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2016
MARIA AMÉLIA DA SILVA
BAURU 2016
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Silva, Maria Amélia.
Plano de Trabalho Docente–PTD: um registro autoral da
docência na educação básica.
Maria Amélia da Silva; orientação: Marcos Jorge – Bauru:
UNESP, 2016.
56 f.
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Sumário
Apresentação.............................................................................................................. 5
Orientações gerais..................................................................................................... 7
Introdução.................................................................................................................. 9
Módulo 1: O embasamento teórico na prática – práxis......................................... 11
1.1 Um sobrevôo teórico-conceitual........................................................................... 12
1.1.1 Lev Semenovich Vigotski.................................................................................. 13
1.1.2. Jean Piaget........................................................................................................ 22
1.1.3 Henri Wallon...................................................................................................... 26
1.1.4 David Ausubel.................................................................................................... 28
1.1.5 Paulo Reglus Neves Freire................................................................................. 30
Módulo 2: O Projeto Político Pedagógico e o Currículo Escolar.......................... 35
Módulo 3. Um modelo possível na elaboração do PTD......................................... 46
Ficha autoavaliativa.................................................................................................. 52
Referências bibliográficas......................................................................................... 54
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APRESENTAÇÃO
Desta forma, visamos criar condições para que os planos de trabalho docentes
sejam produzidos com autoria, tanto pela cientificidade que o processo ensino-
aprendizagem exige, como pela poesia que compreende o cotidiano daqueles que
realmente buscam exercer a práxis pedagógica.
Este minicurso está dividido em três módulos previsto para ser desenvolvido em
três encontros semanais consecutivos utilizando as Aulas de Trabalho Pedagógico
Coletivo – ATPC, antes denominadas HTPC . Lembrando que as ATPC têm como
objetivos:
I. Construir e implementar o projeto pedagógico da
escola; II. articular as ações educacionais
desenvolvidas pelos diferentes segmentos da escola,
visando a melhoria do processo ensino-
aprendizagem; III. identificar as alternativas
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pedagógicas que concorrem para a redução dos
índices de evasão e repetência; IV. possibilitar a
reflexão sobre a prática docente; V. favorecer o
intercâmbio de experiências; VI. promover o
aperfeiçoamento individual e coletivo dos
educadores; VII. acompanhar e avaliar, de forma
sistemática, o processo ensino-aprendizagem. (SÃO
PAULO, CEE, CENP, 1996, s/p).
Este material poderá ser utilizado por toda escola que se interessar por esta
proposta formativa de elaboração de PTD, visto que a intenção deste produto é
contribuir para a viabilização de ações concretas para o aprimoramento profissional de
educadores da educação básica. Respeitando, porém, as referências bibliográficas.
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ORIENTAÇÕES GERAIS
RECURSOS: Data show, texto impresso, flip chart, pincéis, canetas e papel sulfite
ESPAÇOS: Sala de aula ou biblioteca
Objetivos do Produto
Objetivos específicos
Possibilitar um espaço de reflexão e discussão com os temas tratados no
material;
Desenvolver o aprimoramento da profissionalidade docente;
Desenvolver nos educadores o anseio por uma práxis pedagógica efetiva na
escola, percebendo-se pesquisador de sua própria prática;
Criar condições para que o registro docente seja compreendido como um gênero
textual de valor autoral por representar o seu processo criativo e singular;
Valorizar a produção escrita do professor como um referencial de quem ensina
os alunos a produzir textos;
Propiciar novas reflexões acerca do legado histórico que representa os registros
docentes nos documentos oficiais da escola;
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Promover mudanças de atitudes simples como a atenção à elaboração de PTD
coerentes com as PPP e as intenções reais de ensino que se quer transformar para
a qualidade na educação básica.
Fortalecer a busca pela formação continuada, tanto na dimensão individual como
coletivamente, a fim de manter-se atualizado para a produção de novos
conhecimentos e estratégias de ensino e de avaliação cada vez mais adequadas
às aprendizagens.
Introduzir a Autoavaliação Formativa nos contextos de ensino para desenvolver
nos alunos um olhar para si mesmo enquanto construtor de conhecimento.
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Introdução
Dentre as diversas atribuições inerentes à docência na educação básica está a elaboração
de Planos de Trabalho Docente – PTD. O ato de planejar o PTD se configura uma
atividade intencional do professor que estabelece metas a serem alcançadas ao final de
um período de trabalho educativo desenvolvido junto a seus alunos.
A elaboração de PTD tem relação direta com a gestão da sala de aula uma vez
que é o momento do professor pensar no planejamento de situações de ensino mais
adequadas para as aprendizagens pretendidas, considerando a heterogeneidade dos
alunos, os recursos didáticos disponíveis e possíveis, o desenvolvimento de atividades,
as intervenções pedagógicas mais adequadas às diferentes necessidades e possibilidades
de aprendizagem de cada um, constituindo assim, uma ação planejada e imprescindível
para o exercício da docência devido ao seu caráter político-pedagógico.
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O Plano de Trabalho Docente representa um gênero textual mediador do
agir docente, nele estão previstas intervenções didático-pedagógicas que explicitam o
potencial de competências do professor para alavancar o processo ensino-aprendizagem,
numa relação dialógica, baseada na cooperação e na construção de um vínculo de
confiança entre o professor e o estudante, que materializa a sua profissionalidade.
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MÓDULO 1: O EMBASAMENTO TEÓRICO NA PRÁTICA –PRAXIS
*apontamentos que poderão ser feitos pela formadora para incitar a reflexão e discussão.
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1.1 UM BREVE SOBREVÔO TEÓRICO-CONCEITUAL
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1.1.1 Lev Semenovich Vigotski (1896-1934), psicólogo, advogado e
médico russo.
O seu sobrenome tem sido grafado de várias formas: Vigotsky, Vygotski,
Vigotski, Vigotskii, entre outras.
Vigostiski estudou e produziu suas obras na União Soviética, no período pós-
revolucionário até a década de 30 do século passado. Morreu em 1934, vítima de
tuberculose, com apenas 37 anos. Estudou direito e literatura, dedicou-se aos estudos de
psicologia, frequentou vários cursos de história e filosofia na Universidade Popular de
Shanyavskii, em Moscou, e posteriormente estudou medicina. Em 1924, apresentou
uma conferência no II Congresso de Psicologia, em Leningrado, onde suas colocações
fizeram enorme sucesso e ele foi convidado a trabalhar no Instituto de Psicologia de
Moscou. Nesse período junto com Alexander Romanovich Luria, Alexei Nikolaievich
Leontiev e outros grandes nomes da psicologia soviética desenvolveu um importante
conjunto teórico que tem sido conhecido como Psicologia Sócio-Histórica ou Histórico-
Cultural.
