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BAURU
2022
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BAURU
2022
3
AGRADECIMENTOS
(Paulo Freire)
5
RESUMO
ABSTRACT
The course conclusion work was based on the theme about the importance of the articulation
between theory and practice in the curriculum of initial teacher education. Thus, a search was
carried out in books, articles, dissertations, theses and documents, in order to find data that
could support the development of the proposal. It was also considered relevant to investigate
the curricular configuration of some Pedagogy courses, in order to highlight the way in which
the articulation of practice in the professional training of teachers is understood. A search was
carried out on the websites of the faculties linked to the Universidade Estadual Paulista
(UNESP), on the campuses of Araraquara, Bauru, Presidente Prudente, Rio Claro and São José
do Rio Preto, the course on the campus of Marília was excluded, due to the differentiation of
the curriculum compared to other universities. It was found that the disciplines of Supervised
Curricular Internship occupy a privileged space for the practical approach of the courses.
According to the data collected and the theoretical publications analyzed, these disciplines need
to serve for the insertion of future teachers in the educational reality, promoting a space for
reflection on the practice and the construction of new knowledge.
Keywords: Teacher training. Theory and practice. Teaching Practice. Supervised internship.
7
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8
REFERÊNCIAS......................................................................................................................51
8
1. INTRODUÇÃO
Há ainda a ideia de que a experiência prática, em si, seja suficiente para a formação do
bom profissional nessa área. Nas palavras de Garcia (2010, p.14): “postula-se que a prática faz
o docente muito mais do que a teoria adquirida na formação inicial. Sob essa perspectiva,
atribui-se um valor “mítico” à experiência como fonte de conhecimento sobre o ensino e sobre
o aprender a ensinar”
Como escrito por Pimenta (1997, p. 6), a formação para professorar está além de adquirir
uma habilitação por meio da realização de atividades burocráticas para se adquirir um diploma.
Dada a complexidade do trabalho, profissionalizar-se, ultrapassa a mera aquisição de aptidões
técnico-mecânicas. A graduação está situada em função de desenvolver nos futuros professores
“conhecimentos e habilidades, atitudes e valorem que possibilitem permanentemente irem
construído seus saberes fazeres docentes, a partir das necessidades e desafios que o ensino,
como prática social lhes coloca no cotidiano”.
11
Como afirma Leite (2018), a formação de professores, não pode ser abordada de maneira
destacada do contexto em que se insere. As propostas pedagógicas e atividades desenvolvidas
a partir delas, devem servir para desenvolver maior compreensão acerca dos desdobramentos
da realidade, preparando, assim o profissional para ser um agente de mudança, que aja em favor
da transformação social
Nesse sentido, dada a realidade concreta, é reconhecido o importante papel político que
o professor desempenha em relação à escola e à sociedade, ligado aos determinantes culturais
e históricos, partes de seu meio de atuação, que influem sobre seu trabalho e que revelam a
potencialidade transformadora da sua ação. Estando inserido em determinado meio, também
atua sobre ele contribuindo para sua configuração, fato que torna ainda mais necessária a
qualificação adequada desse profissional.
Florek e Lazarotto (2015), escrevem acerca dessa questão, explicitando o fato de que a
instituição escolar encontra-se inserida na sociedade capitalista e reflete seus desdobramentos,
podendo contribuir, mesmo que indiretamente, para a manutenção desses ideais. Por outro lado,
conforme ainda acrescentado pelas autoras, ao mesmo tempo, possui potencial de superar esses
paradigmas, por meio de práticas mais integradoras e democráticas.
12
O que devemos ter em mente é que uma educação voltada para os interesses
majoritários da sociedade efetivamente se defronta com os limites impostos pelas
relações de poder no seio da sociedade. Por isso mesmo, o reconhecimento do papel
político do trabalho docente implica a luta pela modificação dessas relações de poder.
(LIBÂNEO, 2006, p. 21)
Pimenta (1997) discorre acerca do tema, ressaltando que os alunos que chegam à
formação inicial carregam saberes que adquiriram de suas relações anteriores com diferentes
situações de ensino e aprendizagem. Conseguem dizer, mesmo ainda sem ter devidamente
adquirido os conhecimentos próprios da didática, quais foram os bons ou maus professores.
