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EXMO. SR. DR.

JUIZ FEDERAL DA 19 ª VARA DO TRABALHO DO RIO DE


JANEIRO – RJ.

Processo nº 0100317-87.2022.5.01.0064

PAULO CESAR RIOS BERCHIOLI, brasileiro,


casado, autônomo, portador da carteira de identidade nº. 09.786.160-3, expedida pelo
IFP/RJ, inscrito no CPF sob o nº. 044.586.087-05, sem endereço eletrônico,
ELISABETE RIOS BERCHIOLI (Telefone: +351 96958-8937), brasileira, inscrita
no CPF nº 025.542.487-61; sem endereço eletrônico e MAURA RIOS BERCHIOLI,
CPF nº 624.969.807-87, sem endereço eletrônico, todos domiciliados na Rua Senador
Lameira Bittencourt, nº 51 – Frente, Senador Vasconcelos, Rio de Janeiro/RJ, CEP:
23.085-140, por seu advogado e procurador in fine assinado, com endereço para os fins
do art. 39, I, do CPC na Rua Cel. Herculano Jr. Nº 11, Senador Augusto Vasconcelos,
Rio de Janeiro, CEP: 23085-190. TEL.: 21 96408-7276, nos autos da Reclamação
Trabalhista que lhe é movida por MARISA FERREIRA DE OLIVEIRA, vem
respeitosamente apresentar:
CONTESTAÇÃO

À pretensão autoral pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

PRELIMINARMENTE

Alega a autora ter sido contratada para exercer a função de cuidadora de idoso,
sem anotação na CTPS, trabalhando de segunda a sábado, sem intervalo para refeição e
descanso, tendo sito demitida pelo réu.

NO MÉRITO:

Da realidade fática.

Tem-se aqui, na presente lide, incontestavelmente, um caso de diarista e não de


Doméstica ou cuidadora como quer a Reclamante. Fato que pode ser comprovado pelos
PRINTS na inicial da demandante.

Fica claro e evidente que no primeiro contato com a reclamante foi em busca de
alguém para cuidar apenas da casa, até porque sua mãe Dna Maura, vive com seu
esposo e tem uma pessoa capacitada para os seus cuidados, fatos esses demonstrados em
uma das conversas entre a reclamante e o reclamado.

Cumpre esclarecer que a autora começou a prestar serviços para os réus, na


função de diarista, fazendo a faxina na residência do réu três vezes por semana, em
média, sem horário de entrada e saída específico, contudo geralmente chegava as
07:00hs e saia às 17:00hs sem subordinação, eis que fazia seu trabalho de seu jeito, sem
que alguém lhe desse ordens, recebendo o valor de R$ 60,00 (sessenta reais) por dia
trabalhado, fato também comprovado em conversa entre a reclamante e o reclamado.
Excelência, apesar de já demonstrado nos autos que a reclamante nunca exerceu
o trabalho principalmente de cuidadora de idosos é o fato da mesma não possuir a
qualificação técnica exigida para o desempenho da função, como por exemplo o curso
de cuidador de idosos.

A reclamante apesar de se oferecer, jamais atuou no ofício de cuidadora de


idosos junto aos réus.

Desta forma, impugna todas as alegações autorais sob suposto vínculo


empregatício que nunca existiu.

Impugna ainda, o réu, o salário apontado na inicial, eis que totalmente inverídico
e sem qualquer comprovação.

Impugna os prints utilizados como provas, pois estão fora da ordem cronológica
e foram colocados de forma a distorcer a veracidade dos fatos.

A autora sempre esteve livre para trabalhar em outras casas nos dias em que
estava disponível, podia trocar o dia da semana em que vinha, se houvesse necessidade
e nunca teve nenhuma das características elencadas na CLT para comprovação do
vínculo. Por isto, descabido o pedido de anotação da CTPS e demais pedidos
decorrentes do suposto vínculo.

