Você está na página 1de 230

PARASITOLOGIA

CLÍNICA
Prof.ª Daiany Darlly Bello Redivo
Prof.ª Gabriela Deretti Kasmirski

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof.ª Daiany Darlly Bello Redivo
Prof.ª Gabriela Deretti Kasmirski.

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

R317p

Redivo, Daiany Darlly Bello

Parasitologia clínica. / Daiany Darlly Bello Redivo; Gabriela


Deretti Kasmirski. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

218 p.; il.

ISBN 978-65-5663-165-3
ISBN Digital 978-65-5663-160-8
1. Parasitologia. - Brasil. I. Kasmirski, Gabriela Deretti. II.
Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 616.96

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Convido você para que, juntos, possamos iniciar o
estudo do Livro sobre a Parasitologia Clínica. Este livro é divido em três uni-
dades, que têm como objetivo conjunto, apresentar de forma clara e objetiva
a epidemiologia das parasitoses, como podemos realizar seu diagnóstico,
bem como sua profilaxia, em busca de proporcionar uma melhor qualidade
de vida à comunidade.

As parasitoses são muito frequentes em nosso meio, principalmente


em áreas onde a capacidade socioeconômica é reduzia. Além disso, muitos
são os fatores que favorecem o seu aparecimento, como a falta de higiene
e saneamento básico. Com isso, nosso dever como profissionais da área da
saúde e detentores desse conhecimento, é o de obter o máximo de informa-
ção possível para auxiliar no combate às parasitoses, que são muito presen-
tes em nosso meio e que causam tantos problemas de saúde.

Na primeira unidade, estudaremos os conceitos relacionados à parasi-


tologia, para que consigamos entender a nomenclatura utilizada quando esta-
mos relacionando as parasitoses e as patologias por elas causadas, conhecendo
melhor o parasita, o hospedeiro e as ações, muitas vezes de agressão, que ocor-
rem da interação desses dois elementos. Estudaremos também as principais
parasitoses ocasionadas por Helmintos do filo Nematoda e do filo Platyhelminthes,
onde estudaremos todas as características individuais de cada parasitose.

A segunda unidade, nos traz o conhecimento sobre os protozoários,


que também causam problemas quando em contato com o homem, por isso
vamos estudar um pouco de epidemiologia dessas parasitoses, a morfologia
do parasita, que se torna essencial para o seu diagnóstico, seu ciclo biológico,
problemas de saúde que ele pode causar e medidas profiláticas. Tenha certe-
za acadêmico, que será um estudo bem completo para que possamos auxiliar
a todos no combate contra as parasitoses.

Na terceira unidade, aprofundaremos o conhecimento no que diz


respeito às técnicas e metodologias mais empregadas no setor de parasito-
logia, abordando diversas técnicas como Hoffman e Faust, as quais avaliam
a presença de ovos pesados e larvas de helmintos, e cistos de protozoários e
ovos leves, respectivamente.

Preparado para essa imersão em conhecimento? Então, vamos lá!

Profª. Daiany Darlly Bello Redivo


Profª. Gabriela Deretti Kasmirski
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS..................................... 1

TÓPICO 1 — CONCEITOS APLICADOS À PARASITOLOGIA.................................................. 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 REGRAS DE NOMENCLATURA E CLASSIFICAÇÃO............................................................... 5
3 CLASSIFICAÇÃO DE HOSPEDEIROS E VETORES................................................................... 5
4 MECANISMOS DE INFECÇÃO E DISSEMINÇÃO PELO ORGANISMO............................. 6
5 CICLO BIOLÓGICO MONOXÊNICO E HETEROXÊNICO....................................................... 8
6 FATORES INERENTES AO PARASITA E AO HOSPEDEIRO................................................... 9
7 MECANISMOS DE AGREÇÃO...................................................................................................... 10
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 12
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 13

TÓPICO 2 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS –


FILO NEMATODA....................................................................................................... 15
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 15
2 ASCARIS LUMBRICOIDES.............................................................................................................. 15
2.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 16
2.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 18
2.3 CICLO BIOLÓGICO...................................................................................................................... 18
2.4 SINTOMATOLOGIA..................................................................................................................... 19
2.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO................................................................................................. 20
3 ENTEROBIUS VERMICULARIS...................................................................................................... 20
3.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 21
3.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 22
3.3 CICLO BIOLÓGICO...................................................................................................................... 22
3.4 SINTOMATOLOGIA..................................................................................................................... 23
3.5 PROFILAXIA E DIAGNÓISTICO............................................................................................... 24
4 TRICHURIS TRICHIURA ................................................................................................................. 25
4.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 26
4.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 28
4.3 CICLO BIOLOGICO...................................................................................................................... 28
4.4 SINTOMATOLOGIA..................................................................................................................... 29
4.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO................................................................................................. 30
5 STRONGYLOIDES STERCORALIS................................................................................................. 31
5.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 32
5.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 33
5.3 CICLO BIOLOGICO...................................................................................................................... 34
5.4 SINTOMATOLOGIA..................................................................................................................... 36
5.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO................................................................................................. 37
6 ANCYLOSTOMA SP........................................................................................................................... 37
6.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 38
6.1.1 Ancylostoma duodenale........................................................................................................... 38
6.1.2 Necatur americanos................................................................................................................. 39
6.1.3 Ancylostoma brasiliensis......................................................................................................... 39
6.1.4 Ancylostoma caninum............................................................................................................. 39
6.1.5 Ovo de Ancylostoma sp.......................................................................................................... 39
6.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 40
6.3 CICLO BIOLÓGICO...................................................................................................................... 40
6.4 SINTOMATOLOGIA..................................................................................................................... 43
6.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO................................................................................................. 44
7 TOXOCARA SP................................................................................................................................... 45
7.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 45
7.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 46
7.3 CICLO BIOLOGICO...................................................................................................................... 46
7.4 SINTOMATOLOGIA..................................................................................................................... 48
7.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO................................................................................................. 48
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 50
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 57
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 58

TÓPICO 3 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS –


FILO PLATYHELMINTHES....................................................................................... 61
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 61
2 SCHISTOSSOMA MANSONI........................................................................................................... 61
2.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 62
2.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 64
2.3 CICLO BIOLÓGICO...................................................................................................................... 64
2.4 SINTOMAS..................................................................................................................................... 65
2.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO................................................................................................. 66
3 FASCÍOLA HEPÁTICA....................................................................................................................... 66
3.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 67
3.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 68
3.3 CICLO BIOLÓGICO...................................................................................................................... 68
3.4 SINTOMAS..................................................................................................................................... 69
3.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO................................................................................................. 69
4 TAENIA SP............................................................................................................................................ 70
4.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 71
4.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 72
4.3 CICLO BIOLÓGICO...................................................................................................................... 73
4.4 SINTOMAS..................................................................................................................................... 74
4.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO................................................................................................. 75
5 HYMENOLEPIS NANA...................................................................................................................... 76
5.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 76
5.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 77
5.3 CICLO BIOLÓGICO...................................................................................................................... 77
5.4 SINTOMAS..................................................................................................................................... 78
5.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO................................................................................................. 78
6 ECHINOCOCCUS GRANULOSUS.................................................................................................. 79
6.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 79
6.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 80
6.3 CICLO BIOLÓGICO...................................................................................................................... 80
6.4 SINTOMAS..................................................................................................................................... 82
6.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO................................................................................................. 82
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 84
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 86
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 89

UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA................................................................................................. 91

TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS............................. 93


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 93
2 GIÁRDIA SP........................................................................................................................................ 97
2.1 MORFOLOGIA.............................................................................................................................. 98
2.2 TRANSMISSÃO............................................................................................................................. 99
2.3 CICLO BIOLÓGICO.................................................................................................................... 100
2.4 SINTOMATOLOGIA................................................................................................................... 101
2.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO............................................................................................... 102
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 104
3 TRICHOMONAS SP........................................................................................................................ 109
3.1 MORFOLOGIA............................................................................................................................ 110
3.2 TRANSMISSÃO........................................................................................................................... 111
3.3 CICLO BIOLÓGICO.................................................................................................................... 112
3.4 SINTOMATOLOGIA................................................................................................................... 113
3.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO............................................................................................... 113
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 116
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 117

TÓPICO 2 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR ENTAMOEBA HISTOLYTICA


E DEMAIS AMEBAS DE INTERESSE CLÍNICO................................................ 119
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 119
2 ENTAMOEBA HISTOLYTICA E DEMAIS AMEBAS DE INTERESSE CLÍNICO................ 119
2.1 MORFOLOGIA............................................................................................................................ 120
2.2 TRANSMISSÃO........................................................................................................................... 122
2.3 CICLO BIOLÓGICO.................................................................................................................... 122
2.4 SINTOMATOLOGIA................................................................................................................... 124
2.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO............................................................................................... 126
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 127
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 128

TÓPICO 3 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HEMOPARASITAS................... 131


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 131
2 TRYPANOSSOMA CRUZI............................................................................................................... 131
2.1 MORFOLOGIA............................................................................................................................ 133
2.2 TRANSMISSÃO........................................................................................................................... 134
2.3 CICLO BIOLÓGICO.................................................................................................................... 135
2.4 SINTOMATOLOGIA................................................................................................................... 136
2.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO............................................................................................... 137
3 PLASMODIUM SP........................................................................................................................... 138
3.1 MORFOLOGIA............................................................................................................................ 139
3.2 TRANSMISSÃO........................................................................................................................... 140
3.3 CICLO BIOLÓGICO.................................................................................................................... 140
3.4 SINTOMATOLOGIA................................................................................................................... 142
3.4 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO............................................................................................... 143
4 TOXOPLASMA SP........................................................................................................................... 144
4.1 MORFOLOGIA............................................................................................................................ 145
4.2 TRANSMISSÃO........................................................................................................................... 147
4.3 CICLO BIOLÓGICO.................................................................................................................... 148
4.4 SINTOMATOLOGIA................................................................................................................... 149
4.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO............................................................................................... 150
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 153
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 156

UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL


DAS PARASITOSES.............................................................................................. 159

TÓPICO 1 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES


CAUSADAS POR HELMINTOS............................................................................ 161
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 161
2 FASE PRÉ-ANALÍTICA E SUA IMPORTÂNCIA NO RESULTADO DOS EXAMES........ 161
2.1 COLETA, ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE DE AMOSTRAS.................................. 161
3 PESQUISA LABORATORIAL DE HELMINTOS...................................................................... 163
3.1 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE ASCARIS LUMBRICOIDES................................... 164
3.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE ENTEROBIUS VERMICULARIS........................... 166
3.3 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TRICHURIS TRICHIURA...................................... 168
3.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE STRONGYLOIDES STERCORALIS ..................... 170
3.5 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE ANCILOSTOMÍDEOS........................................... 171
3.6 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TOXOCARA CANIS............................................... 173
3.7 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE SCHISTOSOMA MANSONI................................. 174
3.8 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TAENIA SOLIUM, TAENIA SAGINATA
E HYMENOLEPIS NANA........................................................................................................... 177
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 181
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 182

TÓPICO 2 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS


POR FLAGELADOS E AMEBAS............................................................................ 185
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 185
2 PESQUISA LABORATORIAL DE FLAGELADOS ................................................................... 185
2.1 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE GIARDIA SP............................................................ 185
2.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TRICHOMONAS SP. ............................................. 188
2.2.1 Preparo dos reagentes para a coloração de Giemsa em laboratório........................... 190
2.2.2 Coloração de amostras utilizando May-Grunwald-Giemsa ....................................... 191
3 PESQUISA LABORATORIAL DE AMEBAS ............................................................................. 193
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 196
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 198

TÓPICO 3 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS


POR HEMOPARASITAS.......................................................................................... 199
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 199
2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE HEMOPARASITOSES ........................................... 199
2.1 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TRYPANOSOMA CRUZI....................................... 199
2.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PLASMODIUM SP. ............................................... 202
2.3 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TOXOPLASMA SP. ............................................... 206
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 207
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 213
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 214
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 215
UNIDADE 1 —

INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E
HELMINTOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender os principais conceitos aplicadas na área de parasi-


tologia clínica;

• possibilitar o conhecimento da epidemiologia e ciclo biológico


das principais enteroparasitoses causadas por Helmintos do filo
Nematoda e Platyhelminthes, e os principais sintomas que po-
dem ser ocasionados ao homem quando contaminado;

• fornecer as condições necessárias para identificar, através das carac-


terísticas morfológicas os principais helmintos de interesse clínico;

• relacionar o ciclo biológico dos parasitas com os sintomas apre-


sentados pelo hospedeiro;

• estudar as principais formas de profilaxia para os parasitas mais


comumente encontrados, a fim de promover campanhas de edu-
cação e prevenção em saúde.

1
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITOS APLICADOS À PARASITOLOGIA

TÓPICO 2 – ENTEROPARASITOSES CAUSADAS


POR HELMINTOS – FILO NEMATODA

TÓPICO 3 – ENTEROPARASITOSES CAUSADAS


POR HELMINTOS – FILO PLATYHELMINTHES

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

CONCEITOS APLICADOS À
PARASITOLOGIA

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico, para começarmos o estudo da disciplina, devemos pri-


meiramente entender qual o objetivo do estudo da parasitologia. A parasitologia
é a ciência que tem por finalidade, o estudo da morfologia e biologia dos parasi-
tas, que são organismos que vivem no interior ou exterior de outro hospedeiro
retirando dele nutrientes e servindo como abrigo para o seu desenvolvimento
(CIMERMAN; CIMERMAN, 2005). Estudaremos então, a relação entre eles, para
que isso seja possível, o conhecimento da patologia ocasionada por esse parasita,
a sua epidemiologia, de como podemos realizar o seu diagnóstico e quais as me-
didas profiláticas que precisam ser tomadas para evitar a sua disseminação.

É na relação entre todas as espécies e o conjunto do meio ambiente que


precisamos nos inserir para podermos entender melhor o objetivo da parasitolo-
gia. Os parasitos ou parasitas fazem parte da nossa vida e necessitam ser conheci-
dos dentro de uma visão ampla, não só ambiental, como social. A coabitação das
espécies no planeta é regulada pela interdependência das espécies, em que uma
precisa da outra para sua sobrevivência, buscando alimentos e proteção e recicla-
gem dos componentes orgânicos (NEVES, 2016).

Através dessa associação entre as espécies, podemos caracterizar o concei-


to de parasitismo, que é uma associação entre organismos de espécies distintas,
em que se observa uma associação íntima e duradoura, além de uma dependên-
cia metabólica entre os mais diferentes reinos, buscando a manutenção da vida.
De fato, os parasitos dependem de outros seres vivos, eventualmente dos seres
humanos, que por alguma razão, podem se tornar seus hospedeiros (REY, 2010).

A importância da parasitologia no Brasil e em todos os países de con-


dições climáticas iguais, tanto do ponto de vista clínico quanto do sa-
nitário, decorre do grande número de parasitoses neles existentes, das
quais algumas são esporádicas, outras endêmicas em certas áreas e
outras epidêmicas (MORAES, 2008, p. 5).

3
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

E
IMPORTANT

Você sabe a diferença entre endemia e epidemia?! Então, vamos lá!


Endemia: é a prevalência de uma doença com relação à área, cuja incidência permanece
constante por vários anos, é o número de casos esperados de uma doença em uma popu-
lação, numa determinada época (exemplo: no inverno espera-se que mais da metade da
população tenha gripe) (NEVES, 2016).
Epidemia: é a ocorrência de doenças que ultrapassam a incidência esperada e que de-
rivam de uma fonte comum de infecção ou propagação. Exemplo: aparecimento de um
único caso, em que havia muito tempo que não aparecia naquela cidade ou região, como
a varíola em Blumenau) (NEVES, 2016).

O acometimento dessa relação entre as espécies é, usualmente, mais en-


contrado em locais e populações de baixa renda, devido às condições precárias de
saúde e habitação. Não podemos falar em condições precárias de saúde sem falar
em saneamento básico. Sabemos que hoje a realidade do saneamento é precária
em muitas cidades. Segundo dados do Trata Brasil – Saneamento é Saúde (2016),
o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo, mas ainda não conseguiu
levar serviços de saneamento básico a todos os brasileiros. Segundo a última es-
tatística por eles apresentada, em 2016, 35 milhões de brasileiros não têm acesso
à água tratada. Sobre a coleta de esgoto, 49% da população, não possui coleta
de esgoto, somente 44% dos esgotos são tratados no Brasil, segundo o Sistema
Nacional de Informação sobre Saneamento (BRASIL, 2016). Através dessa triste
realidade, as parasitoses são um problema de saúde pública que assola as pessoas
por todo o país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2015) ocorreram 407 mil internações por diarreia e doenças da falta de saneamen-
to, as mais acometidas por esse grande problema são a população que vive em
condições precárias, em periferias das cidades e, principalmente, crianças.

Com base nessa triste realidade, cabe ao acadêmico e a nós, profissionais


da área da saúde, buscarmos o conhecimento sobre o ciclo biológico desses para-
sitas, a fim de adotar e disseminar o conhecimento através de políticas públicas,
sobre medidas profiláticas de educação em saúde, para que consigamos diminuir
os números de pessoas acometidas por parasitoses. Primeiramente, precisamos
conhecer cada parasita, para entendermos melhor como podemos atuar de forma
efetiva contra as parasitoses. Estamos juntos nessa batalha, então vamos lá!

4
TÓPICO 1 — CONCEITOS APLICADOS À PARASITOLOGIA

NOTA

Procure conhecer qual a realidade do saneamento básico da sua cidade, atra-


vés do site do IBGE: https://www.ibge.gov.br/.

2 REGRAS DE NOMENCLATURA E CLASSIFICAÇÃO

O número de seres vivos existentes na natureza é tão grande que, para


serem estudados, tiveram que ser agrupados conforme sua morfologia, fisiologia,
estrutura, filogenia etc. Esse agrupamento obedeceu a leis e possui um vocabu-
lário próprio. A designação científica é regulada por regras de nomenclatura dis-
cutidas em congressos e denominadas “Regras Internacionais de Nomenclatura
Zoológica”. A unidade taxonômica denomina-se táxon, que pode corresponder
a diversos níveis de classificação na zoologia, são sete: reino, filo, classe, ordem,
família, gênero e espécie (NEVES, 2016).

A nomenclatura das espécies deve ser latina e binominal, sendo o parasita
designado por dois nomes: o primeiro representa o gênero (deve ser escrita com a
primeira letra maiúscula); o segundo, a espécie considerada (deve ser escrita com
letra minúscula, mesmo quando for nome de pessoa), quando a espécie possuir
subespécie, essa palavra virá em seguida à da espécie, sem nenhuma pontuação,
devendo ambos os nomes ser grifados ou escritos em itálico, para distingui-los dos
nomes comuns existentes. Sendo assim, os gêneros são colocados em uma mesma
família e as famílias que mostram certo parentesco, em uma ordem. As ordens,
por sua vez, agrupam-se em classes e as classes afins em filos. O conjunto dos filos
constitui um reino (REY, 2010). Citarei como exemplo uma classificação zoológica
de um helminto: Reino – Animal, Filo – Nematoda, Classe – Secernentea, Ordem –
Ascaridada, Família – Ascarididae, Gênero – Ascaris, Espécie – Lumbricoides.

Nos próximos tópicos desta unidade, para cada espécie de interesse pa-
rasitólogo no Brasil, estudaremos sobre sua epidemiologia, morfologia, mecanis-
mos de transmissão, o ciclo biológico diferencial de cada parasita, os sintomas
que podem ser ocasionados por ele quando ocorrer o parasitismo, os métodos de
profilaxia que podem ser utilizados para combater a essa parasitose e a forma de
realizar o diagnóstico preciso e diferencial de cada um deles.

3 CLASSIFICAÇÃO DE HOSPEDEIROS E VETORES

Neste tópico, mostraremos alguns aspectos da relação entre as espécies na


natureza e da relação entre os seres humanos. Para que um parasita consiga so-
breviver ao meio, necessita da presença de outro ser vivo, para que consiga obter

5
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

dele os nutrientes e as condições necessárias para o seu desenvolvimento. Pode-


mos denominar de hospedeiro qualquer animal ou planta que abriga um para-
sita, esse hospedeiro ainda pode ser classificado em definitivo ou intermediário.

• Hospedeiro definitivo: é aquele que abriga o parasita na sua fase adulta ou


na sua forma reprodutiva final, fornecendo as condições necessárias para sua
reprodução e manutenção da vida desse parasita. É nesse hospedeiro que
ocorre a reprodução sexual do parasita no qual que temos a presença de ga-
metas que levará à variabilidade genética.
• Hospedeiro intermediário: é aquele que abriga o parasita em sua fase larval
(jovem), usualmente é um molusco ou artrópode no qual o parasita realiza a
reprodução assexual, tendo a ausência de fusão de gametas, gerando cópias
idênticas (NEVES, 2016).

Quando falamos em transmissão de doenças parasitárias, essa pode
ocorrer de forma direta, através do contato direto entre dois seres vivo ou
através de vetores. Vetor é um artrópode, molusco ou outro veículo que permite
a transmissão do parasita entre dois hospedeiros que podem ser classificados,
segundo Neves (2011), como: biológico, mecânico e inanimado ou fômite.

• Vetor biológico: é aquele que além de ser transmissor, o parasito se repro-


duz ou se desenvolve nele, temos como exemplo os moluscos e artrópodes. O
Trypanossoma cruzi é transmitido através da picada dos triatomídeos (conheci-
dos como “barbeiros”) que servem como vetor para a doença de Chagas.
• Vetor mecânico: é quando o parasito não se reproduz e nem se desenvolve
no vetor, serve apenas como transporte. Um exemplo desse tipo de vetor são
as moscas domésticas, que podem transportar parasitas através de suas patas
e depositarem sobre os alimentos a serem consumidos. Exemplo de parasita
que pode ser transmitido via vetor mecânico é o Ascaris lumbricoides, sua for-
ma imatura pode ser depositada por uma mosca sobre uma fruta, por exem-
plo, e essa ser consumida sem a devida higiene e transmitir a parasitose.
• Vetor inanimado ou fômite: é quando o parasita é transportado através de
objetos de uso comum, por exemplo, talheres, copos, seringas, lenços, roupa
de cama e toalhas de uso comum. Como exemplo de parasitose transmitida
temos o parasita Enterobius vermicularis.

4 MECANISMOS DE INFECÇÃO E DISSEMINÇÃO PELO


ORGANISMO

A transmissão e a manutenção de uma doença na população humana, são


resultantes do processo interativo entre o agente etiológico, o meio ambiente e
o hospedeiro humano. O modelo da tríade epidemiológica é classicamente uti-
lizado para descrever a dinâmica da transmissão das doenças infecciosas, como
apresentado na Figura 1, descrita por Cimerman e Cimerman (2005).

6
TÓPICO 1 — CONCEITOS APLICADOS À PARASITOLOGIA

FIGURA 1 – TRÍADE EPIDEMIOLÓGICA DE DOENÇAS

FONTE: Adaptada de Cimerman e Cimerman (2005)

O agente é o fator cuja presença é essencial para a ocorrência da doença,


já o hospedeiro é o organismo capaz de ser infectado por um agente, e o meio
ambiente é o conjunto de fatores que interagem com o agente e o hospedeiro. Os
vetores, como os mosquitos e carrapatos, são frequentemente envolvidos nesse
processo (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

A forma como ocorre as infecções ou transmissão das parasitoses, a porta


de entrada para o organismo, se dá por diferentes vias. Via oral: através da in-
gestão do parasita em água ou alimentos contaminados; cutânea: o parasita tem a
capacidade de entrar no organismo através da degradação das enzimas das pele;
mucosa/genital: através da relação sexual desprotegida, ou através de mucosa
exposta a fatores ambientais; transplante/transfusional: após transfusão sanguí-
nea ou transplante de órgãos, via essa de transmissão muito incomum nos dias
atuais, devido à alta sensibilidade de detecção de parasitas em sangue e tecidos
nos centros de transplantes; transplacentária/transmamária: a fêmea contamina-
da têm a capacidade de transmitir a parasitose para o embrião em formação atra-
vés da placenta ou durante a amamentação (NEVES, 2011).

Você conseguiu observar como as fontes de contaminação podem estar


mais perto do que você imagina? É realmente assustador, mas para isso que esta-
mos aqui, para entendermos melhor todas as vias e buscarmos reduzir os índices
de contaminação por todas as vias, conto com você nessa batalha!

Os mecanismos de infecção são diferentes dependendo do tipo de agente


etiológico, ou seja, do tipo de parasita que está sendo transmitido. Cada parasita,
tem características próprias de desenvolvimento e habitat, por isso, devido a forma
de contaminação, eles podem se disseminar pelo organismo humano de formas
diferentes. Através da circulação sanguínea (via hematogênica) como é o caso, por
exemplo, do Trypanossoma cruzi que é transmitido através da picada do triatoma
(que é o vetor da parasitose) e cai direto na circulação sanguínea, sendo classi-
ficado como hemoparasitas (hemo = sangue; parasita = alimentar do hospedeiro), é
nesse local, que o parasita se desenvolve, reproduzindo-se e causando os sintomas.
Outro meio é a via linfática, cujo parasita alcança a pele humana, entra em nosso
organismo e migra para a circulação linfática, causando como principal dano o
edema devido a obstrução do fluxo linfático, exemplo de parasita que obstrui sis-

7
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

tema linfático é a Wuchereria bancrofit, popularmente conhecido como causador da


Elefantíase. Temos também a transmissão através da via da cutânea/pele, que são
classificados como ectoparasitas, pois ficam no local ocasionando sintomas devido
ao seu metabolismo e diferenciação, exemplo do parasita Pediculus humanis, popu-
larmente conhecido como piolho. E o meio mais comum de disseminação é a via
endógena, cujo parasita alcança o sistema digestório através da ingestão de água ou
alimentos contaminados, por exemplo, caem no sistema digestório e ali se nutre,
reproduzindo-se e ocasionando os sintomas (NEVES, 2016).

ATENCAO

É muito importante nesse momento diferenciar infecção de infestação. A dife-


rença entre os dois termos está na localização do parasita.
Infecção: parasita localizado na superfície interna (endoparasitas). Ex.: Ascaris lumbricoides.
Infestação: parasita localizado na superfície externa (ectoparasitas). Ex.: piolho.

5 CICLO BIOLÓGICO MONOXÊNICO E HETEROXÊNICO


Segundo Neves, denomina-se ciclo biológico ou ciclo vital as fases e
etapas que um parasito passa durante sua vida. Essas fases algumas
vezes são complicadas, outras bem simples, mas foram os recursos
que cada espécie desenvolveu durante seu processo evolutivo para
conseguir sucesso na reprodução e na dispersão (NEVES, 2016, p. 13).

Em alguns ciclos, a passagem de um hospedeiro para outro é direta, em ou-


tros ciclos essa passagem necessita de um hospedeiro intermediário para alcançar
o hospedeiro definitivo, sendo considerado um ciclo indireto. Denomina-se ciclo
monoxênico ou direto, quando no ciclo biológico só há participação do hospedeiro
definitivo, sendo que, nesse local, ocorre sua reprodução e desenvolvimento. Já o
ciclo heteroxênico ou indireto, ocorre quando no ciclo biológico há participação de
um hospedeiro intermediário, no qual se desenvolve parte do ciclo ou reprodução
assexuada, nesse hospedeiro, desenvolvem-se as formas infectantes do parasito,
sendo transmitidas para o hospedeiro definitivo (NEVES, 2011).

Cada parasita tem sua particularidade de ciclo biológico, uns mais sim-
ples e outros mais complexos, mas esse ciclo nos fornece uma visão dos pontos
de prevenção, tratamento e controle das parasitoses. Em todo ciclo podemos ob-
servar vários estágios, como o estágio diagnóstico que é o local onde esse parasita
é eliminado ou localizado, para extrairmos uma amostra e identificarmos de qual
espécie se trata; o estágio infectante é como o paciente adquiriu essa parasitose,
ou seja, qual a forma de transmissão; o estágio de localização, onde o parasi-
ta se encontra dentro do organismo humano através da sintomatologia por ele

8
TÓPICO 1 — CONCEITOS APLICADOS À PARASITOLOGIA

causada e o estágio de maturação, que é habitat escolhido pelo parasita para a


sua reprodução e desenvolvimento. É através desses estágios principais do ciclo
biológico do parasita que o estudo da parasitologia é direcionado (NEVES, 2016).

6 FATORES INERENTES AO PARASITA E AO HOSPEDEIRO

Você deve estar se perguntando, a contaminação, o desenvolvimento do parasita


e os sintomas por ele ocasionados são iguais para todos os seres humanos contaminados?
A resposta é não, cada parasita e cada hospedeiro possuem respostas biológicas diferen-
tes, então vamos entender um pouco melhor, quais são os fatores que influenciam dire-
tamente nisso. Para que de fato ocorra a transmissão/contaminação e o ciclo biológico do
parasita aconteça de forma completa, existem alguns fatores que são importantíssimos
durante todas essas etapas. São fatores que influenciam de maneira direta as parasitoses,
conhecidos como fatores inerentes ao hospedeiro e fatores inerentes ao parasita.

Os fatores inerentes ao parasita seriam a capacidade que esse parasita tem
de causar determinada patologia, ou seja, quais os fatores que ele carrega e que de-
terminam o quanto de infecção esse parasita é capaz de transmitir e o quão grave
ele é. Podemos citar como exemplo: virulência, que é a severidade, a rapidez que
esse parasita causa a doença; a carga parasitária: o quanto de parasita que foi in-
gerido pela pessoa durante a contaminação, essa carga parasitária está fortemente
envolvida com o ciclo biológico do parasita, o quanto ele se reproduz, quantas mi-
lhares de cópias dele mesmo são possíveis de serem liberadas, contaminado o am-
biente; e a localização, que é onde o parasita se localiza após entregar no organismo
humano, dependendo da sua localização, pode ocasionar doenças mais leves ou
mais graves, sendo que alguns parasitas possuem capacidade migratória dentro do
organismo do seu hospedeiro. Todos esses fatores influenciam de maneira direta
na gravidade da contaminação pelo parasita, sendo que são fatores passíveis de
alteração, mudança, dependendo de cada espécie (MORAES, 2008).

Já os fatores inerentes ao hospedeiro, são relacionados à capacidade do orga-


nismo humano em eliminar ou combater a parasitose antes mesmo da sua instalação,
ou seja, o hospedeiro pode se contaminar com o parasita, mas em alguns casos, os
mecanismos responsáveis para combater agentes estranhos, conseguem eliminar a
parasitose antes mesmo de ela se instalar, multiplicar-se e ocasionar sintomas. São
exemplos de mecanismos de defesa inerentes ao hospedeiro: idade, sendo as crianças
e idosos mais suscetíveis a doenças; estado nutricional, a ação do parasito pode ser
bloqueada quando o hospedeiro apresenta bom estado nutricional; imunidade é um
fator que quanto mais jovem for o hospedeiro mais rápido e eficaz o sistema imuno-
lógico será para combater agentes estranhos, bem como o uso de medicamentos, há-
bitos e costumes dos hospedeiros, como paciente que não tem o hábito de lavar frutas
e verduras e beber água não tratada, esse mal hábito pode levá-lo com mais frequ-
ência ao contato com parasitas e contaminação (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

Caros acadêmicos, não podemos nos esquecer dos mecanismos diretos de de-
fesa do organismo humano, que são aqueles desenvolvidos muito sabiamente pelo

9
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

corpo humano, por exemplo, a pele, que é o maior órgão do nosso corpo, nosso pri-
meiro e maior órgão de defesa, assegurando o contato e relações entre o meio externo
e interno. Outro mecanismo muito importante é o suco gástrico, devido a sua acidez,
muitos parasitas quando chegam no interior do sistema digestório, não conseguem
sobreviver com esse meio ácido e são eliminados pelo nosso sistema imunológico. Te-
mos também uma célula leucocitária muito importante nos mecanismos de combate
e defesa contra parasitas, que são os eosinófilos, um tipo de leucócito especializado
no combate de parasitas que realizam a liberação dos grânulos de histamina, após
sua ativação, esses grânulos são tóxicos para os tecidos do parasita que ele é morto e,
posteriormente, eliminado da circulação através das nossas células responsáveis pela
fagocitose (NEVES, 2016). Após esse conhecimento, você pode ficar um pouco mais
tranquilo, pois mesmo sabendo que as vias de contaminação são inúmeras, também
temos um sistema de defesa especializado trabalhando para nos defender.

DICAS

Acesse o site https://bit.ly/3kY8fuk e conheça mais sobre O Movimento Brasil


sem Parasitose. Alinhado às diretrizes da OMS de controle de parasitoses intestinais, o
Movimento Brasil sem Parasitose é um projeto social e educacional realizado pela Federa-
ção Brasileira de Gastroenterologia. A ação leva orientação à população, além de realizar
atendimento gratuito à população na unidade móvel de saúde.

7 MECANISMOS DE AGREÇÃO

De acordo com Cimerman e Cimerman (2005), a ação do parasita sobre um


hospedeiro pode acontecer de diferentes formas, tudo isso vai depender da viru-
lência e da capacidade maturativa do parasita, pois é através dela que pode ocorrer
a doença no hospedeiro. Cada parasita pode ocasionar uma única ação ou uma as-
sociação delas, tudo isso dependerá dos fatores inerentes ao hospedeiro e dos fato-
res inerentes ao parasita, como estudamos anteriormente. Não existe uma ação fixa
de cada parasita em cada organismo, tudo dependerá desses fatores. Vamos, então,
conhecer as principais ações que os parasitas podem ocasionar em um hospedeiro:

• Mecânica ou obstrutiva: essa ação é a mais conhecida, você provavelmente


já deve ter visto em algum filme ou vídeo na internet em que o intestino do
paciente é aberto, sendo retirados milhares de vermes adultos esbranquiça-
dos, pois bem, trata-se de uma ação mecânica que acontece pela presença
do parasita em determinado órgão (nesse caso, você pode se questionar: por
que milhares de parasitas e não um único? São duas as explicações, primei-
ro porque, ao se contaminar, o hospedeiro ingere não apenas um exemplar
do parasita, mas milhares de exemplares,  e,  segundo,  porque esse também
se multiplica dentro do organismo, o que ocasiona essa presença massiva de
10
parasitas).Essa presença pode causar uma ação obstrutiva, obstruindo, por
exemplo, parte do intestino por onde passa o bolo fecal, ou uma ação destru-
tiva ocasionada durante a migração do parasita no interior do órgão. Exemplo
de parasita, o Ascaris lumbricoides, que se reproduz muito rapidamente ocasio-
nado a obstrução intestinal (NEVES, 2016).
• Espoliativa: quando o parasita espolia, isto é, retira nutrientes do hospedeiro,
ele se fixa na parede intestinal e retira de lá todos os nutrientes necessários
para o seu desenvolvimento. Exemplo: Ancylostoma sp, que se fixa no intestino
através dos seus pares de dentes retirando nutrientes e ocasionando anemia
ao hospedeiro devido ao alto consumo de ferro e vitaminas (MORAES, 2008).
• Traumática: quando o parasita causa traumas no hospedeiro, por exemplo,
o Ancylostoma, devido à penetração sobre a pele, causando uma lesão na epi-
derme, ou devido à fixação no intestino, causando um trauma, destruindo as
células da mucosa durante sua fixação (MORAES, 2008).
• Tóxica: quando os produtos do metabolismo do parasito são tóxicos para o
hospedeiro. Exemplo: a formação de granulomas pelos ovos do Schistossoma
mansoni (NEVES, 2016).
• Compressiva: compressão de órgãos e modificação de tecidos devido ao de-
senvolvimento do parasita. Exemplo: Taenia sp (NEVES, 2011).
• Absortiva: quando ocorre a má-absorção intestinal, devido ao parasita absorver as vi-
taminas lipossolúveis essenciais K, E, D, e A. Exemplo: Giardia lamblia (NEVES, 2016).
• Enzimática: quando o parasita penetra sobre a pele humana, ocasionado a
quebra de enzimas proteases (presentes na pele) causando a dermatite. Exem-
plo: penetração pelo Shistossoma mansoni (NEVES, 2016).
• Anóxia: quando ocorre grande consumo de oxigênio pelo parasito nas he-
mácias, podendo ocasionar falta de ar generalizada, exemplo: Plasmodium, o
causador da malária (NEVES, 2016).
• Irritativa: deve-se à presença constante do parasita que não produz lesão
traumática, mas irrita o local parasitado com seu corpo. Exemplo: as ventosas
do Ascaris lumbricoides na mucosa intestinal (NEVES, 2016).
• Imunogênica: quando partículas antigênicas de parasitos sensibilizam teci-
dos do hospedeiro, aumentando a resposta imunitária, a qual agrava a para-
sitose. Exemplo: doença de Chagas, que é agravada pela resposta imune do
hospedeiro (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).
• Inflamatória: o parasita ou os produtos do seu metabolismo estimulam o
afluxo de células inflamatórias locais, exemplo a formação de granulomas pe-
los ovos do S. mansoni (NEVES, 2016).

Como podemos perceber até o momento, são muitos os mecanismos de


agressão que podem ser desenvolvidos pelos parasitas, cada parasita pode apre-
sentar um mecanismo de ação ou uma associação deles, tudo vai depender dos
fatores inerentes ao parasita e ao hospedeiro. A partir de agora vamos estudar
cada parasita individualmente, podendo observar quais os mecanismos utiliza-
dos por cada um deles e qual a importância da interação entre as condições am-
bientais, sociais e as doenças parasitárias. Você está preparado? Vem comigo.

11
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Parasitas são seres que de um modo permanente, periódico ou ocasionalmen-


te vive em outro organismo, nutrindo-se e determinando de modo variável,
causando algum dano.

• A nomenclatura das espécies deve ser latina e binominal, sendo a espécie


designada por duas palavras: a primeira representa o gênero (deve ser escrita
com a primeira letra maiúscula); a segunda, a espécie considerada (deve ser
escrita com letra minúscula, mesmo quando for nome de pessoa).

• A diferença entre hospedeiro definitivo, aquele que abriga o parasita na sua


fase adulta ou na sua forma reprodutiva final, e o hospedeiro intermediário,
aquele que abriga o parasita em sua fase larval (jovem), usualmente, é um
molusco ou artrópode no qual o parasita realiza a reprodução assexual.

• A presença de vetores é muito utilizada na transmissão de parasitoses, esses


vetores podem ser: biológicos, mecânica ou inanimados (Fômites).

• As formas como ocorre a infecção ou transmissão das parasitoses, sendo a


porta de entrada para o organismo, dá-se por diferentes vias: oral, cutânea,
mucosa, transfusional ou transplacentária.

• Os parasitas podem desenvolver dois tipos de ciclo, o monoxênico, quando


apenas possui hospedeiro definitivo, ou heteroxênico, quando o hospedeiro
intermediário faz parte desse ciclo.

• Os fatores que determinam a parasitose inerentes ao parasita são: carga viral,


virulência e sua localização, já os inerentes ao hospedeiro são: sistema imuno-
lógico, idade, estado nutricional, bem como hábitos e costumes.

• A ação do parasita sobre o hospedeiro pode acontecer em diferentes formas,


tudo dependerá da virulência e da capacidade maturativa do parasita, podem
ser: mecânica, espoliativa, traumática, tóxica, compressiva, absortiva, enzimá-
tica, anóxia, irritativa, imunogênica, inflamatória.

12
AUTOATIVIDADE

1 A parasitologia é a ciência que estuda o parasitismo. O parasitismo ocorre


quando um organismo (parasita) vive em associação com outro organismo
(hospedeiro), do qual retira os meios para sua sobrevivência, causando pre-
juízos (doenças) ao hospedeiro durante este processo. Portanto, é de gran-
de importância estabelecer o significado das palavras que farão parte da
disciplina de parasitologia no decorrer da apostila. A partir das palavras
descritas a seguir, realize uma pesquisa e estabeleça o significado das pala-
vras listadas referente à parasitologia:

a) Agente etiológico.
b) Agente infeccioso.
c) Habitat.
d) Incidência.
e) Patogenia ou Patogênese.
f) Patognomônico.
g) Prevalência.
h) Profilaxia.
i) Reservatório.
j) Virulência.
k) Zoonose.
l) Nicho ecológico.

2 No parasitismo, apenas um dos organismos envolvidos é beneficiado e o


outro é prejudicado. Esse tipo de relação não gera a morte do hospedeiro,
pois, quanto mais tempo ele viver, mais tempo terá o parasita para
alimentar-se. Para isso, é fundamental que o parasita não retire do corpo
do hospedeiro muito nutriente, pois ficaria muito debilitado e acabaria
morrendo, o que levaria o outro organismo também à morte. Com relação
aos parasitas e às doenças que causam, analise as sentenças a seguir:

I- Parasitismo é associação entre organismos de espécies distintas em que se


observa uma associação íntima e duradoura, além de uma dependência
metabólica de grau variado.
II- Quanto à localização dos parasitas, eles podem ser classificados como en-
doparasitas, quando localizados no exterior do organismo, ou ectoparasi-
tas, quando localizados no interior do organismo do hospedeiro.
III- Ação mecânica pode ser exercida pela presença do parasito em determinado
órgão, podendo ser uma ação obstrutiva ou destrutiva durante sua migração.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

13
a) ( ) Somente a sentença III está correta.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
e) ( ) As sentenças I e III estão corretas. 

3 Os parasitas possuem características específicas que permitem classificá-los


de acordo com o tipo de ciclo biológico em monoxê­nicos e heteroxênicos.
Com relação ao tipo de ciclo, classifique V para as sentenças verdadeiras e
F para as falsas:

( ) Parasito heteroxênico: é o que possui hospedeiro definitivo e intermediário.


( ) Parasito monoxênico: é o que possui apenas o hospedeiro definitivo.
( ) Parasito monoxênico: é o que possui apenas o hospedeiro intermediário.
( ) Parasito heteroxênico: é o que possui apenas o hospedeiro definitivo.
( ) Parasito monoxênico: é o que possui hospedeiro definitivo e intermediário.
( ) Parasito heteroxênico: é o que possui apenas o hospedeiro intermediário.

Assinale a alternativa que a presenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – V – F – V – V.
b) ( ) V – V – F – F – F – F.
c) ( ) F – F – F – F – F – F.
d) ( ) V – V – F – V – V – F.
e) ( ) V – V – V – V – V – V.

4 Paciente feminino, 6 anos, J.M.S. precedente do estado de Santa Catarina.


Realizou consulta médica, devido a apresentar episódios de diarreia e febre.
O médico do Posto de Atendimento que atendeu a criança, encaminho-a
para o hospital. No exame de admissão, a criança encontrava-se consciente,
acianótica, anictérica e febril. O exame de parasitológico de apresentou re-
sultado positivo para a presença de helmintos. No dia seguinte, a criança foi
transferida para a enfermaria, e a mãe relatou que há 7 dias da internação,
a criança iniciou um quadro de diarreia intensa seguida por 8 dias de uma
possível oclusão intestinal. De antecedentes pessoais, a criança apresentava
uma internação anterior, com mais ou menos um ano de idade, ocasionada
por uma “falsa pneumonia”. A criança faz consumo de água não filtrada,
e apresenta o hábito de geofagia. Possui mais 5 irmãos. A mãe é doméstica
e tem renda familiar de aproximadamente R$700,00, devido a esse valor a
família vive em condições precárias de moradia (casa de chão batido). Com
base no enunciado, quais os fatores inerentes ao hospedeiro que são deter-
minantes para a causa das doenças parasitárias e quais os mecanismos de
agressão que podem ser ocasionados por esses parasitas?

14
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

ENTEROPARASITOSES CAUSADAS
POR HELMINTOS – FILO NEMATODA

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, iniciaremos nosso estudo com duas perguntas: você já viu algum
verme ao vivo? Já ouviu falar que alguém está com vermes? Certamente, a resposta
para uma das duas perguntas será sim! Os helmintos, popularmente conhecidos como
vermes, são grupo de parasitas que mais acomete o ser humano. São distribuídos e
classificados em três filos: Platyhelminthes, Nematoda e Acanthocephala, conforme descri-
to no livro de parasitologia de David Pereira Neves (2016). Dentre os três filos, os que
mais acometem os seres humanos são Platyhelminthes e Nematoda. Os parasitas do filo
Acanthocephala são raros em nosso meio e, por isso, não terão destaque nessa unidade.

Os helmintos são considerados seres pluricelulares, sendo cada célula espe-
cializada em sua função. Os nematódeos são vermes cilíndricos e alongados (nema
= fio + helminthes = verme) com tamanho variável, de centímetros até metros. Eles
possuem simetria bilateral, com uma cutícula envolvendo o corpo e três folhetos
germinativos (triblásticos). Apresentam cavidade oral, tubo digestório completo,
contendo anus (fêmea) e cloaca (macho). São dioicos, ou seja, realizam reprodução
sexuada, predominantemente com sexos separados (dimorfismo sexual), com fe-
cundação interna e desenvolvimento indireto, sendo sempre o macho menor que a
fêmea. O corpo é revestido por uma cutícula fina, lisa ou com estrias, que tem por
finalidade proteção do organismo contra as ações externas (NEVES, 2016).

Do filo Nematoda, os gêneros estudados serão aqueles que apresentam maior


incidência e prevalência em nível de Brasil, são eles: Ascaris lumbricoides, Toxocara
sp., Enterobius vermicularis, Strongyloides stercoralis, Ancylostoma sp., Trichuris trichiu-
ra. Estudaremos, a seguir, de forma mais detalhada, cada parasita descrito de inte-
resse clínico, para que consigamos dividir o entendimento de acordo com o gênero
e espécie do parasita, pois cada um apresenta sua particularidade de ciclo biológi-
co, habitat, forma de contaminação, profilaxia e identificação. Vamos lá?!

2 ASCARIS LUMBRICOIDES

A verminose mais presente em todo o mundo é a Ascaridíase ou Ascaridose, ela é


causada pelo helminto Ascaris lumbricoides. Você, muito provavelmente, deve ter ouvido
falar na doença que é popularmente conhecida como “lombriga”, ela recebe esse nome
devido à morfologia desse parasita. Ele foi descrito inicialmente no ano de 1758 por
Lineu, que observou esse verme nas fezes de humanos e de suínos (MORAES, 2008).

15
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

O Ascaris é encontrado em quase todos os países do mundo e ocorre com


frequência em virtude das condições climáticas e ambientais. Esse parasita pode
sobreviver entre 5 °C e 10 °C, por até dois anos e na ausência de oxigênio por até
três meses. Em solos argilosos, úmidos e sombreados sobrevivem até seis anos.
Trata-se de um parasita muito incidente na população de baixo grau socioeconô-
mico, portanto, é uma infecção extremamente disseminada e pode levar a qua-
dros clínicos graves e até mesmo fatais (CIMERAN, 2005).

Segundo o relato de Rey (2010), a Ascaridíase, como as demais parasitoses


intestinais, tem sido negligenciada em muitos países por diversos motivos. Primei-
ramente, porque afeta as populações economicamente mais pobres e com menor
poder de reivindicação. O segundo, porque os serviços básicos de saúde nem sem-
pre são orientados para as comunidades rurais com ações diretas e claras sobre o
controle da contaminação das parasitoses. E o terceiro ponto, está relacionado com
a falta de decisão política para implementar programas de controle, destinando
também recursos financeiros para o controle das endemias parasitárias.

2.1 MORFOLOGIA

O estudo da morfologia dos parasitas, deve ser realizado observando-se


as fases evolutivas do ciclo biológico que o parasita faz, passando pela fase em-
brionária (ovo) e pela fase adulta (verme adulto macho e fêmea). É essencial que
você, futuro profissional da área da saúde, saiba realizar o diagnóstico preciso da
forma parasitária através do exame parasitológico de fezes, conhecendo a morfo-
logia do parasita. Então, estudaremos a seguir, a estrutura morfológica do Ascaris
lumbricoides, verme adulto macho, fêmea e ovos, que são estruturas que podem
ser liberadas e observadas em uma amostra de fezes.

• Verme adulto macho: é cilíndrico, possui simetria bilateral (ou seja, iguais dos
dois lados), apresenta o corpo coberto por cutícula lisa e brilhante com estrias.
Possui uma coloração amarelo-rosado e pode medir de 15 a 30 cm, podendo che-
gar até 45cm. Apresentam um vestíbulo bucal, localizado na extremidade ante-
rior, com três lábios (trilabiada) que servem como fixação e nutrição do parasita,
para que consiga se fixar no interior do organismo humano. Possui também, um
esôfago musculoso e um intestino retilíneo. A extremidade caudal é encurvada
com a presença de espícula, necessárias durante o acasalamento (REY, 2018).
• Verme adulto fêmea: é maior que o macho, possui extremidade caudal retilínea,
apresenta dois ovários, úteros, vagina e vulva. Também possui uma boca trilabia-
da, com a mesma função do macho. “Os vermes adultos habitam o lúmen do in-
testino delgado humano, onde se alimentam e copulam. A fêmea deposita cerca
de 200.000 ovos por dia, que são eliminados nas fezes” (FERREIRA, 2017, p. 103).

É possível imaginar essa grande quantidade de ovos contaminando um


alimento através das fezes de uma pessoa infectada, com isso, podemos entender
melhor o que discutimos anteriormente, quando falamos de carga parasitária. A

16
TÓPICO 2 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS – FILO NEMATODA

carga parasitária do Arcaris é muito elevada devido à superprodução de ovos. A


morfologia dos vermes adultos macho e fêmea pode ser muito bem esclarecida na
Figura 2 – verme adulto de Ascaris lumbricoides:

FIGURA 2 – VERME ADULTO DE ASCARIS LUMBRICOIDES MACHO (B) E FÊMEA (A)

FONTE: Ferreira (2017, p. 103)

• Ovo: o ovo eliminado após o acasalamento entre macho e fêmea possui algu-
mas características distintas quando o ovo está fértil ou infértil. As caracte-
rísticas morfológicas de um ovo fértil, envolvem uma coloração branca, mas
adquirem a cor castanho escuro, devido ao contato com as fezes. São grandes
(50x60um), ovais e apresentam três camadas, como pode ser observado na Fi-
gura 3. Na (Figura 3A), a camada interna é chamada de vitelínica (que lembra
vitelo = embrião), ela se encontra repleta de células germinativas que darão
origem a um verme adulto após a eclosão (abertura) desse ovo. Possui uma
camada intermediária chamada de quitinosa, que tem como função a prote-
ção e a nutrição do embrião, composta de lipídeos e proteínas. Já a camada
mais externa é chamada de albuminoide (albuminosa) ou maminolada (leva esse
nome pois lembra a casca de um abacaxi), essa membrana tem como função a
proteção do vitelo. A camada albuminosa, no entanto, pode estar ausente em
alguns ovos férteis, também conhecidos como descorticados. O ovo infértil
(Figura 3B) é mais alongado, não possui capacidade de evoluir, portanto, não
apresenta a membrana interna vitelínica. No seu interior existe a presença de
uma massa amorfa, esses ovos são produzidos por fêmeas não fertilizadas,
são frequentemente eliminados nas fezes, mas degeneram no meio externo,
sem se tornarem infectantes (FERREIRA, 2017).

17
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

FIGURA 3 – OVO DE ASCARIS LUMBRICÓIDES FÉRTIL (A) E INFÉRTIL (B)

A B
FONTE: Neves (2016, p. 297)

2.2 TRANSMISSÃO

Ocorre através da ingestão de ovos embrionados, pelo consumo de água


não tratada que contenham fezes de pessoas contaminadas ou através da inges-
tão de alimentos contaminados com ovos, devido à má higiene desses alimentos
e seu consumo. Dificilmente, ocorre a ingestão do verme adulto devido ao seu ta-
manho que pode ser observado a olha nu. Existem outras formas de transmissão
como o geofagismo, que é o ato de comer terra, algumas pessoas apresentam esse
hábito e, com isso, a pessoa pode ingerir o parasita presente no solo, ou através
do peridomicílio, que é o hábito de defecar ao redor de casa e contaminar hortas
e água que são utilizadas para consumo próprio. Poeira, aves e insetos também
são capazes de veicular mecanicamente os ovos de Ascaris lumbricoides. Após a
contaminação com o parasita, esse tem como habitat o intestino delgado, mais
precisamente na porção do jejuno e íleo (NEVES, 2011).

