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ADVOCACIA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA VARA DO TRABALHO DE _____

Processo nº _____________

________________________, já qualificado na inicial vem,


respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por intermédio de sua
procuradora signatária, “ut” instrumento de mandato anexo, oferecer

CONTESTAÇÃO

à Reclamatória Trabalhista que lhe move


________________________, igualmente já qualificado nos autos supra
epigrafados, pelas razões de fato e de Direito a seguir expostas:

1 – Da inicial
O Reclamante alega que iniciou a trabalhar como empregado
rural do Reclamado em 01/03/2007, com jornada das 6h30min às 19h30min, com 1h
e 30min de intervalo para alimentação, vindo a ser despedido em 30/11/2008, sem
que tenha havido anotação em CTPS, nem tenham sido pagas as horas extras
trabalhadas e as verbas rescisórias.

Contudo, razão não lhe assiste, consoante se passa a


demonstrar.

2 – Da realidade fática
O Reclamante aduz que foi empregado rural do Reclamado de
01/03/2007 a 30/11/2008. Entretanto, completamente inverossímil a informação.

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Em 1º/04/2007 o Reclamante foi contratado pelo Contestante


para trabalhar como caseiro, atividade de cunho doméstico, sendo-lhe aplicáveis as
normas da Lei nº 5.859/72, a qual prevê em seu artigo 1º que é considerado
empregado doméstico aquele que presta serviços de natureza contínua e de
finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial destas.

Consoante previsto pela Lei nº 5.889/73, regulamentada pelo


Decreto nº 73.626/74, empregado rural é toda a pessoa física que, em propriedade
rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empregador rural,
sob a dependência deste e mediante salário, configurando-se pela forma ininterrupta
e sucessiva com que prestado o labor. Exige-se não só que o trabalho prestado seja
necessário ao bem estar e lucratividade do empregador, como que se repita
sucessivamente, de modo a caracterizar a disponibilidade da mão-de-obra de forma
não-esporádica.

E o art. 3º define o empregador rural como a a pessoa física ou


jurídica, proprietário ou não, que explore atividade agroeconômica, em caráter
permanente ou temporário, diretamente ou através de prepostos e com auxílio de
empregados.

Nesta senda, tal relação NUNCA ocorreu entre as partes,


pois diferentemente do que alega a Reclamante, ele era caseiro do Reclamado,
não recebeu ordens dele para qualquer atividade comercial como prestação de
serviços, motivo pelo qual não há que se falar em relação de emprego que não
a doméstica.

Nesse sentido, as decisões em casos similares, proferidas pelo


TRT da 4ª Região, in verbis:

Vínculo de emprego rural. Inexistência. A exploração de atividade


agroeconômica pelos empregadores é requisito essencial para a
caracterização do vínculo de emprego rural, na forma preconizada pela Lei

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nº 5.889/73, o que inocorre na espécie, onde a relação jurídica havida define-


se como de emprego doméstico, regulada pela Lei nº 5.859/72. Sentença
reformada. Recurso provido. (Processo nº 01548-2006-411-04-00-5 RO , da
lavra da Relatora Juíza Denise Pacheco, publicado em 26.09.2008)

TRABALHO RURAL - NATUREZA DO VÍNCULO. Para que se configure


vínculo de emprego rural é necessário que o trabalhador preste serviços de
natureza não-eventual, mediante remuneração, o empregador rural, assim
considerado aquele que explore atividade agroeconômica diretamente ou
através de prepostos. Inteligência do disposto nos artigos 2º e 3º da Lei
5.889/73. (processo nº 00423-2006-402-04-00-7, da lavra do Relator Des.
Ricardo Tavares Gehling, publicado em 02.12.2008)

Esclarece-se que a propriedade em que laborava o Autor era


arrendada para o plantio de soja, bem como havia apenas uma pequena criação de
animais, para consumo da própria família e do Reclamante.