Como exposto, seu horário era flexível. Comparecia nos dias determinados,
cumpria o serviço e ia embora, sem obrigação de ficar à disposição da Reclamada até o
final de um expediente normal de doméstica.

Faltam aqui alguns dos elementos ensejadores do reconhecimento do vínculo, a


teor do artigo 3º da CLT, qual seja a não eventualidade ou a continuidade e a
subordinação.

Descabida ainda a alegação da autora que viajava na função de cuidadora, sendo


que este fato jamais ocorreu, lembrando que a demandante não possui as qualificações
técnicas exigidas para exercer o trabalho de cuidadora, e como demostrado através de
conversas de WhatsApp, o reclamado contratou a reclamante para cuidar da casa como
diarista. Do mesmo modo jamais ocorreu a autora dormir no local de trabalho, eis que
apenas era diarista, não necessitando dormir, ou cuidar de qualquer idoso, sendo
descabido o pedido de acúmulo de função desde já impugnando.
Impugna ainda os horários apresentados na inicial, eis que a autora não tinha
horário definido para entrar e sair, podendo almoçar inclusive pelo tempo que desejasse,
tendo sempre uma hora ou mais disponíveis para tal, sendo inclusive lhe fornecido o
almoço. De forma que não há que se falar em horas complementares que desde já
impugna.

Em face da não caracterização do vínculo empregatício, indevidos pagamentos


de férias, 13°, FGTS, INSS, multas 477, 467 e demais pedidos solicitados decorrentes
do vínculo solicitado.

Quanto à suposta demissão, não houve demissão, e sim o fim da prestação dos
serviços que se deu aliás por parte da própria autora, que informou ao réu, não poder
mais prestar os serviços para o mesmo.

Indevido ainda o pedido quanto aos honorários advocatícios, denominados como


perdas e danos pela autora, eis que não assistida pelo sindicato da categoria.

Impugna qualquer pedido de acional noturno, já que a reclamante nunca


trabalhou além do horário previsto para os cuidados da residência, que jamais passaram
das 17hs.

A Lei que regulamenta a profissão de doméstica (5.859/72), em seu artigo 1º,


por si só já define e caracteriza do empregado doméstico, “considerado aquele que
presta serviços de natureza contínua...”. Caracterização que é repetida pelo Decreto nº
71.885, de 9 de março de 1973, em seu artigo 3º, I, que regulamenta a Lei supra citada.

Assim tem decidido o TST:

“PROCESSO: ED-ED-RR NÚMERO: 422922 ANO: 1998 PUBLICAÇÃO: DJ -


23/08/2002 PROC. Nº TST-ED-ED-RR-422922/98.7 C: A C Ó R D Ã O 4ª Turma

EMPREGADA DOMÉSTICA DIARISTA. SERVIÇOS PRESTADOS APENAS


ALGUNS DIAS DA SEMANA DURANTE VINTE E TRÊS ANOS. VÍNCULO DE
EMPREGO. AUSÊNCIA DO ELEMENTO CONTINUIDADE. SILÊNCIO ACERCA
DA SUBORDINAÇÃO. OMISSÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. Se o v. acórdão
embargado, ao dar provimento ao recurso de revista dos reclamados para julgar
improcedente a ação, adotou como razão de decidir a falta de continuidade, uma vez
que, não obstante o fato de haver prestado serviços durante vinte e três anos, a
reclamante o fazia apenas alguns dias da semana, irrelevante e diversionista é a
pretensão de obter pronunciamento judicial acerca da subordinação, requisito legal que,
mesmo se configurado, como entendeu o v. acórdão regional, não se mostra suficiente
para afastar o fundamento eleito para a improcedência da ação. Embargos de declaração
acolhidos apenas para prestar esclarecimentos. (nossos os destaques).”