Ao longo de sua vida, Vigotski dedicou-se a atividades de pesquisa para
docência e ensino nas áreas de literatura, psicologia, pedagogia, deficiências físicas e
mentais, entre outras. Durante muito tempo, as obras de Vigotski permaneceram
desconhecidas na maior parte do mundo, pois sofreram restrições tanto do regime
comunista da União Soviética quanto do regime capitalista do ocidente.
Vigotski buscou compreender como se dá a formação do ser humano e analisou
essa questão de uma forma inteiramente nova e diferenciada das demais produções
anteriores. Uma síntese de suas principais ideias a esse respeito pode ser representado
por esta frase: o desenvolvimento do psiquismo humano é sócio-histórico, já que é
estruturado no seio da atividade social dos indivíduos.
Para Meira (2015), o autor se contrapôs a duas tendências importantes na
psicologia: o subjetivismo e o objetivismo. As teorias subjetivistas consideram que os
fenômenos psicológicos são criados pelos próprios homens de forma independente, sem
determinações da sociedade. As teorias objetivistas defendem que o comportamento dos
indivíduos é produto do ambiente, entendido como um conjunto de circunstâncias ou
contingências, os quais podem ou não fornecer elementos que facilitem o
desenvolvimento humano. Vigotski superou estas duas concepções e construiu sua
teoria fundamentada em uma tese central: as origens das formas superiores de
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comportamento consciente não estão nem no próprio homem nem na realidade social,
mas nas relações sociais que o homem estabelece com o mundo exterior.
No processo de constituição do ser humano é possível distinguir duas linhas de
desenvolvimento que diferem em relação a sua origem, mas se entrelaçam na história
dos indivíduos: os processos elementares, de origem biológica e as funções psicológicas
superiores de origem sociocultural. No início da vida os fatores biológicos
desempenham um papel mais marcante, mas rapidamente esta situação se modifica pela
intensificação das relações do bebê com vida social do grupo ao qual pertence. Esta é a
condição histórico-social que permite a constituição das funções superiores psicológicas
superiores que caracterizam o ser humano, tais como, a atenção, memória, linguagem,
pensamento e emoções.
Desse modo, os processos psicológicos humanos ocorrem inicialmente no plano
social como processos interpessoais e interpsicológicos, para posteriormente tornarem-
se individuais, ou seja, intrapessoais ou intrapsicológicos.
De modo diferente dos animais, o homem não se adapta às condições e objetos
materiais e não materiais, ele se apropria deles. É nesse processo de apropriação da
experiência acumulada pelo gênero humano no decurso da história social que se dá a
aquisição das qualidades, capacidades e características humanas, e a criação contínua de
novas aptidões e funções psíquicas.
O indivíduo nasce com um aparato biológico que lhe permite ser um “candidato”
à humanidade, mas precisa aprender a ser homem e isso só ocorre na vida em sociedade.
Para Vigotski o ser humano se forma na relação com outros homens por meio de
processos de objetivação e apropriação.
Em consonância com o marxismo, esta teoria destaca que os homens se formam
no processo de trabalho no qual produzem os meios necessários para a satisfação de
suas necessidades, não apenas as biológicas, mas também outras mais complexas,
geradas nas relações sociais. É na atividade de trabalho, que se objetivam nos produtos
que constroem, transferindo para os objetos (materiais ou não) sua atividade física e
mental. Por meio deste processo de objetivação, os homens criam e transformam
continuamente a cultura humana.
Direta e indiretamente e de forma contínua estamos sempre ensinando aos
pequenos nossa linguagem, nossos hábitos, nossos valores, o que gostamos e o que não
gostamos, o que consideramos correto e o que não é permitido.
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Para fazermos parte do mundo em que vivemos, desde muito cedo cada um de
nós deve internalizar estes elementos que a princípio são externos, transformando-os em
atividades nossas, internas, intrapsicológicas.
Nesta perspectiva o desenvolvimento humano só pode ser compreendido em
suas relações com o contexto histórico no qual os indivíduos estão inseridos.
É deste modo que se constituem as funções psicológicas superiores que são
expressão do modo de funcionamento tipicamente humano e que não estão presentes no
nascimento. Diferentemente dos animais, que tem seu funcionamento determinado
unicamente por fatores biológicos, os homens são capazes de falar, pensar, planejar,
imaginar e criar novas realidades. Estas funções não estão presentes no nascimento, elas
são constituídas nas relações do indivíduo com o mundo. Vigotski denominava essas
funções de superiores porque elas têm caráter voluntário, ou seja, podem ser controladas
pelos indivíduos e lhes possibilitam, de diferentes modos, transformarem o mundo e a si
mesmos.
Assim, o desenvolvimento humano não pode ser tratado como fenômeno
universal, já que é determinado por um conjunto de condições sociais concretas.
Para a teoria histórico-cultural as características presentes em determinadas
etapas do desenvolvimento não são naturais, elas são produzidas historicamente e essa
produção só é possível com aprendizagem. Sem aprendizagem não há apropriação da
cultura humana e, portanto, não há desenvolvimento humano.
Essa relação entre desenvolvimento e aprendizagem foi tratada por Vigotski de
modo bastante peculiar. Ele introduziu uma grande inovação teórica com a proposição
da existência de dois níveis de desenvolvimento: o nível de desenvolvimento atual, real
ou efetivo e a zona de desenvolvimento próximo, proximal, potencial ou imediato.
Essas denominações, segundo Meira (2015), podem variar de acordo com a tradução.
A zona de desenvolvimento real corresponde ao nível de desenvolvimento da
criança que foi conseguido como resultado de um processo de desenvolvimento já
realizado, ou seja, compreende tudo aquilo que ela é capaz de fazer sozinha, sem a ajuda
de outras pessoas.
Na sala de aula, um professor alfabetizador atento aos seus alunos pode perceber
o nível de desenvolvimento real de seu grupo observando o que cada um é capaz de
realizar de maneira independente. Vamos imaginar as seguintes situações: alguns alunos
conseguem identificar letras ou sílabas; outros escrevem e leem pequenos textos; outros
já são capazes de ler, redigir e interpretar histórias completas. Um grupo consegue
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identificar os números; outro já é capaz de realizar operações matemáticas. Alguns
alunos ainda não escrevem, não leem e não dominam os códigos da matemática, mas
são capazes de realizar atividades que envolvam certas noções matemáticas em
situações concretas e fazem determinados registros gráficos (rabiscos, letras, desenhos,
etc.).
