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INTRODUÇÃO [EINLEITUNG]
§73
[Es ist eine] Segundo uma representaç o natural, a iloso ia, antes de abordar a
Coisa mesma [die Sache selbst] — ou seja, o conhecimento efectivamente-real do
que em verdade — necessita primeiro de se p r de acordo sobre o conhecer, o
qual se considera ser ou um instrumento com que se domina o absoluto, ou um
meio atrav s do qual o absoluto contemplado.
Parece correcto esse cuidado, em parte por haver, possivelmente, diversos tipos de
conhecimento. Alguns poderiam ser mais id neos que outros para a obtenç o do
im ltimo, e por isso seria poss vel uma falsa escolha entre eles. Em parte tamb m
por outro motivo: sendo o conhecer uma faculdade de esp cie e de mbito
determinados, h o risco, se faltar uma determinaç o mais exacta da sua natureza e
dos seus limites, de se alcançarem as nuvens do erro em lugar do c u da verdade.
Nos dois casos, usamos um meio que produz imediatamente o contr rio do seu im;
melhor dito, o contra-senso est antes em recorrermos em geral a um meio. Sem
d vida, parece poss vel remediar esse inconveniente pelo conhecimento do modo-
de-actuaç o do instrumento, o que permitiria descontar no resultado a
contribuiç o do instrumento para a representaç o do absoluto que por meio dele
fazemos; obtendo assim o verdadeiro na sua pureza. S que essa correç o levar-
nos-ia, de facto, aonde antes est vamos. Ao retirar novamente de uma coisa
elaborada o que o instrumento havia operado nela, ent o essa coisa — no caso o
absoluto — ica para n s exatamente como era antes desse esforço, o qual foi,
portanto, in til. Se se tratasse de, atrav s do instrumento, fazer o absoluto chegar
at n s, como um passarinho atrav s da visgueira, sem que nada nele mudasse,
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ent o o absoluto, se n o estivesse e n o quisesse estar j connosco em si e para si,
zombaria desse artif cio [List]. Pois, nesse caso, o conhecimento seria um artif cio:
o artif cio de gerar a impress o de um esforço complexo para produzir algo
totalmente diverso disso: uma relaç o imediata e, por isso, uma relaç o que n o
exige esforço. Mas, se o exame do conhecer — aqui representado como um meio —
nos izesse conhecer a lei da refraç o de seus raios, de nada ainda nos serviria
descontar a refraç o no resultado. Com efeito, o conhecer n o o desvio do raio:
o pr prio raio, atrav s do qual a verdade nos toca. Ao subtra -lo, s nos restaria a
pura direcç o ou o lugar vazio.
§74
[Inzwischen, wenn die] O temor de errar introduz uma descon iança na ci ncia; sem
tais escr pulos, esta entrega-se espontaneamente sua tarefa, e conhece
efectivamente. Entretanto, deveria ser levada em conta a posiç o inversa: por que
n o cuidar de descon iar dessa descon iança, e n o temer que esse temor de errar
seja j o pr prio erro? De facto, esse temor de errar pressup e como verdade
alguma coisa ou, melhor, muitas coisas, que s o a base das suas reservas e
respectivas consequ ncias— coisas que necess rio examinar se s o verdade.
Pressup e, por exemplo, representações sobre o conhecer como um instrumento e
um meio e tamb m uma diferença entre nós mesmos e esse conhecer, mas sobretudo,
que o absoluto esteja de um lado e o conhecer de outro lado — para si e separado do
absoluto — e [que este], mesmo assim, seja algo real. Pressup e com isso que o
conhecimento, estando fora do absoluto, se encontre tamb m fora da verdade, e
contudo seja verdadeiro, uma suposiç o pela qual se d a conhecer que aquilo a
que se chama medo do erro , antes, medo da verdade.
§75
§76
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[Statt mit dergleichen] N o h raz o para nos atormentarmos com a busca de uma
resposta para estas representaç es in teis e estes modos de falar sobre o conhecer
como um instrumento para dominar o absoluto, ou como um meio atrav s do qual
v ssemos a verdade etc. S o relaç es que acabam por resultar em representaç es
de um absoluto separado do conhecer, ou de um conhecer separado do absoluto.