Sabem, também, pelos diversos discursos presentes na sociedade, acerca das dificuldades que
perpassam o trabalho docente, retendo determinados estereótipos da profissão que são
reforçados pelos diferentes meios de comunicação.
Mesmo que as experiências vivenciadas ainda como aluno mantenham certa influência
no decorrer da carreira docente e possivelmente sobre a atuação que futuramente se dará em
sala de aula, é a partir da formação inicial, que o professor inicia, dessa vez de maneira
consciente e embasada, a consolidação das capacidades requeridas por sua profissão, constrói
assim, gradativamente, sua identidade como docente.
Diversos saberes são adquiridos durante a formação do docente, sendo igualmente importantes
para sua constituição profissional. Os “Saberes são conhecimentos teóricos e práticos
requeridos para o exercício profissional” (LIBÂNEO, 2015, p. 74). Tardif (2012, p.37)
classifica-os da seguinte forma: “pode-se definir o saber docente como um saber plural,
formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional
e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais. A classificação de Tardif (2012) pode
ser brevemente explicada, conforme elaborado no Quadro 1.
Saberes da
Saberes Saberes Saberes
formação
disciplinares curriculares experienciais
profissional
1
Pimenta (2018) se refere às publicações:
GUIMARÃES, Valter Soares. Saberes docentes e identidade profissional: um estudo a partir da licenciatura.
2001. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.
RIOS, Terezinha Azerêdo. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez
Editora, 2001.
15
Os saberes se constituem como algo plural que foi construído no âmbito sociocultural
da profissão, podendo apresentar modificações com o passar do tempo, incluindo
informações, crenças, habilidades e aptidões relacionadas a uma determinada
profissão. Dessa forma, a identidade que cada professor constrói baseia-se em um
equilíbrio único entre as características pessoais e os percursos profissionais
construídos ao longo da história de vida. (IZA, et. al, 2014, p. 276).
Para tanto, necessita ser colocado em situações reais de ensino e aprendizagem, já na sua
formação inicial, para reconhecer os desdobramentos da prática docente.
Nesse sentido, além dos conhecimentos próprios da teoria, a articulação com a realidade
escolar se faz necessário, para que sejam articulados conhecimentos teóricos e práticos, para
uma melhoria do fazer profissional do professor.
Pesquisas realizadas por Borges (2013, p. 141), acerca da qualidade da formação inicial
docente em universidades públicas mineiras, com o objetivo de reconhecer o potencial das
instituições em formar educadores capacitados para “contribuir com a melhoria da educação
nas escolas de Educação Básica, especialmente nas escolas públicas”, tendo em vista seu
projeto político pedagógico, as políticas educacionais e a legislação acerca dos cursos de
licenciatura; constataram, pelo parecer de alunos e professores “a precariedade dos cursos com
relação à infraestrutura, à carência de livros nas bibliotecas, às contradições do currículo com
excesso de conteúdos na área de humanas [...], junto à dicotomia entre a teoria e a prática”
(ibidem, p. 146).
De acordo com Gatti e Barreto (2009, p. 122), em análise de pesquisas feitas em 2008 à
ementas e matrizes curriculares de cursos de pedagogia, o distanciamento entre a teoria e a
prática docente revela-se desde a configuração das estruturas do currículo e do desenvolvimento
das disciplinas. Para os autores essa disciplinas possuem uma “perspectiva genérica de
formação” característica essa que permite inferir que “a parte curricular que propicia o
desenvolvimento de habilidades profissionais específicas para a atuação nas escolas e nas salas
de aula fica bem reduzida”. As disciplinas, também, costumam ser trabalhadas de maneira
17
independente, constituindo uma parte única, desarticulada, que não se comunica com as demais,
igualmente importantes para a capacitação do docente, como um todo.
Tardif (2012, p. 285) ainda acrescenta, “somos obrigados a concluir que o principal
desafio para a formação de professores, nos próximos anos, será o de abrir um espaço maior
para os conhecimentos práticos dentro do próprio currículo”. No entanto, como escrito por
Libâneo (2006, p. 27) “a organização dos conteúdos da formação do professor em aspectos
teóricos e práticos de modo algum significa considera-los isoladamente. São aspectos que
devem ser articulados”. Não basta dominar técnicas e regras para a execução de práticas, sem
que haja uma reflexão dada por meio da interpretação entre teoria e prática, contextualizando
os conhecimentos científicos, com a realidade concreta.