2.3 CICLO BIOLÓGICO

O ciclo biológico refere-se as etapas de vida do parasita. Por se tratar de


um ciclo, ele apenas tem fim quando o paciente acometido pela parasitose realiza
o tratamento com antiparasitários e ocasiona a morte dele, caso contrário, esse
ciclo se repete até que o parasita encontre as condições favoráveis para o seu de-
senvolvimento (NEVES, 2016). Vamos então ao ciclo biológico:

1. Os ovos do Ascaris encontram-se eliminados nas fezes (Figura 4) de um pa-


ciente contaminado, as fezes desse paciente alcançam os rios e o solo, conta-
minado a água e os alimentos.
2. No ambiente, o parasita necessita de condições favoráveis para o seu de-
senvolvimento, esse ovo necessita de um “TUS” adequado. O que seria esse
TUS? Temperatura de 25 °C a 30 °C, Umidade em torno de 70% e um Solo
argiloso. Encontrada essas condições favoráveis, dentro do ovo começará a
ocorrer a maturação desse parasita, as células germinativas que estão dentro
dele passarão por vários estágios de maturação, transformando-se em L1, L2

18
TÓPICO 2 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS – FILO NEMATODA

e L3, esses três estágios de maturação são necessários para o desenvolvimento


do parasita, demoram em torno de 15 dias.
3. Após esse tempo, o ovo presente no ambiente contaminará a água ou algum
alimento que será ingerido pelo homem.
4. O homem ingere o ovo embrionado na fase L3.
5. No estômago, através da ação do suco gástrico e do pH, sofre uma sensibiliza-
ção e ocorre a eclosão do ovo no intestino delgado com a saída de uma larva.
6. Essa larva perfura a parede do intestino, invade a circulação linfática e vai
para a circulação mesentérica no fígado, após três dias chega ao coração e
migra para o pulmão.
7. Chegando aos alvéolos, bronquíolos, brônquio, traqueia até chegar na faringe,
em que, através de movimentos involuntários, é deglutida voltando para o in-
testino, todo esse caminho é conhecido como ciclo de Loefler ou ciclo de Loss.
8. No intestino delgado ocorre o amadurecimento do parasita em verme adulto fêmea
e macho, posteriormente ocorre o acasalamento e a fêmea realizada a oviposição no
próprio intestino delgado e esses ovos são eliminados nas fezes do paciente, contami-
nando novamente a água e o solo, reiniciando o ciclo biológico (NEVES, 2016).

FIGURA 4 – CICLO BIOLÓGICO DO ASCARIS LUMBRICOIDES

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2G42Kf1>. Acesso em: 12 jul. 2020.

2.4 SINTOMATOLOGIA

Os sintomas que o parasita causa durante toda sua migração e seu desenvolvi-
mento, deve ser estudada com base no ciclo biológico do parasita. O sintoma patogno-
mônico do Ascaris é a obstrução intestinal, ocasionado pela alta capacidade de reprodu-
ção do parasita, eliminado até 200 mil/ovos/dia. Outro sintoma muito característico é a
síndrome de Loss ou Loeffler, conhecida também como “falsa pneumonia”, ocasionando
febre, tosse, dispneia, edema de alvéolo, infiltrado eosinofílico, manifestações alérgicas e

19
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

bronquite, que são sintomas que se assemelham à pneumonia, mas na realidade são oca-
sionados devido à passagem do parasita por esse órgão. Essas manifestações geralmente
ocorrem em crianças e estão associadas ao estado nutricional (NEVES, 2016).

Outros órgãos também podem ser prejudicados, como o fígado que pode apre-
sentar focos hemorrágicos e de necrose. Os sintomas relacionados ao intestino, onde o
parasita tem seu habitat, são subnutrição (devido ao alto consumo de nutrientes pelo
parasita), emagrecimento, diarreia, náuseas, vômitos e dor abdominal, além de colecistite,
pancreatite, apendicite, devido à localização errática dos vermes adultos (NEVES, 2011).

2.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

Como medidas de prevenção a essa parasitose, temos a higienização de


frutas e verduras, principalmente as que são consumidas in natura. Proteger os
alimentos da poeira, do contato com vetores (moscas e baratas) e fazer a ingestão
de água tratada. Evitar peridomicílio e geofagismo, bem como adotar medidas
de melhora do saneamento básico, adotando também medidas de educação em
saúde e tratar pessoas doentes para o ciclo seja eliminado (REY, 2010).

O diagnóstico é realizado pela identificação morfológica de ovos nas fezes


do hospedeiro contaminado, através da utilização de métodos parasitológicos es-
pecíficos para essas estruturas, como os de sedimentação espontânea, não haven-
do necessidade de utilização de técnicas especiais. Em casos mais graves, como os
de infecções maiores, pode ser realizada a pesquisa de larvas no lavado brônquio
para encontro do verme adulto (NEVES, 2016).

DICAS

Assista ao documentário Parasitas assassinos: parasitas suicidas – 2ª Tempo-


rada – Episódio 1. Disponível em: https://bit.ly/33eU6CU.

3 ENTEROBIUS VERMICULARIS

O parasita Enterobius vermicularis, causador da enterobíase ou enterobiose, po-


pularmente conhecido como oxiúros, apresenta uma distribuição mundial, em dife-
rentes localidades, climas e populações. A idade do hospedeiro é um fator que in-
fluencia o parasitismo, sendo crianças em idade escolar as mais acometidas. Parasito
exclusivamente humano, ele disputa com o Ascaris o primeiro lugar entre as ende-
mias parasitárias, por sua alta frequência e larga distribuição geográfica (REY, 2018).

20
TÓPICO 2 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS – FILO NEMATODA

3.1 MORFOLOGIA

A morfologia desse parasita também é dividida em verme adulto (fêmea


e macho) e ovos. Existem algumas características que são comuns em ambos os
sexos, como: cor branca, corpo filiforme e cutícula finamente estriada.

• Verme adulto fêmea: possui corpo cilíndrico, mede de 0,8 a 1,2 cm e seu corpo
é em forma de um ponto de interrogação invertido. Possui asa cefálica para
locomoção (estrutura muito importante para o ciclo biológico do parasita).
• Verme adulto macho: é menor que a fêmea, mede 0,3 a 0,5 cm, possui uma cauda
encurvada ventralmente, necessária para a cópula, também possui asa cefálica
para locomoção. Os vermes adultos, macho e fêmea, podem ser observados na
Figura 5. A fêmea tem a capacidade de colocar 16 mil ovos por dia (NEVES, 2016).
• Ovo: os ovos medem de 55 a 25um, possuem uma coloração transparente/
acinzentada ou amarelo claro (tudo vai depender do método utilizado para
o seu diagnóstico). Os ovos no exame da fita adesiva, se apresentam com du-
pla membrana evidente, célula germinativa no interior do ovo – que é liso e
translúcido em formato de letra “D” –, um lado é achatado e outro é convexo,
como é possível observar na Figura 6 (NEVES, 2016).

FIGURA 5 – MORFOLOGIA DO PARASITA ENTERBOIUS VERMICULARIS VERME ADULTO MA-


CHO (A), FÊMEA (B) E OVO (C)

FONTE: Neves (2016, p. 326)

21
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

FIGURA 6 – OVOS DE ENTEROBIUS VERMICULARIS NO EXAME DA FITA ADESIVA

FONTE: Leventhal e Cheadle (2000, p. 14)

3.2 TRANSMISSÃO

A transmissão dessa parasitose ocorre por diferentes mecanismos
(NEVES, 2011):

• Heteroinfecção: quando os ovos presentes em alimentos, poeira ou outros


fômites alcançam um novo hospedeiro, através da ingestão do ovo desse pa-
rasita, conhecido também como primoinfecção.
• Indireta: quando os ovos presentes em alimentos, poeira ou outros fômites
alcançam o mesmo hospedeiro que os eliminou.
• Autoinfecção externa ou direta: quando o próprio indivíduo infectado após
coçar a região perianal, leva os ovos infectantes até a boca.
• Autoinfecção interna: quando as larvas eclodem ainda dentro do reto e de-
pois migram até o ceco, transformando em vermes adultos.
• Retroinfecção: as larvas presentes na região perianal ascendem pelo intestino
grosso até chegar ao ceco, transformando-se em vermes adultos.

Conseguiu observar quantas formas de infecção diferentes podem ser encon-


tradas para esse parasita? Repare que todos estão envolvidos com hábitos de higiene
pessoal, ou seja, melhor tomar cuidado quando for cumprimentar uma pessoa, se ela
não tiver lavado a mão, pode lhe oferecer uma carga parasitária de brinde.

3.3 CICLO BIOLÓGICO

É do tipo monoxênico (Figura 7), apresenta apenas um hospedeiro e


possui algumas peculiaridades:

1. Os ovos recém-eliminados tornam-se infetantes em seis horas, podendo


permanecer viáveis no meio externo por até 13 dias.

22
2. O homem adquire o parasita através da ingestão do ovo em água ou alimentos
contaminados.
3. Ele sofre a ação do suco gástrico, no intestino delgado ocorre a sua eclosão
liberando uma larva (verme adulto) que migra para a região do ceco e sofre
diversas mudas até se tornar efetivamente um verme adulto.
4. No ceco, fêmea e macho realizam a cópula, após a cópula a fêmea mata o
macho, que é eliminado nas fezes do hospedeiro. Todo o ciclo ocorre no lúmen
intestinal, sem migração visceral. A fêmea grávida se desprende do ceco, passa
por todo o intestino grosso, pelo esfíncter anal até alcançarem a região anal
ou em áreas adjacentes como a região perianal, tudo isso ocorre no período
da noite, pois é nesse período que ela encontra temperatura, luminosidade e
tranquilidade adequada.
5. Nesse momento e local, ela faz a postura dos ovos cerca de 5 a 16 mil/ovos/
dia, e, dentro de seis horas, esses ovos se tornam infectantes, podem infectar
novamente o paciente, reiniciando o ciclo ou contaminando o ambiente,
podendo resistir até três semanas (FERREIRA, 2017).

FIGURA 7 – CICLO BIOLÓGICO ENTERBOIUS VERMICULARIS

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/30jEjAQ>. Acesso em: 12 jul. 2020.

3.4 SINTOMATOLOGIA

A patogenicidade do Enterobius vermicularis é usualmente baixa, dependendo


da carga parasitária. O principal sintoma é o prurido (coceira) intenso, que é oca-
sionado devido à presença dos ovos colocados sobre a mucosa anal, causando uma
reação imunológica devido às proteínas presentes no ovo do parasita que são alér-
gicas ao corpo do hospedeiro, esse, como consequência desenvolve o fenômeno de
hipersensibilidade que se intensifica ocasionando a reação de coceira (REY, 2018).

23
Além da irritação local, lesões intestinais causadas pelos vermes são míni-
mas, podendo haver emagrecimento e discreta inflamação. As ulcerações da mucosa
podem acontecer devido a infecções bacterianas secundárias, devido ao prurido do
hospedeiro coçar intensamente e com frequência a região anal, ocasionando escoria-
ções na mucosa, deixando uma porta de entrada para infecções bacterianas secundá-
rias. A margem do ânus pode se apresentar avermelhada, con­gestionada e recoberta
de muco que pode ser san­guinolento. Nas mulheres, também já houve relatos de
invasão da vulva e da vagina, com produção de vulvovaginites (REY, 2018).

Outras alterações ocasionadas são observadas no neurocomportamento,


relacionadas ao prurido anal que interfere na qualidade do sono, ocasionando
um quadro de insônia acarretando dificuldades da rotina do indivíduo, favore-
cendo a alterações comportamentais de irritabilidade (NEVES, 2016).

3.5 PROFILAXIA E DIAGNÓISTICO

Além de impedir reinfecções do próprio paciente, deve-se buscar a prevenção


da transmissão para outros indivíduos que possuem contato próximo, como família,
creche e ambiente de trabalho. A higiene pessoal do hospedeiro contaminado deve ser
realizada individualmente; as roupas do indivíduo e suas roupas de cama devem ser
enroladas e lavadas com água fervente diariamente; as unhas devem estar curtas e as
mãos devem ser lavadas com frequência, visto que no ato de coçar, o parasito pode se
alojar debaixo da unha; o banho deve ser diário, preferencialmente logo após se levan-
tar, devido à fêmea ter realizado a postura de ovos durante a noite, no momento em
que o paciente acorda, tem uma maior chance de contaminação (NEVES, 2016).

Deve-se lembrar sempre de realizar o tratamento de todas as pessoas pa-


rasitadas da família ou da coletividade, por se tratar de uma parasitose muito en-
contrada em creches, devido aos maus hábitos de higiene das crianças (não lavar as
mãos e levar tudo a boca), deve ser realizado programas de conscientização e diag-
nóstico nesses locais, para impedir a propagação dessa parasitose (NEVES, 2011).

O diagnóstico é realizado utilizando-se um método específico para o en-


contro desse parasita, visto que ele não é encontrado nas fezes, o parasita não de-
posita ovos no interior do intestino, mas na região perianal (mucosa), então, para
o seu diagnóstico, não podemos utilizar métodos tradicionais parasitológicos com
amostras de fezes, devemos utilizar do método de Graham, popularmente conhe-
cido como método da fita adesiva, em que, ao despertar, o paciente introduz sobre
a mucosa uma fita adesiva, já aderida a uma lâmina ou bastão de vidro e realiza
fricção com essa fita sobre a região anal, após retirar a fita, leva-se para o laboratório
para ser analisada, o analista clínico apenas coloca a fita no microscópio e analisa a
presença dos ovos de Enterobius, através da sua morfologia (REY, 2010).

24
AUTOATIVIDADE

Resolva o caso clínico proposto, como forma de testar seu conhecimento


perante o conteúdo estudado.
 
Paciente, 8 anos, sexo masculino, residente em Blumenau, foi atendido no
hospital infantil devido aos relatos da mãe que observou pequenos vermes
esbranquiçados próximo as nádegas da criança. Notou, também, prurido
intenso nos últimos dias quando observava a criança. Relatou a mudança
de hábito intestinal com episódios de diarreia. Relatou ter iniciado na creche
há um mês, devido à mudança de endereço. A mãe relata ter se separado do
marido, pois ele estava desempregado e não tinha condições de sustentar a
família. Após tal fato, a mãe procurou ajuda do conselho tutelar para ficar
com a guarda definitiva do menino, o seu pedido foi aceito desde que ele
fosse matriculado em uma creche próximo a sua residência e apresentasse
bons hábitos de saúde e higiene. A mãe possui emprego fixo e mais três
filhos provenientes de outros casamentos, mas não sabe o endereço fixo
dos outros filhos. Está sendo acompanhada pelos assistentes sociais do seu
bairro e vem demostrado bons hábitos e comportamentos. 

Mediante ao caso, responda:


 
1 Qual resultado do exame parasitológico que se espera encontrar? Justifique.
 
2 Em caso de exame parasitológico positivo, responda:
 
a) Qual melhor técnica para diagnóstico laboratorial do parasita encontrado?
Justifique.
 
b) Qual a morfologia do parasita encontrado?

4 TRICHURIS TRICHIURA

A infecção do parasita é amplamente distribuída na população humana,


sendo que as estimativas globais indicam que mais de 350 milhões de pessoas se
encontram infectadas. Entretanto, países subdesenvolvidos ou em desenvolvi-
mento que apresentaram uma elevada taxa de crescimento populacional, que não
foi acompanhada por investimentos necessários em saneamento e educação, as
taxas de prevalência de nematódeos intestinais ainda são extremamente elevadas.
Áreas onde as condições ambientais, especialmente umidade e temperatura, e
condições socioeconômicas e estruturais, como educação e saneamento precários
e indisponibilidade de água potável, favorecem a contaminação do ambiente e a
sobrevivência do parasita (REY, 2018).

25
A tricuríase incide mais intensamente na Amazônia e na faixa litorâ-
nea, de clima equatorial e chuvas distribuídas pelo ano todo, do que
no planalto tropical e com estações secas. As maiores prevalências
estão em Alagoas (71%) e Sergipe (80%). Também no México, encon-
tram-se 44% de parasitados no planalto (Distrito Federal) e 83% no
litoral (Vera Cruz) (REY, 2018, p. 679).

Uma grande parte dos infectados, apresentam idade inferior a 15 anos e,


geralmente, estão expostas a infecções com alta carga parasitária, apresentando
quadros mais greves. Foram observados que fatores climáticos, como temperatu-
ra e umidade média anual elevada, pH do solo ácido e baixo nível de desenvol-
vimento humano são fatores que aumentam o risco de contaminação. A doença
ocasionada pelo Trichuris trichiura é conhecida como tricuríase, tricocífero ou po-
pularmente também conhecida como “verme chicote” devido à morfologia do
seu corpo que se assemelha a um chicote (NEVES, 2016).

4.1 MORFOLOGIA

Os vermes adultos apresentam uma forma típica semelhante a um chicote,


essa aparência é consequência do afilamento da região esofagiana, que compreende
cerca de dois terços do comprimento total do corpo do parasita, seguido de alarga-
mento abrupto da região posterior, que compreende o intestino e os órgãos genitais.

• Verme adulto fêmea: medem aproximadamente de 3 a 5 cm de comprimento,


a boca é localizada na parte anterior, sem lábios para fixação, seguida por um
esôfago bastante longo e delgado. A parte posterior, ou seja, a região alar-
gada, localiza-se o sistema reprodutor e o intestino. Possui uma coloração
esbranquiçada.
• Verme adulto macho: é menor que a fêmea, mede de 3 a 4,5 cm, possui um
único testículo, seguido por canal deferente, canal ejaculador que termina
com um espículo na extremidade posterior que também é curvada ventral-
mente. Possui boca trilabiada na extremidade anterior para fixação (NEVES,
2016). O verme adulto macho e fêmea podem ser observados na Figura 8.

26
FIGURA 8 – VERME ADULTO MACHO (B) E FÊMEA (A) DE TRICHURIS TRICHIURA

FONTE: Ferreira (2017, p. 113)

• Ovo: apresentam um formato elíptico e possui dois poros salientes mucoides


e transparentes nas extremidades preenchidos por material lipídico, chamados
de opérculos polares, que tem como função proteção do embrião (esses poros
mucoides, conferem ao parasita semelhança a uma “bandeja”, por isso, são cha-
mados de bandejinha ou ovos em formato de “barril”). Na Figura 9, pode ser ob-
servada com maior clareza a estrutura morfológica do ovo de Trichuris trichiura.
A casca do ovo é formada por três camadas: uma camada lipídica externa para
proteção, uma camada quitinosa intermediária para nutrição do embrião e uma
camada vitelínica interna, onde o parasita se desenvolverá, são essas camadas
que favorecem a resistência destes ovos a fatores ambientais (NEVES, 2016).

FIGURA 9 – OVO DE TRICHURIS TRICHIURA

FONTE: Cimerman e Franco (2009, p. 83)

27
DICAS

Prezado acadêmico, você pode perceber que cada parasita que estamos estudan-
do possui uma morfologia diferente, mas que ao mesmo tempo se assemelham muito! Então,
uma dica muito importante, nesse momento de estudo, é que você faça um resumo, em forma
de tabela ou quadro, das principais diferenças de cada ovo. Isso irá facilitar seus estudos!

4.2 TRANSMISSÃO

Segundo Neves (2016), os ovos eliminados por um paciente contaminam o am-


biente, principalmente em áreas onde o saneamento básico é deficiente ou ausente.
Como os ovos são extremamente resistentes, podem ser facilmente disseminados pelo
ambiente, pelo vento, água ou até mesmo pelas moscas que transportam os ovos do pa-
rasito do local onde as fezes foram depositadas até o alimento. Através dessa dissemi-
nação, o homem pode se contaminar ingerindo água ou alimentos contendo esses ovos
do parasita, através também de hábitos e costumes, como geofagismo e peridomicílio.

Após o contato do parasita com o organismo humano, ele tem como habitat
o intestino grosso, mais precisamente nas porções do cólon e ceco, desenvolvendo
parte do seu ciclo biológico. Note que, a via de transmissão do Trichuris é a mesma
via de contaminação do Ascaris, com isso, é comum encontrarmos pacientes polipa-
rasitados, pois a via de contaminação de ambas parasitoses é a mesma. Portanto, caro
acadêmico, preste muita atenção no estudo da peculiaridade de cada parasita, pois é
de suma importância realizarmos o diagnóstico correto para um tratamento eficaz.

4.3 CICLO BIOLOGICO

O ciclo do Trichuris trichiura (Figura 10) é do tipo monoxênico e envolve


as seguintes etapas:

1. Os ovos chegam ao solo, meio ambiente, através das fezes de um paciente


contaminado, no solo esse parasita precisa encontrar as condições necessá-
rias, ou seja, o TUS necessário para o seu desenvolvimento, que seria tempe-
ratura de 25 a 34 ºC, umidade de 70% e solo argiloso.
2. Com essas condições favoráveis, o parasita sofre sua maturação (ainda no
meio ambiente) e o ovo sofre mudas, passando de L1 para L2.
3. Até chegar no estágio L3 (L1, L2 e L3 são as fases maturativas dos ovos, cujas
células germinativas contidas dentro do ovo sofrem mudas até formarem um
verme adulto). Todo esse período de evolução leva em torno de duas a três
semanas até o ovo se tornar infectante.

28
4. Esse ovo (L3) estará presente na água ou em algum alimento que será ingeri-
do pelo homem.
5. Após a ingestão, as larvas eclodem através de um dos poros presentes nas ex-
tremidades do ovo, no intestino delgado do hospedeiro, a eclosão das larvas é
estimulada pela exposição sequencial dos ovos aos componentes do suco gás-
trico e do suco pancreático, essa larva penetra no epitélio da mucosa intestinal,
na região duodenal, pela base das criptas de Lieberkuhn, permanecendo lá por
dez dias, até o seu desenvolvimento estar completo, depois ganham a luz intes-
tinal e migram para ceco e colón onde completam seu desenvolvimento.
6. Fêmeas e machos que habitam o intestino grosso reproduzem-se sexuadamente
ou podem permanecer fixadas ao intestino por longos anos sem que ocorra a
reprodução, os ovos são eliminados para o meio externo com as fezes, essa pro-
dução de ovos pode levar de 70 a 90 dias para liberação de novos ovos, a fêmea
coloca em torno de 7 mil/ovos/dia, que podem novamente cair no meio ambien-
te contaminando água e alimentos, reiniciando o ciclo biológico (NEVES, 2016).

FIGURA 10 – CICLO BIOLÓGICO TRICHURIS TRICHIURA

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/347PRIG>. Acesso em: 13 jul. 2020.

4.4 SINTOMATOLOGIA

Caro acadêmico, como você pôde perceber, até o momento, os sintomas


relacionados a cada parasita estão intimamente ligados ao ciclo biológico, ou seja,
os locais por onde ele passa durante o seu desenvolvimento são prejudicados,
ocasionando os sintomas.

Segundo Neves (2016), a tricuríase não tem sido tratada com a devida aten-
ção pelas autoridades de saúde pública. Provavelmente, o descaso seja em razão
da grande proporção de casos assintomáticos da doença e da falta de informações

29
quanto à real consequência da infecção crônica, especialmente em crianças. As
lesões ocasionadas pelo parasita ficam restritas ao intestino (ele é um parasita
que não tem a capacidade de perfurar o intestino e cair na circulação sanguínea).

A intensidade dos sintomas dependerá da intensidade da infecção, ou


seja, da carga parasitária que foi adquirida pelo hospedeiro. Se a carga parasitária
for leve, esse paciente pode se apresentar em muitos casos, assintomático, apenas
relatando perda de apetite, insônia e nervosismo. Em infecções moderadas pode
apresentar, diarreia, dor abdominal, vômito e náuseas (NEVES, 2016).

Apenas em infecções graves, de alta carga parasitária, apresenta sintomas clássi-


cos de contaminação do Enterobius vermicularis, que é o prolapso retal, consequência de
um processo inflamatório muito intenso no reto. O edema formado e o intenso sangra-
mento na mucosa retal, são provavelmente responsáveis por iniciar o reflexo de defeca-
ção mesmo com ausência de fezes no reto. O esforço continuado de defecação associados
a possíveis alterações nas terminações nervosas locais, gera um aumento do peristaltis-
mo, causando o prolapso retal. Também podendo apresentar diarreia intermitente com
sangue, dor aguda abdominal, desnutrição grave e anemia (NEVES, 2011).

4.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

Os humanos contaminados e as condições ambientes favorecem o desen-


volvimento e a sobrevivência dos ovos no ambiente. Então, como medidas profilá-
ticas devemos tratar os doentes, investir em educação sanitária, higienizar frutas e
verduras, principalmente alimentos que são consumidos in natura. Fazer consumo
de água tratada e adotar bons hábitos de higiene pessoal. Em vista da biologia do
Trichuris ser semelhante à do Ascaris, as medidas profiláticas preconizadas para
combate a erradicação, aplicam-se na prevenção da tricuríase (MORAES, 2008).

Para o seu diagnóstico são utilizados exames parasitológicos de fezes obser-


vando-se a morfologia do parasita encontrado. Os métodos qualitativos utilizados
serão para a pesquisa de ovos pesados, métodos de sedimentação como Hoffmann
e Ritchie. Outro método muito utilizado é o de Kato-Katz, que permite uma ava-
liação qualitativa e quantitativa da infecção. Outros métodos associados que vêm
sendo utilizados e descritos na literatura para pesquisa do parasita, são os de co-
lonoscopia, em que é possível observar o parasita aderido a mucosa do intestino
grosso, porém devido ao alto custo e invasão ele é pouco utilizado nos dias atuais.

30
DICAS

Querido acadêmico, você perceberá ao decorrer do estudo dos helmintos,


que alguns sintomas são inespecíficos, ou seja, dor abdominal e diarreia são ocasionadas
por 99% dos parasitas estudados, mas sugiro que você faça uma “tabela de atenção” e co-
loque nela o sintoma específico e único de cada parasita. Fica a dica!

5 STRONGYLOIDES STERCORALIS

A doença ocasionada pelo Strongyloides é denominada como estrongiloi-


díase ou também conhecida como “diarreia da Chonchichina”. Descoberto pelo
médico Louis Normand e descrito pelo farmacêutico Bavay, em 1876, soldados
franceses que voltavam da guerra militar na Cochinchina (atual Vietnã), apresen-
tavam diarreia com formas larvárias de um helminto que foi denominado An-
guillula stercoralis (do latim pequena enguia ou peixe longo e stercus = sinônimo
de esterco). Somente em 1902 passou a ser denominado Strongyloides stercoralis
(do grego Strongylos = arredondado ou esférico). No Brasil, a estrongiloidose foi
descrita por Moraes, em 1948, tratando-se de uma parasitose emergente e de rele-
vante causa de morbidade e mortalidade em áreas tropicais e subtropicais, prin-
cipalmente em indivíduos imunossuprimidos (NEVES, 2011).

O caráter de cronicidade e autoinfecção, originando formas graves de hi-


perinfecção e disseminação, além da possibilidade da reagudização em indivíduos
imunodeprimidos, evoluindo muitas vezes para óbito, tornam a estrongiloidíase um
importante problema médico e social. Há pelo menos 52 espécies descritas do ne-
matódeo do gênero Strongyloides, no entanto, atualmente, somente duas delas são
consideradas infectantes para os humanos: o S. stercoralis que foi descrito por Bavay
em 1876 e a espécie S. fuelleborni, descrita por Linstow em 1905 (NEVES, 2016).

O Strongyloides stercoralis apresenta distribuição mundial, especialmente nas


regiões tropicais, a maioria infectando mamíferos, entre eles cães, gatos e macacos.
Já a espécie fuelleborni, é incidente em macacos e quase todos os casos de infecção em
humanos foram registrados na África e na Ásia. Portanto, nesta unidade, daremos
destaque à espécie stercoralis por ser endêmica no Brasil. A ocorrência aumenta com
a idade, 12,1% para indivíduos com idade superior a 60 anos, o que sugere ser uma
condição epidemiológica de preocupação para a população idosa (NEVES, 2016).

31
5.1 MORFOLOGIA

Acadêmico, prepare-se! Muita atenção! Esse parasita é de estudo complexo,


iniciando pela sua morfologia. Ele possui seis formas evolutivas (Figura 11), todas
elas farão mais sentido durante o ciclo biológico do parasita, mas, inicialmente,
precisamos conhecer cada forma morfológica individualmente, conforme foram
descritas em 2011 por David Pereira Neves.

• Fêmea partenogenética: primeiro vamos esclarecer o significado de parteno-


gênese: é quando se dá o desenvolvimento de um ovo sem interferência de
espermatozoides (parthenos + genesis = geração). Isso significa que essa forma
evolutiva é capaz de realizar autofecundação, não precisando do macho. Ela
possui corpo cilíndrico filiforme, com extremidade anterior arredondada e
extremidade posterior afilada. Medindo de 1,7 a 2,5 mm. Possui vestíbulo bu-
cal curto e esôfago longo, ocupando 25% do comprimento do parasita. Única
forma adulta do verme para o homem.
• Fêmea de vida livre: mede cerca de 0,8 a 1,2mm. Possui um aspecto fusifor-
me, com extremidade anterior arredondada e extremidade posterior afilada
(retilínea). O esôfago é do tipo rabditoide maior que o macho. Essa forma pa-
rasitária é encontrada somente no solo. A fêmea tem a capacidade de eliminar
ovos, após o acasalamento com o macho de vida livre.
• Macho de vida livre: é menor que a fêmea, mede cerca de 0,7mm. Também
possui aspecto fusiforme e extremidade anterior arredondada, o que diferen-
cia é a extremidade posterior que apresenta cauda em espiral (recurvada ven-
tralmente). O esôfago é do tipo rabditoide, possui boca trilabiada e apresenta
dois espículos auxiliares para a cópula na região caudal.
• Larva rabditoide: é o tipo de esôfago do parasita que dá esse nome a ele, rabditoi-
de. A larva rabditoide é originada pela fêmea partenogenética e pela fêmea de vida
livre. Mede cerca de 0,2 a 0,3 mm, com cutícula fina e hialina, possui vestíbulo bu-
cal curto, primóridio genital visível, cauda afilada e curta. É a forma de diagnós-
tico, essa a única forma morfológica do parasita encontrada nas fezes (Figura 11).
• Larva filarioide: possui esôfago do tipo filarioide, vestíbulo bucal curto, me-
dindo cerca de 0,35 a 0,50 mm, com cutícula fina e hialina. A porção anterior do
parasita é afilada (característica essa necessária para a contaminação do hospe-
deiro). Possui cauda com uma bifurcação (cauda em talhe). É a etapa infectante.
• Ovos: são elípticos, de parede fina e transparente, praticamente idênticos aos
de ancilostomídeos. Possuem uma fina e única membrana externa e célula ger-
minativa em seu interior, que dará origem a larva rabditoide. Podem, excepcio-
nalmente, serem observados em fezes de indivíduos com diarreia severa ou
após utilização de laxantes.

32
FIGURA 11 – FORMAS EVOLUTIVAS DO STRONGYLOIDES STERCORALIS

FONTE: Neves (2016, p. 314)

FIGURA 12 – LARVA RABDITOIDE DE STRONGYLOIDES STERCORALIS

FONTE: O autor, 2020.

5.2 TRANSMISSÃO

A transmissão desse parasita pode ocorrer de diferentes formas, a forma


mais frequente que acomete os pacientes é através da hetero ou primoinfecção,
nesse caso, as larvas filarioides penetram ativamente sobre a pele humana, ge-
ralmente pelas mucosas mais finas, como os espaços interdigitais, em pessoas
que não utilizam calçados ou até mesmo mucosa da boca e esôfago, denominado
como infecção percutânea. O parasita possui sobre o seu corpo uma enzima que
se chama protease, que tem a capacidade de quebrar a barreira da pele e entrar
no organismo humano (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

Outra forma de infecção é através da autoinfecção externa ou exógena,


cujas larvas rabditoides presentes na região perianal de indivíduos contamina-
dos, amadurecem para larva do tipo filarioide, tornando-se infectantes, penetran-

33
do na região perianal, ceco e assim reiniciam o ciclo. Esse tipo de transmissão é
mais comum em crianças e pacientes que utilizam fraldas, devido à má higiene,
pois ficam restos de fezes na região perianal (NEVES, 2011).

Existem também a autoinfeção interna ou endógena, como forma de


transmissão, onde larvas rabditoides na luz intestinal transformam-se em larvas
filarioides e penetram na mucosa intestinal, este mecanismo pode cronificar a do-
ença por meses ou anos. Esse mecanismo aumenta o número de parasitas no in-
testino e nos pulmões, levando à hiperinfecção ou ainda à infecção disseminada,
podendo, em alguns casos, ser fatal. Ocorre principalmente em indivíduos com
constipação intestinal, devido ao retardamento da eliminação das fezes, em casos
de indivíduos imunodeprimidos (por drogas, radioterapia, neoplasias, HIV, gra-
videz, desnutrição ou idade avançada) (NEVES, 2016).

5.3 CICLO BIOLOGICO

O helminto Strongyloides stercoralis apresenta dois ciclos evolutivos, que


estão dispostos na Figura 13, ambos monoxênicos. Esse ciclo pode acontecer de
duas formas, devido à morfologia genética da fêmea partenogenética que libera
três tipos de ovos (idênticos) que darão origem às larvas do tipo rabditoide nas
fezes do indivíduo. Essa larva rabditoide pode seguir três caminhos diferentes,
dependendo da sua constituição genética: larvas rabditoides, que se transformam
em larvas filarioides infectantes, completando o ciclo direto ou partenogenético;
larvas rabditoides, que originam as fêmeas de vida livre; e as larvas rabditoides, que
evoluem para macho de vida livre; estas duas últimas completam um ciclo indi-
reto ou sexuado de vida livre (REY 2010).

• Ciclo direto ou partenogenético:

1. Esse ciclo inicia-se com a penetração ativa da larva filarioide sobre a pele ou
mucosa. As larvas filarioides conseguem romper a barreia da pele e entram
em seu hospedeiro, sua entrada é facilitada devido à presença de enzimas
colagenases.
2. As larvas ganham a circulação venosa e linfática, migram até os capilares pul-
monares (realizando o ciclo pulmonar – ciclo de Loss), atravessam o tecido
pulmonar até chegarem à faringe, podendo ser expelidas ou deglutidas.
3. Sendo deglutidas, essa larva chega ao intestino delgado e se transformam em
uma fêmea partenogenética.
4. A fêmea partenogenética tem por habitat o intestino delgado do homem,
onde se alimenta das células e líquidos intersticiais, realizando a fecundação,
e quando estão repletas de ovos, realizam a oviposição.
5. Esses ovos eclodem ainda no intestino delgado, originando as larvas rabdi-
toides, que são eliminadas com as fezes. Uma vez no meio exterior favorável,
com TUS adequado a uma temperatura de 27 a 30 °C, umidade de 90% e
solo arenoso, que nos remete muito ao local de praia (já parou para pensar
que quando você está sentado na areia da praia descalço, enterrando seus
34
pés, você pode estar sendo contaminado com esse parasita?). Dentro de 48
horas as larvas rabditoides transformam-se em larvas filarioides infectantes e
entram em outro hospedeiro, reiniciando assim o ciclo direto. A fêmea pode
viver até cinco anos, e produz de 30 a 40 ovos por dia, via partenogênese, ou
seja, não há machos durante a vida parasitária (NEVES, 2016).

• Ciclo indireto/sexuado ou de vida livre:

1. As larvas rabditoides oriundas de fêmeas partenogenéticas chegam ao meio


ambiente através das fezes de um paciente contaminado e encontram o TUS
adequado (Temperatura: 27 °C a 30 °C. Umidade: 90% e solo arenoso).
2. Entre 24 e 48h as larvas tornam-se filarioides e evoluem dependendo da sua cons-
tituição genética em macho e fêmea de vida livre. Macho e fêmea de vida livre no
ambiente realizam movimento serpentiformes e se alimentam de matéria orgâ-
nica até o seu desenvolvimento, e então realizam a cópula no meio ambiente, em
terreno arenoso, úmido, com ausência de raios solares diretos, temperatura alta.
3. A fêmea faz a postura dos ovos, eles passam por um período de maturação
ainda no ambiente.
4. Os ovos eclodem liberando larvas na forma rabditoide.
5. A larva rabditoide realiza movimentos serpentiformes no meio ambiente, para
realizar a sua nutrição e evolução e se tornam filarioide.
6. Penetram sobre a pele humana, sendo facilitada pelas enzimas colagenases
ou proteases.
7. Após a penetração, caem na corrente sanguínea, migram para o coração, fí-
gado, pulmão, bronquíolos, brônquios, traqueia, faringe, epiglote e ocorre a
deglutição da larva.
8. Ela, então, volta para o intestino delgado e se torna fêmea partenogenética.
9. Essa fêmea libera os ovos embrionados no ambiente e após 25 a 35 dias o ciclo
se repete.
10. Em resumo, as larvas rabditoides podem originar três tipos de vermes: machos
e fêmeas de vida livre (os quais permanecem no solo), ou larvas filarioides in-
fectantes. As larvas filarioides infectantes penetram ativamente no hospedeiro,
iniciando o ciclo parasitário partenogenético (NEVES, 2016).

35
FIGURA 13 – CICLO BIOLÓGICO STRONGYLOIDES STERCORALIS

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3ibx58k>. Acesso em: 13 jul. 2020.

5.4 SINTOMATOLOGIA

Os sintomas desse parasita vão desde o período de contaminação até a


evolução do parasita. O sintoma mais característico é o cutâneo, ocasionado pela
penetração da larva sobre a pele humana. Caracterizada pela formação de edema,
eritema, prurido e pápulas hemorrágicas. A intensidade das lesões está ligada ao
número de larvas invasoras. Outra característica desse parasita é a realização do
ciclo pulmonar devido à passagem da larva filarioide pelo pulmão, podendo oca-
sionar hemorragias, petéquias, infiltrado inflamatório (linfócitos e eosinófilos),
tosse, febre, expectoração sanguinolenta, edema pulmonar e insuficiência respi-
ratória (característicos da síndrome de Loeffler) (NEVES, 2016).

Devido à fixação da fêmea partenogenética no intestino delgado, causa mui-


ta destruição no local, podendo determinar: enterite severa (inflamação da mucosa
intestinal) com aumento da secreção mucoide, síndrome da má-absorção intestinal
(devido à presença da fêmea e o alto consumo de nutrientes para o seu desenvolvi-
mento, o organismo não consegue ou absorve pouco os nutrientes) e alterações do
peristaltismo. Em alguns casos, a parasitose pode cronificar e o sistema imunológico
pode estar muito debilitado, como ocorre em pacientes imunodeprimidos, quando
as larvas rabditoides e filarioides alcançam a corrente sanguínea e se disseminam por
todo o organismo. Essas larvas causam diarreias severas, pneumonia hemorrágica,
meningite e a morte do paciente (FERREIRA, 2017). Temos então como uma tríade
clássica da infecção por S. stercoralis: diarreia, dor abdominal e urticária.

36
5.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

As medidas profiláticas mais difundidas por Neves (2016) são as prevenções


através de evitar o contato direto da pele com solo contendo larvas infectantes, por-
tanto, o uso de calçados fechados é de suma importância para evitar essa parasito-
se. Além de identificar pacientes em risco e realizar testes diagnósticos apropriados
antes de iniciar terapia imunossupressora. A disposição adequada de excreções hu-
manas também reduz substancialmente a prevalência de estrongiloidíase e a conscien-
tização da população através de equipes de saúde, com foco na atenção aos hábitos
higiênicos, utilização da calçados, educação sanitária e melhoria da alimentação.

A prevalência de S. stercoralis é subestimada, sobretudo pela baixa sensibi-


lidade dos métodos parasitológicos de diagnóstico empregados na rotina laborato-
rial e nos inquéritos epidemiológicos que não incluem os métodos específicos para
pesquisa de larvas. O método específico para o encontro de larvas do Strongyloides
é o de Baermann e Moraes, utilizamos água quente e o princípio da gravidade para
a concentração e identificação do parasita. Os outros métodos tradicionais parasi-
tológicos não são específicos e sua identificação pode ser prejudicada pelo pequeno
número de parasitos, além da liberação das larvas nas fezes ser mínima e irregular.
Vale ressaltar que resultados parasitológicos negativos podem não indicar ausência
de infecção, se realizados com o método inadequado e com uma única amostra.

Em alguns casos o diagnóstico pode ser feito por imagem, no qual consegui-
mos identificar a presença da larva nos pulmões ou através da pesquisa imunológica,
procurando o antígeno ou anticorpo do parasita presente, ambas técnicas muito pou-
co utilizadas, devido ao alto custo e complexidade do exame (NEVES, 2011).

6 ANCYLOSTOMA SP.

A família Ancylostomatidae apresenta diversas espécies que podem causar


desde a ancitlostomose ou a “larva migrans cutânea”, que é a migração errática de
algumas espécies. Atualmente, a ancilostomose é considerada uma doença de alto
impacto mundial, negligenciada, devido à prevalência da infecção estar associada
a áreas de pobreza e desigualdade sociais. Existem quatro espécies de Ancylostoma
mais frequentes no Brasil, que abordaremos nesse tópico. Trata-se das espécies: An-
cylostoma duodenale e Necatur americanos, que causam a ancilostomíase, ancilostomose,
amarelão ou oplição, também popularmente conhecida como doença do “Jeca Tatu”,
personagem ilustre de Monteiro Lobato; e os Ancylostoma brasiliensis e Ancylostoma
caninun, que causam a larva migrans cutânea (LMC), dermatite serpinginosa ou po-
pularmente conhecida como “bicho geográfico”. Os grandes movimentos migrató-
rios dos tempos modernos, que se produzem em todos os continentes, têm levado a
enormes alterações na distribuição mundial dessas espécies (NEVES, 2016).

37
Apesar de todas as campanhas de saneamento e profilaxia, empreen-
didas desde o começo do século XX, a distribuição geográfica da anci-
lostomíase permanece quase a mesma. Em função do desenvolvimento
econômico (que promove a extensão do uso do calçado) e da melhoria
geral das condições de nutrição, houve uma redução na gravidade do
mal. Já não aparece a ancilostomíase, como no passado, entre as grandes
causas de mortalidade na infância e na adolescência, nem são frequen-
tes, como antes, as formas graves da doença (REY, 2018, p. 630).

Um fato muito importante a levar em conta, quando falamos da epidemio-


logia do Ancylostoma, é que nos dias atuais houve um grande crescimento da popu-
lação urbana e um decréscimo da população rural. O homem que antes trabalhava
no campo, hoje migra para grandes centros, na busca de uma melhor qualidade de
vida, e isso impacta diretamente no decréscimo de casos desse parasita, primeiro
porque ele é endêmico de área rural, e segundo porque a forma de contaminação
se dá através do não uso de calçados, o que dificilmente acontece na região urbana.

6.1 MORFOLOGIA

O que basicamente diferencia as espécies de Ancylostoma é a quantidade e o


tipo de dentes presentes na cápsula bucal do parasita. A identificação morfológica
da espécie é possível de ser realizada apenas com microscopia eletrônica (pouco dis-
ponível nos laboratórios, devido ao alto custo). Então, a identificação do gênero An-
cylostoma será sempre realizada através da visualização da morfologia do ovo, que,
portanto, deve ser relatada como Ancylostoma sp., porque o ovo é idêntico para todas
as espécies, o nome da espécie somente é relatado quando é realizado a identificação,
com base na cápsula bucal do verme adulto, com microscopia especializada.

6.1.1 Ancylostoma duodenale

Possui dois pares de dentes triangulares, devido ao hábito de hematofa-


gia (ato de consumir sangue), consomem 0,03 mL de sangue/dia, na extremidade
anterior, possui cápsula bucal profunda. Em ambos os sexos a cápsula bucal é for-
mada pela cutícula, que permite ao verme aderir, por sucção, à parede do intes-
tino. A cápsula é provida de estruturas que dilaceram a mucosa intestinal, como
dentes ou lâminas cortantes. Fêmea: mede 10 a 18 mm, extremidade anterior:
cápsula bucal (dentes) e na extremidade posterior: retilínea (cauda afilada), rea-
liza a oviposição de 20 a 30 mil/ovos/dia. Macho: mede 8 a 11 mm, extremidade
posterior: bolsa copuladora e extremidade anterior: cápsula bucal (protuberância
onde estão os dentes) (NEVES, 2011).

38
6.1.2 Necatur americanos

Possui dois pares de dentes arredondados e consomem 0,04 mL sangue/dia.


Fêmea: medem 9 a 11 mm, com extremidade anterior afilada e capacidade ovulatória
de 6 a 11 mil ovos/dia. Macho: medem 5 a 9 mm, na extremidade posterior possui
bolsa copuladora. O que diferencia uma espécie da outra é a número de dentes e a
quantidade presente na cápsula bucal (Figura 14), é a observação do verme adulto
que permite a diferenciação da espécie do parasita (NEVES, 2011).

6.1.3 Ancylostoma brasiliensis

O verme adulto possui um par de dentes grandes, um par de dentes


médios e um par de dentes pequenos. O restante do corpo do macho e da fêmea
são semelhantes a outras espécies (NEVES, 2011).

6.1.4 Ancylostoma caninum

Possui um par de dentes triangulares. O macho e fêmea têm o restante do


corpo semelhante a outras espécies (NEVES, 2011).

FIGURA 14 – DIFERENCIAÇÃO DA CÁPSULA BUCAL DAS ESPÉCIES DE ANCYLOSTOMÍDEOS. A


– A. DUODENALE, B – A. BRAZILIENSE. C – N. AMERICANUS. D – A. CANINUM

FONTE: Moraes (2008, p. 301)

6.1.5 Ovo de Ancylostoma sp.

O ovo de Ancylostoma sp. é idêntico a todas as espécies, sem diferenciação mor-


fológica. Elipsoide ou alongado (Figura 14), possui fina membrana dupla e transparen-
te no interior, possui célula germinativa e, entre a membrana e a célula germinativa,
apresenta halo claro, que diminui à medida que o parasita se desenvolve (REY, 2010).

39
FIGURA 15 – OVO DE ANCYLOSTOMA SP.

FONTE: Cimerman e Franco (2009, p. 90)

6.2 TRANSMISSÃO

A transmissão das diferentes espécies de Ancylostoma podem ocorrer atra-


vés de duas formas, a primeira e mais a comum é através da via transcutânea,
cuja larva filarioide penetra ativamente sobre a pele humana, quebrando as enzi-
mas colagenases presentes na pele e, em 15 minutos, ganha o interior do orga-
nismo humano, geralmente os lugares mais acometidos são: mucosas, nádegas,
virilhas e espaços interdigitais, devido à baixa espessura da pele e do contato
direto da mucosa com o meio ambiente, nesse caso, com lugares de solo areno-
so (praia, campo de futebol, creches e parques). Outra forma menos comum de
contaminação é através da ingestão do ovo do parasita através de água insalubre,
não fervida, e alimentos não higienizados de forma correta e consumidos de for-
ma in natura, forma pouco frequente encontrada em nosso meio (NEVES, 2016).

6.3 CICLO BIOLÓGICO

O ciclo biológico do Ancylostoma duodenale e do Necatur americanos pode


ser observado através das seguintes etapas:

1. O ciclo do Ancylostoma duodenale e do Necatur americanos se inicia com a libera-


ção dos ovos nas fezes por um paciente contaminado (esquema 5).
2. Esses ovos no ambiente necessitam de TUS (solo arenoso, umidade 90%, temperatu-
ra 27 ºC a 32 ºC) para o se transformarem em L1 e depois para L2 (esôfago rabditoide).
3. Na sequência maturativa, transforma-se em larva do tipo L3 (esôfago filarioi-
de) que é a forma infectante do parasita (a eclosão da L1 ocorre em 12 a 24 ho-
ras, a muda L1 para L2 em três a quatro dias e muda para L3 após cinco dias).
4. Após esse tempo, o ovo em estágio L3 eclode e sai uma larva do tipo rabditoide.
Essa larva no ambiente tem condições de se alimentar de matéria orgânica, bac-

40
térias e detritos encontrados no solo por onde passa, devido aos movimentos
serpentiformes que ela realiza. Essa larva no ambiente, perde a cutícula e se
transforma em larva tipo filarioide que mede 700u, com vestíbulo bucal longo,
podendo permanecer por até três meses no solo com as condições favoráveis. O
homem, então, entra em contato com o parasita através da mucosa exposta, por
exemplo na areia da praia, ao passar na areia a larva penetra no homem, essa
penetração demora 15 minutos e é facilitada por essas enzimas colagenases.
5. Ao entrar em contato com o ser humano, as larvas são estimuladas por sinais
térmicos e químicos derivados do hospedeiro, continuando seu desenvolvimen-
to na produção de secreção com movimentos que auxiliam na penetração, elas
alcançam a corrente sanguínea, vão para linfa, fígado, pulmão, alvéolo, bronquí-
olos, brônquios, faringe, traqueia, epiglote, onde é deglutido e alcança o intestino
delgado, ocorrendo a sua maturação (caracterizando ciclo pulmonar). As larvas
L4, já no interior do intestino delgado, exercem a hematofagia e depois de 15
dias mudam para a forma adulta, a qual dão origem a vermes adultos, que reali-
zam a cópula e liberam ovos nas fezes do hospedeiro reiniciando o ciclo, os ovos
embrionados eclodem e liberam as larvas que sofrerão maturação e contamina-
rão novamente um hospedeiro. Outra forma de contaminação, menos comum, é
através da ingestão dos ovos embrionados de Ancylostoma (NEVES, 2016).

O homem elimina ovos nas fezes, esses ovos contaminam o ambiente, a


água e os alimentos que são ingeridos pelo hospedeiro, a larva perde a cutícula no
estômago e migram para o intestino delgado (duodeno), penetrando na mucosa
intestinal, mudando para L4, iniciam a hematofagia e mudam par vermes adultos
jovens. Larvas que são ingeridas pela boca não realizam ciclo pulmonar, ficam
restritas ao intestino (NEVES, 2011).

FIGURA 16 – CICLO BIOLÓGICO DO ANCYLOSTOMA DUODENALE E NECATUR AMERICANUS

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/33mJx0D>. Acesso em: 13 jul. 2020.

41
1. Para as espécies de Ancylostoma brasiliensis e caninum, as fêmeas desse pa-
rasito colocam ovos que são eliminados nas fezes dos gatos e cães infectados
para o meio exterior (Figura 17).
2. Devido às condições de temperatura, umidade e solo adequada (Temperatu-
ra: 27 ºC a 35 ºC, Umidade: 90% e Solo: arenoso) para a maturação, alimentan-
do-se de matéria orgânica presente no ambiente, ocorre a eclosão do ovo L1
que realizam duas mudas até alcançar o terceiro estágio infectante L3.
3. Essa larva não se alimenta e pode permanecer no solo por vários dias, até en-
contrar uma mucosa “acessível” e realizar a penetração na pele.
4. Essa penetração demora em torno de 15 minutos, onde a larva migra para os
tecidos subcutâneos, progredindo e deixando um rastro sinuoso sobre a pele,
conhecido como larva migrans cutânea (bicho geográfico ou bicho das praias)
podendo permanecer durante semanas ou até meses e então morrem, devido
à ação do sistema imunológico.
5. Caso o paciente esteja com baixa imunidade, a larva pode migrar para as vís-
ceras, e de forma menos frequente, a larva no estágio L3 pode ser ingerida, e
se transformar em larva migrans visceral. Cães e gatos se infectam pelas vias
oral, cutânea e transplacentária (NEVES, 2016).

FIGURA 17 – CICLO BIOLÓGICO DO ANCYLOSTOMA BRASILIENSIS E CANINUM

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2SlDvqY>. Acesso em: 13 jul. 2020.

42
6.4 SINTOMATOLOGIA

Neves (2011) relata sobre os sintomas mais comuns após a contaminação


pelas espécies de Ancylostoma duodenale e Necatur americanus, que ocorre através
da penetração da larva filarioide, o primeiro sintoma imediato decorre da migra-
ção da larva no tecido cutâneo com migração dos vermes adultos, ocasionado
lesões cutâneas/dermatite urticariforme: lesões traumáticas, prurido, edema e
eritema. Os sinais e sintomas sequenciais são decorrentes da migração da larva,
ocasionando lesões pulmonares: hemorragias, petequeias, pneumonite difusa e
síndrome de Loeffler (febre, tosse produtiva, dificuldade respiratória e eosinofilia
sanguínea). Para Moraes (2008, p. 302), “as alterações patológicas da doença re-
sultam das ações que os vermes exercem sobre o organismo e do comportamento,
segundo sua maior ou menor resistência ao parasitismo”.

Após os sintomas agudos iniciais, começam a aparecer os sintomas crôni-


cos da doença, também conhecido como sintomas clássicos. O nome da doença
que Monteiro Lobato escreveu em seu livro, conhecida como “doença do Jeca
Tatu”, refere-se ao seu personagem Jeca Tatu, que era homem forte, trabalhador,
mas que vivia descalçado. Um belo dia Jeca começou a ficar doente, sem força
para trabalhar e com “amarelão”, esse conjunto de sintomas foram relacionados
com a patologia ocasionada pelo Ancylostoma sp.

“O Jeca não é assim: está assim” (Monteiro Lobato).


O escritor Monteiro Lobato, já nos anos 1930, nos privilegia com a sua
compreensão da problemática de nossas endemias rurais, descrevendo
nosso homem do campo não como um indivíduo preguiçoso por na-
tureza, e sem um parasitado crônico. Atualmente, apesar dos grandes
avanços que conseguimos, ainda somos uma sociedade com enorme
desequilíbrio social, sanitário, ambiental e cultural, mantida pela domi-
nação de uns e submissão e alienação de outros (NEVES, 2016, s.p.).

