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Microbiologia

Clínica
Profª. Gheniffer Fornari
Prof. João Frederico Musial

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Profª. Gheniffer Fornari
Prof. João Frederico Musial

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

F727m
Fornari, Gheniffer
Microbiologia clínica. / Gheniffer Fornari; João Frederico Musial. –
Indaial: UNIASSELVI, 2021.
190 p.; il.
ISBN 978-65-5663-640-5
ISBN Digital 978-65-5663-639-9
1. Bacteriologia clínica. - Brasil. I. Musial, João Frederico. II. Centro
Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 610

Impresso por:
Apresentação
Olá acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Microbiologia Clínica. Inicia-
remos os estudos deste livro, que está dividido em três unidades, com o objetivo de
apresentar sobre as bactérias de interesse clínico e de como é realizado o diagnóstico.

Com o passar dos anos, tem aumentado o número de casos de bactérias


multirresistentes e, dessa forma, o profissional biomédico deve estar atento às atu-
alizações deste grupo, bem como estar pronto para a realização do diagnóstico e
avaliação de testes de sensibilidade para auxiliar no tratamento dessas doenças.

Você deve se perguntar: como as bactérias conseguem se tornar resis-


tentes? Isso é algo que iremos abordar ao longo deste livro.

Procuramos aliar os conceitos básicos da bacteriologia clínica com as


formas de diagnósticos e as novas informações obtidas por pesquisas científi-
cas. Assim, as fundamentações teóricas e práticas sobre a base da bacteriologia
e os avanços tecnológicos na área serão cruciais para um diagnóstico preciso.

Você deve se perguntar: por que devo estudar as bactérias? Pois bem,
antes de explicarmos a importância desse estudo, vamos compreender o que
contempla essa disciplina.

Este livro foi dividido em três unidades, a primeira traz uma breve intro-
dução sobre os microrganismos, descrevendo a classificação e como as bactérias
têm a capacidade de causar doença no hospedeiro. Na segunda unidade, descre-
vemos sobre como é um laboratório de bacteriologia clínica, trazendo as princi-
pais técnicas direcionadas para a identificação, bem como conhecer as principais
bactérias e seus aspectos fisiopatológicos. Para finalizar, na unidade três descreve-
mos as principais micobactérias e seu diagnóstico diferencial, e também aborda-
mos sobre os antibióticos e os testes de suscetibilidade a antimicrobianos.

Esperamos que este livro possa auxiliá-lo na compreensão desse gru-


po de microrganismos, entendendo desde as suas funções básicas de sobre-
vivência até o seu diagnóstico ao causar patologias, bem como a capacidade
destes em desenvolver resistências a antibióticos.

Dessa forma, queremos que você se sinta preparado para suas fu-
turas atividades profissionais como biomédico na habilitação de patologia
clínica, bem como realizar diagnósticos precisos para auxiliar na conduta
terapêutica adequada para os pacientes.

Bons estudos!

Profª. Gheniffer Fornari


Prof. João Frederico Musial
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL............................................. 1

TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À BACTERIOLOGIA CLÍNICA.................................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 AFINAL, OS MICRORGANISMOS SÃO BONS OU MAUS?.................................................... 3
2.1 CLASSIFICAÇÃO............................................................................................................................ 6
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 12
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 13

TÓPICO 2 — RELAÇÃO BACTÉRIA X HOSPEDEIRO................................................................ 15


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 15
2 MICROBIOMA................................................................................................................................... 16
3 DOENÇAS INFECCIOSAS: COMO SURGIRAM?..................................................................... 17
3.1 PREDISPOSIÇÃO E SEUS FATORES......................................................................................... 20
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 22
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 23

TÓPICO 3 — MECANISMOS DE PATOGENICIDADE............................................................... 25


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 25
2 AFINAL, COMO UM MICRORGANISMO INFECTA UM HOSPEDEIRO?........................ 25
2.1 PELE E VIA PARENTERAL......................................................................................................... 26
2.2 QUANTIDADE DE MICRORGANISMOS................................................................................ 27
2.3 ADERÊNCIA.................................................................................................................................. 27
2.4 CÁPSULAS..................................................................................................................................... 29
2.5 ENZIMAS BACTERIANAS.......................................................................................................... 30
2.6 PLASMÍDEOS................................................................................................................................ 31
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 33
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 34

TÓPICO 4 — PATOGÊNESE BACTERIANA.................................................................................. 37


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 37
2 INVASÃO E PATOGÊNESE ............................................................................................................ 37
2.1 UTILIZANDO OS NUTRIENTES DO HOSPEDEIRO............................................................. 38
2.2 DANOS NO LOCAL DA INVASÃO.......................................................................................... 39
2.3 TOXINAS BACTERIANAS.......................................................................................................... 40
2.4 INDUZINDO REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE............................................................ 41
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 43
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 44

TÓPICO 5 — RESPOSTA IMUNE CONTRA BACTÉRIAS.......................................................... 47


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 47
2 MECANISMOS DE SOBREVIVÊNCIA DA BACTÉRIA NO HOSPEDEIRO....................... 47
2.1 RESPOSTA IMUNOLÓGICA DO HOSPEDEIRO.................................................................... 49
RESUMO DO TÓPICO 5..................................................................................................................... 51
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 55

UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA......................................... 57

TÓPICO 1 — ESTRUTURA E BIOSSEGURANÇA NO LABORATÓRIO


DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA............................................................................. 59
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 59
2 ESTRUTURA BÁSICA E CLASSIFICAÇÃO DE RISCO NA MICROBIOLOGIA
CLÍNICA............................................................................................................................................... 59
2.1 CABINES DE SEGURANÇA BIOLÓGICA................................................................................ 65
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 69
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 70

TÓPICO 2 — COLETA, TRANSPORTE E CONSERVAÇÃO DE AMOSTRAS


EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA............................................................................ 73
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 73
2 COLETA E TRANSPORTE DE MATERIAIS BIOLÓGICOS.................................................... 73
3 INSTRUÇÕES PARA COLETA: LESÕES, ABSCESSOS E EXSUDATOS.............................. 76
4 INSTRUÇÕES PARA COLETA: MATERIAL GENITAL............................................................ 77
5 INSTRUÇÕES PARA COLETA: FEZES......................................................................................... 78
6 INSTRUÇÕES PARA COLETA: URINA........................................................................................ 78
7 INSTRUÇÕES PARA COLETA: ESCARRO.................................................................................. 80
8 INSTRUÇÕES PARA COLETA: HEMOCULTURAS.................................................................. 81
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 83
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 84

TÓPICO 3 — PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS NA MICROBIOLOGIA


CLÍNICA........................................................................................................................ 87
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 87
2 IDENTIFICAÇÃO E PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS ................................................. 88
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 100
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 101

TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS


DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO........... 103
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 103
2 COCOS GRAM-POSITIVOS ........................................................................................................ 103
2.1 IMPORTÂNCIA CLÍNICA......................................................................................................... 105
2.2 ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO........................................................................................ 111
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 114
3 BACILOS GRAM-NEGATIVOS FERMENTADORES - ENTEROBACTERIACEAE.......... 117
3.1 CARACTERÍSTICAS DA FAMÍLIA ENTEROBACTERIACEAE.......................................... 117
3.2 IMPORTÂNCIA CLÍNICA......................................................................................................... 119
3.2.1 Escherichia coli...................................................................................................................... 119
3.2.2 Klebisiella pneumoniae.......................................................................................................... 122
3.2.3 Proteusmirabilis.................................................................................................................... 123
3.2.4 Salmonella spp. ..................................................................................................................... 124
3.2.5 Shigella spp............................................................................................................................ 126
3.3 ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO........................................................................................ 127
4 BACILOS GRAM-NEGATIVOS NÃO FERMENTADORES................................................... 131
4.1 IMPORTÂNCIA CLÍNICA......................................................................................................... 131
4.1.1 Pseudomonas aeruginosa....................................................................................................... 131
4.1.2 Burkholderiacepacia............................................................................................................... 133
4.1.3 Stenotrophomonas maltophilia.............................................................................................. 134
4.2 ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO........................................................................................ 135
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 137
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 139

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 141

UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE


SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS................................................ 143

TÓPICO 1 — MICOBACTÉRIAS..................................................................................................... 145


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 145
2 IMPORTÂNCIA CLÍNICA DAS MICOBACTÉRIAS............................................................... 145
3 IDENTIFICAÇÃO E ISOLAMENTO DAS MICOBACTÉRIAS............................................. 146
3.1 BACILOSCOPIA DE ESCARRO................................................................................................ 147
3.2 CULTURA PARA MICOBACTÉRIAS...................................................................................... 148
3.3 TESTE MOLECULAR RÁPIDO PARA TUBERCULOSE...................................................... 149
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 151
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 152

TÓPICO 2 — TESTES DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS (TSA)


E ANTIBIÓTICOS...................................................................................................... 155
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 155
2 PRINCÍPIOS PARA A REALIZAÇÃO DO TSA......................................................................... 155
2.1 AMOSTRA ................................................................................................................................... 157
2.2 MÉTODOS ................................................................................................................................... 157
3 TESTE POR DIFUSÃO EM ÁGAR: MÉTODO DE KIRBY-BAUER...................................... 158
3.1 PROCEDIMENTO....................................................................................................................... 158
3.2 INTERPRETAÇÕES DOS RESULTADOS ............................................................................... 159
4 DILUIÇÃO OU CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA (CIM):
MÉTODO QUANTITATIVO ........................................................................................................ 160
5 TESTE DE GRADIENTE DE CONCENTRAÇÃO (E-TESTE®).............................................. 161
6 MICRODILUIÇÃO EM ÁGAR ..................................................................................................... 162
7 MICRODILUIÇÃO EM CALDO .................................................................................................. 163
8 DETERMINAÇÃO DA CIM (AUTOMATIZADO)................................................................... 164
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 166
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 167

TÓPICO 3 — NOÇÕES GERAIS SOBRE A AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS................. 169


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 169
2 PRINCIPAIS ANTIMICROBIANOS DE USO CLÍNICO........................................................ 170
2.1 PENICILINAS.............................................................................................................................. 171
2.2 AMINOGLICOSÍDEOS............................................................................................................... 175
2.3 MACROLÍDEOS.......................................................................................................................... 175
2.4 QUILONONAS............................................................................................................................ 177
2.5 SULFONAMIDAS ...................................................................................................................... 178
2.6 GLICOPEPTÍDIOS....................................................................................................................... 178
2.7 LICOSAMIDAS............................................................................................................................ 179
2.8 CLORANFENICOL..................................................................................................................... 180
2.9 TETRACICLINAS........................................................................................................................ 180
2.10 IMIDAZÓLICOS ....................................................................................................................... 181
2.11 POLIMIXINAS........................................................................................................................... 182
2.12 OXAZOLIDINONAS................................................................................................................ 182
2.13 ESTREPTOGRAMINAS............................................................................................................ 182
2.14 GLICILCICLINAS...................................................................................................................... 182
2.15 LIPOPEPTÍDEOS TRICÍCLICOS............................................................................................. 183
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 184
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 186

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 187
UNIDADE 1 —

SERES MICROSCÓPICOS: UMA


VISÃO GERAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao fim do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• apresentar uma breve introdução sobre os microrganismos;

• estabelecer a relação dos efeitos positivos e negativos da ação dos


microrganismos;

• descrever a classificação das bactérias de importância clínica;

• determinar a relação bactéria x hospedeiro;

• compreender os mecanismos de patogenicidade envolvidos no


processo da doença;

• demonstrar como as bactérias agem para causar danos em seu


hospedeiro e relacionar como é realizada a resposta do hospedei-
ro frente a bactéria.

1
PLANOS DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o
conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À BACTERIOLOGIA CLÍNICA

TÓPICO 2 – RELAÇÃO BACTÉRIA X HOSPEDEIRO

TÓPICO 3 – MECANISMOS DE PATOGENICIDADE

TÓPICO 4 – PATOGÊNESE BACTERIANA

TÓPICO 5 – RESPOSTA IMUNE CONTRA AS BACTÉRIAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO À BACTERIOLOGIA
CLÍNICA

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico, vamos dar início a mais uma etapa do curso de Biome-
dicina, aprofundando o conhecimento nas disciplinas clínicas. A microbiologia
clínica é uma área incrível que nos auxilia nos mais amplos aspectos patológicos.
O entendimento neste âmbito é de extrema relevância quando se trata de diag-
nósticos robustos e interpretações corretas.

Na rotina laboratorial, é comum enfrentarmos dificuldades ao establecer


quais testes serão utilizados para uma determinada situação. No que diz à bacte-
riologia, essa complexidade também é habitual, entretanto, consegue-se contor-
nar tal circunstância através de uma compreensão plena da disciplina.

Você já deve ter se perguntado: Quando eu estiver trabalhando e receber uma


amostra, como devo semear? Qual meio utilizar? Como devo realizar a interpretação
dos meus resultados? Essas são perguntas que serão respondidas ao longo das uni-
dades deste livro, que foi escrito pensando em como podemos ajudá-lo a enfrentar
tais situações em sua rotina laboratorial. Então vamos começar nossos estudos!

2 AFINAL, OS MICRORGANISMOS SÃO BONS OU MAUS?


Os microrganismos estão presentes em nosso cotidiano. Estão em todos os
ambientes, inclusive no nosso corpo. Por isso, a frase: “não estamos sozinhos” faz
tanto sentido, pois estes seres microscópicos estão em todos os lugares. Estima-
se que existam cerca de 10 milhões de bactérias e, destas, apenas uma ou duas
centenas são patogênicas, sendo que mais de 50% das patogênicas não foram
cultivadas em laboratório ainda (TORTORA et al., 2017; MURRAY, 2018).

3
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

DICAS

Acadêmico, lembra-se da diferença de tamanho dos microrganismos visto na


disciplina de microbiologia? A imagem abaixo nos mostra que as bactérias têm o tamanho
similar ao da organela celular chamada mitocôndria, sendo maiores que os vírus e menores
que a célula humana visto que é capaz de infectá-la.

FONTE: <https://bit.ly/3vEcQHj>. Acesso em: 18 jan. 2021.

Estes seres microscópicos são divididos em quatro grandes grupos: bacté-


rias, fungos, vírus e parasitos. O intuito deste livro é aprofundar o conhecimento
sobre as bactérias.

Certamente você já deve ter ouvido falar sobre as bactérias multirresis-


tentes e que em um futuro próximo poderemos não ter medicamentos eficientes
para combatê-las. Apesar disso, também temos um lado positivo desse grande
grupo de microrganismos. Muitas bactérias são utilizadas em grande escala em
processos biotecnológicos, como na produção de alimentos (queijos, pães, iogur-
tes), bebidas (cervejas e vinhos), também são utilizadas como ingredientes para a
indústria alimentícia (fermento biológico), solventes orgânicos (etanol, acetona),
antibióticos (penicilina, cefalosporina), vacinas, enzimas bioinseticidas, entre ou-
tros. Portanto, ao analisarmos os exemplos, é evidente os benefícios da sua utili-
zação no nosso dia a dia (TORTORA, 2017; MURRAY, 2018).

Além disso, tais seres estão presentes no microbioma do nosso corpo e


são essenciais para nossa saúde. O fato é que a superfície da nossa pele, nariz,
boca e trato gastrointestinal são altamente colonizados por diferentes microrga-
nismos, inclusive por bactérias (Figura 1). Elas fazem parte do nosso microbioma,

4
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À BACTERIOLOGIA CLÍNICA

ou microbiota normal. Componentes da nossa microbiota são fundamentais para


a maturação do nosso sistema imunológico por realizarem importantes funções
metabólicas, como a digestão dos alimentos, por exemplo; e se não um dos mais
importantes, pela manutenção do equilíbrio desses ambientes, impedindo a inva-
são de seres patogênicos (TORTORA, 2017; MURRAY, 2018).

FIGURA 1 – BACTÉRIAS BOAS E RUINS

FONTE: <https://shutr.bz/3xJRUAK>. Acesso em: 15 jan. 2021.

Ambientes colonizados devem estar em perfeita harmonia, como exem-


plo, na região urogenital feminina, onde a quantidade de bactérias e leveduras
devem estar em equilibrio. Os Bacilos de Doderlein são bacilos normais da vagina,
eles são protetores e se alimentam de glicogênio, que é produzido pelas células
vaginais, estimuladas pelos hormônios femininos. Esses bacilos produzem ácido
lático, que mantém o pH da vagina ácido, evitando assima proliferação de bacté-
rias causadoras de doença.

Caso ocorra um desequilíbrio na quantidadede de algum deles, o hospe-


deiro estará suscetível a infecções causadas por bactérias patogênicas e também
por leveduras, como as do gênero Candida, que fazem parte do microbioma, mas
que em situações de desarmonia, podem desencadear um processo patológico
denominado candidíase (TORTORA, 2017; MURRAY, 2018).

5
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

O desequilíbrio do microbioma pode ocorrer por diversas formas, desde


lesões de pele até o uso contínuo de antibióticos. As bactérias que fazem parte
do microbioma também podem se tornar patogênicas caso surjam em ambientes
que em condições normais são estéreis, como na cavidade abdominal, em tecidos,
nos pulmões e no trato urinário. Nestas situações, as doenças são denominadas
como infecções endógenas, ou seja, o microrganismo presente no hospedeiro foi
responsável pelo surgimento da doença. Eles também podem causar infecções
exógenas, ou seja, introduzidos pelo meio externo. Para finalizar, temos também
as infecções nosocomiais, que são aquelas adquiridas em ambientes hospitala-
res. Sabe-se que uma pequena parcela das bactérias presentes no ambiente são
patogênicas, porém, algumas infecções mais graves são causadas por bactérias
exógenas (TORTORA, 2017; MURRAY, 2018).

2.1 CLASSIFICAÇÃO
Antes de falarmos sobre a classificação, é muito importante ressaltar as
características gerais das bactérias (Figura 2). Estes microrganismos são seres
procariontes, ou seja, são unicelulares simples, não possuem membrana nuclear,
mitocôndrias, complexo de Golgi e nem retículo endoplasmático. Sua reprodução
ocorre de forma assexuada por divisão binária. Suas principais formas são cocos
que podem se agrupar em arranjos como em pares diplococos, em forma de cachos
de uva, como os estafilococos, ou em cadeia, como os estreptococos. Já os bacilos
podem se agrupar aos pares, formando os diplobacilos. Outras formas conhecidas
são as bactérias flageladas, os vibrios e espiroquetas (TORTORA, 2017).

FIGURA 2 – MORFOLOGIA BACTERIANA

FONTE: <https://bit.ly/3vG1W41>. Acesso em: 17 jan. 2021.

6
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À BACTERIOLOGIA CLÍNICA

Para a caracterização e classificação deste grupo, faz-se necessária a utilização


de técnicas de coloração, na qual duas técnicas são as mais utilizadas: a Coloração
de Gram e a Coloração de Ziehl-Neelsen. A técnica de Gram foi desenvolvida pelo
patologista Hans Christian Joachim Gram, em 1884, e é utilizada até os dias atuais pelos
laboratórios clínicos e de pesquisa. Através dela é possível diferenciar dois principais
grupos de bactérias, as Gram positivas e as Gram negativas. Essa diferenciação e
coloração é possível a partir da diferença existente entre as paredes celulares das
bactérias, sendo seu componente estrutural o diferencial (TORTORA, 2017).

A técnica é baseada em 3 passos (Figura 3):

• Coloração com violeta de cristal (um corante solúvel em água, roxo).


• A fixação com Lugol (reter o cristal violeta).
• A descoloração (utilizando etanol/acetona).
• A contra-coloração (utilizando corante Safranina ou fucsina, vermelho).

A primeira etapa é a fixação da bactéria na lâmina, para isso, é adicionado


uma gota de solução fisiológica a 0,85% em uma lâmina, em seguida, com um
auxilio de uma alça bacteriológica (alça de platina), é retirado um pouco de bac-
téria da placa em cultivo e misturado à solução. Em seguida, a lâmina deve ser
passada na chama várias vezes até a solução estar seca, pronta para a etapa de
coloração (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

O primeiro corante utilizado é o cristal violeta, a lâmina deve ser coberta


pelo corante por 1 minuto, após o tempo, a lâmina deve ser lavada com agua cor-
rente. O cristal violeta tem afinidade pelos peptidioglicanos que estão presentes
na parede celular das bactérias e é por este motivo que as bactérias Gram positi-
vas ficam fortemente coradas de roxo, pois estas possuem uma espessa camada
de peptidioglicanos em sua parede.

O segundo corante utilizado é o lugol, que também deve ser mantido por um
minuto. A função do lugol é reter o cristal violeta, que já está aderido à parede bacteria-
na, ou seja, ele é um fixador. Em seguida, a lâmina deve ser lavada em água corrente.

O próximo passo é a descoloração realizada com alcool etilico (99,5º GL),


nesta etapa, o álcool deve ser colocado na lâmina várias vezes até que o corante
não se desprenda mais do esfregaço. Algo muito interessante é que tanto as Gram
positivas quanto as Gram negativas ficarão roxas, no entanto, como as Gram ne-
gativas possuem menor quantidade de peptidioglicano nesta etapa da descolo-
ração, elas perdem a coloração roxa e ficam novamente descoradas até a última
etapa, na qual utiliza a Safranina, ou fucsina.

Este último corante (Safranina ou fucsina) deve ser adicionado à lâmina e deixa-
do agir por 30 segundos apenas. Após esta etapa, a lâmina deve ser lavada novamente em
àgua corrente e deixada secar naturalmente para posterior observação no microscópio.
Lembrando que as lâminas devem ser observadas na objetiva de 100x e adicionada uma
gota de óleo de imersão para clarificar as amostras (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

7
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

FIGURA 3 – COLORAÇÃO DE GRAM

FONTE: <https://bit.ly/2RpqO1a>. Acesso em: 18 jan. 2021.

O que permite a diferenciação entre Gram positivas (Gram +) e Gram ne-


gativas (Gram -) é a permeabilidade na parede das bactérias (Figura 4). As bac-
térias Gram positivas retêm o cristal violeta devido à espessa parede de pepti-
doglicanos (polímero constituído por açúcares e aminoácidos que originam uma
espécie de malha na região exterior à membrana celular das bactérias) e por esta
razão as bactérias deste grupo coram de roxo (TORTORA, 2017).

FIGURA 4 – DIFERENÇA ENTRE GRAM + E GRAM -

FONTE: <https://bit.ly/2RpqO1a>. Acesso em: 18 jan. 2021.

8
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À BACTERIOLOGIA CLÍNICA

Já as bactérias que fazem parte do grupo Gram negativo, possuem uma


fina camada de peptidioglicano e, por este motivo, não conseguem reter o cristal
violeta durante o processo de descoloração, assim, ao serem coradas pela safranina,
ficarão coradas de vermelho. O quadro abaixo mostra as principais bactérias que
compõem os grupos das Gram positivas e Gram negativas (TORTORA, 2017).

FIGURA 5 – BACTÉRIAS GRAM+ E GRAM -

FONTE: O autor (2021)

No entanto, nem todas as bactérias coram adequadamente pelo método


de Gram. O método de Ziehl-Neelsen (Figura 6), proposto por Franz Ziehl e apri-
morado por Friedrich Neelsen, ainda no século XIX, foi fundamental para clas-
sificar as bactérias por uma nova abordagem, como as álcool-ácido-resistentes
(AAR) e as não álcool-ácido-resistentes.

Este método de coloração é utilizado na detecção de BAAR (bacilos álco-


ol-ácidos-resistentes), que são um grupo de bactérias que possuem uma alta con-
centração de ácidos micólicos. Esses ácidos possuem propriedades hidrofóbicas,
sendo necessária a utilização de técnicas especiais para sua identificação. Essa
hidrofobicidade dificulta a coloração por corantes aquosos. Um importante gru-
po de bactérias classificadas como álcool-ácido-resistentes, são as micobactérias,
que se apresentam na forma de bacilos curvos ou retos, nesse grupo destacam-se
os agentes causais de duas importantes doenças: a Mycobacterium tuberculosis (Tu-
berculose) e a Mycobacterium leprae (Lepra) (TORTORA, 2017).