Para melhor entendimento colhe-se aqui a fundamentação da decisão no Recurso de


Revista objeto dos Embargos acima citado:

“PROCESSO: RR NÚMERO: 422922 ANO: 1998 PUBLICAÇÃO: DJ - 01/03/2002


PROC. Nº TST-RR-422.922/1998.7

“RECURSO DE REVISTA. RELAÇÃO DE EMPREGO. DOMÉSTICO.


REQUISITOS. 1. O pressuposto da continuidade, cogitado no art. 1º, da Lei nº 5.859,
de 1972, traz em si o significado próprio do termo, ou seja, sem interrupção. A
trabalhadora que presta serviços em alguns dias da semana, por conseguinte, não pode
ser enquadrada como empregada doméstica. Precedentes. 2 . Recurso conhecido e
provido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista nº TST-RR-
422.922/1998.7, em que são Recorrentes GLAUCOS STARK e OUTRA e Recorrida
AMÉLIA STELLE MENEZES .

Do arcabouço fático sedimentado na origem, extraível que a autora trabalhava 03 (três)


vezes na semana, freqüência posteriormente reduzida para 02 (duas) e, finalmente,
apenas 01 (uma) vez (fls. 137 e 146, in médio )

O requisito, data vênia, deve ser encarado na sua amplitude, sendo também certo
que o componente quantitativo não revela o condão de mascarar o qualitativo. A mens
lege, neste sentido, visou afastar da regência da norma regulamentadora da profissão os
trabalhadores que, muito embora comparecessem alguns dias da semana, o fruto de seu
trabalho não fosse contínuo, isto é ininterrupto. E a razão reside exatamente no fato das
tarefas domésticas do empregado, na acepção legal, serem diárias.

Assim, e por ausente requisito essencial exigido pela norma aplicável, para
configuração do vínculo de emprego doméstico, dou provimento ao recurso de revista e
julgo improcedentes os pedidos formulados, com a natural inversão dos ônus da
sucumbência. Prejudicado o exame da matéria remanescente.” (destacamos)”

Dos Danos Morais.

A falta de assinatura na CTPS e o presumido não recebimento de verbas


rescisórias por si só não têm o condão de gerar direito à percepção de danos morais.
Não há aqui “um típico e clássico dano moral, indenizável”, para usar os termos da
Reclamante.

É bem verdade que o dano moral é presumível. Mas não é qualquer ato praticado
numa relação jurídica, qualquer que seja ela, que pode ser apontado como gerador de
indenização por danos morais.

É necessário que, os eventuais constrangimentos, tristeza, humilhação e


prejuízos sejam intensos a ponto de poderem facilmente distinguir-se dos
aborrecimentos e dissabores do dia a dia, situações comuns a que todos se sujeitam,
como aspectos normais da vida cotidiana, nada disso tendo sido provado pela autora.

Ainda mais que a mesma como supramencionado trabalhava como diarista não
procedendo assim o pedido de vínculo empregatício e consequentemente as verbas
rescisórias, desta forma resta improcedente o pedido de damos morais.

Diante de todo exposto, requer a V. Exa. que, no mérito, julgue a presente


Reclamação TOTALMENTE IMPROCEDENTE DANDO IMPROCEDENCIA A
TODOS OS PEDIDOS, (art. 269, I, CPC), por ser medida da mais cristalina e
merecida JUSTIÇA, caso seja julgado procedente algum pedido hora argumentado,
deste já requer a observância da obrigatoriedade perante a LEI COMPLEMENTAR Nº
150, DE 1º DE JUNHO DE 2015.

Requer a condenação da Autora nas custas processuais e honorários advocatícios.

Finalmente, restam contestados os pedidos como se aqui estivessem transcritos e


negados um a um, protestando por todos os meios de prova admitidos, sem exclusões,
especialmente prova documental, testemunhal e depoimento pessoal da Reclamante, que
desde já se requer.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Rio de Janeiro, 10 de agosto de 2022.

EDEGAR JESUS COSTA

OAB/RJ 174.931

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