Após alcançar o interior do organismo humano, causa uma ação espolia-


dora da mucosa intestinal devido à presença dos seus pares de dentes cortantes
na cápsula bucal, e isso ocasiona uma perda crônica de sangue porque o parasita
se fixa na mucosa para obter o alimento necessário para o seu desenvolvimento,
levando o paciente à anemia. Hábito conhecido como hematofagia, ocasionado
pelo parasita. O nível em que se mantém a anemia ancilostomótica, depende da
espécie de ancilostomídeo e da carga parasitária, bem como da ingestão e absor-
ção do ferro alimentar. Sintomas gerais abdominais também podem estar presen-
te, como: náuseas, vômitos, dor epigástrica, flatulência, indigestão, cólicas abdo-
minais, cansaço, diarreia sanguinolenta e edema nas pernas (NEVES, 2016).

Quanto ao Ancylostoma brasiliensis e caninum, ambas espécies são causado-


ras da patologia conhecida popularmente como bicho geográfico ou larva migrans
cutânea (LMC). As partes do corpo frequentemente acometidas são aquelas que
entram em maior contato com o solo: pés, pernas, nádegas, mãos e dorso, as lesões
podem ser múltiplas e em várias partes do corpo. Por isso, quando você observar

43
na praia alguém jogado na areia ou brincando de se “enterrar” nela, alerte-o sobre
os riscos que ele está correndo, afinal conselho nunca é demais, não é mesmo?

No ponto de penetração ocorre a formação de uma pápula eritematosa e


pruriginosa que, com o início da movimentação subcutânea da larva, provoca le-
são com aparência de túnel da pele. Devido a isso, pode também ocorrer infecções
secundárias referentes às escoriações ocasionadas pelo intenso prurido. Em casos
de infecções mais graves, pode ocorrer a migração dessas larvas para os órgãos,
todavia são poucos os casos registrados (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

6.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

A profilaxia deve ser baseada na melhora das condições socioeconômicas


da população afetada. O uso de calçados é a principal medida profilática que deve
ser adotada. A negligência da doença, sobretudo nas populações que vivem no
meio rural ou em comunidades periféricas, ainda determina a presença de infec-
ções nos dias atuais. É recomendado ações educativas para os hábitos de higiene,
como defecar em locais apropriados, não consumir alimentos sem higienizá-los,
uso de calçados que impeça o contato com o solo possivelmente contaminado – é
um dos principais fatores a serem debatidos, principalmente em populações de
baixa renda. Essas recomendações, são utilizadas para Ancylostomíase e para larva
migrans cutânea, por terem a mesma forma de contaminação (FERREIRA, 2017).

O diagnóstico na Ancylostomose, é realizado através do exame parasitológico


de fezes, para a pesquisa morfológica dos ovos de Ancylostoma sp. O método de esco-
lha para o encontro de ovos leves de Ancylostoma é através do método de Willis, que
é o método específico utilizado para o encontro desse parasita. Na Unidade 3, serão
abordados os métodos de diagnóstico das parasitoses, em que será possível identifi-
car qual o melhor método utilizado para o diagnóstico de cada parasitose. Vale lem-
brar que no exame parasitológico de fezes apenas conseguimos visualizar a presença
do ovo de Ancylostoma sp., sendo impossível através da morfologia do ovo dizer qual
a espécie. Para isso, devemos realizar a análise da larva (verme adulto) para o encon-
tro dos pares de dentes na cápsula bucal, para diferenciar uma espécie da outra. Já
para o diagnóstico da larva migrans cutânea são observados apenas os sintomas do
paciente, realizado anamnese e visualização dermatológica da lesão, caracterizado por
erupção linear e tortuosa na pele (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

44
NOTA

Como foi descrito repetidamente durante esse tópico, foi possível perceber a
importância da identificação morfológica do parasita para um correto diagnóstico. Por esse
motivo, deixarei para você, acadêmico, dois sites de acesso de Atlas Virtuais, que facilitarão
a identificação dos helmintos estudados:
1) https://www.youtube.com/watch?v=aImhISHs7nw.
2) http://atlasdeparasitologia.blogspot.com/p/helminto.html.

7 TOXOCARA SP.

A doença ocasionada pela migração de larvas de nematódeos de parasitas,


que são comuns a animais e ocasionalmente infectam o homem, são denomina-
das de toxocaríase, larva migrans visceral (LMV) ou larva migrans ocular (LMO).
A espécie mais importante envolvida nas síndromes de larva migrans visceral e
ocular, é o Toxocara canis, parasito do intestino delgado de cães e gatos. A síndro-
me geralmente está relacionada à presença de animais nos locais onde o homem
pode infectar-se, como parques e praças públicas, que são ambientes utilizados
por todos, sem controle higiênico sanitário (NEVES, 2016).

Larva migrans visceral é problema de âmbito mundial. A raridade dos


casos registrados deve-se sobretudo à dificuldade de diagnosticá-la e a
sua confusão com outras doenças. As técnicas imunológicas mostraram
que 2 a 3% das pessoas adultas e sadias, examinadas na Grã-Bretanha
e em muitos outros países, reagem positivamente, indicando infecção
atual ou no passado. As fontes de infecção, representadas por cães e
gatos, encontram-se por toda parte, já que a convivência com esses ani-
mais faz parte dos hábitos anti-higiênicos do homem (REY, 2018, p. 641).

Os cães são considerados a principal fonte de infecção, pela alta frequên-


cia de transmissão transplacentária. Esse tipo de parasitose é considerado como
uma zoonose, ou seja, essa espécie é característica de infecções em animais, e,
ocasionalmente, ele pode contaminar os homens. Portanto, o cão é considerado
o hospedeiro definitivo e o homem hospedeiro intermediário dessa parasitose.
Por isso, ela é popularmente conhecida como “lombriga do cão” (NEVES, 2016).

7.1 MORFOLOGIA

Ambos os gêneros de verme adulto se parecem muito, o que os diferen-


cia é o tamanho e a extremidade posterior. Quanto às espécies de Toxocara sp., é
através da observação do verme adulto que conseguimos fazer a diferenciação,

45
visto que, o ovo é igual para ambas as espécies de Toxocara sp., por isso relatamos
sempre como ovos de Toxocara sp.

• Verme adulto Macho: mede de quatro a dez cm e possui extremidade poste-


rior curvada ventralmente.
• Verme adulto Fêmea: mede de seis a 18 cm, com cauda retilínea, boca provida
de três lábios e duas expansões cuticulares na região anterior denominada asa
cefálica, que tem como função locomoção do parasita.
• Ovo: mede 60 µm, são arredondados ou ovalados (Figura 18), com a presença
visível de três membranas (vitelínica, intermediária e quitinosa), que possuem
as mesmas funções já vistas anteriormente em outros parasitas, ausência de
membrana maminolada (a membrana desse parasita difere do Ascaris devido
à membrana externa ser lisa, não apresentando protuberâncias). Possui colo-
ração castanha devido aos pigmentos biliares (FERREIRA, 2017).

FIGURA 18 – OVO DE TOXOCARA SP.

FONTE: Ferreira (2017, p. 132)

7.2 TRANSMISSÃO

A transmissão acontece de forma diferente no hospedeiro definitivo que é o


cão e no hospedeiro intermediário que é o homem. No cão a transmissão ocorre através
da ingestão de ovos, ingestão de pequenos roedores infectados com larvas do parasito
ou através da transmissão placentária e/ou durante a amamentação do filhote. Já no
homem, a transmissão ocorre de forma acidental devido à ingestão de ovos presentes
no solo ou alimentos contaminados com fezes de cães contaminados (NEVES, 2011).

7.3 CICLO BIOLOGICO

O helminto Toxocara sp. apresenta um ciclo evolutivo, do tipo heteroxênico,


e está disposto na Figura 19. O ciclo segue os seguintes passos:

46
1. O Ciclo biológico no hospedeiro definitivo, que é o cão, ocorre quando faz a
ingestão do ovo contendo a larva L3 através do solo, alimento ou pela inges-
tão de roedores contaminados.
2. As larvas eclodem e penetram na parede intestinal, perfurando a mucosa e
caindo na circulação, alcançam o fígado, o coração e o pulmão, migrando para
os alvéolos, brônquios, traqueia, sendo deglutidas.
3. Chegando ao intestino, crescem e alcançam a maturidade sexual em torno de
quatro semanas. Uma vez infectada a cadela pode albergar larvas suficientes
para infectar o feto de várias gerações. As fêmeas podem eliminar milhares
de ovos por dia nas fezes do hospedeiro normais. No solo, em condições fa-
voráveis de umidade e temperatura, o ovo se desenvolve e a larva alcança o
estágio infectante dentro do ovo (NEVES, 2016).

Já o Ciclo biológico no hospedeiro intermediário, o homem, torna-se


infectado através da:

1. Ingestão de ovos de Toxocara canis, em água e alimentos contaminados com


fezes de cães e gatos contaminados (Figura 19).
2. Após a ingestão do ovo, contendo a larva L3 ocorre a eclosão da larva no in-
testino delgado, que tem a capacidade de perfurar a mucosa intestinal, alcan-
çando a circulação sanguínea, distribuindo-se por todo o organismo.
3. Atravessam os capilares sanguíneos, tecidos como fígado, rim, pulmão, co-
ração, medula óssea, músculo estriado e olhos. Nos hospedeiros anormais,
como é o caso do homem, não sofrem mudanças, nem crescem, mas vivem
durante semanas ou meses na fase L3.
4. Nesses órgãos, fazem migração sendo que a maioria é destruída, formando uma
lesão típica, denominada granuloma alérgico, no qual, o parasita morto encontra-
-se cercado por infiltrados ricos em eosinófilos e monócitos. A maioria dos casos
relacionados à larva migrans visceral e ocular, é referente a crianças com idade
média de dois anos, e a de larva migrans ocular a crianças mais velhas e adultos,
com história de geofagia e/ou exposição a fezes de cães e gatos (REY, 2010).

47
FIGURA 19 – CICLO BIOLÓGICO TOXOCARA SP.

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3n6yfpn>. Acesso em: 13 jul. 2020.

7.4 SINTOMATOLOGIA

As manifestações clínicas da larva migrans visceral são causadas pela migração


das larvas que podem ser assintomáticas, subagudas ou agudas, tudo dependerá da
quantidade de larvas presentes no organismo, do órgão invadido e da resposta imu-
nológica do paciente. O quadro é caracterizado por leucocitose, hipereosinofilia, hepa-
tomegalia e linfadenite. Em alguns casos, podem-se observar infiltrados pulmonares
acompanhados de tosse, dispneia, anorexia e desconforto abdominal. Podendo apre-
sentar manifestações neurológicas, incluindo meningite e encefalite (NEVES, 2016).

Alguns autores acreditam que a forma da larva migrans ocular ocorre quando há
a ingestão reduzida do número de ovos. A maioria das infecções é unilateral, e são vários
os aspectos clínicos que podem assumir, sendo que endoftalmina crônica é a forma mais
comum, determinando a perda da visão em casos graves. Pode ocorrer também, granu-
loma periférico do olho, hemorragia retiniana, catarata e lesões orbitárias (NEVES, 2016).

7.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

As medidas de evitar essa parasitose envolvem principalmente os cuidados


com a saúde do animal, por se tratar de uma zoonose, deve ser evitado o contato dire-
to com animais que não possuem uma boa higiene, portanto animais de canis devem
ficar em pisos de concreto higienizados regularmente, cadelas podem transmitir a
doença para os filhotes devendo fazer uso de medicação anti-helmíntica. Sempre que
possível, realizar exame de fezes periódicos em cães e gatos e tratamento profilático
anti-helmíntico de grande espectro. Evitando também o acesso desses animais a lo-
cais públicos que são frequentados pelos humanos (NEVES, 2011).
48
O diagnóstico pode ser realizado através do exame parasitológico de
fezes, objetivando-se o encontro dos ovos do parasita, através das técnicas de
sedimentação, como Hoffmann e Ritchie. Outra forma de diagnóstico, porém
mais complexa, invasiva e de alto custo é a demonstração das larvas nos tecidos,
através de biópsias, diretamente do órgão afetado. Em alguns casos já temos a
presença de exames imunológicos (através do método ELISA) que pesquisa a pre-
sença do anticorpo no soro do paciente, sendo um método de alta sensibilidade e
especificidade, que vem sendo muito difundido na área diagnóstica.

49
LEITURA COMPLEMENTAR

CONTAMINAÇÃO DAS AREIAS DE PRAIAS DO BRASIL POR AGENTES


PATOLÓGICOS

Carlos Lopes dos Santos


Eliana Marta Quiñones
Laís Henrique Cicero
Patricia Cunico

1 INTRODUÇÃO

O Brasil, possui um litoral onde se encontram grandes cidades e com


grande fluxo de atividades humanas. No verão, o litoral brasileiro recebe muitos
turistas, com isso, há um aumento na população, logo as redes sanitárias ficam
sobrecarregadas, podendo assim haver contaminação de corpos hídricos, bem
como das areias, pelos agentes patológicos (PINTO, 2010).

A contaminação das areias em áreas de lazer constitui assim um problema


de saúde pública, devido ao elevado número de pessoas que podem contrair alguma
doença ou infecção causada pelos agentes patológicos (SOUZA; SANTOS, 2010).

Desde 2003 a Organização Mundial da Saúde preocupa-se tanto com as


águas das praias quanto com as areias, pois elas podem ser reservatórias de mi-
crorganismos como: vírus, parasitas (helmintos e protozoários), bactérias, que
podem ser patogênicos (CETESB, 2009).

Dois estudos já foram feitos pela Companhia de Tecnologia de Saneamen-


to Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) no que diz respeito à qualidade
das areias, todos com indicadores de poluição fecal e presença de ovos e larvas
de helmintos em areias das praias paulista (CETESB, 2009). O primeiro estudo foi
realizado de junho de 1984 a dezembro de 1985, em praias paulista e indicou altos
níveis de contaminação fecal (CETESB, 2009).

O segundo estudo foi realizado quase 12 anos após o primeiro, na prima-


vera de 1997 e no verão de 1998, foram utilizadas amostras de areia seca e úmida
de 16 praias do litoral paulista, sendo que cinco amostras eram do Litoral Norte
Paulista. Nessa pesquisa, foram encontradas altas concentrações de coliformes
termotolerantes e Streptococcus spp, assim como cistos e ovos de parasitas nas
amostras de areia seca durante o verão (CETESB, 2009). Outro estudo epidemio-
lógico foi realizado em 1999 pela CETESB, em cinco praias da Baixada Santista
e indicaram que, somente o contato das areias com as águas contaminadas já
constitui fator de risco para aparecer sintomas de gastrenterites (CETESB, 2009).

50
Várias pesquisas já foram realizadas e, com isso, foram propostos alguns cri-
térios de qualidade microbiológica para os indicadores de contaminação fecal. Como
no Rio de Janeiro, a prefeitura, por meio de uma Resolução da Secretaria do Meio Am-
biente (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2000), estabeleceu limites máximos de
classificação das areias de contato de recreação, foi recomendado não ter contato com
areias que tiveram níveis de contaminação superior a 400 coliformes termotolerantes
por 100 gramas. Esse valor foi estipulado devido aos resultados de análises feitas na
areia de uma praia considerada limpa e sem influência de urbanização (CETESB, 2009).

Os agentes patológicos mais encontrados foram bactérias e parasitas in-


testinais. As bactérias encontradas são mostradas na Quadro 1 e os parasitas são
encontrados na Quadro 2 consecutivamente.

As parasitoses humanas são decorrentes de más condições de saneamento


básico e o estado nutricional de cada indivíduo. Inúmeros trabalhos estão sendo
realizados e tem sido evidenciado alto grau de contaminação de humanos das
mais variadas faixas etárias (SOUZA; SANTOS, 2010). O presente trabalho foi
realizado com o objetivo de realizar uma pesquisa, bem como um levantamento
dos agentes patológicos que contaminam as areias das praias do litoral e relacio-
nar quais as praias mais contaminadas de cada região do Brasil.

QUADRO 1 – BACTÉRIAS QUE ENCONTRAMOS EM AREIAS

São microrganismos do trato intestinal, o que


Coliformes termotolerantes determina que a contaminação das areias por ele
venha de origem fecal (Alvez, 2010).
Está presente no trato intestinal e assim como o
Escherichia coli Coliformes termotolerantes, determina a contaminação
das areias por fezes (Murray, 2006).
São encontrados o trato intestinal de humanos e
Enterococcus spp animais (Murray, 2006).

QUADRO 2 – PARASITAS PATOLÓGICOS ENCONTRADO NAS AREIAS

Parasita cachorros e felinos, e pode afetar seres


Ovo e larva de Ancylostoma spp humanos e provocar a "larva migrans" cutâne-
as (LMC) (Souza & Santos, 2010).
Larvas infectantes (L3) penetram na pele e as
Larva de Strongyloides stercoralis fêmeas se alojam na parede do instestino hu-
mano (Neves et al., 2005).
Conhecido como "oxiúros", possui uma distri-
Ovo de Enterobius vermiculares buição geográfica mundial, com maior incidên-
cia em climas temperados (Neves et al., 2005).
Pode ser encontrado em vários países do mun-
Ovo de Ascaris lumbricoides do, o parasita habita o intestino delgado dos
humanos (Neves, et al., 2005).

51
Prevalente em regiões úmidas e quentes; colonizam
Ovo de Trichuris trichiura
no homem o intestino grosso (Neves, et al., 2005).
Encontrados no trato digestivo dos felinos, que
são seus únicos hospedeiros. Uma gestante
Ovo de Toxoplasma gondii
pode perder o feto ou ter um bebê com proble-
mas de saúde (Souza & Santos, 2010).

2 METODOLOGIA

Este trabalho foi baseado em estudos já realizados em praias de algumas


regiões do país. Foram avaliadas amostras de praias de Pernambuco (Porto de
Galinhas, Muro Alto e Maracaípe), Litoral Paulista (Santos, São Vicente, Guarujá,
Praia Grande, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião, Ilhabela) e, ainda, amos-
tras de areias de praias de rio como em Tocantins (Praia dos Arnos, Praia da
Graciosa, Praia do Caju, Praia do Prata e Praia dos Buritis) e em Guaíba (Praia da
Alegria, Praia Caizinho e Praia Flórida) no sul do Brasil.

Utilizaram-se técnicas parasitárias e microbiológicas para se obter os resultados


das amostras coletadas. As parasitárias foram: Hoffman, Faust e Rugai e de microbiolo-
gia foi a Técnica de Tubos Múltiplos. Nas praias no litoral paulista foram analisadas no
período do verão e no inverno, 100 gramas de areias tanto úmida quanto seca e foram
analisadas pela Técnica de Tubos Múltiplos, que consiste na inoculação de volumes
decrescentes da amostra em meio de cultura apropriado para seu crescimento. Consi-
dera-se positivo o teste quando há formação de gás no tubo (PINTO, 2010).

As praias de Pernambuco, Guaíba e de Tocantins foram avaliadas pelos


métodos de Hoffman, Faust e Rugai. Foram coletadas 100 gramas, 1000 gramas e
200 gramas de amostras respectivamente.

O método de Hoffman consiste em sedimentação espontânea, as amostras


são diluídas em água e são transferidas para um cálice através de uma gaze, do-
bradas em quatro partes na boca do cálice e ficam em repouso por 24 horas, pas-
sadas essas horas, foram feitas lâminas a partir do sedimento (SANTOS, 2010).

O teste de Faust consiste na centrífugo-flutuação, as amostras são diluídas em


água, centrifugadas a 2.500 rpm por um minuto, o sobrenadante é retirado com o au-
xílio de uma pipeta e descartado e ressuspende-se o sedimento com água destilada.
Os procedimentos de centrifugar, desprezar e ressuspender devem ser feitos duas
vezes. Na última vez, deve-se descartar o sobrenadante e ressuspender o sedimento
com sulfato de zinco (ZnSO₄) e fazer lâmina desse sedimento (SANTOS, 2010).

O método de Rugai consiste em termo hidrotropismo, técnica em que é


usada água quente. Em um cálice de vidro colocar a água quente e em sua boca
uma gaze dobrada e sobre ela coloca-se a amostra, durante uma hora. Em segui-

52
da, uma alíquota do sedimento é retirada com uma pipeta obliterada e o sedi-
mento colocado em lâmina para observação óptica (SANTOS, 2010).

Todas as amostras foram avaliadas através de microscopia óptica em au-


mento de 100 e 400x, para assim avaliar as formas parasitárias (SILVA, 2001).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das amostras do litoral paulista (Figura 1) apresentaram


maiores índices fecais na areia seca que na areia úmida e a bactéria em maior
evidência foi coliforme termotolerantes, em segundo vem Enterococcus sp e Es-
cherichia coli (Tabela 1). As praias com maior contaminação em areia foram: Sino
em Ilhabela-SP, Pitangueiras no Guarujá-SP e Tenório em Ubatuba-SP, todas na
época de veraneio, quando há um aumento de pessoas nas praias (PINTO, 2010).

Nas praias de Pernambuco (Figura 2), as amostras de areia seca que foram
analisadas apresentaram alto índice de larvas de Ancyslostoma sp, ovo de Trichuris
trichiura e ovo de Ascaris lumbricoides. E a praia mais contaminada foi Porto de
Galinhas, seguida da praia Muro Alto (SOUZA, 2009).

Os parasitas em maior evidência nas praias de rio de Tocantins foram ovo


de Ancylostoma sp, larva de Strongyloides stercoralis e ovo de Toxoplasma gondii (Ta-
bela 4). A Praia da Graciosa foi a praia mais contaminada e a menos contaminada
foi a Praia do Prata consecutivamente (Figura 3).

As formas parasitárias mais encontradas nas amostras das praias de rio de Gua-
íbe foram ovo de Ascaris lumbricóides, ovo de Taenia sp e ovo de Ancylostoma sp (Tabela
2). A praia com maior índice de contaminação encontrada foi a Praia Florida, já a menos
contaminada foi a Praia Alegria consecutivamente (Figura 4) (SILVA, 2010). Os patógenos
mais comumente encontrados nas praias do rio Guaíbe são mostradas na Tabela 6.

53
FIGURA 1 – RESULTADOS DAS AMOSTRAS DO LITORAL PAULISTA

TABELA 1 – BACTÉRIAS EM MAIOR EVIDÊNCIA ENCONTRADAS NAS AMOSTRAS

FIGURA 2 – AMOSTRAS DA PRAIA DE PERNAMBUCO

54
FIGURA 3 – RESULTADO DAS PRAIAS DO RIO TOCANTINS COM MAIOR E MENOR CONTAMINAÇÃO

TABELA 2 – PARASITAS ENCONTRADOS EM MAIOR EVIDÊNCIA NAS PRAIAS DO RIO TOCANTINS

TABELA 3 – PARASITAS ENCONTRADOS EM MAIOR EVIDÊNCIA NAS PRAIAS DO RIO GUAÍBE

FIGURA 4 – RESULTADO DAS PRAIAS DO RIO DE GUAÍBE COM MAIOR E MENOR CONTAMINAÇÃO

55
TABELA 4 – PATÓGENOS ENCONTRADOS EM MAIOR EVIDÊNCIA NAS PRAIAS DO RIO GUAÍBE

FONTE: CICERO, L. H. et al. Contaminação das areias de praias do Brasil por agentes patológi-
cos. Revista Ceciliana, Santa Cecília, v. 4, n. 2, p. 44-49, dez. 2012. Disponível em: https://bit.
ly/33q9ah2. Acesso em: 13 jul. 2020.

56
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os nematódeos são vermes cilíndricos e alongados com tamanho variável, de


centímetros até metros. Eles possuem simetria bilateral, com uma cutícula en-
volvendo o corpo, com três folhetos germinativos. Apresentam cavidade oral,
tubo digestório completo, contendo anus e cloaca, e são dioicos.

• O Ascaris lumbricoides é o nematódeo de alta prevalência, estando relacionado


ao consumo de água e alimentos contaminados, ocasionando com principal
sintoma, além dos sintomas gástricos, a oclusão intestinal.

• A qualidade precária de higiene, principalmente em crianças, está relacionada


com a grande incidência de um tipo de parasitose comum nessa idade que causa
prurido anal intenso, tratando-se do acometimento por Enterobius vermicularis.

• O prolapso retal é a sintomatologia característica do parasita Trichuris trichiura,


que pode ser adquirido através da ingestão de água e alimentos contaminados.

• Andar descalço pode ser uma grande porta de entrada para o parasita do
gênero Strongyloides stercoralis que tem como forma de contaminação a pene-
tração da larva ativa sobre a pele humana, que pode seguir o ciclo partenoge-
nético ou direto ou realizar o ciclo indireto, sexuado ou de vida livre.

• A síndrome de Loeffler ou Loss tem sintomas característicos de pneumonia,


por isso leva o nome popular de “falsa pneumonia”, dos parasitas estudados
nesse tópico, os que fazem ciclo pulmonar são: Ascaris lumbricoides, Strongyloi-
des stercoralis e Ancylostoma sp.

• A doença do “Jeca Tatu” ou opilação é ocasionada pelo parasita do gênero


Ancylostoma duodenalis e Necatur americanus, e leva esse nome devido à dilace-
ração da mucosa ocasionada durante a fixação do verme adulto no intestino
do hospedeiro que é hematofágico (consome grande quantidade de sangue).

• Os gêneros de Ancylostoma brasiliensis e canium causam a larva migrans cutâ-


nea, adquirida principalmente em praias, conhecida popularmente como “bi-
cho geográfico” devido às formas de erupção cutânea que ele causa.

• A toxocaríase trata-se de uma zoonose, ou seja, é um tipo de parasitose de-


finitiva de cães e gatos e que pode, ocasionalmente, acometer os humanos,
durante o contato com as fezes de animais contaminados, podendo ocasionar
a Larva migrans visceral.

57
AUTOATIVIDADE

1 Helmintoses são parasitoses causadas por organismos pertencentes a dois


grupos de animais: os platelmintos (vermes achatados com tubo digestivo au-
sente ou rudimentar) e os nematelmintos (que são vermes cilíndricos com tubo
digestivo presente). Grande parte dos helmintos é de vida livre, enquanto
alguns são parasitas. Helmintoses são doenças que afetam o equilíbrio nutri-
cional do hospedeiro, comprometendo a absorção de nutrientes, podendo
induzir sangramento intestinal, obstrução intestinal e outros sintomas asso-
ciados ao trato digestório. Por afetarem o equilíbrio nutricional do hospe-
deiro, interferem no desenvolvimento infantil, podendo estar associadas ao
baixo rendimento escolar em crianças e adolescentes, e baixa produtividade
em adultos, gerando dentre outros sintomas, cansaço e desânimo. Para se
fazer uma prevenção de doenças parasitárias, precisamos conhecer o ciclo
dos parasitas humanos. Sobre o ciclo e prevenção dos parasitas humanos,
clas­sifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A síndrome de Loeffler é caracterizada por sintomas semelhantes à


pneumonia, exemplo de parasitas que ocasionam essa chamada de “fal-
sa pneumonia” são: Ancylostoma sp. e Ascaris lumbricoides.
( ) O verme adulto causador da doença tricuríase ou tricúris possui uma
morfologia que lembra um “chicote”, devido à porção anterior do para-
sita ser mais fina e a porção posterior ser mais grossa.
( ) A toxocaríase é transmitida acidentalmente ao homem através da ingestão aci-
dental de ovos no solo ou alimentos contaminados com fezes de cães. O ovo
possui formato elíptico, com dois poros salientes mucoides e transparentes
nas extremidades preenchido por material lipídico (Opérculos Polares).
( ) Prolapso retal é o sintoma mais comum da Enterobiose.
( ) A larva rabditoide de Strongyloides stercoralis é a fase infectante ao ho-
mem e a larva filarioide é a fase diagnóstica.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F – F – F.
b) ( ) V – F – F – F – V.
c) ( ) F – V – F – F – F.
d) ( ) V – V – F –F – V.
e) ( ) F – F – V – V – F.

2 G. D. K, sexo masculino, 4 anos, blumenauense, procedente do bairro da Velha,


Blumenau, Santa Catarina. Foi admitida na UTI em 15/5/2019, permaneceu neste
setor por um dia. Na anamnese há apenas referência sobre quadro de febre, há
cinco dias, tosse e dispneia. O médico do Posto de Atendimento que atendeu a
criança, encaminho-a para o hospital. Ao exame físico, a paciente encontrava-se
hipocorada e sons respiratórios apresentando roncos e sibilos. Ao exame de ad-
missão, a criança encontrava-se consciente, acianótica, anictérica, afebril, hidra-
58
tada, porém hipocorada, a avaliação de orofaringe foi prejudicada, a ausculta
cardíaca estava sem alterações e ausculta pulmonar apresentava roncos e sibilos.
Foi solicitado exames (hemograma, parcial de urina, urocultura, parasitológico
de fezes, Anti-HIV, VDRL, BAAR no lavado gástrico e raio X do tórax). No dia
seguinte, a criança foi transferida para a enfermaria, a mãe relatou que há 7 dias
da internação, a criança iniciou um quadro de febre, que durou por quatro dias,
tosse com expectoração hialina (aspecto de clara de ovo) e diarreia. A criança
apresentou queda do estado geral e recusa alimentar. No momento da admissão
na enfermaria, a mãe negava febre, vômitos ou diarreia. Relatando apenas tosse
e possível oclusão intestinal (oito dias sem evacuar). De antecedentes pessoais,
a criança apresentava uma internação anterior, com mais ou menos um ano de
idade, ocasionada por uma “falsa pneumonia” devido “infestação por parasi-
tas”. A criança faz consumo de água não filtrada ou fervida. A mãe não sabe
informar sobre os outros filhos (alguns estão em abrigos), ainda não sabe sobre o
pai da menor. É doméstica e tem renda familiar de aproximadamente R$700,00.
Mediante o caso, responda:

a) Qual o resultado esperado do parasitológico de fezes? (Se positivo, qual o


parasita encontrado?)

b) Faça a correlação dos sintomas com as características (ciclo e sintomas) do


parasita.

c) Quais são os métodos de prevenção?

d) Quais as condições do hospedeiro que favoreceram a esta parasitose?

3 Os parasitas são seres vivos que retiram de outros organismos os recursos ne-
cessários para a sua sobrevivência. Eles são considerados agressores, pois pre-
judicam o organismo hospedeiro através do parasitismo. O parasita pode viver
muitos anos em seu hospedeiro sem lhe causar grandes malefícios, ou seja, sem
prejudicar suas funções vitais. Entretanto, alguns deles podem até levar o orga-
nismo à morte, neste caso, porém, o parasita sucumbirá com seu hospedeiro,
uma vez que, era através dele que se beneficiava unilateralmente. Dentre as di-
ferentes espécies de parasitas, existem os parasitas facultativos, que são assim
chamados por não necessitarem unicamente de um hospedeiro para sobrevi-
ver. Esta espécie é capaz de sobreviver tanto dentro (na forma parasita) quanto
fora (vida livre) de outro organismo vivo. É o caso das larvas de moscas que po-
dem desenvolver-se tanto em feridas necrosadas (como parasitas) ou em matéria
orgânica em estado de decomposição (como larvas de vida livre). O parasita é
capaz de se reproduzir disseminando seus ovos, e estes, costumam infectar ou-
tros hospedeiros, dos quais retirarão seus meios de sobrevivência através do pa-
rasitismo. A figura a seguir mostra a contaminação do homem por um parasita.

59
CONTAMINAÇÃO DO HOMEM POR UM PARASITA

FONTE: <https://bit.ly/30JXhkH>. Acesso em: 14 out. 2020.

Quanto à doença causada por esse parasita, assinale a alternativa CORRETA: 

a) ( ) Ascaridíase, através da ingestão de água e alimentos contaminados. 


b) ( ) Ancilostomose, pela penetração ativa da larva sobre a pele.
c) ( ) Leishmaniose, através da picada do mosquito palha.
d) ( ) Toxoplasmose, por ser uma doença que é transmitida sexualmente.
e) ( ) Esquistossomose, se dá pelo contato com fezes de cães e gatos
contaminados. 

60
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR


HELMINTOS – FILO PLATYHELMINTHES

1 INTRODUÇÃO

Os Platyhelminthes (do grego Platy = chato) são conhecidos como vermes


achatados, diferentes dos nematoides que são cilíndricos. Esses organismos são
acelomados, caracterizam-se por apresentarem simetria bilateral, uma extremi-
dade anterior com órgãos sensitivos e de fixação e uma extremidade posterior.
Pela ausência do endoesqueleto eles são achatados dorsoventralmente, com ou
sem tubo digestório, sem anus e sem aparelho respiratório. Podem ser de vida
livre, ectoparasitas ou endoparasitas. Atualmente, o filo Platyhelminthes é divido
em três classes: turbelária, trematoda e cestoda (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

Os Platyheliminthes são agrupados em quatro classes: Turbellaria, Trematoda,


Monogenea e Cestoda. Os parasitas da classe Trematoda já foram descritos em mais
de 150 espécies infectando seres humanos em todo mundo. Cerca de 15 espécies
utilizam humanos como um dos principais hospedeiros naturais. Já os parasitas
da classe Cestoda são formados por mais de 50 espécies relatadas, infectando seres
humanos, por isso, nesse tópico estudaremos os parasitas da classe Trematoda e
Cestoda que são os que mais acometem os seres humanos (NEVES, 2016).

2 SCHISTOSSOMA MANSONI

A introdução do S. mansoni no Brasil foi em decorrência da introdução de


escravos africanos que traziam consigo o parasita, ocasionado a doença: xistose,
conhecida também como barriga d´água, mal do caramujo, dermatite do nadador
ou esquistossomose. Foi descrito em 1852 por Bilharz, e hoje existem muitas es-
pécies conhecidas, como: S. haematobium, S. japonicum, S. mekongi, S. intercalatum,
S. mansonipresentes em diversos países como África, Caribe, países asiáticos e no
pacífico e na América Latina, mas apenas o S. mansoni se fixou no Brasil devido
ao encontro de bons hospedeiros intermediários e de condições ambientais seme-
lhantes às da região de origem (NEVES, 2016).

Para o desenvolvimento da esquistossomose, o parasita precisa de locais


com água doce, e existe no Brasil, uma notável variedade de habitats aquáticos,
que funcionam como criadouros de moluscos, as altas temperaturas e luminosi-
dade intensa estimulam a multiplicação de microalgas, que são os alimentos dos
moluscos, considerado como principal transmissor da doença, que tem como ha-
bitat locais de água doce (lagoas, açudes, rios). Existe ainda uma prática genera-

61
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

lizada de se construir esgotos domésticos que desembocam diretamente nos cria-


douros, o que favorece sobremaneira a infecção dos caramujos (NEVES, 2011).

O clima tropical exerce irresistível atração nas faixas etárias mais jovens, para
práticas recreativas em águas naturais. Assim, fica difícil coibir o contato com cole-
ções aquáticas naturais em épocas de forte calor. As atividades profissionais, muitas
vezes, obrigam o trabalhador a ter contato prolongado com águas contaminadas (la-
vadeiras, horticulturas, rizicultores) e isso favorece a contaminação da população.

A urbanização da esquistossomose no Brasil é um fato que vem


acontecendo com a população brasileira. De fato, em 1940, a po-
pulação urbana era de 20% e a rural, de 80%. Atualmente, as per-
centagens inverteram-se, 20% para a rural e 80% para a urbana.
Não devemos esquecer as condições sanitária e socioeconômi-
cas na periferia das grandes cidades, semelhantes (ou as vezes
piores) às encontradas no meio rural, favorecendo a urbanização
dessa parasitose (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005, p. 219).

2.1 MORFOLOGIA

A morfologia o S. manson,i é estudado com base nas várias fases que po-
dem ser encontradas em seu ciclo evolutivo: adulto (macho e fêmea), ovo, mirací-
deo, esporocisto e cercária.

• Verme adulto macho: o corpo do verme é em forma de fenda, “fendido” (schis-


to: fenda; soma: corpo). Mede cerca de 1 cm, coloração esbranquiçado, tegumen-
to recoberto de projeções (tubérculos). Na extremidade anterior, possui ventosa
oral e ventral (acetábulo) e esôfago. Já na extremidade posterior, possui o canal
ginecóforo que são dobras das laterais do corpo no sentido longitudinal para
albergar a fêmea durante a fecundação. O verme não apresenta órgão copula-
dor, assim, os espermatozoides passam pelos canais deferentes que se abrem
no poro genital, dentro do canal ginecóforo e alcançam a fêmea fecundando-a.
• Verme adulto fêmea: mede cerca de 1,5 cm, cor escura devido a sua locali-
zação no ceco com sangue semidigerido, fica localizada nas veias do sistema
porta-hepático, consumindo sangue, que lhe fornece essa coloração. Tegu-
mento liso, com extremidade anterior contendo, ventosa oral e ventral, acetá-
bulo, vulva, útero e ovário e glândulas vitelogênicas. Colocam aproximada-
mente 300 ovos por dia nas veias da submucosa intestinal.
• Ovo: tem formato oval, membrana simples, na parte mais larga apresenta
um espículo voltado para trás, que tem como função fixação e locomoção em
meio aquático. No seu interior não possui presença de célula germinativa,
mas a presença de um miracídeo que é formado quando o ovo está maduro.
• Miracídeo: é cilíndrico, apresenta células epidérmicas onde ficam os cílios,
os quais permitem o movimento no meio aquático, esse miracídeo precisa se
movimentar para encontrar o molusco que é o seu hospedeiro intermediário.

62
TÓPICO 3 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS – FILO PLATYHELMINTHES

Dentro dele está presente as células germinativas, de 50 a 100, que darão conti-
nuidade ao ciclo do parasita. Uma das características desse parasita é o fototro-
pismo, ou seja, o miracídeo nada para a luminosidade ao encontro do molusco.
• Cercária: possui uma morfologia muito simples, porém com material necessário
para o desenvolvimento dos parasitas, contém cauda bifurcada, corpo cercaria-
no, onde ficam localizados as células germinativas que darão origem a um novo
verme adulto. Duas ventosas: oral e ventral, glândulas de penetração, quatro pa-
res pré-acetabulares e quatro pares pós-acetabulares, musculatura desenvolvida,
fixando-se na parede do hospedeiro no processo de penetração, abertura que se
conecta ao chamado intestino primitivo e a cauda que se perderá rapidamente na
penetração no homem, servindo apenas para movimentação até o encontro do
hospedeiro definitivo que é o homem (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

Na Figura 20, apresentada por Ferreira (2017, p. 141) nós conseguimos


observar as diferentes formas de evolução apresentadas por esse parasita. É pos-
sível observar o verme adulto macho e fêmea juntos, a fêmea encontra-se dentro
do canal ginecóforo do macho (macho é a parte externa, “mais grossa”, e a fêmea
a parte interna, “mais fina”). Também pode ser observado o ovo do Schistossoma,
com a presença da espícula, o miracídeo com o corpo recoberto de cílios, e a cer-
cária que nadará na água até encontrar o hospedeiro definitivo que é o homem,
sendo a última forma da evolução do parasita. E o caramujo que também faz
parte do ciclo, é o hospedeiro intermediário da esquistossomose.

• Caramujo: são os hospedeiros intermediários dessa parasitose, são moluscos


de água doce do gênero: Biomphalaria que existem no Brasil. Existem outros
moluscos também capazes de transmitir a esquistossomose, porém, no Brasil,
o único molusco que transmite a doença é do gênero Biomphalaria.

FIGURA 20 – FORMAS EVOLUTIVAS E HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO DO SCHISTOSSOMA


MANSONI

FONTE: Ferreira (2017, p. 141)

63
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

2.2 TRANSMISSÃO

A transmissão acontece com maior frequência em valas de irrigação de


hortas, açudes, córregos, geralmente nos pés e pernas por serem as áreas do cor-
po que permanecem em maior contato com a água. O homem está tomando seu
banho de rio, por exemplo, e ocorre a penetração ativa das cercárias na pele e mu-
cosa, essa contaminação ativa ocorre com maior frequência entre as 10 e 16 horas
devido à luz e calor intensos, que são propícios para o aparecimento do parasita,
devido ao seu hábito de fototropismo (NEVES, 2011).

2.3 CICLO BIOLÓGICO

O ciclo tem início quando o homem contaminado elimina ovos através


das fezes (Figura 21), geralmente diarreicas.

1. Alcançam a água doce por hipotonicidade (temperatura mais altas, luz inten-
sa e oxigenação da água) e liberam o miracídeo, que está dentro do ovo.
2. Esse miracídeo nada até encontrar o molusco presente nessa água doce.
3. O miracídeo penetra no caramujo do gênero Biomphalaria, dentro do caramujo,
nas antenas e nos pés (devido a intensos movimentos do miracídeo e da ação
enzimática constituí o elemento que permite a introdução no tecido do molusco).
4. Dentro do molusco, esse miracídeo se diferencia em esporozoíto, que sofre
diversas mudas até chegar na morfologia de uma cercária (demora cerca de
27 a 30 dias para se formar em uma temperatura de 28 °C).
5. A cercária abandona o molusco e nada na água doce até encontrar um hospe-
deiro definitivo.
6. Em até duas a três horas penetra no homem (fixam-se com o auxílio das ventosas
e da ação lítica através de glândulas de penetração e ação mecânica pelos movi-
mentos intensos, promovem a penetração que demora em torno de dez minutos).
7. A cercária pode ficar de 36 a 48 horas na água, podem penetrar em vários ma-
míferos, mas só se desenvolvem no hospedeiro adequado, que é o homem. Ao
penetrar no homem, perde a cauda e se diferencia em esquitossômulos.
8. Eles alcançam a corrente sanguínea, vão para o coração, pulmão e fígado. Em 35
a 40 dias se alimentam e se desenvolvem transformando-se em macho e fêmea.
9. Ocorre, então, o acasalamento, a fêmea entra no canal ginecóforo do macho e
ocorre a fecundação, após isso, a fêmea faz a postura dos ovos na submucosa
intestinal, cerca de 400 ovos por dia.
10. Os ovos colocados levam cerca de uma semana para tornarem-se maduros
(miracídeo formado). Desde que o ovo é colocado até que atinja a luz intes-
tinal decorre um período de seis dias necessário para a maturação do ovo, se
decorrer 20 dias e os ovos não conseguirem atingir a luz intestinal ocorrerá
a morte do miracídeo, caso ele consiga, o homem elimina ovos nas fezes que
podem contaminar locais com água doce e com a presença do molusco e o
ciclo se reinicia (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

64
TÓPICO 3 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS – FILO PLATYHELMINTHES

FIGURA 21– CICLO BIOLÓGICO SCHISTOSSOMA MANSONI

FONTE: <https://bit.ly/2SjPvcD>. Acesso em: 13 jul. 2020.

2.4 SINTOMAS

A esquistossomose pode apresentar sintomas em duas fases, na primeira


fase (aguda) da doença, podendo ter pacientes que são assintomáticos e outros
que apenas reclamam de mal-estar, problemas pulmonares, dor abdominal, diar-
reia e alguns fenômenos alérgicos, devido à localização do parasita. Já a segunda
fase (crônica) da doença pode apresentar muitas variações clínicas, mas, predo-
minantemente, alterações intestinais, hepatointestinais ou hepatoesplênicas.

A alteração clássica ocasionada pelo parasita é a ascite, popularmente co-


nhecida como barriga da água, isso ocorre devido a um acúmulo de líquido na
cavidade abdominal, devido à localização do parasita no sistema porta-hepático,
é nesse local que o verme adulto migra para se maturar e retirar nutrientes, como
ele fica obstruindo a passagem sanguínea (e se nutrindo de sangue também), a
circulação fica prejudicada, ocasionado uma má circulação com acúmulo de líqui-
do, devido ao aumento da pressão arterial, conhecido como hipertensão hepática.

Alguns casos de hepatomegalia também podem ser observados devido à forma


de um granuloma, que é uma reação granulomatosa do organismo ocasionada pela pre-
sença do ovo e das células de defesa na tentativa de eliminar o parasita (NEVES, 2016).

Outro sintoma clássico que pode apresentar é a dermatite cercariana, que


ocasiona “sensação de comichão”, erupção urticariforme, eritema, edema, pápu-
las e dor. Os ovos são os elementos fundamentais da patogenia da esquistosso-
mose, quando em grande quantidade na mucosa podem ocasionar hemorragias,
edemas de submucosa, lesões ulcerativas e, em alguns casos, até mesmo necrose
em parede intestinal (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

65
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

2.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

As modificações ambientais produzidas pela atividade humana, favore-


cem a proliferação do caramujo transmissor, com isso, as condições de profilaxia
devem ser voltadas, segundo Neves (2016), primeiramente ao saneamento básico,
se não tivermos mais esgoto sendo liberado sem tratamento nos locais de água
doce (principalmente os rios), não teremos mais o desenvolvimento da parasita,
visto que ela necessita encontrar o caramujo na água doce para dar continuidade
ao ciclo de vida, caso contrário o parasita morre e não é transmitido.

Outro fator muito importante é o combate aos caramujos transmissores,


modificações ambientais favorecem a proliferação de caramujos, deve-se ado-
tar medidas de conscientização na saúde pública para a eliminação de focos de
moluscos, principalmente presentes em águas doces de fácil acesso à população.
Além do tratamento da população contaminada, todas essas medidas apresen-
tam uma boa eficácia no controle da transmissão e da morbidade da doença.

Os métodos diagnósticos utilizados para essa patologia são através da utili-


zação de exame de fezes por sedimentação, centrifugação ou quantificação, quando
a carga parasitária é alta, todos esses métodos são satisfatórios, porém quando carga
parasitária baixa, o exame deve ser repetido. Além da utilização de exames de ultras-
sonografia, podemos indicar a localização do verme adulto no sistema porta-hepá-
tico e a realização de métodos imunológicos que medem a resposta do organismo
ao hospedeiro diante do antígeno do parasito, esses métodos podem ser utilizados
isoladamente ou em associação para um correto diagnóstico (NEVES, 2016).

DICAS

Acompanhe através do site da FIOCRUZ a evolução das fases de estudos para a


liberação da vacina contra a esquistossomose. Disponível em: https://bit.ly/3n8zSmx.

3 FASCÍOLA HEPÁTICA

É uma parasitose de ampla distribuição mundial, principalmente nas áreas


úmidas, alagadiças ou sujeitas a inundações. Teve sua primeira incidência no Brasil,
em 1918, em bovinos e ovinos, no Rio Grande do Sul. Em humanos, o primeiro relato
foi no estado do Mato Grosso, em 1918. Entre os criadores de animais, esse helminto é
popularmente conhecido como “baratinha do fígado”, ocasionando a fasciolíase como
patologia. É uma zoonose na qual a fonte de infecção para o homem são as formas
larvárias, provenientes de caramujos infectados por miracídeos, por ovos expelidos
por ovinos e bovinos. O comércio de bovinos em caminhões, do Sul para o Norte,

66
TÓPICO 3 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS – FILO PLATYHELMINTHES

tem disseminado a doença não somente pelos animais, mas também pelos próprios
caminhões cheios de fezes e lavados próximos de córregos (NEVES, 2016).

Menos de 100 casos humanos foram relatados no Brasil. Entretanto, a pre-


valência da infecção em bovinos tem aumentado, chegando a 70% em
algumas áreas do Sul do país, sugerindo que possa haver subdiagnóstico
de infecções humanas nas mesmas áreas (FERREIRA, 2017, p. 148).

O ecossistema em que a Fascíola hepática se desenvolve é constituído prin-
cipalmente pela interação dos campos de criação de gado, mas também, pode
estar presente nos locais de criação de ovinos, caprinos e suínos, com a presença
de lagos, lagoas, riachos e rios, bem como pântanos e terrenos sedimentares reco-
bertos de gramíneas, com água o ano todo. Criando-se os hospedeiros intermedi-
ários da espécie Lymnaea sp. (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

3.1 MORFOLOGIA

Os vermes adultos são hermafroditas (possuem órgãos reprodutor de am-


bos os sexos), caracterizam-se por seu formato de folha e vivem por dez a 13 anos.
Habitam as porções proximais dos ductos biliares, bem como a vesícula biliar e,
ocasionalmente, alguns sítios ectópicos (FERREIRA, 2017).

• Verme adulto: tem aspecto foliáceo, em formato de folha, mede cerca de 3 cm


de comprimento por 1,5 cm de largura e tem coloração pardo-acinzentada.
Apresenta uma ventosa oral e outra ventosa central. É um parasita hermafro-
dita, possuindo ovário, útero, testículos e órgão copulador. O tegumento é re-
coberto por espinhos disseminados pelo corpo do parasita (FERREIRA, 2017).
• Ovo: mede 150 mm de comprimento e 90 mm de largura, forma elipsoide,
fina membrana com presença de um opérculo, que se trata de uma abertura
na parte superior do ovo por onde o miracídeo, não desenvolvido, que se en-
contra no interior do ovo será eliminado (Figura 22) (REY, 2010).

FIGURA 22 – OVO DE FASCÍOLA HEPÁTICA

FONTE: Cimerman e Cimerman (2005, p. 76)

67
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E HELMINTOS

3.2 TRANSMISSÃO

A transmissão se dá através da ingestão de água ou alimentos contamina-


dos, principalmente alimentos que são produzidos na água, por exemplo, o caso
do agrião, que pode estar contaminado com a forma morfológica de metacercária
do parasita. Os animais se infectam bebendo água e ingerindo alimentos também
contaminados presentes no ambiente (NEVES, 2016).

3.3 CICLO BIOLÓGICO

É do tipo heteroxênico (Figura 23), pois necessita da presença do molusco


do gênero Lymnaea.

• O ciclo tem início através do homem contaminado que elimina ovos nas fezes.
• Esses ovos no ambiente, em condições favoráveis de temperatura (25 a 30 °C),
umidade 100%, dão origem a um miracídeo (que foi formado no interior do
ovo pelas células vitelínicas).
• O miracídeo sai do ovo apenas quando entra em contato com a água estimula-
do pela luz solar, nessas condições o opérculo do ovo se abre e o miracídeo sai.
• O molusco (hospedeiro intermediário) presente na água elimina muco que
atrai o miracídeo, que estará nadando até encontrar o molusco do gênero
Lymnaea, penetrando nele através das suas antenas, o miracídeo penetra no
molusco e dá origem a um esporocisto, que dá origem a várias rédias, que são
as estruturas morfológicas do parasita quando ele está no organismo do seu
hospedeiro intermediário.
• Estas darão origem a cercária, que não possui cauda bifurcada.
• Após sair do caramujo, a cercária nada até a superfície da água, aderindo-se à
vegetação ali presente, perde a cauda, encista-se aderida a vegetação, forman-
do a metacercária (cercária encistada).
• O homem (ou animal) infecta-se ao beber água ou comer verdura, exemplo do
agrião com as metacercárias.
• Após a ingestão, elas desencostam no intestino delgado, perfuram a parede intes-
tinal caindo na cavidade abdominal, migrando para o fígado, realizando a fase
aguda da doença, devido a sua migração no parênquima hepático, por esse mo-
tivo ela é conhecida popularmente como “baratinha do fígado” (NEVES, 2011).

Por isso, acadêmico, fica muito clara a importância da higienização dos


alimentos e da confiabilidade da qualidade da água por nós utilizada, pois aca-
bamos de estudar mais um parasita que tem como forma de transmissão água e
alimentos contaminados, não é meu objetivo como disciplina formar estudantes
“nojentos” para alimentação, mas tenho certeza, após o estudo desse livro, vocês
não serão mais os mesmos e terão cuidado redobrado com a higiene.

68
FIGURA 23 – CICLO BIOLÓGICO FASCÍOLA HEPÁTICA

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/36r4idz> Acesso em: 13 jul. 2020.

3.4 SINTOMAS

A fasciolose é um processo inflamatório crônico do fígado e ductos bilia-


res. É grave nos animais, podendo ocasionar hepatite traumática e hemorragias,
ocasionado até a morte do animal. No homem, as lesões podem ser ocasionadas
pela migração de formas imaturas pelo fígado, à medida que a forma imatura
migra vai deixando um rastro de tecido destruído, que é substituído por tecido
fibroso, a migração também pode ocasionar necrose hepática.

Na infecção aguda ainda podem apresentar dor abdominal, hepatomega-


lia, náuseas, febre intermitente, urticária e mal-estar. Na infecção crônica, a pre-
sença do verme adulto dentro dos ductos biliares pode levar a uma diminuição
do fluxo biliar, provocando: colelitíase, colangite, icterícia obstrutiva, pancreatite,
cirrose e até insuficiência hepática (NEVES, 2016).

Agravamentos súbitos da evolução clínica costumam resultar


de uma infecção biliar super ajuntada, ou de uma obstrução
mecânica, por vermes ou por cálculos, exigindo uma interven-
ção cirúrgica de urgência. Os poucos casos fatais conhecidos
estavam relacionados com alta carga parasitária, na fase aguda,
ou com acidentes hemorrágicos (REY, 2010, p. 199).