Nem h por que ocupar-se com subterf gios que, atrav s dos pressupostos
daquelas relaç es, tornem imposs vel a ci ncia, com o im de se livrar do esforço
que esta implica e, ao mesmo tempo, dar a impress o de levar a cabo uma
ocupaç o s ria e rigorosa.
Melhor seria rejeitar tudo isso como representaç es contingentes e arbitr rias; e
considerar um engano o uso — a isso unido — de palavras como “absoluto”,
“conhecer" e tamb m “objetivo” e “subjectivo” e in meros outras cuja signi icaç o
dada como geralmente conhecida. Com efeito, dar a entender, de um lado, que sua
signi icaç o universalmente conhecida, e, de outro lado, que se possui at mesmo
o seu conceito parece antes um esquivar-se tarefa principal — que fornecer
esse conceito [diesen Begriff zu geben]. Inversamente, poderia com mais raz o
ainda poupar-se o esforço de tais representaç es e modos de falar, mediante os
quais se descarta a pr pria ci ncia, pois constituem somente uma apar ncia oca do
saber, que desvanece imediatamente quando a ci ncia entra em cena.
No entanto, a ci ncia, pelo facto de entrar em cena, ela mesma uma apariç o
fenom nica [Erscheinung]: o seu entrar em cena n o ainda a ci ncia realizada e
desenvolvida na sua verdade. indiferente, neste ponto, se se representa a
apariç o fenom nica como sendo ciência — por esta entrar em cena ao lado de
outra coisa —, ou se se d a este outro saber n o-verdadeiro o nome de “o aparecer
da ci ncia”. Mas a ci ncia tem que se libertar desta apar ncia [Schein], e s pode
faz -lo voltando-se contra ela. Pois sendo esse um saber que n o verdadeiro, a
ci ncia nem pode apenas jog -lo fora — como vis o vulgar das coisas, garantindo
ser ela um conhecimento totalmente diverso, para o qual aquele outro saber n o
absolutamente nada — nem pode buscar nele o pressentimento de um saber
melhor. Atrav s de uma tal garantia [Versicherung], a ci ncia explicaria o seu ser
como se fosse a sua força; mas o saber n o-verdadeiro apela tamb m ao facto de
ele ser, e garante [versichert] que, para ele, a ci ncia n o nada. Um assegurar
rido [ein trockenes Versichern] vale tanto como qualquer outro.
Ainda menos pode a ci ncia apelar a um pressentimento superior, como aquele que
est [supostamente] presente no conhecer n o-verdadeiro, e que nele aquilo que
remete para a ci ncia; pois isso seria tamb m, de novo, apelar a um ser, e, por outro
lado, apelar a si mesma nos termos em que se encontra [supostamente] no
conhecimento n o-verdadeiro. Quer dizer, apelaria a um modo de iciente de seu
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ser, ou seja, sua apariç o fenom nica, mais do que a si mesma, como em si e
para si. Por essa raz o, deve ser aqui levada adiante a exposiç o da apariç o
fenom nica do saber [die Dartstellung des erscheinenden Wissens; mais letra: “a
exposiç o do saber que aparece”, muitas vezes traduzido como “o saber fenomenal”
ou “saber fenom nico”].
§77
[Weil nun diese] J que esta exposiç o tem por objeto exclusivamente a apariç o
fenom nica do saber [das erscheinende Wissen], n o parece ser ainda a ci ncia livre
movendo-se na sua igura peculiar. Deste ponto de vista, ela s pode ser tomada
como o caminho da consci ncia natural [das natürliche Bewußtsein] rumo ao saber
verdadeiro, ou ent o como o caminho da alma, que percorre a s rie de suas iguras
como estaç es que lhe s o preestabelecidas pela sua natureza, para que se possa
puri icar rumo ao esp rito, e atrav s dessa experi ncia [Erfahrung] completa de si
mesma alcançar o conhecimento do que ela em si mesma.