9
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

FIGURA 6 – COLORAÇÃO ZIEHL-NEELSEN

FONTE: <https://bit.ly/3gWMyfu>. Acesso em: 18 jan. 2021.

No entanto, algumas bactérias não coram através das técnicas descritas


acima e, por este motivo, sua classificação é baseada no seu formato, ou através
de características específicas, como seu crescimento no interior de células hospe-
deiras, ou em células cultivadas em laboratório (TORTORA, 2017).

A tabela a seguir mostra algumas bacterias que foram classificadas de


acordo com os critérios descritos acima.

TABELA 1 – EXCEÇÕES BACTERIANAS

FONTE: O autor (2021)

10
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À BACTERIOLOGIA CLÍNICA

DICAS

Acadêmico, para aprimorar seu conhecimento, realize a leitura dos textos:

Bactérias - Conheça a importância e as várias utilidades das bactérias


Link: https://bit.ly/2PM4hem

Vírus e bactérias: os verdadeiros donos do mundo


Link: https://super.abril.com.br/ciencia/donos-do-mundo/

11
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A maioria dos microrganismos é benéfica e apenas uma pequena parcela é


considerada patogênica.

• Os microrganismos endógenos podem causar doenças quando inseridos em


ambientes estéreis do nosso corpo, no entanto, a maioria deste grupo não pos-
sui características de virulência necessárias para causar doenças.

• A maioria dos microrganismos exógenos com os quais temos contato não provo-
ca nenhum dano, mas alguns podem provocar doenças de importância clínica.

• O que determina se um microrganismo pode ou não provocar uma doença


são algumas características, como fatores de virulência.

• Nem todas as bactérias se enquadram na classificação de Gram ou BAAR.

• As bactérias são observadas por microscopia óptica e também são classifi-


cadas de acordo com o seu formato, podendo ser cocos, bacilos, espirilos,
vibrios e espiroquetas.

12
AUTOATIVIDADE

1 (UFRJ, 2012) Durante a coloração de Gram, um técnico laboratorial em mi-


crobiologia inverteu a ordem das etapas e submeteu a amostra à solução de
álcool a 95% antes de tratar a amostra com lugol. Com base na morfologia
de procariotos e a finalidade desse método de coloração, a opção que con-
tém a consequência da distração do profissional é:

a) ( ) o álcool pode ser adicionado em qualquer etapa da coloração de Gram;


b) ( ) o lugol funciona como descorante, retirando o excesso de cristal violeta;
c) ( ) as bactérias Gram-negativas não serão coradas pelo lugol;
d) ( ) o lugol não faz nenhuma diferença na coloração de Gram;
e) ( ) as bactérias Gram-positivas serão descoradas pela ação do álcool.

2 (NUCEPE, 2017, FMS - Bioquímico Plantonista) Sobre a Coloração de Ziehl-


-Neelsen marque a alternativa INCORRETA.

a) ( ) Através desta coloração, podemos visualizar as micobactérias, que pos-


suem na sua parede celularuma grande concentração de lipídios, devi-
do à presença de ceras e ácidos graxos (ácidos micólicos), o que dificulta
a sua visualização através das colorações tradicionais.
b) ( ) Bactérias álcool ácido resistentes (BAAR): coram-se em vermelho e as
bactérias não álcool ácido resistentes (BNAAR): coram-se em azul.
c) ( ) A função da Fucsina de Ziehl é corar tanto as BAAR quanto as BNAAR
em vermelho.
d) ( ) Quando se utiliza Álcool-ácido clorídrico a fucsina se fixa nos lipídeos
complexos das BNAAR e não abandona a célula, que permanece ver-
melha. Já as BAAR a fucsina não se fixa nos componentes da parede
celular após utilização do álcool-ácido clorídrico e abandona a célula,
que permanece sem corante em seu interior.
e) ( ) Quando se utiliza por fim o azul-de-metileno, as BAAR não são afetadas e
permanecem vermelhas, e as BNAAR adquirem o corante, tornando-se azuis.

3 (UFRN, 2015) As bactérias possuem uma espessa parede celular que mantém a
integridade da célula e determina sua forma característica. Em relação às dife-
renças entre as bactérias gram-positivas e as gram-negativas, é correto afirmar:

a) ( ) A parede celular de ambas bactérias gram-positivas e gram-negativas


possui uma camada interna constituída por lipopolissacarídeos.
b) ( ) A parede celular das bactérias gram-positivas não possui peptidoglica-
no na sua constituição, somente as bactérias gram-negativas a possuem.
c) ( ) A parede celular das bactérias gram-positivas possui uma camada in-
terna constituída por lipopolissacarídeos.
d) ( ) A parede celular das bactérias gram-positivas possui uma quantidade
muito maior de peptidoglicano do que as gram-negativas.

13
4 (UFPR, Biomédico, 2017) Sobre a técnica de coloração de Gram e as caracte-
rísticas da parede celular bacteriana, considere as seguintes afirmativas:

I- A parede celular das bactérias consideradas Gram positivas é mais delga-


da, permitindo a entrada do corante na célula bacteriana.
II- As bactérias Gram positivas apresentam coloração vermelha ao final da
técnica.
III- A parede celular das bactérias consideradas Gram negativas é composta
por lipopolissacarídeos, fosfolipídios, lipoproteínas e uma fina camada de
peptidoglicano.
IV- As bactérias consideradas Gram negativas apresentam coloração rósea (se
usada fucsina) ao final da técnica.

Assinale a alternativa correta:

a) ( ) Somente afirmativa II é verdadeira.


b) ( ) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.
c) ( ) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
d) ( ) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
e) ( ) Todas estão corretas.

5 (CESPE/UnB - SESA/ES/2013) Analise a imagem abaixo:

A categoria das bactérias presentes na imagem acima em função de sua forma é:

a) ( ) espiroqueta.
b) ( ) coco.
c) ( ) espirilo.
d) ( ) vibrião.
e) ( ) bacilo.

14
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

RELAÇÃO BACTÉRIA X
HOSPEDEIRO

1 INTRODUÇÃO
Agora, acadêmico, como você já tem o conhecimento a respeito das
características básicas das bactérias, podemos começar a discorrer da parte
que envolve a interação entrebactéria e hospedeiro, ou seja, como ela é capaz
de ultrapassar nossas barreiras imunológicas e causar uma doença. Como
mencionado anteriormente, nosso corpo deve manter-se em equilíbrio, no entanto,
quando este equilíbrio é afetado por fatores intrínsecos ou extrínsecos, ocorre o
surgimento do processo patológico. Por isso, discutiremos aqui alguns termos
importantes para que você obtenha conhecimento a respeito destas interações.

Para iniciarmos, é importante dar significado a alguns termos:

• Patologia: é o estudo das doenças.


• Patogênese: é maneira pela qual a doença se desenvolve.
• Infecção: invasão e colonização de microrganismos patogênicos.
• Doença: processo que altera o estado de saúde.

Sabendo diferenciar os termos acima, fica mais fácil compreender algu-


mas situações. Tomemos como exemplo: uma infecção pode existir na ausência
de uma doença detectável e isso pode ser observada com o vírus HIV. Um indi-
víduo pode estar infectado por ele sem necessariamente desenvolver os sintomas
clínicos, ou seja, a doença (AIDS). Um determinado grupo de bactérias pode estar
presente em grandes quantidades em um órgão específicos, causando dano, no
entanto, quando seu habitat muda, pode resultar em uma infecção, como é o caso
da bactéria Escherichia coli. No nosso intestino, temos grandes quantidades desta
bactéria, mas se ela entre em contato com outro sistema do corpo humano, como
no trato urogenital, pode ocasionar uma infecção urinária.

Em vista disso, para compreendermos melhor tais interações, faz-se neces-


sário estudar o papel dos microrganismos em nosso corpo, desde a composição do
nosso microbioma até os processos patológicos que podem ser desencandeados.

15
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

2 MICROBIOMA
Nosso microbioma é formado a partir do nosso nascimento. No momento do
parto ocorre o primeiro contato do bebê com o mundo externo e por isso os tipos de
parto influenciam nesta colonização. No parto cesariano, como o bebê é retirado via
abdomen, o primeiro contato será com a pele da mãe, portanto, a população bacteria-
na será composta pelos gêneros Staphylococcus, Corynebacterium e Propoonibacterium.
Já no parto normal, o contato acontece via vaginal, que é composto por uma micro-
biota própria, por isso, a população bacteriana neste bebê será a maior parte com-
posta por Lactobacillus. Com a respiração, introdução alimentar, o fato de gatinhar e
andar, vamos adquirindo o nosso microbioma ao longo da vida (Figura 7).

Estes microrganismos irão permanecer em nosso corpo durante nossa


existência, alguns irão desempenhar o seu papel protetor, já outros em situações
desfavoráveis, podem levar ao início de um processo patológico. Um corpo hu-
mano possui aproximadamente 1x1013 células e ainda abriga aproximadamen-
te 1x1014 células bacterianas. Portanto, nosso corpo possui 10 vezes mais células
bacterianas do que células humanas. Muitos são os fatores que determinam a
população de microrganismos, sendo eles: nutrientes, fatores químicos e físicos,
as defesas do hospedeiro e fatores mecânicos (MADIGAN et al., 2016).

FIGURA 7 – DISTRIBUIÇÃO DE BACTÉRIAS NO CORPO

FONTE: <https://glo.bo/3vCRY3i>. Acesso em: 18 jan. 2021.

Uma vez formada a população da microbiota, o hospedeiro pode se bene-


ficiar, pois esta população pode impedir o crescimento de microrganismos com
potencial patogênico, impedindo, assim, o surgimento de uma infecção; a esse
fenômeno dá-se o nome de antagonismo microbiano. Já a interação entre o mi-
crobioma normal e o hospedeiro é denominada simbiose, na qual pelo menos
um deles é dependente do outro. Na relação simbiótica do tipo comensalismo,

16
TÓPICO 2 — RELAÇÃO BACTÉRIA X HOSPEDEIRO

um dos organismos é beneficiado enquanto o outro não possui vantagens nem


prejuízos. Já no mutualismo, ambos os organismos são beneficiados e, no caso do
parasitismo, um organismo obtém nutrientes à custa de outro.

Muitas bactérias causadoras de doenças são classificadas como parasitas.


Para finalizar, no amensalismo, um organismo libera substâncias tóxicas que inibem
o crescimento ou a reprodução de outros organismos.Temos como exemplo, a ação
de antibióticos como a penicilina frente às bactérias. Ainda existe um outro grupo
com relevância clínica que são os microrganismos oportunistas. Eles podem fazer
parte do microbioma normal, no entanto, sob determinadas condições, podem ma-
nifestar uma doença. A Escherichia coli, já mencionada acima, faz parte da microbiota
intestinal, mas ao mudar de sítio, pode causar uma doença (MADIGAN et al., 2016).

3 DOENÇAS INFECCIOSAS: COMO SURGIRAM?


Algumas doenças como tuberculose e pólio possuem suas etiologias conheci-
das, conquanto, isso não ocorre com todas as doenças, como é o caso de muitos tipos
de câncer. Vale ressaltar que nem toda doença é provocada por microrganismos, como
ocorre com a Anemia Falciforme, que é uma doença genética (TORTORA et al., 2017).

Todavia, para determinar a etiologia de uma doença não podemos deixar de


citar o postulado de Koch, que é utilizado em pesquisas até os dias atuais. Koch foi
um médico alemão que, em 1877 (Figura 8), publicou um artigo descrevendo como o
antraz, agente causal de uma doença em bovinos, poderia também acometer humanos.

FIGURA 8 – ROBERT KOCH

FONTE: <https://bit.ly/33dNbcu>. Acesso em: 15 jan. 2021.

Através de seu postulado, Koch determinou que a bactéria Bacillus anthra-


cis estava presente no sangue de bovinos doentes e que ela não era encontrada
em animais saudáveis. Entretanto, somente tendo esta informaçãonão era o su-
ficiente para determinar o agente etiológico da doença. Por isso ele coletou uma
amostra de sangue de um animal doente e injetou em um animal saudável, que
veio a óbito. Ele repetiu o experimento várias vezes, obtendo sempre os mesmos

17
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

resultados. Para finalizar, ele cultivou a amostra em meios de cultura e assim ob-
teve o crescimento da bactéria, comprovando o agente causal da afecção (Figura
9). Através deste postulado, Koch pode determinar que (MADIGAN et al., 2016):

• O mesmo patógeno deve estar presente em todos os casos da doença.


• O patógeno deve ser isolado do hospedeiro doente e cultivado em cultura pura.
• O patógeno obtido da cultura pura deve causar a doença quando inoculado
em um animal de laboratório suscetível e saudável.
• O patógeno deve ser isolado do animal inoculado e deve ser necessariamente
o organismo original.

Cabe ressaltar que alguns microrganismos não crescem em meios de cultura


e, nestas situações, faz-se necessário a utilização de outros métodos que possam
comprovar a origem da doença. Nesses casos, a avaliação de sinais e sintomas
dos pacientes juntamente com a análise de exames laboratoriais complementares
(hemograma, VHS, proteína C reativa, dosagem de anticorpos) auxiliam no
diagnóstico e na conduta terapêutica adequados (MADIGAN et al., 2016).

Como mencionado, as doenças não são causadas apenas por microrganismos


e por este motivo estas devem ser classificadas. A doença acontece quando há
alterações dos sistemas e das suas funções, com isso, o paciente começa a apresentar
sinais e sintomas que demonstram que algo de errado está acontecendo em seu
corpo. Lembrando que os sintomas se enquadram em tudo aquilo que o paciente
relata que está sentindo, já os sinais podem ser observados pelo médico através de
uma anamnese. Através desta junção de sinais, sintomas e exames laboratoriais,
podemos chegar a um diagnóstico confiável (MADIGAN et al., 2016).

18
TÓPICO 2 — RELAÇÃO BACTÉRIA X HOSPEDEIRO

FIGURA 9 – POSTULADO DE KOCH

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/359711/>. Acesso em: 15 jan. 2021.

Alguns termos são de extrema importância para um amplo entendimen-


to, vejamos:

Doença comunicável: é aquela em que uma pessoa infectada transmite


um agente infeccioso, de forma direta ou indireta. Ex: gripe.
Doenças contagiosas: são facilmente transmissíveis e com rápida dissemi-
nação. Ex: catapora.
Doença não comunicável: não é disseminada de um hospedeiro para o
outro. Ex: tétano.
Doença esporádica: é aquela que ocorre ocasionalmente. Ex: febre tifoide
nos Estados Unidos.
Doença endêmica: é aquela que está presente constantemente em uma
determinada população. Ex: a dengue em algumas regiões do Brasil.
Doença epidêmica: quando há um aumento relativo de casos de uma do-
ença, não delimitando uma região especifica. Ex: a gripe suína em 2009 teve cará-
ter epidêmico no inicio.
Doença pandêmica: é uma determinada doença com aumento significati-
vo de casos em vários países e continentes. Ex: coronavírus (COVID-19).

19
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

Para que uma doença se instale em um indivíduo, é necessário que ocorra


um passo a passo do processo. Primeiro, deve-se ter um reservatório, ou seja,
uma fonte da infecção. Em seguida, o patógeno entrará em contato com um hos-
pedeiro suscetível, seja ele por contato direto, indireto ou por meio de vetores.
Após a transmissão, o microrganismo deve se instalar em uma determinada re-
gião e iniciar o seu processo de multiplicação. Posteriormente, os danos irão se
iniciar nas células do hospedeiro, este processo é denominado patogênese.

O grau destes danos dependerá da virulência do microrganismo e também da


resposta imune do hospedeiro frente à doença e é por este motivo que se faz necessário
compreender a interação entre ambos, para que possamos ter a noção de como nosso cor-
po responderá frente a uma invasão. Caso ele não consiga responder de forma efetiva os
mecanismos utilizados pelo patógeno para driblar o sistema imunológico e desencadear
a doença propriamente dita, precisam ser entendidos (MADIGAN et al., 2016).

3.1 PREDISPOSIÇÃO E SEUS FATORES


Para que a doença possa acontecer em um hospedeiro, é necessário que ele
apresente fatores predisponentes, ou seja, estes fatores fazem com que o corpo se
torne mais suscetível ou não a uma doença. O sexo, por exemplo, pode ser um fator
predisponente: as mulheres tendem a ter mais casos recorrentes de infecção uriná-
ria do que os homens, justamente por conta da anatomia do sistema geniturinário
feminino, que possui uma proximidade entre o ânus e a vagina, facilitando, assim, a
invasão dos microrganismos, o que pode gerar uma infecção (MADIGAN et al.,2016).

Os aspectos genéticos do hospedeiro também são importantes fatores de-


terminantes na instalação e evolução de uma doença. A Talassemia é caracteriza-
da por ser um distúrbio sanguíneo em que ocorre a redução das proteínas que
carregam oxigênio. Em casos leves, o paciente não precisa de tratamento, já nos
casos graves, estes devem realizar transfusões constantes ou de transplante de
células-tronco (MADIGAN et al.,2016).

As condições climáticas também possuem um significativo efeito sobre


determinadas doenças. Nos períodos de inverno, doenças respiratórias têm alta
incidência, isso se deve a alguns fatores, como o aumento da umidade relativa do
ar, a diminuição da temperatura, aumento da incidência da poluição ambiental,
além de que durante esses períodos, as pessoas têm o hábito de permanecer em
ambientes muito fechados e com pouca ventilação.

Tudo isso possívelmente favorece a circulação de microrganismos cau-


sadores de doenças respiratórias. Fatores como nutrição, idade, meio ambiente,
estilo de vida, ocupação laboral, doenças preexistentes e longos tratamentos (qui-
mioterapia) também são condições que possuem uma grande atuação na evolu-
ção e desfecho de muitas patologias (MADIGAN et al., 2016).

20
TÓPICO 2 — RELAÇÃO BACTÉRIA X HOSPEDEIRO

NTE
INTERESSA

Entenda a relação entre a microbiota intestinal e a obesidade em:

Link 1: https://bit.ly/3nSIluH

Link 2: https://bit.ly/3nSIluH

DICAS

Acadêmico, leia o artigo abaixo sobre alterações da microbiota em paciente


no pós-operatório que fizeram uso de probióticos, em: https://bit.ly/3vHidWs

21
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• As bactérias estão presentes em todos os lugares, inclusive no nosso corpo e


que estas têm um papel fundamental de proteção, mas que em um momento
de desequilíbrio da microbiota, podem desencadear processos infecciosos.

• Também discutimos sobre as relações simbióticas; entre elas temos o comen-


salismo, o mutualismo, o parasitismo e o amensalismo. Além disso, ainda co-
mentamos a respeito dos microrganismos oportunistas que são aqueles que
podem fazer parte do microbioma, mas também podem provocar doenças
devido aos desequilíbrios nos sítios de colonização.

• Destacamos também a importância de saber o agente causal da doença e do


Postulado de Koch e seus quatro passos:

O O mesmo patógeno deve estar presente em todos os casos da doença.


O O patógeno deve ser isolado do hospedeiro doente e cultivado em cultura pura.
O O patógeno obtido da cultura pura deve causar a doença quando inocula-
do em um animal de laboratório suscetível e saudável.
O O patógeno deve ser isolado do animal inoculado e deve ser, necessaria-
mente, o organismo original.

• O postulado é utilizado até o dias de hoje, auxiliando na determinação do agente


etiológico da doença. Todavia, nem todos os microrganismos são cultiváveis em
meios de cultura e, portanto, deve-se analisar sinais e sintomas do hospedeiro,
além da utilização de outras técnicas que possam auxiliar na elucidação da afecção.
Por este motivo, as doenças seguem uma classificação. Para que uma doença se
instale em um indivíduo é necessário que ocorra um passo a passo do processo:

1º deve-se ter um reservatório, ou seja, uma fonte da infecção;


2º o patógeno entrará em contato com um hospedeiro suscetível;
3º após a transmissão, o microrganismo deve se instalar em uma determina-
da região e iniciar o seu processo de multiplicação;
4º os danos irão iniciar no hospedeiro e a este processo denomina-se patogênese.

• A importância dos fatores de predisposição para que uma determinada doen-


ça ocorra, como sexo, idade, nutrição do hospedeiro, ambiente, clima, enfim,
enquadrando os fatores intrínsecos e extrinsecos que também podem estar
envolvidos no processo.

22
AUTOATIVIDADE

1 Leia o texto

Na vida intrauterina, o intestino é um ambiente livre de germes. Basta virmos


ao mundo, no entanto, para que ele seja povoado por um número de bacté-
rias maior que o de células existentes no corpo inteiro. Os microrganismos
que vivem no trato gastrointestinal estabelecem relações comunitárias que in-
terferem nas múltiplas funções fisiológicas. Diversas publicações levantaram
a hipótese de que esse microbioma intestinal estaria relacionado com o da
obesidade. Vanessa Ridaura e colaboradores da Universidade de Washing-
ton acabam de demonstrar que o microbioma de pessoas obesas ou magras é
capaz de induzir obesidade ou magreza em ratos, e que bactérias intestinais
de doadores magros podem invadir, colonizar o intestino e emagrecer ratos
obesos, alimentados com uma dieta favorável. No estudo foram escolhidos
quatro pares de irmãs gêmeas discordantes, nos quais uma era magra(Mg) e a
outra obesa(ob). Amostras de fezes de cada participante foram transplantadas
para o intestino de ratos criados em ambiente livre de germes. A interação
com a dieta foi clara: bactérias intestinais dos ratos(Mg) só colonizaram ade-
quadamente e emagreceram os ratos (ob), quando estes foram alimentados
com dietas ricas em fibras e pobres em gordura [...].

Fonte: Obesidade e bactérias, de D. Varella. Carta Capital, out. 2013. Disponível em: <https://
bit.ly/3ukmej4>.

Analisando o texto, verifica-se que se trata de um tipo de relação ecológica


denominada de:

a) ( ) Comensalismo.
b) ( ) Parasitismo.
c) ( ) Protocooperação.
d) ( ) Amensalismo.
e) ( ) Epifitismo.

2 (Prefeitura de Lagoa Santa-MG, 2019) A sequência de procedimentos utiliza-


dos para se estabelecer a relação causal entre um microrganismo é uma do-
ença é conhecida por Postulados de Koch (Robert Koch, 1881). Inicialmente,
a sequência foi utilizada para patógenos humanos, e foi adaptada posterior-
mente para a área fitopatológica. Com base nos Postulados de Koch, assinale
a alternativa que apresenta a sequência correta desses procedimentos.

a) ( ) A Associação constante patógeno-hospedeiro; isolamento do patógeno; rei-


solamento do patógeno; inoculação do patógeno; e reprodução dossintomas.
b) ( ) Isolamento do patógeno; associação constante patógeno-hospedeiro; reiso-
lamento do patógeno; inoculação do patógeno; e reprodução dossintomas.

23
c) ( ) Associação constante patógeno-hospedeiro; isolamento do patógeno; inocu-
lação do patógeno e reprodução dos sintomas; e reisolamento do patógeno.
d) ( ) Isolamento do patógeno; inoculação do patógeno e reprodução dos sintomas;
associação constante patógeno-hospedeiro; e reisolamento do patógeno.

3 Alexander Fleming foi um médico inglês que se destacou por um feito muito
importante: a descoberta da penicilina. Essa substância, que foi descoberta ao
acaso, é produzida por um fungo e é capaz de matar bactérias. Surgiu aí o pri-
meiro antibiótico da história da humanidade, o qual até hoje é utilizado para o
tratamento de algumas doenças bacterianas, tais como a sífilis. A relação esta-
belecida entre o fungo produtor da penicilina e a bactéria é um caso de:

a) ( ) canibalismo.
b) ( ) comensalismo.
c) ( ) amensalismo.
d) ( ) parasitismo.
e) ( ) colônia.