Uma família observa que seu filho ou filha já é capaz de desenhar, pintar e
brincar com jogos de encaixe sem nenhum tipo de ajuda.
Todos estes casos referem-se a atividades que são possíveis em um determinado
momento, em função do desenvolvimento que foi efetivado até então. Daí a designação
desenvolvimento real.
Entretanto, conhecer as capacidades já desenvolvidas não é suficiente para
compreender, de forma completa, o desenvolvimento das crianças. Para Vigotski,
devemos compreender ainda a zona de desenvolvimento próximal, a qual abarca tudo
aquilo que a criança não faz sozinha, mas é capaz de realizar com a ajuda de adultos ou
companheiros mais experientes.
Em síntese, o nível de desenvolvimento de uma criança só pode, de fato, ser
compreendido se conseguirmos analisar o que já foi produzido (o que ela já faz sozinha)
e, ao mesmo tempo, captar aquilo que ainda está em processo de formação (o que
consegue fazer com ajuda).
* uma reflexão importante: se as pessoas precisam aprender, considerando-se as
possibilidades que se encontram na zona de desenvolvimento proximal ou potencial, é essencial que
alguém as ensine. Pode parecer uma afirmação óbvia, mas certamente não é, já que muitas teorias
consideram que o desenvolvimento ocorre de forma natural independente do contexto.
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Mediação é o processo através do qual se dá a intervenção de um elemento
intermediário na relação entre dois outros elementos. Vigotski distinguiu dois tipos de:
os instrumentos e os signos.
Os instrumentos são elementos que se interpõem entre o trabalhador e o objeto
de seu trabalho, sua função é facilitar a concretização das atividades materiais do
homem. Por exemplo, se queremos construir um determinado objeto (seja uma simples
caneta ou um supercomputador), precisamos necessariamente de instrumentos que nos
auxiliem nessa tarefa.
Os signos agem como um instrumento da atividade psicológica de maneira
análoga ao papel desempenhado pelo instrumento material de trabalho. Os signos são
instrumentos auxiliares nos processos psicológicos e sua função é possibilitar a solução
de problemas de ordem psicológica, tais como lembrar, comparar, construir conceitos,
etc. Por exemplo, se tenho que tomar uma decisão, seja ela simples (escolher a roupa
que devo usar; o tipo de música que quero ouvir; o que vou comer na próxima refeição;
etc.) ou complexa (que profissão devo seguir; como educar meus filhos; que proposta
pedagógica pretendo construir em meu trabalho docente; etc.), terei de recorrer a
elementos que se encontram no campo psicológico, em busca da melhor alternativa.
Para fazermos, de fato, parte do mundo em que vivemos, desde muito
cedo, cada um de nós deve se apropriar da cultura construída no contexto social no qual
vivemos.
*Até aqui foi possível compreender que a aprendizagem produz desenvolvimento desde
que o ensino seja adequado. Que outros apontamentos podem ser feitos?
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*Tomemos um exemplo bastante simples. Uma criança constrói, de modo espontâneo e sem
nenhuma dificuldade, o conceito de cachorro e saberá generalizar suas características de tal forma que
se tornará capaz de distingui-lo de outros animais, mesmo que veja cães de tamanhos, cores e pelagens
diferentes. Esta generalização das características dos cães permite que ela construa uma abstração que
se refere ao conceito de cão. Mesmo diante de raças bastante diferentes, ela continuará sabendo que se
trata de um cão.
Os conceitos científicos formam-se de outro modo, são generalizações do
pensamento, não se relacionam a aspectos particulares, mas a toda uma classe de
fenômenos (que não podem ser vistos de forma direta, já que têm de ser compreendidos
através do pensamento). Sua assimilação requer um trabalho de ensino-aprendizagem
sistemático.
Na constituição do conceito científico temos o caminho contrário, que vai do
abstrato ao concreto, já que, desde o início, a criança é capaz de reconhecer o conceito
que um determinado objeto representa.
* Voltemos ao nosso exemplo. Antes de entrar na escola, a criança já construiu o conceito de
cachorro. Com os novos conhecimentos poderá ampliá-lo e incluí-lo em novos sistemas conceituais,
tornando-o muito mais abrangente. Poderá aprender, entre outras coisas, que o cachorro é um animal
mamífero, vertebrado, etc.
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pensamento é culturalmente mediado e a linguagem é o principal meio desta mediação;
os processos de aprendizagem, nos quais se articulam as dimensões intelectuais e
afetivas e os conceitos espontâneos e científicos, produzem desenvolvimento e, por isto
a educação desempenha um papel decisivo em todo o desenvolvimento intelectual da
criança.
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considera especialmente importantes: o maturacionismo, a natureza humana e a
inteligência como dom natural.
O maturacionismo
A teoria de Vigotski produz uma sensível transformação em relação à
compreensão da função social da prática pedagógica, e mais especificamente, do papel
do professor, e por isto pode contribuir para o rompimento com a perspectiva
maturacionista, ainda hegemônica nos meios educacionais, que coloca a aprendizagem
em uma situação de dependência direta em relação ao desenvolvimento.
A abordagem maturacionista considera que os alunos só se tornam capazes de
aprender determinados conteúdos quando estão “maduros” ou “prontos” para isto.
Partindo deste ponto de vista, quando um aluno apresenta dificuldades, se diz que ele
ainda não atingiu o nível de desenvolvimento psico-intelectual necessário, isto é, não
tem “prontidão” para a aprendizagem. Nas décadas de 60 e 70, surgiram vários testes
com a finalidade de medir a prontidão dos alunos para todos os tipos de aprendizagem,
em especial aquelas relacionadas com a leitura e a escrita de crianças em fase inicial de
alfabetização
Essa é uma concepção nefasta porque leva os professores a se comportarem
como expectadores passivos de algo que não diz respeito a eles. O professor não pode
ensinar porque estes alunos não têm condições de aprender, não lhe restando outra
alternativa a não ser esperar que eles fiquem “maduros”, para só então cumprir sua
função social.
A natureza humana
A crença em uma “natureza humana” representa uma abordagem naturalizante e
a-histórica do fenômeno psicológico sem nenhuma articulação com a vida, as condições
econômicas, sociais e culturais nas quais se inserem os homens. Essa concepção está na
base de um falso pressuposto que circula de modo sistemático nos meios educacionais
de que as pessoas “são como são” e que a escola não tem como modificar a “natureza”
das pessoas.