3.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

As principais medidas profiláticas que devem ser adotadas para essa pa-
rasitose consistem em erradicar a presença dos caramujos com o uso de molusco-
cidas, porém sua prática está proibida devido à destruição da vegetação e fauna

69
existente no local em que o parasita se encontra. Os métodos de drenagem das
pastagens úmidas ou alagadiças também são muito utilizados no intuito de eli-
minar a presença do molusco (NEVES, 2016).

Com relação ao homem, as medidas adotadas devem ser: lavar bem ver-
duras que são consumidas in natura, principalmente o agrião que é produzido na
água. Não beber água proveniente de áreas alagadas ou córregos sem tratamento.
Não plantar agrião em área que possa ser contaminada por fezes.

O diagnóstico laboratorial é realizado através da pesquisa de ovos nas


fezes ou através da análise da bile, pelos métodos de sedimentação. Como a pro-
dução de ovos é pequena, pode ocorrer muitos resultados negativos, mesmo com
a presença do parasita. O diagnóstico sorológico é o mais seguro a ser realizado,
através da técnica de ELISA (NEVES, 2011).

4 TAENIA SP.

A classe Cestoda compreende um grupo de parasitos hermafroditas que pos-


sui órgãos reprodutores de ambos os sexos. Apresentam o corpo achatado dorsoven-
tralmente, em formato de fita. Os cestoides mais encontrados parasitando os humanos
são a Taenia soluim e a Taenia saginata, seus hospedeiros intermediários são os suínos e
os bovinos, respectivamente. Essas espécies são conhecidas popularmente como soli-
tárias, pois temos a presença apenas de um verme adulto no interior do organismo se
multiplicando e se alimentando dele, causam como doença a teníase e a cisticercose.
São comuns em países com baixa condição sanitária, socioeconômica e culturais, cau-
sando prejuízos econômicos na produção de gado, porque uma vez diagnosticados
no animal, as carcaças infectadas são condenadas ao abate (NEVES, 2016).

Tenho certeza que você já ouviu aquela clássica frase de mãe, após ter comi-
do muito sem parar, “está com a solitária?” Esse clássico refere-se a presença de um
único parasita que se encontra no interior do intestino humano e que se alimenta dos
nossos nutrientes, por isso o paciente está sempre com fome, pois está alimentando
também a “solitária” presente dentro dele. Autores apontam que 2,5 milhões de indi-
víduos em todo o mundo estejam acometidos pela teníase e que existam aproximada-
mente 300 mil indivíduos com cisticercose (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

As taenias são encontradas em todas as partes do mundo em que a popu-


lação tem o hábito de comer carne de porco ou boi, crua ou mal cozida. Em várias
localidades ainda é comum a criação de suínos livres ou confinados em condições
precárias, próximas de habitações nas quais a privada ou o esgoto, às vezes, tem
ligação direta com esse local. A interação de contaminação entre o homem e o
porco, ou entre ele e o gado, razão pela qual pode-se prever que, com medidas
adequadas, é possível visar a erradicação dessas zoonoses (REY, 2018).

A teníase e a cisticercose são duas patologias diferentes causadas pelo mesmo pa-
rasita, porém com fase de vida diferente. A teníase é ocasionada pela presença da forma

70
adulta da Taenia sp. no intestino delgado do ser humano. Já a cisticercose é ocasionada
pela presença da larva (canjiquinha) no tecido do suíno ou bovino (NEVES, 2011).

4.1 MORFOLOGIA

Ambas espécies possuem corpo achatado dorsoventralmente, em forma


de fita, coloração branca leitosa, com extremidade anterior bastante afilada. O
corpo do parasita é dividido em:

• Escólex ou cabeça: é a extremidade anterior, órgão de fixação do parasita,


possui ventosas arredondadas e proeminentes que facilitam a fixação a mu-
cosa do intestino.
• Colo ou pescoço: não possui segmentação e suas células estão em constante
atividade reprodutora, originando as proglotes jovens. É denominado zona
de crescimento ou de formação das proglotes (FREITAS; GONÇALVES, 2015).
• Estróbilo ou corpo: inicia-se logo após o colo do parasita, sendo que o restan-
te do corpo do parasita apresenta os órgãos genitais masculinos e femininos
e cada segmento denomina-se proglote ou anel. O proglote maduro possui os
órgãos reprodutores completos e aptos para a fecundação. Os órgãos repro-
dutores vão sofrendo involução enquanto o útero se ramifica cada vez mais,
ficando repleto de ovos. A proglote grávida da T. solium é quadrangular e o útero
formado por 12 pares de ramificações do tipo dendrítico, contendo até 80 mil
ovos enquanto a T. saginata é retangular, apresentando 26 ramificações uterinas
com até 160 mil ovos, as diferenças entre os proglotes podem ser observadas na
Figura 24. Apenas 50% dos ovos são maduros e férteis. Proglotes sofrem apólise
e se desprendem do estróbilo. A Taenia solium pode apresentar até três metros
de comprimento e a Taenia saginata até oito metros (NEVES, 2016).

FIGURA 24 – CARACTERÍSTICAS DO ESCOLÉX E PROGLOTE DA T. SOLIUM (ESQUERDA) E T.


SAGINATA (DIREITA)

FONTE: Neves (2016, p. 263)

71
• Ovo: é indistinguível entre as espécies. Esférico, possui embrião hexacanto (on-
cosfera) com três pares de ganchos (seis acúleos), dupla membrana com presen-
ça de membrana interna e externa constituindo a casca protetora. No interior
do ovo, possui a célula germinativa, com blocos piramidais de quitina, unidos
entre si por uma substância proteica que lhe confere resistência (Figura 24). O
ovo é classicamente diferenciado dos ovos de outros helmintos como o do As-
caris sp. (que possui membrana maminolada), Toxocara sp. (possui membrana
lisa) e da Taenia sp. a membrana é estriada radialmente, compara-se a membra-
na com os raios de uma roda de bicicleta. É muito importante no momento da
identificação morfológica prestar bastante atenção nesses pequenos detalhes,
pois é isso que diferencia um parasita do outro (NEVES, 2016).

FIGURA 25 – OVO DE TAENIA SP.

FONTE: Cimerman e Franco (2009, p. 59)

4.2 TRANSMISSÃO

Sabe aquele churrasquinho malpassado do final de semana que muita


gente adora? Pois então, temos que tomar muito cuidado, pois, a infecção do ho-
mem ocorre pela ingestão de carne crua ou mal cozida (quando o cozimento não
chega à temperatura, a um grau suficiente para matar as larvas infectantes) de
porco ou boi contendo cisticerscos que, quando ingeridos, sofrem ação do suco
gástrico e se fixam, através do escólex, na mucosa do intestino delgado do homem
(hospedeiro definitivo), transformando-se em uma Taenia adulta, ocasionando a
patologia conhecida como teníase (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

Já a cisticercose ocorre pela ingestão acidental de ovos de Taenia solium (eli-


minados nas fezes de portadores de teníase), que dão origem a larvas que perfu-
ram o intestino e caem na circulação. A contaminação pode ocorrer através da au-
toinfecção externa, cuja pessoa se contamina com os próprios ovos que elimina e,
através da sua higiene pessoal, como colocar a mão suja na boca após evacuação,
através da autoinfecção interna, em que, na pessoa já contaminada aumentam
os movimentos peristálticos do intestino ou ocorre vômitos e os ovos presentes
eclodem, reiniciando o ciclo, ou através da heteroinfecção que se dá pela ingestão

72
de ovos de Taenia solium, em alimentos ou água contaminada pelos dejetos de
indivíduos contaminados (NEVES, 2016).

DICAS

“É importante saber que os cisticercos são destruídos em dez minutos pelo


aquecimento a 96 ºC, por 2h quando expostos à temperatura de 45 ºC e o congelamento
a -30 ºC por 12h também resultam em sua morte” (FERREIRA, 2017, p. 154).

4.3 CICLO BIOLÓGICO

Temos dois ciclos biológicos, duas patologias diferentes, ocasionadas pelo


mesmo parasita a T. solium e T. saginata, que em sua fase adulta ou reprodutiva tem
por habitat o intestino delgado dos humanos. O cisticerco da T. solium aloja-se no
tecido subcutâneo muscular, cardíaco, cerebral e olhos de suínos (acidentalmente hu-
manos e cães), já o cisticerco da T. saginata vive no tecido dos bovinos (NEVES, 2016).

Para o início do ciclo biológico, os humanos liberam os proglotes cheios de ovos


nas fezes ou o proglote pode romper na luz intestinal e ser eliminado com as fezes. Os
proglotes se rompem no ambiente úmido e protegido da luz podendo sobreviver du-
rante meses, eliminando milhares de ovos no ambiente. O hospedeiro intermediário
(T. solium: porco e T. saginata: boi) ingere os ovos através de alimentos ou água conta-
minada ou até mesmo presentes no solo (devido aos hábitos de vida desses animais) e
os embrióforos no estômago deles sofrem a ação da pepsina, no intestino as oncosferas
sofrem ativação dos sais biliares, uma vez ativadas liberam-se do embrióforo e movi-
mentam-se no sentido da vilosidade onde penetram na musculatura do animal com o
auxílio dos seus pares de ganchos, permanecendo ali durante dias, depois vão para a
circulação e se distribuem para todos os órgãos (NEVES, 2011).

As oncosferas se desenvolvem para cisticercos em qualquer tecido mole


(pele, músculo esquelético, cardíaco, olhos e cérebro), mas preferem aqueles com
maior oxigenação (língua, coração e cérebro). No interior do tecido perdem os
ganchos e cada oncosfera se transforma em um cisticerco, ele cresce e permanece
viável na musculatura por alguns meses, é nesse período que o animal é abatido
e sua carne é consumida contaminando o hospedeiro (NEVES, 2016).

A infecção humana ocorre através da ingestão de carne de porco ou boi crua,


malcozida e infectada. No intestino delgado do ser humano, o cisticerco sofre a ação do
suco gástrico e se fixa na parede do intestino transformando-se em um verme adulto.
Três meses após a ingestão, inicia-se a eliminação de proglotes grávidos reiniciando o
ciclo da teníase, conforme pode ser observado no esquema 10 (NEVES, 2011).

73
Já o ciclo da cistecercose ocorre quando o homem faz a ingestão de ovos
de Taenia sp. através de água e alimentos contaminados. Esses ovos sofrem a ação
do suco gástrico e eclodem no intestino do homem fixando-se na parede intesti-
nal, desenvolvem-se e podem perfurar a mucosa intestinal caindo na circulação
sanguínea, tendo tropismo pelo sistema nervoso central, ocasionando a neurocis-
tecercose, fase mais grave da doença (NEVES, 2011).

FIGURA 26 – CICLO BIOLÓGICO TAENIA SP.

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2GApoLB>. Acesso em: 13 jul. 2020.

4.4 SINTOMAS

Os sintomas apresentados por um paciente com teníase são relacionados à


presença de um único verme, por isso, o nome de “solitária”, porém esse único para-
sita causa fenômenos tóxicos alérgicos no intestino delgado, devido à eliminação de
substâncias excretadas durante o seu metabolismo. Podem ocasionar hemorragias
devido à fixação na mucosa intestinal, inflamação com infiltrado celular com produ-
ção de muco, tontura, astenia, náusea, vômitos e perda de peso (NEVES, 2016).

A teníase é frequentemente assintomática, tornando-se o indivíduo


consciente do parasitismo apenas depois de ter sido constatada por ele
a expulsão de proglotes. Só depois de saber se parasitado é que muitos
desses pacientes começam a manifestar alguma sintomatologia, o que
mostra haver um componente psicológico importante no quadro clíni-
co apresentado por tais doentes (REY, 2018, p. 522).

A cisticercose é considerada uma patologia pleomórfica, devido à possibili-


dade do cisticerco de se alojar em diferentes tecidos do corpo. O local mais comum
relacionado aos sintomas são o sistema nervoso central, devido ao tropismo que o
parasita tem por locais com intensa oxigenação. No cérebro do ser humano o para-
sita não encontra os nutrientes necessários para sua sobrevivência e graças à ação

74
do sistema imune, ocorre uma reação de calcificação do tecido em função da morte
do parasita, inviabilizando o tecido de realizar suas funções, por isso o paciente
apresenta sintomas como hipertensão intracraniana, hidrocefalia e até epilepsias
dependendo sempre da quantidade de calcificações presentes (NEVES, 2016).

Outra forma clínica potencialmente grave é a cisticercose ocular, com sin-
tomas que variam desde a redução discreta da acuidade visual até a cegueira. Os
cisticercos se alojam em locais cujos medicamentos antiparasitárias não atingem,
e como ocorre em outros locais, por causa da intensa reação inflamatória desen-
cadeada ocorre a morte dos cisticercos e extensa lesão tecidual (FERREIRA, 2017).

4.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

A teníase é uma parasitose que pode ser erradicável, se adotadas medidas


de higiene sanitária na população e no rebanho de criação de animais, como su-
ínos e bovinos. O primeiro método de profilaxia se relaciona ao tratamento dos
portadores, para impedir a disseminação de novos proglotes, novos ovos que
podem potencialmente contaminar o ambiente em que os animais estão sendo
criados, reiniciando o ciclo de vida dessa parasitose, bem como adotar políticas
públicas que visem educação em saúde, tratamento de esgoto e o incentivo e
apoio à modernização da suinocultura, combate ao abate clandestino, impedin-
do o acesso suíno e bovino às fezes humanas, para que possa garantir uma me-
lhor qualidade da carne a ser consumida, orientando também a população a não
realizar a ingestão de carne crua ou malcozida (NEVES, 2016).

Os métodos utilizados para o diagnóstico desse parasita são através da


utilização dos métodos de sedimentação, como Hoffmann e Ritchie, por se tratar
de um ovo pesado. Outros métodos novos já estão sendo difundidos e utilizados
no diagnóstico, como os métodos imunológicos, que buscam diretamente os an-
ticorpos produzidos pelo contato com o parasita. Também temos a utilização de
métodos anatomopatológicos, no qual podemos retirar um pedaço do tecido do
hospedeiro e realizar a identificação do cisticerco no tecido. Para identificar qual
a espécie de Taenia, existe o método de tamização que consiste em recolher os
proglotes e contar as ramificações uterinas para saber diferenciar de qual espécie
se trata, método esse muito pouco utilizado nos dias atuais (FERREIRA, 2017).

75
DICAS

Assista ao vídeo e entenda a diferença entre Teníase e Cisticercose - Parasito-


logia, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QM5A5qFLKN4 .
Acesse também a divulgação da DIVE: diretoria de vigilância epidemiológica, sobre teníase
e cisticercose. Disponível em:
http://www.dive.sc.gov.br/conteudos/publicacoes/Folder_Teniase%20_FINAL.PDF.

5 HYMENOLEPIS NANA

A H. nana também é conhecida como Taenia anã, devido a seu tamanho


de 4 cm, possui uma ampla distribuição mundial, por causa do fato de o parasita
realizar um ciclo direto, fazendo com que a disseminação entre humanos seja facil-
mente disseminada. O ciclo de vida rápido do parasita também favorece sua alta
incidência. Estima-se em 50 a 75 milhões o número de pessoas infectadas no mun-
do, com uma prevalência de 5 a 25% em creches, escolas e prisões (NEVES, 2016).

No Brasil, os estados do sul são os que têm prevalência mais elevada, incidindo
em grandes centros urbanos e com pouco frequência na zona rural. Nas crianças, a pa-
rasitose é comum entre os dois a oito anos, e rara nas pessoas acima 15 anos (REY, 2010).

5.1 MORFOLOGIA

O verme adulto mede de 3 a 5 cm, com 100 a 200 proglotes, cada um deles
possuem os órgãos reprodutores masculinos e femininos. O escólex apresenta
quatro ventosas e um rosto armando de ganchos, cada proglote grávida contém
entre 100 e 200 ovos embrionados (NEVES, 2016).

• Ovos (Figura 25): são arredondados ou elipsoides, transparentes e incolores.


Apresentam uma membrana externa delgada envolvendo um espaço claro
e internamente, possui uma outra membrana que envolve a oncosfera. Essa
membrana interna apresenta dois mamelões claros em posições opostas, dos
quais partem alguns filamentos longos, por isso esse ovo também é conhecido
como “chapéu mexicano” ou “ovo estalado” (NEVES, 2016).

76
FIGURA 27 – OVO DE HYMENOLEPIS NANA

FONTE: Neves (2016, p. 284)

5.2 TRANSMISSÃO

A transmissão acontece por meio da ingestão de água e alimentos conta-


minados com os ovos desse parasita ou pela ingestão acidental, por crianças, de
insetos (como pulgas) contendo a larva cisticercoide. A transmissão inter-huma-
na é facilitada pela promiscuidade e pelos maus hábitos higiênicos, entrando essa
parasitose no rol das doenças de mãos sujas (REY, 2018).

5.3 CICLO BIOLÓGICO

O ciclo dessa parasitose (Figura 28) pode ocorrer de duas formas diferentes,
tudo dependerá da forma de contaminação.

• No ciclo monoxênico, os ovos eliminados nas fezes de um homem contamina-


do podem contaminar água e alimentos.
• Eles são ingeridos e, ao passarem pelo estômago, sofrem ação do suco gástri-
co e no intestino delgado ocorre a eclosão da oncosfera.
• Penetra no intestino e, em quatro dias, dá origem a uma larva cisticercoide.
• Dez dias depois a larva madura se fixa através do escólex e se torna um verme
adulto eliminando ovos. Eles sobrevivem até 14 dias, depois morrem e são
eliminadas (NEVES, 2011).

No ciclo heteroxênico, os ovos presentes no ambiente são ingeridos pelas larvas


de alguns insetos, chegando no intestino desse hospedeiro intermediário transformam-
-se em larva cistecercoide, o ser humano acidentalmente ingere um inseto (ou algum
alimento que contenha esse inseto contaminado) que chegam ao intestino delgado e se
fixam à mucosa, transformando-se em vermes adultos. O ciclo pode se reiniciar tanto
pela forma monoxênico quanto pela forma heteroxênico (NEVES, 2016).

77
FIGURA 28 – CICLO BIOLÓGICO HYMENOLEPIS NANA

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/36tQCPc>. Acesso em: 13 jul. 2020.

5.4 SINTOMAS

Os sintomas são raros, porém mais frequentes em crianças com menos de


dez anos, aparecem apenas em grandes infecções que podem ser diarreia, descon-
forto abdominal, irritabilidade, perda de peso, prurido, má-absorção e ulcerações
da mucosa que podem ocorrer devido à presença e fixação do parasita na mucosa
intestinal. Nos casos mais graves, pode produzir-se sintomas como vômitos, cefa-
leia, tonturas, insônia, convulsões e crises epileptiformes que desaparecem com a
eliminação do parasita (REY, 2018).

5.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

Manter bons hábitos de higiene, a destacar aqueles que impeçam a conta-


minação fecal das mãos, alimentos e água, bem como fazer o uso de instalações sa-
nitárias, evitando contaminação de água com fezes. Saneamento básico em geral e
controle de insetos transmissores (como as pulgas) é essencial para a prevenção, além
do tratamento de doentes para impedir a disseminação da parasitose (NEVES, 2016).

Outras medidas úteis são o combate aos roedores e a proteção dos alimen-
tos que, por outro lado, devem ser de boa qualidade para não correrem o risco
de estar com bichos. O bom estado nutricional das crianças é importante para
aumentar sua resistência imunológica (REY, 2010, p. 207).

O diagnóstico é realizado através da identificação dos ovos no exame pa-


rasitológico de fezes alternado em três amostras, devido ao pequeno número de

78
ovos eliminados é recomendado que sejam utilizados métodos de concentração
como Hoffmann ou Ritchie (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

6 ECHINOCOCCUS GRANULOSUS

A hidatidose é uma zoonose rural com ampla distribuição, as regiões de maior


prevalência têm tradição de criação de ovinos associada à presença de cães de pastoreio,
podendo também acometer o gado. No Brasil, quase todos os casos têm origem no Rio
Grande do Sul. A faixa etária mais acometida é de 16 a 60 anos, sendo o fígado e pulmão
os órgãos mais atacados. O hábito dos camponeses de alimentar os cães com vísceras cru-
as dos animais abatidos, ausência de tratamento anti-helmíntico para cães e pela precá-
ria educação sanitária aumentam as chances do aparecimento dessa parasitose. Existem
quatro espécies que podem parasitar o homem, o Echinococcus granulosus, E. multilocula-
ris, E. vogeli e o E. oligarthus, porém, neste tópico, estudaremos a espécie granulosus por ser
a que mais incide no Brasil, principalmente na região sul (NEVES, 2016).

Nas áreas endêmicas, a infecção acontece com muita frequência na infância,


e, por conta da lenta evolução do cisto hidático, a doença só vem a ser percebida nos
adultos jovens e maduros. Os cães contaminados e, aparentemente, sadios, dissemi-
nam com suas fezes os proglotes e ovos desse parasito, contaminando sua pelagem
e de outros cães, bem como o solo, a lã dos carneiros e a forragem (MORAES, 2008).

A equinococose humana é também denominada hidatidose, pelo fato de


o parasitismo no organismo humano só ocorrer na fase larvária, isto é, ser um
parasitismo por hidátides (do grego hydatis, vesícula aquosa), que são as formas
larvárias do parasita (REY, 2018).

6.1 MORFOLOGIA

O Equinococus é o menor cestodio de importância clínica. O verme adulto


(Figura 29) é um verme muito pequeno, mede de 4 a 6 mm de comprimento, o es-
cólex é globoso ou piriforme, com quatro ventosas e um rosto com 30 a 40 acúleos
dispostos em filas. O colo, região de crescimento, é curto, seguido pelo estróbilo,
constituído por três a quatro proglotes onde estão localizados os órgãos reprodu-
tores do parasita e os ovos por ele desenvolvidos (REY, 2010).

79
FIGURA 29 – VERME ADULTO DE EQUINOCOCUS GRANULOSUS.

FONTE: Neves (2016, p. 274 )

• Ovo: são ligeiramente esféricos, constituídos por uma membrana externa espessa,
denominada embriófaro, contendo no seu interior a oncosfera com seis ganchos,
que dará origem a um verme adulto. O ovo do Equinococus é muito semelhante
com os de Taenia humana, sendo morfologicamente indistinguível (REY, 2010).

6.2 TRANSMISSÃO

Segundo Neves (2016), os cães desenvolvem a doença ao ingerirem vísce-


ras dos hospedeiros intermediários contendo cistos hidáticos férteis. O hospedei-
ro intermediário se contamina ao ingerir ovos eliminados no ambiente por inter-
médio das fezes dos cães parasitados. No hospedeiro definitivo, que é o homem,
a contaminação ocorre através da ingestão de ovos do parasita, por alimentos
contaminados ou através do contato com os cães, e o homem também pode de-
senvolver o hábito de peridomicílio e se contaminar.

Grandes números de infecções ocorrem pela veiculação de ovos do tenídeo


pelas mãos contaminadas com a pelagem dos cães e carneiros, na lã, na terra ou
mesmo nas gramíneas das pastagens (MORAES, 2008).

6.3 CICLO BIOLÓGICO

O ciclo proposto por Neves, em 2011, pode acontecer de maneiras diferen-


tes no hospedeiro intermediário e no hospedeiro definitivo, segundo ele, o ciclo
se inicia através da liberação de ovos do parasita nas fezes dos cães, que conta-
minam o solo e os alimentos, esses ovos podem permanecer viáveis por muito
tempo em locais úmidos e sombreados.

80
Os animais, como os ovinos e bovinos (hospedeiros intermediários), realizam
a ingestão do ovo, que sofre ação do suco gástrico, migra para o duodeno, entra em
contato com a bile e libera a oncosfera, que por meio dos seus ganchos perfura a pa-
rede intestinal e cai na circulação sanguínea e linfática, chegando rotineiramente ao
fígado e pulmão, onde se aloja e realiza o seu desenvolvimento (NEVES, 2011).

Após seis meses o cisto estará maduro, permanecendo por anos no hospedei-
ro intermediário. Já no hospedeiro definitivo, o cão, a contaminação ocorre através da
ingestão de vísceras, com o cisto já formado, ao chegarem ao intestino sofrem a ação
da bile, fixam-se à mucosa, realizam a reprodução e eliminam os proglotes grávidos
com ovos nas fezes, contaminando o ambiente. Os parasitos adultos vivem quatro
meses, se não houver reinfecção e o cão ficará curado dessa parasitose (NEVES, 2011).

Por se tratar de uma zoonose, o homem só apresentará ciclo biológico do


parasita se por acidente ingerir os ovos presentes no meio ambiente, que realizará
ciclo semelhante ao do hospedeiro intermediário, perfurando a mucosa intestinal
e migrando para um órgão, onde ficará ocasionado a formação de um cisto, que é
a forma sintomatológica clássica. Aparentemente, trata-se de uma parasitose rural,
mas devemos lembrar que alguns cães urbanos podem ir a passeios ou período de
férias para os locais com contato desse parasita e também adquirirem a parasitose,
vale a dica de cuidar do seu cão quando ele estiver no meio rural (NEVES, 2016).

FIGURA 30 – CICLO BIOLÓGICO EQUINOCOCUS GRANULOSUS

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3cUBQlr>. Acesso em: 13 jul. 2020.

81
6.4 SINTOMAS

A sintomatologia dependerá dos órgãos atingidos, tamanho e número de


cistos. Alguns cistos pequenos, bem calcificados, podem permanecer por anos as-
sintomáticos. Um dos locais primários da infecção é o fígado, podendo causar uma
reação inflamatória com a presença de infiltrado eosinofílico e células de fagocitose, esse
conjunto de alterações causam a hidatidose hepática, ocasionado distúrbios hepato-
gástricos, ictérica e ascite. O pulmão é o segundo órgão mais afetado pela hidatidose, o
cisto no pulmão pode crescer muito e comprimir brônquios e alvéolos, os sintomas são
de tosse com expectoração, cansaço e dispneia. Outros locais como cérebro e sistema
ósseo são raros, os sintomas dependerão do tamanho do cisto e na maioria das vezes
ocasionam deficiência de funcionalidade do órgão (NEVES, 2011).

Quando o ovo é ingerido, o embrião existente em seu interior é liberado no


lúmen intestinal. Penetra a parede intestinal e, através de linfáticos e vênulas
mesentéricas, entra na corrente sanguínea, disseminando-se para diversos
órgãos (fígado, pulmões, cérebro, osso). Nestes sítios, o embrião dá origem ao
estágio larvário conhecido como hidátide, que cresce de modo concêntrico. O
cisto corresponde à hidátide envolta por uma membrana adventícia externa,
resultado da fibrose tecidual do hospedeiro (FERREIRA, 2017, p. 157).

Em casos mais avançados da doença, podem ocorrer reações alérgicas, devido


ao rompimento ou extravasamento de pequenas quantidades de líquido hidático para os
tecidos. O cisto pode romper após uma punção, cirurgia ou acidentes, tratando-se de um
líquido rico em proteínas que são altamente antigênicas, que, ao caírem na cavidade ab-
dominal, podem desencadear um choque anafilático, muitas vezes fatal (NEVES, 2016).

6.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

A profilaxia visa romper a transmissão dessa parasitose para os animais de


reprodução e prevenir a infecção ao homem, por medidas de cuidado, não alimentar
os cães com vísceras de animais (principalmente ovinos e bovinos) e tratar periodica-
mente cães com medicação antiparasitária. Como ovinos e suínos são abatidos com
frequência em domicílio rurais, é de grande importância impedir o acesso dos cães
ao local de abate, para evitar que esses entrem em contato com as vísceras cruas, pois
temos que lembrar que a patologia que o parasita causa é em forma de cisto que fica
aderido aos órgãos do animal e a sua ingestão faz com que seja transmitido a infec-
ção. Além de cuidados com higiene pessoal, lavagem de alimentos e impedir que
cães fiquem próximos a plantações e reservatórios de água (NEVES, 2016).

Para a realização do diagnóstico no animal, é pouco utilizado o exame parasi-


tológico de fezes, o que se tem utilizado é a observação da morfologia do verme adul-
to quando eliminado nas fezes ou através da técnica imunológica de ELISA, que busca
o antígeno nas fezes dos cães (exame esse de alto custo, pouquíssimo utilizado). Nos

82
hospedeiros intermediários o diagnóstico é obtido após o abate do animal, em que são
observados os cistos hidáticos nos órgãos dos animais, como ovinos e bovinos mais co-
mumente. No hospedeiro acidental, que é o homem, o diagnóstico é realizado através de
técnicas de imunodiagnóstico ou métodos de imagem como a radiografia que possibilita
a visualização dos cistos presentes nos órgãos acometidos, uma vez que não são frequen-
tes a eliminação de ovos nas fezes humanas (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

83
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os platyhelminthes (do grego Platy = chato) são conhecidos como vermes acha-
tados. Esses organismos são acelomados, caracterizam-se por apresentarem
simetria bilateral, uma extremidade anterior com órgãos sensitivos e de fixa-
ção e uma extremidade posterior.

• O Shcistossoma mansoni é transmitido pelo caramujo do gênero Biomphalaria,


encontrado em água doce, sua contaminação ocorre através da penetração
ativa da cercaria sobre a pele.

• A barriga d’água é o principal sintoma ocasionado pelo parasita Schistossoma


mansoni, devido a sua localização nas veias dos sistema porta-hepático.

• A morfologia da fascíola hepática é semelhante a uma folha, a doença que ela


causa é popularmente conhecida como “baratinha do fígado”, devido a sua
migração pelo sistema hepático.

• A teníase e cisticercose são ocasionadas pelo mesmo parasita Taenia sp., po-
rém em fases de vida diferente.

• A teníase acontece quando o homem, que é o hospedeiro definitivo, faz a


ingestão de carne de porco ou boi crua ou malcozida, contendo os cisticercos
vivos, adquirindo a parasitose popularmente conhecida como “solitária”.

• E a cisticercose é adquirida através da ingestão de ovos viáveis de Taenia sp.


em água e alimentos contaminados, que eclodem no intestino dando origem a
larvas que perfuram a parede intestinal, migrando para o cérebro ocasionan-
do a neurocistecercose, podendo ser fatal.

• A Hymenolepis nana também é conhecida como taenia anã, devido a seu tama-
nho de 4 cm. Possui ampla distribuição mundial, sua transmissão ocorre atra-
vés da ingestão de água e alimentos contaminados e não apresenta sintomas
específicos e nem exacerbados, apenas dor abdominal e diarreia, na maioria
dos casos os pacientes são assintomáticos.

84
• Hidatidose é uma zoonose muito comum encontrado em cães e ovinos, é trans-
mitidas ocasionalmente ao homem, tendo como principal sintoma a presença
de cistos em órgãos essenciais como fígado e pulmão.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

85
AUTOATIVIDADE

1 O parasitismo intestinal ainda constitui um dos mais sérios problemas de


Saúde Pública no Brasil, ele decorre da presença de macroparasitas (helmin-
tos) e/ou microparasitas (protozoários) no intestino e compromete de forma
heterogênea cerca de 25% da população mundial. A frequência das parasi-
toses tem relação direta com as condições socioeconômicas, sendo o aumen-
to da prevalência uma consequência direta do empobrecimento da popula-
ção. Além disso, depende dos aspectos climáticos, das características do solo,
dos hábitos alimentares e de higiene e das condições sanitárias da comuni-
dade. Entre as parasitoses que atingem cerca de 85% da população brasileira,
algumas caracterizam-se por sua forma de transmissão serem através de:

I- Consumo de água ou alimentos crus contendo metacercárias.


II- Ingestão de carne de porco contendo cisticercos vivos.
III- Consumo de água e alimentos contaminados com ovos do parasita
IV- Ingestão de ovos de Taenia sp.

Assinale a alternativa em que a parasitose esteja corretamente relacionada


à forma de transmissão indicada nos parênteses. 

a) ( ) Fascíola hepática (I), Cisticercose (II), Equinococose (III), Teníase (IV).


b) ( ) Equinococose (I), Teníase (II), Fascíola hepática (III), Cisticercose (IV).
c) ( ) Fascíola hepática (I), Teníase (II), Equinococose (III), Cisticercose (IV).
d) ( ) Cisticercose (I), Fascíola hepática (II), Teníase (III), Equinococose (IV).
e) ( ) Teníase (I), Cisticercose (II), Equinococose (III), Fascíola hepática (IV).

2 Turistas em visita ao litoral nordestino brasileiro adentraram em rios de


água salobra e cachoeiras para se refrescarem do calor intenso que fazia,
ao saírem, alguns reclamaram de coceira na pele, atribuída, pelo guia turís-
tico, à presença de alevinos e girinos nas águas. Após 2 meses, já em seus
países, procuraram o serviço de saúde queixando-se de náuseas, vômitos e
mal-estar generalizado. No diagnóstico parasitológico das fezes foram en-
contrados ovos de um verme e no exame de hemograma total foi detectado
número elevado de um tipo de leucócito: os eosinófilos. Com base no caso
exposto, qual foi o provável diagnóstico dos turistas doentes?

a) ( ) Ancilostomose pela coceira na pele, eosinofilia e presença de ovos nas fezes.


b) ( ) Esquistossomose pela epidemiologia característica, eosinofilia e ovos
nas fezes.
c) ( ) Ascaridíase pelos sintomas intestinais, eosinofilia e presença de ovos
nas fezes.
d) ( ) Estrongiloidíase pelos sintomas intestinais, coceira na pele, eosinofilia
e ovos nas fezes.
e) ( ) Teníase pelos sintomas intestinais e presença de ovos nas fezes.

86
3 A Taenia sp. é um platelminto parasita, cujo adulto vive no intestino do ser
humano, podendo alcançar até 5 metros de comprimento e provocar sinto-
mas relativamente brandos no hospedeiro. A pessoa também serve de hos-
pedeiro intermediário desse parasita, e as oncosferas se alojam em locais
como o coração e o cérebro, o que pode causar sérios distúrbios. Na tira a
seguir, faz-se referência a um verme parasita. Sobre ele, foram feitas cinco
afirmações. Assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: Folha de São Paulo (2006, s.p.)

a) ( ) Trata-se de um protozoário hermafrodita.


b) ( ) Apresenta simetria bilateral, corpo cilíndrico e extremidade afilada.
c) ( ) É o verme causador da teníase quando ingerido os ovos de Taenia sp.
d) ( ) Os cisticercos que caem na circulação têm tropismo pelo sistema ner-
voso central, causando a cisticercose cerebral.
e) ( ) Ao ingerir a carne de porco malcozida, o ser humano passa a ser seu
hospedeiro intermediário, podendo apresentar cisticercose.

4 (UNICAMP, 2009) As parasitoses intestinais são muito frequentes na infância.


São consideradas problema de saúde pública, principalmente nas áreas rurais
e periferias das cidades dos países chamados subdesenvolvidos, onde são mais
frequentes. As parasitoses são as doenças mais comum do mundo, atingindo
cerca de 25% da população mundial (uma em cada quatro pessoas). Sua trans-
missão depende das condições sanitárias e de higiene das comunidades. Além
disso, muitas parasitoses relacionam-se a déficit no desenvolvimento físico e
cognitivo e desnutrição. Notícias recentes informam que no Brasil, há mais de
quatro milhões de pessoas contaminadas pela esquistossomose. A doença, que
no século passado era comum apenas nas zonas rurais do país, já atinge mais
de 80% das áreas urbanas, sendo considerada pela Organização Mundial de
Saúde uma das doenças mais negligenciadas no mundo. A esquistossomose é
causada pelo Schistosoma mansoni. Mediante o caso, responda:

FONTE: <https://bit.ly/2Gw7tWF>. Acesso em: 14 out. 2020.

87
FONTE: <https://bit.ly/34bBkwG>. Acesso em: 14 out. 2020.

a) O ciclo do Schistosoma mansoni, esquematizado na figura, está dividido em


três fases. Em qual das três fases ocorre a transmissão da parasitose ao ho-
mem? Explique como ocorre a contaminação.

b) Quais as medidas profiláticas para a parasitose causada pelo Schistossoma


mansoni?

c) Qual o principal sintoma que uma pessoa parasitada pode apresentar? Justifi-
que.

88
REFERÊNCIAS
BRASIL. Painel de informações sobre saneamento. 2016. Disponível em: https://bit.
ly/34kBmkP. Acesso em: 14 out. 2020.

CIMERMAN, B.; FRANCO, M. A. Atlas de parasitologia: artrópodes, protozoá-


rios e helmintos. São Paulo: Editora Atheneu, 2009.

CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S. Parasitologia humana e seus fundamentos ge-


rais. 2. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2005.

FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-


gan, 2017.

FREITAS, E. O. de; GONÇALVES, T. O. de F. Imunologia, parasitologia e hema-


tologia aplicadas à biotecnologia. São Paulo: Érica, 2015.

IBGE. Indicadores sociodemográficos e de saúde no Brasil. 2015. Disponível em:


https://bit.ly/30sNAH6. Acesso em: 14 jul. 2020.

LEVENTHAL, R.; CHEADLE R. Parasitologia médica: texto e atlas. 4. ed. Editora


Premier, 2000.

MORAES, R. G. Parasitologia e micologia humana. 5. ed. Rio de Janeiro: Guana-


bara Koogan, 2008.

NEVES, P. D. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016.

NEVES, P. D. Parasitologia humana. 12. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2011.

REY, L. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos


ocidentais. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

REY, L. Bases da parasitologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

TRATA BRASIL. Águas Subterrâneas e Saneamento Básico. 2016. Disponível


em: https://bit.ly/3jqMF1g. Acesso em: 14 jul. 2020.

89
90
UNIDADE 2 —

PROTOZOOLOGIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar os principais flagelados, amebas e hemoparasitas cau-


sadores de enteroparasitoses, bem como seu ciclo biológico, epi-
demiologia, morfologia e patogenia;

• possibilitar o desenvolvimento do raciocínio para a elaboração


de medidas de profilaxia e informação a população contra as pa-
rasitoses;

• fornecer condições para analisar e identificar, através da morfo-


logia, os parasitas causadores de problemas muito comuns em
nosso meio;

• entender as principais vias de transmissão de parasitoses, a fim


de diminuir sua incidência na população através da informação.

91
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – ENTEROPARASITOSES CAUSADAS


POR FLAGELADOS

TÓPICO 2 – ENTEROPARASITOSES CAUSADAS


POR ENTAMOEBA HISTOLYTICA E
DEMAIS AMEBAS DE INTERESSE CLÍNICO

TÓPICO 3 – ENTEROPARASITOSES CAUSADAS


POR HEMOPARASITAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

92
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

ENTEROPARASITOSES CAUSADAS
POR FLAGELADOS

1 INTRODUÇÃO

Os protozoários são constituídos por mais de 60.000 espécies conhecidas,


neles, aproximadamente, 10.000 são parasitos de variados animais e apenas al-
gumas dezenas parasitam o homem. São considerados microrganismos unicelu-
lares, constituídos de uma única célula capaz de realizar todas as funções para
manter a sua sobrevivência, como se reproduzir, alimentar, locomover e excretar.
Além disso, são eucariontes, possuem célula com membrana nuclear, núcleo bem
organizado, apresenta aparelho de golgi, retículo endoplasmático, mitocôndria,
cinetoplasto, flagelos, corpo basal, axonema e lisossomos, todas essas estruturas
são responsáveis pela manutenção da vida do parasita.

Como característica de alimentação eles são heterotróficos – quando o


organismo só consegue as substâncias, nutrientes e energia a partir de matéria
orgânica produzida por outros seres vivos –, ou seja, não produzem sua própria
comida. Podem viver como parasitas ou ter vida livre, habitando os mais varia-
dos tipos de ambiente devido a sua diversidade e capacidade celular única, não
dependente de outras células (NEVES, 2011).

ATENCAO

Você sabe a diferença entre os termos heterotróficos e autotróficos? Eles são


relacionados à forma de alimentação e de como os seres vivos obtêm energia para a sua
sobrevivência. Os seres denominados autotrófos são capazes de produzir o seu próprio
alimento, utilizando a luz (fotossíntese) ou energia química (quimiossíntese) para sua so-
brevivência. Já os organismos vivos chamados de heterotróficos se alimentam de outros
seres vivos, como plantas e animais, um exemplo de organismo heterotrófico é o homem,
e de um ser autotrófico temos as árvores.

O termo protista deriva do grego e significa “primeiro de todos”, dando a ideia


de que eles teriam sido os primeiros eucariontes a surgir no curso da evolução. O termo
protozoário significa literalmente “os primeiros animais” e devido a isso foram classi-
ficados como se fossem “animais microscópicos” (NEVES, 2016). Os protozoários são

93
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

parasitas de seres humanos e que são facilmente encontrados parasitando e ocasionan-


do algum mal para o seu hospedeiro, por isso, serão estudados nessa unidade.

Os protozoários podem ser encontrados nos mais variados


meios, sob as mais diversas modalidades de vida. As espécies
de vida livre são observadas nos mares, lagos, águas estagna-
das, infusões vegetais, esgoto, enfim, em todas as coleções de
água onde se encontram substâncias que lhes sirva de alimento.
Grande número deles vive associativamente com animais ou
vegetais, ora como mutualistas, ora sob a condição de comen-
sais, ora, ainda, como parasitos (MORAES, 2008, p. 45).

E
IMPORTANT

Acadêmico, temos a presença de muitos termos conceituais novos no decor-


rer desta disciplina, portanto, é importante deixarmos claro a diferença entre eles. Os ter-
mos mutualismo, comensalismo e parasitismo são utilizados para expressar a forma como
ocorre a associações entre os seres vivos.

Mutualismo: indica uma associação em que ambos os seres se beneficiam.


Comensalismo: durante uma associação entre espécies, apenas uma se beneficia, porém,
não ocorre prejuízo a outra parte não beneficiada.
Parasitismo: trata-se de uma associação entre dois seres, no qual um tira “aproveito” ou
“vantagem” sobre o outro, dele se nutre e retira os nutrientes para o seu desenvolvimento,
ocasionando danos de grau variável ao seu hospedeiro (NEVES, 2016).

A forma de multiplicação dos protozoários pode ser através da reprodu-


ção sexuada ou assexuada. A forma mais comum de reprodução é a bipartição ou
cissiparidade (reprodução assexuada), em que uma célula mãe se diferencia em
duas células filhas, dando continuidade à espécie. Os grupos de protozoários são
classificados pelo seu modo de locomoção (Figura 1), eles podem se locomover por
flagelos, cílios, pseudópodes ou microtúbulos (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

94
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

FIGURA 1 – FORMAS DE LOCOMOÇÃO DOS PROTOZOÁRIOS

FONTE: <https://bit.ly/2SqVyft>. Acesso em: 27 jul. 2020.

Os protozoários são facilmente identificáveis através da sua morfologia,


mas apresentam variação conforme sua fase evolutiva. Sua forma jovem é deno-
minada trofozoíto, sendo a forma ativa do parasita, na qual ele se alimenta e se
reproduz. O cisto é a sua forma de resistência, que resiste tanto ao meio inter-
no quanto ao meio externo, é também a forma na qual o homem se contamina
através da ingestão dos cistos, ocorrendo na maioria dos casos. Essa estrutura
morfológica de cisto também é utilizada para a identificação da parasitose. Já
a morfologia de gameta é quando o parasita apresenta reprodução sexuada e a
forma oocisto é a resultante desse processo (NEVES, 2011).

Os protozoários pertencem ao reino Protozoa e são distribuídos em sete


filos, dos quais apenas quatro possuem interesse clínico para a parasitologia: Filo
Sarcomastigophora, Apicomplexa, Ciliophora e Micrósporo, conforme podem ser ob-
servados no Quadro 1. As doenças causadas por protozoários são chamadas de
protozoonoses. Os protozoários de maneira geral são bem menos conhecidos,
menos populares, geralmente quando se fala deles, usa-se o nome da doença e
não do parasita causador (NEVES, 2016).

95
Espécie (exem-
Filo Subfilo Ordem Família Gênero
plo)
Trypanosoma T. cruzi
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

Kinetoplastida Trypanosomatidae
Leishmania L. infantum
Mastigophora Diplomonadida Hexamitidae Giardia G. lamblia
Sarcomastigophora Trichomonadida Trichomonadidae Trichomonas T. vaginalis
Entamoebidae Entamoeba E. histolyca
Amoebida
Sarcodina Acanthamobidae Acanthamoeba A. culbertsoni
Schizopyrenida Schizopyrenidae Naegleira N. fowleri
Eimeridae Cyclospora C. cayetanensis

96
Sarcocystis S. hominis
Eucoccidiida Sarcocystidae Toxoplasma T. gondii

FONTE: NEVES (2016, p. 35)


Apicomplexa Cytoisospora C. belli
Cryptosporidiidae Cryptosporidium C. parvum
Haemosporida Plasmodiidae Plasmodium P. falciparum
Piroplasmida Babesidae Babesia B. microti
Cilophora Kinetofragminophorea Trichostomatida Balantidiidae Balantidium B. coli
Microspora Chytridiospsida Enterocytozoonidae Enterocytozoon E. bieunesi
QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS PROTOZOÁRIOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

Acadêmico, como foi anteriormente citado, existem muitas espécies de


protozoários, porém a grande parte desses parasitas são comensais, ou seja, não
causam problemas ao ser humano, por isso, vamos estudar com mais profundi-
dade os principais protozoários de interesse clínico que são rotineiramente en-
contrados nos exames de fezes e que podem ocasionar danos ao seu hospedeiro.

2 GIÁRDIA SP.

A Giárdia sp. foi o primeiro protozoário humano a ser descrito por Anton
Van Leeuwenhoek em 1681, sendo o principal protozoário causador de diarreia
no mundo, tanto em animais como no homem. A doença que esse parasita causa
é popularmente conhecida como giardíase, giardose, esteatorreia ou diarreia do
viajante, ela leva esse nome, porque pacientes que viajam muito e, geralmente,
alimentam-se fora de casa, adquirem essa parasitose, através do consumo de ali-
mentos e, principalmente, de água contaminada (NEVES, 2016).

Não obstante a importância clínica dessa parasitose, em 2004, a infecção por


Giárdia foi inserida no grupo WHO Neglected Diseases Initiative que reúne
doenças negligenciadas nos países em desenvolvimento e que guardam
estreita relação com a pobreza, com a falta de saneamento básico e com
a qualidade da água de consumo (NEVES, 2016, p. 133, grifos do autor).

É encontrada no mundo todo, principalmente em crianças de oito meses


a 12 anos, em adultos apresenta alta prevalência nos idosos, residentes em regi-
ões tropicais, subtropicais e de baixo nível socioeconômico, por serem um grupo
populacional que apresenta condições de higiene mais precárias e frequentam
instituições fechadas (creches, asilos, orfanato), motivo pelo fato dos cistos serem
resistentes em até dois meses no meio exterior em boas condições de umidade e
temperatura, bem como ao processo de cloração da água (REY, 2010).

O gênero Giárdia sp. trata-se de um protozoário flagelado que se movimenta


com grande facilidade no meio ambiente, sobretudo na matéria orgânica. Através
dos seus flagelos, que são estruturas responsáveis pela sua movimentação, eles são
capazes de se movimentar de maneira rápida e eficiente também no meio aquático.
Ele é dividido em seis espécies, dentre elas temos a Giárdia lamblia (Giárdia intestina-
lis = Giárdia duodenalis) que infecta vários mamíferos e, inclusive, é a única espécie que
parasita o homem. A Giárdia lamblia é a espécie mais frequente envolvida em surtos
de diarreia associados à água para consumo, pois essa parasitose tem como veículo
de disseminação o meio hídrico, dificilmente pessoas contaminadas transmitem a pa-
rasitose durante a manipulação de objetos ou alimentos. O local de preferência desse
parasito no meio ambiente externo é na água, por isso as más condições de esgoto
e a presença de água não tratada são reservatórios dessa parasitose (NEVES, 2016).

97
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

2.1 MORFOLOGIA

A morfologia da Giárdia sp. é bem simples por se tratar de um pequeno


protozoário flagelado, existem duas formas evolutivas do parasita, os trofozoítos
e os cistos, que podem ser identificadas através das características observadas na
Figura 2, a qual temos a figura esquemática do parasita e a sua forma real encon-
trada no exame parasitológico de fezes.

Acadêmico, tenha bastante paciência e atenção no decorrer dessa unidade,


pois estamos estudando parasitas com estruturas morfológicas muito pequenas,
bem diferentes dos que estudamos anteriormente. Então, muita atenção à morfolo-
gia do parasita, principalmente do cisto que é a estrutura rotineiramente encontra-
da na prática clínica do diagnóstico e no dia a dia do laboratório de parasitologia. É
comum que apareça, em pelo menos, uma amostra do dia essa estrutura.

FIGURA 2 – CISTO (1) E TROFOZOÍTO (2) DE GIÁRDIA LAMBLIA


(1)

(2)

FONTE: Cimerman e Cimerman (2005, p. 29); Ferreira, Foronda e Schumaker (2003, p. 57)

A forma trofozoíta é a estrutura parasitária encontrada durante a fase


aguda da doença, quando o parasita está ocasionando sintomas. Possui uma ex-
tremidade anterior dilatada e a posterior afilada, assumindo uma forma topirifor-
me (em forma de pera ou de raquete), medindo 2,0u a 9,5u de comprimento por
5 a 15u de largura. Na parte ventral do parasita, encontra-se o disco suctorial que
tem como função a fixação do parasita nas células epiteliais do intestino.

98
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

O axonema são duas formações lineares que divide o parasita ao meio, dan-
do sustentação ao corpo do parasita. Possui ainda dois núcleos ovoides, próximos do
bleferoplasto de onde saem oito flagelos (anteriores, posteriores, ventrais e caudais)
que são utilizados para a sua movimentação. Essa forma é encontrada apenas nas
fezes líquidas, agudas ou diarreicas, encaminhadas em até 30 minutos ao laboratório
para análise, pois esse é o tempo de vida do parasita fora do corpo do seu hospedeiro.
Sua identificação só é possível se o exame direto for realizado em até 30 minutos após
a evacuação ou através de coloração específica (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

O cisto é a forma morfológica responsável pela transmissão da parasitose,


possui estrutura oval ou elipsoide, mede cerca de 12um de comprimento. Possui
membrana dupla destacada, dois a quatro núcleos, a disposição dos núcleos pode
ser irregular, ora os quatro núcleos reunidos perto de um dos polos, ora agrupados
aleatoriamente nos dois extremos. O número de flagelos é variável e no seu inte-
rior existe a presença de dois corpos escuros ou crescentes de onde originarão os
flagelos, e no centro do parasita é encontrado os corpos parabasais (que são estru-
turas em forma de “risco” dentro do corpo do parasita). São encontrados nas fezes
formadas ou pastosas através da realização de técnicas parasitológicas (REY, 2018).

ATENCAO

Atenção acadêmico! Muitos resíduos encontrados nas fezes humanas são


responsáveis pela incorreta identificação de trofozoítos e cistos de protozoários, o que é
muito comum ocorrer no laboratório de parasitologia, principalmente com os sujeitos que
não possuem experiência no diagnóstico parasitológico. Entre tais elementos, podem ser
encontrados: fragmentos de alimentos, células vegetais, grãos de pólen, leucócitos, células
de tecido animal, ácaros e seus ovos, e outros artefatos, por isso temos que tomar muito
cuidado para não confundir essas estruturas com parasitas. Por isso, acesse o link e conheça
alguns artefatos que possivelmente podem ser encontrados!

FONTE: <https://bit.ly/34xRaRA>. Acesso em: 7 jul. 2020.

2.2 TRANSMISSÃO

A contaminação com os cistos do parasita ocorre de diferentes formas,


como de pessoa a pessoa, por meio de mãos contaminadas, em locais com aglo-
meração (creches, enfermarias, bancos, entre membros de uma família ou onde
há pouca preocupação com a higiene) ou através da ingestão de água sem trata-
mento, essa forma de contaminação é a mais frequente relacionada ao parasita,
devido a sua via de disseminação mais comum ser através do veículo hídrico.
Alimentos contaminados (frutas e verduras), mal lavadas ou higienizadas com
água contaminada também transmite a parasitose (NEVES, 2011).

99
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

Neves (2016, p. 135), relata que “nos países em desenvolvimento, onde


faltam condições básicas de saneamento e tratamento de água eficiente, a Giárdia
é um dos principais agentes associados à veiculação hídrica”.

Os cistos também podem ser transmitidos através do contato sexual oral-anal e


do contato com animais domésticos, cães e gatos, portadores da parasitose ocasionada
pela Giárdia lamblia. Os alimentos podem estar contaminados por cistos veiculados
por moscas e baratas.O processo de cozimento mata os cistos da Giárdia sp., portanto,
esse modo de transmissão é mais comum em alimentos crus ou contaminados. Sua
variada fonte de contaminação se deve a capacidade deles de permanecer viáveis por
meses em locais frescos, áreas úmidas, acessíveis aos humanos e animais domésticos,
sendo, portanto, grandes veículos de disseminação dessa parasitose (NEVES, 2016).