A atividade docente pode ser interpretada e traduzida como a concretização real dos
diversos saberes que são apreendidos durante a constituição profissional nos cursos de
formação, é a intencionalidade materializada em forma ação. Como coloca Buriolla (1999,
18
“Consciência e ação” pressupõe a racionalidade diante das atitudes que são tomadas
frente ao cotidiano em que o indivíduo se encontra. Essa racionalidade, que corresponde à
consciência humana, volta-se para a realidade experienciada, sendo significativa quando
representa maior lucidez em relação às implicações materiais e históricas que influem sobre o
contexto real. Ainda sobre isso, Buriolla (1999, p.85) afirma que “toda ação profissional realiza-
se no contexto sócio-histórico determinado pelas relações de produção, por elementos
estruturais da realidade e pela prática política.
Preocupa-nos a formação de futuros mestres e isso nos incita a propor uma práxis
(uma prática pedagógica de fato refletida, pesquisa e soerguida) fundada na
compreensão de que os saberes de professores e alunos precisam convergir para
objetivos de emancipação pessoal e profissional para ambos.
A práxis, sob essa concepção, é entendida como atividade unicamente humana, uma vez
que pressupõe organização lógica, consciente e com finalidades previamente determinadas, que
parte da prática para a prática, embasando-se em saberes da racionalidade, fugindo do “senso
comum” ao considerar a teoria como maneira de desvelar a realidade.
19
A relação entre o pensamento e a ação requer a mediação das finalidade que o homem
se propõe. Por outro lado, se as finalidades não ficam limitadas a meros desejos ou
fantasias, e são acompanhadas de uma vontade de realização, essa realização – ou
conformação de uma determinada matéria para produzir determinado resultado –
requer um conhecimento de seu objeto, dos meios e instrumentos para transformá-lo
e das condições que abrem ou fecham as possibilidades dessa realização. (VÁZQUEZ,
1977, p. 192)
É preciso concluir que a atividade própria do homem não pode reduzir-se a sua mera
expressão exterior, e que ela faz parte essencialmente da atividade da sua consciência.
Essa atividade se desenvolve como produção de objetivos que prefiguram idealmente
o resultado real que se pretende obter, mas se manifesta, também, como produção de
conhecimentos, isto é, em forma de conceitos, hipóteses, teorias ou leis mediante os
quais o homem conhece a realidade.
Nas palavras de Brzezinski (2020, p.222), “especializar-se supõe munir-se de teoria para
articular uma prática concreta, cujo exercício requer o domínio de conhecimentos específicos
ou mais amplos em determinada área de saber”. Agora tratando-se da formação pedagógica, em
específico, compreende-se que a formação teórica, em diversos níveis é essencial, uma vez que,
irá dotar o profissional de “conteúdos que se complementarão de modo que garanta certos
conhecimentos necessários ao desempenho de tarefas especializadas” (ibidem, p. 223).
Nos cursos de formação de professores, além das disciplinas que irão dotar os alunos
dos conhecimentos teóricos necessários para boa formação, também está prevista parte prática
que articulará os conhecimentos, tornando os futuros docentes aptos atuarem na realidade
escolar. Os Estágio Curriculares Supervisionados, ganham um espaço privilegiado para tal
função.
Sabe-se, no entanto que, são várias as queixas de que os cursos são extremamente
disciplinarizados, contendo grande abismo entre “prática e teoria”, o que faz com que alunos
formados enfrentem dificuldades para adaptar-se às diversidades que surgem em seu ambiente
de trabalho, principalmente quando estão no início de sua carreira (D’ÁVILA, 2019;
GUARNIERI, 2018).