Suas atividades consistiam em zelar pela propriedade de uma


forma geral, passando inclusive a residir no local e a usufruiur dele como se seu
fosse.

A jornada contratada era de 44 horas semanais. Contudo, não


havia estabelecimento de horário de início e fim de jornada, devido à natureza do
serviço prestado, bem como não haver qualquer pessoa responsável pelo controle
de horário, uma vez que o Reclamante era o único residente na Fazenda.

Era o Autor quem decidia quando trabalhar, era dele a decisão


de realizar determinadas tarefas ou não no dia a dia, sem qualquer ordem do
Reclamado; tinha total liberdade para se ausentar da Fazenda sem necessidade de
nenhuma autorização.

O salário contratual sempre foi o legalmente previsto, o que se


ressalta apenas para esclarecer, eis que não há qualquer pedido relativo aos
salários percebidos.

Quando eventualmente necessário deslocamento em função


de trabalho, havia o pagamento do transporte correspondente.

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Com relação à CTPS, sempre foi desidioso Autor, inventando


explicações variadas pela não apresentação, exigida desde o dia da contratação,
passando o Reclamado a efetuar os pagamentos mediante recibos, que ora são
anexados.

Quando do rompimento do contrato, o Reclamado mais uma


vez exigiu a entrega da CTPS para regularização, prometendo o Reclamante que a
alcançaria, mas mais uma vez não cumpriu com o acertado.

Como é consabido, a Lei supra citada contêm os direitos


assegurados aos trabalhadores que prestam serviços no âmbito familiar, dentre os
quais não está arrolado o direito à percepção de horas extras.

O artigo 7o da Constituição da República, de sua vez, fixa em


8h diárias e 44h semanais os limites da jornada do trabalhador, direito, entretanto,
não assegurado aos domésticos (parágrafo único do art. 7 o) e, incontroverso, o
empregador não está obrigado a adimplir direitos não previstos legalmente.

Ao empregado doméstico apenas foi estendida a garantia do


direito à percepção de um salário mínimo ou piso categoria ao menos,
considerando-se que este remunera todo o laboro desenvolvido.

Quanto ao pedido de pagamento de indenização pelo aviso


prévio, férias e 13º vencidos, melhor sorte não lhe assiste, pois como se verifica nos
recibos em anexo e será complementado por prova testemunhal, ocorreu o
pagamento devido.

Relativamente ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e


indenização do seguro-desemprego, também nada é devido ao Reclamante, eis que
a inscrição do empregado no instituto é FACULDADE do empregador doméstico e
não obrigação.

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Com relação aos feriados e finais de semana, não havendo


jornada estabelecida, não há que se falar em pagamento. Imperioso salienta
novamente que o Autor residia na propriedade em que trabalhava, de forma que, se
lá permanecia aos finais de semana e feriados, era porque literalmente estava em
cada. Ademais, como será oportunamente comprovado por testemunhas, o
Reclamante era completamente livre para fazer passeios e viagens quando melhor
lhe aprouvesse.

Ao Reclamante sempre foram fornecidos os EPIs e


indumentárias necessários ao trabalho diário da Fazenda, de modo que o pedido de
indenização da cláusula nona da convenção coletiva juntada com a inicial deve ser
totalmente improcedente, juntamente com seus consectarários.

Por todo o esposado, claro está que o Reclamante, não se


desincumbiu a contento do ônus de provar suas alegações, que lhe é imposto pelos
art. 818 da CLT e 333, I, do CPC, emergindo dos autos a improcedência da ação.

Entretanto, caso esta MM. Junta entenda ser devido alguma


verba ou diferença salarial à Reclamante, o que se admite apenas em face ao
princípio da eventualidade, requer seja autorizado o desconto da parcela deferida e
que couber à Autora, o recolhimento fiscal e previdenciário atinente, conforme
preceitua o art. 46 da Lei 8.541/92 de 24.12.92, Lei 8.212 de 24.06.91 em seu art. 43
caput e parágrafo único e art. 44 cm a redação dada pela Lei 8.620 de 05.01.93.

"DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO


TRABALHO. É perfeitamente cabível nesta Especializada, a determinação
dos descontos previdenciários. Nesse sentido, além do Provimento 03/84 da
Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, temos o art. 44 da Lei 8.2113 de
24/07/91" que determina o recolhimento das contribuições devidas à
Seguridade Social, incontinenti. Revista conhecida e provida." (TST - RR -
3882/90.8, Ac. 3ª T 0008/93, ReI. Min. Roberto Dalla Manna) in DJU de
22/10/93, pág. 22383

"DEDUÇÕES TRIBUTÁRIAS E PREVIDENCIÁRIAS. COMPETÊNCIA DA


JUSTiÇA DO TRABALHO - As deduções relativas ao Imposto de Renda e à
contribuição previdenciária decorrem de lei, sendo, pois, da competência da

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Justiça do trabalho tal determinação. Além de terem respaldo no Provimento


n° 03/84 da Corregedoria desta Justiça Especializada, têm previsão legal
expressa na Lei 8.212 e na Lei 7.713, respectivamente. Revista provida, no
particular." (TST - RR - 68.982/93.9, Ac. 23 T 3408/93, ReI. Min. Hylo
Gurgel, Recorrente Frigodiniz S/A Comércio e Indústria, Recorrido IIdeu
Camargo) in DJU de 19/11/93, pág. 24755.

No tocante a Assistência Judiciária Gratuita e Honorários


Advocatícios, em nada devendo o Contestante ao Autor, improcede o pedido de
condenação na verba honorária, devendo esta ser a tese acolhida pelo MM
Magistrado do Trabalho.

Na eventualidade de qualquer condenação, requer o seja


autorizado o desconto / compensação dos valores já adimplidos pelo Reclamado.

3 – Dos requerimentos

Com base nos argumentos supra explanados aliados à


documentação anexada, clara está a tentativa do Reclamante de se locupletar
às custas do Demandado, requerendo verbas às quais sabidamente não tem
direito, de forma que tal conduta, beirando às raias da má-fé e da ilicitude e
não pode de forma alguma ser sancionada por esta Justiça Laboral, de modo
que a ação deve ser julgada totalmente improcedente isentando o Reclamado
de toda e qualquer condenação, inclusive custas e honorários advocatícios,
requerendo pois seja acolhida a defesa em todos os seus termos, por ser de
DIREITO e merecida JUSTIÇA!!!!

Diante de todo o exposto requer:

a) seja julgada TOTALMENTE IMPROCEDENTE a presente Reclamação


Trabalhista.

b) a produção de todas as provas em direito admitidas, mormente o depoimento


pessoal da Reclamante e a oitiva de testemunhas;

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c) em caso de eventual procedência da ação, sejam autorizados os descontos


previdenciários e fiscais que incidam sobre as parcelas deferidas à Autora, como
disposto na Lei nº 8.212/91, em seus artigos 43 e 44, nos Provimentos 02/93 e
01/96, da Corregedoria da Justiça do Trabalho, no artigo 46 da Lei nº 8.541/92, na
Instrução Normativa nº 25/96 da Receita Federal e também de acordo com o
Provimento 01/96 da Corregedoria da Justiça do Trabalho;

d) o desconto / compensação, em caso de condenação, das verbas já pagas à


Reclamante, inclusive se a maior, no curso do contrato, compensando-se a
diferença nos créditos reconhecidos.

e) Pelo Princípio da Eventualidade, caso esta MM. Vara entenda que algum valor é
devido ao Autor, o que não se acredita, requer seja autorizado o desconto do legal
devido à utilização da moradia na Fazenda.

Nestes termos,

pede deferimento.

____________, __ de ___________ de _____.

_______________________
OAB

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