2.3 CICLO BIOLÓGICO



O ciclo da giardíase é do tipo monoxênico, ou seja, direto, pois acontece
em apenas um hospedeiro, conforme pode ser observado na Figura 3. A contami-
nação do hospedeiro ocorre com maior frequência pela ingestão de água conta-
minada, e com menor frequência através de alimentos ou fômites contaminados
com cistos viáveis do parasito, em torno de dez a 100 cistos já são o suficiente
para causar a infecção. Após esses cistos alcançarem o estômago, ocorre o desen-
cistamento, que nada mais é do que a liberação da estrutura trofozoíta de dentro
da estrutura do cisto, isso ocorre devido ao meio ácido do estômago e termina no
intestino, na localização do duodeno e jejuno. Em seguida ocorre a colonização
no intestino delgado pelas formas trofozoítas e a reprodução por divisão binária,
assim colonizam o intestino e se aderem à mucosa intestinal por meio do disco
suctorial (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

Depois da intensa multiplicação, ainda no intestino, ocorre o encistamento


do parasita, principalmente na região do ceco, pela influência do pH intestinal e con-
centração de sais biliares, esse encistamento ocorre como uma forma de proteção
do parasita com o meio externo. Esse parasita é muito esperto, pois para que ele
consiga sobreviver ao meio externo, obter alimentação e, principalmente, sobreviver
a variações climáticas, ele assume a forma de cisto e só então é liberado para o meio
externo com as fezes do seu hospedeiro, podendo sobreviver por até dois meses no
meio ambiente, principalmente na água, podendo contaminar novamente a água e os
alimentos que podem ocasionalmente serem ingeridos por um hospedeiro.

Tanto os cistos quanto os trofozoítos podem ser encontrados nas fezes, porém
os cistos possuem uma maior capacidade de sobreviverem fora do corpo do hospedei-
ro, já o trofozoíta possui um curto tempo de vida quando alcança o meio externo. Os
cistos não são eliminados de forma contínua todos os dias nas fezes, existe um período
de negativação (não liberação de cistos) que variam de sete a 14 dias, dependente do
ciclo biológico da intensidade da infecção e multiplicação do parasita (NEVES, 2016).

100
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

FIGURA 3 – CICLO BIOLÓGICO GIÁRDIA SP.

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3d7VXNh>. Acesso em: 7 jul. 2020.

2.4 SINTOMATOLOGIA
A maioria das infecções causadas por G. lamblia é assintomática. Os casos
sintomáticos estão relacionados a diversos fatores que ainda não estão bem
esclarecidos e estão relacionados com a cepa e o número de cistos ingeri-
dos, a resposta imunológica do indivíduo e, especialmente, a baixa acidez
estomacal (acloria) (FREITAS; GONÇALVES, 2015, p. 68, grifo do autor).

O sintoma mais presente em pacientes sintomáticos é a diarreia aquosa in-


tensa, alguns autores relatam que a diarreia é tão grave que o paciente sente uma dor
abdominal aguda e acontece de forma rápida e intensa. A diarreia é do tipo aquosa,
explosiva, de odor fétido, acompanhada de gases, com distensão e dores abdominais.
Essa forma aguda tem duração de poucos dias, os seus sintomas iniciais podem ser
confundidos com outras diarreias causadas por vírus e bactérias (NEVES, 2016).

Em muitos casos, especialmente em crianças (na fase inicial da infecção) e no


adulto com menor frequência (na fase prolongada), essa diarreia crônica pode oca-
sionar problemas de desenvolvimento e crescimento, e quando possuem doenças as-
101
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

sociadas como a de Crohn, celíaca e intolerâncias, elas podem potencializam os seus


sintomas. Uma característica muito marcante do desenvolvimento desse parasita, é
que durante a sua multiplicação no intestino delgado ele ocasiona o que se denomi-
na de “atapetamento intestinal”, o que isso significa? Significa que os trofozoítas do
parasito se multiplicam e ficam aderidos à mucosa intestinal (um do lado do outro,
formando um “tapete”), com isso, a absorção dos alimentos fica totalmente prejudi-
cada, pois a parede intestinal que é a responsável pela absorção não está disponível,
mas totalmente coberta por estruturas parasitárias (NEVES, 2011).

Com isso, temos o aparecimento da síndrome da má-absorção intestinal,


cujas principais vitaminas, como K, E, D e A não são absorvidas, bem como o
ferro, vitamina B12 e xilose. Em decorrência dessa má-absorção o paciente passa
a apresentar, como sintoma, uma diarreia com a liberação excessiva de gordura
nas fezes (pois a absorção foi prejudicada) – esteatorreia – que nada mais é do
que a formação de fezes volumosas, acinzentadas ou claras, geralmente malchei-
rosas que flutuam na água com aparência oleosa. Outros sintomas inespecíficos
também podem estar presentes como náuseas e vômitos, perda de apetite, dor
abdominal e retardo no aprendizado (NEVES, 2011).

2.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

Os portadores assintomáticos de giardíase podem eliminar cistos nas fezes


por até seis meses. Por conta desse grande período de eliminação, temos que tomar
como medidas preventivas de higiene, a realização da ingestão de alimentos bem
lavados e/ou cozidos, lavar as mãos antes das refeições e após o uso de sanitários,
construção de fossas e redes de esgotos, bem como tratar as pessoas doentes. Como
a água é uma das principais fontes de contaminação, o cuidado na ingestão de água
de boa qualidade é essencial, devemos beber água filtrada e/ou fervida. Em estudos
recentes, alguns filtros de barro e areia têm se mostrados eficazes na remoção dos
cistos, pois temos que lembrar que os cistos são resistentes à cloração da água que é
distribuída para a população, por isso todo o cuidado durante o consumo de água,
lembre-se sempre de fervê-la, pois o parasita não resiste às altas temperaturas, isso
vem se demonstrado de forma eficaz no combate a essa parasitose (NEVES, 2016).

O diagnóstico consiste na realização do exame parasitológico de fezes. Em fe-


zes diarreicas espera-se encontrar o trofozoíto através da realização do exame direto a
fresco, utilizando métodos de coloração como hematoxilina férrica ou tricômico, que
são específicos para trofozoítas, vale lembrar que, para a realização desse exame, a
amostra deve chegar e ser analisada em até 30 minutos após a evacuação. Para o exa-
me em fezes formadas, em que cistos predominam, temos a realização dos métodos
de concentração, através da técnica de flutuação, devido à estrutura parasitária ser
“leve”, lembre-se de que se trata de um protozoário, uma única célula realiza todas
as funções do paciente, assim, os parasitas são leves e “flutuam” durante a realização
da técnica, os mais utilizados são os métodos de Faust e Willis (FERREIRA, 2017).

102
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

Como os trofozoítos e, principalmente, os cistos de G. duodenalis são eli-


minados intermitentemente nas fezes, sugerem-se a coleta e o exame
de pelo menos três amostras fecais, colhidas ao longo de uma semana,
para aumentar a sensibilidade do exame parasitológico. Estima-se que a
sensibilidade de um único exame de fezes esteja em torno de 60 a 80%,
enquanto três exames seriados seriam capazes de detectar mais de 90%
das infecções por G. duodenalis (FERREIRA, 2017, p. 66, grifo do autor).

Existem outras formas de realizar o diagnóstico, por exemplo, por meio


da realização de exames imunológicos através da metodologia do ELISA, em que
buscamos a presença de anticorpos nas fezes do hospedeiro, ou através de exa-
mes mais invasivos como é o caso da sondagem duodenal, na qual, através de
uma sonda introduzida no intestino do paciente, obtém-se material para a análi-
se. Ainda são métodos muito pouco difundidos e utilizados, devido à invasão e
alto custo, mas quem sabe em um futuro próximo não sejam os melhores méto-
dos? Vamos aguardar (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

DICAS

Acesse o vídeo no canal do YouTube e esclareça suas dúvidas sobre o protozo-


ário Giárdia sp. Esse vídeo nos traz, de uma forma ilustrativa e dialogada, as principais etapas
do ciclo biológico dessa parasitose. Vamos embarcar nessa?

FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=3hXmjRCRbzU>. Acesso em: 7 jul. 2020.

103
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

LEITURA COMPLEMENTAR

Giardíase como causa pouco frequente de anemia ferropênica

RESUMO

A giardíase é uma infecção intestinal causada pelo protozoário Giárdia lam-


blia. Afeta principalmente crianças e imunocomprometidas. As manifestações clí-
nicas são variáveis, podendo traduzir-se por diarreia, má-absorção, por vezes com
anemia ferropênica ou ser assintomática. Descrevemos um caso de uma paciente, 35
anos, ama em infantário, referenciada ao serviço de urgência por anemia (hemoglo-
bina 6,6g/dL, em análises realizadas por astenia e palidez com dois meses de evolu-
ção), sem perdas hemáticas visíveis e com amenorreia há oito meses. Analiticamente,
destacava-se: anemia microcítica, hipocromica grave e ferropênica. Fez endoscopia
digestiva alta e o exame histológico da mucosa duodenal, revelou arquitetura pre-
servada e infecção por Giárdia lamblia. Iniciou terapêutica com ferro e metronidazol,
com melhoria clínica e laboratorial. Este caso pretende realçar a importância da giar-
díase no diagnóstico diferencial das síndromes de má-absorção intestinal.

Palavras-chave: Anemia. Ferropênica. Giárdia sp.

INTRODUÇÃO

A giardíase é uma infecção intestinal causada pelo protozoário Giárdia lamblia


(também conhecida por G. intestinalis ou G. duodenalis). A transmissão é fecal-oral, ha-
vendo por vezes surtos de infecção em infantários e centros de dia. É mais frequente
em crianças e em doentes com síndrome imunodeficiência adquirida, deficit seletivo
de IgA, fibrose cística e imunodeficiências humorais, por exemplo, imunodeficiência
comum variável. A doença pode ser assintomática ou manifestar-se nas formas agudas
por diarreia ou dor abdominal, e nas formas crônicas por distensão abdominal, ano-
rexia e má-absorção. A má-absorção, por sua vez, é uma causa frequente de anemia
ferropênica, a par da ingestão inadequada de ferro e das perdas hemáticas. O diagnós-
tico de giardíase faz-se pela detecção de trofozoítos ou cistos de Giárdia nas fezes por
microscopia direta, ou pela pesquisa de antígenos de Giárdia por ELISA (Enzyme-linked
immunosorbent assay) ou por aspirado de líquido ou biópsia duodenal.

O tratamento deve ser instituído em indivíduos sintomáticos e em porta-


dores assintomáticos, em que haja risco de transmissão a grávidas ou imunocom-
prometidos, sendo os fármacos de eleição o tinidazol ou o metronidazol. Descre-
vemos um caso de anemia ferropênica por giardíase, numa doente adulta.

CASO CLÍNICO

Paciente do sexo feminino, 35 anos, raça caucasiana, ama em infantário,


referenciada pelo médico assistente ao serviço de urgência por anemia (hemoglo-

104
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

bina 6,6g/dL em análises realizadas por fadiga e palidez com dois meses de evo-
lução). Negava perdas hemáticas visíveis, estando em amenorreia há oito meses.
Excluída gravidez, com teste imunológico da gravidez negativo. Sem sintoma-
tologia gastrointestinal ou outras queixas de órgãos ou sistemas. Sem restrições
dietéticas. Sem história de infecções recorrentes ou viagens prévias.

A doente tinha história prévia de esquizofrenia, asma brônquica e rinite alérgica.


Medicada em ambulatório com fluoxetina, diazepam, ciamemazina e paliperidona. Sem
cirurgias ou internamentos anteriores. Sem história familiar relevante, nomeadamente
de anemia. Ao exame objetivo apresentava palidez muco cutânea, sem outras alterações.

Nos exames complementares de diagnóstico, analiticamente destacava-se


anemia microcítica e hipocromica [Hg 6,8 g/dL, volume globular médio (VGM)
72,8 fL, hemoglobina globular média (HGM) 21 pg], ferropênica (ferritina 2 µg/
mL); leucocitose 16900/uL, com fórmula leucocitária normal; trombocitose (pla-
quetas 639000/µL); doseamentos de vitamina B12 e ácido fólico normais (337 pg/
mL e 5,03 ng/mL, respectivamente); ausência de alterações sugestivas de hemó-
lise (bilirrubina total, desidrogenase láctica e haptoglobina normais); função ti-
reoidiana normal; função renal e perfil hepático sem alterações; velocidade de
sedimentação 50 mm; sorologia para vírus imunodeficiência humana (VIH) 1 e
2 negativa, dosagem de imunoglobulinas séricas normal. Dada a inexistência de
perdas hemáticas, na investigação diagnóstica, foram pedidos anticorpos (Ac) as-
sociados à doença celíaca, apresentando Ac antigliadina IgA positivo, IgG negati-
vo, Ac antirreticulina e Ac antitransglutaminase IgA e IgG negativos.

Fez endoscopia digestiva alta (EDA) que mostrou gastropatia do corpo e


antro e duodeno sem lesões da mucosa visualizada. Foram realizadas biópsias
cujo exame histológico demonstrou:

Gastrite crônica atrófica ligeira, com pesquisa de Helicobacter pylori negati-


va; e 2) Duodenite de etiologia infecciosa, com arquitetura da mucosa preservada,
infiltrado inflamatório linfoplasmocitário intraepitelial e estruturas parasitárias
de morfologia compatível com Giárdia (imagem a seguir)

105
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

Com base nestes achados, admitiu-se anemia ferropênica consequente da


giardíase, iniciando terapêutica com ferro oral e metronidazol 250 mg, três vezes/
dia, durante cinco dias.

Um mês após ter completado a terapêutica com metronidazol, verificou-


-se melhoria clínica, com recuperação da fadiga e analítica: hemoglobina 13,8g/
dL, VGM 85,5 fL, HGM 27,1 pg, ferro 60 µg/dL, ferritina 103µg/mL. Atualmente,
mantém seguimento na consulta de Medicina Interna.

DISCUSSÃO

A giardíase é uma entidade mais frequente em crianças e em imunocom-


prometidos e uma das doenças parasitárias mais comuns quer em países subde-
senvolvidos quer em países desenvolvidos. A transmissão dá-se principalmente
através dos quistos da Giárdia lamblia, pela via fecal-oral ou através de águas
contaminadas, podendo ser evitada através de cuidados de higiene e fervura ou
filtragem das águas. No caso apresentado, a paciente tinha como fator de risco o
fato de ter trabalhado numa creche, onde é frequente a transmissão pessoa-pes-
soa, sem quadro sugestivo de neoplasia e não havendo evidência de imunossu-
pressão: sorologias HIV 1 e 2 negativas, doseamento de imunoglobulinas séricas
normal, sem história pregressa de infecções recorrentes.

Este caso ilustra uma forma crônica de infecção por Giárdia lamblia, com
síndrome de má-absorção e sintomas decorrentes da anemia, sem sintomatologia
gastrointestinal. A síndrome de má-absorção na giardíase pode cursar também
com diarreia crônica, esteatorreia, deficit de vitamina A, vitamina B12, tiamina,
ácido fólico, proteínas e ferro.

Vizia et al. (1985) estudaram dez crianças com giardíase (documentada em bi-
ópsia duodenal), oito apresentavam anemia ferropênica. As oito crianças foram sub-
metidas a teste de sobrecarga de ferro oral (6mg/kg/dia), antes da terapêutica com
metronidazol, obtendo-se respostas inferiores ao desejado (ferro sérico em média
30±33 g/dL). Após terapêutica com metronidazol (20mg/kg/dia, dez dias), a resposta
foi normal, com aumento do ferro sérico (ferro sérico em média de 126±61µg/dL).

Os mecanismos de má-absorção na giardíase ainda não são completamen-


te conhecidos, podendo resultar de lesão epitelial, produção de enterotoxinas, al-
teração da motilidade intestinal ou hipersecreção de fluídos. Contudo, a maioria
das biópsias duodenais de doentes infectados mostraram mucosa com estrutura
maioritariamente preservada, como aconteceu no caso descrito.

O diagnóstico de giardíase, faz-se habitualmente por análise das fezes,


recorrendo-se a aspirado de líquido duodenal ou biópsia quando o exame das
fezes em doente com diarreia é negativo ou quando é necessário excluir outras
patologias. Neste caso, o exame das fezes não foi realizado, pois a paciente não
apresentava diarreia e toda a investigação foi no sentido de esclarecer a etiologia
da anemia ferropênica, tendo a EDA um papel fundamental.

106
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

Nas mulheres pré-menopausa, a etiologia mais frequente de anemia ferropêni-


ca, são as perdas hemáticas menstruais. No caso apresentado, estas eram inexistentes,
dado a paciente estar em amenorreia, provavelmente secundária à gravidade da ane-
mia e sua cronicidade, bem como por eventual efeito secundário dos fármacos do foro
psiquiátrico. Na consulta de reavaliação, a doente referia menstruações regulares. As-
sim, tendo em conta esses fatores, não foram pesquisadas outras causas de amenorreia.

Vários estudos têm reforçado a importância da EDA no estudo de anemia


ferropênica, sem perdas hemáticas visíveis, bem como da biópsia duodenal, prin-
cipalmente quando os exames endoscópicos revelam uma mucosa macroscopica-
mente sem alterações.

Num estudo de Gonen et al. (2007) 100 doentes foram submetidos à EDA com
biópsias duodenais, para estudo de anemia ferropênica. Foram previamente excluí-
dos doentes com evidência de hemorragia gastrointestinal, doença celíaca conhecida,
coagulopatia ou terapêutica com anticoagulantes orais ou outras patologias, como ta-
lassemia ou neoplasias conhecidas, que poderiam justificar anemia ferropênica. Dezoi-
to pacientes apresentavam lesões potencialmente hemorrágicas (úlceras gástricas ou
duodenais, esofagite, hérnia do hiato), 15 com gastrite atrófica do corpo e 47 com Heli-
cobacter pylori. As biópsias duodenais em três pacientes foram compatíveis com doença
celíaca e em dois pacientes com giardíase. Neste estudo, a biópsia duodenal permitiu
um diagnóstico adicional em 5% dos doentes. Apesar do pequeno número de doentes
na amostra com diagnóstico de giardíase, essa deve ser levada em conta, como etiolo-
gia de anemia ferropênica, principalmente em áreas endêmicas e em contextos epide-
miológicos apropriados (crianças ou trabalhadores em infantários ou centros de dia).

Hopper et al. (2003) reportaram o caso de seis doentes, com idades entre 42-62
anos, cinco com sintomatologia gastrointestinal, como perda de peso, dor abdominal
e flatulência, e um com anemia ferropênica. Nenhum apresentava diarreia. Foram
submetidos à EDA com biópsia duodenal, cuja histologia revelou presença de giardí-
ase, sem outras alterações da arquitetura intestinal. No caso apresentado, a resposta
ao tratamento com metronidazol e ferro foi favorável, com recuperação do nível de
hemoglobina e dos depósitos de ferro, como tem sido descrito na literatura.

Kasirga et al. (2009) reportaram um caso de um doente de 14 anos, com quei-


xas de palidez, fadiga e diarreia, submetido à EDA, na sequência de investigação de
anemia ferropênica. O exame histológico das biópsias efetuadas mostrou infiltrado
inflamatório intraepitelial e numerosos trofozoítos de Giárdia aderentes à mucosa
duodenal. Iniciou terapêutica com metronidazol (30mg/kg/dia) e ferro oral (3mg/kg/
dia), com aumento de 2g/dL da hemoglobina após sete dias de terapêutica.

Um estudo realizado por Olivares et al. (2004) demonstrou também a impor-


tância do tratamento da giardíase na recuperação da ferropênica. Vinte e seis crian-
ças com anemia ferropênica e giardíase foram medicadas com tinidazol (850mg/
kg/dia, duas doses, separadas por duas semanas) e, subsequentemente, com me-
tronidazol (25mg/kg/dia, sete dias), caso não houvesse erradicação, confirmada por
análises das fezes, sem terapêutica concomitante com ferro. A hemoglobina média

107
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

antes do tratamento era de 12,66±0,92 g/dL, o ferro sérico médio de 66,68±25,74µg/


dL e a ferritina média de 27,74±24,71ng/dL. Após o tratamento registou-se um au-
mento estatisticamente significativo do ferro sérico médio (78,61±23,63µg/dL) e da
ferritina média (35,37±23,55ng/mL); o aumento da hemoglobina não foi estatistica-
mente significativo (hemoglobina média 12,74±0,56g/dL).

A anemia ferropênica é também uma manifestação extraintestinal comum


de doença celíaca e tem sido descrita como sendo, por vezes, a única manifestação
da doença. O diagnóstico depende não só da sintomatologia, como da presença
de anticorpos antigliadina, antirreticulina e, principalmente, antitransglutamina-
se e antiendomísio, mais específicos de doença, da biópsia intestinal (com atrofia
da mucosa e hiperplasia das criptas) e da presença de HLADQ2 e/ou HLA-DQ8.
Uma melhoria clínica e um declínio nos níveis de anticorpos em resposta a dieta
sem glúten também suportam o diagnóstico de doença celíaca.

No entanto, os anticorpos antigliadina têm-se revelado pouco específicos


no despiste de doença celíaca em doentes com giardíase. Sorell et al. (2004) es-
tudaram a presença de doença celíaca em 40 doentes com giardíase. A suspeita
de doença celíaca era considerada na presença de biópsia intestinal com atrofia
da mucosa e pelo menos um anticorpo positivo (foram doseados os antigliadina
IgA e antitransglutaminase IgA). Dos 40 doentes estudados, 37 tinham biópsia
intestinal normal e antitransglutaminase IgA negativo e sete doentes tinham an-
tigliadina IgA positivo. Os 3 pacientes restantes apresentavam atrofia intestinal
na biópsia, 2 deles com ac antigliadina IgA e antitransglutaminase IgA positivos
e um com ambos os anticorpos negativos. Considerou-se a atrofia intestinal neste
último doente com consequência da giardíase, tendo havido normalização da ar-
quitetura intestinal após terapêutica de erradicação do parasita.

No caso descrito, a paciente apresentava Ac antigliadina IgA positivo (o menos


específico de doença celíaca), sem alterações na arquitetura da mucosa duodenal, e
com boa resposta clínica e recuperação da anemia após terapêutica com metronidazol.

Este caso reveste-se de particular interesse, por um lado porque ilustra


uma etiologia pouco frequente de anemia ferropênica em adultos imunocompe-
tentes, com sintomatologia inespecífica, e, por outro lado, porque realça a impor-
tância da biópsia duodenal em doentes com exames endoscópicos macroscopica-
mente normais e com suspeita de síndrome de má-absorção.

FONTE: CAETANO, J.; NEVES, M.; CARDOSO, F. Giardíase como causa pouco frequente de ane-
mia ferropênica. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3jzR3ee. Acesso em: 7 jul. 2020.

108
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

3 TRICHOMONAS SP.

Nesse subtópico, vamos estudar um parasita muito importante, principal-


mente nos dias atuais, em que os julgados de falta de informação e sexo desprote-
gido sem consciência, são as principais causas dessa patologia. É muito importan-
te ressaltarmos a importância de conhecermos o causador da triconomíase que é a
patologia ocasionada pelo protozoário Trichomonas sp. e quais as manifestações
clínicas que ela pode ocasionar. A infecção por esse protozoário está cada vez
mais frequente e ocasionando danos, muitas vezes irreparáveis.

É importante ressaltar que a tricomoníase trata-se de uma IST (infecção sexu-


almente transmissível), ou seja, é transmitida via sexual, e a sua incidência está cada
dia maior, sendo assim, pergunto para você, se a infecção por Trichomonas sp. está
cada dia maior, como encontra-se então a infecção por HIV, hepatite B, C, sífilis, go-
norreia e afins que possuem a mesma via de contágio? É algo assustador de pensar!

Trata-se de uma parasitose cosmopolita, acometendo pacientes entre os


16 até 35 anos, incidindo com maior frequência em mulheres. Estatísticas mun-
diais e do Brasil registram taxas que oscilam entre 20 a 40% de positividade em
pacientes examinadas. Nos homens o acometimento é muito menor, fato que
pode ser explicado devido ao diagnóstico ser realizado com maior dificuldade,
e porque os sintomas são brandos, o que não leva o paciente, muitas vezes, à
consulta médica. Nas pacientes jovens virgens a infecção pode ocorrer, sempre
em menor percentual, devido ao uso de fômites contaminados, como é o caso de
roupa de cama, roupas íntimas contaminadas durante a lavação em conjunto etc.
A contaminação também pode ocorrer no bebê no momento do parto se a mãe
estiver contaminada e não ter realizado o tratamento (REY, 2018).

A tricomoníanse é incomum na infância (de um a dez anos de idade), já que


as condições vaginais (baixo pH) não favorecem o desenvolvimento da pa-
rasitose. Portanto, quando diagnosticada em criança, deve ser cuidadosa-
mente pesquisada, averiguando-se as possibilidades tanto de abuso sexual
quanto de outras fontes de infecção, que não sexual (NEVES, 2016, p. 130).

São conhecidas várias espécies de Trichomonas sp. na natureza, sendo parasita


de diversos hospedeiros, como insetos, pássaros, répteis, animais domésticos, peixe e
o homem. Dentre as espécies de parasita temos a espécie vaginalis, que é patogênica e
causa grandes problemas ao homem, as espécies tenax e hominis que são não patogê-
nicas e habitam o trato intestinal de humanos, sem causar danos. A espécie vaginalis
tem como característica sobreviver em água tratada e piscinas, podendo resistir 6h em
secreção vaginal e 2h em água entre 20 °C a 40 °C (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

Existem alguns fatores que influenciam a instalação da parasitose, como altera-


ção da flora bacteriana vaginal, aumento do pH maior que 5,0, promovendo um ambien-
te suscetível ao estabelecimento da infecção, aumento de glicogênio (a utilização do gli-
cogênio das paredes vaginais eleva o pH), aumento da descamação epitelial, redução dos
Lactobacilos acidophilus. Enquanto o número de organismos na vagina diminui durante a

109
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

menstruação, os fatores de virulência mediados pelo ferro contribuem para a exacerba-


ção dos sintomas, além disso, ele pode se revestir de proteínas plasmáticas do hospedeiro
impedindo que o sistema imune reconheça o parasito como estranho, assim, são inúme-
ros os mecanismos utilizados pelo parasita para conseguir se desenvolver e multiplicar
ocasionando uma patologia no seu hospedeiro (NEVES, 2016).

3.1 MORFOLOGIA

A única forma morfológica do parasita é o trofozoíto (Figura 4), ele sobre-


vive muito pouco tempo fora do trato gênito-urinário. Sua forma típica é alongada,
ovoide ou piriforme, mede 10 a 30um de comprimento por 5 a 12 um de largura.
Possui quatro flagelos livres (polo anterior, denominado canal periflagelar) que se
dirigem para frente e um flagelo voltado para trás, denominado membrana ondu-
lante. O núcleo é grande, alongado e situado na metade anterior do corpo celular,
no citoplasma encontram-se vacúolos, membranas do retículo endoplasmático e
granulações. A presença de granulações é bem característica do parasita, porém,
confunde a cabeça do examinador no momento do diagnóstico morfológico do pa-
rasita, vale ressaltar que isso acontece, porque durante a realização do exame, na
busca da estrutura morfológica do Trichomonas, ele pode ser facilmente confundido
com um leucócito, quando realizado o diagnóstico em preparações não coradas.
Por isso, cuidado! Uma dica é: o Trichomonas estará em movimento (devido a sua
membrana ondulante) no momento da realização do exame, já o leucócito estará
parado, sem movimentos. Além disso, ainda possui o axóstilo: rígida e hialina for-
mada por microtúbulos que se projeta no centro do organismo para sustentação, a
costa que circunda o citoplasma e o corpo parabasal (REY, 2018).

A sua reprodução ocorre através da divisão binária, não se discute na lite-


ratura formas de multiplicação sexuada. Também não há formação de cistos para
a propagação. As outras espécies do parasito possuem a morfologia do trofozoíta
semelhante ao da espécie vaginalis, porém são muito raras de serem encontras e
visualizadas, e por isso não serão tratadas nesse tópico (REY, 2010).

110
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

FIGURA 4 – ESTRUTURA MORFOLÓGICA DO TROFOZOÍTO DE TRICHOMONAS VAGINALIS

FONTE: Neves (2016, p. 126)

3.2 TRANSMISSÃO

A via de transmissão do parasita é através de Infecções Sexualmente Transmis-


síveis (IST), visto que, o protozoário não sobrevive fora do corpo humano, a menos que
seja protegido contra a dessecação. A maioria das pessoas não sabe que está infectada
com o parasita e, portanto, não são tratadas, disseminado ainda mais a parasitose.

O homem é o principal transmissor da parasitose, devido aos sintomas não


serem exacerbados no seu organismo e ficarem em forma de latência, ele não sabe
que é portador do parasita, que se aloja facilmente na uretra, nas vesículas seminais e
próstata, e durante a relação sexual desprotegida, dissemina a parasitose para outros
indivíduos. A vagina da mulher é, geralmente, resistente às infecções e o desenvolvi-
mento da parasitose está envolvido com alterações de flora e pH vaginal (REY, 2010).

NOTA

O autor Neves, em 2011, relata outra forma de contaminação, que não é atra-
vés de relação sexual, e sim adquiridas através de fômites, mas o que seria isso? Você sabe?
Então vamos lá!
Fômites são utensílios de uso comum a mais de uma pessoa, ou seja, uma pessoa contamina-
da pode passar a parasitose para o utensílio e ele ser manipulado ou usado por outra pessoa, e
essa passa a se contaminar e adquiri a parasitose. Exemplos de fômites transmissores de Tricho-
monas são: roupas de cama, assentos de vasos sanitários, artigos de toalete, instrumentos gine-
cológicos contaminados e roupas íntimas, sabe-se que nos dias atuais a transmissão não sexual
é incomum e pode ser aceita para explicar casos de contaminação em crianças e virgens.

O recém-nato também pode adquirir o parasita através de parto normal, se a


mãe estiver contaminada e não ter realizado o devido tratamento, sendo que essa mani-
festação clínica da doença pode acontecer logo após o nascimento ou ainda no decorrer
da vida do bebê. Dentre a porcentagem de contaminação temos valores para mulheres de
20-40%, homens de 10-15% e para bebês durante o parto: 5% (NEVES, 2016).

111
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

3.3 CICLO BIOLÓGICO

O habitat do Trichomonas vaginalis corresponde ao trato geniturinário


masculino e feminino, promovendo a infecção, não sendo capaz de sobreviver fora
do sistema urogenital. Assim, o ciclo biológico dessa parasitose é do tipo monoxê-
nico e sua multiplicação ocorre, assim como em outras tricomoníases, pelo homem
e mulher apresentarem o trofozoíta de T. vaginalis na sua região geniturinária, sen-
do assim, eles atingem a vagina e uretra e colonizam a região, multiplicam-se inten-
samente por divisão binária, eliminando o trofozoíta na secreção vaginal e uretral.

O parasita não apresenta durante o seu ciclo a forma de cisto (que seria a forma
de resistência), somente a trofozoíta, que não sobrevive no ambiente externo. Trata-
-se de um ciclo biológico simples, cuja pessoa contaminada transmite a parasitose em
grandes concentrações para a seu parceiro durante a relação sexual, esse facilmente é
contaminado reiniciando o ciclo com a intensa multiplicação do trofozoíta do parasita
no seu trato urogenital, conforme pode ser observado no Figura 5 (NEVES, 2016).

FIGURA 5 – CICLO BIOLÓGICO DO TRICHOMONAS VAGINALIS

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/34vkGHD>. Acesso em: 27 jul. 2020.

112
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

3.4 SINTOMATOLOGIA

A tricomoníase é altamente específica para o sistema geniturinário, de forma que


não produz sinais ou sintomas na cavidade oral ou sistema digestório. Os homens são ge-
ralmente assintomáticos, e as mulheres apresentam maiores sintomas devido à alteração
do pH vaginal, principalmente durante a menstruação (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

Como principal sintoma ocasionado na mulher temos o prurido vaginal (va-


ginite/vulvovaginite), dor e dificuldade na relação sexual. Ele ocasiona um corrimento
vaginal fluído e abundante de cor amarelo-esverdeada, bolhoso, de odor fétido, duran-
te essa vaginite o colo apresenta-se edematoso e eritematoso com pontos hemorrágicos,
conhecido como colpitis macularis ou colo em aspecto de morango (leva esse nome por-
que o colo apresenta bolhas e vermelhidão, o que faz lembrar um morango, o excesso
de corrimento é relacionado ao leite condensado colocado sobre o morango, lesão essa
bem característica, por isso o nome: colo em aspecto de morango) (NEVES, 2016).

A mulher também pode apresentar, além de doença inflamatória pélvica,


câncer cervical e infertilidade, pois ocorre uma resposta inflamatória que danifica
as células ciliadas da mucosa tubária, inibindo a passagem de espermatozoides
ou óvulos através da tuba uterina. Sintomas são mais acentuados nos períodos
pós menstruais devido a alteração da microbiota (REY, 2018).

Por outro lado, o homem apresenta frequentemente a forma


assintomática. Quando apresenta a forma sintomática, encontra-se
uretrite com fluxo leitoso ou purulento e uma leve sensação de prurido
na uretra. Geralmente, pela manhã̃, antes da passagem da urina, pode
apresentar um corrimento claro, viscoso e pouco abundante, com
ardência ao urinar (FREITAS; GONCALVES, 2015, p. 66).

No homem os sintomas são coceira no interior do pênis, ardor após a micção


ou ejaculação, secreção peniana, incômodo para urinar, pode apresentar uretrite pu-
rulenta, corrimento leitoso, disúria, prurido, ulceração peniana, sensação de queima-
ção após relação sexual, epididimite, infertilidade e prostatite (NEVES, 2011).

Os sintomas da tricomoníase são mais acentuados na período pós-meno-


pausa e durante a gravidez, podendo ocasionar parto prematuro, baixo peso do
bebê, complicações na gravidez, endometriose pós-parto, feto natimorto e inferti-
lidade feminina (NEVES, 2016).

3.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

A profilaxia utilizada para esse parasita nem deveria ser discutida, visto que o
hábito de usar preservativos deveria ser uma prática utilizada por todos, independente-
mente da idade, pois existem relatos de casos de tricomoníase em todas as faixas etárias
(isso inclui os adolescentes, jovens e até idosos). O uso do preservativo é incontestável,
durante todo o percurso sexual, visto que a transmissão ocorre pelo contato sexual.

113
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

Acadêmicos, temos como obrigação disseminar a informação de que o


uso da camisinha é um método não apenas anticoncepcional, mais um método
de proteção contra inúmeras IST, bem como reduzir o número de parceiros, se
um dos parceiros estiver infectado ambos devem realizar o tratamento (FREITAS;
GONÇALVES, 2015).

A transmissão que se acredita ocorrer através de fômites, também deve


haver uma profilaxia específica, principalmente com objetos de uso comum a um
mesmo grupo de pessoas, assim, devemos lavar roupas íntimas separadas se tiver
paciente contaminado, realizar higiene e descontaminação de banheiras e evitar a
utilização de materiais ginecológicos reutilizáveis (MORAES, 2008).

O diagnóstico é realizado através da coleta de secreção uretral, secreção


vaginal, urina 1º jato, esperma, secreção prostática ou subprepucial, dependerá do
paciente e dos sintomas por ele apresentado para a escolha do local de coleta que
será indicado pelo médico. Alguns cuidados devem ser seguidos para a realização
da coleta, como não estar em uso de medicação antiparasitária sistêmica ou tópica,
estar 2h sem urinar, sem realizar higiene de 18 a 24h anterior a coleta e não estar
no período menstrual. O material de secreção uretral e vaginal é colhido através da
utilização de um swab para a realização do exame direto a fresco (REY, 2018).

O exame direto a fresco consiste em adicionar solução salina ao material


de secreção coletado, centrifugar e observar o protozoário móvel, imediatamente
após a coleta, através de preparações não coradas, em microscopia de campo cla-
ro. Sua identificação visual é muito difícil, pois como já havia mencionado, sua
característica morfológica em secreções é muito semelhante a um leucócito, por
isso muito cuidado ao diagnóstico, o Trichomonas sp. é uma estrutura móvel,
você possivelmente verá o parasita em movimento durante a realização do exa-
me. Outra maneira de diagnosticar é através da realização de cultura em meio
seletivos: Kupferberg, Roiron e/ou Diamond, método esse pouco utilizado devi-
do ao tempo para execução de três a sete dias (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

O diagnóstico da tricomoníase, tradicionalmente, depende da


observação microscópica do protozoário móvel, por meio do
exame direto de esfregaços a fresco com auxílio da microscopia
de campo claro e/ou de campo escuro e/ou de contraste de fase,
bem como pela microscopia de esfregaços fixados e corados.
Quando este estudo apresentar resultado negativo, deve ser
complementado pelo exame de cultivo (NEVES, 2016, p. 129).

114
TÓPICO 1 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS

DICAS

Realize a leitura do artigo intitulado Epidemiologia de  Trichomonas vagina-


lis em mulheres. Vale a leitura sobre um tema que está cada vez mais incidente na nossa
população. Disponível em: https://bit.ly/30vTwPB.

115
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os protozoários são organismos unicelulares, em que uma única célula reali-


za todas as funções necessárias para a sua sobrevivência.

• A sua forma de multiplicação acontece através da bipartição ou cissiparidade, em


que uma célula mãe dá origem a duas células filhas, dando continuidade à espécie.

• A estrutura morfológica dos protozoários se divide em trofozoítas e cistos.

• A fase de trofozoíto é a responsável pela sintomatologia no paciente, é difi-


cilmente encontrada no exame parasitológico de fezes devido não terem a
capacidade de sobreviver fora do hospedeiro por mais de 30 minutos.

• O cisto é a estrutura que confere resistência ao parasita e é responsável pela


contaminação e identificação da patologia.

• As doenças causadas por protozoários são chamadas de protozoonoses, geral-


mente quando se fala deles se usa o nome da doença e não do parasita causador.

• A Giárdia sp. foi o primeiro protozoário humano a ser descrito e é o principal


protozoário causador de diarreia no mundo, causando a doença popularmen-
te conhecida como giardíase ou diarreia do viajante.

• O gênero Giárdia trata-se de um protozoário flagelado, que se movimenta


com grande facilidade no meio aquático, por isso sua principal via de disse-
minação é a água.

• O protozoário Trichomonas vaginalis é considerado uma IST (Infecção Sexual-


mente Transmissível) e sua prevalência tem aumentado muito na última década.

• Alguns fatores que influenciam a instalação do Trichomonas, como alteração


da flora bacteriana vaginal, aumento do pH maior que 5,0 promovem um
ambiente suscetível ao estabelecimento da infecção.

• Os homens geralmente são assintomáticos quando contaminados com Tricho-


monas e as mulheres apresentam como principal sintoma o colo edematoso,
eritematoso com focos hemorrágicos, conhecido como “colpitis macularis”.

• O uso de preservativo durante a relação sexual é a melhor forma de proteção


contra o Trichomonas vaginalis.

116
AUTOATIVIDADE

1 Os protozoários são organismos unicelulares, eucarióticos e que apresentam


nutrição heterotrófica. Os protozoários, em sua grande maioria, apresentam
vida livre e são encontrados em diferentes ambientes aquáticos e úmidos.
Existem, no entanto, espécies que vivem em associação com outros organis-
mos, como é o caso dos parasitas. Sobre diagnósti­co laboratorial dos proto-
zoários, analise as sentenças a seguir:

I- A suspeita clínica da doença giardíase é confirmada com o exame de fe-


zes nos pacientes para identificação de cistos ou trofozoítos nas fezes.
II- Esteatorreia é um dos sintomas mais comuns ocasionados pelo protozoá-
rio Trichomonas sp.
III- O encontro de trofozoitos de Giárdia é menos frequente e, geralmente, é
encontrado em pacientes com infecção sintomáticas com fezes emitidas e
analisadas em até 30 minutos após evacuação.
IV- Os trofozoítos são encontrados nas fezes endurecidas da maioria dos in-
divíduos com giardíase.
V- Trichomonas sp. é o protozoário causador da tricomoníase, importante
DST que atinge homens e mulheres sexualmente ativos, e tem como prin-
cipal método diagnóstico o exame a fresco em que se utiliza secreção va-
ginal ou urina como material biológico de escolha.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I, V e IV.
b) ( ) I e II.
c) ( ) I, III e V.
d) ( ) III e V.
e) ( ) I, II e III.

2 A tricomoníase é causada por um protozoário parasita chamado Tricho-


monas vaginalis. A vagina é o local mais comum para essa infecção em
mulheres, e a uretra (canal da urina) em homens. A vaginite por Tricho-
monas é uma infecção vaginal decorrente do protozoário Trichomonas va-
ginalis. A vaginite por Trichomonas costuma ser transmitida sexualmente.
Ela pode causar um corrimento verde ou amarelo que pode ser abundante,
ter odor fétido e ser acompanhado de coceira ou irritação. Sobre o exposto,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O T. vaginalis é conhecido por se enquadrar como uma doença sexual-


mente transmissível.
( ) Existem alguns fatores que influenciam a parasitose, como alteração da
flora bacteriana vaginal, aumento do pH maior que 5,0, fazendo com
que ocorra com mais facilidade da instalação do parasita.

117
( ) A tricomonose é causada pela forma infectante denominada cisto.
( ) O ciclo biológico dessa parasitose é conhecido por ser complexo e hete-
roxênico.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) V – F – F – F.
d) ( ) V – F – V – F.
e) ( ) F – V – V – F.

3 (UFG, 2011) Leia a notícia a seguir:


O número de doenças relacionadas à falta de saneamento básico adequado
é crescente, desde bairros periféricos a condomínios. A contaminação pode
acontecer por diversos fatores, mas o mais comum é pelo contato com es-
goto a céu aberto, água poluída, com urina, fezes humanas ou de animais,
por bactérias ou vírus. De acordo com dados da Organização Mundial da
Saúde (OMS), aproximadamente 1,5 milhão de crianças menores de 5 anos
acabam morrendo por causa da doença relacionadas à falta de esgotamento
sanitário. Em muitos lugares do Brasil a situação ainda é crítica, infelizmen-
te, mais de 100 milhões de brasileiros não possuem serviços de coleta de
esgoto e tratamento de água, esse cenário é uma ameaça para qualidade de
vida da população. O acesso ao saneamento básico, em especial aos servi-
ços de coleta e tratamento de esgoto, é urgente para diminuirmos o número
de internações por diarreia no país. O saneamento ajuda também a melho-
rar a qualidade de vida da população e diminui os gastos com a internação.
A Organização das Nações Unidas alerta que: esgoto a céu aberto é o prin-
cipal problema ambiental no Brasil. Os dejetos lançados indevidamente em
fossas abertas, rios e lagos tornam-se a causa de doenças de importância
para a saúde pública. Com relação à doença causada por protozoário que
pode ter sua incidência aumen­tada pelo problema citado no texto, assinale
a alternativa CORRETA.
FONTE: <https://bit.ly/3fglNyh>. Acesso em: 28 jul. 2020.

a) ( ) Tricomoníase.
b) ( ) Malária.
c) ( ) Giardíase.
d) ( ) Febre amarela.
e) ( ) Teníase.

118
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR ENTAMOEBA


HISTOLYTICA E DEMAIS AMEBAS DE INTERESSE CLÍNICO

1 INTRODUÇÃO

Estudaremos a seguir com maior propriedade a morfologia, o ciclo biológico,


transmissão e a sintomatologia ocasionada pela Entamoeba histolytica e pelas demais
amebas de interesse clínico. Vale ressaltar que é de extrema importância o conhe-
cimento, acerca dessas parasitoses, afim de realizar o diagnóstico da maneira mais
precoce possível e para que a profilaxia seja eficaz ao meio que se encontra inserida.

2 ENTAMOEBA HISTOLYTICA E DEMAIS AMEBAS DE INTERESSE


CLÍNICO

A amebíase, amebose ou diarreia do viajante é o nome dado a patologia oca-


sionada pelo protozoário Entamoeba histolytica, considerado um problema de saúde
pública que leva a óbito anualmente cerca de 100.000 pessoas, sendo a segunda causa
de mortes por parasitoses. O elevado número de pessoas assintomáticas fez Brumpt,
em 1925, sugerir a existência de outras espécies de amebas. De acordo com essa gran-
de variedade, trata-se de um parasita Cosmopolita, que varia de acordo com a região,
no Sul e Sudeste do país a prevalência é em torno de 2,5 a 11%, na região amazônica
atinge até 19% e nas demais regiões fica em torno de 10% (NEVES, 2016).

A maioria das amebas são parasitas comensais: não causam efeitos noci-
vos óbvios ao hospedeiro, como o piolho. As amebas são protozoários com inú-
meros habitats, dentre os de vida livre, que causam patologias, temos a espécie
Entamoeba histolytica, porém várias outras espécies foram descritas como parasitas
naturais do homem, ditas como comensais, por exemplo: Entamoeba coli; E. díspar;
E. hartmanni; E. gengivalis; Endolimax nana; e Iodamoeba butschlii. Outras espécies
catalogadas que também são consideradas de vida livre e, ocasionalmente, cau-
sam problemas ao homem, temos as espécies de Acanthamoeba, Naegleria, porém
são raras no Brasil. As amebas citadas se diferem pela morfologia, principalmente
pelo tamanho e número de núcleos (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

Uma das características de locomoção desse parasito se dá por meio de


pseudópodes, por se tratar de uma ameba, realiza movimentos ameboides, com o
uso dos “falsos pés”, liberando enzimas (hialuronidase, proteases e mucopolissa-
carídeos) favorecendo a destruição do tecido. Sua membrana plasmática é constitu-
ída de carboidratos, lipídeos e proteínas. São anaeróbios toleram até 5% de oxigê-
nio. Sua adesão no tecido se deve a lectinas contidas na sua superfície (REY, 2018).
119
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

2.1 MORFOLOGIA
Na amebíase encontramos algumas espécies que podem habitar o corpo hu-
mano. É importante destacarmos que apenas a E. Histolytica pode desencadear doen-
ça no homem, apresentando duas formas, uma de resistência e infectante, conhecida
como cisto e uma forma reprodutiva o trofozoíto. Também é importante estudarmos a
morfologia dos outros cistos das principais amebas que podem ser encontradas, mes-
mo que elas não ocasionem danos graves ao seu hospedeiro, é sempre importante lem-
brar que, independente da espécie e da sua patogenia, o estado de saúde do hospedeiro
é fator determinando no aparecimento de sintomas (FREITAS; GONÇLAVES, 2015).

A E. Histolytica apresenta como característica morfológica a estrutura de cis-


to, que é a sua forma de resistência eliminada nas fezes, esses são esféricos ou ovais,
possuem de um a quatro núcleos redondos com cromatina periférica, podendo serem
corados por lugol ou hematoxilina férrica, tornando-se mais visíveis. Encontramos
também no citoplasma do cisto regiões que se coram de castanho pelo lugol, chamados
de vacúolos de glicogênio, conforme pode ser observado na Figura 6 (NEVES, 2016).

FIGURA 6 – ENTAMOEBA HISTOLYTICA

FONTE: Ferreira (2017, p. 59)

A forma reprodutiva da E. Histolytica é encontrada somente em fezes diar-


reicas, possui forma arredondada, com a presença de apenas um único núcleo,
pleomórfico, ativo, alongado, com a emissão de pseudópodes grossos e hialinos
necessários para a sua movimentação no interior do organismo do seu hospedei-
ro. É pesquisado na fase aguda da doença, com fezes emitidas e levadas imedia-
tamente ao laboratório (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

As demais espécies de amebas que temos presentes, distinguem-se uma das


outras pelo tamanho do cisto, pela estrutura e pelo número de núcleos no seu inte-
rior. Para que seja feito o diagnóstico diferencial seguro, é necessária a observação das
várias estruturas em uma única amostra. Lembrem-se de que as outras espécies de
amebas não são consideradas patológicas ao homem, porém são identificadas e rela-

120
TÓPICO 2 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR ENTAMOEBA HISTOLYTICA E DEMAIS AMEBAS DE INTERESSE CLÍNICO

tadas sua presença no laudo do exame parasitológico. Portanto, vamos conhecer um


pouco mais sobre a morfologia das principais espécies que podem ser encontradas.

A espécie de ameba Entamoeba coli se apresenta como uma pequena esfera,


medindo 15-20um, contendo até oito núcleos, com presença de corpos cromatoides
finos, semelhantes a feixes ou agulhas no seu interior (Figura 7) (NEVES, 2011).

FIGURA 7 – CISTO DE ENTAMOEBA COLI

FONTE: Ferreira (2018, p. 33)

Entamoeba hartmanni é frequentemente confundida com a E. histolytica. Medem


de 5 a 10um. Possuem quatro núcleos menores, a cromatina apresenta-se grosseira e
irregular, possui corpos cromatoides pequenos e arredondados. A sua diferenciação
morfológica visível pela microscopia é difícil de ser realizada quando comparada com
a E. Histolytica, devido a sua grande semelhança. Já a espécie Endolimax nana é a menor
ameba que existe. Mede 8um, tem formato oval e possui quatro núcleos pequenos e, às
vezes, podem ser vistos corpos cromatoides pequenos e ovoides. Por isso, é bem im-
portante que no momento da visualização através da microscopia, você tenha destreza
de manusear o parafuso micrométrico, pois, através desse ajuste, os núcleos do parasita
tornaram-se mais visíveis e isso facilitará o seu diagnóstico (MORAES, 2008).

A espécie Iodamoeba butschlii (Figura 8) é uma ameba pequena, mede de


10-15um, é comumente encontrada, mas não causa danos ao seu hospedeiro. Pos-
sui um só núcleo e um grande vacúolo de glicogênio que quando corado pelo
lugol toma a cor castanho-escuro.

121
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

FIGURA 8 – CISTO DE IODAMOEBA BUTSCHLII

FONTE: Ferreira (2018, p. 70)

NOTA

Você conseguiu perceber a importância da identificação morfológica dos dife-


rentes protozoários para um correto diagnóstico?! O tratamento do paciente e a conduta a
ser adotada pelo médico são baseados nos resultados laboratoriais de análises parasitológi-
cas. Por esse motivo, deixaremos para vocês um site de acesso de atlas virtual que facilitará
a identificação dos protozoários estudados. Disponível em: https://bit.ly/34uxCNA.

2.2 TRANSMISSÃO

A forma de contágio com essa parasitose ocorre através da ingestão de cistos


em alimentos mal higienizados ou lavados com água contaminada ou contaminados
através de veículos, como patas de moscas e baratas, sendo os portadores assintomá-
ticos da parasitose, grandes veículos de sua disseminação. O consumo de água não
tratada e contaminada por dejetos também facilita a contaminação (REY, 2010).

2.3 CICLO BIOLÓGICO

É do tipo monoxênico (Figura 9) e o cisto após ingerido passa por diver-


sas transformações da sua estrutura, de cisto para metacisto, trofozoítos e final-
mente pré-cistos. O ciclo inicia a partir da ingestão dos cistos através de água e
alimentos contaminados. Os cistos passam pelo estômago, resistindo a ação do
suco gástrico, chegam ao final do intestino delgado ou início do intestino grosso
onde ocorre o desencistamento, com a saída do metacisto por meio de uma pe-
quena fenda na parede cística, em seguida, o metacisto sofre sucessivas divisões

122
TÓPICO 2 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR ENTAMOEBA HISTOLYTICA E DEMAIS AMEBAS DE INTERESSE CLÍNICO

nucleares e citoplasmáticas dando origem a quatro e depois oito trofozoítos, esses


migram para o intestino grosso, colonizando-se (NEVES, 2011).

Através de mecanismos ainda desconhecidos, mas possivelmente relacio-


nados à ruptura do equilíbrio intestinal (baixa da imunidade local, alteração da flo-
ra intestinal, lesão da mucosa etc.) os trofozoítas tornam-se patogênicos e invadem
a parede intestinal alimentando-se de células da mucosa e de hemácias. Em geral,
ficam aderidos à mucosa do intestino, vivendo como um comensal, alimentando-se
de detritos e bactérias. Sobre circunstâncias ainda não conhecidas, podem despren-
der da parede e na luz do intestino grosso se transforma em pré-cistos, em seguida
secretam uma membrana cística e se transformam em cisto inicialmente mononu-
cleados. Através de divisões nucleares sucessivas se transformam em cistos tetra
nucleares que são eliminados com as fezes normais ou formadas (NEVES, 2011).

O trofozoíta coloniza o intestino grosso multiplicando-se por divisão bi-


nária e passa a viver como comensal. Ocorre a eliminação de cistos nas fezes
de um paciente contaminado, essas fezes contaminam água e alimentos que são
ingeridos por um novo hospedeiro, que realiza a ingestão de cistos maduros atra-
vés da água e alimentos (NEVES, 2011).

É importante ressaltar que a patogenia da parasitose estará diretamente


envolvida com o estado imunológico do paciente. Se o sistema imune do paciente
estiver bom, o parasita volta a se encistar em pré-cisto, meta e cisto e vai nas fezes
novamente contaminando o ambiente. Se o sistema imune estiver ruim devido
a um desequilíbrio do pH ou da microbiota intestinal, ele tem a capacidade de
perfurar a mucosa intestinal e alcançar a circulação sanguínea indo para fígado,
pulmão e cérebro, ocasionando sérios danos ao seu hospedeiro (REY, 2018).