4 A respeito das doenças, relacione as colunas e assinale a sequência CORRETA:

1 Doença comunicável ( ) Gripe


2 Doenças contagiosas ( ) Tétano
3 Doença não comunicável ( ) Catapora
4 Doença esporádica ( ) Coronavírus
5 Doença endêmica ( ) Dengue
6 Doença epidêmica ( ) Febre tifóide
7 Doença pandêmico ( ) Ebola

a) ( ) 1, 2, 3, 4, 5, 6,e 7.
b) ( ) 1, 3, 2, 7, 5, 4 e 6.
c) ( ) 2, 3, 7, 5, 4, 1 e 6.
d) ( ) 2, 1, 3, 5, 4, 7 e 6.
e) ( ) 2, 5, 1, 3, 7, 4 e 6.

24
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

MECANISMOS DE PATOGENICIDADE

1 INTRODUÇÃO

Após discutirmos a respeito da doença e como ela ocorre, vamos abordar


agora os mecanismos que os microrganismos possuem e que os auxiliam no pro-
cesso da instalação da mazela. É importante ressaltar que a intenção de um parasito
não é matar seu hospedeiro, mas sabemos que os sintomas que estes podem desen-
cadear em um corpo podem ser graves e podem sim evoluir para tal desfecho.

Lembrando que muitos dos fatores de patogenicidade e virulência ainda


não estão totalmente elucidados e esclarecer como estes mecanismos são ativados
pode nos ajudar na produção de novos fármacos e também no aprimoramento de
técnicas de diagnóstico.

Neste tópico, iremos abordar os mecanismos presentes nos microrganis-


mos e como eles são capazes de ultrapassar nossas barreiras para efetivamente
causarem a doença.

2 AFINAL, COMO UM MICRORGANISMO INFECTA UM


HOSPEDEIRO?
Antes de discutirmos a respeito de como nossas barreiras são invadidas,
é importante descrever a diferença entre patogenicidade x virulência. Patogeni-
cidade é a capacidade de um organismo causar doença, ou seja, é a forma que ele
consegue ultrapassar as barreiras de defesas para causar um dano. Já a virulência
seria o grau da patogenicidade, isto é, o quanto este microrganismo pode causar
dano ao hospedeiro (TORTORA et al., 2017).

É muito importante sabermos como estes patógenos podem invadir nosso


corpo. Sabe-se que entre as primeiras etapas do decurso está a quebra de barrei-
ras ou portas de entrada, que incluem a pele e as mucosas. É importante ressaltar
que quando uma bactéria consegue ultrapassar a barreira inicial com sucesso, é
denominada de infecção e que esta pode ou não progredir para uma doença.

Certos tipos de microrganismos têm acesso ao hospedeiro por meio das


mucosas, seja ela do trato respiratório, ou gastrointestinal, ou urogenital, ou con-
juntiva. Mas como isso seria possível?

25
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

Suponhamos que um jovem rapaz esteja parado em uma avenida, espe-


rando para atravessar a faixa de pedestres. Durante esse tempo, um carro em alta
velocidade passa bem próximo e, no mesmo intante, ele sente que algo entrou em
seu olho. Ao chegar em casa, lava várias vezes o olho, mas sem sucesso. O objeto
continua no mesmo lugar. No decorrer dos dias, seu olho fica inchado e com uma
secreção que saí constantemente (conjuntivite). Ele resolve ir até o hospital e, ao
ser examinado pelo médico, é detectado que o grão de areia tinha se instalado
atrás da sua ocular, provocando uma leve lesão na córnea. Passado alguns dias,
tal situação é resolvida. Através do relato, fica fácil compreender como é fácil ul-
trapassar uma barreira do corpo humano: provavelmente o grão de areia, acom-
panhado de bactérias, entrou no olho e provocou a doença.

Dessa forma, tal situação também pode ocorrer em nosso sistema gas-
trointestinal. As chamadas intoxicações alimentares são um exemplo. Ao entrar-
mos em contato com alimentos contaminados, estes terão a capacidade de causar
desequilíbrio no microbioma, provocando danos intestinais. Nos próximos itens,
iremos abordar sobre nossas barreiras, ou as chamadas portas de entrada.

2.1 PELE E VIA PARENTERAL


A pele é o maior órgão do corpo humano. Com sua integridade mantida,
é muito difícil que ocorra algum tipo de invasão. Todavia, existem alguns pa-
tógenos que conseguem penetrar na pele mesmo ela estando íntegra, como é o
caso das larvas do ancilóstomo, que é o causador de uma doença conhecida como
Ancilostomose, ou Ancilostomíase (MADIGAN et al., 2016).

No geral, infecções causadas por bactérias ou fungos precisam ter uma aber-
tura da pele para se instalar e, muitas vezes, estes microrganismos estão presentes
de forma concomitante em uma lesão. No caso dos fungos, temos algumas doenças
que denominamos de doenças de implantação, como é o caso da Cromoblastomi-
cose, uma doença fúngica que ocorre apenas quando o indivíduo sofre uma lesão
inicial, estando associadas a espinhos de plantas e lascas de madeira.

Já em relação às doenças bacterianas, dois gêneros destacam-se por sua im-


portância médica no rol das infecções humanas: os Staphylococcus e os Streptococcus.
Algumas espécies de tais bactérias fazem parte da microbiota da pele, mas em situ-
ações de quebra de barreiras, sejam elas causadas por cortes ou danos gerais, como
arranhões ou queimaduras, podem provocar infecções (MADIGAN et al., 2016).

Quando os microrganismos se depositam diretamente em tecidos ou em


membranas mucosas, é denominado via parenteral; perfurações, cirurgias e ede-
mas podem desencadear nesta via. Bactérias que causam tétano e gangrena podem
ser transmitidas por esta via. No caso do tétano, por exemplo, as bactérias podem
ser introduzidos nos ferimentos através de perfurantes (como pregos) (FIOCRUZ,
2018). Ao entrarem no ferimento, as bactérias se multiplicam e produzem duas to-

26
TÓPICO 3 — MECANISMOS DE PATOGENICIDADE

xinas: a tetanolisina e a tetanopasmina, esta última é uma neurotoxina que quando


disseminada pelo sistema circulatório causa as manifestações clínicas da doença,
induzindo a contraturas musculares intensas (MARTINS, 2006).

Vale ressaltar que o fato de um microrganismo entrar em nosso corpo não


é um veridito para que a doença se desenvolva. A ocorrência da doença depende
de muitos fatores, a porta de entrada é apenas um deles.

2.2 QUANTIDADE DE MICRORGANISMOS


Ao iniciarem uma invasão em um hospedeiro suscetível, a quantidade de
microrganismos agressores também é um elemento decisivo para a instalação da
doença. Seguidamente, o sistema imunológico é ativado e uma resposta efeciente
e adequada é produzida, eliminando alguns destes que entraram. No entanto,
se o número de patógenos for elevado e obteverem sucesso em sua entrada, será
então possível driblar o sistema imunológico e, com isso, maiores serão as chances
da doença se alojar (MADIGAN et al., 2016).

2.3 ADERÊNCIA
Além das portas de entrada, os microrganismos possuem algumas es-
truturas que facilitam a sua invasão. Praticamente, todos os microrganismos
possuem um mecanismo de adesão aos tecidos dos hospedeiro e para a maioria
dos patógenos, esta capacidade é denominada aderência ou adesão. Este recurso
ocorre porque o microrganismo tem a capacidade de se ligar a moléculas presen-
tes nas superfícies celulares de seus hospedeiros.

Os estudos até o momento têm demonstrado que estas adesinas são cons-
tituídas de glicoproteínas e lipoproteínas. As adesinas podem ter variações em
suas estruturas, como também diferentes receptores, podendo ser encontradas
em diferentes células do hospedeiro. As adesinas podem estar localizadas no gli-
cocálice ou em outras estruturas de superfície dos microrganismos, como pili,
fímbrias e flagelos (TORTORA et al., 2017).

As bactérias têm a capacidade de se ligarem em massa, produzindo deno-


minada biofilmes (Figura 11). Os biofilmes são considerados uma comunidade
bacteriana envoltas por substâncias, principalmente açucares, produzidos pelas
próprias bacterias envolvidas que conferem proteção contra a falta de nutrientes,
uso de antibióticos e agentes químicos (HIGA, 2018).

A formação de um biofilme é composta por 5 passos (Figura 11); no pri-


meiro passo as bactérias precisam aderir a uma superfície; no segundo passam a
secretar substâncias que serão responsáveis pela manutenção do biofilme; no ter-
ceiro e quarto passo ocorre a formação de microcolônias que serão responsáveis

27
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

por criar a forma do biofilme; e o quinto e último passo, é quando o ambiente se


torna desfavorável e o biofilme se desloca em forma de agrefados celulares para
a formação de um novo biofilme (HIGA, 2018).

Um exemplo de produção de adesão e de biofilmes é a ação Streptococcus


mutans nos dentes, levando ao aparecimento de cáries. Após a adesão em uma
superfície, as bactérias conseguem se multiplicar e secretar o glicocálice, que au-
xilia ainda mais na ligação de outras bactérias à superfície, ou a ligação de umas
as outras, formando, assim, o biofilme. Por isso, o processo mecânico de escovar
os dentes é tão importante (GRANER, 2005).

FIGURA 11 – FORMAÇÃO DO BIOFILME

FONTE: <https://bit.ly/3h28A0m> Acesso em: 16 fev. 2021.

Vale ressaltar que quando um biofilme é formado, não necessariamente


teremos nesta biomassa apenas um tipo de microrganismo, o que pode levar à
resistência a antibióticos e a desinfetantes. Estima-se que em cerca de 65% das
infecções bacterianas em humanos, os biofilmes estejam presentes.

Outro exemplo do processo de adesão e formação de biofilmes ocorre


no intestino através da Escherichia coli enteropatogênica. Esta bactéria é o agente
causal da diarreia, que acomente principalmente crianças menores de dois anos.
Esta doença pode ser de moderada a grave e tem sido associada a uma alta taxa
de mortalidade (cerca de 10% a 40% dos casos), principalmente em países em
desenvolvimento. O quadro diarreico é acompanhado principalmente de febre e
vômito (FARFÁN-GARCIA et al., 2016).

Sua patogênese (Figura 12) ocorre devido à adesão mediada por flagelos e
por pili tipo IV, como demonstrado na figura abaixo. Isso possibilita que as bactérias
se liguem umas as outras, formando microcolônias. Após a adesão, ocorre o processo
de translocação de sinais intracelulares, através dos quais várias proteínas entram no
enterócito (células intestinais), causando danos, o que desencadeia uma alteração da

28
TÓPICO 3 — MECANISMOS DE PATOGENICIDADE

atividade fisiológica normal do enterócito devido ao aumento de secreção de eletró-


litos pelas células no espaço extracelular, aumentando, assim, a permeabilidade das
junções intra e intercelular e, consequentemente, provocando uma alteração estrutu-
ral. Assim, perde-se a capacidade de absorção e os solutos acumulam-se no lúmen
intestinal, provocando a diarreia aquosa (FARFÁN-GARCIA et al., 2016).

FIGURA 12 – PATOGÊNESE E. coli ENTEROPATOGÊNICA

FONTE: <https://scielo.conicyt.cl/pdf/rci/v33n4/art09.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2021.

2.4 CÁPSULAS
Algumas bactérias possuem a capacidade de produzir substâncias deno-
minadas cápsula, ou glicocálice (Figura 13). Esta estrutura fica envolta da parede
celular cuja principal função é impedir que a bactéria seja fagocitada pelas células
de defesa do hospedeiro. As estruturas químicas que compõem a cápsula parecem
impedir que a célula fagocítica consiga se ligar à bactéria. Entretanto, o hospedei-
ro pode produzir anticorpos contra a cápsula e, se estes estiverem presentes no
momento que a bactéria encapsulada entrar, ela então poderá ser facilmente fago-
citada. Exemplos de bactérias que possuem cápsula em sua estrutura são o Strepto-
coccus pneumoniae e a Klebsiella pneumoniae, ambas agentes causais da pneumonia.

29
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

FIGURA 13 – ESTRUTURA CÉLULA BACTERIANA

FONTE: <http://www.ecl-lab.com/contribute_images/Ecoli_EN.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2021.

2.5 ENZIMAS BACTERIANAS


As bactérias podem possuir outros componentes que as tornam mais vi-
rulentas, como é o caso do pili, das fímbrias e das cápsulas, além de enzimas e
toxinas que podem ser produzidas para auxiliar na invasão e instalação.

Dentre as enzimas bacterianas, têm-se as coagulases, que posuem a ca-


pacidade de coagular o fibrinogênio do sangue. Algumas bactérias do gênero
Staphylococcus produzem esta enzima. As cinases são enzimas que degradam a
fibrina e digerem coágulos. Uma das cinases mais conhecida é a fibrinolisina,
que é produzida por algumas bactérias do gênero Streptococcus.

A dissolução do coágulo promovido pela fibrinolisina é um mecanismo


de disseminação utilizado pelas bactérias que a possuem. Outra enzima também
produzida pelo gênero Staphylococcus é a hialuronidase, que tem a capacidade de
hidrolisar ácido hialurônico, um tipo de polissacarídeo que tem a função de unir
as células do corpo. Sabe-se que esta enzima pode estar envolvida na necrose de
ferimentos, auxiliando na dispersão das bactérias a partir do sítio inicial de infec-
ção (MADIGAN et al., 2016; TORTORA, et al., 2017).

Outra enzima conhecida é a colagenase, produzida por diversas espécies


do gênero Clostridium. Acredita-se que sua função é a disseminação da gangrena
gasosa, quebrando proteínas de colágeno que formam os tecidos conectivos. As
proteases IgA têm a capacidade de destruir anticorpos IgA, os responsáveis por
não permitir a aderência das bactérias nas células do hospedeiro. Agentes causais
da gonorréia e da meningite produzem este tipo de enzima (MADIGAN et al.,
2016; TORTORA, et al., 2017).
30
TÓPICO 3 — MECANISMOS DE PATOGENICIDADE

2.6 PLASMÍDEOS
São pequenas moléculas de DNA circular que não são conectadas ao cro-
mossomo bacteriano e que possuem a capacidade de replicação independente do
DNA cromossomal (Figura 14). Uma mesma bactéria pode possuir mais de um
plasmídeo e pode transferir seu(s) plasmídeo(s) para uma outra. Seu DNA não
possui informações essenciais, e sim informações adicionais, que podem garantir
a sobrevivência da bactéria que a possui, dando a ela uma vantagem seletiva.
Existem vários tipos de plasmídeos, cada um com sua respectiva função. Os plas-
mídeos R são responsáveis pela resistência de algumas bactérias frente a alguns
antibióticos. Por terem este tipo de capacidade, podem carregar também fatores
de patogenicidade de uma bactéria (PEREITA et al., 2015; TORTORA et al., 2017).

FIGURA 14 – PLASMÍDIO BACTERIANO

FONTE: <https://www.infoescola.com/reino-monera/plasmideo/>. Acesso em: 15 jan. 2021.

Em um estudo realizado por Pereira e colaboradores (2015), no qual foi


avaliado a presença de enterobactérias e Staphylococcus aureus em um setor de
dietética de um hospital público brasileiro, foi feito também a determinação do
perfil de resistência a antibióticos e a presença de DNA plasmidial nos isolados.
Os resultados encontrados foram alarmantes, 62% apresentaram resistência para
pelo menos um dos antibióticos testados e em 74% foram detectados a presença
de DNA plasmidial. Estes resultados mostram o risco de veiculação de bactérias
resistentes a antibióticos e com a presença de plasmídeos na sua grande maioria,
que consequentemente podem aumentar os casos de infecções persistentes no
ambiente hospitalar e falha do tratamento.

31
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

NTE
INTERESSA

Assista o vídeo para entender melhor sobre a formação do biofilme, em: ht-
tps://bit.ly/3efujA4

DICAS

Para aprimorar seu conhecimento sobre bactérias super-resistentes, leia:

Link 1: https://escolakids.uol.com.br/ciencias/superbacterias.htm

Link 2: http://bioemfoco.com.br/noticia/bacterias-mais-resistentes-mundo/

32
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Patogenicidade é a capacidade de um organismo causar doença, a forma que


ele consegue ultrapassar as barreiras de defesas para causar o dano.

• Já a virulência seria o grau da patogenicidade, ou seja, o quanto este micror-


ganismo pode causar dano no hospedeiro.

• A pele, por exemplo, é o maior órgão do corpo humano, isto é, nossa maior
barreira.

• As bactérias apenas causam um dano neste tecido caso ocorra uma quebra da
sua integridade.

• Dois gêneros bacterianos estão vinculados a este tipo de infecção, os Staphylo-


coccus e os Streptococcus.

• Estas bactérias fazem parte da microbiota da pele, no entanto, em situações


como cortes e queimaduras, podem provocar infecções.

• Outra forma de quebra de barreira, é a deposição de microrganismos em per-


furações, cirurgias e edemas. Este tipo de infecção se dá pela via parenteral.

• Bactérias que causam tétano e gangrena podem ser transmitidas através desta via.

• Um microrganismo por si só não garante que um processo infeccioso possa


ocorrer.

• Além das portas de entrada, o número de microrganismos, mecanismos de ade-


são, a formação de biofilmes, produção de cápsulas, a produção de enzimas (co-
agulases, cinases, hialuronidase) e a presença de plasmídeos, contribuem para o
aumento da patogenicidade e automaticamente da virulência destas bactérias.

• Uma bactéria patogênica e altamente virulenta pode causar muitos proble-


mas, e o principal deles é a resistência a antibióticos.

• O grande desafio da atualidade é elucidar os mecanismos envolvidos na pa-


togênese das principais infecções e assim criar novas e eficientes formas de
tratamento e diagnóstico, reduzindo assim, a mortalidade e o número de pes-
soas que são acometidas por infecções bacterianas.

33
AUTOATIVIDADE

1 (Enade, 2014) Um processo infeccioso ocorre quando um microrganismo


invade um hospedeiro, contorna suas barreiras de defesa e multiplica-se
nos tecidos do organismo. Quando a infecção prejudica a homeostase do
hospedeiro, lesando suas funçoes vitais, ocorre a doença.

PELCZAR Jr, M. J.; CHAN, A. C. S.; KRIEG,, N. R. Microbiologia conceitos e aplicações. São
Paulo, 2008.

A patogenicidade, a virulência, a propriedade de o microrganismo ser ou


não oportunista, entre outras características, são aspectos que apresentam
reflexos diretos em relação às questões de biossegurança e procedimentos de
diagnóstico, pesquisa e cultivo em laboratório.
Considerando as informações apresentadas, avalie as afirmações a seguir.

I- A capacidade ou habilidade que um microrganismo tem de causar do-


ença é denominada virulência, e o grau dessa capacidade é designado
patogenicidade. A patogenicidade e a virulência são constituídas por um
conjunto de fenômenos e características complexas que envolvem tanto
propriedades do microrganismo como a habilidade do hospedeiro em re-
sistir ao processo infeccioso.
II- Um microrganismo patogênico oportunista, também denominado patogê-
nico primário, geralmente compõe a microbiota normal do hospedeiro e
não costuma causar infecções em pessoas saudáveis; contudo, podem de-
senvolver-se naqueles indivíduos cujos fatores de resistência estão compro-
metidos, por exemplo, por outra doença, exaustão física ou subnutrição.
III- As propriedades e características dos microrganismos envolvidas na habi-
lidade de causar doença e seus graus denominam-se fatores de virulência,
dos quais são exemplos a capacidade proliferativa, a produção de toxinas,
a presença de cápsula, de pelos, de lipopolissacarídeos, de proteínas de
membrana e de enzimas para penetração no tecido conjuntivo.
IV- A manipulação de microrganismos deve seguir requisitos de contenção ese-
gurança conforme o nível de biossegurança, que representa o grau de prote-
ção proporcionado ao pessoal do laboratório, ao ambiente e à comunidade.

É correto o que se afirma em:

a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II e IV, apenas.
c) ( ) III e IV, apenas.
d) ( ) I, II e III, apenas.
e) ( ) I, II, III e IV.

34
2 (CONSULPLAN, 2016, Prefeitura de Cascavel-PR - Bioquímico) Algumas
bactérias produzem glicocálice que formam cápsulas em torno de suas pa-
redes celulares. Isso leva a um aumento de sua virulência, porque:

a) ( ) É, a cápsula, uma endotoxina.


b) ( ) Destrói os tecidos do hospedeiro.
c) ( ) Aumenta a resistência à fagocitose.
d) ( ) Reduz o reconhecimento pelos anticorpos.
e) ( ) Reduz a aderência da bactéria à célula hospedeira.

3 A formação do biofilme dental ocorre sobre a superfície dentária por meio de


interações entre microrganismos e o dente, e de interações dos microrganismos
entre si. O biofilme dental se forma associado à superfície do dente, que é um
material duro e não-descamativo, que está imerso em um ambiente líquido, a
saliva. Essa formação de biofilme acontece em estágios. Assinale a alternativa
que indica o primeiro estágio do processo de formação do biofilme.

a) ( ) Adesão bacteriana associada à superfície do dente.


b) ( ) Formação da película adquirida.
c) ( ) Adsorção de novas bactérias.
d) ( ) Multiplicação de bactérias aderidas.
e) ( ) Formação de biofilme maduro e complexo.

4 (PUC-RJ, 2007) Um grupo de pessoas deu entrada em um Hospital, após


ingerirem um bolo de aniversário comprado em estabelecimento comercial.
O diagnóstico foi intoxicação por uma bactéria do gênero Salmonella. Mar-
que a alternativa que indica a descrição correta de uma bactéria.

a) ( ) Um organismo macroscópico, unicelular, eucarionte.


b) ( ) Um organismo microscópico, unicelular, procarionte.
c) ( ) Um organismo microscópico, unicelular, eucarionte.
d) ( ) Um organismo macroscópico, pluricelular, procarionte.
e) ( ) Um organismo microscópico, unicelular, heterotérmico.

5 (Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho-PE, 2019) As celulas bacterianas


apresentam várias estruturas. Algumas delas estão presentes apenas em
determinadas espécies, enquanto outras são essenciais. Para a estrutura de
uma células bacteriana, assinale a alternativa INCORRETA.

a) ( ) Flagelos, plasmidio.
b) ( ) Citoplasma, Membrana celular.
c) ( ) Ribossomos, cromossomos.
d) ( ) Fibra da calda, cabeça.

35
36
TÓPICO 4 —
UNIDADE 1

PATOGÊNESE BACTERIANA

1 INTRODUÇÃO

Nosso corpo sempre irá responder a um ataque de um microrganismo. Du-


rante a invasão, tanto a imunidade inata quanto a adaptativa atuarão em conjunto na
defesa do nosso corpo. É através da imunidade adaptativa que teremos a produção
de anticorpos, que irão se ligar aos antígenos de superfície destes organismos, des-
truindo-os. Porém, alguns patógenos têm a habilidade de modificar suas estruturas
de superfície, capacidade esta denominada de variação antigênica. Logo, mesmo não
será reconhecido pelo sistema imune (TIBA et al., 2009; TORTORA et al., 2017).

2 INVASÃO E PATOGÊNESE
O que se sabe até o presente, é que a partir do momento que ocorre a
adesão da bactéria na célula hospedeira, sucede-se uma cascata de sinalizações
(como mencionado acima a respeito da Echerichia coli enteropatogênica) e também
interações entre estruturas, que acabam permitindo a bactéria penetrar na célula
hospedeira. Sabe-se que a proteína actina presente no citoesqueleto das células
eucarióticas são utilizadas por alguns microrganismos para movimentarem-se
entre diferentes células humanas (AGOSTINHO et al., 2020).