A teoria de Vigotski considera a possibilidade de trabalharmos com a ideia de
condição humana, de construção social do psiquismo humano, determinado pelas
relações reais dos homens com o mundo e com o conceito de plasticidade do sistema
psicológico humano. Essa possibilidade permanente de múltiplas transformações do
sujeito ao longo de seu processo de desenvolvimento, aponta, entre outras coisas, para a
importância da intervenção educativa.
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A inteligência como um dom natural
Para muitos a inteligência é um atributo inato e imutável do ser humano e a
escola teria pouco ou nada a fazer em relação àqueles que se considera como menos
dotados. Esse mito tem sido sistematicamente utilizado como argumento para justificar
o fracasso de muitas crianças. Acreditar que a constituição genética determina a vida
escolar dos indivíduos permite que se tomem como naturais processos de exclusão
produzidos socialmente.
É preciso compreender que a inteligência é construída histórica e socialmente.
Como nos ensina Vigotski, a aprendizagem dos conhecimentos científicos
propiciada pela educação escolar desempenha um papel decisivo em todo o
desenvolvimento intelectual da criança, já que o antecipa, atuando em áreas nas quais as
possibilidades da criança ainda não estão inteiramente organizadas.
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1.1.2. Jean Piaget (1896-1980) biólogo e epistemólogo suíço.
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Segundo ele o individuo passa por quatro estágios ou períodos de
desenvolvimento. Cada um destes estágios ou períodos é importante para o outro,
constituindo um processo contínuo. Tais estágios não são, portanto, independentes e não
se concluem em idades exatas, mas aproximadas.
Período pré-operatório:
Esse período tem uma duração de tempo que vai do 18° mês aos 8 anos de idade,
aproximadamente. Nesse período a criança busca adquirir a habilidade verbal nomeando
objetos e raciocinando intuitivamente. Através da função simbólica o indivíduo substitui
um objeto por uma representação. Um objeto pode existir independente de seu campo
de visão. Nesse estágio, o indivíduo é egocêntrico e não consegue se colocar no lugar do
outro. Os desejos, as motivações e todas as características conscientes morais e afetivas
são atribuídas às coisas.
Inicia-se por volta dos 12 anos, o raciocínio faz abstrações. O indivíduo torna-se
capaz de raciocinar corretamente sobre proposições hipotéticas. As estruturas cognitivas
alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento. Pode haver a abstração total. A
representação agora permite ao indivíduo pensar logicamente, formular hipóteses e
buscar soluções, sem depender só da observação da realidade.
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OS PROCESSOS COGNITIVOS: ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO
Piaget foi um dos primeiros autores a chamar a atenção não somente para a
importância do papel ativo do aprendiz, como também do erro no processo da
aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo.
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justamente por esta relação provocar nos envolvidos tanto o equilíbrio como as
reequilibrações necessárias. O desequilíbrio se dá quando acontece o chamado conflito
cognitivo, e este surge quando o esquema mental que o indivíduo possui já não satisfaz
as necessidades exigidas nas situações em que vive. Assim, o sujeito busca um novo
estado de equilíbrio que reestabeleça a sua relação com o meio em que vive.
Nesse processo são acionados os mecanismos de assimilação e acomodação.
Essa relação de equilíbrio entre assimilação e acomodação é chamada de adaptação.
Dessa forma chega-se a ação assimiladora que permite ao sujeito fazer escolhas,
ser seletivo, na aquisição daquilo que necessita ou deseja. Do mesmo modo que o que
foi assimilado preenche uma necessidade do sujeito, também traz a ele um novo o
incômodo, ou seja, outro desequilíbrio, o de não se dar por satisfeito diante dessas
alteridades. Ao ver que não pode alterar essa realidade, o sujeito recorre a um outro jeito
para resolver a situação e restabelecer o equilíbrio, assim ele vai se modificando para
assimilar o que julga estranho em seu meio, o que lhe causou perturbação (processo de
acomodação).
Nesse constante processo de assimilação e acomodação, o indivíduo vai
construindo sua identidade como sujeito.
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25
1.1.3 Henri Wallon (1879-1962) médico, psicólogo e educador francês.
26
criança se desenvolve com seus conflitos internos e, para ele, cada estágio estabelece
uma forma específica de interação com o outro, é um desenvolvimento conflituoso.
Tanto Vygotsky como Wallon acreditam que o social é imprescindível para o
desenvolvimento humano. É a cultura e a linguagem que fornecem ao pensamento os
elementos essenciais o sujeito para evoluir e se reinventar. A função cognitiva social é
muito flexível, não existe uma linearidade no desenvolvimento e é por isso mesmo, que
sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, num contínuo movimento que leva ao
crescimento.
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1.1.4. David Ausubel (1918-2008) pesquisador norte-americano
"O fator isolado mais importante que influencia o
aprendizado é aquilo que o aprendiz já conhece".
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A essência do processo da aprendizagem significativa deve estar relacionada a
algum aspecto relevante da estrutura de conhecimento do sujeito, isto é, a algum
conceito ou proposição que já lhe é significativo e adequado para interagir com a nova
informação. É desta interação que emergem, para o aprendiz, os significados dos
materiais potencialmente significativos (ou seja, suficientemente não arbitrários e
relacionáveis de maneira não arbitrária e substantiva a sua estrutura cognitiva). É
também nesta interação que o conhecimento prévio se modifica pela aquisição de novos
significados.
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29
1.1.5 Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), educador, pedagogista
e filósofo brasileiro.
Nasceu no Recife, Pernambuco, uma das regiões mais pobres do país. Trabalhou
como educador inicialmente no SESI (Serviço Social da Indústria) e no Serviço de
Extensão Cultural da Universidade do Recife. Em 1946 assume como diretor do
Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social no Estado de Pernambuco e
começa a lecionar para analfabetos pobres.
30
rigorosidade metódica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade,
estética e ética, corporeificação das palavras pelo exemplo, risco, entre outros saberes.
31
realidade. A primeira pretende manter a imersão; a segunda,
pelo contrário, busca a emersão das consciências, de que
resulte sua inserção crítica na realidade. (Freire, 1986, p. 70).
Instigar o aluno: Raramente fomos provocados por uma
reinvenção criativa da linguagem sob nossos olhos, de um
modo excitante, em que a linguagem nos obrigasse a
repensar a maneira de ver a realidade. (Freire, 1986, p. 54).