§78
Pelo contr rio, a d vida [que expomos] o tomar consci ncia da evid ncia da
inverdade da apariç o fenom nica do saber [die bewußte Einsicht in die Unwahrheit
des erscheinenden Wissen]; para este saber, o que h de mais real nada mais , na
verdade, do que o conceito n o realizado [der nichtrealisierte Begriff]. Este
cepticismo que se consuma a si mesmo [dieser sichvollbringende Skeptizismus], n o
, pois, o que um zelo severo pela verdade e pela ci ncia tem a ilus o de ter
aprontado e aparelhado para elas, a saber: o propósito de n o se entregar na
ci ncia autoridade do pensamento alheio, e seguir apenas a sua pr pria
convicç o; ou melhor ainda: tudo produzir por si mesmo, e s ter o seu pr prio
acto como [sendo] o verdadeiro.
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A s rie de iguras que a consci ncia percorre nesse caminho , a bem dizer, a
hist ria detalhada da aprendizagem cultural [Bildung] que faz da pr pria
consci ncia ci ncia. Aquele “prop sito” apresenta essa formaç o sob o modo
simples de um prop sito, como imediatamente feita e sucedida. Mas este caminho
[da formaç o cultural] , por contraposiç o, a concretizaç o efectivamente-real.
Seguir a sua pr pria convicç o , em todo o caso, bem melhor do que abandonar-se
autoridade; mas com a mudança do crer na autoridade para o acreditar na
pr pria convicç o, n o ica necessariamente mudado o conte do mesmo; nem a
verdade introduzida em lugar do erro. A diferença entre permanecer no sistema
da opini o [Meinen] e do preconceito apoiando-se numa autoridade alheia ou
irmando-se na pr pria convicç o est apenas na vaidade que reside nesta segunda
maneira. Pelo contr rio, o cepticismo que incide sobre todo o mbito da apariç o
fenom nica da consci ncia [des erscheinenden Bewußtseins] o que torna o esp rito
capaz de examinar a verdade, pois leva a um desespero a respeito das
representaç es, pensamentos e opini es pretensamente naturais. irrelevante
chamar a tais representaç es pr prias ou alheias: enchem e prendem a
consci ncia, que procede a examinar directamente [a verdade], mas que por causa
disso mesmo de facto incapaz de fazer o que pretende fazer.
§79
§80
[Das Ziel aber ist] Mas a meta [Ziel] pertence t o necessariamente ao saber como a
s rie da progress o. A meta existe onde o saber n o necessita de ir al m de si
mesmo, onde se encontra a si mesmo, onde o conceito corresponde ao objeto e o
objeto ao conceito.
Portanto, esta viol ncia que a consci ncia sofre — de ser arruinada toda a sua
satisfaç o limitada [beschränkte Befriedigung]— vem de si mesma. No sentimento
desta viol ncia, a ang stia perante a verdade pode recuar e tentar salvar o que est
ameaçada de perder. Mas n o poder achar sossego [Ruhe]: se quer icar numa
in rcia carente-de-pensamento, o pensamento perturba a car ncia-de-
pensamento, e o seu desassossego [Unruhe] estorva a in rcia. Ou ent o, caso se
apoie no sentimentalismo [Emp indsamkeit], que garante considerar que tudo
bom a seu modo, esta garantia [Versicherung] sofre igualmente viol ncia por parte
da raz o, que considera que algo n o bom justamente por ser considerado bom
de um certo modo. Ou seja: o medo da verdade poder ocultar-se de si e dos outros
por tr s da apar ncia de que um zelo ardente pela verdade, que lhe torna dif cil e
at imposs vel encontrar outra verdade que n o aquela que vem da vaidade de ser
sempre mais arguto que qualquer pensamento que se possua vindo de si mesmo
ou de outros. Esta vaidade, que capaz de tornar v toda a verdade, que sabe, com
base nisso, retornar a si mesma e deliciar-se no seu pr prio entendimento, n o
sabe fazer outra coisa sen o dissolver sempre todo o pensamento e, no lugar de
todo o conte do, achar apenas o seu rido Eu. Esta uma satisfaç o [Befriedigung]
que deve ser abandonada a si mesma, pois foge ao universal e procura apenas o
Ser-para-si [Fürsichsein].