Quando o sistema imune não consegue ser eficaz em destruir os invasores,


estes iniciarão o processo de dano celular, que está resumido na figura abaixo.
Na primeira etapa ocorre a transmissão do microrganismo ao invadir o local
da lesão; este passará pelo processo de colonização e multiplicação. Após este
processo, as bactérias já em maior número iniciam o processo de dano celular que
consequentemente dão início aos sinais e sintomas no hospedeiro (UNESP, 2019).

37
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

FIGURA 15 – MECANISMOS DE INFECÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/33cjCYC>. Acesso em: 15 jan. 2021.

2.1 UTILIZANDO OS NUTRIENTES DO HOSPEDEIRO


De acordo com o estudo realizado por Bauckman e colaboradores (2019),
demonstrou-se que o ferro é um importante nutriente tanto para o hospedeiro
quanto para o patógeno. A Echerichia coli uropatogênica é o principal agente cau-
sador de infecção do trato urinário. Esta bactéria quebra o ferro para sua sobrevi-
vência, mantendo a sua permanência no hospedeiro.

Para provar esta teoria, eles realizaram modulação dietética em camundongos


que apresentavam infecção no trato urinário. Os resultados obtidos indicaram que os
animais que tiveram uma baixa disponibilidade sistêmica de ferro, obtiveram uma re-
dução da carga bacteriana concomitante a uma redução do processo inflamatório.

Os resultados comprovam que reduzindo a disponibilidade de nutrientes


que são importantes para as bactérias, o número de patógenos presentes também
sofrerá uma queda. Tal assertiva poderá ser utilizada em estudos futuros que irão
comprovar e elucidar o papel de vários nutrientes na patogênese das infecções
bacterianas e, com isso, auxiliar em novas abordagens de tratamento para os in-
divíduos acometidos por determinada doença.

38
TÓPICO 4 — PATOGÊNESE BACTERIANA

2.2 DANOS NO LOCAL DA INVASÃO


Algumas bactérias, como Mycobacterium tuberculosis, Shigella, Salmonella e
Neisseria gonorrhoeae (Figura 16), possuem a capacidade de causar danos diretos
à célula e isso é possível porque tais bactérias conseguem induzir as células epi-
teliais a promoverem um processo parecido com a fagocitose, permitindo, assim,
que a bactéria entre nas células hospedeiras. Posteriormente, o microrganismo
inicia o processo de multiplicação, seguido do rompimento da célula, onde novas
bactérias serão liberadas e estarão prontas para infectarem novas células e assim
dar continuidade ao processo de patogênese. Outras bactérias também conse-
guem realizar este processo através da excreção de enzimas e também pela sua
mobilidade, no qual o processo de penetração também acaba causando danos
diretos às células (QUILIN; SEIFERT, 2018).

FIGURA 16 – INFECÇÃO POR SALMONELLA SP

FONTE: <https://bit.ly/33dyYw9 >. Acesso em: 29 mar. 2021.

39
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

2.3 TOXINAS BACTERIANAS


Algumas bactérias produzem toxinas que são substâncias consideradas ve-
nenosas. As toxinas são um fator de patogenicidade e podem ser letais quando trans-
portadas pelo sangue e linfa. Algumas toxinas podem desencadear febre, diarreia,
distúrbios cardiovasculares, choque e podem inibir a síntese proteica, destruir vasos
sanguíneos e provocar danos ao sistema nervoso central. Até o momento são conhe-
cidas aproximadamente 220 toxinas e 40% destas causam danos às células eucarion-
tes. É importante ressaltar que as intoxicações são causadas pela presença da toxina
e não pela multiplicação bacteriana (MADIGAN et al., 2016; TORTORA et al., 2017).

As toxinas são classificadas em exotoxinas e endotoxinas. As exotoxinas


são produzidas dentro da célula bacteriana como parte do seu metabolismo.
“Exo” significa fora, o que quer dizer que as exotoxinas são produzidas dentro da
célula bacteriana e excretadas para o meio externo após sua lise, ou seja, a bacté-
ria morre e depois libera a exotoxina. Suas bactérias produtoras podem ser tanto
gram positivas quanto gram negativas.

Os genes responsáveis por codificar a maioria das exotoxinas estão nos plasmí-
deos ou fagos bacterianos. São toxinas altamente solúveis e por isso quando liberadas
pela bactéria, podem fluir rapidamente pelo sangue. Em altas quantidades podem ser
letais, apenas 1 miligrama da exotoxina botulínica é suficiente para matar. Como men-
cionado acima, as intoxicações alimentares não são consideradas infecções, e sim a ação
da exotoxina no corpo do hospedeiro (MADIGAN et al., 2016; TORTORA, et al., 2017).

As exotoxinas são classificadas em três tipos: toxinas A-B, toxinas danifi-


cadoras de membrana e superantígenos. A do tipo A-B são denominadas desta
forma pois são divididas em duas partes, sendo a porção A o componente ativo e
a B o componente de ligação. Um exemplo é a toxina diftérica. As danificadoras
de membrana, como sugere o nome, causam lise da célula hospedeira, a toxina do
Staphylococcus aureus é um exemplo deste grupo.

Já os superantígenos são antígenos que provocam uma resposta imuno-


lógica exacerbada. Eles estimulam a produção de células T que liberam citocinas
que são moléculas proteicas que medeiam e regulam reações imunológicas e in-
flamatórias. Em altas concentrações, as citocinas podem provocar febre, náusea,
vômito, diarreia, às vezes choque e em situações mais graves, a morte.

As endotoxinas diferentemente das exo, são produzidas apenas pelas bac-


térias gram-negativas e estão localizadas no interior da célula. Outra diferença é
que as endotoxinas são lipopolissacarídeos e as exotoxinas são proteínas. As en-
dotoxinas estão presentes na porção externa da parede celular e são denominadas
como porção LPS (lipídeo A + polissacarídeo O).

40
TÓPICO 4 — PATOGÊNESE BACTERIANA

O lipídeo A é a endotoxina e esta é liberada durante o processo de multipli-


cação bacteriana. Muitosantibióticos utilizados no tratamento de infecções causadas
por bactérias gram negativas, fazem a lise das células bacterianas e, neste momento,
o lipídeo A é liberado, podendo levar a uma piora no quadro dos sintomas. No en-
tanto, ao passo que a endotoxina é degradada, o paciente começa a ter uma melhora.

As endotoxinas causam os mesmos sinais e sintomas, independentemen-


te da espécie envolvida no processo infeccioso. Dentro do quadro de sintomas,
estão: calafrios, febre, fraqueza, dores e em algumas situações podem induzir ao
aborto, choque e morte (MADIGAN et al., 2016; TORTORA, et al., 2017).

Entre as bactérias que podem produzir endotoxinas, estão: a Salmonella typhi –


agente causal da febre tifóide; algumas espécies de Proteus, que estão envolvidos em
infecções urinárias, e a Neisseria meningitidis, agente etiológico da meningite (Figura 17).

FIGURA 17 –TIPOS DE TOXINAS BACTERIANAS

FONTE: <https://bit.ly/3eeunjF>. Acesso em: 18 jan. 2021.

2.4 INDUZINDO REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE


O sistema imunológico tem um papel muito importante no controle de
disseminação dos microrganismos no nosso corpo. Em contrapartida, o sistema
pode sofrer algumas deficiências, tanto na imunidade inata – com disfunções em
células fagociticas, como no sistema imune adaptativo –, com deficiência na pro-
dução de anticorpos ou falha de função das células T. Isso está fortemente asso-
ciado com o aumento da susceptibilidade a infecções (MACHADO et al., 2004).

Algumas evidências têm sido levantadas a respeito da resposta imune ao


agente agressor; e o que se tem notado é que em muitas doenças, os principais as-
pectos patológicos não estão relacionados com uma ação direta do patógeno, e sim
com uma resposta imune anormal. Neste contexto entram as reações de hipersensibi-
lidade, que nada mais é do que uma resposta exacerbada do sistema imune e, como
consequência, acaba causando dano celular no hospedeiro (MACHADO et al., 2004).

41
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

Em algumas situações, os microrganismos têm a capacidade de produzir


antígenos que induzem a proliferação de células autorreativas e aumentam a ex-
pressão de moléculas de MHC e moléculas com estimulações que podem desen-
cadear em doenças autoimunes (MACHADO et al., 2004).

NTE
INTERESSA

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas descobrem nova família


de toxina bacteriana

Em: https://bit.ly/33ronhr

Botox: toxina botulínica ameniza rugas e linhas de expressão

Em: https://www.minhavida.com.br/beleza/tudo-sobre/16609-botox

42
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• A partir do momento que um microrganismo entra em nosso corpo, nosso sis-


tema imunológico será ativado e nossa imunidade inata e adaptativa iniciam
uma resposta.

• Algumas bactérias possuem variabilidade antigênica, que nada mais é do que


modificações em suas estruturas de superfície, conseguindo assim, driblar o
sistema imune.

• A partir do momento que ocorre a adesão da bactéria na célula hospedeira,


ocorre um processo de sinalização, e após a sinalização ocorre a colonização
e multiplicação da bactéria.

• Em maior número, inicia-se o processo de dano tecidual e a partir disso, o


hospedeiro começa a manifestar sinais e sintomas da doença.

• As bactéria utiliza dos nutrientes disponibilizados pelo hospedeiro, como o


exemplo mencionado do ferro em casos de infecção urinária em camundongos.

• Além de utilizar dos nutrientes, também podem causar danos diretos no local
da infecção.

• Algumas bactérias produzem toxinas que são transportadas pelo sangue e


pela linfa, danificando sítios distantes do local inicial da invasão.

• Algumas toxinas podem desencadear febre, diarreia, distúrbios cardiovascu-


lares, choque, podem inibir a síntese proteica, destruir vasos sanguíneos e
provocar danos no sistema nervoso central.

• As toxinas são classificadas em exotoxinas e as endotoxinas.

• As exotoxinas são produzidas dentro da célula bacteriana como parte do seu


metabolismo e excretadas para o meio externo após a lise da célula bacteriana.

• As endotoxinas diferentemente das exo são produzidas apenas pelas bacté-


rias gram negativas e estão localizadas no interior da célula.

• As reações de hipersensibilidade são uma resposta exacerbada do sistema


imunológico, causando dano celular no hospedeiro.

43
AUTOATIVIDADE

1 São características das exotoxinas:

a) ( ) Podem ser utilizadas em imunização na forma de toxóides atóxicos.


b) ( ) São extremamente tóxicas.
c) ( ) Possuem receptores específicos.
d) ( ) Geralmente imunogênicas.
e) ( ) Todas estão corretas.

2 (Concurso Polícia Científica de Pernanbuco-PE, 2016, Perito Criminal) Assi-


nale a opção que apresenta a sequência correta de eventos que ocorrem na
interação entre microrganismos patogênicos e hospedeiros.

a) ( ) Exposição ao patógeno; adesão a pele ou mucosa; invasão de epitélio;


doença/dano tecidual; colonização/proliferação e produção de fatores
de virulência; dispersão sistemica/toxicidade local e sistêmica.
b) ( ) Doença/dano tecidual; dispersão sistemica/toxicidade local e sistêmica;
colonização/proliferação e produção de fatores de virulência;
c) ( ) Exposição ao patógeno; colonização/proliferação e produção de fatores
de virulência; adesão a pele ou mucosa; invasão de epitélio; dispersão
sistemica/toxicidade local e sistêmica; doença/dano tecidual.
d) ( ) Exposição ao patógeno; adesão a pele ou mucosa; invasão de epitélio;
colonização/proliferação e produção de fatores de virulência; dispersão
sistemica/toxicidade local e sistêmica; doença/dano tecidual.

3 (Gestão de Concursos, 2013, IPSEMG - Analista - Bioquímica) A capacidade


de um microrganismo produzir toxinas é chamada toxigenicidade. As toxi-
nas podem ser de dois tipos com base em suas posições em relação à célula
microbiana: exotoxinas e endotoxinas. Em relação às exotoxinas bacteria-
nas, assinale a alternativa INCORRETA.

a) ( ) As exotoxinas são produzidas no interior de algumas bactérias e são


secretadas pela bactéria no meio circundante ou liberadas após lise.
b) ( ) As doenças causadas por bactérias que produzem exotoxina têm como
causa de seus sintomas quantidades diminuídas de exotoxinas e não a
bactéria em si.
c) ( ) É possível inativar exotoxinas pelo calor ou uso de substâncias quími-
cas como formaldeído ou iodo. A exotoxina inativada é denominada
toxoide. Quando injetado como vacina, estimula a produção de antito-
xinas produzindo a imunidade.
d) ( ) As exotoxinas são lipopolissacarídeos, parte da porção externa da pare-
de celular de bactérias gram-negativas.

44
4 (CETESB, VUNESP, 2013) Quanto aos fatores de virulência bacteriana, po-
de-se afirmar que:

a) ( ) a febre e a leucopenia seguida de leucocitose observadas no hospedeiro


na fase aguda de uma infecção estão diretamente relacionadas com a
presença e ação do encapsulamento bacteriano.
b) ( ) muitas toxinas são diméricas, compostas por subunidades A e B, tendo
como exemplos as do Clostridium botulinum e Corynebacterium diphtheriae.
c) ( ) as bactérias não possuem mecanismos para combater, evitar ou minimi-
zar as ações imunológicas de defesa pelo hospedeiro.
d) ( ) as bactérias não têm capacidade de realizar crescimento no interior das
células do hospedeiro.
e) ( ) cada espécie possui um único mecanismo de virulência, sendo que a
destruição de fagócitos é o fator mais importante.

5 (EBSERH, 2015, Biomédico) Em relação à Hipersensibilidade Imediata e


seus mecanismos, assinale a alternativa correta.

a) ( ) Mediada por células T efetoras específicas a antígenos exógenos inócu-


os, induzindo lesões no local onde o antígeno penetra.
b) ( ) Decorrente do efeito citopático de anticorpos, dirigidos contra antíge-
nos presentes na superfície ou matiz celular.
c) ( ) Liberação de leucotrienos, quimiocinas, citocinas e enzimas pelos mastó-
citos, havendo aumento na produção de muco e remodelagem tecidual.
d) ( ) Causada pelo depósito de complexos antígeno anticorpo em determi-
nado tecido após a exposição ao alérgeno.
e) ( ) Decorrente da atividade da histamina e prostaglandinas, havendo se-
creção de muco, aumento da permeabilidade vascular, edema, contra-
ção da musculatura lisa (broncoconstrição) e exantema.

45
46
TÓPICO 5 —
UNIDADE 1

RESPOSTA IMUNE CONTRA


BACTÉRIAS

1 INTRODUÇÃO

Dentre os microrganismos patogênicos, as bactérias são as que estão mais


envolvidas em processos infecciosos no homem. Para tentar evitar que estas se
instalem no hospedeiro, contamos com as barreiras naturais, a resposta inata e
adaptativa que auxiliam no processo de defesa.

Ao entrar em contato com nosso corpo, as barreiras são ativadas e, caso


ocorra a passagem das barreiras, nosso sistema imunológico realizará o reconhe-
cimento para auxliar nas defesas. No entanto, nem todas as vezes as barreiras/si-
tema imunológicos são eficazes e aí neste momento temos a instalação da doença.

Neste tópico, iremos abordar a respeito destas respostas e como o nosso


corpo tenta se defender para que a doença não se instale.

2 MECANISMOS DE SOBREVIVÊNCIA DA BACTÉRIA NO


HOSPEDEIRO
As bactérias intracelulares possuem um mecanismo de penetração em ma-
crófagos, que constitui uma estratégia de sobrevivência, pois conseguem escapar
da ação do sistema imune. Dentre as bactérias que compõem este grupo, podemos
citar a Mycobacterium tuberculosis, o Mycobacterium leprae e a Listeria monocitogenesis.
Quando estão dentro dos macrófagos, estimulam a atuação da imunidade celular
através da ação das células TCD4+, com expressão de antígeno associado ao MHC
classe II, como também através das células TCD8+, com expressão de antígenos
associados a moléculas do MHC classe I (MACHADO et al., 2004).

As células TCD4+ ativadas secretam IFN-γ, que estimulam os macrófa-


gos, levando a um aumento na produção de óxido nítrico (NO), com consequente
destruiçãoda bactéria. Já as células TCD8+ destroem os macrofágos infectados
através do seu mecanismo de defesa, a citotoxicidade (MACHADO et al., 2004).

As bactérias extracelulares é o grupo que mais frequentemente causa in-


fecções bacterianas. Com relação à formulação da resposta imunológica contra
elas, estão envolvidas neste processo as barreiras naturais, a resposta imune inata
e a resposta imune humoral (Quadro 1).

47
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

QUADRO 1 – MECANISMOS DE RESPOSTA IMUNE ÀS INFECÇÕES

FONTE: <https://www.scielo.br/pdf/abd/v79n6/a02v79n6.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2021.

A atuação das barreiras naturais são de extrema importância, pois, como


visto anteriormente, elas são as primeiras a serem ativadas, impedindo a entrada
do patógeno e, consequentemente, a instalação da infecção. Podemos citar como
parte desse tipo de proteção: a integridade da pele e das mucosas, que impedem
a aderência e penetração de bactérias; o movimento mucociliar do trato respira-
tório; o pH ácido do estômago que destroem as bactérias que invadem o trato
digestivo; e a presença de substâncias com atividade antimicrobiana na saliva e
nas secreções prostáticas (Figura 18) (MACHADO et al., 2004).

FIGURA 18 – DEFESAS INESPECÍFICAS DO HOSPEDEIRO

FONTE: <https://bit.ly/3tc0ipa>. Acesso em: 18 fev. 2021.

48
TÓPICO 5 — RESPOSTA IMUNE CONTRA BACTÉRIAS

2.1 RESPOSTA IMUNOLÓGICA DO HOSPEDEIRO


A resposta imune inata conta com a participação de todas as suas células
(MACHADO et al., 2004; MADIGAN et al., 2016) (Figura 19 ):

Sistema complemento: ativa o complexo de ataque a membrana e facilita


a opsonização das bactérias.
Quimiocinas: atraem as células de defesa para o sítio da lesão.
Citocinas: pró-inflamatórias (TNF-□, IL-1 e IL-6) são produzidas no início
da infecção e são responsáveis pela febre e inibição da multiplicação bacteriana,
além de estimularem neutrófilos e macrófagos a produzirem NO.
Células fagocitárias: neutrófilos e monócitos/macrófagos.

FIGURA 19 – ATIVIDADE CELULAR NA RESPOSTA IMUNE

FONTE: <https://medpri.me/upload/texto/texto-aula-809.html>. Acesso em: 18 fev. 2021.

Na imunidade adaptativa, a produção de anticorpos desempenha um


importante papel na defesa contra bactérias extracelulares (MACHADO et al.,
2004; MADIGAN et al., 2016). Suas principais ações são:

1) opsonização;
2) ativaçãodo sistema complemento;
3) promoção da neutralização de bactérias, ou de seus produtos.

Os anticorpos podem destruir as bactérias a partir da ativação do comple-


mento através da via clássica. Os anticorpos, principalmente o IgA, ligam-se às
bactérias e impedem a adesão delas às células do hospedeiro.

49
UNIDADE 1 — SERES MICROSCÓPICOS: UMA VISÃO GERAL

Além disso, os anticorpos podem se ligar a toxinas, neutralizando-as, im-


pedindo a sua ação no corpo do hospedeiro (MACHADO et al., 2004; MADIGAN
et al., 2016). As principais características entre a resposta imune inata e adaptativa
estão presentes na tabela 2.

TABELA 2 – IMUNIDADE INATA x IMUNIDADE ADAPTATIVA

FONTE: <https://medpri.me/upload/texto/texto-aula-809.html>. Acesso em: 18 fev. 2021.

No entanto, em algumas situações, as infecções provocadas por bactérias


gram negativas podem deixar seu sítio primário e acometer outros sítios, o que
resultaria em uma septicemia e choque séptico, ambas são situações graves e es-
tão associadas a uma alta taxa de mortalidade.

O choque é desencadeado pela LPS que está presente na parede celular bac-
teriana. Assim, um processo exacerbado de produção de citocinas (TNF-α, IL-1, IL-6,
IL-8) é iniciado através de neutrófilos, macrofágos e células endoteliais. Após isso,
ocorre a diminuição do tônus muscular e débito cardíaco, que resulta na hipotensão
e má perfusão tecidual, provocando morte celular. No entanto, experimentos reali-
zados em camundongos por Caille e colaboradores (2004) têm demonstrado que há
como modular essa resposta exacerbada através da administração concomitante de
IL-10 e LPS, o que mostrou uma proteção aos camundongos da morte por choque
séptico, por inibir a produção de IL-12 e a síntese de IFN-γ e TNF-α.

DICAS

Mecanismos de resposta imune às infecções

Leia em: https://bit.ly/2Sp6sWi

50
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:

• Para que uma infecção não ocorra, contamos com as barreiras naturais, a res-
posta inata e adaptativa.

• As respostas ocorrem em diferentes situações,como em bactérias intracelula-


res que estimulam a produção TCD4+ e TCD8+.

• A células TCD4+ secretam IFN-γ, que ativa os macrófagos que levam à pro-
dução aumentada de óxido nítrico (NO) e este por sua vez, tem a função de
destruir a bactéria.

• Já as células TCD8+ atuam na defesa através da citotoxicidade, destruindo os


macrofagos infectados.

• Já nas bactérias extracelulares temos a ação das barreiras primárias, da res-


posta imune inata e adaptativa.

• Na resposta imune inata temos a participação de células fagocitárias, ativação


do sistema complemento e produção de quimiocinas e citocinas.

• Em contrapartida na imunidade adaptativa temos a produção de anticorpos que


desempenham um papel importante na defesa. Os anticorpos têm como função:
O opsonização;
O ativando o sistema complemento;
O promovendo a neutralização de bactérias ou de seus produtos.

• Em casos de infecções graves como septicemia ou choque séptico provocadas


por bactérias gram negativas, a resposta inicia através de neutrófilos, macró-
fagos e células endoteliais.

51
• Após isso, ocorre a diminuição do tônus muscular e débito cardíaco, que re-
sulta na hipotensão e má perfusão tecidual, provocando morte celular.

• No entanto, estudos realizados mostram bons resultados a partir da adminis-


tração de IL-10 e LPS.

CHAMADA

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52
AUTOATIVIDADE

1 Em relação à imunidade aos micro-organismos, NÃO é correto afirmar que:

a) ( ) A resposta imune inata a bactérias intracelulares consiste principal-


mente em fagócitos e células NK (Natural Killer).
b) ( ) A ativação do sistema complemento é importante para a resposta imu-
ne inata a bactérias extracelulares.
c) ( ) As células NK (Natural Killer) e linfócitos estão envolvidos na resposta
às infecções virais.
d) ( ) Os eosinófilos estão relacionados à resposta imune contra helmintos.
e) ( ) A imunidade humoral é o principal mecanismo de defesa contra as bac-
térias intracelulares.

2 (UFV, 2007) Na espécie humana, a defesa contra agentes patogênicos e


substâncias que superam as barreiras externas de proteção é realizada pelo
sistema imunitário. Com relação a este sistema, é CORRETO afirmar que:

a) ( ) a imunidade celular é mediada por uma molécula efetora chamada de


anticorpo.
b) ( ) a imunidade humoral é mediada por uma célula efetora, o linfócito T
citotóxico.
c) ( ) os antígenos são as moléculas estranhas que provocam uma reação
imunitária.
d) ( ) a resposta imunológica é desprovida de mecanismos de autorregulação
e memória.