Comunhão entre o professor e o aluno: não posso deixar
os estudantes entregues a si mesmos, por estar tentando ser
um educador libertador. (...) Tenho que ser radicalmente
democrático, responsável e diretivo. Não diretivo dos
estudantes, mas diretivo do processo no qual os estudantes
estão comigo. Enquanto dirigente do processo, o professor
libertador não está fazendo alguma coisa aos estudantes, mas
com os estudantes. (Freire, 1986, p. 61).
O professor, portanto, não é o ponto final do
desenvolvimento que os estudantes devem alcançar. Os
estudantes não são uma frota de barcos tentando alcançar o
professor que já terminou e os espera na praia. O professor
também é um dos barcos da frota. (Freire, 1986, p. 66).
Sempre tento me relacionar com os alunos como se estes
fossem sujeitos cognoscentes, pessoas que estão comigo,
engajadas no processo de conhecer alguma coisa comigo.
(Freire, 1986, p. 204).
Ser irrequieto: os professores poderão dizer que leem as
revistas e os novos livros técnicos e se mantêm atualizados
em sua própria área, desse modo renovando-se sempre. Vão
a conferências e seminários de professores para ouvir novas
ideias. Mas, a noção de militância é diferente. O processo
libertador não é só um crescimento profissional. É uma
transformação ao mesmo tempo social e de si mesmo, um
momento no qual aprender e mudar a sociedade caminham
juntos. (Freire, 1986, p. 66).
Criticidade: O educador tradicional oferece formação
profissional de uma forma que fortalece o controle que a
ideologia dominante tem sobre a consciência do estudante.
O treinamento não revela a política de realização desse tipo
de trabalho. O professor libertador não mistifica os
empregos, as carreiras ou o trabalho, mas coloca questões
críticas à medida que as ensina. (Freire, 1986, p. 86).
Ensinar e aprender têm que ver com o esforço
metodicamente crítico do professor de desvelar a
compreensão de algo e com o empenho igualmente crítico
do aluno de ir entrando como sujeito em aprendizagem, no
processo de desvelamento que o professor ou professora
deve deflagrar. (Freire, 1996, p.134).
Ser político: O professor é inevitavelmente responsável por
iniciar o processo e dirigir o estudo. A escolha dos objetivos
torna impossível a neutralidade. Ao dirigir um curso e pelas
relações sociais do discurso em classe, todo professor
exprime sua opção política. Escolhemos os livros a ler, as
perguntas a serem feitas, o modelo da sala de aula — tudo
isso envolve nossa política. (Freire, 1986, p. 187).
Conhecimento prévio sobre o aluno – Mas, o que tenho
que saber é que, apesar de que, possivelmente, saiba mais do
que os alunos que vêm trabalhar comigo, eles também são
capazes de saber, e eles já sabem também muitas coisas
quando nos reunimos na sala de aula. (Freire, 1986, p. 213).
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Preciso reaprender o que acho que sei, na medida em que os
educandos conhecem junto comigo e entre eles. Também
tenho que esclarecer que o ponto de partida para que eles
experimentem algum objeto cognoscível, que eu proponho,
não pode ser minha compreensão do objeto e da realidade.
Isto significa que os professores devem ter algumas
indicações sobre como os alunos estão compreendendo sua
própria realidade, de maneira diferente da realidade do
professor. Também preciso saber quais são algumas das
principais expectativas dos alunos, quando chegam para esta
aula. (Freire, 1986, p. 213).
Eles entenderam você mas precisavam de que você os
entendesse. Esta é a questão. (Freire, 1992, p. 28).
Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser
aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos,
a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em
face da tarefa que tenho — a de ensinar e não a de transferir
conhecimento.(Freire, 1996, p. 52).
Não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade, a
seu ser formando-se, à sua identidade fazendo-se, se não se
levam em consideração as condições em que eles vêm
existindo, se não se reconhece a importância dos
"conhecimentos de experiência feitos" com que chegam à
escola. O respeito devido à dignidade do educando não me
permite subestimar, pior ainda, zombar do saber que ele traz
consigo para a escola. (Freire, 1996, p. 71).
• Sonhar: Sonhar não é apenas um ato político necessário,
mas também uma conotação da forma histórico-social de
estar sendo de mulheres e homens. Faz parte da natureza
humana que, dentro da história, se acha em permanente
processo de tornar-se. (Freire, 1992, p. 91).
Quanto menos exercitarem a aprendizagem política de
comprometer-se com uma utopia, quanto mais se tomarem
abertas aos discursos "pragmáticos", tanto melhor dormirão
as classes dominantes. (Freire, 1992, p. 92).
• Ser pesquisador: o momento em que conhecemos o
conhecimento existente é preponderantemente o da
docência, o de ensinar e aprender conteúdos e o outro, o da
produção do novo conhecimento, é preponderantemente o da
pesquisa. Na verdade, porém, toda docência implica
pesquisa e toda pesquisa implica docência. Não há docência
verdadeira em cujo processo não se encontre a pesquisa
como pergunta, como indagação, como curiosidade,
criatividade, assim como não há pesquisa em cujo
andamento necessariamente não se aprenda porque se
conhece e não se ensina porque se aprende. (Freire, 1992, p.
192 e 193).
Enquanto ensino continuo buscando, (re)procurando. Ensino
porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago.
Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo
educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não
conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (Freire, 1996,
p. 32).
33
através do exercício da curiosidade epistemológica. (Freire,
1996, p. 71).
• Curiosidade: O fundamental é que professor e alunos
saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é
dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada,
enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que
professor e alunos se assumam epistemologicamente
curiosos. (Freire, 1996, p. 96).
Satisfeita uma curiosidade, a capacidade de inquietar-me e
buscar continua em pé. Não haveria existência humana sem
a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de
nossa consciência. (Freire, 1996, p. 98).
**************************
34
MINICURSO PARA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES
TEMA: ELABORAÇÃO DE PLANO DE TRABALHO DOCENTE
1º Módulo
Data: ..../..../....
35
DESENVOLVIMENTO E 1. MOBILIZAÇÃO: Leitura compartilhada do texto imagem do
PROCEDIMENTOS livro: ZOOM – de Istvan Banyai – apresentado em Power Point
METODOLÓGICOS show.
Duração: 20 minutos
Duração: 1h minutos
36
Intervalo = 20 minutos Café com prosa
Duração: 1h minutos
Duração: 30 minutos
Finalizar com uma mensagem otimista. Anunciar o conteúdo do próximo módulo e a data do encontro.
37
MÓDULO II - O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO e o CURRÍCULO
ESCOLAR
Projeto vem do latim projectu, que significa lançar para diante. É prever um
futuro diferente que supere os problemas do presente.
É Político, no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo
de sociedade que se almeja construir.
É Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas adequadas às condições
da escola e às necessidades dos usuários, cumprindo os propósitos políticos definidos
anteriormente. Entendemos, portanto, que é pela ação pedagógica que se dá a
operacionalização da decisão política do ensino.
Segundo Veiga (1998, p.2) “todo projeto pedagógico é um projeto político por
estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e
coletivos da população majoritária”.
Para Saviani (1983, p. 93), "A dimensão política se cumpre na medida em que
ela se realiza enquanto prática especificamente pedagógica"
Portanto o projeto político-pedagógico é muito mais que um conjunto de ideias e
planos de ação didático-pedagógicos. Sua construção depende da união e participação
de todos os envolvidos e interessados na sua plena realização, pois servirá de referência
norteadora para todos e em todos os âmbitos da ação educativa da escola.
“Político e pedagógico têm assim uma significação indissociável” (VEIGA
1998, p. 2). O projeto político-pedagógico deve ser entendido por todos da escola como
uma bússola a orientar as ações educativas em direção à superação dos obstáculos que
aprisionam a aprendizagem. Devendo se constituir num objeto de permanente análise,
reflexão, discussão, revisão e regulação em direção ao objetivo definido coletivamente.
Essa é uma relação de reciprocidade real e necessária entre as duas dimensões da
escola, a política e a pedagógica, e para que se realizem plenamente requer que sejam
claramente compreendidas em suas funções.
Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a organização do
trabalho pedagógico em dois níveis: como organização da escola como um todo e
38
como organização da sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social
imediato, procurando preservar a visão de totalidade.
Consideraremos a contribuição da Pedagogia Histórico-Crítica como referencial
teórico-prático ao processo de ensino escolar fazendo uso desta perspectiva teórico-
metodológica, para a qual a prática de planejamento e sua aplicação é uma condição
para a organização do ensino formativo necessário ao processo de formação docente e
discente.
A prática dialética utilizada no processo de formação docente fundamenta-se nos
pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica, cujo método de investigação e de
elaboração do conhecimento científico tem sua base no materialismo histórico-dialético
de Marx. A teoria Histórico-Cultural de Vigotski, que utiliza o mesmo método
científico, servirá de aporte teórico a este estudo para o entendimento da relação do
ensino e aprendizagem como processos indissociáveis, ambos contribuem para a
formação tanto de professores como dos alunos. Este planejamento de trabalho, baseia-
se na perspectiva teórico-metodológica, como instrumento significativo de formação
docente, por estar apoiado no processo dialético do ensino e da aprendizagem escolar
que decorre da relação prática-teoria-prática que se estabelece no âmbito da práxis
pedagógica.
O processo de conhecimento na perspectiva Histórico-crítica, considera o
trabalho como uma prática inerente ao ser humano, que é o único ser capaz de
transformar a natureza para atender às suas necessidades materiais. A ação exercida
sobre a materialidade faz o homem criar e produzir o que precisa, ampliando as suas
condições de vida nas relações que permanentemente estabelece com o meio e com os
outros pares, conduzindo dialeticamente o processo de transformação. É por meio dessa
perspectiva que as práticas pedagógicas são compreendidas tendo como base o
desenvolvimento histórico da sociedade.
A base teórico-metodológica desenvolvida com Marx e Engels afirma:
A primeira realidade histórica é, portanto, a
produção dos meios que permitam satisfazer tais
necessidades, a produção da própria vida material, e
de fato esse é um ato histórico, uma exigência
fundamental de toda a história, e que devemos, hoje
como há milhares de anos, executar dia a dia, hora a
hora, simplesmente para manter vivos os homens.
(MARX e ENGELS,1965, p.23)
Nesta perspectiva, é importante ressaltar que o projeto político-pedagógico
busca a organização do trabalho pedagógico da escola em sua globalidade. A principal
39
possibilidade de construção do projeto político-pedagógico passa pela relativa
autonomia da escola, de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto significa
resgatar a escola como espaço público, local de debates de ideias, de diálogo,
fundamentado na reflexão coletiva, na participação ativa e na gestão democrática.
O projeto é pedagógico porque se propõe a realizar no plano da sala de aula um
conjunto de atividades educativas que julga ser adequada para desenvolver nas crianças
as competências necessárias para seu pleno desenvolvimento.
Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efetivação da
intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão participativo, responsável,
compromissado, crítico e criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas
e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua
intencionalidade.
O CURRÍCULO ESCOLAR
O currículo configura-se como o conjunto de valores
e práticas que proporcionam a produção, a
socialização de significados no espaço social, e
contribuem intensamente para a construção de
identidades socioculturais dos educandos.
(BRASIL, 2010, p. 4).
40
meio do processo de ensino; e (e) os processos de avaliação que terminam por influir
nos conteúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes graus da escolarização.
Um dos mais aspectos mais importantes a ser considerado ao refletir sobre o
currículo é que ele não é um instrumento politicamente neutro, por ele passa uma
ideologia, que a equipe escolar precisa identificar e conhecer, a fim de defender a
supremacia da igualdade de direitos a que a escola teria o dever de zelar. É comum e
frequente a presença de componentes ideológicos em meio aos conteúdos escolares,
imposto pela classe dominante que os utiliza para a manutenção de seus privilégios.
É de máxima importância que o currículo seja construído no coletivo da escola,
visando essencialmente o caráter social da educação, a fim de que a realidade
vivenciada pelos estudantes seja o centro de interesse dos estudos, de modo que eles se
sintam estimulados a refletir sobre o exercício da cidadania e da busca de solução para
os problemas inerentes ao seu cotidiano.
Isso pressupõe considerar que todas as atividades desenvolvidas na escola são
curriculares e, portanto, intencionalmente definidas, pois tanto do ponto de vista do
conteúdo como da organização prática, o currículo deve difundir os valores
fundamentais do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao
bem comum e à ordem democrática. (BRASIL, 2010, Art. 13).
O currículo deve estar intimamente relacionado ao contexto cultural em que será
desenvolvido, assim ganha forma e significado educativo à medida que se concretiza
numa prática que leva em conta um conjunto de condições, processos e procedimentos
que o traduzem em aprendizagem para os estudantes.
O currículo não é um conceito, mas uma construção cultural. Isto é,
não se trata de um conceito abstrato que tenha algum tipo de
existência fora e previamente à experiência humana. É, antes, um
modo de organizar uma série de práticas educativas. (SACRISTÁN,
2000, p. 5)
41
Desta forma o autor nos faz entender que para ensinar de modo que haja
aprendizagem é necessário que a equipe escolar identifique o que de fato é relevante que
os alunos aprendam em função de suas necessidades pessoais e também das
necessidades e exigências vigentes na sociedade.