O Estágio está institucionalizado como parte dos cursos de formação, sendo parte
constituinte de seus respectivos projetos político pedagógicos. Como colocado no 1° artigo da
Lei 11.788 de 2008, pode ser definido como:
Está estabelecido, pela mesma lei, que poderá ocorrer de forma obrigatória ou não
obrigatória, sendo a primeira forma, requisito obrigatório para obtenção da certificação de
conclusão de curso. Esse requisito se faz necessário para a preparação do profissional às
competências próprias requisitadas pela área de formação, além de permitir a consolidação os
conhecimentos curriculares, preparando o aluno para uma vida cidadã. (BRASIL, 2008)
Acerca desse fato, Aroeira (2018) evidencia que o estágio é o primeiro momento em
que o futuro profissional do magistério será colocado em contato direto com a situação escolar,
podendo aprofundar seus conhecimentos por meio de aprendizado coletivo com os agentes
pertencentes a esse ambiente, sejam futuros colegas de profissão, alunos ou demais estagiários.
24
Nesse processo também irá corroborar com a produção de novos saberes, por sua inserção na
relação dialética histórica e material em que se insere a escola.
O saber adquirido durante a trajetória escolar ou acadêmica pode ser medido por meio
da execução prática de uma tarefa, e esta, dialeticamente, impõe arranjos, ajustes e
revisão na construção teórico-intelectual do educando. O saber e o fazer se
complementam, embora sejam ações que possam ser antagônicas conceitualmente.
Esta complementaridade evidencia a importância do estágio no Ensino Técnico,
Tecnológico e Superior. Trata-se de uma oportunidade educativa de reforço mútuo
entre a teoria e a prática. (COLOMBO, BALLÃO, 2014, p. 173).
O contato com a realidade escolar, ainda na formação, é necessário para que o futuro
professor possa reconhecer propriamente o desenrolar do processo de ensino, reconhecendo os
entraves dessa dinâmica que representa também todo o contexto em que está inserida a escola
afetando-a diretamente, o que comprometerá, também o trabalho pedagógico.
Como consta no artigo 48 desta mesma Lei, o estágio está colocado como: “um período
de trabalho, realizado por aluno, sob o controle da competente autoridade docente, em
estabelecimento industrial.” (BRASIL, 1942). Colombo e Ballão (2014) evidenciam o fato de
que, mesmo estando sob a condução de professor, o estagiário tornava-se possibilidade de se
adquirir mão de obra barata. Sua atividade era vista como “forma de trabalho”, a instituição
escolar não estabelecia vínculos com a empresa que o agregava.
Somente com a portaria, n° 1002, de setembro de 1967, que instituiu o estágio escolar
em faculdades e escolas técnicas, que os estagiários passaram a ter direitos como férias e 13°
26
Acerca do insucesso dos primórdios das Escolas Normais, Tanuri (2000, p. 64) escreve:
Para Silvestre (2011, p.842), os abalos sofridos pelas Escolas normais ocorreu, entre
outros fatores, também, e principalmente, “pelo entendimento que se tinha de como se aprendia
a ser professor e qual o grau de importância atribuído pelos governantes ao processo de
formação”.
De modo geral, o século XX foi marcado por maior preocupação em relação às questões
educacionais “quando a questão da Prática de Ensino, Estágio Curricular Supervisionado,
passou a ser discutida na literatura brasileira, ora criticando a Didática, ora questionando a
Formação dos Professores” (CYRINO, 2012, p.26). O período representou diversas mudanças
políticas e ideológicas no país, como o Golpe de 1937, a Ditadura Militar em 1964, o
movimento de redemocratização em 1980. Esses fatos, refletiram diretamente nos rumos
tomados pela educação, influenciando a maneira como se dava o processo de formação de
professores.
Foi por meio das Leis de Diretrizes e Bases de 1996 que o Estágio Supervisionado
ganhou espaço expressivo nas legislações brasileiras sobre educação. Bem como, nos pareceres
e resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE), a partir de 2001, que esclareceram a
importância da prática para o curso de formação de professores.
28
Uma concepção de prática mais como componente curricular implica vê-la como uma
dimensão do conhecimento que tanto está presente nos cursos de formação, nos
momentos em que se trabalha na reflexão sobre a atividade profissional, como durante
o estágio, nos momentos em que se exercita a atividade profissional. O planejamento
e a execução das práticas no estágio devem estar apoiados nas reflexões desenvolvidas
nos cursos de formação. (BRASIL, 2001, p. 23).