3 (FADESP, 2012) Qual das alternativas abaixo melhor caracteriza a resposta


imunológica natural?

a) ( ) Produção de citocinas (TNF-alfa, TGF-beta, interleucinas e interferons)


que pode levar à inflamação, resistência à infecções, ativação de macro-
fagos e proliferação de células NK.
b) ( ) Interação das células apresentadoras de antígenos com linfócitos T
CD4, ligadas a epítopos antigênicos específicos.
c) ( ) Expansão clonal, que é o mecanismo pelo qual os linfócitos sofrem con-
siderável proliferação logo após a exposição ao antígeno.
d) ( ) Respostas a exposições posteriores ao mesmo antígeno, mediadas por
linfócitos T de memória.

4 (CONSULPLAN, 2015) Sobre a imunidade inata e adquirida, marque V


para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) A característica em comum dos mecanismos da imunidade inata é que


eles reconhecem e respondem aos microrganismos, reagindo a substân-

53
cias não bacterianas.
( ) A imunidade inata contrapõe-se à imunidade adquirida, que precisa ser esti-
mulada e adaptada para encontrar o microrganismo antes de se tornar eficaz.
( ) A imunidade inata não está direcionada especificamente contra micro-
-organismos, mas é um mecanismo de defesa inicial e poderoso capaz
de controlar,e até mesmo erradicar,as infecções antes que a imunidade
adquirida se torne ativa.
( ) Cada componente do sistema imunológico inato pode reconhecer muitas
bactérias, vírus ou fungos como, por exemplo, os fagócitos que expres-
sam receptores para o lipopolissacarídeo bacteriano (LPS, também cha-
mado de endotoxina) presente em muitas espécies bacterianas, mas que
não é produzido pelas células dos mamíferos.
( ) Os receptores do sistema imunológico inato estão codificados na linhagem
germinativa, não sendo produzidos pela recombinação somática dos genes.

A sequência está correta em:

a) ( ) V, F, F, V, F.
b) ( ) F, V, V, F, F.
c) ( ) F, V, F, V, V.
d) ( ) V, F, V, F, F.

54
REFERÊNCIAS
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TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. Porto Alegre: Art-


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TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. Porto Alegre: Artmed, 2012.

UNESP, 2019. Disponível em: https://bit.ly/33cjCYC. Acesso em: 15 jan. 2021.

56
UNIDADE 2 —

LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA
CLÍNICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao fim do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer e identificar as principais características do laboratório


de bacteriologia clínica;

• elucidar as principais técnicas laboratoriais direcionadas à iden-


tificação bacteriana;

• conhecer os principais tipos bacterianos relacionados a doenças


humanas, bem como seus aspectos fisiopatológicos e laboratoriais;

• conhecer os passos básicos definidos para atribuir um diagnósti-


co microbiológico de qualidade.

57
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o
conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ESTRUTURA E BIOSSEGURANÇA NO LABORATÓRIO


DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

TÓPICO 2 – COLETA, TRANSPORTE E CONSERVAÇÃO DE


AMOSTRAS EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA

TÓPICO 3 – PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS NA


MICROBIOLOGIA CLÍNICA

TÓPICO 4 – PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E


GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA:
ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

58
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

ESTRUTURA E BIOSSEGURANÇA NO
LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico, antes de nos aprofundarmos nas técnicas empregadas


no laboratório de microbiologia, precisamos compreender quais são suas defini-
ções, características e estrutura. Será que todo laboratório de microbiologia tem
os mesmos requisitos de segurança, ou há, dependendo do material utilizado,
uma estrutura especializada e direcionada para cada caso?

O gestor de um laboratório/setor de microbiologia clínica deve ter o conheci-


mento da necessidade do cumprimento das leis e normas para o seu funcionamento.
Portanto, o plano de gestão deverá estabelecer a implantação dos serviços e processos
de acordo com resoluções, portarias e normas que regem os serviços de saúde, que
podem ser conferidas a nível nacional, estadual ou municipal (BRASIL, 2004).

TUROS
ESTUDOS FU

A RDC 302 publicada no Diário Oficial da União, no dia 14 de outubro de 2005,


dispõe sobre regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos e define os re-
quisitos para o funcionamento dos laboratórios clínicos e postos de coleta laboratorial públicos
ou privados que realizam atividades na área de análises clínicas, patologia clínica e citologia. Que
tal verificar quais os principais pontos que estão relacionados ao laboratório de microbiologia?

2 ESTRUTURA BÁSICA E CLASSIFICAÇÃO DE RISCO NA


MICROBIOLOGIA CLÍNICA
Segundo a Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), a estrutura física do
laboratório deve atender aos requisitos da RDC/ANVISA, nº 50, publicada em 21 de
fevereiro de 2002. O laboratório de microbiologia é responsável por caracterizar e tam-
bém identificar os microrganismos presentes em vários tipos de amostras. Esta área
pode ter diversos segmentos, tais como: saúde, indústria alimentícia e cosméticos.

59
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Na bacteriologia clínica, o laboratório tem a função de receber amostras


biológicas de pacientes para que possam ser processadas e realizadas a identifi-
cação das bactérias envolvidas nos processos patológicos. O principal risco de
um laboratório nesta área seria a contaminação do manipulador com as amostras
biológicas, portanto, faz-se necessária a utilização de equipamentos de Biosse-
gurança, como luvas, máscaras, óculos de proteção e jaleco para a segurança do
analista. Os equipamentos mínimos para funcionamento de um laboratório de
microbiologia estão sumarizados no quadro 1:

QUADRO 1 – EQUIPAMENTOS UTILIZADOS EM LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA

• Estufa bacteriológica • Banho-maria de pequena dimensão;


• Estufa de esterilização • Destilador para água
• Autoclave • Balança analítica
• Microscópio binocular • Bico de Bunsen
• Centrifugador de baixa rotação • Geladeira + Congelador
• Homogeneizador • Capela de fluxo laminar
FONTE: <https://bit.ly/3xLw1B2>. Acesso em: 4 mar. 2021.

No entanto, devemos lembrar que diferentes tipos de microrganismos


exigem diferentes abordagens em biossegurança, uma vez que possuem variados
graus de patogenicidade, logo, os tipos de equipamentos e estrutura utilizados
devem ser diferentes. No quadro 2 podemos verificar a classificação dos micror-
ganismos com base no seu risco apresentado.

QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS SEGUNDO POTENCIAL PATOGÊNICO

Risco individual e para a comunidade é ausente ou muito bai-


xo – São organismos que não causam doenças ao homem ou
Classe de Risco
aos animais. Ex.: microrganismos usados na produção de cer-
1
veja, vinho, pão e queijo (Lactobacillus casei, Penicilliumcamem-
bertii, S. cerevisiae etc).
Risco individual moderado e risco limitado para a comuni-
dade –São patógenos que causam doenças ao homem ou aos
animais, porém, seu potencial de propagação é limitado, onde
Classe de Risco medidas terapêuticas e profiláticas eficazes estão disponíveis.
2 Exemplo: bactérias - Clostridium tetani, Klebsiella pneumoniae,
Staphylococcus aureus; vírus - EBV, herpes, dengue (sorotipos
1, 2, 3 e 4); fungos - Candidaalbicans; parasitas – Plasmodium sp.
e Schistosoma mansoni.

60
TÓPICO 1 — ESTRUTURA E BIOSSEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Elevado risco individual e risco limitado para a comunidade –


Os patógenos geralmente causam doenças graves ao homem ou
aos animais e podem representar um sério risco a quem os ma-
nipulam. Podem propagar-se de individuo para individuo, mas
Classe de Risco
usualmente existem medidas de tratamento e de prevenção.
3
Exemplos: bactérias - Bacillus anthracis, Brucellaspp, Chlamy-
dophilapsittaci, Mycobacterium tuberculosis; vírus - HTLV 1 e 2,
HIV, Vírus Influenza A (H5N1); fungos – Coccidioidesimmitis,
Rhinocladiellamackenziei.
Elevado risco individual e para a comunidade –Incluem pató-
genos que representam grande ameaça para o ser humano e
para aos animais, representando grande risco a quem o mani-
Classe de Risco pula e tendo grande poder de transmissibilidade de um indi-
4 víduo a outro. Até o momento, não existem medidas preven-
tivas e de tratamento para esses agentes. Exemplos: Vírus de
febres hemorrágicas, Febre Lassa, Machupomammarena vírus,
vírus Ebola, Arena vírus e vírus da varíola.
FONTE: <https://bit.ly/3xLw1B2>. Acesso em: 4 mar. 2021.

Estes critérios de classificação levam em consideração os parâmetros dos


agentes biológicos e a patologia em si, como:

Patogenicidade
Modo de transmissão
Estabilidade do agente
Capacidade de disseminação
Gravidade da infecção
Endemicidade
Profilaxia terapêutica

No quadro 3, destacamos a classificação dos laboratórios de acordo com os


níveis de biossegurança (NB), que devem ser adotados conforme a classificação do(s)
agente(s) biológico(s) manipulado(s) pelo laboratório. O nível de Biossegurança ado-
tado em um laboratório de Microbiologia deverá levar em consideração o agente bio-
lógico de maior classe de risco envolvido nas atividades realizadas por ele.

61
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 3 – NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA A SEREM ADOTADOS PELOS LABORATÓRIOS DE


MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Nível 1 de Biossegurança (NB-1) ou proteção básica (P1)


Equipamentos de
Agentes Práticas Instalações
Segurança
Não são exigidos Salas separadas das
Apenas organis-
Aplicação das Boas equipamentos áreas públicas de
mos de classe
Práticas Microbio- especiais de con- passagens;
1 poderão ser
lógicas (BPLs) tenção; Bancadas abertas
manipulados
Utilização de EPIs. com pias próximas.

1. Acesso controlado.
2. Pia para lavar as mãos.
3. Política de alerta de perigos acentuados.
4. Equipamento de proteção individual.
5. Bancada de laboratório.
6. Autoclave.

Nível 2 de Biossegurança (NB-2) ou (P2)


Equipamentos de
Agentes Práticas Instalações
Segurança
Barreiras primá-
Práticas de NB-1 acres-
rias = Cabines de
cidas de:
Classe I ou II ou NB-1 acrescido
outros dispositi- de:
1. Acesso limitado.
vos de contenção
2. Avaliação de Risco
física usados para 1. Autoclave.
Manipulação de Biológico.
todas as manipu- 2. Instalação de
microrganismos 3. Precauções com obje-
lações de agentes um sistema
de Classe de ris- tos perfurocortantes.
que provoquem mecânico de
co 2. 4. Manual de Biosse-
aerossóis ou vaza- ventilação.
gurança que defina a
mento de mate- 3. Pias com
descontaminação de
riais infecciosos; acionamento
dejetos ou normas de
Uso de EPIs: aven- automático.
vigilância médica.
tais, luvas, prote-
5. Sinalização de risco.
tor facial.

62
TÓPICO 1 — ESTRUTURA E BIOSSEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

1. Acesso controlado
2. Pia para lavar as mãos
3. Política de alerta de perigos acentuados
4. Dispositivo de contenção física
5. Equipamento de proteção pessoal
6. Bancada de laboratório

Nível 3 de Biossegurança (NB-3) ou (P3)


Equipamentos de
Agentes Práticas Instalações
Segurança
NB-2 acrescidas de:
Práticas de NB-2 acres-
cidas de: 1. Separação física
Barreiras primárias
dos corredores de
Agentes exóticos = Cabines de classe II
1. Acesso controlado. acesso.
com potencial ou III ou outros dis-
2. Descontaminação 2. Portas e acesso du-
para transmissão positivos de conten-
de todo lixo. plos e com fecha-
via aerossol; a ção usados para to-
3. Descontaminação mento automático.
doença pode ter das as manipulações.
da roupa usada 3. Ar de exaustão
consequências sé- É obrigatório o uso de
no laboratório an- não recirculante.
rias ou até fatais. roupas de proteção
tes de ser lavada. 4. Fluxo de ar ne-
Microrganismos de específica – macacões,
4. Controle soroló- gativo dentro do
Classe de risco 3. gorros, luvas, pró-pés
gico dos funcio- laboratório.
e respiradores.
nários. 5. Piso antiderra-
pante e de fácil
limpeza.

63
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

1. Vedação ao desinfetar.
2. Fechamento automático, acesso de porta dupla e acesso controlado.
3. Chuveiro pessoal fora do laboratório (melhoria baseada em risco).
4. Política de alerta de perigos acentuados.
5. Pia para lavar as mãos.
6. Penetrações seladas.
7. Dispositivo de contenção física.
8. Respirador purificador de ar alimentado (aumento baseado em risco).
9. Bancada de laboratório.
10. Autoclave.
11. Filtro HEPA de exaustão (aprimoramento baseado em risco).
12. Sistema de descontaminação de efluentes (melhoria baseada em risco).

Nível 4 de Biossegurança (NB-4) ou (P4)


Equipamentos de
Agentes Práticas Instalações
Segurança
NB-3 acrescidas de:
Agentes exóticos
1. Edifício sepa-
ou perigosos que
rado o u
exponham o indi-
Práticas de NB-3 área isolada.
víduo a um alto ris- Barreiras primárias
acrescidas de: 2. Descontamina-
co de doenças que = Todos os procedi-
ção do material
ameaçam a vida. mentos conduzidos
1. Mudança de é feita em um
em cabines de Classe
roupa antes de sistema de au-
Infecções labora- III ou II juntamen-
entrar. toclave de du-
toriais transmiti- te com macacão de
2. Banhar na saída. pla porta.
das via aerossol pressão positiva com
3. Todo o mate- 3. Sistemas de
ou relacionadas a suprimento de ar.
rial deve ser abastecimento
agentes com risco
descontamina- e escape, a vá-
desconhecido de O trabalho é feito
do na saída das cuo, e de des-
transmissão. em dupla.
instalações. contaminação.
4. Circuito inter-
Microrganismos
no de TV.
de classe de risco 4.
5. Intercomunica-
dores.

64
TÓPICO 1 — ESTRUTURA E BIOSSEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

1. Vedação ao ar.
2. Fechamento automático, acesso de porta dupla e acesso controlado.
3. Política de alerta de perigos acentuados.
4. Pia para lavar as mãos.
5. Penetrações seladas.
6. Dispositivo de contenção física.
7. Roupa de proteção de pressão positiva.
8. Bancada de laboratório.
9. Autoclave.
10. Chuveiro químico para fora.
11. Chuveiro pessoal para fora.
12. Filtro HEPA de alimentação e exaustão.
13. Sistema de descontaminação de efluentes.
FONTE: Adaptado de Center for Preparedness and Response - CDC (2020) e ANVISA (2013)

2.1 CABINES DE SEGURANÇA BIOLÓGICA


Como você percebeu, há um equipamento dentro dos laboratórios de mi-
crobiologia bastante peculiar: as cabines de segurança biológica (CSB), também
conhecidas como capelas de fluxo laminar.

As CSB são geralmente usadas como contenção primária no trabalho


com agentes de risco biológico, minimizando a exposição do operador, do pro-
duto e do ambiente. Muitos agentes de risco biológico requerem o uso de subs-
tâncias químicas e radioisótopos em suas análises. Dependendo do volume de
substâncias químicas e radioisótopo utilizado, é exigido modificações na es-
trutura da CSB ou na construção do sistema de exaustão da cabine, que pode
incluir filtro de carvão, visto que os filtros absolutos ou filtros HEPA não retêm
substâncias químicas vaporizadas ou sublimadas.

65
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Existem três tipos de CSB e cada uma é proporcional ao nível de risco bio-
lógico manipulado. Elas possuem sistemas de exaustão, filtração, confinamento e
laminaridade do fluxo de ar, o que as permite reter contaminantes de proporções
microscópicas. A figura 1 e o quadro 4 descrevem os tipos de CSB.

FIGURA 1 – TIPOS DE CABINES DE SEGURANÇA BIOLÓGICA

FONTE: Adaptado de Salvatierra et al. (2014)

66
TÓPICO 1 — ESTRUTURA E BIOSSEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 4 – COMPARAÇÃO DAS CABINES DE SEGURANÇA BIOLÓGICA

FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 4 mar. 2021.

É importante lembrarmos que um laboratório de microbiologia clínica exige boas


práticas, assim como em um laboratório clínico. Vamos relembrar aqui quais são elas:

• É expressamente proibido o consumo de bebidas e alimentos, a aplicação de


cosméticos e o fumo na área técnica.
• Em todos os procedimentos, é recomendado prender os cabelos e evitar o uso
de bijuterias e maquiagens.
• É proibido o uso de calçados abertos (chinelos e sandálias).
• Toda amostra biológica deve ser considerada potencialmente contaminada.
• É obrigatório o uso de EPI dentro na unidade técnica.
• É proibido pipetar com a boca.
• Antes de iniciar a rotina, é obrigatória a descontaminação das bancadas de
trabalho antes e após o desenvolvimento das atividades.
• É proibido reencapar e entortar agulhas após o uso.

67
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

• Nunca processar materiais não identificados.


• Depositar todo material contaminado em recipientes apropriados para auto-
clavagem.
• Higienizar sempre as mãos antes e após os procedimentos.

DICAS

Leia o texto:
Afinal você sabe qual a importância da biossegurança?

Disponível em:
https://bit.ly/3nKEAY4

68
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O laboratório de microbiologia clínica é responsável por caracterizar e tam-


bém identificar os microrganismos presentes em vários tipos de amostras bio-
lógicas.

• A utilização de equipamentos de Biossegurança como luvas, máscaras, óculos


de proteção e jaleco são essenciais para a segurança do biomédico.

• Listamos os equipamentos mínimos para funcionamento de um laboratório


de microbiologia.

• Diferentes tipos de microrganismos exigem diferentes abordagens em bios-


segurança, uma vez que possuem variados graus de patogenicidade, logo, os
tipos de equipamentos e estrutura utilizados devem ser diferentes.

• O nível de Biossegurança adotado em um laboratório de Microbiologia deve-


rá levar em consideração o agente biológico de maior classe de risco envolvi-
do nas atividades realizadas por ele.

• As CSB são geralmente usadas como contenção primária no trabalho com


agentes de risco biológico, minimizando a exposição do operador, do produto
e do ambiente.

• Existem três tipos de CSB e cada uma é proporcional ao nível de risco bioló-
gico manipulado.

69
AUTOATIVIDADE

1 (FUNIVERSA-SECTEC-GO, 2010) Biossegurança é o conjunto de ações vol-


tadas para prevenção e:

a) ( ) minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de trabalho,


que possam comprometer a saúde do homem, dos animais e do meio
ambiente.
b) ( ) minimização ou também no aumento de riscos inerentes às atividades
de trabalho, que devem comprometer a saúde do homem, dos animais
e do meio ambiente.
c) ( ) maximização e não eliminação de riscos inerentes às atividades de tra-
balho, que possam comprometer a saúde do homem, dos animais e do
meio ambiente.
d) ( ) minimização ou eliminação de riscos não inerentes às atividades de tra-
balho. É uma sistemática para comprometer a saúde do homem, dos
animais e do meio ambiente.
e) ( ) conservação ou não eliminação de riscos inerentes às atividades de tra-
balho, primando para comprometer a saúde do homem, dos animais e
do meio ambiente.

2 (FUNIVERSA - Governo do Estado do Amapá, Biomédico, 2014) Os riscos


biológicos são decorrentes da exposição a agentes do reino animal, vegetal e
de micro-organismos ou de seus subprodutos. Tais agentes podem estar pre-
sentes, veiculados sob diversas formas que oferecem risco biológico, como ae-
rossóis, poeira, alimentos, instrumentos de laboratório, água, cultura, amos-
tras biológicas, entre outros. Os germes patogênicos que costumam provocar
doença grave em seres humanos ou animais, propagada de um hospedeiro
infectado ao outro. Porém, existem medidas profiláticas e de tratamento bem
esclarecidas. Considerado de alto risco individual e de baixo risco para a co-
munidade. Esse tipo de agente é incluído no grupo de risco:

a) ( ) 0
b) ( ) 1
c) ( ) 2
d) ( ) 3
e) ( ) 4

3 (COTEC-UNIMONTES, Farmacêutico, 2014) A biossegurança é um conjunto


de ações voltadas para prevenção, minimização e eliminação de riscos para
a saúde, ajuda na proteção do meio ambiente contra resíduos e na conscien-
tização do profissional da saúde. Considere a informação abaixo: Aplica-se a

70
agentes biológicos que provocam infecções no homem ou nos animais, cujo
risco de propagação na comunidade e de disseminação no meio ambiente
é limitado, não constituindo em sério risco a quem os manipula em condi-
ções de contenção, pois existem medidas terapêuticas e profiláticas eficientes.
Exemplo: Toxoplasma spp. Qual a classe de risco biológico descrita acima?

a) ( ) Risco 2.
b) ( ) Risco 1.
c) ( ) Risco 4.
d) ( ) Risco 3.

71
72
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

COLETA, TRANSPORTE E CONSERVAÇÃO DE


AMOSTRAS EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA

1 INTRODUÇÃO
Na rotina de um laboratório são utilizados Procedimento Operacional Pa-
drão (POPs), para que se mantenha o controle de qualidade nas técnicas realiza-
das. Todo laboratório de microbiologia depende, antes de mais nada, de uma boa
qualidade da amostra e do controle de qualidade das análises. Para isso, o mate-
rial coletado deve ser representativo do processo infeccioso investigado, devendo
ser eleito o melhor sítio da lesão, evitando contaminação com as áreas adjacentes.
Além disso, muitos materiais não são coletados próximos aos locais de análise,
nem analisados imediatamente, logo, é necessário que ocorra um bom transporte
e condicionamento da amostra, até que chegue ao laboratório (BRASIL, 2004).

O que mencionamos no parágrafo acima se enquadra na classificação de


fases em que uma amostra deve passar estas fases são (BRASIL, 2004):

Pré analítica: que envolve preparo do paciente e coleta do material;


Analítica: período em que a amostra será processada no laboratório;
Pós analítica: validação e liberação dos resultados.

2 COLETA E TRANSPORTE DE MATERIAIS BIOLÓGICOS


A coleta e o transporte inadequados podem ocasionar falhas no isolamen-
to do agente etiológico e favorecer o crescimento de outros microrganismos da
microbiota (contaminante), induzindo a um tratamento inapropriado. Portanto,
procedimentos adequados de coleta devem ser adotados para evitar o isolamento
de um “falso” agente etiológico, resultando numa orientação terapêutica inade-
quada (BRASIL, 2004; PROCOP et al., 2018).

O técnico responsável deve, antes de tudo, ser devidamente treinado para


o procedimento, bem como estar constantemente atualizado para tal atividade.
Da mesma forma, deve saber que o material precisa ser destinado o mais breve-
mente possível ao laboratório. Também necessita conhecer ou obter instruções
acerca da conservação e/ou transporte do material, caso este não possa ser reali-
zado imediatamente. Para tanto, é de suma importância entender quais as consi-
derações gerais para a coleta microbiológica e seus fundamentos de segurança.
Ambos estão detalhados no quadro 5 (BRASIL, 2004; PROCOP et al., 2018).

73
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

E
IMPORTANT

Nunca devemos esquecer que o procedimento da coleta deve ser muito cui-
dadoso. Seja pela segurança do paciente ou pela segurança do coletador. Todo cuidado é
pouco, portanto, siga os protocolos preestabelecidos.