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§81
[Wie dieses vorläu ig] Dito isto, de forma preliminar e geral, sobre o modo e a
necessidade da progress o, pode ser til mencionar algo sobre o método do
desenvolvimento [Ausführung]. Parece que esta exposiç o, representada como um
procedimento da ciência em relaç o aparição fenoménica do saber e como
investigação e exame [Prüfung] da realidade do conhecer, n o se pode efetuar sem
um certo pressuposto colocado na sua base como padrão de medida [Maßstab].
Pois o exame consiste em aplicar ao que examinado um padr o aceite, para
decidir, conforme a igualdade ou desigualdade resultante, se a coisa est correta ou
incorreta. A medida em geral, e tamb m a ci ncia, se for a medida, s o tomadas
como a essência ou como o em si. Mas aqui, onde a ci ncia est ainda a surgir pela
primeira vez, nem ela nem seja o que for pode ser justi icado como a ess ncia ou o
em si. Ora, sem isso, parece n o poder ocorrer exame algum.
§82
N s, por m, distinguimos desse ser para um outro [Sein für ein anderes] o ser-em-si
[Ansichsein]; o que relacionado com o saber tamb m se distingue dele e posto
como ente [seiend], mesmo que fora dessa relaç o: o lado desse em-si [Ansich]
chama-se verdade. O que est propriamente nestas determinaç es n o nos diz
respeito aqui; pois na medida em que o nosso objeto a apariç o fenom nica do
saber [das erscheinende Wissen], as suas determinaç es s o tamb m tomadas aqui
como imediatamente se apresentam; e sem d vida que o modo como foram
apreendidas o modo como se apresentam.
§83
§84
[Aber die Natur] Mas a natureza do objeto que investigamos ultrapassa esta
separaç o, ou essa apar ncia de separaç o e de pressuposiç o. A consci ncia
fornece, em si mesma, o seu pr prio padr o de medida [Maßstab], e assim a
investigaç o torna-se uma comparaç o de si consigo mesma, j que a distinç o que
acaba de ser feita reside na pr pria consci ncia.
§85
[Aber nicht nur] Deste lado, em que o conceito e o objeto, o padr o de medida e o
que deve ser testado, est o presentes na pr pria consci ncia, sup r luo qualquer
aditamento nosso. Mas, al m disso, tamb m somos poupados ao esforço de
comparar os dois, o esforço do exame propriamente dito, pois, na medida em que a
consci ncia se examina a si mesma, tamb m deste outro lado s nos resta o puro
observar.
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Com efeito, a consci ncia, por um lado, consci ncia do objeto; por outro,
consci ncia de si mesma: consci ncia do que verdadeiro para ela, e
consci ncia de seu saber sobre isso. Enquanto ambos [i.e. o verdadeiro e o saber
sobre o verdadeiro] s o para a mesma consciência, ela mesma a sua comparaç o:
para si mesma que o seu saber do objeto corresponde ou n o a esse objeto.
O objeto parece, de facto, para a consci ncia, ser somente tal como ela o conhece.
Parece tamb m que a consci ncia n o pode chegar ao que h por detr s do objeto,
[para ver] como ele , não para ela, mas sim em si mesmo; e que, portanto, tamb m
n o pode examinar o seu saber no objeto. Mas justamente porque a consci ncia
sabe em geral sobre um objeto, j est dada a distinç o entre [um momento de]
algo que , para a consciência, o em-si, e um momento que o saber ou o ser do
objeto para a consci ncia. O exame baseia-se nessa distinç o, que uma distinç o
dada. Caso os dois momentos n o se correspondam nessa comparaç o, parece que
a consci ncia deve ent o mudar o seu saber para o adequar ao objeto. Por m, na
mudança do saber, de facto muda tamb m para ele o objeto, pois o saber presente
era essencialmente um saber do objeto; junto com o saber, o objeto torna-se
tamb m um outro, pois pertencia essencialmente a esse saber.
Assim, veri ica-se para a consci ncia que aquilo que antes era o em-si n o em si
— ou seja, s era em si para ela. Quando, portanto, a consci ncia descobre no seu
objeto que o seu saber n o lhe corresponde, tampouco o objeto se mant m irme.