Como apontado por Silvestre (2011), essas regulamentações foram responsáveis pela
regularização dos horários destinados à disciplina e pelo fato de que esta passou a ser realizada
fora do horário de aula. Da Lei n° 9.394/96, destaca-se o Art. 65: “A formação docente, exceto
para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas.” (BRASIL,
1996). O Estágio de 300 horas já ocorriam nos Centros de Formação e Aperfeiçoamento do
Magistério (CEFAMs), implementados desde 1983, em diversos estados do país (SILVESTRE,
2011).
A Lei 11. 788 de 25 de setembro de 2008, “prevê duas grandes mudanças: o estagiário
deve ter um tratamento diferenciado dentro da empresa, e a escola deve ser responsável por
acompanhar e vincular o estágio ao processo didático-pedagógico de maneira formal”
(COLOMBO, BALLÃO, 2014, p. 180). Diante da lei, a atividade necessita constar no Projeto
Pedagógico das instituições de ensino superior, integrando os diversos conhecimentos
curriculares e servindo para instrumentalização do estudante. (MARRAM, 2011). Essa
deliberação representa maior integração entre escola e universidade, prevendo um
acompanhamento do trabalho pedagógico desenvolvido nos estágios, fato que colaborou para
a superação da perspectiva tecnicista da atividade. Da lei, destaca-se o artigo:
Como afirmam, Colombo e Ballão (2014, p. 184), apesar do avanço legal em relação as
atividades de estágio, para que sua realização se dê de maneira adequada, é preciso que as
instituições de ensino mantenham atenção especial a ela, uma vez que, a sociedade mantêm as
dicotomias relacionadas ao conhecimento teórico e o conhecimento prático. Nesse sentido, as
29
Como aponta Freitas (2022), por meio de pesquisa com estagiários em 1992, a estrutura
curricular dos cursos de formação pode corroborar para o despreparo profissional, tornando
docentes inaptos para atuação em sala de aula. Isso acontece quando prática e teoria estão
desassociadas dentro do currículo, quando o estágio, por exemplo, é colocado ao final do curso,
logo após as disciplinas voltadas ao conhecimento teórico, que fazem com que a atividade seja
entendida como momento de “aplicação” do conteúdo aprendido.
conteúdo aprendido não é suficiente para lidar com os desdobramentos da realidade (FREITAS,
2022).
Nos cursos de formação inicial, como escrito por Pimenta e Lima (2005), a parte
“pratica” está majoritariamente atribuída aos estágios, colocados distantes do aprendizado
teórico que se dá no decorrer das aulas vivenciadas na universidade. É comum a fala de que “a
pratica é diferente da teoria”, principalmente entre professores iniciantes, que se deparam com
a realidade escolar e percebem que a teoria não responde por si só todas as necessidades dos
contextos de atuação, uma vez que estes são particulares e subjetivos.
Guarnieri (2018) afirma que um dos desafios existentes na preparação para o ensino está
justamente no distanciamento entre o curso de formação e a própria realidade escolar, visto que
se tem um prevalecimento teórico, com certa fragmentação disciplinar, que em contextos reais
não são suficientes para solucionar as necessidades próprias do trabalho educativo, esse fato
reflete na maneira como os alunos da licenciatura percebem a atividade prática, principalmente
ao entrarem em contato com outros colegas de profissão no momento do Estágio.
A disciplinarização das matrizes curriculares dos cursos fazem com que nem a parte
prática nem a parte teórica sejam trabalhadas devidamente, desse modo, passam a não possuir
uma correlação apropriada. Sobre isso, Pimenta e Lima (2018, p. 31) discorrem:
31
Sob essa perspectiva, o Estágio não ganha a significação necessária, o estudante não
compreende a importância de realizá-lo com qualidade, acreditando que está apenas cumprindo
uma burocratização do curso. As escolas que agregam os estagiários, algumas vezes, também
não são receptivas para a realização dessa prática, desconhecem que a construção do saber é
coletiva, sendo essencial que o futuro professor aprenda com seus colegas de profissão
(PIMENTA, LIMA, 2018).
e Lima (2018), escrevem em sua publicação acerca de alguns desdobramentos comuns dados a
essa disciplina nas instituições de formação docente, visto a percepção que se tem da prática
docente.
Segundo as autoras, essas percepções fazem com o estágio, se torne uma atividade de
mera expectação do trabalho docente, ou uma reprodução impensada de modelos e técnicas.