Para que tal premissa se configure como prática de ensino é fundamental que se
reconheça a importância dos conteúdos, para que eles sejam selecionados e tratados
como uma necessidade pessoal e social dos alunos, devendo, para isso, serem
trabalhados em todas as dimensões possíveis, dentro de uma totalidade, exercendo
assim uma função formadora nos educandos, Gasparin (2009).
Saviani (2012) entende a educação como um fenômeno próprio dos seres
humanos, já que “ela é, ao mesmo tempo, uma exigência do e para o processo de
trabalho, bem como é, ela própria, um processo de trabalho” (SAVIANI, 2012, p.12). E
completa afirmando que:
[...] a natureza humana não é dada ao homem, mas
por ele produzida sobre a base da natureza biofísica.
Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de
produzir, direta e intencionalmente, em cada
indivíduo singular, a humanidade que é produzida
histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens
(SAVIANI, 2012, p.13).
42
PAUTA DO MÓDULO II – (UM MODELO POSSÍVEL)
Desenvolvimento
43
- Utilizar uma mensagem curta e disparadora de energia para desvelar as práticas reprodutivistas da
positiva e convergente com o encontro. ideologia das classes dominantes pela
sociedade e pela escola.
- Relembrar o que foi visto no módulo I, a fim de conectar as
partes com o todo em processo, verificando se alguém gostaria Dinâmica: dividir a equipe em trios para
de expor alguma impressão do que serviu o encontro anterior. discutir, refletir e redigir um texto que
sintetize as reflexões sobre as questões e a
Tempo: 15 minutos visão do grupo sobre a realidade educacional:
44
constrangimentos. Tarefa: Em duplas ou trios, elaborar uma
síntese em forma de texto ou mapa
Anotar as noções apresentadas a respeito. Pedir auxílio a uma conceitual, ou outra forma que pareça viável,
pessoa para anotar ou, se for por consenso, gravar em áudio relacionando as ideias do texto às reflexões
para confrontar com as visões futuras e analisar mudanças ou do cotidiano escolar.
permanências de pontos de vista.
O CURRÍCULO DA ESCOLA
Tempo = 1h50
- Socializar o que foi levantado nas análises dos com criterioso Avaliação e Comentários
olhar para as aproximações e distanciamentos em relação a Planejar um espaço que os professor possam
presença ou não de fundamentação teórica observados no avaliai se as ações realizadas contribuíram
trabalho analisado pelos grupos. com o objetivo da formação e descrever
situações que tenham saído do planejamento,
sugerindo melhorias.
45
MÓDULO III. UM MODELO POSSÍVEL NA ELABORAÇÃO DO PTD.
Para elaborar um PTD, primeiro é preciso que o professor escolha uma (ou
mais) unidade de ensino ou tema gerador que considere adequado à realidade e
necessidades de aprendizagem dos alunos, considerando a pertinência do currículo a ser
desenvolvido em cada na de escolaridade .
Plano de organizadores do trabalho pedagógico – Um esquema para auxiliar o
preenchimento das ideias
Instituição:
Unidade:
CABEÇALHO Professor Titular:
Modalidade / Fase:
Turma:
Turno:
Comp. Curricular:
Data Inicial:{tempo calculado para duração do PTD}
Data Final:
IDENTIFICAÇÃO DO OBJETO DE Registre o título da unidade didática que pretenda
ENSINO desenvolver.
46
em cada situação.
47
identificar o quanto esses conhecimentos se aproximam ou se distanciam dos conceitos
mais aprimorados do conhecimento científico a ser proposto.
As informações obtidas pelo levantamento dos conhecimentos prévios
permitirão que o professor faça ajustes adequados a cada realidade observada.
A ANÁLISE das informações apuradas é que direcionará a TOMADA DE
DECISÃO sobre quais as melhores estratégias didáticas para desenvolver o ensino e
promover aprendizagens significativas.
A PROBLEMATIZAÇÃO tem uma função primordial na ativar a capacidade
mental dos alunos em direção às habilidades a serem desenvolvidas. Quanto melhores
forem as problematizações mais o aluno será capaz de se ver aprendendo e mais gosto
terá de entender o que está sendo ensinado. A capacidade problematizadora de um
professor revela a sua habilidade na competência de ensinar e compromisso com o
desenvolvimento da capacidade do outro.
A SISTEMATIZAÇÃO é realização das atividades que visam ativar a mente dos
alunos para produzir conhecimento, ela se operacionaliza a proposta de trabalho
formativo ampliando meios do aluno se expressar e se fazer sujeito de sua ação. Pode
ser feita sistematização através de escrita, desenho, pintura, dança, canto, dramatização,
instalação etc.
A AVALIAÇÃO é o olho mágico que tudo procura ver para identificar os
avanços desejados e as necessidades de readequações e mudanças de estratégias para
garantir aprendizagens solidificadas.
O ato de avaliar permeia todo o processo de trabalho docente, do início da
elaboração do PTD e a todo instante em que as ações docentes e discentes se realizam.
É por meio de uma atitude avaliativa atenta, rigorosa e criteriosa que o professor
consegue saber como seus alunos constroem os conhecimentos intencionalmente
planejados por ele. Tanto que, os resultados das aprendizagens servem para refletir o
desempenho discente e docente, visto que um não existe sem o outro.
Esse é um fato que aponta para a importância da ação reflexão ação, como uma
prática permanente tanto para o professor como para o aluno.
Considerando que “ninguém é sujeito da autonomia de ninguém”, a avaliação
formativa conta a autoavaliação como um de seus elementos, visando uma proposta de
trabalho formativo que prime pelo desenvolvimento da racionalidade na tomada de
decisão.
48
A capacidade de se autoavaliar pode e deve ser ensinada desde cedo para as
crianças desenvolverem melhor o pensamento, a autopercepção, o autoconhecimento e
possam sentir respeito por si mesmas como indivíduos singulares, completos e
complexos. Assim a avaliação escolar deixa de servir só para classificar e passa a servir
para promover e aprimorar as pessoas e as relações entre elas, como pares e parceiros
corresponsáveis pelo autodesenvolvimento humano em defesa da legitima preservação
da espécie que, por falta de razão se autodestrói.
O PTD deve considerar a leitura permanente, a lição e casa, os possíveis casos
de alunos com dificuldade de aprender. Os alunos com distúrbios, transtornos, déficits
intelectuais e altas habilidades também precisam ser identificados para que seja descrito
o que será feito em cada caso.