123
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

FIGURA 9 – CICLO BIOLÓGICO DA ENTAMOEBA HISTOLYTICA

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/33y7kLq>. Acesso em 7 jul. 2020.

2.4 SINTOMATOLOGIA

As classificações das manifestações clínicas da amebíase geralmente são


difíceis e arbitrárias. O Comitê de peritos das OMS, em 1969, propôs a seguinte
classificação: formas assintomáticas, forma sintomática: amebíase intestinal, ame-
bíase extraintestinal: hepática, cutânea, amebíase em outros órgãos e complica-
ções do abscesso hepático (NEVES, 2016).

A forma assintomática é representativa da maioria dos pacientes 80 a 90%


são assintomáticos. É a forma mais encontrada no centro-sul do país. Que não
expressa sintoma (dor, febre, náuseas etc.) ou não produz os sintomas esperados:
doença assintomática. As formas sintomáticas são caracterizadas por colite não
disentérica ou amebiana: se manifesta por duas a quatro evacuações diarreicas
ou não por dia, com fezes moles ou pastosas, às vezes, contendo muco ou sangue.

Pode apresentar desconforto abdominal ou cólicas em geral localizadas


na porção superior. Raramente, há manifestação febril. O que caracteriza essa
forma no nosso meio é a alternância entre a manifestação clínica e períodos si-
lenciosos com funcionamento normal do intestino. A evolução das infecções por
Entamoeba histolytica com representação dos estágios evolutivos eliminados em
cada quadro clínico estão representadas na Figura 10 (FERREIRA, 2017).

124
TÓPICO 2 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR ENTAMOEBA HISTOLYTICA E DEMAIS AMEBAS DE INTERESSE CLÍNICO

A colite desentérica amebiana é caracterizada por uma mucosa intestinal infla-


mada em que o paciente manifesta febre, dor abdominal prolongada, disenteria, dis-
tensão abdominal, flatulência, desidratação, cólicas intestinais e até casos de perfuração
intestinal. A ameba possui uma inexplicável variabilidade quanto ao potencial patogê-
nico e diferença de virulência no que diz respeito a mudar de comensal para um agente
agressivo. O início da invasão tecidual amebiana é resultante da quebra de equilíbrio
parasita-hospedeiro, em favor do parasito; este fato parece estar ligado a diversos fato-
res: localização geográfica, raça, idade, resposta imune, estado nutricional, alcoolismo,
clima, hábitos sexuais e, principalmente, flora bacteriana associada (MORAES, 2008).

As lesões iniciais no intestino grosso multiplicam-se pela submucosa, ganhan-


do profundidade até atingirem o tecido muscular, produzindo necrose. Quando rom-
pem o equilíbrio parasito-hospedeiro, os trofozoítos invadem a submucosa intestinal
multiplicando-se ativamente e podem, através da circulação porta, atingir outros ór-
gãos como o fígado, pulmão, rim, cérebro e pele causando a amebíase extraintestinal.
A forma mais comum de amebíase extraintestinal é a amebíase pulmonar, a invasão
torácica pode ocorrer via hematogênica ou hepatonefrítica, ocorrendo a ruptura do ab-
cesso hepático na cavidade pleural e peritoneal. Ocasiona sintomas como tosse com
expectoração de material gelatinoso ora de coloração achocolatada ora avermelhada,
febre, dor torácica, em casos de infecção bacterianas secundárias: secreção de aspecto
amarelado. Os trofozoítos podem ocasionar a presença de “amebomas” que são mas-
sas de parasitas sobre um órgão que sofreram ação do sistema imune do hospedeiro,
onde ocorreu intensa reação inflamatória e imunológica (NEVES, 2016).

FIGURA 10 – ESTÁGIO EVOLUTIVO DA PATOLOGIA OCASIONADA PELA ENTAMOEBA HISTOLYTICA.

FONTE: Ferreira (2017, p. 60)

125
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

2.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO


A profilaxia da amebíase em caráter definitivo, como também de todas as
demais protozooses intestinais, depende das obras de engenharia sanitá-
ria relativas ao abastecimento da água e a canalização e tratamento de es-
gotos. Algumas medidas complementares podem ser preconizadas para
a prevenção individual, doméstica ou de comunidades segregadas, como
asilos, conventos, prisões, internatos e outras (MORAES, 2008, p. 81).

Algumas medidas complementares que podem ajudar na profilaxia consistem


em tratamento e higiene de mãos de manipuladores de alimentos, proteção de alimen-
tos contra poeira e vetores, higienizar os alimentos com substâncias amebicidas (como
o permanganato de potássio ou iodo) e proteger, principalmente no meio rural, poços
contra a água de enxurradas, devido à contaminação com águas de fossas (REY, 2010).

O diagnóstico é difícil de ser realizado, primeiramente as alterações clínicas


dos pacientes são comuns a várias doenças intestinais. Pode-se fazer o diagnóstico
através de raios X, cintilografia, ultrassonografia e tomografia computadorizada. A
retossigmóidoscopia é um importante método utilizado na visualização das ulcera-
ções, possibilitando a identificação do agente etiológico obtido do material das lesões.

Além de exames imunológicos com a pesquisa de anticorpos no soro, imuno-


fluorescência ou PCR. O diagnóstico parasitológico é através da pesquisa dos trofozo-
ítos em fezes diarreicas, liquefeitas ou mucosanguinolentas ou através da pesquisa de
cistos em fezes formadas ou pastosas, pela metodologia de Faust ou Willis. O exame do
aspecto e da consistência de fezes é muito importante, principalmente se ela é disenté-
rica e contém muco e sangue, a realização do exame colhido em vários dias diferentes
aumenta a probabilidade do encontro do parasita (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

DICAS

Como forma de complementar o conteúdo estudado sobre amebíase, assista


ao vídeo a seguir, além de ter um conteúdo expositivo, possui um resumo sobre as princi-
pais amebas de interesse clínico. Vale a pena o acesso! Disponível em: https://bit.ly/3jyleT7.

126
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A amebíase é caracterizada pela contaminação com a Entamoeba histolytica.


Apesar de existirem muitos gêneros de amebas, como E. coli, E. hartimanni, E.
nana, Iodamoeba butschilli, que não causam danos ao homem.

• Os diferentes gêneros de amebas se diferem pelo tamanho e quantidade de


núcleos presentes.

• A Entamoeba histolytica tem como morfologia ser esféricos ou ovais, possuem


quatro núcleos redondos com cromatina periférica.

• Entamoeba coli é formada por uma estrutura bem arredondada, é a maior das
amebas e possui no seu interior até oito núcleos, com presença de corpos cro-
matoides finos, semelhantes a feixes ou agulhas.

• A Entamoeba hartmanni é morfologicamente parecida com a E. histolytica, pos-


suindo quatro núcleos menores, cromatina, apresenta-se grosseira e irregular,
possui corpos cromatoides pequenos e arredondados

• A espécie Endolimax nana é a menor ameba que existe. Mede 8um, tem forma-
to oval e possui quatro núcleos pequenos.

• A contaminação mais comum dessa parasitose acontece através da ingestão


de água e alimentos contaminados.

• A espécie Iodamoeba butschlii não causa danos ao seu hospedeiro, e possui um


só núcleo e um grande vacúolo de glicogênio.

• Os sintomas relacionados a amebíase variam de pacientes assintomáticos, até for-


mas mais graves como amebíase extraintestinal, ocasionando danos ao órgão afe-
tado, como a formação de granulomas, popularmente conhecido como ameba.

• O diagnóstico deve ser realizado através da observação minuciosa das estru-


turas parasitárias através da realização de métodos parasitológicos.

127
AUTOATIVIDADE

1 A parasitologia é a ciência que estuda os parasitos, seus hospedeiros e as


relações entre eles. Os parasitos são organismos que vivem em associação
com outros hospedeiros, retirando deles os meios para sua sobrevivência,
processo conhecido como parasitismo. Dentre os parasitos temos represen-
tantes dos protozoários (exemplo: Giárdia lamblia) e helmintos (exemplo:
Ascaris lumbricoides). Em um laboratório de parasitologia clínica, em se
tratando do exame parasitológico das fezes, deve-se fazer parte da rotina,
além de técnicas gerais que identificam um maior número de espécies pa-
rasitárias possíveis, técnicas específicas para o atendimento de solicitação
de possíveis suspeitas clínicas. Nesse contexto, caso a suspeita clínica seja
Entamoeba coli ou Entamoeba histolytica e as fezes examinadas sejam de
líquida ou semissólida, para possíveis encontros de cistos destes parasitos.
Mediante o caso, responda:

a) Indique as técnicas mais indicadas para o diagnóstico parasitológico.

b) Qual é o método de transmissão desses parasitas?

c) Descreva a morfologia dos parasitas encontrados.

2 As amebas podem ser de vida livre, comensais ou parasitas. A maioria é


de vida livre e podem ser encontradas em água doce e salgada. As comen-
sais podem viver no corpo humano sem causar prejuízos, como a Entamo-
eba gengivalis, que vive na boca e a Entamoeba coli, que habita o intestino
grosso. Entre as parasitas, destaca-se a Entamoeba histolytica, encontrada
nos intestinos de humanos e que ocasiona a Amebíase. Vários gêneros de
amebas podem habitar o trato digestório do homem: Entamoeba coli, En-
tamoeba histolytica, Endolimax nana e Iodamoeba butchilli. Em relação à
Entamoeba coli, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Tanto os cistos quanto os trofozoítos da E. coli são facilmente detecta-


dos em amostras sólidas, podendo-se utilizar as amostras com mais de
24 horas após a coleta.
b) ( ) Os procedimentos de cultura são amplamente utilizados para o diag-
nóstico e essenciais para determinar a patogenicidade do protozoário.
c) ( ) Os exames de detecção do antígeno por enzima imunoensaio, através
do uso de fezes embora sejam bastante utilizados pela alta sensibilida-
de, são pouco específicos, o melhor método para diagnóstico ainda é
através do método de Baermann e Moraes.
d) ( ) Os cistos de E. coli são esféricos, como diâmetro de 80-120 μm, apre-
sentando de um a três núcleos.
e) ( ) O melhor método para diferenciação da E. histolytica e E.coli é a aná-
lise morfológica diferencial dos cistos, com atenção para a quantidade
de núcleos presentes.
128
3 Cerca de milhões de pessoas que vivem em grandes cidades brasileiras ainda
não têm acesso à coleta de esgoto. A Organização das Nações Unidas alerta
que “esgoto a céu aberto é o principal problema ambiental no Brasil. Os deje-
tos lançados indevidamente em fossas abertas, rios e lagos tornam-se a causa
de doenças de importância para a saúde pública”. De acordo com o Instituto
Trata Brasil, além dos altos risco envolvidos, este cenário representa elevados
gastos em saúde pública. A diarreia, segundo a Unicef, é a segunda maior
causa de mortes em crianças abaixo de cincos anos de idade.

FONTE: Adaptado de <http://www.tratabrasil.org.br/>. Acesso em: 14 out. 2020.

Qual doença, causada por protozoário, pode ter sua incidência aumentada
pelo problema citado no texto?

a) ( ) Tricomoníase.
b) ( ) Malária.
c) ( ) Amebíase.
d) ( ) Dengue.
e) ( ) Teníase.

129
130
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

ENTEROPARASITOSES CAUSADAS
POR HEMOPARASITAS

1 INTRODUÇÃO

Os protozoários que realizam parte do seu ciclo biológico na circulação


sanguínea do seu hospedeiro, levam o nome de hemoparasitas. As hemoparasi-
toses são as doenças mais negligenciadas no mundo, constituindo um importante
problema de saúde social e econômico (FERREIRA, 2017).

A patogenicidade dos flagelados que vivem no homem decorre da sua


localização, sendo mais intensa a do sangue e líquor. Nesse caso, o parasita entra
em contato direto com o sangue e/ou líquor, de modo que suas secreções e excre-
ções são imediatamente difundidas no organismo ou exercem ação direta sobre
as células sanguíneas (MORAES, 2008).

Devido à grande incidência e importância dos parasitas sanguíneas, va-


mos, a partir de agora, estudá-los com mais detalhes, visto que a contaminação no
organismo acontece, na maioria das vezes, através do intermédio de um vetor, ou
seja, algum inseto que entra em contato direto com o homem e transfere a ele sua
parasitose, são esses os detalhes que estudaremos nesse tópico, então, vamos lá!

2 TRYPANOSSOMA CRUZI

O Trypanossoma cruzi é um protozoário causador da doença de Chagas.


Este protozoário e sua doença foram descritos pelo grande cientista Carlos Ribei-
ro Justiniano das Chagas, em 1909. Essa doença determina no homem, quadros
clínicos com características e consequências muito variadas. Destacam-se por sua
gravidade cardiopática e dilatações de órgãos digestivos, que são responsáveis
por elevada mortalidade, especialmente na fase crônica da doença (REY, 2018).

De acordo com dados do Ministério da Saúde, foram registrados 945 casos


de doença de Chagas aguda no Brasil no período de 2000 a 2010. Estima-se
que existam no Brasil cerca de 2 milhões de indivíduos infectados e que na
América Latina aproximadamente 8 milhões de indivíduos estejam infec-
tados, com 14 mil óbitos por ano (FREITAS; GONÇALVES, 2015, p. 50).

Carlos Chagas estava diretamente envolvido nos estudos da malária, em


Minas Gerias, onde estava sendo construída a estrada de ferro no Brasil. Durante a
busca por informações sobre as principais patologias existentes na região, observan-

131
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

do através da microscopia, ele identificou um hemoflagelado com movimentação


intensa em “chupões ou barbeiros”, que são insetos hematófagos (que se alimentam
de sangue), e a partir disso, dedicou seus estudos ao parasita, seus aspectos patológi-
cos e o quadro clínico por ele ocasionado. Em seguida, identificou sua presença em
triatomíneos (barbeiros) e relacionou o seu encontro em humanos (NEVES, 2016).

O trypanossoma, além de ser encontrado no intestino de triatomídeos, pode-


-se desenvolver no sangue e nos tecidos de diferentes mamíferos, como gambá, tatu,
morcego, rato, macaco, coelho, cão e gato, apresentando a característica de não infectar
aves e nem répteis. A construção da estrada de ferro explica, em partes, o que aconteceu
para o aparecimento dessa antropozoonose. Inicialmente, os principais reservatórios
do parasita eram encontrados em seu ciclo silvestre, ou seja, na mata, contaminando ta-
tus, gambás, alguns roedores e morcegos, e devido à inserção do homem no ambiente
silvestre, ocasionada pela construção da estrada de ferro (ferrovias), ocorreu a inserção
de moradias precárias e a domiciliação dos triatomíneos, sendo hoje o homem e peque-
nos mamíferos domésticos os principais reservatórios (NEVES, 2011).

O que Chagas passou anos observando foi o inter-relacionamento ecológico de


diferentes seres no mesmo habitat. E encontrou nas casas construídas de pau a pique,
de forma precária, o nicho de hemípteros hematófagos que traziam no seu tubo diges-
tivo o protozoário Trypanossoma, e o observou também no sangue de pessoas doentes
que viviam nessas casas. Constituiu, assim, que a doença de Chagas é intradomiciliar
em razão da exigência alimentar dos triatomíneos que são obrigatoriamente hemató-
fagos, sugam indiferentemente o sangue do homem e dos mamíferos domiciliados,
doentes e sadios, transmitindo o parasito de uns aos outros (MORAES, 2008).

Falando um pouco sobre a região Sul do Brasil, não é considerada área en-
dêmica de triatomídeos. O surto de contaminação aconteceu em 2005, vinte e quatro
pessoas foram contaminadas, resultando em três mortes, que foram em decorrência
do consumo de caldo de cana. A manipulação de forma insalubre da cana-de-açú-
car estava contaminada com o triatomídeo que foi processado com o alimento e
consumido suas excretas pelas pessoas, ou seja, não foi através da picada do tria-
toma, foi pela sua ingestão, visto que ele foi processado com a cana-de-açúcar para
dar origem ao caldo de cana. Com base nisso, criou-se um bloqueio quanto ao con-
sumo da bebida proveniente do caldo de cana, mas se a base do caldo, que é a cana,
for devidamente higienizada, não existe problema em seu consumo. Por isso, fique
ligado, as condições sanitárias do local quando for consumir um caldo de cana.

132
TÓPICO 3 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HEMOPARASITAS

NOTA

O último dia 30 de janeiro 2020 foi marcado pelo primeiro Dia Mundial das
Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs), um esforço de mais de 280 instituições de pes-
quisa, organizações da sociedade civil, empresas e governos ao redor do mundo para ex-
pressar a necessidade urgente de reunir esforços e investimentos globais para esse tema.
Uma das doenças muito debatidas nesse dia trata-se da doença de Chagas. Realize a lei-
tura completa da notícia divulgada pela revista saúde da Editora Abril: https://bit.ly/3jAKwjt.

2.1 MORFOLOGIA

A morfologia do parasita Trypanossoma é relacionada com suas formas evolu-


tivas e seu hospedeiro, sendo ele encontrado no vetor ou em mamíferos (isso inclui o
homem), e também relacionado com os principais estágios de vida do parasito. Temos,
com isso, as formas, amastigotas, epimastigota e tripomastigota (FERREIRA, 2017).

A forma amastigota é encontrada no hospedeiro mamífero, é o estágio cujo


parasita é capaz de se dividir, mas não de infectar células. Possui forma arredondada
ou oval, flagelo que não se exterioriza, pouco citoplasma e núcleo grande, é a fase intra-
celular, portanto, sem organelas de locomoção. Está presente na fase crônica da doença,
encontrada nos tecidos, onde se multiplicam intensamente até se tornarem tripomasti-
gotas e serem liberadas da célula tecidual, caindo na corrente sanguínea (NEVES, 2016).

A estrutura morfológica encontrada nas células teciduais dos triatomídeos


é epimastigota, que é alongada, com cinetoplasto justanuclear e anterior ao núcleo,
com pequenas membranas ondulantes lateralmente, encontrada no intestino do bar-
beiro, onde sofre cissiparidade e transforma-se em tripomastigota, que migra para a
porção anterior do inseto. Esse quadro realizará a sua alimentação através do consu-
mo de sangue, contaminando o paciente com a forma tripomastigota (NEVES, 2011).

Já a forma capaz de contaminar tanto os hospedeiros vertebrados (homem)


quanto os invertebrados (triatomas) é a tripomastigota. Esta possui uma forma
alongada com cinetoplasto posterior ao núcleo, o flagelo forma uma extensa mem-
brana ondulante e torna-se livre na porção anterior da célula. É presente na fase
aguda da doença, portanto, na fase extracelular que circula no sangue (FERREIRA,
2017). É essa estrutura morfológica que deve ser encontrada quando o diagnóstico
é realizado, como pode ser observado na Figura 11 que mostra uma lâmina de es-
fregaço sanguíneo contendo a forma tripomastigota de Trypanossoma cruzi.

133
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

FIGURA 11 – FORMAS TRIPOMASTIGOTAS DE TRYPANOSSOMA CRUZI

FONTE: Ferreira (2017, p. 35)

2.2 TRANSMISSÃO
Os mecanismos de transmissão envolvidos com o Trypanossoma cruzi estão
relacionados, principalmente, com a presença do vetor, os famosos “chupões ou bar-
beiros”, da família dos triatomídeos, que tem como características a hematofagia (se
alimentar de sangue). Dessa forma, a principal via de transmissão acontece à noite
durante o sono, o triatoma, que tem por hábito a hematofagia noturno, pica o ho-
mem (ou qualquer outro mamífero) para se alimentar de sangue, no momento da
picada o vetor defeca e elimina nas suas fezes e urina as formas tripomastigotas. No
local da picada acontece uma reação de hipersensibilidade que se deve as proteínas
encontradas nas fezes do barbeiro, o hospedeiro coça o local da picada que possui
um ferimento (ocasionado pela picada) e isso facilita a entrada das formas tripomas-
tigotas no interior do organismo do hospedeiro. No local da picada, devido à reação
de hipersensibilidade, ocorre uma lesão característica da contaminação do paciente,
chamada de sinal de romanã ou chagoma de inoculação (NEVES, 2011).

Outras formas menos comuns de contaminação acontecem através da trans-


missão vertical ou amamentação, quando uma mãe contaminada com o parasita trans-
mite ao filho as formas tripomastigostas. Através da transfusão sanguínea, que consti-
tui o segundo mecanismo de maior importância epidemiológica, mas nos dias atuais,
os mecanismos para detecção são inúmeros e a transfusão está se tornando cada dia
mais segura, diminuindo cada vez mais sua transmissão por essa via, bem como a con-
taminação através de transplante de órgãos. Outras vias de contato também podem
ocorrer através de acidentes de trabalho, para trabalhadores que manipulam o sangue
ou direto contato com pacientes contaminados e por via oral, através da ingestão de
alimentos contendo as fezes de triatomídeos contaminados (NEVES, 2016).

134
TÓPICO 3 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HEMOPARASITAS

2.3 CICLO BIOLÓGICO

O T. cruzi apresenta um ciclo de vida (Figura 12) bastante complexo, com


algumas formas de desenvolvimento em hospedeiros vertebrados e invertebrados.
Apresenta, portanto, um ciclo de vida heteroxênico, com hospedeiros vertebrados
mamíferos (incluindo o homem) e insetos hemípteros (barbeiro). A contaminação
do vetor, que é um inseto hematófago, ou seja, alimenta-se de sangue, acontece
quando ele pica um mamífero infectado, adquirindo as formas tripomastigotas que
vão para a porção anterior do estômago do inseto. Nesse local, os tripomastigotas
sofrem diferenciação, passando a ser chamados de epimastigotas que, ao alcança-
rem o intestino, multiplicam-se por divisão binária e aderem as membranas intes-
tinais. Em seguida, as formas epimastigotas se soltam e migram para o intestino
posterior, local onde se inicia o processo de diferenciação em tripomastigotas, que
ficam aderidas a mucosa do reto do barbeiro. Durante a hematofagia essas formas
se soltam e são liberadas nas fezes e urina do vetor (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

A contaminação ao homem acontece geralmente durante a noite, pois o bar-


beiro possui hábitos de hematofagia noturnos. Durante a noite, o barbeiro pica o ho-
mem na tentativa de obter seu alimento (sangue). Nesse processo, o barbeiro normal-
mente defeca e urina, depositando sobre o local da picada a forma tripomastigota. As
excreções do barbeiro com as enzimas colagenases presentes na pele desencadeiam
uma intensa reação alérgica, na qual o homem começa a coçar no local da picada,
gerando uma lesão na pele que facilita a penetração das formas tripomastigotas.

Os tripomastigosta alcançam a corrente sanguínea, aderem e invadem vá-


rias células como macrófagos, células musculares e epiteliais. A forma tripomas-
tigota é fagocitada pelo macrófago, dando início à formação do vacúolo parasi-
tóforo, nesse local, a forma tripomastigota sofre diferenciação, transformando-se
em forma amastigota. Após intensa replicação através de divisão binária, ocorre
a análise da membrana do vacúolo parasitóforo, liberando a sua forma já madura
tripomastigota. Essa forma fica livre na circulação sanguínea, e apenas quando o
barbeiro picar novamente o homem, na tentativa de se alimentar, ele vai adquirir
a forma contaminante de tripomastigota e o ciclo reinicia (NEVES, 2016).

135
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

FIGURA 12 – CICLO BIOLÓGICO TRYPANOSSOMA CRUZI

FONTE: Adaptada de Freitas e Gonçalves (2015, p. 50)

2.4 SINTOMATOLOGIA

O T. cruzi, introduzindo-se ativamente no organismo, atinge a derme, dando


início a sua primeira fase de parasitismo. No local da picada surge uma reação infla-
matória do organismo, com infiltrado de leucócitos e, concomitante a isso, há reação
dos gânglios próximos, ocasionando um edema no local, chamado de chagoma de
inoculação. Se as formas penetrarem na mucosa da conjuntiva, haverá intensa reação
inflamatória, com congestão ocular e edema palpebral unilateral, a esse conjunto de
sintomas dá-se o nome de sinal de romanã, como pode ser observado na Figura 13.

FIGURA 13 – SINAL DE ROMANÃ

FONTE: Neves (2016, p. 99)

136
TÓPICO 3 — ENTEROPARASITOSES CAUSADAS POR HEMOPARASITAS

A patologia ocasionada ainda pode ser assintomática ou sintomática,


tudo dependerá do estado de saúde do hospedeiro. Adultos são geralmente as-
sintomáticos e crianças sintomáticas. A fase aguda da doença tem início através
da inoculação da forma tripomastigosta com manifestações que incluem: febre,
edema localizado e generalizado, hepatomegalia, esplenomegalia, e muitas ve-
zes, insuficiência cardíaca e perturbações neurológicas. O óbito, quando ocorre,
está relacionado à meningoencefalite aguda ou à insuficiência cardíaca, devido à
miocardite aguda difusa, a forma mais grave da doença (NEVES, 2016).

Após a fase aguda, os portadores chagásicos passam por um longo perío-


do assintomáticos, e com o passar do tempo apresentam sintomas relacionados ao
sistema cardiovascular (forma cardíaca) e digestivo (forma digestiva). Observa-se
reativação intensa do processo inflamatório, com dano aos órgãos, ocasionando
a doença popularmente conhecida como “doença dos mega”, pois apresenta um
aumento do coração (cardiomegalia) e aumento do cólon (megacólon). O compro-
metimento cardíaco leva a uma insuficiência cardíaca congestiva, que se traduz
por dispneia, anasarca e morte. Já o megacólon é um fato que agrava o caso por
apresentar desnutrição, obstrução intestinal e perfuração intestinal (NEVES, 2011).

2.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

O controle da disseminação da doença deve ser voltado para a eliminação


e combate aos triatomíneos transmissores. As medidas utilizadas para sua erra-
dicação são: melhorar a qualidade das moradias de modo a não propiciar habitat
adequado a sua sobrevivência, a utilização de inseticidas, telas para proteção con-
tra os insetos e repelentes para combater a eliminação do vetor.

Além dessas medidas, a supervisão e o controle na produção dos ali-


mentos deve ser eficaz, incluindo a verificação da estocagem e do transporte. A
prevenção da transmissão através da transfusão sanguínea, requer a triagem so-
rológica dos doadores de sangue na rede de hemocentros e bancos de sangue,
diretamente fiscalizados pelo Ministério da Saúde. O sangue de doadores com
resultado positivo ou duvidoso deve ser descartado (FERREIRA, 2017).

Muita atenção, acadêmico, para a maneira de realizar o diagnóstico dessa para-


sitose. Por se tratar de uma hemoparasitose e levando em conta o ciclo biológico do T.
cruzi, o exame parasitológico de fezes não é realizado, pois não existe indicação clínica
para isso. Agora eu pergunto, qual o local que o parasita é encontrado? Olhe para o ciclo
biológico dele e responda. No sangue! Com base nisso o diagnóstico dá-se através da
visualização das estruturas tripomastigostas móveis no sangue do paciente infectado.

O exame realizado é denominado gota espessa, nele, obtemos uma peque-


na gota de sangue do paciente e realizamos a identificação do parasita através
da visualização direta com o uso da microscopia. Além disso, temos disponível,
hoje, no mercado diversas técnicas imunológicas que detectam anticorpos gera-
dos pelo hospedeiro ao longo da infecção (MORAES, 2008).

137
UNIDADE 2 — PROTOZOOLOGIA

NOTA

Em uma matéria divulgada no Jornal eletrônico da USP, relacionando que remé-


dio para Alzheimer também tem efeito contra doença de Chagas. A memantina, medicamento
utilizado em pacientes com Alzheimer, pode ser eficaz para o tratamento da doença de Cha-
gas. É o que aponta um estudo realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e
publicado no dia 19 de setembro 2019, na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases.

FONTE: <https://bit.ly/3ivAfDX>. Acesso em: 7 jul. 2020.

3 PLASMODIUM SP.

A malária é uma doença parasitária ocasionada pelo Plasmodium sp. Res-


ponsável por cerca de 130 a 400 milhões de casos por ano. Mais de 85% dos casos
ocorrem em áreas de savana e floresta da África, nessa região, cerca de 1 milhão
de pessoas, principalmente crianças e gestantes, morrem de malária por ano. No
Brasil, as áreas endêmicas são encontradas na Amazônia, registrando-se 300.000
casos novos de malária por ano (FERREIRA, 2017).

Apesar de muito antiga, a malária continua sendo um dos principais


problemas de saúde pública no mundo. Estima-se que a doença afete
cerca de 200 milhões de pessoas nas áreas subtropicais e tropicais do
planeta, resultando em aproximadamente 600 mil mortes a cada ano,
na grande maioria, crianças (NEVES, 2016, p. 159).

A patologia que as espécies ocasionam são conhecidas como malária, palu-


dismo, febre palustre, impaludismo, maleita, tremedeira ou sezão. Quatro espécies
de Plasmodium são classicamente reconhecidas como agente etiológico: Plasmo-
dium vivax, Plasmodium falciparum, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale. A espé-
cie falciparum predomina na África, malarie é a segunda espécie de maior prevalên-
cia, a ovale é incomum e a espécie vivax predomina nas Américas (FERREIRA, 2017).

No Brasil, a malária apresenta distribuição heterogênea e depende das


atividades ocupacionais desenvolvidas por determinadas pessoas na Amazônia.
A infecção é frequente entre garimpeiros e trabalhadores envolvidos em proje-
tos de agropecuária e colonização próximos à mata, ficando mais propensos ao
contato com o vetor da parasitose, o mosquito, por isso, tome muito cuidado se
for viajar para lugares endêmicos como a Amazônia, a chance de contaminação é
muito grande devido à proximidade do transmissor da doença. Acredita-se que a
malária chegou a América do Sul através do porão de navios escravos e se tornou
endêmica nessa população. As precárias condições socioeconômicas da popula-
ção determinaram a rápida expansão da doença (NEVES, 2011).

138
3.1 MORFOLOGIA

As diferentes espécies de Plasmodium possuem várias formas morfológi-


cas, essas formas dependem do seu estágio de desenvolvimento. As formas evo-
lutivas que podem ser encontradas são: esporozoíto, trofozoíto, merozoíto, for-
mas eritrocitárias, microgameta, macrogameta, oocineto e oocisto. Então vamos
lá, muita atenção em cada estágio de maturação do parasita, pois dele dependerá
a morfologia encontrada para o seu diagnóstico (NEVES, 2016, p. 162-163):

• Esporozoíto: é a forma infectante para os humanos e está presente nas glândulas


salivares do mosquito que inocula no homem. É alongado, com núcleo central único.
• Trofozoíto (conhecido também como forma exoeritrocítica): após o esporo-
zoíto penetrar nos hepatócitos (células do fígado), ele perde as organelas e se
torna arredondado. Essa forma dará origem ao esquizonte tissular composto
por uma massa citoplasmática e milhares de núcleos filhos, ocasionando o
aumento do hepatócito infectado.
• Merozoíto: são encontrados apenas em hemácias. São semelhantes aos espo-
rozoítos, sendo, porém, menores e arredondados, com uma membrana exter-
na composta por três camadas.
• Formas eritrocitárias: compreendem os estágios de trofozoíto jovem, madu-
ro, esquizonte e gametócitos. São encontradas no interior das hemácias e sua
visualização é utilizada como diagnóstico.
• Microgameta e macrogameta: são formas encontradas no tubo digestivo do
mosquito. O microgameta são células flageladas, sendo constituídas de uma
membrana que envolve o núcleo e o único flagelo. Já o macrogameta apresen-
ta uma estrutura na sua superfície por onde se dá a penetração do microga-
meta (fecundação).
• Oocineto: forma alongada de aspecto vermiforme, móvel, com núcleo volu-
moso e excêntrico.
• Oocistos: são esféricos, contendo grânulos pigmentados no seu interior de-
pendendo da espécie, envoltos por uma cápsula.

A Figura 14 exemplifica a morfologia das formas sanguíneas da espécie


de P. falciparum. 1: indica um eritrócito não infectado; 2, 3 e 4 trofozoítos jovens;
5 e 6 trofozoítos maduros; 7, 8, 9 e 10 esquizontes; 11 microgametócito; 12 macro-
gametócito. As outras espécies de Plasmodium possuem uma morfologia seme-
lhante, o que as difere são as formas encontradas no interior das hemácias. Atra-
vés da observação microscópica das estruturas dos Plasmodium, no interior das
hemácias, devem ser relatadas no laudo, apenas como Plasmodium sp., a espécie
encontrada pode ser confirmada apenas pela realização dos testes bioquímicos
que são confirmatórios da espécie do parasita.

139
FIGURA 14 – MORFOLOGIA DAS FORMAS SANGUÍNEAS DE P. FALCIPARUM

FONTE: Neves (2016 p. 173)

3.2 TRANSMISSÃO

A transmissão da malária ocorre através da picada do mosquito fêmea do


gênero Anopheles. Esses, são popularmente conhecidos por “carapanã”, “muriço-
ca”, “sovela”, “mosquito-prego” e “bicuda”. O mosquito inocula diretamente no
seu hospedeiro as formas esporozoítas infectantes, o qual pode inocular de 15 a 200
esporozoítos sobre a pele do hospedeiro, permanecendo nesse local por cerca de
15 minutos até alcançarem a corrente sanguínea (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

Apesar de infrequente, a infecção malárica pode ser transmitida acidentalmen-


te por transfusão sanguínea, acidentes com perfuro cortantes ou pela via congênita, po-
dendo apresentar consequências graves para o feto ou recém-nascido (NEVES, 2011).

3.3 CICLO BIOLÓGICO

As espécies que causam a malária são obrigatoriamente intracelulares,


com capacidade de invadir e reproduzir-se em células humanas como hepató-
citos e eritrócitos, bem como no vetor, portanto, possuem um ciclo heteroxênico
(Figura 15). O ciclo tem início quando o mosquito fêmea do gênero Anopheles
pica o homem, inoculando as formas esporozoítas, em torno de 15 minutos essas
formas caem na corrente sanguínea e são transportadas em 30 minutos para os
hepatócitos (fígado), multiplicam-se através de reprodução assexuada. No fígado
são fagocitados pelo macrófago, e na tentativa de se “esconderem” do sistema
imunológico, realizam intensa multiplicação, transformando-se em merozoítas.

O hepatócito não consegue abrigar tantas estruturas parasitárias dentro


de uma única célula e acaba por se romper liberando essas formas para a circu-

140
lação sanguínea e essas estruturas invadirão as hemácias. Dentro das hemácias
tornam-se trofozoíta jovem e maduro, dando origem novamente a estrutura me-
rozoíta. Devido à produção de substâncias tóxicas pelas estruturas parasitárias,
elas causam a destruição da hemácia, chamada de paroxismo. Os merozoítos pro-
vocam a lise (ruptura) da hemácia e ficam livres no sangue (NEVES, 2016).

Para Neves (2016, p. 161), “o ciclo sanguíneo se repete sucessivas vezes, a
cada 48 horas, nas infecções pelo P. falciparum, P. vivax e P. ovale, e a cada 72 horas
nas infecções pelo P. malariae”. Por essa característica a patologia recebe o nome
de terçã ou quartã maligna, por se tratar justamente do momento em que ocorre
essa multiplicação acelerada e lise das hemácias, ocasionando sintomas clássicos
no paciente, como febre, suor e calafrio. Esse conjunto de sintomas são popular-
mente conhecidos com tremedeira ou batedeira, devido ao intenso calafrio.

Após a picada, a fêmea Anopheles suga as estruturas parasitárias livres na cir-


culação do hospedeiro (geralmente o homem), que dentro do intestino do inseto se
transformam em células sexuais (gametócitos), sendo o macrogametócito (fêmea) e o
microgametócito (macho), esses sofrem fecundação e a formação do zigoto. Os zigotos
penetram nas células intestinais do inseto e podem se encistar, ou seja, formar um cisto.
Dentro do cisto ocorre a esporogonia, chegando uma fase em que o cisto arrebenta e os
esporozoítos migram para as glândulas salivares do inseto. A partir daí o Anopheles é
capaz de infectar outras vítimas dando continuidade ao ciclo (NEVES, 2016).

FIGURA 15 – CICLO BIOLÓGICO PLASMODIUM SP.

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3jAMOPB>. Acesso em: 7 jul. 2020.

141
DICAS

Como foi possível observar após o estudo do ciclo biológico dos parasitas cau-
sadores da doença de Chagas e malária, ambos possuem ciclo heteroxênico, que ocorre
parte dele no homem e outra parte em um inseto. Para ficar mais claro e ilustrativo, assista
aos vídeos disponibilizados a seguir e entenda de forma clara e visual como esses ciclos
acontecem nos dois hospedeiros.

Ciclo de vida do T. cruzi no homem: https://bit.ly/34r2bUz.


Ciclo de vida do T. cruzi no inseto: https://bit.ly/34sTB7S.
Ciclo de vida do Plasmodium sp. no homem: https://bit.ly/33xRSib.
Ciclo de vida do Plasmodium sp. no inseto: https://bit.ly/3njwrt9.

3.4 SINTOMATOLOGIA

Como base nos assuntos estudados no decorrer das Unidades 1 e 2, o que


determina os sintomas no hospedeiro? Pense em todas as etapas da vida do para-
sita, em qual momento é que ele causa os sintomas no seu hospedeiro? A resposta
é: durante o seu desenvolvimento e multiplicação. É fácil, quando quiser saber
quais os danos que um determinado parasita causa em uma população, é só olhar
para o ciclo biológico do parasita e ver qual o caminho por ele percorrido, e então
você encontrará as respostas.

Quando falamos em sintomas relacionados à malária, eles acontecem ape-


nas durante a passagem do parasita pelo ciclo eritrocitário que determinam os
sintomas no paciente. A passagem do parasita, pelo fígado, de forma relativa-
mente breve, não ocasiona sintomas no paciente (NEVES, 2016).

Os merozoítas sanguíneos geram a destruição de hemácias, ocasionando


além da anemia hemolítica, pelo excesso de destruição, a liberação do pigmento
malárico, conhecido como hemozoína, que é um produto da digestão da hemoglo-
bina pelo parasito, esse produto estimula o acontecimento do paroxismo (é conhe-
cido como tríade da malária: febre, suor e calafrio) e da febre, por se tratar de uma
substância pirogênica. O quadro sintomatológico da malária é caracterizado, por
apresentar os sintomas de calafrio, calor e suor. O paciente, apesar de apresentar
a febre, apresenta uma alternância entre frio e calor intenso, e essa febre costuma
atingir 39 a 41 °C, permanecendo assim por aproximadamente duas horas, quando
então o paciente sente-se aliviado, dando-lhe a falsa impressão de melhora, condi-
cionando, muitas vezes, a retomada ao trabalho, apesar da fraqueza. Essa repetição
está relacionada a cada espécie e coincide com a ruptura da hemácia pelo merozoí-
ta durante o desenvolvimento do parasita, podendo ocorrer repetição de sintomas
de 24, 36, 48 a 72 horas o pico febril (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

142
ATENCAO

Você sabe o que é uma substância pirogênica? O parasita (bactéria ou fungo)


quando dentro do organismo humano, realiza seu desenvolvimento, reprodução e durante
o seu metabolismo libera endotoxinas que são tóxicas ao nosso organismo, ocasionando
uma reação conhecida como choque ou pirogênica, que ocasiona febre, tremores, cala-
frios, cefaleia e hipotensão.

Em alguns casos mais graves de malária, surgem alterações no endotélio


vascular que ocasionam lentidão no movimento das hemácias parasitadas nos
capilares, fazendo com que algumas delas fiquem aderidas ao endotélio gerando
trombos e impedindo o fluxo sanguíneo, se isso acontecer em órgãos importantes
como cérebro e coração, podem levar a quadros de malária cerebral, insuficiência
renal aguda, edema pulmonar agudo, disfunção hepática e hemoglobinúria, e,
em alguns casos, até levar o paciente a óbito (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

3.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

Como medida de profilaxia da malária, devemos adotar métodos de pro-


teção individual e coletivas. Visando sempre a proteção ao principal veículo de
transmissão que é o mosquito. Para isso devemos evitar aproximação a áreas de ris-
co, como matas, após o entardecer, visto que o mosquito possui hábitos noturnos.
Uso de repelentes nas áreas expostas do corpo, dando preferência também para a
utilização de roupas longas. Proteger moradias e locais como portas e janelas com
telas e inseticidas. O autor Neves (2011) ainda relata como maneira protetiva, a uti-
lização de medicamentos que promovam sudorese forte, como tiamina e o alho, na
tentativa de repelir o inseto. Convenhamos, não seremos bem vistos se adotarmos
essa prática do mau odor, melhor aderir ao cheiro de repelente, o que vocês acham?

Algumas medidas estão sendo adotadas em áreas endêmicas, visando a


diminuição da transmissão, como drenagem de terrenos criadouros de mosqui-
tos, obras de saneamento para eliminação de criadouros do vetor, realização de
aterro, limpeza das margens dos criadouros, controle da vegetação aquática, me-
lhoramento da moradia e das condições de trabalho e também uso racional da
terra. Essas medidas visam melhoria de locais comuns para evitar a propagação
do vetor da malária, o mosquito (NEVES, 2016).

O diagnóstico laboratorial é baseado na pesquisa das estruturas merozoítas


na circulação sanguínea do paciente, visto que o paroxismo se dá durante a passa-
gem do Plasmodium pelo ciclo eritrocitário, ou seja, dentro da hemácia. O exame
realizado para a pesquisa do parasita é através da gota espessa, no qual é feito um
esfregaço sanguíneo com o sangue do paciente e realizado a coloração tradicional de

143
hematologia, pelos métodos de Giemsa ou panótico, e analisada em microscopia para
o encontro da estrutura parasitária dentro da hemácia. O diagnóstico através da he-
matoscopia é o padrão ouro, mas existem outros métodos que podem ser associados
ou realizados de forma individual para o diagnóstico, como o método imunológico.

Os testes de diagnóstico rápido estão baseados na detecção de antígenos


derivados dos parasitos da malária no sangue hemolisado pelo método de imuno-
cromatografia, são muito utilizados no nosso meio devido à agilidade, alta sensibi-
lidade e de rápida execução (REY, 2018). Lembre-se sempre, quando o diagnóstico
dessa parasitose for através de hematoscopia, essa deve ser realizada de forma cau-
telosa, observando minuciosamente a lâmina, pois estamos falando de um parasita
intracelular, que alguns autores até relacionam sua morfologia dentro da hemácia
parecida com um “anel solitário”, por conta disso vale redobrar a atenção!

AUTOATIVIDADE

A expansão da malária no Brasil tem sido preocupante nas duas últimas


décadas, principalmente em algumas áreas da região amazônica brasileira.
O deslocamento da população oriunda de diversas localidades interioranas
com níveis elevados de transmissão da doença, para instalar-se nas chama-
das " áreas de invasão", sem nenhuma infraestrutura de saneamento básico,
portadoras de criadouros de insetos transmissores da malária, possibilitam
a sua reintrodução na zona urbana e, consequentemente, agravamentos de
algumas capitais do Belém. Sobre o exposto, responda:

a) Quais as medidas profiláticas devem ser adotadas para diminuir a


disseminação dessa doença? Explique.

b) Qual o melhor método diagnóstico para essa parasitose? Justifique.

c) Qual o nome do agente vetor dessa parasitose?

4 TOXOPLASMA SP.

A toxoplasmose é o nome da doença ocasionada pelo parasita Toxoplasma gon-


dii, que determina casos infecciosos, popularmente conhecidos em gatos, numerosas es-
pécies de vertebrados e inclusive no homem. Trata-se de uma zoonose com ampla distri-
buição da natureza e que ocorre com muita frequência na população humana, podendo
se apresentar sob a forma assintomática à infecção crônica de longa duração (REY, 2018).

Você com certeza já deve ter ouvido falar da doença do gato, não é mes-
mo? Pois bem, trata-se da toxoplasmose. Muito antigamente, no início da desco-
berta do parasita, acreditava-se que o gato era o grande transmissor da patologia,
mas hoje já se sabe que o gato também é acometido pelo parasita podendo ser

144
um meio transmissor da parasitose. Não apenas o gato, existem também outras
formas de transmissão da toxoplasmose, que estudaremos a seguir. O nome toxo-
plasma (toxon=arco, plasma=forma) é derivado de sua forma em crescente da fase
mais comumente observada, por se tratar de um parasito intracelular obrigatório.
Atualmente, é encontrado em muitas espécies ocasionando danos, como em ani-
mais domésticos, de criação, peridomiciliares e mesmo selvagens de vida livre ou
mantidos em zoológicos (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

Os primeiros casos de contaminação foram descritos em 1923, na Tchecos-


lováquia, e, em 1927, no Brasil. Sua importância é determinada por se tratar de uma
infecção cosmopolita, atacar fetos e crianças, por ser uma infecção oportunista que
se manifesta com gravidade, sempre que o paciente venha a sofrer de imunodefi-
ciência de qualquer natureza. Pelo menos 30% dos pacientes portadores de HIV,
que são soropositivos para T. gondii, desenvolverão encefalite toxoplásmica. Pela
elevada causa de mortalidade neonatal em carneiros ou outros animais, a doença
assume também grande importância na área econômica (REY, 2010).

Em escala mundial, os índices de prevalência costumam estar


compreendidos entre 25 e 50% ou mais. No Brasil, situam-se
entre 50 e 80%, sendo esta última taxa a prevalência encontrada
em inquéritos feitos no Rio de Janeiro e em população indígena
de Mato Grosso. Alguns estudos indicam que as taxas de po-
sitividade aumentam com a idade dos indivíduos: 0% abaixo
dos cincos anos; 18%de6a15anos;26%de16a30anos.Elassãomais
elevadas nas zonas rurais que nas urbanas, mas também tem
sido assinalada uma distribuição irregular (REY, 2018, p. 204).

4.1 MORFOLOGIA

As formas evolutivas são múltiplas do T. gondii, podendo ser encontra-


das em vários tecidos, células e líquidos orgânicos, dependendo do habitat e do
estágio evolutivo. As formas infectantes do parasita durante o ciclo biológico são:
taquizoítos, bradizoítos, esporozoítos e cistos (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

A forma taquizoíta (Figura 16) é encontrada durante a fase aguda da in-


fecção, no momento em que está ocorrendo alto parasitismo no sangue circu-
lante, urina, esperma, saliva, líquor, leite materno e em outros órgãos do corpo.
É denominada a forma proliferativa do parasita. Sua morfologia é em forma de
arco, alongado, encurvado em arco (banana) e possui núcleo central. São pouco
resistentes ao suco gástrico, sendo facilmente destruídos (NEVES, 2016). Essa es-
trutura morfológica pode ser encontrada se realizarmos a análise de algum líqui-
do do organismo do paciente, como os que foram acima citados. Caso seja ana-
lisado outro tipo de material, será outra estrutura morfológica a ser encontrada.

145
FIGURA 16 – FORMA TAQUIZOÍTA ENCONTRADA EM EXUDATO

FONTE: Ferreira (2017, p. 24)

Os bradizoítas são encontrados na fase crônica da infecção em células de


vários tecidos, como nervoso, retina, muscular esquelética e cardíaco. São en-
contrados dentro do vacúolo parasitófaro. Esse vacúolo nada mais é do que uma
reação celular e imunológica do nosso organismo devido à presença da estrutura
parasitária, forma-se, então, esse vacúolo na tentativa do parasita de “esconder”
do sistema imunológico e conseguir realizar seu crescimento e reprodução de
forma lenta dentro do vacúolo. A parede do vacúolo é resistente e isola os bra-
dizoítas da ação do sistema imune. O tamanho desse vacúolo ou cisto é variável
dependendo do número de bradizoítos no seu interior, que podem permanecer
viáveis por anos nos tecidos (NEVES, 2016). A seta na Figura 17 mostra a forma-
ção de inúmeros bradizoítas dentro do vacúolo parasitófaro.

FIGURA 17– FORMA BRADIZOÍTA ENCONTRADA EM CORTE DE TECIDO HISTOLÓGICO

FONTE: Ferreira (2017, p. 24)

146
Os oocitos ou cistos são produzidos nas células intestinais dos felinos e
eliminados nas fezes desses animais de forma imatura, sendo considerados a for-
ma de resistência ao meio ambiente. São esféricos, com parede dupla e resistente
às condições do meio ambiente. Após o amadurecimento no meio externo, cada
oocisto é formado por dois esporocistos, em cada um são encontrados quatro es-
porozoítos (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

Portanto, acadêmico, as estruturas morfológicas a serem encontradas para


a realização do diagnóstico dessa parasitose está diretamente envolvida com o
material biológico coletado utilizado para análise, pois em cada período do ciclo
evolutivo do parasita ele se apresenta com uma morfologia diferente em mate-
riais biológicos diferentes. Então, muita atenção no momento da análise para sa-
ber o que deve ser encontrado em cada material.

4.2 TRANSMISSÃO

A partir desse momento vamos acabar com a fama de “mau” dos gatos. Va-
mos entender que eles não são os únicos transmissores da toxoplasmose. A infecção
pode ocorrer por várias vias diferentes. A principal via é a oral através da ingestão de
oocistos presentes em alimentos, água contaminada, jardins, caixas de areia ou disse-
minados mecanicamente por moscas, baratas, esses oocistos chegam até esses locais
através das fezes de animais contaminados (geralmente em gatos) (NEVES, 2011).

O canibalismo e o carnivorismo entre os animais envolvidos na cadeia


epidemiológica, principalmente o binômio gato-camundongo, man-
têm o parasitismo entre eles pela ingestão de trofozoítas originários de
pseudocistos e cistos, que constituem nestes casos as formas infectan-
tes (MORAES, 2008, p. 149).

Outra forma de infecção oral se dá através da ingestão de carne de ovelha,


porco, vaca, coelho e galinha pelo homem, infectadas e indevidamente prepara-
das, como carnes cruas ou malcozidas. Os cistos não resistem ao congelamento a
12 °C e ao aquecimento de 67 °C (MORAES, 2008).

A passagem dos protozoários via congênita ou transplacentária é de gran-


de incidência. Ocorre quando a gestante adquire a toxoplasmose durante a gravi-
dez ou pelo rompimento de cistos presentes no endométrio. Através da amamen-
tação também pode ser transmitida a patologia e no momento do nascimento,
durante o parto normal. Em vista das anomalias que podem ocorrer no feto, a
transmissão placentária é a mais grave (NEVES, 2016).

Outras formas de transmissão são raras, porém passíveis de acontecer, como


a ingestão de leite cru de cabra com toxoplasmose, acidentes laboratoriais, transplan-
te de órgão e transfusão sanguínea de indivíduos infectados (NEVES, 2011).

147
4.3 CICLO BIOLÓGICO

O ciclo de vida do parasita apresenta duas fases (Figura 18), a assexuada


que ocorre nos tecidos de diversos hospedeiros, e a sexuada, encontrada nas célu-
las da mucosa intestinal de felinos. A fase assexuada acontece quando o homem
(ou algum outro mamífero) ingere os oocistos maduros através da água ou ali-
mentos ou tecidos (carne animal) contendo as formas bradizoítas.

Essas, transformam-se em taquizoítos que perfuram o intestino e inva-


dem a corrente sanguínea e formam o vacúolo parasitário, multiplicam-se inten-
samente formando novos taquizoítas. Quando esses estiverem repletos, ocorrerá
a lise do vacúolo e a colonização de novas células. Essa disseminação no orga-
nismo acontece através de taquizoítos livres na linfa e na corrente sanguínea.
Nesse momento, o sistema imunológico ditará a sequência do ciclo, se o sistema
imunológico estiver bom os macrófagos, irão fagocitar os taquizoítas, destruindo-
-os e, aqueles que permanecerem, irão se diferenciar em bradizoíta e se encistar
novamente no tecido, dando origem à imunidade duradoura.

Se o sistema imunológico estiver debilitado os taquizoítas são fagocitados


novamente, formando o vacúolo parasitófaro, assim, ocorrerá intensa multipli-
cação e disseminação por todo o organismo, podendo ocasionar a morte do seu
hospedeiro (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

FIGURA 18 – CICLO BIOLÓGICO TOXOPLASMA GONDII

FONTE: <https://bit.ly/3d0AN3D>. Acesso em: 7 jul. 2020.

148
A fase sexuada acontece nas células intestinais de gatos e outros felinos jo-
vens, por esse motivo são considerados hospedeiros definitivos. A contaminação
do gato ocorre através da ingestão de oocistos, taquizoítos ou cistos tissulares,
essas estruturas, ao invadirem o epitélio intestinal do gato, passam por um pro-
cesso de multiplicação intensa, dando origem a muitos merozoítos, que podem
dar origem ao microgameta e macrogameta, ocorrendo a fecundação deles e dan-
do origem ao zigoto, que se maturará dentro do epitélio, formando uma parede
externa dupla, resistente, dando origem ao oocisto.