Quando diferente disto, também podem alcançar outro extremo que é o do criticismo, em que
os estagiários acabam por estarem responsáveis pela elaboração de relatórios, fichas de
observação, que criticam as situações vivenciadas, apontando seus “defeitos”, classificando
professores como “tradicionais” e ultrapassados, sem que haja possibilidade de comunicação e
aprendizado coletivo (PIMENTA; LIMA, 2018).
Pimenta e Lima (2018), apresentam ainda uma perspectiva que se pretende ser
verdadeiramente articuladora entre o saber prático e o saber teórico, a do estágio como forma
de pesquisa.
Nas palavras de Silvestre (2011, p. 855), é ideal que o futuro professor “seja mais
envolvido em situações práticas, para que essa vivência possibilite a seleção de suas estratégias
de ação de forma criativa, por meio de um arcabouço teórico adquirido antes e durante a própria
prática”. Isso se dará pela articulação entre teoria e prática e a adoção de uma postura reflexiva.
A atuação prática possui uma dimensão investigativa e constitui uma forma não de
simples reprodução mas de criação ou, pelo menos, de recriação do conhecimento. A
participação na construção de um projeto pedagógico institucional, a elaboração de
um programa de curso e de planos de aula envolvem pesquisa bibliográfica, seleção
de material pedagógico etc. que implicam uma atividade investigativa que precisa ser
valorizada. (BRASIL, 2001, p. 24)
Sob essa perspectiva, durante o estágio o futuro professor poderá assumir uma ação
investigativa, ao invés de aceitar modelos prontos de aplicação prática, realizará análises sobre
a condição concreta de atuação, mobilizando saberes para atuar nesse meio, o que contribuirá
para o desenvolvimento de novos conhecimentos e habilidades, do “saber-fazer” que
configurará sua identidade docente e possibilitará a superação da dicotomia teórico-prática
(MARRAM, 2011).
34
Nos Planos de Curso, o estágio deve ter uma atenção especial da escola. É
absolutamente imprescindível que apareça nos cursos técnicos e superiores. A
quantidade de horas para tal e o tipo de prática que devem constar no estágio estão
diretamente ligadas ao perfil e robustez da formação técnica desejada. (COLOMBO,
BALLÃO, 2014, p. 183)
Para Aroeira (2018, p.27), “a articulação dialógica entre estagiários [...], professores
regentes [...] e professor supervisor é um fator importante para a construção de uma pratica
docente de boa qualidade pelo futuro professor.” Do mesmo modo que, o aprendizado
pressupõe coletividade, uma vez que, o conhecimento é construído social e historicamente, a
união entre os setores educacionais, professores e futuros professores, constitui parte importante
da formação de futuros professores, oportunidade que se dará, em grande parte, através das
atividades de estágio.
35
Para compreensão de como está compreendia a parte prática nos cursos de formação de
professores, essa parte do trabalho foi reservada para análise dos cursos de graduação em
Pedagogia. Para a coleta de dados foi selecionada a Universidade Estadual Paulista (UNESP),
que oferece o curso de formação de maneira presencial, em cincos campus que estão localizados
nas cidades de: Araraquara, Bauru, Presidente Prudente, Rio Claro e São José do Rio Preto. Foi
excluído da pesquisa o campus da cidade de Marília, por apresentar uma diferenciação na
estrutura curricular, quando comparada com as demais.
A coleta de dados realizada, se deu por meio dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs)
e das Matrizes Curriculares que são disponibilizados para acesso público nos respectivos sites
das instituições. Como afirmado por Veiga (2013, p. 8):
encontram-se nas próximas subseções, que foram organizadas seguindo a ordem alfabética das
cidades em que estão situadas as universidades. Com dados extraídos dos Projetos Políticos
Pedagógicos das instituições analisadas, foi elaborado, para orientar a análise que se segue, o
Quadro 2.
Data da
configuração do Carga horária
Carga
Ano de Projeto Político reservada ao
horária
início do Pedagógico Estágio
total do
curso (disponível no Curricular
curso
site da Supervisionado
instituição)
2
Fonte: UNESP. Histórico da Instituição. Campus de Rio Claro. Rio Claro, 2012. Disponível em:
<https://ib.rc.unesp.br/Home/Graduacao29/Cursos/Ecologia/historico-da-instituicao-pedagogia.pdf.>. Acesso
em: 28 de agosto de 2022.