Quer dizer, o padr o de medida do exame modi ica-se quando o objeto — que
deveria ser o padr o de medida— reprova no exame. O exame n o s um exame
do saber, mas tamb m de seu padr o de medida.
§86
[Diese dialektische Bewegung] Esse movimento dialéctico que a consci ncia exercita
em si mesma, tanto no seu saber como no seu objeto, enquanto de tal movimento
surge o novo objeto verdadeiro para a consci ncia, justamente aquilo a que se
chama experiência [Erfahrung]. Em relaç o a isso, no processo acima considerado
h ainda que ressaltar um momento por meio do qual ser lançada nova luz sobre
o aspecto cient ico da exposiç o que vem a seguir. A consci ncia sabe algo: esse
objeto a ess ncia ou o em-si; mas este tamb m o em-si para a consci ncia; com
isso entra em cena a ambiguidade deste verdadeiro. Vemos que a consci ncia tem
agora dois objetos: um, o primeiro em-si; o segundo, o ser-para-ela desse em-si.
Este ltimo parece, de in cio, apenas a re lex o da consci ncia sobre si mesma: uma
representaç o n o de um objeto, mas apenas de seu saber do primeiro objeto. S
que, como foi antes mostrado, o primeiro objeto, nesse processo, altera-se para a
consci ncia; deixa de ser o em-si e torna-se para ela um objecto que s para ela
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em-si. Mas, sendo assim, o ser-para-ela desse em-si o verdadeiro; o que signi ica,
por m, que ele a ess ncia, ou o seu objeto. Este novo objeto cont m o
aniquilamento [Nichtigkeit] do primeiro; a experi ncia que se fez dele.
§87
Mas, do ponto de vista que foi exposto, o novo objeto mostra-se como tendo vindo
a ser mediante uma reversão [Umkehrung] da consciência mesma. Essa
consideraç o da Coisa um aditamento nosso, por meio da qual a s rie das
experi ncias se eleva condiç o de um progresso [Gang] cient ico; e que uma
consideraç o que n o existe para a consci ncia que n s examinamos. De facto,
por m, ocorre a mesma situaç o j vista acima, quando referimos a relaç o desta
exposiç o com o cepticismo: a saber, o resultado que, de cada vez, prov m de um
saber n o verdadeiro n o deve desaguar num nada vazio, mas tem de ser
apreendido necessariamente como o nada daquilo de que resulta: um resultado que
cont m o que o saber anterior possui em si de verdadeiro.
§88
§89
[Die Erfahrung] A experi ncia que a consci ncia faz de si mesma n o pode
compreender nela, segundo seu conceito, nada menos que o sistema completo da
consci ncia, ou o reino total da verdade do esp rito, de tal modo que os seus
momentos s o expostos nesta determinidade peculiar — a de n o serem
momentos abstratos ou puros, mas sim tais como s o para a consci ncia, ou tais
como a consci ncia aparece na sua relaç o com eles; por isso os momentos do todo
são iguras da consciência [Gestalten des Bewußtseins].
A consci ncia, ao abrir caminho rumo sua verdadeira exist ncia [wahre Existenz],
vai atingir um ponto onde se despojar da sua apar ncia [Schein]: a de estar presa
a algo estranho [Fremdartiges], que s para ela [für es], e que como um outro.
Nesse ponto, a apariç o fenom nica [Erscheinung] torna-se igual ess ncia
[Wesen], de modo que, em tal ponto, a sua exposiç o coincide exatamente com a
aut ntica ci ncia do esp rito; e inalmente, ao apreender isto, ou seja, a sua
verdadeira ess ncia, a consci ncia signi icar a natureza do pr prio saber absoluto.