QUADRO 5 – COLETA DE MATERIAL PARA O LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA: CONSIDE-


RAÇÕES GERAIS E DE SEGURANÇA

CONSIDERAÇÕES GERAIS DA COLETA MICROBIOLÓGICA


• Colher antes da antibioticoterapia, sempre que possível.
• Instruir claramente o paciente sobre o procedimento.
• Observar a antissepsia na coleta de todos os materiais clínicos.
• Colher do local onde o microrganismo suspeito tenha maior probabilidade
de ser isolado.
• Considerar o estágio da doença na escolha do material. A fase da doença irá
determinar o melhor local da coleta. Exemplo: patógenos entéricos causado-
res de diarreia, estão presentes em maior quantidade e são mais facilmente
isolados durante a fase aguda ou diarreica do processo infeccioso intestinal,
logo, a melhor espécime seria as fezes do paciente.
• Coletar uma quantidade satisfatória de material, permitindo uma completa
análise microbiológica. Caso a quantidade seja inferior, priorizar os exames.
• O pedido do exame deve conter as informações básicas do paciente (nome, idade),
informações clínicas (sinais e sintomas, características do sítio de infecção, portador
de doenças crônicas), data/hora da coleta e natureza do exame solicitado.
CONSIDERAÇÕES DE SEGURANÇA
• Utilizar as barreiras de proteção necessárias a cada procedimento.
• Toda amostra deve ser tratada como potencialmente patogênica.
• Usar frascos e meios de transporte apropriados.
• Não manusear a amostra em trânsito: paciente e laboratório.
• Não contaminar a superfície externa do frasco de coleta e verificar se ele
está firmemente vedado (caso ocorram respingos ou contaminação na parte
externa do frasco, fazer descontaminação com álcool 70% ou outra solução
descontaminante disponível).
• Não contaminar a requisição médica que acompanha o material.
• As amostras deverão ser transportadas em sacos plásticos fechados.
• Identificar claramente a amostra coletada, com todos os dados necessários.
• Colocar a identificação no frasco de coleta e nunca na tampa ou sobre rótulos.
• Encaminhar os materiais imediatamente ao laboratório.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 10 mar. 2021.

74
TÓPICO 2 — COLETA, TRANSPORTE E CONSERVAÇÃO DE AMOSTRAS EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Amostras inadequadas devem ser devidamente rejeitadas, uma vez que o critério
de recebimento implica diretamente na correlação clínico/laboratorial. O microbiologista
ou responsável pela rotina deverá verificar se a amostra está apropriadamente
identificada, se a quantidade de material é suficiente e observar o aspecto da amostra –
purulento, límpido, hemorrágico etc. (BRASIL, 2004; PROCOP et al., 2018).

O Quadro 6 detalha quais os tempos críticos para a amostra dar entrada


no laboratório e os meios de transportes recomendados.

QUADRO 6 – TEMPO CRÍTICO PARA ENTREGA DA AMOSTRA AO LABORATÓRIO E MEIOS DE


TRANSPORTE

Frascos e Meios de
Amostra Tempo Crítico
Transporte
Líquor Imediatamente (não refrigerar) Tubo seco estéril.
Líquido pleural Imediatamente (não refrigerar) Tubo seco estéril.
Tubo seco estéril ou
Swab Imediatamente (não refrigerar)
meio semissólido (Stu-
art, Amies).
Meio de transporte
Suspeita de anaeró- apropriado e evitar o
30 minutos
bios transporte em seringa
com agulha.
30 minutos de ou até 12 horas Meio de transporte
Feridas e tecidos
(meio de transporte) apropriado.
Frascos com meios de
Hemocultura 30 minutos (não refrigerar) cultura para rotina ma-
nual ou automatizada.
Trato respiratório 30 minutos Tubo seco estéril.
Trato gastrointestinal 1 hora Tubo seco estéril.
Urina 1 hora ou refrigerada até 24 horas Pote seco estéril.
Cary Blair meio modi-
ficado para transporte
de fezes, com pH 8,4.
Boa recuperação tam-
Fezes 12 horas se em meio de transporte
bém fezes, com pH
8,4. Boa recuperação
também para Vibriosp e
Campylobacter.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

75
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Não é o objetivo deste livro se tornar um manual de coleta, porém, é


importante destacar como é realizado tal procedimento das principias amostras
trabalhadas em um laboratório de microbiologia. São elas:

Lesões, Abscessos e Exsudatos


Material Genital
Fezes
Urina
Escarro
Hemocultura

Todas as instruções descritas abaixo estão em conformidade com Manual
de Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção em Serviços de Saúde descrito
pela ANVISA (BRASIL, 2004). Não serão abordados todos os tipos de coleta, logo,
para maiores detalhes recomendados uma leitura aprofundada do documento.

3 INSTRUÇÕES PARA COLETA: LESÕES, ABSCESSOS E


EXSUDATOS

A origem do material precisa ser especificado, por isso, “secreção de ferida”
é um termo que não deve ser utilizado, pois o local da coleta deve ser descrito
quanto ao sítio anatômico, estas informações são extremamente importantes para
o laboratório uma vez que auxilia na interpretação dos resultados.

QUADRO 7 – INSTRUÇÕES PARA COLETA DE FERIDAS, ABSCESSOS E EXSUDATOS


Procedimento:
• As margens e superfície da lesão devem ser descontaminadas com solução
de povidine iodine (PVPI) e soro fisiológico (metade/metade).
• Proceder à limpeza com solução fisiológica.
• Coletar o material purulento localizado na parte mais profunda da ferida, utili-
zando-se, de preferência, aspirado com seringa e agulha. Quando a punção com
agulha não for possível, aspirar o material somente com seringa tipo insulina.
• Os Swabs são menos recomendados e serão utilizados apenas quando os pro-
cedimentos acima citados não forem possíveis. A escarificação das bordas
após antissepsia pode produzir material seroso que é adequado para cultura.
Observações:
• A descontaminação da superfície das lesões ou abscessos abertos, antes da
coleta do material, é crítica para interpretação do resultado.
• Não coletar o pus emergente. O material das margens da lesão e a parte
mais profunda do sítio escolhido são mais representativos e possuem maior
viabilidade de microrganismos.
• A cultura de lesões secas e crostas não é recomendada, a menos que a obten-
ção de exsudato não seja possível.
• A coleta de ferida de queimadura deve ser realizada após extensa limpeza e
debridamento da lesão. Biópsia da pele é a técnica mais recomendada.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

76
TÓPICO 2 — COLETA, TRANSPORTE E CONSERVAÇÃO DE AMOSTRAS EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA

4 INSTRUÇÕES PARA COLETA: MATERIAL GENITAL


As amostras genitais são variadas, seja para o trato masculino ou feminino.
No Quadro 8 estão destacados os principais sítios genitais, bem como em quais
estão indicados o cultivo de anaeróbios ou não.

QUADRO 8 – AMOSTRA E SÍTIOS GENITAIS PARA CULTURA

FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

Serão apontados os procedimentos de coleta de secreção vaginal (Quadro


9) e de secreção uretral (Quadro 10), que são as amostras genitais em que mais
comumente são realizadas as análises microbiológicas.

QUADRO 9 – PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE SECREÇÃO VAGINAL

Preparo da paciente
Recomenda-se:
• Não estar em período menstrual.
• Não se deve utilizar ducha e cremes vaginais na véspera da coleta.
• Faz-se necessário abstinência sexual por três dias.
Procedimento
• O especulo deve ser inserido (sem lubrificante; usar água morna) na vagina.
• Remover o excesso de muco cervical com swab de algodão.
• Os swabs indicados devem ser inseridos, rodar por alguns segundos sobre o
fundo do saco, retirar e voltar aos meios indicados no kit:
- Com o swab seco: realizar as lâminas para bacterioscopia da secreção fresca.
- Com o swab do meio de transporte para cultura aeróbia/fungos.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

77
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Uma boa coleta e agilidade na entrega da amostra ao laboratório define


o sucesso da cultura, pois algumas bactérias podem se tornar inviáveis pela de-
mora em sua semeadura. Considerando amostras de secreção uretral, a Neisseria
gonorrhoeae é a suspeita clínica na maioria dos casos. Essa bactéria será melhor
discutida adiante, porém, vale lembrar que a ela é muito sensível e pode morrer
rapidamente se não for semeada imediatamente após a coleta.

QUADRO 10 – PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE SECREÇÃO URETRAL

Procedimento

• As primeiras gotas da secreção devem ser desprezadas.


• Deve-se coletar a secreção purulenta, de preferência pela manhã, antes da
primeira micção ou há pelo menos duas horas ou mais, sem ter urinado.
• Utilizar a alça bacteriológica descartável ou swab estéril fino.
• A amostra deve ser acondicionada em meio de transporte e realizar as
lâminas para bacterioscopia da secreção fresca.
• Enviar imediatamente para o laboratório.

Em pacientes assintomáticos, deve-se coletar a amostra através de massagem


prostática ou com pequeno swab inserido alguns centímetros na uretra.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

5 INSTRUÇÕES PARA COLETA: FEZES


As amostras devem ser coletadas no início ou na fase aguda, pois, nesta
fase o patógeno está presente em maior número. É importante que a coleta seja
realizada antes da antibioticoterapia.

QUADRO 11 – PROCEDIMENTO PARA COLETA DE FEZES EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA

• As fezes devem ser coletadas e acondicionadas em um frasco contendo o


meio para transporte (Cary Blair ou salina glicerinada tamponada), forneci-
do pelo laboratório, em quantidade equivalente a uma colher de sobremesa.
Preferir sempre as porções mucosas e sanguinolentas.
• O frasco deve ser bem fechado.
• A amostra deve ser entregue no laboratório em uma hora, caso isso não
ocorra conservar em geladeira a 4 ºC, no máximo por um período de 12 ho-
ras. Marcar o horário da coleta.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

6 INSTRUÇÕES PARA COLETA: URINA


A amostra deve ser, preferencialmente, a primeira micção do dia. Caso
não seja possível, deve-se orientar o paciente a fazer retenção vesical de duas a
três horas e só então realizar a coleta.
78
TÓPICO 2 — COLETA, TRANSPORTE E CONSERVAÇÃO DE AMOSTRAS EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 12 – PROCEDIMENTO PARA COLETA DE URINA EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Crianças
Deve-se realizar assepsia rigorosa prévia dos genitais com água e sabão neutro,
e posterior secagem com gaze estéril.
Modo de coleta
O jato intermediário (jato médio) espontâneo é o ideal. Bem indicado em crian-
ças que urinam sob comando, usado também em lactentes. Em lactentes pode-se
usar o saco coletor de urina, porém a troca deve ser realizada de 30 em 30 mi-
nutos e, ao trocar o coletor, refazer a assepsia. Em casos especiais (RN, lactentes
de baixo peso, resultados repetidamente duvidosos) o indicado é punção vesical
suprapúbica (este procedimento deve ser realizado por um médico).

Adultos Sexo Feminino


• O processamento laboratorial deve ser feito dentro de duas horas. Caso não
seja possível, as amostras devem ser refrigeradas a 4 ºC até o momento da
semeadura (no máximo de 24 horas).
• É necessário afastar os grandes lábios com uma das mãos e continuar assim
enquanto fizer a higiene e coleta do material.
• A higienização do local pode ser realizada com gaze umedecida ou reco-
menda-se que a paciente tome banho.
• No momento da coleta, afastar os grandes lábios para urinar. Colher o jato
médio urinário no frasco fornecido pela enfermagem (um pouco mais da
metade do frasco).
• Deve-se evitar encher o frasco.
• Fechar bem o frasco e caso haja algum respingo na parte externa do frasco,
lave-o e enxugue-o.

Adultos Sexo Masculino


• Primeiramente, é necessário que seja realizada a higienização.
• Coletar jato intermediário.
• Pacientes cateterizados com sistema de drenagem fechada:
O Colher a urina puncionando-se o cateter na proximidade da junção com
o tubo de drenagem.
O Não colher a urina da bolsa coletora.
O Adicionar uma observação caso o paciente esteja cateterizado.

Observação:
Não aceitar, sem exceção, as coletas de 24 horas dos materiais clínicos para cul-
tura, particularmente de urina para o isolamento de micobactérias, devido a
possível contaminação do material.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

79
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

FIGURA 2 – TÉCNICA PARA COLETA ASSÉPTICA DA URINA DO JATO MÉDIO EM MULHERES

FONTE: <https://bit.ly/3ujHAxf>. Acesso em: 4 abr. 2021.

A. Os lábios vaginais são separados com os dedos e limpos com uma compressa
de gaze de 10 × 10 cm impregnada com água e sabão. 
B. A parte do meio do jato de urina é recolhida em um recipiente estéril.

7 INSTRUÇÕES PARA COLETA: ESCARRO


A coleta deve ser realizada com a supervisão direta da equipe de saúde para
que possa orientar o paciente a realizá-la de forma correta. Hemocultura, lavado
brônquico ou aspirado transtraqueal podem fornecer resultados mais confiáveis.

QUADRO 13 – PROCEDIMENTO PARA COLETA DE ESCARRO EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA

• As amostras de saliva são impróprias para análise bacteriológica, por isso, é


importante explicar ao paciente que se faz necessário o escarro.
• Deve se coletar o primeiro escarro da manhã antes da ingestão de alimentos.
• O paciente pode escovar os dentes, somente com água (não utilizar pasta
dental) e enxaguar a boca várias vezes, inclusive com gargarejos.
• Em seguida orienta-se que respire fundo várias vezes e tossir profundamen-
te, recolhendo a amostra em um frasco de boca larga. Se o material obtido
for escasso, coletar a amostra depois de nebulização.
• Enviar a amostra para o laboratório.
• Caso seja suspeito que o paciente esteja com infecção por micobactérias ou
fungos, deve-se coletar pelo menos três amostras em dias consecutivos (so-
mente uma amostra por dia).
• Se o paciente apresentar dificuldades, pode-se induzir por inalação ou ser
realizada coleta por aspiração transtraqueal.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.
80
TÓPICO 2 — COLETA, TRANSPORTE E CONSERVAÇÃO DE AMOSTRAS EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA

8 INSTRUÇÕES PARA COLETA: HEMOCULTURAS


A coleta de hemocultura é bastante utilizada em laboratórios que aten-
dem em ambiente hospitalar, sendo rotineira a coleta de várias amostras no dia.
Toda a coleta deve ser minuciosa, uma vez que o procedimento é muito passível
a contaminações que por consequência podem gerar falsos positivos e compro-
meter a confiabilidade do exame.

E
IMPORTANT

O volume de sangue coletado influencia diretamente nos resultados da hemo-


cultura. O ideal é que seu volume corresponda a 10% do volume total do frasco de coleta.
Quanto maior o volume de sangue inoculado no meio de cultura, por amostra, melhor
recuperação do microrganismo, respeitando-se a proporção sangue/meio citada.
Quando há desproporção entre sangue e meio de cultura, pode haver inibição do cres-
cimento de microrganismos. Os frascos de coleta de 10 ml são os mais indicados. O SPS
(Polianetolsulfonato sódico) é o anticoagulante mais apropriado.

QUADRO 14 – PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE HEMOCULTURA

Procedimento
• A coleta deve ocorrer antes do uso de antibióticos.
• Deve-se lavar as mãos e secá-las.
• Primeiramente deve-se remover os selos da tampa dos frascos de hemocul-
tura e realizar assepsia prévia nas tampas com álcool 70%.
• Em seguida garrotear o braço do paciente e selecionar uma veia adequada.
Fazer a antissepsia com álcool 70% de forma circular e de dentro para fora.
Aplicar solução de iodo (tintura de iodo 1% a 2% ou PVPI 10%) também com
movimentos circulares e de dentro para fora. Após a aplicação deixar secar
por um a dois minutos antes de efetuar a coleta.
• Coletar a quantidade de sangue e o número de amostras recomendados no
pedido médico.
• Posteriormente remover o iodo do braço do paciente com álcool 70% para
evitar reação alérgica.
• Realizar a identificação dos frascos com todas as informações padronizadas.
• Enviar ao laboratório juntamente com a solicitação médica devidamente
preenchida.
Observações:
• Não é recomendada a técnica de coleta através de cateteres ou cânulas.
• Deve-se dar preferência a punção venosa.
• Não trocar de agulhas entre a punção de coleta e distribuição do sangue no
frasco de hemocultura.

81
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

• Método de coleta do sangue e o volume coletado influenciam diretamente


no sucesso de recuperação de microrganismos e uma interpretação adequa-
da dos resultados.
• Cada instituição deverá ter suas normas de coleta particularizadas.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

Algumas observações devem ser destacadas em casos clínicos específicos, uma


vez que atribuem protocolos diferenciados. No Quadro 15 destacamos alguns deles.

QUADRO 15 – CASOS CLÍNICOS ESPECÍFICOS

Adultos e Adolescentes
• Em casos de Endocardite bacteriana aguda: coletar três amostras de punções
venosas diferentes (braço direito e esquerdo), com intervalo de 15 a 30 minu-
tos, 1 a 2 horas antes da antibioticoterapia.
• Em Endocardite bacteriana subaguda: coletar três amostras, nas primeiras
24 horas, com intervalo mínimo de 15 minutos, com punções venosas dife-
rentes. Colher, as duas primeiras antes do início da febre. Se após 24 horas
de cultivo não apresentar crescimento bacteriano, colher mais três amostras.
• Nas infecções sistêmicas e localizadas como sépsis aguda, meningite, osteo-
mielite, artrite ou pneumonia bacteriana aguda: deve-se coletar duas amos-
tras de punções venosas diferentes, antes da antibioticoterapia, com intervalos
de cinco minutos entre as punções. Se possível, 10 ml a 20 ml por amostra.
• Bacteremia de origem indeterminada: deve-se coletar quatro a seis amostras
de punções venosas diferentes em 48 horas. Se, após 24 horas de cultivo, não
apresentarem crescimento bacteriano, colher mais duas amostras.
• Paciente com picos febris regulares: coletar não mais que três amostras antes
do início da febre (1 hora); evitar o pico febril.

Crianças
• Recomenda-se coletar amostras com 0,5 ml a 3 ml.
• Duas culturas são recomendadas para diagnóstico de bacteremias em re-
cém-nascidos.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

DICAS

Recomenda-se a leitura do artigo:

DIRETRIZES PARA TRATAMENTO DA SEPSE GRAVE/CHOQUE SÉPTICO – ABORDAGEM


DO AGENTE INFECCIOSO – DIAGNÓSTICO

Disponível em: https://bit.ly/3eRCBgz

82
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os POPs são utilizados para que se mantenha o controle de qualidade nas


técnicas realizadas.

• As fases de processamento de amostras são:

O Pré-analítica: que envolve preparo do paciente e coleta do material.


O Analítica: período em que a amostra será processada no laboratório.
O Pós-analítica: validação e liberação dos resultados.

• A coleta e o transporte inadequados podem ocasionar falhas no isolamento


do agente etiológico e favorecer o crescimento de outros microrganismos da
microbiota induzindo a um tratamento inapropriado.

• Foram especificados os tipos de coleta de acordo com cada material, descren-


do o passo a passo de cada protocolo.

• Importante ressaltar a importância de o profissional ter o conhecimento do


protocolo para que possa instruir o paciente ou mesmo explicar como serão
realizados cada procedimento.

83
AUTOATIVIDADE

1 A urina é um material de coleta simples, não invasiva e indolor, e seu exame for-
nece importantes informações, tanto do sistema urinário quanto do metabolismo
e de outras partes do corpo. É correto afirmar que para este exame deve-se:

a) ( ) Higienizar o local, coletar a primeira urina da manhã sendo o jato inter-


mediário.
b) ( ) Higienizar o local, coletar a primeira urina da manhã sendo primeiro jato.
c) ( ) Não é necessário higienizar o local, coletar a primeira urina da manhã
sendo o jato intermediário.
d) ( ) Não é necessário higienizar o local, coletar a primeira urina da manhã,
sendo o primeiro jato.

2 (IBFC-EBSERH - Técnico em Análises Clínicas, 2016) Para o procedimento da co-


leta de hemocultura, cada instituição deverá ter suas normas de coleta particula-
rizadas de acordo com o tipo de sistema utilizado (manual x automatizado) e do
tipo de paciente. Assinale a alternativa incorreta quanto à coleta de hemocultura:

a) ( ) Não é recomendada a técnica de coleta através de cateteres ou cânulas


quando se podem utilizar punções venosas.
b) ( ) Punções arteriais não trazem benefícios na recuperação dos microrga-
nismos quando comparadas com punções venosas.
c) ( ) Recomenda-se a troca de agulhas entre a punção de coleta e distribui-
ção do sangue no frasco de hemocultura.
d) ( ) Método de coleta do sangue e o volume coletado influenciam direta-
mente no sucesso de recuperação de microrganismos e uma interpreta-
ção adequada dos resultados.
e) ( ) O anticoagulante recomendado é o SPS (Polianetolsulfonato sódico).

3 (UFRJ, 2016) O diagnóstico laboratorial da tuberculose (TB) pulmonar e la-


ríngea se dá, na grande maioria dos casos, por meio de exames de escarro. A
adequada coleta de escarro para realização de baciloscopias é importante no
acompanhamento e avaliação da eficácia do tratamento adotado. Conside-
rando a participação do Técnico de Enfermagem para elucidação diagnóstica
e tratamento, na coleta de escarro para baciloscopia deverá ser realizada:

a) ( ) a coleta de uma amostra de escarro para diagnóstico de casos novos,


durante a primeira consulta e da segunda amostra na manhã do dia
seguinte, no consultório de enfermagem.
b) ( ) a coleta entre 10 e 15ml de escarro para baciloscopia, com aspecto mu-
copurulento, realizada no consultório de enfermagem para preservar a
privacidade do paciente.
c) ( ) a coleta entre 5 a 10ml de escarro para baciloscopia, obtido da árvore
brônquica após esforço de tosse, com aspecto mucopurulento, mensal-
mente para acompanhamento dos casos.
84
d) ( ) a coleta entre 5 a 10ml de escarro para baciloscopia, com aspecto muco-
purulento; acondicionado em pote descartável de plástico não transpa-
rente com capacidade de 35-50 ml.
e) ( ) a coleta entre 5 a 10ml de escarro, com aspecto mucopurulento para ba-
ciloscopia, após orientação ao paciente para higienizar a cavidade oral
com soluções antissépticas.

85
86
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS NA
MICROBIOLOGIA CLÍNICA

1 INTRODUÇÃO

Uma vez que a coleta foi realizada corretamente e o material chega ao


laboratório de microbiologia, você irá se perguntar: O que fazer? Por onde co-
meçar? Quais as técnicas iniciais que devem ser empregadas ao material clínico?

Neste tópico, iremos abordar os aspectos iniciais da análise microbiológica,


detalhando-os para cada tipo bacteriano que será discutido no Tópico 4. A Figura 3
mostra de forma resumida as etapas de processamento das amostras microbiológicas.

FIGURA 3 – FLUXOGRAMA INICIAL DA ANÁLISE LABORATORIAL APÓS A CHEGADA DA AMOSTRA

FONTE: O autor (2021)


87
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

2 IDENTIFICAÇÃO E PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS



Antes de iniciar de fato a análise, o microbiologista deve verificar o tipo de
amostra que irá trabalhar, bem como verificar se todos os pré-requisitos (Quadro 16)
estão devidamente preenchidos e se conferem com a análise visual. Qualquer suspeita
ou dúvida deve levar à abertura de uma não conformidade e, se necessário, a rejeição
da amostra, com subsequente solicitação de nova coleta. Tudo isso irá garantir a quali-
dade do processamento dos espécimes com consequente confiabilidade dos resultados.

QUADRO 16 – CRITÉRIOS INICIAS DE IDENTIFICAÇÃO DA AMOSTRA

• Nome e registro do paciente.


• Leito ou ambulatório e especialidade.
• Material colhido.
• Data, hora e quem realizou a coleta.
FONTE: O autor (2021)

As análises iniciais envolvem a observação direta na qual são empregadas


as técnicas de microscopia e coloração e a semeadura em meios de cultura. Existem
diversos métodos microscópicos utilizados em laboratórios de microbiologia,
iremos destacar aqui o mais utilizados na rotina laboratorial. São eles:

A. Observação direta sem coloração (Salina)


B. Técnica de coloração de Gram
C. Técnica de coloração de Ziehl-Neelsen

Algumas dessas técnicas já foram introduzidas na unidade anterior, po-


rém, aqui iremos destacar suas características, procedimentos e suas peculiarida-
des. Fatores importantes que todo microbiologista deve conhecer.

