o âmbito da linguagem, ou seja, ao falar
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do ser-aí dos objetos externos, visando captar a singularidade dos mesmos,


nada mais afirma do que a igualdade e não a diferença com relação aos
outros objetos. Este pedaço de papel é todo e qualquer papel. Portanto, é a
própria experiência da certeza sensível que nos leva para uma nova figura, a
percepção, em que a particularidade é apreendida através de articulação de
opostos, da singularidade e da universalidade, do imediato e do mediato.

Considerações finais

Podemos visualizar, nessa primeira figura da consciência natural, a


certeza sensível, todo o movimento dialético de suprassunção que se re-
produzirá em cada nova figura de manifestação do Espírito. Dessa forma,
seja na dialética do objeto, onde há o desvanescimento do objeto exterior
à consciência, seja na dialética do sujeito, onde a consciência passa a se
reconhecer no objeto que ela própria produz, tornando-se o conhecer um
reconhecer-se, o que temos é um processo de reflexão, de negação, em que
o “ser em si” não deixa de ser idêntico a si mesmo ao passar pelo “ser-ou-
tro”, na verdade, constatamos que a identidade só se alcança pela afirmação
da diferença, que a independência da consciência de si requer certa depen-
dência, requer o reconhecimento de outra consciência como um igual, nas
palavras de Hegel, a “consciência-de-si só alcança sua satisfação em outra
consciência- de-si”(HEGEL, 2008, p. 141).

Dessa forma, tal como Platão tenta conhecer o filósofo através da


“caça” a seu ser-outro, o sofista, Hegel mostra-se toda a trajetória na qual
a consciência percebe que a certeza de si mesma só será alcançada quando
ela se defrontar com outra consciência de si, quando ela não mais negar esse
ser-outro que é essencial para a constituição de sua própria identidade. Na
verdade, o que Hegel nos mostra é que até mesmo a nadificação do outro,
o torná-lo escravo, esbarra necessariamente na independência do objeto,
em outros termos, diríamos, com La Boétie, que toda servidão é voluntária,
pois uma consciência só consegue realizar na outra o que esta lhe permite
fazer.

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Ana Paula Repolês Torres

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