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186- [Das Selbstbewusstsein] De in cio, a consci ncia-de-si ser-para-si simples,
igual a si mesma mediante o excluir de si todo o outro. Para ela, sua ess ncia e
objeto absoluto o Eu; e nessa imediatez ou nesse ser de seu ser-para-si [um]
singular. O que Outro para ela, est como objeto inessencial, marcado com o sinal
do negativo. Mas o Outro tamb m uma consci ncia-de-si; um indiv duo se
confronta com outro indiv duo. Surgindo assim ime- diatamente, os indiv duos s o
um para outro, maneira de objetos comuns, iguras independentes, consci ncias
imersas no ser da vida - pois o objeto essente aqui se determinou como vida. S o
consci- ncias que ainda n o levaram a cabo, uma para a outra, o movi- mento da
abstraç o absoluta, que consiste em extirpar todo ser imediato, para ser apenas o
puro ser negativo da consci ncia igual-a-si-mesma. Quer dizer: essas consci ncias
ainda n o se apre- sentaram, uma para a outra, como puro ser-para-si, ou seja,
como consci ncias-de-si. Sem d vida, cada uma est certa de si mesma, mas n o da
outra; e assim sua pr pria certeza de si n o tem verdade nenhuma, pois sua
verdade s seria se seu pr prio ser-para-si lhe fosse apresentado como objeto
independente ou, o que o mesmo, o objeto [fosse apresentado] como essa pura
certeza de si mesmo. Mas, de acordo com o conceito do reconhecimento, isso n o
poss vel a n o ser que cada um leve a cabo essa pura abstraç o do ser-para-si: ele
para o outro, o outro para ele; cada um em si mesmo, mediante seu pr prio agir, e
de novo, mediante o agir do outro.
Devem travar essa luta, porque precisam elevar verdade, no Outro e nelas
mesmas, sua certeza de ser-para-si. S mediante o p r a vida em risco, a liberdade
[se conquista]; e se prova que a
ess ncia da consci ncia de-si n o o ser, nem o modo imediato como ela surge,
nem o seu submergir-se na expans o da vida; mas que nada h na consci ncia-de-
si que n o seja para ela momento evanescente; que ela somente puro ser-para-si.
O indiv duo que n o arriscou a vida pode bem ser reconhecido como pessoa; mas
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n o alcançou a verdade desse reconhecimento como uma consci- ncia-de-si
independente. Assim como arrisca sua vida, cada um
deve igualmente tender morte do outro; pois para ele o Outro n o vale mais que
ele pr prio. Sua ess ncia se lhe apresenta como um Outro, est fora dele; deve
suprassumir seu ser-fora-de-si. O Outro uma consci ncia essente e de muitos
modos enredada; a consci- ncia-de-si deve intuir seu ser-Outro como puro ser
para-si, ou como negaç o absoluta.
Mediante a morte, sem d vida, veio-a-ser a certeza de que ambos arriscavam sua
vida e a desprezavam cada um em si e no Outro; mas essa [certeza] n o para os
que travam essa luta. Suprassumem sua consci ncia posta nesta essencialidade
alheia, que o ser a natural, ou [seja], suprassumem a si mesmos, e v m-a-ser
suprassumidos como os extremos que querem ser para si. Desvanece por m com
isso igualmente o momento essencial nesse jogo de trocas: o momento de se
decompor em extremos de
determinidades opostas; e o meio termo coincide com uma unidade morta, que se
decomp e em extremos mortos, n o opostos, e apenas essentes. Os dois extremos
n o se d o nem se recebem de volta, um ao outro reciprocamente, atrav s da
consci ncia; mas deixam um ao outro indiferentemente livres, como coisas. Sua
operaç o a negaç o abstrata, n o a negaç o da consci ncia, que suprassume de
tal modo que guarda e mant m o suprassumido e com isso sobrevive a seu vir-a-
ser-suprassumido.
189 - [In dieserErfahrung] Nessa experi ncia, vem-a-ser para a consci ncia-de-si
que a vida lhe t o essencial quanto a pura consci ncia-de-si. Na consci ncia-de-si
imediata, o Eu simples o objeto absoluto; que no entanto para n s ou em si a
mediaç o absoluta, e tem por momento essencial a independ ncia subsistente.