A técnica de observação direta é a mais simples a ser realizada, no en-


tanto, oferece poucas informações acerca dos microrganismos, sendo geralmente
confirmada com técnicas subsequentes. É bastante utilizada para avaliação de
protozoários como Trichomonas e fungos leveduriformes ou filamentosos. Con-
siderando as bactérias, a técnica é bastante empregada para avaliar a morfologia
bacteriana e existência de motilidade (PROCOP et al., 2018). O Quadro 17 detalha
como essa técnica deve ser realizada.

88
TÓPICO 3 — PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS NA MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 17 – TÉCNICA DE OBSERVAÇÃO DIRETA (SALINA)

Material utilizado
• Solução Salina (0,85%)
• Lâmina
• Lamínula
Técnica
• Primeiramente deve-se adicionar uma gota de solução salina no centro de
uma lâmina, em seguida, suspender uma colônia ou uma alçada do material
a ser investigado.
• Adicionar uma lamínula e examiná-la no microscópio, com objetiva de 40X
ou 100X com a adição de óleo de imersão.
FONTE: O autor (2021)

A Técnica de coloração de Gram é usada para classificar bactérias com


base no tamanho, morfologia celular e comportamento diante dos corantes
(Gram-positivas ou Gram-negativas). No laboratório de microbiologia clínica
acontece teste adicional rápido para o diagnóstico de agentes infecciosos, mas
que acaba exigindo a atuação de profissionais capacitados e experientes para sua
correta realização e interpretação. Também pode ser utilizado para avaliar a qua-
lidade da amostra clínica analisada (BRASIL, 2004; PROCOP et al., 2018).

As interpretações dos esfregaços corados pelo Gram levam em conside-


ração características relacionadas à coloração, ao tamanho, à forma e ao agrupa-
mento das células, sendo as mesmas influenciadas por diversos fatores, como: a
idade da cultura, o meio de cultivo utilizado, a atmosfera de incubação e a pre-
sença de substâncias inibidoras (BRASIL, 2004; PROCOP et al., 2018).

Conforme o Manual de Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção


em Serviços de Saúde, publicado pela ANVISA (BRASIL, 2004), sua utilização é
bastante ampla, porém, podemos destacar algumas das situações mais pertinen-
tes para o emprego da técnica:

• Bacterioscopia da maioria dos materiais biológicos ou culturas de microrga-


nismos em meios sólidos ou líquidos.
• Análise de amostras de culturas jovens de meio de cultura sem inibidores e
amostras clínicas recém-coletadas – por fornecerem os melhores resultados.
• Verificação da morfologia bacteriana a partir de esfregaços de cultura em caldo.

Observe que o que precede a técnica do gram é a confecção do esfregaço. Os


esfregaços devem ser preparados com um gradiente de espessura suficientemente denso
para facilitar a visualização, mas, também, bastante esparso para indicar as características
do agrupamento. Lâminas limpas e novas deverão ser utilizadas de preferência. Os me-
lhores resultados serão obtidos se as mesmas permanecerem no álcool até o momento do
uso (BRASIL, 2004). A técnica adequada para o preparo de esfregaço estão destacadas no
Quadro 18 e as particularidades para cada material clínico estão destacadas no Quadro
19. O Quadro 20 detalha a confecção de esfregaços a partir de meios de cultura.

89
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 18 – TÉCNICA PARA PREPARO DE ESFREGAÇO BACTERIOLÓGICO

Material:
• Lâminas de vidro limpas e desengorduradas 7,5 cm x 2,5 cm
• Alça bacteriológica
• Salina estéril
• Bico de Bunsen
• Material Clínico
• Swab estéril (quando necessário)
Procedimento:
• Primeiramente deve-se identificar a lâmina de maneira segura.
• O swab deve ser passado em movimentos suaves para a não destruição das células.
• Utilizar chama para a fixação.
• Caso o material seja escasso, demarcar a área do esfregaço.
• Para finalizar aplicar a coloração apropriada.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

90
TÓPICO 3 — PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS NA MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 19 – PARTICULARIDADES PARA O PREPARO DE ESFREGAÇO A PARTIR DO MATERIAL


CLÍNICO

FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

91
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 20 – PREPARO DE ESFREGAÇO A PARTIR DE DIFERENTES MEIOS DE CULTURA

Cultura em caldo
• Adicionar duas gotas para uma lâmina limpa utilizando alça bacterioló-
gica ou pipeta.
• Preparar o esfregaço, espalhando de forma suave o material.
Meio sólido
• Adicionar uma gota de salina estéril em uma lâmina limpa.
• Com o auxilio de uma alça bacteriológica transferir uma parte de colônia
para a lâmina.
• Com movimentos suaves misturar para obter um esfregaço levemente turvo
e homogêneo.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

Uma vez preparado o esfregaço, o próximo passo é a fixação. Todo o es-


fregaço, antes de ser submetido a coloração, deverá estar seco (exposto ao ar),
sendo fixado com calor brando (50 ºC). No entanto, uma fixação excessiva e um
superaquecimento irão distorcer a morfologia celular, enquanto uma fixação in-
suficiente permitirá a saída do material durante o processo de coloração. Após
a fixação, a lâmina deve esfriar e, em seguida, a etapa de coloração poderá ser
iniciada. Em alguns casos, a fixação pode ser feita utilizando o metanol ou etanol.
Ela é recomendada quando se tem interesse em preservar algumas estruturas
celulares ou quando o método de secagem ao calor não fixa corretamente aquele
tipo de amostra (BRASIL, 2004; PROCOP et al., 2018).

Seguidamente, as lâminas coradas podem ser submetidas à visualização mi-


croscópica. Inicialmente, deve ser realizada a inspeção do esfregaço como um todo uti-
lizando objetiva de 10X ou 40X. Em sequência, para verificar a morfologia e coloração
bacteriana, usa-se objetiva de 100X em imersão. (BRASIL, 2004; PROCOP et al., 2018).

As bactérias Gram-positivas retêm o cristal-violeta e se apresentam com


coloração azul/violeta, enquanto as Gram-negativas são descoradas pelo álcool-
-acetona, sendo, portanto, coradas com o corante de fundo (fucsina) e se apresen-
tam vermelha/róseas. (BRASIL, 2004; PROCOP et al., 2018).

A técnica de Gram, apesar de aparente simples, requer uma realização minu-


ciosa de cada passo, uma vez que, se não realizada corretamente, pode levar a erros
graves. Se uma bactéria verdadeiramente gram-positiva for caracterizada como gram-
-negativa, todas as etapas subsequentes de identificação estarão comprometidas. O
Quadro 21 descreve as causas mais comuns de erros envolvendo a técnica de Gram.

92
TÓPICO 3 — PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS NA MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 21 – CAUSAS COMUNS DE ERROS ENVOLVENDO A TÉCNICA DE COLORAÇÃO DE


GRAM

• Precipitação do corante.
• Utilização de lâminas sujas.
• Espessura do esfregaço.
• Superaquecimento na fixação.
• A descoloração insuficiente com álcool-acetona.
• Coleta ou meios de transportes e conservantes inadequados.
• Contaminação do corante.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

Outra coloração bastante utilizada no laboratório de microbiologia clínica


é a coloração de Ziehl-Neelsen, já discutida na Unidade 1. Essa técnica é de
indicação exclusiva para avaliar apresença de micobactérias. O microbiologista
procede à técnica quando há suspeita ou por solicitação médica. A técnica de
Ziehl-Neelsen está descrita na Unidade 1.

E
IMPORTANT

A técnica de Gram não deve ser utilizada para identificar micobactérias, no en-
tanto, surge a dúvida: Se caso um material contendo micobactérias forem corados pela téc-
nica de Gram, como esses microrganismos se apresentariam na visualização microscópica?
Apesar da camada lipídica da estrutura externa, as micobactérias possuem uma camada
significativa de peptidoglicanos, logo, no Gram podem apresentar-se semelhantes às bac-
térias gram-positivas.

Abaixo, no Quadro 22, podemos verificar um resumo das principais


bactérias e suas características morfotinturiais.

93
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 22 – PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS, GRAM-NEGATIVAS E MICOBACTÉRIAS

Cadeias longas - estreptococos aeróbios e anaeróbios.


Cachos – estafilococos e peptococos (anaeróbio).
Cocos Cachos e tétrades – Micrococcus, Stomatococcus, Ae-
rococcusspp.
Aos pares – Enterococcus e S. pneumoniae (Em chama
de vela).
Gram-
Gram variável – Gardnerella.
Positivos Coco-
Retos e curtos – Lactobacillus, Erisipelotrix, Listeria,
bacilos
Rhodococcus.
Ramificados – Nocardia, Streptomyces, Actinomyces,
Propionibacterium (anaeróbico).
Bacilos
Difteróides – Corynebacterium.
Esporulados – Bacillus, Clostridium.
Cocos (aos Neisseria, Moraxella, Branhamella, Acinetobacter,
pares) Veillonella (anaeróbio).
Haemophillus (pleomórfico, ora coco-bacilo, ora ba-
Coco-
cilo), Brucella, Bordetella, Pasteurella, Actinobacillus,
bacilos
Bacteróidesa (anaeróbicos), Enterobactérias.
Gram- Curvos – Campylobacter, Helicobacter, Vibrio.
Negativos Helicoidais – Arcobacter e Borrelia. Leptospira e
Treponema (não visíveis ao Gram).
Bacilos
Retos – Enterobactérias não fermentadores.
Extremidades afiladas – Fusobacterium (anaeróbio).
Extremidade bifurcada – Bifidobacterium (anaeróbio).
Micobactérias Bacilos Mycobacteriumspp.
FONTE:<https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

As técnicas morfológicas e de coloração são limitadas e, em muitos casos,


não é possível identificar a espécie em questão. A principal forma de contornar
essa situação é utilizando técnicas de cultura, que permitem uma avaliação mor-
fológica de colônias e possibilita a realização de provas bioquímicas. Tais mé-
todos ampliam a possibilidade de avaliação e, por conseguinte, permitem uma
identificação precisa do microrganismo relacionado.

Meios de cultura, ou cultura microbiológica, é um método que permite o


crescimento e isolamento de microrganismos através da sua inoculação em pre-
parados especiais, em condições de laboratório. Em geral, os microrganismos são
cultivados em recipientes como placas, tubos, frascos (PROCOP et al., 2018).

Os meios de cultivo contêm substâncias exigidas pelas bactérias e que


são úteis ao seu crescimento e sua multiplicação. Quimicamente, devem conter
substâncias que favoreçam a síntese de sua própria matéria nutritiva e devem

94
TÓPICO 3 — PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS NA MICROBIOLOGIA CLÍNICA

dispor de fontes de carbono (proteínas, açúcares), fontes de nitrogênio (peptonas)


e fontes de energia. São também necessários alguns sais inorgânicos, vitaminas e
outras substâncias favorecedoras do crescimento (PROCOP et al., 2018).

Os principais objetivos na utilização de meios de cultura são:

• Crescimento bacteriano.
• Isolamento bacteriano.
• Estudo da morfologia colonial.
• Pesquisa de patogenicidade.
• Pesquisa das características bioquímicas.

Os meios de cultura utilizados em microbiologia clínica podem ser classifica-


dos em duas principais formas: (a) quanto à característica física e (b) quanto à função.

Quanto à característica física, podemos classificá-los em meios líquidos,


semissólidos e sólidos (Figura 4).

FIGURA 4 – MEIOS DE CULTURA LÍQUIDO, SÓLIO E SEMISSÓLIDO (DA ESQUERDA PARA DIREITA)

FONTE: <www.microbe-canvas.com>. Acesso em: 20 de ma. 2021.

QUADRO 23 – MEIOS DE CULTURA QUANTO AO SEU ESTADO FÍSICO

• Meios líquidos: Os nutrientes estão dissolvidos em uma solução aquosa. O


crescimento bacteriano é identificado pela turvação do meio.
• Meios semissólidos: Possuem na sua composição, além dos nutrientes, uma
pequena porcentagem de um polissacarídeo proveniente de algas marinhas,
chamado ágar (concentração de 0,1 g a 0,75 g% de ágar). São comercializados
e utilizados em tubos de ensaio, permitindo observar a motilidade bacteriana.
• Meios sólidos: Apresentam uma concentração maior de Agar (1,0 g a 3,0
g%), além dos nutrientes. Encontramos esses meios dispostos em tubos ou
em placas de Petri, dependendo da sua finalidade. No cultivo realizado em
meios sólidos, a bactéria se desenvolve formando colônias, permitindo en-
tão o seu isolamento e estudo morfológico. Já a cultura em ágar inclinado
(tubo) fornece somente o crescimento bacteriano com a obtenção de uma
biomassa de microrganismos.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.
95
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 24 – MEIOS DE CULTURA QUANTO A SUA FUNÇÃO

• Meios simples: São aqueles que possuem os componentes essenciais para


o crescimento de microrganismos pouco exigentes. Podem ser usados como
base no preparo de outros meios. Por exemplo, caldo simples.
• Meios de enriquecimento: São meios que foram suplementados com mate-
riais altamente nutritivos. As substâncias enriquecedoras comumente utili-
zadas para produção desses meios são o sangue, o soro, o ovo, o extrato de
leveduras etc. Com um grande aporte de nutrientes, esses meios de cultura
permitem o crescimento de microrganismos fastidiosos (exigentes). Exem-
plo: Ágar sangue e o Ágar chocolate.
• Meios seletivos: Favorecem o desenvolvimento de determinados micror-
ganismos em detrimento de outros, geralmente pela adição de substâncias
inibidoras(antibióticos), que selecionam o crescimento de um determinado
grupo. Exemplo: Ágar Salmonella-Shigella e o Ágar manitol;
• Meios diferenciais: São adicionados alguns reagentes ou substâncias que
resultam em um tipo de crescimento relativamente definido, permitindo ao
observador diferenciar um grupo ou uma espécie de microrganismo. Exem-
plo: Ágar MacConkey e o ágar CPS.
• Meios de manutenção: São destinados a manter a viabilidade e as caracte-
rísticas fisiológicas de uma cultura bacteriana. Exemplo: Ágar nutriente e
meio Stuart (conservantes de cepas bacterianas).
• Meios de transporte: São meios isentos de nutrientes e que possuem um agen-
te redutor (tioglicolato ou cisteína) que impede que as bactérias se reprodu-
zam ou acidifiquem o meio. Exemplos: Ágar Cary-Blair e Caldo Tioglicolato.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

Existem variadas técnicas de semeadura (semear o microrganismo em meio de


cultura), definidas para diferentes abordagens. Versaremos sobre quatro principais técni-
cas empregadas no laboratório de microbiologia. No Quadro 27 detalhamos tais técnicas.

QUADRO 25 – PRINCIPAIS TÉCNICAS DE SEMEADURA EMPREGADAS EM UM LABORATÓRIO


DE MICROBIOLOGIA

Técnica de Semeadura em Estrias

96
TÓPICO 3 — PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS NA MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Objetivo
• Crescimento em meio de cultura a fim de:
O armazenamento da bactéria;
O conhecer seu metabolismo em uma prova “bioquímica”;
O estudar sua capacidade de crescimento ou não no meio de cultura.
Procedimento
• Como demonstrado na figura abaixo, deve-se utilizar o tudo com Ágar in-
clinado. Assepticamente, semear o microrganismo com auxílio de alça ou
agulha de níquel cromo, fazendo estrias na superfície (ápice) do meio.

Técnica de Semeadura em Picada

Objetivo
• Avaliação da motilidade do microrganismo no Agar Semissólido.
Procedimento
• Com o auxílio de uma agulha de níquel cromo, semear a amostra, fazendo
uma picada no centro do meio de cultura penetrando até a metade da sua
altura. Após o período de incubação interpretar o resultado:
O bactéria móvel: crescimento espalhado por todo meio de cultura.
O bactéria imóvel: crescimento apenas no local da picada.

Técnica em Semeadura em Esgotamento

97
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Objetivo
• Obtenção colônias isoladas, o que permite distinguir os diferentes micror-
ganismos.
Procedimento
• Com o auxílio de uma alça de níquel semear o material ou a cultura micro-
biana, em formato de estrias na superfície do meio de cultura da placa de
Petri, como apresentado na figura acima. Primeiramente se faz um “Esgota-
mento” Inicial. Em seguida, faz-se sequências de estrias de modo a obter o
esgotamento do inoculo da alça para que os microrganismos desenvolvam
formando colônias isoladas. É necessário realizar a flambagem da alça entre
cada sequência de estrias.

Técnica em Semeadura Quantitativa

Objetivo
• Realizar da contagem de Unidade Formadora de Colônias (UFC).
• Para este teste é necessário utilizar alças calibradas com volumes que em
geral são de 1, 10 ou 100 μL.
• O número de UFC obtido deverá ser multiplicado pelo fator de correção
para 1 ml, relativo ao volume inoculado; 1.000, 100 ou 10, respectivamente.
Procedimento
• Homogeneizar o material.
• Com o auxilio da alça calibrada obter o volume definido.
• Sem flambar a alça, distribuir o material em linha reta até a outra extremidade.
Perpendicularmente, distribuir o material por toda a superfície de maneira uni-
forme. Repetir o mesmo procedimento por 3 vezes, ou até que a superfície da pla-
ca esteja seca, alterando a direção da estria, como demonstrado na imagem acima.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

Uma vez que a cultura foi realizada, o crescimento, bem como as colônias,
precisa ser avaliado. Uma das primeiras avaliações se dá quanto à morfologia co-
lonial. O Quadro 26 descreve esses aspectos. As características bioquímicas serão
discutidas nos tópicos seguintes para cada subtipo bacteriano.

98
TÓPICO 3 — PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS NA MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 26 – DESCRIÇÃO DA MORFOLOGIA COLONIAL

FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

DICAS

Leitura do material: Manual de Microbiologia

Disponível em: http://www.csvlab.com.br/download/Manual-de-Microbiologia.pdf

99
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os aspectos iniciais da análise microbiológica, sendo os detalhes para cada


tipo bacteriano.

• Verificação da qualidade da amostra.

• As técnicas iniciais, como compreender o meio de cultura adequado para po-


der realizar a microscopia e coloração da bactéria.

• Existem meios de culturas sólidos e líquidos. Os principais objetivos na utili-


zação de meios de cultura são:

O crescimento bacteriano;
O isolamento bacteriano;
O estudo da morfologia colonial;
O pesquisa de patogenicidade;
O pesquisa das características bioquímicas.

• Uma vez que a cultura foi realizada, o crescimento, bem como as colônias, precisa
ser avaliado. Uma das primeiras avaliações se dá quanto à morfologia colonial.

• Pode-se realizar a coloração para a diferenciação entre Gram positivas, Gram


negativas e BAAR.

• Também destacamos a importância de ter o conhecimento das técnicas de


acordo o microrganismo que está sendo identificado.

• Todo o processo desde a coleta realizada de forma adequada a isolamento


correto, auxiliam na identificação e diagnóstico corretos para posterior libe-
ração dos laudos.

100
AUTOATIVIDADE

1 (UFC, 2017) O desenvolvimento de microrganismos em laboratório é re-


alizado através do fornecimento de nutrientes essenciais que compõem o
meio de cultivo. Relacione os tipos de meios abaixo com sua respectiva fun-
ção e marque a opção que representa a sequência correta.

( ) Enumeração de microrganismos presen-


tes na água, nos alimentos, no solo etc.
( ) Facilita a identificação de um microrga-
I- Meio Diferencial
nismo de interesse.
II- Meio de enriquecimento
( ) Favorece o crescimento de microrganis-
III- Meio Seletivo
mos que estão em pequenas quantidades.
IV- Meio para contagem
( ) Permite o crescimento de um microrga-
nismo em particular e/ou inibem o cres-
cimento de outros microrganismos.

a) ( ) II - I - III - IV
b) ( ) II - I - IV - III
c) ( ) IV - I - II - III
d) ( ) IV - I - III - II
e) ( ) IV - III - II - I

2 (UFC, 2017) A semeadura primária adequada, a seleção correta dos meios


de cultura e as metodologias a serem utilizadas são etapas fundamentais
na rotina de um laboratório de Microbiologia. Analise as afirmativas abaixo
as classificando com (V) para verdadeiro e (F) para falso. Depois marque a
alternativa correspondente a sequência correta.

( ) Os meios de cultura podem ser sólidos, semissólidos, mas nunca líqui-


dos, com composição química simples ou complexa.
( ) Para o cultivo de um microrganismo é necessário selecionar o meio de
cultura, a atmosfera e o tempo de incubação apropriados.
( ) A Semeadura em meio sólido, por esgotamento, objetiva o isolamento de
microrganismos.
( ) O Ágar MacConkey pode ser considerado seletivo e diferencial. Pois di-
ferencia bactérias Gram-positivas das Gram-negativas e seleciona as bac-
térias fermentadoras de lactose das não-fermentadoras.
( ) O Ágar sangue é um meio de cultura utilizado no isolamento primário
dos microrganismos e uma das suas características é diferenciar as bacté-
rias quanto ao tipo de hemólise.

a) ( ) F, V, V, F, V.
b) ( ) V, F, F, V, F.
c) ( ) F, V, F, F, V.
d) ( ) V, V, F, F, V.
e) ( ) F, V, F, V, F.
101
3 (INSTITUTO AOCP - EBSERH, Biomédico, CH-UFPA, 2016) O crescimento
de microrganismos nos diferentes meios de cultura utilizados fornece as
primeiras informações para a sua identificação. É importante conhecer o
potencial de crescimento de cada meio de cultura e adequar ao perfil bacte-
riano esperado para cada material. Um meio de cultura muito utilizado é o
ágar sangue (AS). Qual é sua principal finalidade?

a) ( ) Isolamento de microrganismos não fastidiosos, verificação de hemólise


dos Streptococcus spp. e Staphylococcus spp. e usado na prova de satelitis-
mo (para identificação presuntiva de Haemophilus spp.).
b) ( ) Análise de água, alimentos e leite como meio para cultivo preliminar das
amostras submetidas a exames bacteriológicos e isolamento de organismos
para culturas puras, conservação e manutenção de culturas em temperatura
ambiente, como método opcional para os laboratórios que não dispõem do
método da criopreservação (congelamento das cepas em freezer à - 70ºC) e
observação da esporulação de espécies de bacilos Gram-positivos.
c) ( ) Crescimento de microrganismos exigentes Haemophilus spp., Neisseria
spp. Branhamella catarrhalis e Moraxella spp.
d) ( ) Isolar bacilos Gram-negativos (enterobactérias e não fermentadores) e
verificar a fermentação ou não da lactose.
e) ( ) Selecionar e isolar espécies de Salmonella e Shigella, em amostras de fe-
zes, alimentos e água.

102
TÓPICO 4 —
UNIDADE 2

PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E


GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA:
ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Com exceção das enterobactérias, as bactérias gram-positivas (particular-
mente os cocos) constituem os microrganismos isolados com mais frequência em
amostras clínicas. Essas bactérias estão disseminadas na natureza e podem ser
isoladas do ambiente ou como habitantes comensais da pele, das mucosas e de
outras partes do corpo dos seres humanos e animais (PROCOP et al., 2018).

A ampla presença das bactérias gram-positivas na natureza dificulta, em


certas ocasiões, a interpretação de seu isolamento de amostras obtidas de pacien-
tes, a não ser que existam manifestações clínicas evidentes de um processo pato-
lógico infeccioso (PROCOP et al., 2018).

O isolamento desses microrganismos a partir de amostras deve ser sem-


pre correlacionado com a condição clínica do indivíduo antes que se possa esta-
belecer o seu papel no processo infeccioso (PROCOP et al., 2018).

Neste tópico, iremos abordar a importância do isolamento e identificação


corretas das bactérias envolvidas em processos patológicos.

