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Profª.

Waléria Cristo
9°ANO
LITERATURA PARAENSE Ruy Barata é um dos maiores poetas brasileiros
e foi referência para muitos artistas do Norte. Suas
A LÍRICA DE RUY BARATA letras vão da simplicidade da vida ribeirinha e suas
peculiaridades ao rebuscado universo do amor. Ruy
Barata representa muito para a cultura nortista. Porque
ele foi muitos em uma pessoa só.

O cotidiano amazônico na lírica de Ruy Barata

"Esse rio é minha rua


Minha e tua, mururé
Piso no peito da lua
Deito no chão da maré"

(Paulo André e Ruy Barata)

“Na minha terra, no Norte, o rio é muito mais


Ruy Guilherme Paranatinga Barata é um dos que um lugar para retirar os alimentos, uma via para
maiores nomes da cultura paraense do Século XX. transportes ou até mesmo fundo de esgoto... é
Nasceu a 25 de junho de 1920 em Santarém. Filho de significado de vida para muitas pessoas, que de
uma geração rica de criadores intelectuais, foi uma das alguma forma dependem do rio, moram no rio, andam

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Art. 30 da Lei 5.988/73


primeiras vozes singulares do homem amazônico, na pelos seus longos trajetos, e muitas vezes, nunca
linha dos feitos por outros escritores da região Norte do saíram da "beiro do rio", não é a toa que são chamados
Brasil. Após sair da vida política, passou a desenvolver de "ribeirinhos"... O rio que dá abrigo e alimento a tantas
intensa atividade cultural no estado do Pará, onde foi pessoas virou canção, virou história... tornou-se vivo...
Professor de literatura da Universidade Federal do Pará
(UFPA). Também foi poeta e compositor, tendo várias O trecho da canção que citei é de um carimbó
músicas de sucesso gravadas pela cantora Fafá de muito famoso no Pará, este ritmo conta coisas
Belém como: "Foi Assim", "Pauapixuna" e "Esse rio é cotidianas da vida ribeirinha, da mata, da cultura
minha rua". indígena, da Amazônia, que a princípio pode parecer
Situado entre o Simbolismo e a Poesia Social, a rude e simples, mas seu significado e sua força está
obra poética de Ruy Barata está publicada em Anjo dos justamente na simplicidade de mostrar a vida, cujas
abismos (1943), A linha imaginária (1951), Violão de rua mensagens subliminares se apresentam em letras tão
(1962) e Antilogia (2000). No livro crítico-biográfico próprias... Vejam o trecho citado, inicia falando da
sobre sua obra, Paranatinga (1984), escrito por Alfredo função do rio... ele é a rua... caminho único a ser
Oliveira, também aparece um conjunto de poemas do trilhado todos os dias de barco, de canoa, de qualquer
poeta. Ruy Barata morreu em São Paulo no dia 23 de jeito em seus inúmeros furos (braços de rio) usados
abril de 1990. para levar as pessoas aos seus destinos. Quem trafega
Ruy Barata buscou por uma expressão literária no rio, o divide com "mururé", palavra tupi ( muru'ri) que
autônoma à literatura brasileira. Onde o poeta designa várias plantas de folhas grandes e largas, ou
redimensionou ao universo amazônico: seja, o ribeirinho não está só no rio... Ele divide o
espaço com a natureza, com as plantas, e com tudo
"Eu sou de um país que se chama Pará", diria que ali habita.
na letra da música Porto Caribe, parceria com Paulo Quando a canção fala "piso no peito da lua e
André Barata, seu filho e grande parceiro musical. Para deito no chão da maré", pode-se pensar na
Ruy Barata "a chamada letra regional é sempre uma maravilhosa sensação de proximidade da natureza,
letra política" e completa: culturalmente naturalizada, pois a lua cheia se reflete no
rio e revela seu verdadeiro tamanho e força,
"O opressor sempre impõe a sua linguagem. O regional especialmente relevada nos saberes populares e no
foge a essa imposição. respeito às influencias da lua no cotidiano das pessoas
Todas as minhas letras são políticas (...). Flagram uma (na própria maré quando enche e seca, no período
realidade local e, necessariamente, não servem a apropriado para cortar o cabelo, no tempo de um parto,
qualquer regime". - Ruy Barata. no período de um remédio, etc.). Penso que ao ver a lua
de perto é possível pisar nela pelo rio, e, ao mesmo
Passou a escrever aquela que viria a ser sua tempo, deitar-se na maré... Isto não é magnífico?
última criação e à qual dedicou pelo menos os dez E pensar que muitos de nós, inclusive nortistas,
últimos anos da vida: o poema „O Nativo de Câncer”, desconhecem ou ignora os saberes da terra, o valor do
intitulado apenas como “O Nativo”, no Suplemento rio...”
Literário da Folha do Norte, em 1960. Foi aprimorado Tarde de maré cheia na UFPA
nos últimos dez anos de vida de Ruy, sendo que a (Fonte: Emerson Duarte)
publicação do texto completo feita somente em 2000, no
livro Antilogia, contendo outros 13 poemas, alguns deles
inéditos.