37
3
Fonte: UNESP. História do Campus. Campus de Rio Preto. Rio Preto, 2018. Disponível em:
<https://www.ibilce.unesp.br/#!/concursos/>. Acesso em: 28 de agosto de 2022
38
Incluindo essa primeira experiência prevista, espera-se que o aluno cumpra no decorrer
da graduação, um total de 500 horas de estágio. Ainda estão colocados na matriz: o estágio na
Educação Infantil: pré-escolas (4° semestre), o Estagio Curricular Supervisionado na Gestão
(6° semestre), o Estágio Curricular Supervisionado: anos iniciais do Ensino Fundamental I e o
Estagio Curricular Supervisionado: ano iniciais do Ensino Fundamental II, nos 7° e 8°
semestres, respectivamente. Prevê-se que essas atividades sejam realizadas em instituições
escolares, da cidade de Araraquara, com a supervisão do professor responsável pela disciplina.
39
Nesse sentido, além das atividades de estágio, a correlação entre teoria e prática, está
dissolvida nas demais disciplinas do curso. É o que se pode analisar na nomenclatura atribuída
à elas: Teoria e Prática do Currículo; Conteúdo, Metodologia e Prática de Ensino de
Alfabetização; Conteúdo, Metodologia e Prática de Ensino de História e Geografia; Conteúdo,
Metodologia e Prática de Ensino de Ciências; Conteúdo, Metodologia e Prática de Ensino de
Matemática; Conteúdo, Metodologia e Prática de Ensino de Língua Portuguesa.
Constata-se, diante disso, que a intenção não é a de formar profissionais como mão de
obra para o mercado de trabalho, como se dá em perspectiva tecnicista. É buscado estrutura de
formação de caráter humanizador, de professor crítico e consciente, visando sociedade
igualitária e democrática.
O curso está dividido por semestres (8), que serão concluídos em um período de, no
mínimo, 4 anos. Dando atenção especial à matriz curricular disposta nas páginas 23, 24 e 25 do
documento, constata-se que disciplina de Práxis Pedagógica, está distribuída no decorrer do
curso, situando-se em todos os anos da formação. Como estabelecido pelo documento, terá a
função de articular os diversos conhecimentos adquiridos ao longo da formação, integrando
pesquisa, ensino e gestão, por meio da Prática de Ensino e do Estágio Supervisionado.
Para o Estágio estão propostas 480 Horas/Aulas, sendo divididas como: Prática de
Ensino e Estágio Supervisionado na Educação Infantil I (120h), no 3° ano, primeiro semestre;
Prática de Ensino e Estágio Supervisionado na Educação Infantil II (120h), no 3° ano, segundo
semestre; Prática de Ensino e Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
I (120 h) no 4° ano, primeiro semestre; Prática de Ensino e Estágio Supervisionado nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental II (120h), no 4° ano, segundo semestre.
O “para quê” e “para quem” nos processos de ensino e de aprendizagem são essenciais
na atuação profissional do pedagogo, considerando os contextos passados, presentes
e os desejados. Colocar a prática pedagógica como componente curricular
privilegiado significa, de um lado, a possibilidade de evidenciar a centralidade do
estatuto da cientificidade da pedagogia como eixo norteador do processo formativo
do profissional da educação. Significa, por outro lado, a possibilidade de estabelecer
uma articulação orgânica entre teoria-prática, o que favorece a criação de reais
43
A matriz curricular conta com 3.495 horas, o curso foi dividido em semestres, estando
previstos 4 anos mínimos para a formação do alunado. Desse total, 480 horas são destinadas ao
Estágio Curricular Supervisionado e 435 para PCCs. Nesse montante, como colocado pelo
material, considerando a Resolução CNE n° 2/2015, também se incluem 200 horas
complementares em Atividades Teórico-Práticas de Aprofundamento (ATPAs), em áreas de
interesse do estudante em atividades como: estágio remunerado, participação em monitorias,
projetos de extensão, entre outros.