Com isso, a célula epitelial se rompe e os oocistos liberados na luz do in-


testino estarão maduros, com dois esporocistos e com quatro esporozoítos cada,
sendo eliminado nas fezes do gato, essas fezes, se não condicionadas de forma
correta o seu descarte, podem contaminar a água ou alimentos que serão inge-
ridos pelo homem, tendo reinicio o ciclo. O oocisto, em condições adequadas de
umidade e temperatura em local sombreado, é capaz de se manter infectante por
aproximadamente 12 a 18 meses (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

4.4 SINTOMATOLOGIA

O quadro patológico a ser desenvolvido depende da fase de contaminação,


se neonatal ou adulta. Em relação à toxoplasmose adquirida em crianças ou na
vida adulta ela é benigna, em alguns casos varia de assintomática até fatal. Você já
realizou o exame de toxoplasmose e obteve um resulto positivo para imunidade
e se perguntou, como isso? Eu nunca tive toxoplasmose! Caro, acadêmico, os
sintomas de uma infecção branda de toxoplasmose são semelhantes a uma gripe
forte. Você vai ao médico e faz exames quando está com gripe? Acredito que a
resposta seja não, é nesses casos que você pode ter adquirido a toxoplasmose,
apresentado sintomas brandos e o seu sistema imunológico conseguiu eliminar
esse parasita e lhe desenvolveu imunidade. Perfeita máquina!

Em casos de infecções mais acentuadas, o paciente pode apresentar convulsões,


confusões, visão turva e, em alguns casos, até mesmo infecções respiratórias, como
pneumonia e tuberculose. Doença febril: febre e manchas pelo corpo com exantemas
populares, semelhantes a sarampo ou rubéola, pode haver sintomas localizados
nos pulmões, coração, fígado ou sistema nervos, além da presença de ínguas. Em
pacientes imunodeprimidos ocorre encefalite, podendo levar a morte (REY, 2018).

A coriorretinite é a lesão mais frequentemente associada à toxoplasmose uma


vez que 30 a 60% dos casos se devem ao T. gondii. É consequência de uma
infecção aguda com a presença de taquizoítos causando lesões na retina e
na coroide. A toxoplasmose ocular ativa consiste em um foco coagulativo e
necrótico bem definido da retina. Além disso, pode estar presente uma in-
flamação difusa da retina e da coroide (NEVES, 2016, p. 187, grifo do autor).

A toxoplasmose congênita é a forma mais grave, sua gravidade aumenta de


acordo com o período gestacional em que a mãe apresenta a fase aguda da doen-
ça. Se adquirida no primeiro trimestre de gestação, ocorre com grande frequência

149
aborto do feto. Já, no segundo trimestre, pode ocorrer o aborto ou nascimento pre-
maturo, apresentando algumas anomalias classificadas como Síndrome de Sabin:
corioretinite, calcificações cerebrais, perturbação neurológicas, retardamento psico-
motor e alteração do volume craniano (micro ou macrocefalia). As consequências
menos graves ocorrem se adquirida a patologia no terceiro trimestre de gestação. A
criança pode nascer normal ou apresentar evidências da doença alguns dias, meses
ou até mesmo anos após o parto (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

Em pacientes imunocomprometidos, por exemplo, pacientes portadores de


HIV ou que utilizam drogas imunossupressoras, podem apresentar como manifes-
tação clinica a encefalite. Os parasitos invadem as células nervosas e provocam le-
sões necróticas no hemisfério cerebral. Ocasionando como manifestações, paralisia,
confusão mental, convulsão, letargia, coma e até morte do paciente (NEVES, 2011).

4.5 PROFILAXIA E DIAGNÓSTICO

Como estudado até o presente momento, conseguimos observar que o gato


não é o único vilão da história, então não é necessário acabar com os gatos e sim
tomar muito cuidado com sua higiene. Devemos adotar como medidas de profila-
xia a eliminação das fezes com a areia onde os gatos defecam, para prevenir que
os esporocistos se tornem infectantes. Bem como lavar as mãos após o contato com
terra contaminada com fezes de gato, usando luvas, desinfetando o local, e, quando
possível, realizar a incineração das fezes desse gato, pois essa é a maneira mais eficaz
de evitar uma das vias de propagação da parasitose. Controlar a população de gatos,
principalmente os de rua que não fazem uso de medicação antiparasitária, e alimen-
tá-los com carne cozida e ração de boa qualidade (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

Além de adotar medidas quanto ao consumo de carne, não ingerindo carne


crua ou malcozida de qualquer animal, consumir água de boa qualidade, no caso de
água de abastecimento público, manter as caixas d’água tampadas e higienizadas,
lavar as mãos depois da manipulação de carne crua e não se alimentar de leite não
pasteurizado ou não fervido, tomar muito cuidado, principalmente com gestantes,
seguindo todas as orientações que foram descritas anteriormente, além da realização
do exame sorológico pré-natal trimestral para toxoplasmose (NEVES, 2016).

O diagnóstico pode ser realizado através da demonstração do parasito em exsu-


dato, líquor, leite e sangue, a forma observada é o trofozoíto, porém esses métodos não
são rotineiros devido a sua baixa sensibilidade. Na fase crônica, o parasita pode ser identi-
ficado pela biópsia de tecidos contendo os cistos, apesar de não ser empregado na rotina,
quando usado apresenta uma limitação, pois é frequente a dificuldade de diferenciação
com outros parasitos encontrados em tecidos (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

Na prática, o exame que melhor desempenha resultados efetivos de diagnós-


tico é a sorologia que se baseia na pesquisa de anticorpos. As metodologias sorológi-
cas mais utilizadas são imunofluorescência indireta, ELISA e a hemaglutinação. Di-
ferentes padrões de resposta de anticorpos caracterizam a fase aguda e a fase crônica

150
da infecção. Caracterizada pela presença de anticorpos das classes IgM e IgG contra
o parasito. É um método seguro de diagnóstico, podendo ser utilizado tanto na fase
aguda (pesquisa IgM) quanto na fase crônica (pesquisa IgG) (REY, 2018).

DICAS

Acesse o link a seguir e tenha acesso a um atlas de parasitologia com alguns


conteúdos sobre os principais protozoários de interesse clínico estudados nessa unidade.

FONTE: <http://www.ufrgs.br/para-site/siteantigo/alfabe.htm>. Acesso em: 7 jul. 2020.

DICAS

Caro acadêmico, sugerimos que leia o artigo Gato X gestante: avaliação do


conhecimento da população sobre a toxoplasmose, como forma de fixar o conteúdo
estudado, acessando o link: https://bit.ly/3jtWZWh.

151
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Hemoparasitas são protozoários que realizam parte do ciclo biológico no san-


gue do seu hospedeiro e são consideradas as doenças mais negligenciadas do
mundo por atingirem pessoas de baixa renda.

• A doença de Chagas é ocasionada pela picada do barbeiro que, ao sugar o sangue,


defeca e deposita sobre a pele a forma tripomastigota do Tripanossoma cruzi, que
após ocasionar prurido intenso consegue chegar na circulação sanguínea.

• T. cruzi apresenta um ciclo de vida heteroxênico, com hospedeiros vertebra-


dos mamíferos (incluindo o homem) e insetos hemípteros (barbeiro).

• No local da picada do barbeiro surge uma reação inflamatória, com infiltrado de


leucócitos e concomitante a isso há reação dos gânglios próximos, ocasionando
um edema no local, chamado de chagoma de inoculação ou sinal de romanã.

• Destaca-se a doença de Chagas por sua gravidade cardiopática, dilatações de


órgãos digestivos, que são responsáveis por elevada mortalidade, especial-
mente na fase crônica da doença.

• A profilaxia da doença de Chagas está envolvida no uso de telas para prote-


ção contra os insetos e repelentes para combater a eliminação do vetor. Além
da supervisão e controle na produção de alimentos, incluindo estocagem e
transporte, principalmente da cana.

• O diagnóstico da doença de Chagas dá-se através da visualização das estru-


turas tripomastigostas móveis no sangue do paciente infectado. O exame rea-
lizado é denominado gota espessa.

• O Plasmodium sp. é conhecido por ocasionar a malária, paludismo, febre


palustre, impaludismo, maleita, tremedeira ou sezão. A infecção é frequente
entre garimpeiros e trabalhadores envolvidos em projetos de agropecuária e
colonização, próximos à mata.

• Estrutura do Plasmoidum a ser visualizada no exame de gota espessa depen-


derá do estágio de vida e multiplicação do parasita, podendo ser: trofozoito,
merozoítos, trofozoíto jovem, maduro, esquizonte ou gametócitos.

152
• A transmissão da malária ocorre através da picada do mosquito fêmea do
gênero Anopheles. Conhecidos por “carapanã”, “muriçoca”, “sovela”, “mos-
quito-prego” e “bicuda”. O mosquito inocula diretamente no seu hospedeiro
as formas esporozoítas infectantes.

• A malária tem capacidade de invadir e reproduzir-se em células humanas como


hepatócitos e eritrócitos, bem como no seu vetor, possuindo um ciclo heteroxênico.

• O ciclo sanguíneo do Plasmodium se repete a cada 48 horas, nas infecções pelo


P. falciparum, P. vivax e P. ovale, e a cada 72 horas, nas infecções pelo P. malariae.
Por essa característica, a patologia recebe o nome de terçã ou quartã maligna.

• Tríade clássica de malária: febre, suor e calafrio. Esse conjunto de sintomas são po-
pularmente conhecidos com tremedeira ou batedeira, devido ao intenso calafrio.

• Medidas de profilaxia à malária estão voltadas para o uso de repelentes, telas


e inseticidas contra o mosquito.

• O diagnóstico de malária é realizado pela metodologia de gota espessa para a


visualização dos merozoítas.

• A toxoplasmose é o nome da doença ocasionada pelo parasita Toxoplasma


gondii, que determina casos infecciosos em gatos, numerosas espécies de ver-
tebrados e inclusive no homem.

• As formas evolutivas são múltiplas do T. gondii, podendo ser encontradas em vários


tecidos, células e líquidos orgânicos, dependendo do habitat e do estágio evolutivo.

• As formas infectantes do parasita durante o ciclo biológico são: taquizoítos


(fase aguda, encontrada no sangue), bradizoítos (fase crônica, tecidos), espo-
rozoítos e cistos (produzidos por felinos e eliminados nas fezes).

• O principal meio para adquirir a toxoplasmose é através da ingestão de oocistos pre-


sentes em alimentos, água contaminada, jardins, caixas de areia ou disseminados
mecanicamente por moscas, baratas, que chegam até esses locais através das fezes de
gatos contaminados (pois esse animal é capaz de abrigar a fase sexuada do parasita).

• A passagem dos protozoários via congênita ou transplacentária é de grande


incidência, é quando a gestante adquire a toxoplasmose durante a gravidez
ou pelo rompimento de cistos presentes no endométrio.

• A toxoplasmose adquirida na fase adulta é, na maioria das vezes, assintomá-


tica e assemelha-se a uma gripe.

• A toxoplasmose adquirida na gestação pode ocasionar vários danos à mãe e ao feto,


a gravidade irá depender do período da gestação em que foi adquirida a parasitose.

153
• Devemos adotar como medidas de profilaxia a eliminação das fezes com a
areia onde os gatos defecam para prevenir que os esporocistos se tornem in-
fectantes. Além de adotar medidas quanto ao consumo de carne, não inge-
rindo carne crua ou malcozida de qualquer animal e consumir água de boa
qualidade.

• O diagnóstico mais preciso realizado para toxoplasmose se baseia em reações


sorológicas, para a pesquisa de anticorpos de classes IgM e igG contra o To-
xoplasma gondii.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

154
AUTOATIVIDADE

1 A toxoplasmose é uma zoonose de distribuição universal causada pelo To-


xoplasma gondii, sendo de especial importância quando acomete a gestante,
uma vez que a transmissão placentária pode provocar lesão de localização e
grave variedade no feto. Com base no exposto, analise as sentenças a seguir:

I- O tipo de amostra usada para análise da toxoplasmose é o soro, sendo a


coleta realizada por punção venosa, e a técnica realizada através do méto-
do imunológico.
II- Quando existe a positividade do anticorpo IGM é indicativo de produção
de anticorpos, devido a cura ou contato recente.
III- Quando são encontrados anticorpos IgG positivo em uma sorologia para
toxoplasmose, o clínico pode suspeitar que a doença se encontra em fase
aguda, o que pode representar risco de infecção congênita.
IV- Uma das vias de transmissão da toxoplasmose é através da ingestão de cistos
encontrados em carne crua, ou malcozida especialmente do porco e carneiros.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II, III, IV estão corretas.
e) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.

2 A doença de Chagas apresenta um curso clínico bifásico: fase aguda e fase


crônica. Na fase aguda, as manifestações clínicas mais comuns são: febre pro-
longadas e recorrentes, cefaleia, mialgias, astenia, edema de face ou mem-
bros inferiores, rash cutâneo, hipertrofia dos linfonodos, hepatomegalia, es-
plenomegalia, ascite, vômito, edema bipalpebral unilateral. Com base nessas
informações, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) O agente etiológico da doença de Chagas é o protozoário flagelado


Trypanosoma cruzi.
( ) Os vetores da doença de Chagas são Triatomídeos hematófagos que, de-
pendendo da espécie, podem viver em meio silvestre ou no meio perido-
miciliar.
( ) A transmissão da doença de Chagas é vetorial, através da picada do tria-
tomídeo hematófago que inocula na circulação a forma tripomastigota,
sendo o seu controle por inseticidas e investigação entomológica.
( ) Cuidados de higiene são importantes na produção de origem animal
consumidos crus, como carnes de origem bovina e suína, para preven-
ção da doença de Chagas.

155
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – V – F – V.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – V.
e) ( ) V – V – V – V.

3 O parasitismo intestinal ainda constitui um dos mais sérios problemas de Saú-


de Pública no Brasil e decorre da presença de macroparasitas (helmintos) e/ou
microparasitas (protozoários) no intestino e compromete de forma heterogênea
cerca de 25% da população mundial. A frequência das parasitoses tem relação
direta com as condições socioeconômicas, sendo o aumento da prevalência uma
consequência direta do empobrecimento da população. Além disso, depende
dos aspectos climáticos, das características do solo, dos hábitos alimentares e de
higiene e das condições sanitárias da comunidade. O gráfico a seguir representa
as curvas da temperatura de uma pessoa infectada por um parasito.

FONTE: <https://bit.ly/3lgk8fs>. Acesso em: 4 mar. 2020.

Quanto ao gênero do parasito que provoca elevações da temperatu­ra a


intervalos regulares, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Ascaris.
b) ( ) Plasmodium.
c) ( ) Entamoeba.
d) ( ) Schistosoma.
e) ( ) Trypanossoma.

4 O Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas, antropozoo-


nose frequente no Brasil e constituindo um grave problema de saúde pú-
blica, possui em seu ciclo biológico em vertebrados e invertebrados, várias
formas evolutivas. Neste contexto, analise as sentenças a seguir:

156
FONTE: https://glo.bo/3d3ljMj. Acesso em: 4 mar. 2020.

I- No homem são encontradas intracelularmente as formas amastigotas.


II- No homem é encontrada extracelularmente a forma tripomastigota pre-
sente no sangue circulante.
III- No mecanismo natural de infecção pelo T. cruzi, os tripomastigotas elimi-
nados nas fezes e urina do vetor penetram pelo local da picada através do
prurido ocasionado e ficam no interior das células epiteliais.
IV- A forma tripomastigota se transforma no interior da célula humana em
forma amastigota.
V- A forma epimastigota multiplica-se por divisão binária no interior do in-
testino do barbeiro e transforma-se em tripomastigota.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a sentença I está correta.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças IV e V estão corretas.
e) ( ) As sentenças I, II, III, IV e V estão corretas.

157
REFERÊNCIAS
CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S. Parasitologia humana e seus fundamentos
gerais. 2. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2005.

CIMERMAN, B.; FRANCO, M. A. Atlas de parasitologia: artrópodes, protozoários


e helmintos. São Paulo: Editora Atheneu, 2009.

FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2017.

FERREIRA, M. U.; FORONDA, A. S.; SCHUMAKER, T. T. S. Fundamento


biológicos da parasitologia humana. Rio de Janeiro. Editora: Manole, 2003.

FREITAS, E. O. de; GONÇALVES, T. O. de F. Imunologia, parasitologia e


hematologia aplicadas à biotecnologia. São Paulo: Érica, 2015.

LEVENTHAL, R.; CHEADLE R. Parasitologia médica: texto e atlas. 4. ed. Editora


Premier, 2000.

MORAES, R. G. Parasitologia e micologia humana. 5. ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2008.

NEVES, P. D. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016.

NEVES, P. D. Parasitologia humana. 12. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2011.

REY, L. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos


ocidentais. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

REY, L. Bases da parasitologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

SANTOS, V. S. dos. Protozoários. Brasil Escola, 2019. Disponível em: https://bit.


ly/2HfUt7Y. Acesso em: 14 abr. 2020.

158
UNIDADE 3 —

MÉTODOS UTILIZADOS NO
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS
PARASITOSES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• ter domínio acerca das técnicas aplicadas no setor de parasitologia;

• identificar as diferentes formas parasitárias encontradas em


amostras fecais;

• identificar as diferentes formas parasitárias em demais amostras;

• utilizar a metodologia adequada, com base no parasita a ser


pesquisado.

159
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES


CAUSADAS POR HELMINTOS

TÓPICO 2 – DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES


CAUSADAS POR FLAGELADOS E AMEBAS

TÓPICO 3 – DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES


CAUSADAS POR HEMOPARASITAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

160
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE
PARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, seja bem-vindo à Unidade 3 do Livro Didático Parasi-


tologia Clínica. Extenso foi o aprendizado até aqui, não é mesmo? Então, prepara-se
para colocar em prática toda a teoria abordada até o momento, pois vamos iniciar
a nossa jornada pelo diagnóstico laboratorial realizado no setor de parasitologia.

Nas unidades anteriores, abordamos os parasitas mais comumente encontrados


no setor de parasitologia, suas formas parasitárias e seus ciclos de vida dentro e fora do
hospedeiro. Neste tópico, discutiremos sobre a importância das fases que antecedem a
análise da amostra, bem como as metodologias relacionadas à pesquisa de helmintos.

2 FASE PRÉ-ANALÍTICA E SUA IMPORTÂNCIA NO RESULTADO


DOS EXAMES

Em análises clínicas, inúmeros fatores podem alterar os resultados dos


exames. A fase pré-analítica (requisição do exame, coleta, identificação das amos-
tras, armazenamento e transporte de amostras) (BRASIL, 2005) é uma etapa cru-
cial para um diagnóstico fidedigno à realidade do caso clínico do paciente. Os
exames laboratoriais são responsáveis por aproximadamente 70% das decisões
tomadas pelos médicos em seus diagnósticos (CODAGNONE et al., 2014; GUIM-
ARÃES et al., 2011; PLEBANI, 2004), sendo que 60 a 90% dos erros são observados
na fase pré-analítica (CODAGNONE et al., 2014; GUIMARÃES et al., 2011).

Assim, é possível entender a importância da coleta e do armazenamento


adequados da amostra visando ao melhor diagnóstico. Para isso, é fundamental
que a amostra seja coletada sem contaminação, em recipiente apropriado, e ana-
lisada o mais rapidamente possível – quando necessário, pode-se fazer uso de
métodos de conservação para posterior análise do material fecal (CARLI, 2011).

2.1 COLETA, ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE


DE AMOSTRAS

A coleta de amostras fecais refere-se a amostras formadas, pastosas, aquo-


sas ou liquefeitas – é importante ressaltar que as amostras diarreicas podem ser

161
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

analisadas e facilitam a observação de trofozoítos (SOCIEDADE BRASILEIRA


DE PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORATORIAL [SBPC/ML], 2014). O
conhecimento do paciente a respeito das necessidades e dos cuidados para a co-
leta é essencial, por isso ele deve receber as informações necessárias do labora-
tório por impresso e com o frasco de armazenamento (Figura 1) (CARLI, 2011).
Ademais, para possibilitar as análises macro e microscópicas, é necessário que o
paciente envie pelo menos 20 a 30 g de amostra ao laboratório.

NTE
INTERESSA

Para conhecer a aparência dos tipos de fezes, acesse a classificação de Bristol


em: https://bit.ly/34sa3Fr.

FIGURA 1 – FRASCO ESTÉRIL UTILIZADO PARA A COLETA DE FEZES

FONTE: <https://shutr.bz/2SzhSnb>. Acesso em: 15 jul. 2020.

Um ponto importante, e que pode gerar dúvidas ao analista clínico, está rela-
cionado ao armazenamento das amostras em refrigeradores. Essa conduta não deve ser
realizada por mais de 12 horas em amostras não analisadas, pois pode comprometer o
diagnóstico. O uso de medicamentos – como antibióticos que alteram a flora microbiana
e, consequentemente, interferem na permanência do parasito no intestino, visto que eles
também se alimentam desse microrganismo ­– e de contraste radiológico à base de sulfato
de bário também pode interferir nos resultados, sendo a coleta das fezes realizada 72 ho-
ras após o uso de antibióticos e 10 dias após o exame radiológico (CARLI, 2011).

162
TÓPICO 1 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS

Devido à variedade de ciclos de vida dos parasitos, recomenda-se realizar co-


letas em diferentes dias, para se ter um diagnóstico mais assertivo (SBPC/ML, 2014).
O laboratório de análises clínicas Hermes Pardini, referência pela qualidade das aná-
lises, solicita que a coleta seja feita conforme instrução médica e, quando não houver
essa informação, o paciente deve coletar três amostras em dias diferentes e colocá-las
no mesmo frasco, com conservante de mertiolato, iodo e formol (MIF), cuja validade
é de 30 dias em temperatura ambiente (HERMES PARDINI, 2020).

As amostras sem conservante devem ser coletadas e entregues ao laboratório


em até 2 horas (HERMES PARDINI, 2020), enquanto amostras liquefeitas ou diar-
reicas devem ser analisadas em, no máximo, 30 minutos após a coleta. O transporte
das amostras deve ocorrer em tempo hábil para realização dos testes e, se necessária
refrigeração, utiliza-se caixa de transporte contendo gelo reciclável (SBPC/ML, 2014).

3 PESQUISA LABORATORIAL DE HELMINTOS

Os helmintos, também denominados vermes, enquadram-se no grupo de


parasitas considerados mais recorrentes na espécie humana. Esse amplo grupo
de parasitas está distribuído, conforme discutido na Unidade 1, em três filos: Pla-
tyhelminthes, Nematoda e Acanthocephala (NEVES, 2016). No entanto, somente
os dois primeiros são amplamente observados como causa de parasitose humana.
O filo Acanthocephala raramente acomete os seres humanos – por essa razão, não
iremos abranger esses parasitas na abordagem deste tópico. Os helmintos abor-
dados na Unidade 1 são:

1. Ascaris lumbricoides.
2. Enterobius vermicularis.
3. Trichuris trichiura.
4. Strongyloides stercoralis.
5. Ancylostoma duodenale, Necatur americanus, Ancylostoma brasiliensis e Ancylos-
toma caninum.
6. Toxocara canis.
7. Schistosoma mansoni.
8. Fasciola hepatica.
9. Taenia solium e Taenia saginata.
10. Hymenolepis nana.
11. Echinococcus granulosus.

A seguir, discutiremos mais detalhadamente o diagnóstico de alguns


desses helmintos.

163
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

3.1 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE ASCARIS


LUMBRICOIDES

O diagnóstico laboratorial de Ascaris lumbricoides pode ser realizado por meio


de exames de fezes ou imunológicos. Quando nos referimos aos exames de fezes, pode-
mos citar o teste direto, o método de Hoffman ou o método de Kato-Katz (REY, 2011).

O método direto a fresco tem por objetivo obter um panorama da carga pa-
rasitária do paciente e um diagnóstico rápido, observar a motilidade dos parasitos e
visualizar parasitos que podem passar despercebidos nas técnicas de concentração
(Figura 2). Por ser um método fácil, rápido e por permitir a visualização de diferen-
tes formas parasitárias, é um dos mais utilizados na rotina clínica (CARLI, 2011).

FIGURA 2 – VERMES ADULTOS (FÊMEA E MACHO, RESPECTIVAMENTE) DE ASCARIS LUMBRI-


COIDES, QUE PODEM SER VISTOS MACROSCOPICAMENTE NAS FEZES

FONTE: <https://shutr.bz/3iCLZon>. Acesso em: 17 set. 2020.

Nesse método, o procedimento abrange:

• Diluir as fezes em salina a 0,85%.


• Colocar uma gota da suspensão em uma lâmina.
• Adicionar uma gota de solução de iodo de lugol.
• Cobrir a amostra com uma lamínula.
• Observar, ao microscópio, focando na objetiva de 10X e analisando, posterior-
mente, na objetiva de 40X (Figura 3).

Em caso de amostras diarreicas, a diluição com salina não é necessária


(CARLI, 2011; MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2012).

164
TÓPICO 1 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS

FIGURA 3 – AMOSTRA DILUÍDA DE FEZES ENTRE LÂMINA E LAMÍNULA

FONTE: <https://bit.ly/30EwYMs>. Acesso em: 17 set. 2020.

Quando identificados ovos de Ascaris lumbricoides (Figura 4) na amostra


fecal, faz-se necessária a investigação da carga parasitária do indivíduo. Para isso,
pode ser utilizado o método quantitativo de Kato-Katz, descrito adiante. Consi-
dere o Quadro 1 para o diagnóstico quantitativo (REY, 2011):

FIGURA 4 – OVOS DE ASCARIS LUMBRICOIDES ENCONTRADOS FACILMENTE NO MÉTODO DIRETO


Ovo fértil Ovo infértil

FONTE: Adaptada de <https://shutr.bz/30GsR2q>; <https://shutr.bz/30ACoYL>. Acesso em: 17 set. 2020.

QUADRO 1 – DIAGNÓSTICO DE ASCARIDÍASE BASEADO NA QUANTIFICAÇÃO DE OVOS/LARVAS

Grau de infecção Quantidade de ovos Extrapolação para quantidade


contados de larvas
Infecção leve Menos de 5.000 ovos/g de Menos de 5 vermes
fezes
Infecção regular 5.000 a 10.000 ovos/g de 5 a 10 vermes
fezes
Infecção pesada Mais de 10.000 ovos/g de Mais de 10 vermes
fezes
FONTE: Adaptado de REY (2011)

165
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

É importante observar que infecções causadas por vermes fêmeas origi-


nam somente ovos inférteis, enquanto infecções por vermes machos não têm pre-
sença de ovos nas fezes (NEVES, 2011).

3.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE ENTEROBIUS


VERMICULARIS

O diagnóstico de enterobíase ou oxiurose baseia-se nos sinais e nos sinto-


mas clínicos, bem como nas análises laboratoriais (REY, 2011). Prurido (coceira)
anal, irritação cutânea na região do períneo (BRASIL, 2010) e aumento na conta-
gem de eosinófilos no sangue periférico são os principais sinais e sintomas obser-
vados geralmente em crianças (REY, 2011).

O diagnóstico laboratorial pela aplicação de metodologias convencionais


para exames de fezes não apresenta resultado eficaz para essa parasitose. O ideal
é realizar o método proposto por Graham (1941), posteriormente adaptado por
Brooke, Donaldson e Mitchell (1949), também conhecido como método da fita
adesiva (Figura 5), pela manhã, para ampliar as chances de positividade e de vi-
sualização dos ovos; em caso de negatividade, fazer novamente durante 5 a 6 dias
consecutivos (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2012; REY, 2011).

FIGURA 5 – MÉTODO DE GRAHAM OU MÉTODO DA FITA ADESIVA

FONTE: As autoras

166
TÓPICO 1 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS POR HELMINTOS

Devem-se realizar os seguintes procedimentos (NEVES, 2011):

• Colocar uma fita adesiva sobre o tubo de ensaio, com a parte adesiva exposta.
• Em uma das extremidades, colocar a identificação do paciente.
• Colocar o tubo contendo a fita adesiva entre as nádegas, para que a região das
pregas anais seja alcançada, mas sem introduzir o tubo no ânus.
• Remover o tubo contendo a fita da região anal e colocar a fita sobre a lâmina
identificada.
• Para auxiliar na visualização, pode-se colocar uma gota de tolueno, xileno ou
iodo-xilol entre a lâmina e a fita (CARLI, 2011).
• Observar ao microscópio.

FIGURA 6 – VERMES ADULTOS DE ENTEROBIUS VERMICULARIS QUE PODEM SER OBSERVA-


DOS NA REGIÃO ANAL, NAS ROUPAS ÍNTIMAS OU NA FITA ADESIVA

FONTE: <http://atlasparasitologia.sites.uff.br/?cat=34>. Acesso em: 17 set. 2020.

FIGURA 7 – OVOS DE ENTEROBIUS VERMICULARIS

FONTE: <https://bit.ly/34uE1Zd>. Acesso em: 17 set. 2020.

167
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

DICAS

Acadêmico, assista ao vídeo a seguir para visualizar a realização da técnica:


https://bit.ly/3jAs2ja.

3.3 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TRICHURIS TRICHIURA

O diagnóstico laboratorial de tricuríase pode ser feito por qualquer método


de rotina laboratorial (por exemplo, método de Hoffman) em regiões endêmicas
ou, quando é necessária a contagem do número de helmintos, realiza-se o método
de Kato-Katz (REY, 2011; NEVES, 2011), descrito adiante em esquistossomose.

A sedimentação espontânea é uma das técnicas mais utilizadas no setor


de parasitologia, sendo o método de Hoffman, Pons e Janer (HPJ) o mais utiliza-
do, uma vez que consiste na sedimentação espontânea de amostras fecais. Pri-
meiramente descrito por Lutz (1919), a padronização da técnica foi realizada por
Hoffman, Pons e Janer (1934) (método Lutz/HPJ; Figura 8), devendo-se realizar os
seguintes procedimentos (CARLI, 2011):

• Colocar, em um recipiente graduado ou Becker de 250 ml, 5 g de fezes recém-


-coletadas.
• Acrescentar 50 a 60 ml de água e misturar até obter uma solução homogênea.
• Adicionar 100 ml de água e filtrar a solução em gaze dobrada, passando o
conteúdo do Becker para o tubo cônico de sedimentação.
• Se necessário, acrescentar água para completar ¾ do volume do tubo cônico e
deixar a suspensão em repouso por 1 a 2 horas.
• Com o auxílio de uma pepita graduada ou uma pipeta Pasteur, coletar uma
pequena porção do sedimento, localizada no fundo do tubo cônico, e colocar
em uma lâmina com lamínula.
• Avaliar ao microscópio.

DICAS

Acadêmico, para conhecer a realização do método de HPJ, assista ao vídeo:


https://bit.ly/2Swwnbl.

168
FIGURA 8 – MÉTODO DE SEDIMENTAÇÃO ESPONTÂNEA: LUTZ/HPJ

FONTE: As autoras

FIGURA 9 – VERME ADULTO DE TRICHURIS TRICHIURA (35 A 45 MILÍMETROS), REMOVIDO


DURANTE UM PROCEDIMENTO DE COLONOSCOPIA

FONTE: <https://bit.ly/33CP1EW>. Acesso em: 17 set. 2020.

FIGURA 10 – OVOS DE TRICHURIS TRICHIURA ENCONTRADOS NAS TÉCNICAS DE ROTINA


LABORATORIAL, MEDINDO 20 A 25 MICRÔMETROS

FONTE: <https://bit.ly/33CP1EW>. Acesso em: 17 set. 2020.

O método quantitativo de Kato-Katz (discutido adiante) permite um pa-


norama geral da infecção por Trichuris trichiura. Analise o quadro, a seguir, para
entender como interpretar o diagnóstico quantitativo (REY, 2011).

169
QUADRO 2 – DIAGNÓSTICO DE TRICURÍASE COM BASE NA QUANTIFICAÇÃO DE OVOS/LARVAS

Grau de infecção Quantidade de ovos contados


Infecção leve Menos de 5.000 ovos/g de fezes
Infecção regular 5.000 a 10.000 ovos/g de fezes
Infecção pesada Mais de 10.000 ovos/g de fezes
FONTE: Adaptado de Rey (2011)

3.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE STRONGYLOIDES


STERCORALIS

O diagnóstico laboratorial de estrongiloidíase em amostras de fezes ba-


seia-se na busca pela larva do parasita, pois os ovos eclodem assim que chegam
na mucosa intestinal, sendo raramente encontrados nas amostras fecais. A larva
rabditoide é habitualmente encontrada, porém, larvas filarioides podem ser vis-
tas em pacientes com trânsito intestinal lento (REY, 2011).

Os métodos de Baermann (1917) e de Rugai, Mattos e Brisola (1954) são


considerados ideais para a pesquisa de larvas de S. stercoralis, pois, por meio de
hidro e termotropismo desse parasito, as larvas migram para o fundo de um tubo
cônico, facilitando a sua detecção (CARLI, 2011). No entanto, será abordado so-
mente o método de Rugai, por ser o mais recente.

FIGURA 11 – MÉTODO DE RUGAI

FONTE: Adaptada de Rey (2011)

Para o método de Rugai, os seguintes procedimentos devem ser realizados


(RUGAI; MATTOS; BRISOLA, 1954):

• Abrir o recipiente contendo as fezes e colocar uma gaze, dobrada duas vezes,
em contato com as fezes.
• Em um copo cônico de sedimentação, acrescentar 70 a 100 ml de água aque-
cida a 45 °C.

170
• Alocar o recipiente com as fezes e coberto com a gaze no copo cônico com a
água aquecida, de modo que a água entre em contato com a gaze e as fezes.
• Deixar em repouso por 2 horas.
• Coletar uma pequena amostra do sedimento formado no fundo do copo cônico.
• Colocar uma gota do sedimento e uma gota de Iodo de lugol entre a lâmina e
a lamínula e, posteriormente, observar ao microscópio.

FIGURA 12 – LARVA RABDITOIDE DE STRONGYLOIDES STERCORALIS

FONTE: <https://shutr.bz/3jCCHtO>. Acesso em: 17 set. 2020.

DICAS

Acadêmico, para conhecer o método de Rugai, assista ao vídeo: https://bit.ly/3iAVPqN.

3.5 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE ANCILOSTOMÍDEOS

O diagnóstico laboratorial de ancilostomídeos (Ancylostoma duodenale, Ne-


catur americanus, Ancylostoma brasiliensis e Ancylostoma caninum) baseia-se na pes-
quisa dos ovos dos parasitos nas amostras de fezes, na observação e na anamnese
do paciente. Conforme apontado na Unidade 1, a diferenciação das espécies de
ancilostomídeos somente pela observação dos ovos é inviável, devido à alta simi-
laridade entre eles (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

As técnicas de flutuação em sulfato de zinco são comumente empregadas


para a identificação dos ovos de ancilostomídeos, sendo a técnica de centrífugo-flu-
tuação, proposta por Faust et al. (1939), uma adaptação da flutuação de Willis (1921).
Como a técnica de Faust é utilizada no diagnóstico de diversos parasitas, a seguir,
são descritos os procedimentos para a realização do método de Willis (CARLI, 2011):

171
• Preparar a solução de sulfato de zinco (densidade 1,18 g/ml), adicionando 330
g de cristais de sulfato de zinco a 670 ml de água destilada-deionizada.
• Colocar 1 a 2 g de fezes em um recipiente com volume máximo de 20 ml.
• Completar com 5 ml de solução saturada de sulfato de zinco e misturar até
obter uma solução homogênea.
• Completar o volume do recipiente com a solução de sulfato de zinco até a borda.
• Colocar uma lâmina ou lamínula (dependendo do recipiente escolhido) sobre
a borda do recipiente, mantendo-a em contato com o líquido.
• Deixar a lâmina/lamínula em contato com o líquido por 20 minutos.
• Remover a lâmina/lamínula e colocar uma lamínula sobre a amostra, exami-
nando e buscando ovos de ancilostomídeos no microscópio.

FIGURA 13 – MÉTODO DE WILLIS E FLUTUAÇÃO EM SULFATO DE ZINCO

FONTE: As autoras

FIGURA 14 – OVOS DE ANCILOSTOMÍDEOS EM AMOSTRAS DE FEZES

FONTE: <https://shutr.bz/3nrNmtM>. Acesso em: 17 set. 2020.

172
DICAS

Acadêmico, para conhecer a técnica de Willis, assista ao vídeo: https://bit.ly/3d2Gk9Q

3.6 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TOXOCARA CANIS


O diagnóstico laboratorial de toxocaríase no ser humano, causado pela
larva migrans visceral (LMV), é complexo e, geralmente, envolve histórico clínico
do paciente, exames hematológicos, radiológicos e imunológicos (REY, 2011). Em
cães, os ovos podem ser detectados em exames de fezes (NEVES, 2011).

No ser humano, o diagnóstico da larva migrans pode ser feito a partir da


biópsia do tecido acometido (Figura 15), embora, com frequência, os resultados
são inconclusivos, pois a visualização das larvas é escassa (NEVES, 2011).

FIGURA 15 – LARVA DE TOXOCARA SP., EM CORTE LONGITUDINAL, NO TECIDO HEPÁTICO

FONTE: <https://bit.ly/3iBYYXd>. Acesso em: 17 set. 2020.

FIGURA 16 – OVO DE TOXOCARA CANIS EM CÃES

FONTE: <https://bit.ly/34tfPXj>. Acesso em: 17 set. 2020.

173
Os órgãos mais acometidos pela LMC são fígado, pulmões, encéfalo, olhos e
linfonodos, sendo detectada a presença de uma lesão característica, denominada gra-
nuloma alérgico. Essa lesão apresenta o parasita centralizado envolto por processo
necrótico e células do sistema imune, como eosinófilos e monócitos (REY, 2011).

O diagnóstico laboratorial, em humanos, baseia-se na presença de eosino-


filia (aumento na contagem de eosinófilos) persistente, aumento nas concentrações
de imunoglobulinas IgM e IgE. Concomitantemente, a pesquisa por anticorpos an-
ti-Toxocara é realizada por meio do ensaio de imunoabsorção ligado à enzima (ELI-
SA) (Figura 17), que será abordado na Disciplina de Imunologia Clínica.

DICAS

Acadêmico, para entender o método ELISA, assista ao vídeo a seguir – apesar


de estar em inglês, há a legenda em português: https://youtu.be/RRbuz3VQ100.

FIGURA 17 – PLACA EM ACRÍLICO PARA A REALIZAÇÃO DO TESTE ELISA

FONTE: <https://shutr.bz/2SvitWK>. Acesso em: 17 set. 2020.

3.7 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE SCHISTOSOMA


MANSONI

O diagnóstico laboratorial de esquistossomose baseia-se na pesquisa das


formas parasitárias nas amostras de fezes, bem como na biópsia retal e em testes
imunológicos (REY, 2011; NEVES, 2011). Entre os testes realizados em amostras
de fezes, o método de Kato-Katz é o mais recomendado (REY, 2011).

174
O método de Kato-Katz consiste em uma metodologia de contagem, visando a
estimar o número de helmintos que o indivíduo infectado está albergando (REY, 2011),
tendo sido proposto, inicialmente, por Kato e Miura (1954), aperfeiçoado por Kato
(1960) e adaptado por Katz, Chaves e Pellegrino (1972) (Figura 18), foi extensamente
utilizado e aprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) não somente para o
diagnóstico de parasitoses causadas por helmintos, como também para a avaliação do
efeito anti-helmíntico de novos compostos e estudos epidemiológicos (CARLI, 2011).

FIGURA 18 – KIT HELM TESTE, PRODUZIDO PELO INSTITUTO DE TECNOLOGIA EM IMUNOLÓ-


GICOS (BIOMANGUINHOS) DA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ)

FONTE: <https://bit.ly/2SAPbGc>. Acesso em: 18 set. 2020.

Um dos diferenciais da técnica (Figura 19) está no uso de uma porção significa-
tiva de fezes (50 a 60 g) sem a necessidade de outras técnicas de concentração, utilizando
ainda uma lamínula de celofane previamente imergida em solução aquosa de glicerina
e verde de malaquita, a qual permite melhor visualização das formas parasitárias. Outro
ponto importante nesse método, é que a amostra deve ser recém-coletada ou refrigerada
por um curto espaço de tempo, sem uso de conservantes, para que não ocorram interfe-
rências na ação da glicerina. Ao adicionar azina sódica em pó às fezes, o analista obtém
mais segurança para observar os ovos do helminto, evitando a embriogênese e reduzin-
do a atividade bacteriana na amostra (CARLI, 2011; GONÇALVES et al., 1988).

FIGURA 19 – PREPARAÇÃO DE LÂMINA UTILIZANDO O MÉTODO DE KATO-KATZ

FONTE: Adaptada de Carli (2011)

175
Para o método de Kato-Katz, o seguinte procedimento deve ser realizado
(CARLI, 2011):

• Sobre uma lâmina convencional, coloca-se a placa quantificadora a ser utiliza-


da na contagem das formas parasitárias.
• Adiciona-se a amostra de fezes sobre o papel absorvente (50 a 60 g).
• Sobre as fezes, comprimir a tela de metal ou náilon, permitindo que a amostra
passe através da malha.
• Remover, com o auxílio de uma espátula, a amostra que passou pela malha.
• Transferir essa pequena amostra para a lâmina, adicionando-a no orifício cen-
tral da placa quantificadora.
• Remover, com cuidado, a placa quantificadora, deixando somente a amostra
sobre a lâmina.
• Cobrir a amostra na lâmina com uma lamínula de papel celofane.
• Inverter a lâmina e pressioná-la contra o papel absorvente, para que a amos-
tra se espalhe sobre a lâmina.
• Aguardar 30 minutos (34 a 40 °C) ou 2 horas em temperatura ambiente, para
realizar a observação no microscópio.

DICAS

Acadêmico, para conhecer o passo a passo do método de Kato-Katz, acesse:


https://youtu.be/apuE0YQxVnk.

FIGURA 20 – VERMES ADULTOS DE SCHISTOSOMA MANSONI. OBSERVE QUE A FÊMEA FICA


ALOJADA NO CANAL GINECÓFORO, PRESENTE NO MACHO

FONTE: Adaptada de https://bit.ly/2SjPvcD>. Acesso em: 18 set. 2020.

176
FIGURA 21 – OVOS DE SCHISTOSOMA MANSONI

FONTE: <https://bit.ly/2SjPvcD>. Acesso em: 18 set. 2020.

3.8 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TAENIA SOLIUM,


TAENIA SAGINATA E HYMENOLEPIS NANA

O diagnóstico laboratorial de teníase baseia-se na pesquisa das formas parasitá-


rias nas fezes ou nas pregas anais, por meio do método de Graham (abordado anterior-
mente). A liberação das proglotes auxilia e direciona o diagnóstico, uma vez que as de
Taenia soluim são expelidas passivamente durante a evacuação (3 a 6 proglotes), enquanto
as proglotes de Taenia saginata podem ser encontradas nas roupas íntimas e roupas de
cama, pois têm a característica de forçar a sua passagem pelo orifício anal (REY, 2011).

FIGURA 22 – ILUSTRAÇÃO DAS PROGLOTES

FONTE: <https://shutr.bz/2HVWcPW>. Acesso em: 18 set. 2020.

177
Para a diferenciação laboratorial das espécies de Taenia sp. com base em
suas proglotes, realiza-se a técnica de tamisação e, posteriormente, o método do
ácido acético glacial ou, ainda, o método da tinta da China. Em ambos os métodos,
será possível visualizar as estruturas uterinas e assim diferenciar as espécies (CAR-
LI, 2011), visto que a T. saginata apresenta mais ramificações uterinas (REY, 2011).

A técnicas de tamisação consistem em diluir a amostra de fezes em água e, pos-


teriormente, coar a solução em peneira metálica, utilizando uma pia com água corrente
em intensidade baixa. No método do ácido acético glacial, colocam-se as proglotes em
uma placa de Petri com ácido acético glacial, por 15 a 20 minutos, comprimindo-as en-
tre duas lâminas e observando em microscópio com luz intensa (CARLI, 2011).

No método da tinta da China (nanquim), as proglotes são colocadas em água fria


por algumas horas, posteriormente, secadas e inseridas em uma lâmina com auxílio de
uma pinça. Com uma seringa acoplada a uma agulha hipodérmica, deve-se injetar a tinta
da China no poro genital, lavando-a logo após em água corrente, colocando-a entre duas
lâminas e realizando compressão. Desidratar as proglotes, com auxílio de álcool 70%, e
clarificar com xilol ou toluol, fixar com resina e observar ao microscópio (CARLI, 2011).

FIGURA 23 – DIFERENÇA ENTRE AS ESPÉCIES DE PROGLOTES DE TAENIA

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3jCHrzC>. Acesso em: 18 set. 2020.

A pesquisa de ovos pode ser feita utilizando as técnicas de rotina labora-


torial (como Lutz/HPJ, descrito anteriormente), porém, o resultado não é defini-
tivo para o diagnóstico, visto que são necessários testes em repetidos dias para
aumentar a probabilidade de visualização dos ovos nas fezes. Além de serem
pouco frequentes, não é possível a diferenciação das espécies somente pela carac-
terística do ovo (REY, 2011).

178
FIGURA 24 – VERME ADULTO DE TAENIA SP.

FONTE: <https://shutr.bz/2GI1Ftf>. Acesso em: 17 set. 2020.

FIGURA 25 – OVOS DE TAENIA SP

FONTE: <https://shutr.bz/2HXzU09>. Acesso em: 18 set. 2020.

O Hymenolepis nana também é conhecido como “Taenia anã” e pode ser


diagnosticado pelas técnicas de rotina do setor de parasitologia, como os méto-
dos de Lutz/HPJ (REY, 2011; CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

179
FIGURA 26 – OVOS DE HYMENOLEPIS NANA

FONTE: <https://bit.ly/34snvZX>. Acesso em: 18 set. 2020.

As técnicas para o diagnóstico de parasitoses causadas por helmintos são rápi-


das e de fácil execução. Apesar de algumas terem sido desenvolvidas para a pesquisa
de um parasita em específico, a maioria permite a visualização de mais de uma espécie.

No tópico seguinte, iremos discutir sobre parasitoses causadas por flagelados


e amebas. Está empolgado para descobrir sobre esses parasitas? Então, vamos lá!

180
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O método direto a fresco é rápido e fácil de executar, podendo ser utilizado


para o diagnóstico de ascaridíase.

• Dependendo do verme que está causando a parasitose, podemos encontrar


nas amostras de fezes ovos férteis ou inférteis.

• O método de Graham é o mais indicado para o diagnóstico de enterobíase,


sendo conhecido como método da fita adesiva.

• A tricuríase pode ser diagnosticada pelos métodos de rotina laboratorial, po-


rém, em regiões endêmicas, se deve realizar o método de Kato-Katz.

• O Strongiloides stercoralis é diagnosticado preferencialmente pelo método de


Rugai, devido ao hidro e termotropismo.

• A diferenciação entre os ancilostomídeos através do exame parasitológico é


difícil, embora, para buscar o parasita em amostras de fezes, seja utilizado o
método de Willis.

• O Toxocara canis pode causar uma doença importante, denominada larva mi-
grans visceral (LMV). Seu diagnóstico em humanos é feito por meio de bióp-
sia, testes de imagens e imunológicos.

• A esquistossomose tem como principal método diagnóstico o método de Ka-


to-Katz e a larva fêmea fica alojada no canal ginecóforo do macho.

• É difícil diferenciar Taenia em métodos convencionais, por isso a tamisação e,


posteriormente, os métodos que permitem a visualização da estrutura uterina
podem ser utilizados.

• O Hymenolepis nana, também conhecido como “Taenia anã”, é diagnosticado


pelos métodos convencionais, como Lutz/HPJ.

181
AUTOATIVIDADE

1 A fase pré-clínica das análises laboratoriais é essencial para um diagnóstico


assertivo e seguro, pois cerca de 70% das decisões médicas são baseadas em
exames laboratoriais e 60 a 90% dos erros observados em exames estão re-
lacionados com a fase pré-analítica. Sobre os erros pré-analíticos, responda
as questões a seguir:

a) Discuta sobre a refrigeração de amostras.

b) Qual a interferência relacionada ao uso de medicamentos pelo paciente?

c) É recomendada a liberação de um resultado conclusivo com a análise de


apenas uma amostra? Por quê?

2 O método direto a fresco é um dos mais utilizados na rotina laboratorial,


visto que ele proporciona um panorama geral da amostra e pode direcio-
nar o analista a um método específico para a identificação de determinado
parasita. Descreva os objetivos do método a fresco.

3 Os métodos específicos para o diagnóstico de parasitoses são cruciais para per-


mitir que o médico direcione o tratamento do paciente corretamente. Para o
diagnóstico parasitológico de helmintos, algumas técnicas funcionam melhor
para determinados parasitos, sendo que o uso de uma metodologia não especí-
fica pode não fornecer o resultado real. Com base nas metodologias discutidas
nesta unidade, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O método de Willis é ideal para o diagnóstico de Enterobius vermicularis


e baseia-se na pesquisa da larva desse parasita.
( ) O método de Hoffman ou Lutz/HPJ baseia-se na sedimentação espontâ-
nea e pode ser realizado na pesquisa de muitos parasitas.
( ) O Strongyloides stercoralis é um parasita com hidro e termotropismo, sen-
do o método de Kato-Katz o mais indicado.
( ) O método de Kato-Katz visa a estimar a carga parasitária, sendo utilizado
para o diagnóstico quantitativo de helmintos e o efeito de anti-helmínticos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – V – F – F.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – F – V – F.

4 Paciente M. V. S., sexo masculino, 6 anos de idade, foi levado por sua mãe ao
médico porque, há alguns dias, apresentava dores na região abdominal, diarreia,
182
náuseas e falta de apetite. Devido à faixa etária, o médico desconfiou da presença
de algum tipo de parasitose, porém, antes de iniciar o tratamento com um anti-
-helmíntico clássico, optou por solicitar alguns exames para confirmar a sua sus-
peita e realizar o tratamento adequado. Foram solicitados hemograma e exame
parasitológico de fezes, sendo observado, no hemograma, intenso aumento no
número dos leucócitos totais, mais precisamente na contagem de eosinófilos. No
exame parasitológico de fezes, observou-se na lâmina a seguinte imagem:

FONTE: <https://shutr.bz/30GsR2q>. Acesso em: 25 set. 2020.

a) Qual parasita é possível identificar nessa imagem?

b) Qual método foi utilizado para encontrar esse parasita?

183
184
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES


CAUSADAS POR FLAGELADOS E AMEBAS

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, esperamos que seu aprendizado a respeito de parasitoses es-


teja sendo interessante. É muito bom conhecer novas técnicas e dominar as meto-
dologias que serão utilizadas em um dos setores de parasitologia, não é mesmo?

Embora a parasitologia, por vezes, não seja um setor muito procurado e


não gere interesse por estar relacionada às fezes, trata-se de uma ciência muito
importante para o biomédico/farmacêutico. Neste tópico, vamos discutir os mé-
todos diagnósticos dos parasitas flagelados e das amebas.

2 PESQUISA LABORATORIAL DE FLAGELADOS

Conforme discutido na Unidade 2, os protozoários representam mais


de 60 mil espécies conhecidas, sendo que, aproximadamente, 10 mil acometem
variados animais e apenas algumas dezenas parasitam o ser humano (NEVES,
2011). Entre as principais parasitoses causadas por flagelados que acometem o
homem, será apresentado o diagnóstico de Giardia sp. e Trichomonas sp.

2.1 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE GIARDIA SP.

O diagnóstico laboratorial de giardíase baseia-se na pesquisa das formas


parasitárias (trofozoíto ou cistos) em amostras de fezes. No entanto, o teste deve
ser determinado de acordo com a consistência da amostra do paciente (REY, 2011).

As fezes formadas fornecem a visualização de cistos de Giardia sp., en-


quanto amostras diarreicas permitem a detecção de trofozoítos, os quais podem
ser observados pelo método direto (REY, 2011). Ambos são importantes para o
diagnóstico da parasitose, porém a presença de trofozoítos está intimamente re-
lacionada com os sintomas apresentados pelo paciente.

O conhecimento dos sintomas no paciente é crucial para o profissional


que realizará a análise, visto que os trofozoítos permanecem viáveis durante um
curto período na amostra, sendo necessária a utilização de conservantes, como
formol a 10%, mertiolato, iodo e formol (MIF) ou acetato de sódio-ácido acético-
-formaldeído (SAF). Em contrapartida, os cistos são mais resistentes, não sendo
185
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

necessária a utilização de conservantes. A análise deve ser feita em até 48 horas


em mais de uma amostra coletada em dias alternados, para aumentar a probabi-
lidade de diagnóstico positivo (NEVES, 2011).