Vale ressaltar que a autoavaliação como um procedimento a favor do
autoconhecimento, é uma ação que merece toda a atenção porque possibilita que a
pessoa desenvolva a consciência de si mesmo, de suas potencialidades e limitações.
Essa capacidade precisa ser ensinada e desenvolvida dentro da escola, e, para que isso
seja possível, é necessário também ensinar os alunos a conhecer o próprio ato de
conhecer, ou, em outras palavras, fazê-los pensar, analisar e avaliar como se chega a
conhecer o que busca aprender. Este é o exercício da metacognição, que
etimologicamente significa para além da cognição, ou a faculdade de conhecer o próprio
ato de conhecer.
A autoavaliação não visa à atribuição de notas ou menções pelo aluno:
tem o sentido emancipatório de possibilitar-lhe refletir continuamente
sobre o processo da sua aprendizagem e desenvolver a capacidade de
registrar suas percepções. Seu grande mérito é ajudar o aluno a
perceber o próximo passo do seu processo de aprendizagem. Cabe ao
professor incentivar a prática da autoavaliação pelos alunos
continuamente, e não apenas nos momentos por ele estabelecidos, e
usar as informações fornecidas para reorganizar o trabalho
pedagógico, sem penalizá-los (VILLAS BOAS, 2008, p. 52).
49
PAUTA DO MÓDULO III – (MODELO POSSÍVEL)
Conteúdos
- apresentação do material síntese com as definições
necessárias para a elaboração do PTD, estabelecendo
relações com os estudos dos módulos anteriores.
50
desenvolvimento proposto com as habilidades e
critérios previstos nas expectativas de ensino e
aprendizagem. Relatar uma análise descritiva do PTD
considerando um possível feedback ao professor autor
deste produto.
51
SUGESTÃO PARA UMA AUTOAVALIAÇÃO POSSÍVEL PARA O DOCENTE
ELABORAR SEUS PTDs E DESENVOLVER SUAS AÇÕES PEDAGÓGICAS
EM QUALQUER ÁREA DO CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA.
(Esses itens servem tanto para orientar o professor na feitura de seus PTDs como para o
Coordenador Pedagógico auxiliá-lo nos aspectos que encontrar dificuldades.)
Professor(a):
Observe seu PTD e verifique se contempla os itens Sim Sim, mas Não,
elencados abaixo: tenho preciso de
dificuldade. ajuda.
1 Os pressupostos teóricos didático-pedagógicos estão
coerentes com a concepção de ensino adotada pela escola.
2 A(s) unidade(s) ou tema(s) de ensino a ser(em)
desenvolvida(s) no período está(ão)evidenciada(s).
3 As expectativas de ensino-aprendizagem foram descritas
na íntegra.
4 As habilidades e competências e os conteúdos contidos
nas expectativas de ensino-aprendizagem foram
identificados e destacados para facilitar o direcionamento
de sua ação docente.
5 Registrou os objetivos que pretende alcançar com a turma
no decorrer e ao final da unidade a ser estudada.
6 Escolheu alguma forma de mobilizar o interesse dos
alunos para a aprendizagem dos novos conteúdos a serem
abordados.
7 Pensou e registrou as possíveis problematizações que
poderão ser feitas aos alunos para instigá-los a pensar e a
desenvolver as habilidades e competências previstas nas
expectativas de ensino-aprendizagem para que percebam
o sentido dos novos conhecimentos.
8 Planejou momentos de práticas de leitura, utilizando-se
dos diferentes gêneros textuais que circulam em sua área
de conhecimento para ampliar a visão dos alunos sobre o
tema estudado.
9 Pensou e descreveu quais formas de sistematização do
conhecimento poderão ser produzidas pelos alunos para
aproximá-los da teoria e da experimentação dos
conhecimentos científicos.
10 Propôs diferentes tipos de agrupamentos produtivos
considerando a zona de desenvolvimento real de cada
aluno e as potencialidades de suas parcerias para
promover o avanço a um nível mais próximo e cada vez
mais elevado de aprendizagem.
11 Desenvolveu e/ou selecionou atividades e dinâmicas de
trabalho para que os estudantes possam comunicar de
forma oral e escrita os resultados alcançados com o
processo investigativo a que foram desafiados a estudar.
12 Considerou a necessidade de atividades de apoio para os
52
estudantes que apresentam dificuldades de aprendizagem
com diversificação de estratégias de ensino adequadas a
cada caso, visando a inclusão de todos.
13 Previu a utilização de diversos instrumentos diagnósticos
de avaliação que lhe servirão para identificar as
necessidades de replanejar sua prática na regulação do
que está previsto nas expectativas de ensino e
aprendizagem.
14 Explicitou as estratégias avaliativas que pretende utilizar
e os instrumentos de avaliação correspondentes a elas, de
modo que possa verificar as aprendizagens adquiridas e
as que faltam adquirir.
15 Apontou os recursos materiais que pretende utilizar para
otimizar a qualidade do ensino e da aprendizagem
(documentários, laboratórios, mapas, lousa interativa,
jogos, aplicativos, etc.)
16 Mencionou os espaços além da sala de aula que serão
utilizados em função de beneficiar a qualidade do ensino
e da aprendizagem, considerando, também, a necessidade
de agendamento prévio e autorização para atividades
extraclasse.
53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANYAI, Istvan. Zoom. Tradução de Gilda Aquino. Rio de Janeiro: Brinque – Book,
1995.
CORDI, Cassiano et. al. Para Filosofar. São Paulo: Gráfica Ltda., 1995.0
54
MEIRA, M. E. M. (2015) Blog Compartilhando Saberes: A teoria de Vigotski.
Disponível em < http://www.compartilhandosaberes.com.br> Acesso em: 10/10/2015.
REVISTA NOVA ESCOLA. (2013) Para que serve ensinar Ciências? Publicado
em abril de 2013.Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/gestao-
escolar/palavra-de-especialista-ensinar-ciencias-737943.shtml?page=4 >. Acesso em
20/08/2015.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro; RESENDE, Lúcia Maria G. de (orgs.). Escola: Espaço
do Projeto Político Pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1998.
55
______ . Avaliação Formativa e Formação de Professores: ainda um desafio. Linhas
Críticas, Brasília, v. 12, n. 22, p. 75-90, jan./jun. 2006
______. Virando a escola pelo avesso por meio da avaliação. Campinas-SP: Papirus,
2008.
VYGOTSKY, L.S. 1989. A Formação Social da Mente. Martins Fontes, São Paulo.
56