Esses três eixos pretendem estabelecer vínculos entre as disciplinas que são lecionadas
no decorrer do curso. Eles foram desenvolvidos com a pretensão de proporcionar aos “alunos e
professores vivências que integrem diferentes disciplinas, focando na problematização, análise,
aprofundamento teórico para maior compreensão do problema, reflexão coletiva, e até,
elaboração de projetos que possam minimizar o problema identificado” (UNESP, 2018, p. 30).
De modo geral, sem aprofundar-se nas especificidades de cada um, os eixos irão desenvolver
atividades que viabilizem a integração curricular, abordando os diversos conteúdos trazidos
pela matriz do curso; o pensamento crítico e reflexivo; a compreensão da instituição escola, seu
funcionamento, as práticas desenvolvidas em seu interior; a relevância social da escola e do
educador.
A PCC serve como “mecanismo para viabilizar a integração dos diferentes aportes
teóricos que compõem a investigação científica com os campos de conhecimento em educação”
(UNESP, 2014b, p.10). São materializadas dentro da matriz curricular por meio de Projetos
Integradores (PIs) de diferentes temáticas, em diálogo com outras disciplinas curriculares que
sirvam embasamento teórico e científico para os formandos. “As temáticas dos PIs constantes
no PPP implica no comprometimento dos professores que assumam disciplinas com créditos de
PI para que efetivamente desenvolvam um trabalho articulado com outros docentes
relacionados às temáticas propostas.” (UNESP, 2015, p.40).
São 150 horas de experiência nos anos iniciais do Ensino Fundamental, 150 horas na
Gestão escolar, e 150 na Educação Infantil. Espera-se nessas atividades que os futuros docentes
assumam o papel como professor de sala, interagindo com as crianças e com os colegas de
profissão, desvelando o trabalho pedagógico real, em participações ativas de reflexão,
investigação e pesquisa, contando sempre com o acompanhamento de um professor responsável
pela disciplina na universidade.
realizadas por meio de: iniciações científicas, intercâmbios, participação em cursos de extensão,
representação estudantil, monitoria, estágios remunerados, dentre outras.
Dada análise realizada nos documentos institucionais foi possível constatar que existe
grande preocupação em relacionar conhecimentos teóricos e práticos nos cursos de Pedagogia
da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em seus diversos campus, uma vez que é
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por outro lado, nas instituições de graduação da UNESP, foi identificada preocupação
com a articulação disciplinar, de modo que prática e teoria fossem integradas na matriz
curricular do curso, para a formação de um profissional capacitado. Apesar da existência de
projetos, eixos de articulação e atividades complementares para esse fim, ao Estágio Curricular
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Supervisionado foi destinado lugar privilegiado para inserção do profissional nos contextos
reais de ensino.
Para superação dessa realidade, e para que de fato se alcance estrutura sólida e eficaz na
formação de professores, é necessário que haja iniciativas de atividades de Estágio que
viabilizem participação ativa dos estagiários, em atividades de pesquisa e investigação, de
maneira que o futuro professor assuma também a responsabilidade por sua qualificação, agindo
na realidade concreta de ensino, estabelecendo vínculos com futuros colegas de profissão. Só
assim será possível haver uma capacitação de professores que estejam aptos para colaborar com
a melhoria da qualidade da educação nacional.
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REFERÊNCIAS
AROEIRA, K. P. A didática e os estágios em licenciaturas: uma articulação necessária na
produção de práticas pedagógicas. In: AROEIRA, K. P; PIMENTA, S. G. Didática e Estágio.
Curitiba: Appris, 2018 (Versão e-pub). Disponível em:
https://pt.scribd.com/book/498073138/Didatica-e-Estagio. Acesso em: 31 de julho de 2022.
BRASIL. Lei nº 11.788, Presidência da República – Casa Civil (2008). Lei nº. 11.788, De 25
de Setembro de 2008. Brasília: Subchefia para assuntos Jurídicos. DF, 2008.
INSTITUTO EUVALDO LODI. Lei de Estágio: tudo o que você precisa saber. Brasília,
2010.
IZA, D. F. E; et. al. Identidade docente: as várias faces do ser professor. Revista Eletrônica de
Educação. V.8, n.2, p. 273-292, 2014.
PIMENTA, S.G; LIMA, M.S.L.L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2018.