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Linguagens códigos e suas tecnologias
Texto 1: Esse rio é minha rua Cugat: Xavier Cugat (1900-1990), maestro espanhol-cubano, um dos
Esse rio é minha rua pioneiros na popularização da música latina nos EUA.
Yo non puedo vivir sin bailar: eu não posso viver sem dançar.
Minha e tua Mururé Fungá: abreviação de “fungado”, ou seja, cheirar mantendo-se com o
Piso no peito da lua corpo colado no outro.
Deito no chão da maré Mandinga: ato ou efeito de mandingar; feitiço; feitiçaria.
Texto 3
Pois é, pois é PAUAPIXUNA
Eu não sou de igarapé Uma cantiga de amor se mexendo
Quem montou na Cobra grande Uma tapuia no porto a cantar
Não se escancha em poraqué Um pedacinho de lua nascendo
Uma cachaça de papo pro ar
Rio abaixo, rio acima
Minha sina cana é Um não sei quê de saudade doendo
Só de pensar na "mardita" Uma saudade sem tempo ou lugar
Me "alembrei" de Abaeté Uma saudade querendo, querendo...
Querendo ir e querendo ficar
Pois é, pois é
Eu não sou de igarapé Uma leira, uma esteira,
Quem montou na Cobra grande Uma beira de rio
Não se escancha em poraqué Um cavalo no pasto,
Uma égua no cio
Me "arresponde" boto preto Um princípio de noite
Quem te deu esse pixé Um caminho vazio
Foi limo de maresia Uma leira, uma esteira,
Ou inhaca de mulher? Uma beira de rio

Pois é, pois é E, no silêncio, uma folha caída


Eu não sou de igarapé Uma batida de remo a passar
Quem montou na Cobra grande Um candeeiro de manga comprida
Não se escancha em poraqué. Um cheiro bom de peixada no ar

vocabulário Uma pimenta no prato espremida


mururé: planta aquática Outra lambada depois do jantar
escancha: posição do cavaleiro, monta.
Uma viola de corda curtida
poraquê: peixe elétrico dos rios amazônicos.
pixé: cheiro ruim; cheiro de peixe, pitiú. Nessa sofrida sofrência de amar
limo: mistura viscosa, pegajosa, de matéria orgânica e água; barro,
lama, lodo. Uma leira, uma esteira,
Inhaca: fedor exalado por pessoa ou animal; catinga.
Uma beira de rio
Texto 2 Um cavalo no pasto,
Porto Caribe Uma égua no cio
Quem vai querer, vai querer
Vai querer desarrumar Um princípio de noite
Quem vai querer, vai querer Um caminho vazio
Vai querer lambadear Uma leira, uma esteira,
Uma beira de rio
Eu sou de um país que se chama Pará
Que tem no Caribe o seu porto de mar E o vento espalhado na capoeira
E sei, pelos discos do velho Cugat A lua na cuia do bamburral
Que yo, yo non puedo vivir sin bailar A vaca mugindo lá na porteira
E o macho fungando cá no curral
Lambada, nêga, vem cá
Neguita, nêga me dá O tempo tem tempo de tempo ser
Me dá que eu dou O tempo tem tempo de tempo dar
Te dou aquele fungá Ao tempo da noite que vai correr
Das ilhas de bom chamar amor O tempo do dia que vai chegar
Calar, eu me calei Uma leira, uma esteira,
Agora vou falar Uma beira de rio
Paris, se cheguei vou ficar Um cavalo no pasto,
New york, Moscou, Berlim e Bogotá Uma égua no cio
Eu sou mandinga do meu Pará. Um princípio de noite,
Um caminho vazio
Vocabulário: Uma leira, uma esteira,
Lambadear: dançar lambada, ritmo paraense de influência caribenha.
Uma beira de rio.

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Linguagem, Códigos e suas Tecnologias.
Faça uma relação entre essa afirmativa sobre o
ATIVIDADE QUALITATIVA - 3ª AVALIAÇÃO (2.5 pts) povo paraense e os versos de “Porto Caribe”.
01. (0,25) Explique a associação feita entre o rio e a rua
explicitada pelo poeta no texto 1.

06. Na última estrofe o eu-lírico não mais negará


sua origem e cultura diante de outras culturas.
Responda:
a) (0,25) Que palavra ele utiliza para marcar um
traço cultural paraense?

02. (0,25) No segundo verso do texto 1, com quem fala


o eu-lírico e o que ele afirma ser dos dois? Explique b) (0,25) Assim como a palavra, o paraense
essa afirmativa. também sofre com o preconceito. Mas o eu-lírico
se impõe e assume sua cultura. Que verso da
última estrofe faz essa junção?

08. (0,25) No texto 3 é possível notar um olhar


mais contemplativo do eu-lírico para a natureza?
03. (0,25) Explique o sentimento de força e grandeza do
eu-lírico ao se apresentar nos versos abaixo: Exemplifique sua resposta utilizando versos do
poema.
Pois é, pois é
Eu não sou de igarapé
Quem montou na Cobra grande
Não se escancha em poraquê

09. (0,25) Apesar de demonstrar um sossego


interior, o eu-lírico expressa que a natureza ao seu
redor está em constante movimento. Exemplifique
esta afirmativa um trechos do poema.

04. (0,25) Explique a mistura entre que fez o poeta entre


a realidade e o imaginário amazônico nos versos
abaixo:

Me "arresponde" boto preto 10. (0,25) Há diferenças entre o espaço dos três
Quem te deu esse pixé poemas? Explique.
Foi limo de maresia
Ou inhaca de mulher?

05. (0,25) Costuma-se dizer que o paraense é


festeiro, alegre e que “desarruma” onde chega!

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