190- [Der Herr ist] O senhor a consci ncia para si essente, mas j n o apenas o
conceito dessa consci ncia, sen o uma consci ncia para si essente que
mediatizada consigo por meio de uma outra consci ncia, a saber, por meio de uma
consci ncia a cuja ess ncia pertence ser sintetizada com um ser independente, ou
com a coisidade em geral. O senhor se relaciona com estes dois momen- tos: com
uma coisa como tal, o objeto do desejo, e com a consci ncia para a qual a coisidade
o essencial. Portanto, o senhor:
para o senhor, atrav s dessa mediaç o, a relaç o imediata vem-a- ser como a pura
negaç o da coisa, ou como gozo - o qual lhe consegue o que o desejo n o conseguia:
acabar com a coisa, e aquietar-se no gozo. O desejo n o o conseguia por causa da
independ ncia da coisa; mas o senhor introduziu o servo entre ele e a coisa, e
assim se conclui somente com a depend ncia da coisa, e puramente a goza;
enquanto o lado da independ ncia deixa-o ao servo, que a trabalha.
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191 - [In diesen beiden] Nesses dois momentos vem-a-ser para o senhor o seu Ser-
reconhecido mediante uma outra consci- ncia [a do servo]. Com efeito, essa se p e
como inessencial em ambos os momentos; uma vez na elaboraç o da coisa, e outra
vez, na depend ncia para com um determinado ser-a ; dois momentos em que n o
pode assenhorar-se do ser, nem alcançar a negaç o absoluta. Portanto, est aqui
presente o momento do reconhe- cimento no qual a outra consci ncia se
suprassume como ser-para- si, e assim faz o mesmo que a primeira faz em relaç o a
ela. Tamb m est presente o outro momento, em que o agir da segunda consci-
ncia o pr prio agir da primeira, pois o que o servo faz justamente o agir do
senhor, para o qual somente o ser-para-si, a ess ncia: ele a pura pot ncia
negativa para a qual a coisa nada, e tamb m o puro agir essencial nessa relaç o.
O agir do servo n o um agir puro, mas um agir inessencial.
Mas, para o reconhecimento propriamente dito, falta o mo- mento em que o senhor
opera sobre o outro o que o outro opera sobre si mesmo; e o servo faz sobre si o
que tamb m faz sobre o Outro. Portanto, o que se efetuou foi um reconhecimento
unilateral e desigual.
194- [Wir sahen nur] Vimos somente o que a servid o em relaç o dominaç o.
Mas a consci ncia servil auto-consci ncia, e importa considerar agora o que ela
em si e para si mesma. Primariamente, para a servid o, a ess ncia o senhor;
portanto, a consciência independente, com o seu ser para si, para ela a verdade;
contudo esta [a verdade] ainda n o para ela [para a servid o] o que esta [a
servid o] em si. Mas esta verdade da pura negatividade e do ser-para-si — ela, na
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realidade, tem-na em si mesma; pois teve a experiência desta ess ncia em si mesma.
Esta consci ncia sentiu a ang stia [Angst], n o por isto ou aquilo, n o por este ou
aquele instante, mas sim por toda a sua ess ncia, pois sentiu o medo da morte, do
senhor absoluto. A se dissolveu interiormente; tremeu em si mesma na sua
totalidade; e tudo o que havia de ixo nela vacilou. Mas este movimento universal
puro, o luidi icar-se absoluto de todo o subsistir, a ess ncia simples da auto-
consci ncia, a negatividade absoluta, o puro ser-para-si, que assim nesta
consci ncia. E este momento do puro ser-para-si tamb m para ela, pois o objeto
para ela o senhor. Al m disso, esta consci ncia n o s a dissoluç o universal em
geral: no servir [Dienen] ela realiza-se como efectivamente-real [wirklich]. Ao servir,
ela suprassume [hebt…auf], em todos os momentos singulares, a sua ader ncia
exist ncia natural; e elimina esta exist ncia natural trabalhando-a.