O método de Faust (Figura 27), proposto por Faust et al. (1938), foi o primeiro
desenvolvido com o intuito de identificar e isolar cistos de protozoários. Isso permi-
tiu a separação dos cistos de artefatos presentes nas fezes pelo uso de uma solução
com densidade elevada, a qual possibilita a flutuação das formas parasitárias leves e
a sedimentação dos artefatos. Para amostras sem conservantes, utiliza-se uma solu-
ção de sulfato de zinco a 1,18 g/ml, enquanto, para amostras com conservantes, como
SAF ou formol, a densidade da solução deve ser de 1,20 g/ml (CARLI, 2011).

Assim como no método de Willis, apresentado no tópico anterior, para a


preparação da solução de sulfato de zinco 33% (densidade 1,18 g/ml), adicionam-
-se 330 g de cristais de sulfato de zinco a 670 ml de água destilada-deionizada.
Para uma solução mais concentrada (densidade 1,20 g/ml), são utilizados 400 g de
sulfato de zinco e 600 ml de água destilada (CARLI, 2011).

Para a realização do método de Faust, deve-se seguir os procedimentos


(MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2012):

1. Adicionar, aproximadamente, 2 g de fezes a um becker com água destilada e


homogeneizar utilizando um bastão de vidro.
2. Filtrar a amostra com auxílio de uma gaze dobrada quatro vezes e um peque-
no funil ou peneira (assim como foi feito no método de Hoffman), para um
tubo de centrifugação de 15 ml. Depois, centrifugar por 1 minuto a 2.500 rpm
(rotações por minuto).
3. Desprezar o sobrenadante, ressuspender o sedimento em água destilada e
centrifugar por 1 minuto a 2.500 rpm. Realizar essa etapa até que o líquido
esteja límpido.
4. Desprezar o sobrenadante, ressuspender o sedimento em 10 ml da solução de
sulfato de zinco a 33% e centrifugar por 1 minuto a 2.500 rpm.
5. Abrir cuidadosamente o tubo e, com o auxílio de uma alça de platina, retirar
uma gota da película que se forma na superfície do líquido, colocando-a sobre
uma lâmina.
6. Adicionar uma gota de lugol sobre o material, cobri-lo com lamínula e obser-
var no microscópio em objetiva de 10X e de 40X.

186
TÓPICO 2 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS E AMEBAS

FIGURA 27 – MÉTODO DE FAUST PARA A DETECÇÃO DE CISTO DE PROTOZOÁRIOS

FONTE: As autoras

FIGURA 28 – TROFOZOÍTO DE GIARDIA SP.

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/giardiasis/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

187
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

FIGURA 29 – CISTOS DE GIARDIA SP.

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/giardiasis/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

DICAS

Acadêmico, para conhecer o método de Faust, assista ao vídeo: https://bit.ly/2F7aBrF.

2.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TRICHOMONAS SP.

O quadro clínico de tricomoníase, apesar de ser uma das principais causas


do aumento de corrimento vaginal espesso e esbranquiçado (leucorreia), não é
específico nem definitivo. Isso se deve ao fato de outras patologias também pro-
moverem o aparecimento da leucorreia, como a candidíase, sendo a identificação
do parasito necessária para um diagnóstico assertivo (REY, 2011).

A coleta da amostra pode ser feita em homens e mulheres, considerando


algumas informações importantes. Para a coleta masculina, é necessário que o
paciente realize a coleta pela manhã, antes de urinar e livre de medicações trico-
monicidas por 15 dias. A amostra é coletada com o auxílio de uma alça de pla-
tina ou um swab não absorvente, sendo o sêmen ideal para o diagnóstico obtido
pela masturbação. Recomenda-se que uma amostra dos primeiros 20 ml de urina
seja analisada após a centrifugação. Para a coleta feminina, as mulheres não de-
vem realizar a higiene vaginal durante 18 a 24 horas antes do procedimento, bem
como não se recomenda a coleta de pacientes que fizeram uso de medicamento
tricomonicida nos últimos 15 dias. O parasito é frequentemente encontrado na
região vaginal e, em maior quantidade, nos dias iniciais após a menstruação, co-
letando-se o material com o auxílio de um swab não absorvente e sendo realizada
a análise direto a fresco ou por cultura (NEVES, 2011).

188
TÓPICO 2 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS E AMEBAS

FIGURA 30 – COLETA DE AMOSTRA DE SECREÇÃO VAGINAL

FONTE: <https://bit.ly/30ARNIz>. Acesso em: 18 set. 2020.

Em função da susceptibilidade que o parasito apresenta à desidratação e


às mudanças de oxidorredução, a amostra deve ser mantida em conservante ou
meio de transporte para garantir sua viabilidade. Para preservação temporária da
amostra, indica-se o uso de solução salina isotônica glicosilada a 0,2%, solução de
Ringer ou solução de Locke e, para o transporte do material até o local da análise,
podem ser utilizados os meios Stuart e Amies (CARLI, 2011).

A cultura de Trichomonas vaginalis pode ser feita utilizando alguns tipos


de meios de cultura, como Trypticase-Yeast Extract-Maltose (TYM), Simplified-Tryp-
ticase-Serum (STS) e Cysteine-Peptone-Liver-Maltose (CPLM), entre outros (CARLI,
2011). No entanto, o método mais rápido e comum é o direto a fresco, para avaliar
a presença do trofozoíto móvel (CDC, 2017; HERMES PARDINI, 2016).

O exame direto a fresco pode ser realizado com ou sem o auxílio de co-
rantes. No método direto, sem corante, os flagelados mantêm sua motilidade por
algumas horas, se mantidos entre lâmina e lamínula vedada com parafina, e em
temperatura de 20 °C. O uso de corantes em amostras sugestivas de Trichomonas
vaginalis permite o aumento na sensibilidade do exame microscópico, embora o
parasito vivo não se core com corantes como safranina, verde de malaquita, azul
de cresil brilhante ou azul de metileno, a coloração das células e dos leucócitos
presentes na amostra permite o contrate com o parasito, facilitando a sua visuali-
zação. Esfregaços fixados e corados com Giemsa têm sido usados há muitos anos
no diagnóstico da tricomoníase, sendo os reagentes preparados em laboratório
(CARLI, 2011) ou adquiridos prontos (LABORCLIN, 2018a).

189
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

E
IMPORTANT

Acadêmico, quando nos referimos a procedimentos e colorações, é impor-


tante que você siga a bula do kit que utilizará durante a realização do teste, pois cada
laboratório tem suas preferências e os kits podem ser diferentes.

2.2.1 Preparo dos reagentes para a coloração de Giemsa


em laboratório

O passo a passo para a preparação do corante Giemsa a 5% em tampão


de fosfato em pH 7,2, utilizado na coloração de esfregaços fixados (CARLI, 2011):

• Solução concentrada de Giemsa: 0,6 g de Giemsa em pó; 50 ml de glicerina;


50 ml de álcool metílico.
O Procedimento: misturar o pó de Giemsa com a glicerina em um recipiente
e aquecer em banho-maria a 60 °C por 2 horas; após a solução ter esfriado,
adicionar o álcool metílico. Em seguida, armazenar a solução em frasco
âmbar por 2 a 4 semanas e filtrar antes de utilizar.
• Solução tampão de fosfato em pH 7,2: 0,49 g de diidrogenofosfato de potássio
anidro; 1,09 g de hidrogenofosfato dissódico diidratado; 1.000 ml de água
destilada-deionizada.
O Procedimento: dissolver os fosfatos em água e misturar até obter uma
solução homogênea.
• Corante Giemsa a 5% em tampão de fosfato em pH 7,2: 5 ml de solução de
Giemsa; 95 ml de solução tampão de fosfato em pH 7,2.
O Procedimento: preparar, em uma proveta, 100 ml da solução de uso, a
qual deve ser feita diariamente para garantir a viabilidade do reagente.

Segundo Carli (2011), para a coloração de amostras utilizando o corante


Giemsa preparado, devem-se seguir como procedimentos:

1. Em uma lâmina, misturar 2 gotas de solução isotônica a uma porção da amostra co-
letada – caso esteja utilizando sedimento urinário, não é necessário adicionar salina.
2. Realizar o esfregaço para facilitar a coloração e deixar secar em temperatura
ambiente.
3. Fixar o esfregaço já seco com álcool metílico durante 5 minutos.
4. Realizar a coloração do esfregaço utilizando o corante de Giemsa a 5%.
5. Remover o excesso de corante com água corrente e deixar a lâmina secar em
temperatura ambiente e em posição vertical.

190
TÓPICO 2 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS POR FLAGELADOS E AMEBAS

6. Observar o esfregaço em microscópio com objetiva de 100X e óleo de imersão.


7. Os organismos têm tamanho um pouco maior quando comparados aos leucó-
citos polimorfonucleares (neutrófilo).

2.2.2 Coloração de amostras utilizando May-Grunwald-


Giemsa

Alguns laboratórios disponibilizam o corante já pronto para o uso.


Para a coloração com May Grunwald-Giemsa (Figura 31), devem-se realizar os
procedimentos descritos a seguir (LABORCILN, 2018a):

1. Cobrir a lâmina, contendo o esfregaço, com o corante de May Grunwald du-


rante 2 minutos.
2. Adicionar 20 gotas (1 ml) de água destilada tamponada pH 7,0-7,2, deixando
agir durante 1 minuto.
3. Escorrer sem a necessidade de lavar a lâmina em água corrente.
4. Adicionar sobre a lâmina a solução de Giemsa previamente diluída (1 gota
de corante Giemsa para cada 1 ml de água destilada), deixando atuar por 13
a 15 minutos.
5. Lavar com água destilada e deixar secar em posição vertical.

FIGURA 31 – PROCEDIMENTO PARA A COLORAÇÃO COM GIEMSA

191
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

FONTE: As autoras

FIGURA 32 – TRICHOMONAS SP. VISUALIZADO EM ESFREGAÇO E COLORAÇÃO GIEMSA

FONTE: <https://bit.ly/3iDea6o>. Acesso em: 18 set. 2020.

DICAS

Para visualizar a realização da técnica de coloração com May-Grunwald-


-Giemsa, acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=YqbVP1m3hog.

192
3 PESQUISA LABORATORIAL DE AMEBAS

Algumas doenças causadas por protozoários de vida livre caracterizam


graves condições clínicas, sendo a incidência de novos casos constante em ní-
vel mundial. As amebíases são caracterizadas por uma taxa de mortalidade re-
lativamente alta, tornando diagnóstico e terapia eficientes um grande desafio
(KRÓL-TURMIŃSKA; OLENDER, 2017).

Podemos dividir, entre as amebas que podem parasitar o homem, três gêneros
principais: Entamoeba, Endolimax e Iodamoeba. As amebas do gênero Entamoeba podem ser
diferenciadas com base no número de núcleos presentes no cisto maduro, sendo cistos
de até oito núcleos característicos de Entamoeba coli e cistos com até quatro núcleos suges-
tivos de Entamoeba histolytica, E. dispar e E. hartmanni (REY, 2011). Conforme estudado na
Unidade 2, apesar de outras amebas parasitarem o homem, a E. histolytica é considerada
patogênica e tem maior importância clínica (FREITAS; GONÇALVES, 2015).

Para o diagnóstico laboratorial, é importante que as amostras sejam cole-


tadas em conservante, a fim de manter a integridade das formas parasitárias. O
exame a fresco (discutido no Tópico 1) deve ser realizado em até 30 minutos após
a coleta, pois visa à busca pelo trofozoíto em movimento e fagocitose de hemá-
cias – nesse caso, isso garante a segurança para reportar um caso de disenteria
amebiana. Quando a análise da amostra não pode ser feita prontamente após a
coleta, as amostras devem ser mantidas em fixadores como de Schaudinn, embo-
ra, devido à toxicidade do fixador, esse procedimento deva ser realizado somente
se a amostra for coletada em ambiente hospitalar ou laboratorial (NEVES, 2011).

FIGURA 33 – ENTAMOEBA HISTOLYTICA APRESENTANDO DOIS NÚCLEOS

FONTE: <https://shutr.bz/3lgUp6s>. Acesso em: 18 set. 2020.

193
FIGURA 34 – ENTAMOEBA HISTOLYTICA CONTENDO HEMÁCIA APÓS HEMOFAGOCITOSE
(CORADO COM TRICRÔMIO)

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/34BR9Mu>. Acesso em: 18 set. 2020.

FIGURA 35 – ENTAMOEBA COLI

FONTE: <https://bit.ly/2GuYxkA>. Acesso em: 18 set. 2020.

FIGURA 36 – ENDOLIMAX NANA EM OBJETIVA DE 40X

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3nhFcUu>. Acesso em: 18 set. 2020.

194
FIGURA 37 – IODAMOEBA BUTSCHLII, PRESENÇA DE VACÚOLO DE GLICOGÊNIO NO CITOPLASMA

FONTE: <https://bit.ly/2GuYxkA>. Acesso em: 18 set. 2020.

Conforme vimos ao longo deste tópico, as principais parasitoses causadas


por flagelados são Giardia sp. e Trichomonas sp. Entre as amebíases, os três gêneros
principais são Entamoeba, Endolimax e Iodamoeba, que podem ser diferenciados
pelo número de núcleos do cisto maduro.

No tópico seguinte, iremos discutir as principais formas de diagnóstico


das parasitoses causadas por hemoparasitas.

195
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O diagnóstico laboratorial de giardíase é baseado na pesquisa das formas parasitárias


nas fezes, embora o método deva levar em consideração a consistência da amostra.

• As fezes formadas fornecem a visualização de cistos, enquanto fezes diarrei-


cas permitem a visualização de trofozoítos.

• A presença de trofozoíto, entretanto, está intimamente relacionada com a pre-


sença de sintomas clínicos característicos no paciente.

• As fezes diarreicas devem ser coletadas em recipientes com conservantes,


para que os trofozoítos permaneçam estáveis até a análise.

• O método de Faust foi o primeiro desenvolvido com o intuito de identificar os


cistos de protozoários, sendo um método de centrífugo-flutuação.

• Assim como no método de Willis, o método de Faust utiliza o sulfato de zinco


a 33%, para que a visualização dos cistos seja mais eficiente.

• A tricomoníase é uma patologia comum, porém de difícil diagnóstico sem a


pesquisa do parasito, pois causa sintomas muito similares a demais patologias.

• A análise pode ser feita em material coletado de ambos os sexos, levando em


consideração todas as instruções de coleta.

• É importante que o paciente não esteja fazendo uso de medicação tricomicidas


pelo menos 15 dias antes da coleta, a fim de evitar resultados falso-negativos.

• Devido à sensibilidade do parasita, a amostra deve ser coletada e mantida em con-


servantes como salina isotônica glicosilada, solução de Ringer ou solução de Locke.

• A cultura de Trichomonas vaginalis pode ser realizada, porém o método direto


a fresco é mais rápido.

• O exame a fresco pode ser feito com ou sem auxílio de corantes, sendo o sem
corante utilizado para ver a motilidade dos flagelados e a coloração para am-
pliar a visibilidade das formas parasitárias.

• A coloração de May-Grunwald-Giemsa tem sido amplamente utilizada e


apresenta bons resultados.

196
• Podemos dividir, entre as amebas que podem parasitar o homem, três gê-
neros principais: Entamoeba, Endolimax e Iodamoeba. A Entamoeba histolytica é
considerada a mais patogênica.

• O método a fresco é um dos mais utilizados para a detecção da E. histolytica,


devendo ser realizado em até 30 minutos após a coleta.

• Uma característica importante para o diagnóstico da amebíase é a presença de


hemácias no interior da E. histolytica.

• As demais Entamoeba, bem como Endolimax e Iodamoeba, não são consideradas


patogênicas.

197
AUTOATIVIDADE

1 A parasitologia é um dos setores mais requisitados de um laboratório de


análises clínicas, no qual são realizados diversos testes com o objetivo de
diagnosticar patologias causadas por parasitas intestinais. Entre os achados
mais comuns, temos parasitas como a Giardia lamblia. Com base no seu
conhecimento sobre esse parasito, responda às questões a seguir:

a) Qual é o método utilizado no diagnóstico de giardíase?

b) Descreva a metodologia desse teste.

2 Paciente J. S., sexo feminino, 5 anos de idade, apresentando dores na região


abdominal, diarreia, náuseas e falta de apetite. Devido à faixa etária, o mé-
dico desconfia que seja algum tipo de parasitose. No teste parasitológico de
fezes, observa-se uma estrutura pequena, que tem formato oval/gota, que
se assemelha a dois olhos, conforme a imagem a seguir. Assinale o parasita
e a técnica realizada para esse diagnóstico:

FONTE: <https://bit.ly/3d7VXNh>. Acesso em: 27 set. 2020.

( ) Giardia sp. e técnica de Harada-Mori.


( ) Trichomonas sp. e técnica de Baermann-Moraes.
( ) Giardia sp. e técnica de Faust.
( ) Giardia sp. e técnica de Hoffman.
( ) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

3 A tricomoníase é uma patologia que pode acometer homens e mulheres. Por


não ter características clínicas específicas, pode ser facilmente confundida
com as demais vaginoses em mulheres. Entre as características apresentadas
pelas pacientes, está o corrimento vaginal espesso e esbranquiçado – também
observado em quadros de candidíase. Para um diagnóstico assertivo, não somente
de tricomoníase, é necessário que a coleta do material para a análise seja feita
adequadamente, a fim de evitar erros na fase pré-clínica. Com base no conteúdo
do tópico sobre a tricomoníase, disserte sobre a realização do procedimento de
coleta da amostra para análise e busca pelo Trichomonas vaginalis.

198
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES


CAUSADAS POR HEMOPARASITAS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, discutiremos o diagnóstico de importantes patologias cau-


sadas por hemoparasitas, ou seja, parasitas encontrados no sangue.

Sabe-se a importância do diagnóstico assertivo, independentemente do


setor em que a análise seja realizada. No entanto, no que se refere às hemoparasi-
toses, essa análise tem um apelo maior devido à gravidade da patologia.

Conforme visto na Unidade 2, o grau de patogenicidade dos parasitas


flagelados está intimamente relacionado a sua localização. Assim, parasitas pre-
sentes no sangue e no líquor apresentam importância clínica elevada, pois as se-
creções liberadas pelo parasita exercem ação direta nas células sanguíneas, cau-
sando impacto na saúde do indivíduo (MORAES; LEITE; GOULART, 2008).

2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE HEMOPARASITOSES

Entre as hemoparasitoses que iremos discutir neste tópico estão a doença de


Chagas, causada pelo Trypanosoma cruzi; a malária, causada pelo Plasmodium sp.; e a to-
xoplasmose, causada pelo Toxoplasma gondii. Segundo Dias et al. (2016, p. 8): “A doença
de Chagas é uma condição crônica negligenciada com elevada carga de morbimorta-
lidade e impacto dos pontos de vista psicológico, social e econômico. Representa um
importante problema de saúde pública no Brasil, com diferentes cenários regionais”.

Desse modo, com a problemática das secreções liberadas pelo parasita no


sangue e os impactos causados pelas demais hemoparasitoses, é de fundamental
importância que o diagnóstico dessas patologias seja realizado adequadamente.

2.1 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TRYPANOSOMA


CRUZI

O diagnóstico da doença de Chagas, causada pelo Trypanosoma cruzi, tem


como objetivo a pesquisa e a identificação de formas tripomastigotas do parasita
pela observação em microscópio ou por métodos indiretos. Entre os métodos di-
retos, podem-se citar o exame direto a fresco, o método de Strout modificado e as

199
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

preparações coradas, e, entre os indiretos, o xenodiagnóstico, a xenocultura, a he-


mocultura e a inoculação em animais de laboratório, os quais são mais dispendio-
sos e necessitam de mais tempo (CARLI, 2011; DIAS et al., 2016; ALVES et al., 2018).

Em virtude da diminuição da carga parasitária na circulação sanguínea


em pacientes com o quadro crônico da doença, os métodos indiretos são mais
indicados, tendo sensibilidade entre 40 e 50% se considerada a análise de apenas
uma amostra (CHIARI et al., 1989; CHIARI, 1992). Em contrapartida, anticorpos
de fase crônica são muito presentes nesse estágio e podem ser detectados por
testes sorológicos (DIAS et al., 2016), como a reação de fixação do complemento,
o teste da hemaglutinação, a reação de imunofluorescência indireta e o imuno-
enzimático (ensaio de imunoabsorção ligado à enzima – ELISA) (CARLI, 2011).

• Método direto a fresco: uma gota de sangue é colocada entre a lâmina e a lamínula
e observada em microscópio com o auxílio da objetiva de 40X (DIAS et al., 2016).
• Método de Strout: baseia-se na coleta da amostra em capilar e centrifugação
do material em baixa rotação. Na sequência, realiza-se a observação do mate-
rial da porção formada entre as hemácias e a série branca (leucocitária) entre
a lâmina e a lamínula – a técnica apresenta positividade em cerca de 70% dos
casos (CEDILLOS; DIMAS; HERNANDEZ, 1970).
• Amostras coradas: podem ser utilizadas coloração de Giemsa ou Leishman
(Figura 38) (CARLI, 2011).

FIGURA 38 – T. CRUZI E T. RANGELI EM COLORAÇÃO GIEMSA

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3d8eVn8>. Acesso em: 18 set. 2020.

A coloração de Leishman (Figura 39) tem como base dois componentes:


eosina azul de metileno e álcool metílico. Para a coloração, são realizados os se-
guintes passos (LABORCLIN, 2018b):

• Realizar o esfregaço sanguíneo.


• Cobrir o esfregaço com 7 a 10 gotas do corante de Leishman, durante 3 minutos.

200
TÓPICO 3 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS POR HEMOPARASITAS

• Adicionar 14 a 20 gotas de água destilada sobre a lâmina, para que se misture


ao corante. Cuidado para o conteúdo não extravasar.
• Deixar o corante agir por 10 a 12 minutos.
• Escorrer e lavar em água corrente.
• Deixar a lâmina secar na posição vertical e, em seguida, observar no microscópio.

FIGURA 39 – COLORAÇÃO DE LEISHMAN

FONTE: As autoras

201
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

DICAS

Acadêmico, para conhecer um pouco mais sobre a doença de Chagas e o T.


cruzi, leia o seguinte artigo apresentado no II Congresso Brasileiro em Doença de Chagas:
https://bit.ly/3jCWRnl.

2.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PLASMODIUM SP.

A malária é uma patologia causada pelo gênero Plasmodium sp. e pode ter
como agentes P. vivax, P. falciparum ou P. malariae. A doença ocorre após a pica-
da do mosquito Anopheles e as manifestações mais importantes da patologia são
febre elevada, sudorese excessiva e calafrios – sintomas cíclicos relacionados ao
agente etiológico em questão (MONTEIRO; RIBEIRO; FERNANDES, 2013).

O diagnóstico laboratorial da malária envolve a busca e a diferenciação do pa-


rasita em amostra de sangue do paciente e, quanto antes o diagnóstico for realizado,
melhor o prognóstico (e a chance de cura). O esfregaço sanguíneo corado com Giemsa
(discutido no Tópico 2) ainda é o método mais utilizado. A Tabela 1 apresenta as princi-
pais diferenças entre as formas eritrocíticas das espécies de Plasmodium (CARLI, 2011).

TABELA 1 – CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DAS FORMAS ERITROCÍTICAS DAS ESPÉCIES


DE PLASMODIUM CAUSADORAS DE MALÁRIA

Espécie de
P. falciparum P. vivax P. malariae
Plasmodium
Aspecto dos Normal, apresentan- Aumentado e apre- Normal, apresentan-
e r i t r ó c i t o s do granulações de sentando granula- do granulações de
infectados Maurer raras ções de Schüffner Ziemann raras
O citoplasma é del-
gado, e a cromatina é O citoplasma é es-
O citoplasma é es-
pequena e em forma pesso e o núcleo
pesso e o núcleo
Trofozoíto de anel. Raramente apresenta cromatina
apresenta cromatina
jovem apresenta granula- média. Ocupa cerca
única. Poliparasitis-
ções de Maurer. Poli- de 1/3 do volume da
mo raro (Figura 43)
parasitismo frequen- hemácia (Figura 45)
te (Figuras 40 e 41)
Citoplasma com-
Citoplasma irregular pacto, arredondado.
Trofozoíto Raro no sangue peri- e com aspecto ame- Cromatina pouco vi-
maduro férico boide. Cromatina sível. Disposição em
isolada faixa equatorial no
eritrócito (Figura 46)

202
TÓPICO 3 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS POR HEMOPARASITAS

Pouco encontrado
no sangue periférico. Apresenta forma Apresenta cromatina
Apresenta formato ameboide, o cito- pouco segmentada e
arredondado, cito- plasma é irregular e pode manifestar-se
Esquizonte
plasma pouco irre- com vacúolos. A cro- em forma de banda
gular e cromatina matina é segmenta- equatorial (Figura
com grânulos espes- da (Figura 44) 47)
sos (Figura 42)
Número de
merozoítos 6 a 32 12 a 24 6 a 12
na hemácia
FONTE: Adaptada de Carli (2011, p. 357)

FIGURA 40 – ANÉIS DE P. FALCIPARUM EM AMOSTRA DE SANGUE

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/malaria/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

FIGURA 41 – ANÉIS DE P. FALCIPARUM EM AMOSTRA DE SANGUE APRESENTANDO GRANULA-


ÇÕES DE MAURER

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/malaria/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

203
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

FIGURA 42 – ESQUIZONTES DE P. FALCIPARUM

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/malaria/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

FIGURA 43 – ANÉIS DE P. VIVAX EM AMOSTRA DE SANGUE

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/malaria/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

FIGURA 44 – ESQUIZONTES DE P. VIVAX EM AMOSTRA DE SANGUE – NOTAM-SE OS VACÚO-


LOS NO CITOPLASMA

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/malaria/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

204
TÓPICO 3 — DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITOSES CAUSADAS POR HEMOPARASITAS

FIGURA 45 – ANÉIS DE P. MALARIAE EM AMOSTRA DE SANGUE – APARÊNCIA EM FORMATO DE


“OLHO DE AVE” DOS TROFOZOÍTOS

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/malaria/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

FIGURA 46 – TROFOZOÍTOS MADUROS DE P. MALARIAE EM AMOSTRA DE SANGUE, FORMA-


ÇÃO DA BANDA/FAIXA EQUATORIAL

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/malaria/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

FIGURA 47 – ESQUIZONTES DE P. MALARIAE EM AMOSTRA DE SANGUE

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/malaria/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

205
UNIDADE 3 — MÉTODOS UTILIZADOS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS PARASITOSES

2.3 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE TOXOPLASMA SP.

A toxoplasmose, em especial a toxoplasmose congênita – transmitida du-


rante a gestação da mãe ao bebê –, é considerada um grave problema de saúde
pública que, quando não tratado, pode trazer sérios danos ao bebê. O maior risco
ocorre quando a gestante se infecta com o agente causador, o Toxoplasma gondii,
ou apresenta a reagudização de um quadro crônico (MOURA et al., 2016).

O diagnóstico laboratorial pode ser feito pelo isolamento do parasita no


sangue, quando em fase aguda da doença, em exsudatos e/ou líquor ou, ainda,
em cortes histológicos corados com Giemsa. Apesar de essas técnicas estarem
disponíveis, o imunodiagnóstico (pesquisa de anticorpos de fase aguda ou crô-
nica) ainda é o método mais utilizado, em virtude de sua fácil execução e alta
sensibilidade. Embora ELISA seja o principal ensaio imunológico, também po-
dem ser realizadas a reação de Sabin-Feldman, a imunofluorescência indireta, a
reação de hemaglutinação indireta, a aglutinação em látex e a reação de fixação
do complemento (REY, 2011). O método ELISA foi apontado no Tópico 1 e será
mais amplamente discutido na Disciplina de Imunologia Clínica.

FIGURA 48 – TAQUIZOÍTOS (TROFOZOÍTOS) DE TOXOPLASMA GONDII ISOLADOS DE FLUÍDO


PERITONEAL

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/toxoplasmosis/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

FIGURA 49 – BRADIZOÍTOS (CISTOS) DE TOXOPLASMA GONDII ISOLADOS DE TECIDO ENCEFÁLICO

FONTE: <https://www.cdc.gov/dpdx/toxoplasmosis/index.html>. Acesso em: 18 set. 2020.

206
LEITURA COMPLEMENTAR

DETECÇÃO DE GIARDIA LAMBLIA EM EXAMES PARASITOLÓGICOS


DE FEZES: AVALIAÇÃO COMPARATIVA DE RESULTADOS EM LABORA-
TÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS DE REDE PRIVADA E PÚBLICA

Jaqueline da Silva Lacerda


Maria Eduarda Dias

Resumo

Giardia lamblia é um protozoário flagelado que parasita o trato intestinal, sendo


uma das infecções parasitárias mais comuns do mundo. Atinge ambos os sexos, espe-
cialmente a população infantil, tendo como principal forma de diagnóstico o exame
parasitológico de fezes. Sua incidência é influenciada por condições sanitárias inade-
quadas, normalmente à idade e aos aspectos socioeconômicos. Para verificar a preva-
lência de Giardia lamblia em crianças da faixa etária de 0 a 10 anos, a fim de comparar
os resultados positivos de exames parasitológicos em laboratórios de análises clínicas
privado e público, a pesquisa foi feita, no período de janeiro a dezembro de 2014, em
um laboratório privado, situado na cidade de Araçatuba-SP, e em um laboratório do
Sistema Único de Saúde (SUS), localizado na cidade de Andradina-SP, ambos com cer-
ca de 2 mil exames realizados. Os dados foram obtidos por meio de prontuários de pa-
cientes com idades entre 0 a 10 anos, de ambos os sexos. As variáveis analisadas foram
sexo, idade, resultado dos exames e em qual laboratório o exame foi feito. Foi realiza-
da uma comparação dos resultados obtidos e, posteriormente, utilizado o programa
Microsoft Excel 2010 para fornecer gráficos e tabelas para melhor compreensão. Ao
avaliar o conhecimento da população sobre Giardia lamblia, foi observado que dos 2.116
formulários avaliados, 83,27% (n = 1.762) foram negativos para tal protozoário e 16,73%
(n = 354) positivos, sendo 52,5% (n = 1.111) realizados em laboratório público e 47,5%
(n = 1.005) em laboratório privado. Entre as crianças parasitadas, 55,6% (n = 197) eram
meninas e 44,4% (n = 157) meninos. Observou-se que cerca de 16% dos exames anali-
sados foram positivos para Giardia lamblia, sendo a predominância em meninas entre 0
a 4 anos de idade, e não houve diferença significativa entre os laboratórios analisados.

Introdução

As parasitoses intestinais são comuns e de grande importância para a saúde pú-


blica, uma vez que podem causar efeitos relevantes como desnutrição, problemas físicos
e até mentais (MELO; FERRAZ; ALEIXO, 2010). Também estão associadas à condição so-
cioeconômica e de saneamento básico. A população infantil é uma das mais afetadas por
tais parasitoses, entre as quais se destaca a Giardia lamblia (CIMERMAN; CIMERMAN,
2005), conhecida também como Giardia intestinalis e Giardia duodenalis. Trata-se de um
protozoário flagelado que parasita o trato intestinal, sendo uma das infecções parasitárias
mais comuns do mundo, que atinge tanto homens quanto mulheres – embora seja mais
recorrente na faixa etária de 0 a 10 anos (VIEIRA et al., 2012; SILVA, 2009).

207
Esse parasita pode ser encontrado na natureza nas formas de cistos ou tro-
fozoítos, porém a forma infectante se dá por meio dos cistos desse protozoário. O
cisto apresenta uma forma ovalada, contendo uma parede cística e, em seu interior,
dois ou quatro núcleos, corpos parabasais, flagelos e axonemas. Mede cerca de 8 a
12 u de comprimento por 7 a 9 u de largura. São resistentes às variações de tempe-
raturas e umidade, e podem sobreviver até 2 meses fora do corpo do hospedeiro. O
trofozoíto tem forma de pera, com extremidade anterior dilatada e posterior afila-
da, apresentando um comprimento de 2,1 u a 9,5 u e largura de 5 a 15 u. Tem sime-
tria bilateral que divide o parasita ao meio, sendo visíveis duas formações lineares
e escuras, chamadas de axonemas (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

A transmissão da giardíase está relacionada com vários fatores, entre os quais


podem-se citar água contaminada, verduras, legumes, alimentos manipulados por
pessoas que portam o parasita, contato direto principalmente em creches, escolas e
asilos (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005). O cisto, ao ser ingerido, passa pelo trato
gastrointestinal, onde, no duodeno, perde sua membrana cística, transformando-se
de cisto para a forma de trofozoíto e podendo tanto ficar na luz intestinal como aderir
à parede duodenal. Em certo momento, o trofozoíto produz altos níveis de proteína
de parede, vindo a encistar-se, onde é eliminado nas fezes e permanece no ambiente
para um novo ciclo. Quando há uma grande quantidade de trofozoítos localizados
no duodeno, isso produz um tipo de barreira que impede a absorção de certas vita-
minas, como as vitaminas A, D, E, K e B12, os ácidos graxos e o ácido fólico.

O indivíduo portador do parasita pode apresentar um quadro clínico de des-


nutrição, diarreia aguda, dores abdominais etc., que são os sintomas mais comuns,
porém há indivíduos portadores que são assintomáticos (CIMERMAN; CIMERMAN,
2005; VIEIRA et al., 2012; SOUZA et al., 2012). Populações que vivem em condições
precárias em relação a saneamento básico são as mais afetadas por Giardia lamblia, prin-
cipalmente a população infantil, que é mais suscetível a tais infecções pelo fato de seus
hábitos serem pouco higiênicos (CARDOSO; SANTANA; AGUIAR, 1995).

A melhor forma de diagnosticar este protozoário é pelo exame parasitológico


de fezes, tendo como objetivo a pesquisa de trofozoítos ou cistos na amostra (MA-
CHADO et al., 2001). Para a pesquisa de tal parasita, recomenda-se coletar ao menos
três amostras em períodos distintos, pois a excreção de cistos é variável a cada dia.
Em fezes diarreicas, sugere-se o uso de conservante SAF ou Schaudinn para a análise
de trofozoítos, podendo ser por método direto ou corado pela hematoxilina férrica.
Em caso de fezes pastosas, recomenda-se o método de Ritchie ou Faust para a pes-
quisa de cistos. Além desses métodos, que são os mais adotados para essa análise, há
também outros como o Enterotest e método de ELISA, porém pouco realizados pelos
laboratórios de análises clínicas devido ao seu alto custo (MOTTA; SILVA, 2002).

Metodologia

Este artigo apresenta um estudo de campo de natureza transversal descri-


tivo de caráter observacional, que visou a comparar resultados de exames para-
sitológicos de fezes realizados em crianças. Foram comparados 2.116 prontuários

208
coletados de dois laboratórios, de pacientes entre 0 a 10 anos com pedidos de
exames parasitológicos de fezes, sendo 1.111 em um laboratório de rede pública
(SUS), localizado na cidade de Andradina-SP, e 1.005 em um laboratório de cará-
ter privado, localizado na cidade de Araçatuba-SP, ambos devidamente autoriza-
dos por meio do Termo de Intenção de Pesquisa. Os resultados foram coletados
após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa. Os critérios de inclusão dos
sujeitos da pesquisa foram prontuários de crianças, com idade entre 0 a 10 anos,
contendo exames parasitológicos de fezes realizados no período de janeiro a de-
zembro de 2014. Foram excluídos prontuários de crianças fora da faixa etária de-
terminada, do período descrito e sem registro de exames parasitológico de fezes.

A pesquisa foi realizada após a autorização sob nº 1.131.310 (Anexo 1) con-


cebida pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Paulista – UNIP. O referi-
do projeto foi apresentado com os seguintes documentos: Carta de Apresentação
do Projeto, Termo de Intenção de Pesquisa, Orçamento da pesquisa e o Termo de
Consentimento Livre Esclarecido. O pesquisador se compromete a manter sigilo
sobre as informações contidas nos formulários, conforme citado na Resolução nº
466/2012 do Ministério da Saúde. Os dados foram coletados, pelo próprio autor da
pesquisa, de prontuários disponibilizados pelos dois laboratórios de análises clíni-
cas, compilados de acordo com os objetivos da pesquisa e inseridos em planilhas
do Microsoft Excel 2010, para análise e elaboração de gráficos, tabelas e figuras.

Resultados e discussão

De um total de 2.116 prontuários avaliados, 52,5% (n = 1.111) foram coleta-


dos em um laboratório de rede pública e 47,5% (n = 1.005) em um de rede privada.
Na Tabela 1, observa-se que, do total de prontuários, 83,27% (n = 1.762) dos resul-
tados foram negativos e 16,73% (n = 354), positivos para Giardia lamblia em exames
parasitológicos de fezes, sendo que, dos positivos, 59,6% (n = 211) foram feitos em
laboratório de rede pública e 40,4% (n = 143) em privado. Na pesquisa de Pereira et
al. (2007), houve um percentual de 9,9% dos resultados positivos em relação ao nú-
mero total de amostras. Dos prontuários avaliados, 51,1% (n = 1.082) eram crianças
do sexo feminino e 48,9% (n = 1.034), do masculino, sendo que, dos positivos para
Giardia lamblia, 55,6% (n = 197) eram meninas e 44,4% (n = 157), meninos. Semelhan-
temente ao estudo de Tashima (2007), a pesquisa apresentou a predominância do
sexo feminino em 61,4% no total de amostras a serem analisadas, embora tenha se
diferenciado em relação à predominância de casos positivos, cujo sexo masculino
predominou em 66,7% dos casos analisados por Tashima (2007).

209
TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO RELATIVA E ABSOLUTA QUANTO AO TOTAL DOS PRONTUÁRIOS
ANALISADOS, RESULTADOS DOS EXAMES PARASITOLÓGICOS DE FEZES, E GÊNERO DOS PA-
CIENTES, NOS DOIS LABORATÓRIOS PESQUISADOS

Variáveis Laboratório % Laboratório % Total %


Público (N) Privado (N) (N)
Prontuários 1111 52,5 1005 47,5 2116 100
Avaliados

Resultados 211 59,6 143 40,4 354 16,73


Positivos

Resultados 900 51,08 862 48,92 1762 83,27


Negativos

Sexo 565 52,21 517 47,79 1082 51,13


Feminino

Sexo 546 52,8 488 47,2 1034 48,87


Masculino

Na Figura 1, das crianças que apresentaram resultados positivos, em la-


boratório de rede pública, para Giardia lamblia, 55,9% (n = 118) eram do sexo fe-
minino e 44,1% (n = 93) do sexo masculino, enquanto, nos exames do laboratório
de rede privada, 55,2% (n = 79) eram do sexo feminino e 44,8% (n = 64) do sexo
masculino – o que demonstrou não haver diferenças entre ambos laboratórios, di-
ferentemente do estudo de Machado et al. (1999), que, ao pesquisar a prevalência
do mesmo protozoário entre instituições particular e pública, encontrou 61,1%
dos casos em instituição pública e 9,7% em instituição privada.

FIGURA 1 – AVALIAÇÃO COMPARATIVA DOS RESULTADOS POSITIVOS COM RELAÇÃO AO GÊ-


NERO E TIPO DE LABORATÓRIO

210
Com relação à idade dos pacientes que apresentaram resultados positivos
para Giardia lamblia, a prevalência foi classificada de acordo com as seguintes faixas
etárias (Tabela 2): de 0 a 2 anos, 44,35% (n = 157); de 2 a 4 anos, 31,07% (n = 110); de 4
a 6 anos, 14,41% (n = 51); de 6 a 8 anos, 6,5% (n = 23); e de 8 a 10 anos, 3,67% (n = 13).

TABELA 2 – DISTRIBUIÇÃO RELATIVA E ABSOLUTA DOS PACIENTES POSITIVOS PARA GIARDIA LAMBLIA
Avaliação da faixa etária e tipo de laboratório. Araçatuba/ SP, 2015.
Variáveis T o t a l % Laboratório % Laboratório %
(N) Público (N) Privado (N)
0 a 2 anos 157 44,35 98 46,4 59 41,3
2 a 4 anos 110 31,07 62 29,4 48 33,6
4 a 6 anos 51 14,41 28 13,3 23 16
6 a 8 anos 23 6,5 14 6,6 9 6,3
8 a 10 anos 12 3,67 9 4,3 4 2,8
Total 354 100 211 100 143 100

A Tabela 2 descreve também que, dos 354 resultados positivos para Giar-
dia lamblia:

• Na faixa etária de 0 a 2 anos (44,35%; n = 157), 46,4% (n = 98) dos exames fo-
ram realizados em laboratório de rede pública e 41,3% (n = 59) em laboratório
privado.
• Na faixa etária de 2 a 4 anos (n = 110), 29,4% (n = 62) dos exames foram feitos
em laboratório de rede pública e 33,6% (n = 48) e laboratório privado.
• Na faixa etária de 4 a 6 anos, 13,3% (n = 28) dos exames foram realizados em
laboratório público e 16% (n = 23) em laboratório particular.
• Na faixa etária de 6 a 8 anos, 6,6% (n = 14) dos exames foram feitos em labora-
tório de rede pública e 6,3% (n = 9) em laboratório de rede privada.
• Na faixa etária de 8 a 10 anos, 4,3% (n = 9) dos exames foram realizados em
laboratório de rede pública e 2,8% (n = 4) em laboratório privado.

De acordo com esses resultados, nota-se que houve uma predominância


nas faixas etárias de 0 a 2 anos (44,35%; n = 157) e de 2 a 4 anos (31,07%; n = 110).
Semelhantemente ao estudo de Mascarini e Donalisio (2006), as contaminações
por Giardia lamblia foram em crianças das mesmas faixas etárias encontradas em
nosso estudo, sendo de 29,4% e 34,1%, respectivamente.

Conclusão

Os resultados obtidos demonstram que houve uma incidência de cerca


de 17% de crianças com exames parasitológicos de fezes positivos para o proto-
zoário Giardia lamblia no total das análises realizadas nos dois laboratórios pes-

211
quisados, sem diferença significativa entre o público e o particular. Os exames
positivos foram ligeiramente predominantes em meninas, em especial nas faixas
etária de 0 a 2 anos e de 2 a 4 anos de idade.

FONTE: Adaptado de LACERDA, J. da S.; DIAS, M. E. Detecção de Giardia lamblia em exames pa-
rasitológicos de fezes: avaliação comparativa de resultados em laboratório de análises clínicas de
rede privada e pública. Revista Saúde UniToledo, Araçatuba, v. 1, n. 1, p. 147-156, mar./ago. 2017.
Disponível em: https://bit.ly/30Hi0Fz. Acesso em: 26 set. 2020.

212
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O diagnóstico laboratorial da doença de Chagas tem como objetivo a pesquisa


e a identificação de formas tripomastigotas do parasita.

• O diagnóstico de T. cruzi pode ser realizado por meio de métodos indiretos,


como xenodiagnóstico, xenocultura, hemocultura e inoculação em animais de
laboratório.

• Em virtude da diminuição da carga parasitária na circulação sanguínea em


pacientes com o quadro crônico da doença de Chagas, anticorpos de fase crô-
nica são muito presentes e podem ser detectados por testes sorológicos.

• As colorações mais utilizadas para diagnóstico de T. cruzi são Giemsa e


Leishman.

• A malária pode ser causada por três espécies de Plasmodium: P. vivax, P. falci-
parum ou P. malariae.

• O esfregaço sanguíneo corado com Giemsa é o método mais utilizado no


diagnóstico de malária.

• A toxoplasmose é causada pelo Toxoplasma gondii e, em sua forma congênita,


é considerada um problema de saúde pública.

• O diagnóstico laboratorial de malária é feito por isolamento do parasita no


sangue, exudatos e/ou líquor, cortes histológicos corados com Giemsa ou tes-
tes sorológicos.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

213
AUTOATIVIDADE

1 Embora a doença de Chagas apresente alta taxa de mortalidade e morbida-


de, é negligenciada e causa grande impacto psicológico, social e econômico.
É uma patologia causada pelo Trypanosoma cruzi e pode ser diagnosticada
por meio de diversos métodos diretos e indiretos. Com base no discutido
sobre essa patologia, responda às questões a seguir:

a) Quais são os métodos diretos utilizados para o diagnóstico de Trypanosoma


cruzi?

b) Descreva o procedimento para a realização da coloração de Leishman.

2 A malária, uma patologia adquirida a partir da picada do mosquito Anophe-


les, manifesta-se por sintomas como febre elevada, sudorese intensa e ca-
lafrios. A intensidade dos sintomas e a sincronicidade com que aparecem
dependerão do agente causador, seja ele Plasmodium vivax, P. falciparum ou
P. malariae. Com base no que foi discutido neste tópico, diferencie os trofo-
zoítos das três espécies de Plasmodium.

3 A toxoplasmose é uma patologia que apresenta sérios danos quando ad-


quirida ou reagudizada durante a gestação, causando sérios problemas de
saúde ao feto. Os trofozoítos, nessa patologia, são denominados de taqui-
zoítos e, quando em fase crônica ou latente, o parasita se aloja nos tecidos e
pode permanecer incubado por anos. Discorra sobre as metodologias utili-
zadas no diagnóstico de toxoplasmose.

214
REFERÊNCIAS
ALVES, D. F. et al. Métodos de diagnóstico para a doença de Chagas: uma atua-
lização. RBAC, v. 50, n. 4, p. 330-333, 2018. Disponível em: https://bit.ly/3iBpro2.
Acesso em: 18 set. 2020.

BAERMANN, G. Eine einfache Methode zur Auffindung von Ankylostomum


(Nematoden). In: Larven in Erdproben. Neded Geneesk Laborat Weltever Fees-
tbundel, v. 41, 1917.

BRASIL. Resolução RDC nº 302, de 13 de outubro de 2005. Dispõe sobre Regu-


lamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Disponível em:
https://bit.ly/2GF7ebV. Acesso em: 10 ago. 2020.

BRASIL. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília: Minis-


tério da Saúde, 2010.

BROOKE, M. M.; DONALDSON, A. W.; MITCHELL, R. B. A method of supplying


cellulose tape to physicians for diagnosis of enterobiasis. Public Health Reports,
v. 64, p. 897-901, 1949.

CARLI, G. A. de. Parasitologia clínica. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2011.

CDC. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Trichomonia-


sis. 2017. Disponível em: https://bit.ly/3iDea6o. Acesso em: 10 ago. 2020.

CEDILLOS, R.; DIMAS, D.; HERNANDEZ, A. Blood concentration method in the


diagnosis of Chagas disease. Revista Latinoamericana de Microbiologia, v. 12,
p. 200-203, 1970.

CHIARI, E. Diagnostic tests for Chagas disease. In: WENDEL, S. et al. (Eds.). Cha-
gas disease (American trypanosomiasis): its impact on transfusion and clinical
medicine. ISBT Brazil, São Paulo, 1992. p. 153-164.

CHIARI, E. et al. Hemocultures for the parasitological diagnosis of human chro-


nic Chagas disease. Rev Inst Med Trop S Paulo, v. 22, p. 19-23, 1989.

CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S. Parasitologia humana e seus fundamentos ge-


rais. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.

CODAGNONE, F. T. et al. The use of indicators in the pre-analytical phase as a labora-


tory management tool. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 50,
n. 2, p. 100-104, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3ldwl4m. Acesso em: 18 set. 2020.

215
DIAS, J. C. P. et al. Aspectos gerais da epidemiologia da doença de Chagas, com
especial atenção ao Brasil. In: II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas, 2015.
Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 25, p. 7-86, 2016. Disponível em: https://
bit.ly/30A6L1J. Acesso em: 18 set. 2020.

FAUST, E. C. et al. Comparative efficiency of various technics for the diagnosis of


protozoa and helminths in feces. Journal of Parasitology, v. 25, p. 241-262, 1939.

FAUST, E. C. et al. A critical study of clinical laboratory technics for the diagnosis
of protozoan cysts and helminth eggs in feces. I. Preliminary communication.
American Journal of Tropical Medicine, v. 18, n. 2, p. 169-183, 1938.

FREITAS, O. E.; GONÇALVES, T. O. F. Imunologia, parasitologia e hematologia


aplicadas à biotecnologia. São Paulo: Érica, 2015.

GONÇALVES, E. M. do N. et al. Emprego da azida sódica, como conservador de


fezes, para a pesquisa de ovos de Schistosoma mansoni pelo método de Kato-
-Katz. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 21, n. 2, p. 59-62,
1988. Disponível em: https://bit.ly/2Syoh1W. Acesso em: 18 set. 2020.

GRAHAM, C. F. A device for the diagnosis of Enterobius vermicularis. American


Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 21, n. 1, p. 159-161, 1941.

GUIMARÃES, A. C. et al. O laboratório clínico e os erros pré-analíticos. Rev. HCPA, v.


31, n. 1, p. 66-72, 2011. Disponível em: https://bit.ly/36DgiZv. Acesso em: 18 set. 2020.

HERMES PARDINI. Manual de exames do Hermes Pardini. 2016. Disponível


em: http://www3.hermespardini.com.br/repositorio/media/site/profissionais_
da_saude/manual_exames.pdf. Acesso em: 18 set. 2020.

HERMES PARDINI. Instruções para coleta de exame parasitológico de conser-


vante MIF. 2020. Disponível em: https://bit.ly/2GFJioD. Acesso em: 10 ago. 2020.

HOFFMAN, W. A.; PONS, J. A.; JANER, J. L. The sedimentation-concentration


method in schistosomiasis mansoni. Puerto Rico Journal of Public Health &
Trop. Med., v. 9, p. 281-298, 1934.

KATO, K. A correct application of the thick-smear technic with cellophane paper


cover. A. Pamphlet, p. 1-9, 1960.

KATO, K.; MIURA, M. Comparative examination. Japanese Journal of Parasito-


logy, v. 3, p. 35, 1954.

KATZ, N.; CHAVES, A.; PELLEGRINO, J. A simple device for quantitative stool
thick-smear technique in Schistosomiasis mansoni. Revista do Instituto de Medici-
na Tropical de São Paulo, v. 14, n. 6, p. 397-400, 1972. Disponível em: https://bit.
ly/2I4FwpB. Acesso em: 18 set. 2020.

216
KRÓL-TURMIŃSKA, K.; OLENDER, A. Human infections caused by free-living
amoebae. Annals of Agricultural and Environmental Medicine, v. 24, n. 2, p.
254-260, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2GpNkSu. Acesso em: 18 set. 2020.

LABORCLIN. May Grunwald: Giemsa. 2018a. Disponível em: https://bit.ly/2Sx-


2zLJ. Acesso em: 18 set. 2020.

LABORCLIN. Corante Leishmann. 2018b. Disponível em: https://bit.ly/3iE0Bnn.


Acesso em: 18 set. 2020.

LUTZ, A. O. Schistosomum mansoni e a schistosomatose, segundo observações,


feitas no Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 11, p. 121-155, 1919.
Disponível em: https://bit.ly/3lomGYH. Acesso em: 18 set. 2020.

MOLINARO, E. M.; CAPUTO, L. F. G.; AMENDOEIRA, M. R. R. (Orgs.). Concei-


tos e métodos para formação de profissionais em laboratórios de saúde. v. 5. Rio
de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Instituto Oswaldo Cruz
(EPSJV, IOC), 2012. Disponível em: https://bit.ly/3lkzDD3. Acesso em: 18 set. 2020.

MONTEIRO, M. R. C.; RIBEIRO, M. C.; FERNANDES, S. C. Aspectos clínicos e


epidemiológicos da malária em um hospital universitário de Belém, Estado do
Pará, Brasil. Pan-Amazônica de Saúde, v. 4, n. 2, p. 33-43, 2013. Disponível em:
https://bit.ly/3d2SIqt. Acesso em: 18 set. 2020.

MORAES, R. G.; LEITE, I. C.; GOULART, E. G. Parasitologia e micologia huma-


na. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

MOURA, F. L. et al. Fatores associados ao conhecimento sobre a toxoplasmose


entre gestantes atendidas na rede pública de saúde do município de Niterói, Rio
de Janeiro, 2013-2015*. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 25, n. 3, p. 655-661,
2016. Disponível em: https://bit.ly/33B2gWB. Acesso em: 18 set. 2020.

NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016.

NEVES, D. P. Parasitologia humana. 12. ed. São Paulo: Atheneu, 2011.

PLEBANI, M. Towards quality specifications in extra-analytical phases of labora-


tory activity. Journal of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine, v. 42, n.
6, p. 576-577, 2004.

REY, L. Bases da parasitologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

RUGAI, E.; MATTOS, T.; BRISOLA, A. P. Nova técnica para isolar larvas de nematoi-
des das fezes: modificação do método de Baermann. Revista do Instituto Adolfo Lutz,
v. 14, n. 1, p. 5-8, 1954. Disponível em: https://bit.ly/2GwhovB. Acesso em: 18 set. 2020.

217
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORATO-
RIAL – SBPC/ML. Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/
Medicina Laboratorial (SBPC/ML): coleta e preparo da amostra biológica. Barueri:
Manole, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3d2T0xz. Acesso em: 18 set. 2020.

WILLIS, H. H. A simple levitation method for the detection of hookworm ova.


Medical Journal of Australia, v. 29, p. 375-376, 1921.

218

Você também pode gostar