195 - [Das Gefuhl] Mas o sentimento do poder absoluto sentido em geral e sentido
na singularidade do serviço apenas a dissoluç o em si; e embora certamente o
medo do senhor seja o in cio da sabedoria, a consci ncia a [apenas] para si
mesma, n o [ainda] o ser-para-si [i.e., ela n o ainda para si mesma o ser-para-si,
cf. Hyppolite]. Mas, atrav s do trabalho, ela encontra-se- a si mesma. No momento
que corresponde ao desejo na consci ncia do senhor, parecia caber consci ncia
servil o lado da relaç o n o-essencial com a coisa, pois, nesta consci ncia a coisa
conserva a sua independ ncia. O desejo reservou para si o puro negar do objeto e,
por isso, um sentimento-de-si-mesmo sem mescla. Mas essa satisfaç o ,
justamente por isso, apenas um desaparecer [ein Verschwinden, uma satisfaç o
evanescente], j que lhe falta o lado objectivo, ou o subsistir. O trabalho, pelo
contr rio, desejo reprimido, um desaparecer adiado, ou seja, o trabalho forma
[bildet]. A relaç o negativa com o objeto torna-se a forma do objecto, e torna-se
algo permanente, porque justamente o objeto tem independ ncia para o
trabalhador. Este termo m dio negativo, o agir formativo, , ao mesmo tempo, a
singularidade, ou o puro ser-para-si da consci ncia, que s no trabalho se transfere
para fora de si mesma e para o elemento do permanecer; a consci ncia
trabalhadora, portanto, chega assim intuiç o do ser independente como
[intuiç o] de si mesma.
196- [Das Formieren] No entanto, o formar [Formieren] n o tem s este signi icado
positivo, segundo o qual a consci ncia servil adquire para si um ser [zum Seienden
wird] como puro ser-para-si. Tem tamb m um signi icado negativo relativamente
ao seu primeiro momento, o medo. Com efeito, no formar [Bilden] da coisa, a
negatividade, o ser-para-si da consci ncia servil torna-se objecto para ela, pois
suprassume [au hebt] o ser da forma oposta. Mas este negativo objectivo
justamente a ess ncia alheia, ante a qual ele tinha tremido. Agora, por m, o servo
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destr i esse negativo alheio, e p e-se ele pr prio como tal negativo no elemento do
permanecer, e assim se torna, para si mesmo, um ser-para-si. No senhor, o ser-para-
si , para a consci ncia servil, um Outro, ou seja, somente para ela. No medo, o
ser-para-si est nele mesmo. No formar [Bilden], o ser-para-si torna-se para ele o
seu próprio ser, e assim chega consci ncia de ser ele mesmo em si e para si. [Sein-
für-ein-Anderes —> Ansichsein —> Fürsichsein]. A forma [Forma] n o se torna um
outro por ter sido exteriorizada, pois justamente essa forma o seu puro ser-para-
si, que, nessa exteriorizaç o, se torna a verdade. Assim, precisamente no trabalho,
onde parecia que a consci ncia servil era apenas um sentido alheio a si mesma, ela
torna-se, mediante este reencontrar-se a si mesma consigo mesma, um sentido
próprio [Eigensinn]. Para que haja tal re lex o s o necess rios os dois momentos: o
momento do medo e do serviço em geral, e tamb m o momento do formar [Bilden];
e ambos ao mesmo tempo de uma maneira universal. Sem a disciplina do serviço e
da obedi ncia, o medo ica-se pelo formal [das Formelle], e n o se estende sobre
toda a efetividade-real consciente da exist ncia. Sem o formar [Bilden], o medo
permanece interior e mudo, e a consci ncia n o vem-a-ser para si mesma. Se a
consci ncia se formar sem esse medo absoluto inicial, ent o ser apenas um
sentido pr prio vazio; pois a sua forma ou negatividade n o a negatividade em si,
e o seu formar [Formieren], portanto, n o lhe pode dar a consci ncia de si como
ess ncia. Se a consci ncia de si n o suportou o medo absoluto, mas somente
alguma ang stia, a ess ncia negativa continuou a ser para ela algo exterior: sua
subst ncia n o foi integralmente contaminada por ela. Enquanto todos os
preenchimentos da sua consci ncia natural n o forem abalados, essa consci ncia
pertencer ainda, em si, ao ser determinado. O sentido pr prio [der eigne Sinn]
obstinaç o [Eigensinn], uma liberdade que ainda permanece no interior da
servid o. Como nesse caso a pura forma n o pode tornar-se ess ncia, assim
tamb m essa forma, considerada como expans o para al m do singular, n o pode
ser um formar universal, conceito absoluto; mas apenas uma habilidade
[Geschicklichkeit] que domina uma certa coisa, mas n o domina o poder universal e
a totalidade da ess ncia objectiva.
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