2 COCOS GRAM-POSITIVOS
Considerando os cocos gram-positivos (CGP), três gêneros têm importância
clínica, uma vez que são encontrados na ampla maioria dos casos. No Quadro 27
estão relacionados os principais gêneros e espécies de CGP.

QUADRO 27 – PRINCIPAIS COCOS GRAM-POSITIVOS (GÊNEROS E ESPÉCIES)


DE IMPORTÂNCIA MÉDICA

Cocos gram-positivos (Gêneros) Principais espécies


S. aureus
S. epidermidis
Staphylococcus sp.
S. saprophyticus
S. lugdunensis

103
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

S. pyogenes
S. pneumoniae
Streptococcus sp.
S. agalactiae
Streptococcus do grupo viridans
E. faecalis
Enterococcus sp.
E. faecium
FONTE: Adaptado de Procop et al. (2018)

Microscopicamente são distintos, variando em suas morfologias em


estafilococo (“cacho de uva”), estreptococo (“em cadeia longa”) e diplococos
(“em dupla”), sendo esse último característico da espécie S. pneumoniaie. Algumas
morfologias estão descritas na Figura 5.

FIGURA 5 – PRINCIPAIS COCOS GRAM-POSITIVOS (GÊNEROS E ESPÉCIES) DE IMPORTÂNCIA


MÉDICA EM COLORAÇÃO DE GRAM A PARTIR DE HEMOCULTURAS

FONTE: <www.microbe-canvas.com>. Acesso em: 25 mar. 2021.

A: S. aureus (Morfologia típica de estafilococos em “cacho de uva”);


B: S. pneumoniae (Morfologia em diplococos);
C: E. faecalis (Morfologia típica de estreptococos “Em fileira”).

104
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

E
IMPORTANT

É muito comum relacionarmos o nome da espécie com sua morfologia, no


entanto, repare que a espécie Streptococcus pneumoniae não é morfologicamente um
estreptococo, mas um diplococo.

2.1 IMPORTÂNCIA CLÍNICA


Os Staphylococcus spp. estão entre os agentes mais frequentes nas princi-
piais afecções humanas. De maneira geral, esse gênero é composto por 37 espé-
cies, sendo que 17 delas podem ser isoladas em amostras biológicas humanas.
São anaeróbias facultativas e catalase positivas. No entanto, rotineiramente, boa
parte dos laboratórios não faz a distinção de todos membros dos grupos, diferen-
ciando apenas estafilococos coagulase positiva (S. aureus) dos estafilococos coa-
gulase negativa (todos as demais espécies).

O Staphylococcus aureus é um agente de variado poder patogênico, que


causar desde simples infecções (furúnculos e espinhas) até infecções mais graves
(endocardite, septicemia, síndrome do choque tóxico). Possui uma elevada im-
portância na saúde pública, principalmente por ser o responsável por inúmeras
infecções relacionadas à Assistência à Saúde. Nas últimas décadas, houve um
significativo aumento na prevalência de cepas multirresistentes a alguns anti-
bióticos, como os Staphylococcus aureus Meticilina-Resistentes (MRSA). Essa
bactéria chama a atenção frente as outras do grupo pela alta capacidade virulenta
(MOURA et al., 2011; BROOKS et al., 2014; ACOSTA et al., 2018).

As patologias humanas mais comuns e que estão relacionadas as espécies


deste gênero estão destacadas nos Quadros 28, 29 e 30.

QUADRO 28 – PRINCIPAIS PROCESSOS INFECCIOSOS RELACIONADOS AO GÊNERO


Staphylococcus spp

Pneumonias.
Bacteremias.
Infecções de pele e tecidos moles.
Infecções relacionadas ao uso de próteses e cateteres
venosos.
Infecções do trato urinário.
Meningites.
FONTE: Adaptado de Murray et al. (2018)

105
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 29 – BACTÉRIAS X DOENÇAS

Espécie Origem Histórica Doenças


Aureus, dourado ou amarelo;
Infecções pirogênicas em geral;
S. aureus as colônias de S. aureus podem
infecções mediadas por toxinas.
ficar amarelas com o tempo.
Infecções oportunistas (p.ex.,
infecções associadas ao uso de
cateteres, infecção em um local
S. epidermi- Epidermidis, epidermidis
onde foi introduzido um corpo
dis (pele).
estranho, como por exemplo uma
válvula cardíaca artificial [endo-
cardite subaguda]).
Saprophyticus: sapros, pútri- Infecções do trato urinário, parti-
S.
do; phyton, planta (saprofítico cularmente em mulheres jovens e
saprophyticus
ou que cresce em tecido morto). ativas sexualmente.
Lugdunensis: Lugdunun, nome
S. lugdunen- de leão em latim, animal em Endocardite aguda em pacientes
sis que a bactéria foi inicialmen- com válvulas cardíacas naturais.
te isolada.
FONTE: Adaptado de Murray et al. (2018)

QUADRO 30 – PRINCIPAIS PROPRIEDADES DO S. AUREUS

• Capacidade para crescer em condições aeróbias e anaeróbias, em um amplo


intervalo de temperaturas e na presença de altas concentrações de sal; esta
última característica é importante porque essas bactérias frequentemente
causam intoxicação alimentar.
• Cápsula: polissacarídica que protege as bactérias da fagocitose.
• Proteínas de superfície celular (proteína A, proteínas que são fatores de aglutina-
ção bacteriana) responsáveis pela adesão das bactérias aos tecidos do hospedeiro.
• Catalase: que protege os estafilococos dos peróxidos produzidos pelos neu-
trófilos e macrófagos
• Coagulase: converte o fibrinogênio em fibrina insolúvel que forma coágulos
e pode proteger o S. aureus da fagocitose.
• Enzimas hidrolíticas e citotoxinas:
O Lipases, nucleases e hialuronidase que causam destruição tecidual.
O Citotoxinas (alfa, beta, delta, gama, leucocidina) que lisam hemácias,
neutrófilos, macrófagos e outras células do hospedeiro.
Toxinas:
O Enterotoxinas (muitas antigenicamente distintas) são termoestáveis e
ácido-resistentes, responsáveis por intoxicação alimentar.
O Toxinas esfoliativas A e B, provocam descamação da pele (síndrome da
pele escaldada).
O Toxina da síndrome do choque tóxico, é resistente ao calor e a proteases,
e é responsável por uma patologia envolvendo múltiplos órgãos.
FONTE: Adaptado de Murray et al. (2018)

106
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

As doenças causadas pelo S. aureus são classificadas em dois grupos: (1)


Piogênicas localizadas ou “produtoras de pus”, que são caracterizadas por des-
truição tecidual, provocada por enzimas hidrolíticas e citotoxinas; e (2) Causadas
por toxinas, que funcionam como superantígenos que provocam manifestações
sistêmicas. O quadro 31 descreve detalhadamente cada uma delas.

QUADRO 31 – DOENÇAS CAUSADAS POR S. AUREUS: DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS TIPOS

Doenças Piogênicas
• Impetigo: infecção cutânea localizada, caracterizada por vesículas cheias de
pus sobre uma base avermelhada ou eritematosa; observada principalmente
na face e nos membros; acomete principalmente crianças.
• Foliculite: impetigo envolvendo os folículos pilosos, como os da barba.
• Furúnculos (abscessos) e carbúnculos: grandes nódulos cheios de pus; po-
dem avançar para camadas mais profundas da pele e se espalhar para o
sangue e outras áreas do corpo.
• Infecções de ferida: caracterizadas por eritema e pus em locais de trauma
ou cirurgia; mais difícil de tratar se houver um corpo estranho (p.ex., tala,
sutura cirúrgica); a maioria das infecções, tanto na comunidade quanto nos
hospitais, é causada por MRSA; surtos recorrentes de infecções são comuns.
• Pneumonia: formação de abscessos nos pulmões; observada principalmente
em indivíduos muito jovens ou muito velhos, frequentemente após infec-
ções virais do trato respiratório.
• Endocardite: infecção do endotélio cardíaco; pode progredir rapidamente e
está associada a uma alta taxa de mortalidade.
• Osteomielite: destruição óssea, particularmente nas áreas altamente vascu-
larizadas dos ossos longos, em crianças.
• Artrite séptica: infecção das articulações, caracterizada por inchaço, vermelhi-
dão, com acúmulo de pus; é a causa mais comum de artrite séptica em crianças.
Doenças provocadas por toxinas
• Intoxicação alimentar: após o consumo de alimento contaminado com a
enterotoxina termoestável, manifesta-se rapidamente (de 2 a 4 horas), por
meio de vômito frequente, diarreia e dores abdominais, mas regride em 24
horas. A intoxicação é rápida porque a toxina já é pré-formada no alimento,
diferentemente de uma infecção, em que as bactérias teriam que crescer e
produzir toxina no intestino.
• Síndrome da pele escaldada: bactérias em uma infecção localizada produ-
zem a toxina que se espalha pelo sangue, provocando a formação de bolhas
e descamação da epiderme; manifestação quase que exclusivamente obser-
vada em crianças muito novas
• Síndrome do choque tóxico: bactérias em uma infecção localizada produ-
zem a toxina que afeta vários órgãos; caracterizada inicialmente por febre,
hipotensão e uma erupção eritematosa macular difusa. Altas taxas de morta-
lidade podem estar associadas a esta doença, a menos que antibióticos sejam
administrados imediatamente e a infecção local seja controlada.
FONTE: Adaptado de Murray et al. (2018)

107
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

E
IMPORTANT

Um ponto importante relacionado ao S. aureus é em relação a sua capacidade


de desenvolver resistência a antimicrobianos. Recentemente, cepas de S. aureus resistente
a meticilina (MRSA) têm chamado a atenção, uma vez que indica que nenhum beta-lactâ-
mico será eficaz na terapia. Iremos discutir melhor esse assunto na Unidade 3.

Os Streptococcus spp. podem ser classificados por meio de vários critérios


– padrão sorológico, padrões hemolíticos e propriedades fisiológicas. No entanto,
a mais amplamente utilizada na literatura e na prática clínica é em conformidade
com o grau de hemólise em ágar sangue. Dessa forma, são então classificados em
alfa-hemolíticos (α), beta-hemolíticos (β) e gama-hemolíticos (γ). O Quadro 32 des-
creve essas características e a Figura 6 demonstra a classificação em ágar sangue.

QUADRO 32 – DESCRIÇÃO DOS PADRÕES DE HEMÓLISE CARACTERÍSTICOS PARA A DIFE-


RENCIAÇÃO DOS STREPTOCOOCCUS SPP.

Alfa-hemólise (α): é caracterizada por uma hemólise parcial, associada com a


perda parcial de hemoglobina pelas hemácias, ocorrendo uma zona cinza-esver-
deada no meio de cultura ao redor da colônia. Streptococcus pneumoniae caracte-
riza-se por produzir este tipo de hemólise.
Beta-hemólise (ß): é caracterizada pela lise completa das hemácias que rodeiam
a colônia, ocorrendo uma zona transparente (zona de lise total) ao redor da co-
lônia. Streptococcus pyogenes realizam esse tipo de hemólise.
Gama-hemólise (γ): é caracterizada pela ausência de hemólise. Cepas desses
microrganismos não hemolíticos, ou d-hemolíticos, não causam modificação no
meio de ágar sangue de carneiro. Exemplo: Enterococos.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

FIGURA 6 – PADRÕES DE HEMÓLISE EM ÁGAR SANGUE DE CARNEIRO

FONTE: <www.microbe-canvas.com>. Acesso em: 15 mar. 2021.


108
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

A: Todos conjuntamente.
B: Beta-hemólise.
C: Alfa-hemólise.
D: Gama-hemólise.

Outra forma de classificá-los foi descrita, segundo Procop et al. (2018), por
Rebeca Lancefield, em 1918, e foi baseada na composição antigênica da parede
celular dos Streptococcus spp. Conforme essa classificação, eles estão dispostos em
20 grupos sorológicos designados por letras maiúsculas do alfabeto (A, B, C, D, E,
F, G, H, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U e V), como mostra o Quadro 33.

QUADRO 33 – CLASSIFICAÇÃO DE LANCEFIELD DOS STREPTOCOCCUS SPP.

Espécies Hemólise Habitat Doença


Grupo A Infecções primárias, faringites,
septicemia, impetigo. Sequelas de
Β Faringe e pele
S. pyogenes infecções: febre reumática, endo-
cardite e glomerulonefrite.
Grupo B Endocardites, pneumonia, infec-
Faringe e
α, β, γ ções neonatais (meningite, septice-
S. agalactiae vagina
mia e pneumonia).
Grupo C
S. equi Faringe, Endocardite, febre puerperal e in-
α, β
S. equisimilis vagina e pele fecções de feridas.
S. dysgalactiae
Grupo D - não
enterococos Infecções urinárias, abscessos pel-
Intestino
α, β vianos, peritonites, endocardites e
S. bovis grosso
infecções de feridas.
S. equinus
Grupo D –
Enterococcos Infecções urinárias, abscessos pel-
Intestino
S. faecalis α, β, γ vianos, peritonites, endocardites e
grosso
S. faecium infecções de feridas.
S. durans
Grupo F Boca, dente e Sinusites, cárie dentária, abscessos
Β
S. aginosus faringe cerebrais, pneumonia e meningite.
Grupo G Faringe,
Β Infecções de feridas e endocardites.
Streptococcus vagina e pele
Grupo H Boca, dente e Septicemia, endocardites, cárie
Α
S. sanguis faringe dentária, sinusite.
Septicemia, endocardites, meningi-
Grupo K Α Faringe e boca
te, sinusite.
Streptococcus Faringe, boca Otite, endocardites, septicemia,
Α
pneumoniae e traquéia meningite e pneumonia.
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.
109
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

Entre os Streptococcus spp., as espécies que mais chamam atenção na rotina clí-
nica são o Streptococcus pyogenes, o Streptococcus agalactiae e o Streptococcus pneumoniae.

Considerando o S. pyogenes, as doenças causadas por este microrganismo


são subdivididas em supurativas (caracterizadas pela formação de pus) e não su-
purativas. As doenças supurativas variam de faringite a infecções localizadas da
pele e de tecidos moles, até fascite necrosante (também conhecida por gangrena
estreptocócica hemolítica) e síndrome estreptocócica do choque tóxico. As doen-
ças não supurativas são complicações autoimunes que ocorrem após a faringite
estreptocócica (febre reumática e glomerulonefrite aguda) e infecções piodérmi-
cas (apenas glomerulonefrite aguda). Nas doenças não supurativas, anticorpos
dirigidos contra proteínas M específicas reagem cruzadamente com tecidos do
hospedeiro (MURRAY et al., 2018).

TUROS
ESTUDOS FU

Acadêmico, lembra-se da Febre reumática que você estudou em imunologia?


É muito importante conhecer esse assunto, uma vez que está estritamente relacionado à
microbiologia clínica.

As infecções por S. agalactiae são mais comuns em recém-nascidos, adqui-


ridas durante a gestação ou durante o trabalho de parto, e estão associadas a uma
alta mortalidade ou sequelas neurológicas importantes (MURRAY et al., 2018). Me-
ningite, pneumonia e sepse neonatal são infecções graves que podem acometer os
neonatos nascidos de mães que são colonizadas por esse tipo de estreptococo.

NOTA

A pesquisa de Streptococcus do grupo B (S. agalactiae) é um exame frequen-


temente solicitado no pré-natal. Gestantes que apresentam a presença dessa bactéria no
trato vaginal-anal são recomendadas a realizarem parto cesáreo.

O S. pneumoniae (pneumococo) é o membro mais importante dos alfa-he-


molíticos porque é uma das causas mais comuns de um espectro de doenças:
pneumonia, meningite, otite e sinusite (MURRAY et al., 2018).

110
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

É importante destacar que o homem é o reservatório e o hospedeiro exclu-


sivo de S. pneumoniae, cujo habitat é o sistema respiratório. Praticamente, todas
as pessoas já foram colonizadas por esta bactéria em algum estágio da vida. Uma
vez que essa bactéria tem forte relação com a microbiota humana; todas as faixas
etárias, gêneros e etnias são susceptíveis às doenças por pneumococo. Entretan-
to, são altamente vulneráveis os indivíduos com imaturidade ou alguma forma
de comprometimento do sistema imunológico, como bebês, crianças e os idosos
(BROOKS et al., 2014; PROCOP et al., 2018).

TUROS
ESTUDOS FU

A meningite é uma infecção grave que afeta as meninges com cefaleia, febre
e sepse. Possui alta mortalidade e deficiências neurológicas graves nas pessoas que sobre-
vivem à doença. Existem vacinas para alguns tipos de meningite? Que tal pesquisar sobre.

Os Enterococcus são bactérias amplamente distribuídas na natureza, fazem


parte da microbiota normal do ser humano, principalmente do trato gastrointes-
tinal. São cocos Gram-positivos agrupados em cadeia, anaeróbios facultativos e
de catalase negativa. Existem 14 espécies, mas somente duas são clinicamente de
maior importância: E. faecalis e E. faecium. A associação deste gênero com endocar-
dite bacteriana é classicamente conhecida. Por outro lado, denota-se atualmente
o isolamento destas bactérias em diversos sítios, causando infecções relacionadas
à assistência à saúde, como infecções do trato urinário, infecções da corrente san-
guínea e infecções de sítio cirúrgico e intra-abdominais.

Infecções por esse gênero chamam bastante atenção devido à frequência de


resistência à antimicrobianos. Esse assunto será melhor abordado na Unidade 3.

2.2 ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO


Os isolamentos dos cocos gram-positivos não apresentam muitas dificul-
dades, crescem bem em ágares não seletivos, como Ágar sangue de carneiro e
Ágar chocolate. Somente em relação aos Streptococcus, algumas cepas requerem
meios ricos para o crescimento in vitro e algumas cepas dependem do CO2 para o
seu isolamento a partir do material clínico.

A diferenciação entre estreptococos e estafilococos é baseada na morfologia


que apresentam em meios líquidos. Sendo o estreptococo uma cadeia normalmente
longa e os estafilococos mostrando-se em forma de cocos aos pares, em cachos de

111
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

uva ou agrupados. No entanto, a identificação baseada somente na morfologia é um


tanto arriscada e em muitos casos pode ser duvidosa. Para contornar tal situação,
provas bioquímicas são utilizadas a fim de confirmar as etapas de identificação.

A principal prova para diferenciar os cocos gram-positivos é a prova da


catalase. Com a alça bacteriológica ou com um palito, coleta-se o centro de uma
colônia suspeita e esfrega-se em uma lâmina de vidro. Em seguida, coloca-se so-
bre este esfregaço uma gota de água oxigenada a 3% e observa-se se há formação
de bolhas. Para a família Microccocacea (estafilococos), a prova é geralmente posi-
tiva, enquanto que para a família Streptococcacea (estreptococos), é negativa.

A Figura 7 detalha resumidamente o fluxograma de identificação de cocos


e o quadro 34 detalha as principais provas bioquímicas.

FIGURA 7 – FLUXOGRAMA PARA A IDENTIFICAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DE COCOS GRAM-POSITIVOS

FONTE: O autor (2021)


112
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

E
IMPORTANT

Aproximadamente um terço dos Enterococcus faecalis apresentam-se com


beta-hemólise em ágar contendo sangue humano, coelho ou cavalo, mas são não-hemo-
líticas em sangue de carneiro. As outras espécies são usualmente não-hemolíticas.

QUADRO 34 – DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS TESTES BIOQUÍMICOS PARA A IDENTIFICAÇÃO


DE COCOS GRAM-POSITIVOS

Cocos
Prova Bioquímica Características
Gram-positivos
Realizado em cepas coagulase ne-
Teste da resistência a
gativas. As cepas de S. saprophyticus
Novobiocina
são resistentes.
Prova da Coagulase (Lâ-
Staphylococcus Positividade identifica S. aureus
mina ou tubo)
Teste Dnase Positividade identifica S. aureus
Crescimento em ágar
Positividade identifica S. aureus
manitol
Teste da bacitracina Positividade identifica S. pyogenes
Teste de CAMP Positividade identifica S. agalactiae
Teste de Hipurato Positividade identifica S. agalactiae
Streptococcus Positividade identifica S. pyogenes
PYR
ou Enterococcus
Teste da Optoquina Positividade identifica S. pneumoniae
Teste da Bile
Positividade idenfitica S. pneumoniae
solubilidade
Positividade identifica Entecococ-
Bile esculina
cusspp
Enterococcus
Crescimento em BHI +
Positividade identifica Entecococcusspp
NaCl 6,5%
FONTE: <https://bit.ly/3eemr1Q>. Acesso em: 15 mar. 2021.

DICAS

Quer se aprofundar melhor nas técnicas de identificação dos cocos? Consulte


o Manual de Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção em Serviços de Saúde da
ANVISA. Lá você encontrará os detalhes de cada técnica e quais os passos para realizá-las.

113
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

LEITURA COMPLEMENTAR

EPIDEMIOLOGIA MOLECULAR DE MRSA NO BRASIL

Jacksiane Brandão Silva


Maria Luísa Candido Ribeiro
Caroline Mota Souza Barboza

Resumo: O Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), tem sido uma


grande preocupação para a saúde pública. Entretanto, estudos recentes vêm
demonstrando avanços na disseminação de cepas em ambientes comunitários.
Historicamente, as linhagens de complexo clonal 30 (CC30) e 5 (CC5) só eram
associados a ambientes comunitários (CA-), mas ultimamente vêm sendo associa-
dos a ambientes hospitalares (HA-). O clone epidêmico Brasileiro (BEC), um HA-
-MRSA de SCCmec tipo IIIA, era descrito como a linhagem mais disseminada no
Brasil, porém, estudos recentes têm apresentado uma mudança epidemiológica,
e os complexos clonais mais observados têm sido o CC5 e do CC30, de SCCmec
tipo IV ou V. Este trabalho tem como objetivo avaliar a epidemiologia molecular
de MRSA no Brasil, baseado na literatura mais recente.

Palavras-chave: Staphylococcus aureus, resistência, SCCmec, meticilina, Brasil.

Introdução

O Staphylococcus aureus (S,aureus) foi descoberto no ano de 1880 (DEU-


RENBERG, 2009). É uma bactéria natural da microbiota humana facilmente encon-
trada em diversos locais de colonização, como narinas, orofaringe, axila, períneo
e virilha. Existe uma estimativa de que entre 20% a 40% da população seja porta-
dor nasal de S. aureus (KLUYTMANS, 2005; WERTHEIM, 2005; VAN BELKUN
et al., 2009). Por possuir alta capacidade adaptativa, o S. aureus é responsável por
uma imensa variabilidade de doenças que pode ser de uma simples infecção a uma
sepse. Dentre elas a colonização nasal por S. aureus é um dos fatores de maior risco
para a infecção por esse microorganismo, fazendo com que haja motivos para o cui-
dado em saúde, por apresentar resistência antimicrobiana a diversos antibióticos.
O S. aureus representa dificuldades para a saúde pública global, principalmente
devido à sua virulência e disseminação rápida de uma grande diversidade de com-
plexos clonais de S. aureus resistentes à meticilina (LOWY, 2003).

Antigamente, antes de existir a disponibilidade de antimicrobianos, a


mortalidade por infecções estafilocócicas era maior que 80%. Em 1941, com a uti-
lização massiva da penicilina na clínica médica, esse número sofreu uma consi-
derável redução promovendo um grande avanço no tratamento dessas infecções.
No entanto, em poucos anos após a introdução desse medicamento, a primeira
cepa estafilocócica resistente à penicilina foi encontrada em ambiente hospitalar,
e posteriormente, em ambiente comunitário (LOWY, 2003). Nos anos 60 criaram a

114
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

meticilina, que é uma penicilina semissintética, no entanto por volta do ano 1961,
na Inglaterra, foi descrito a primeira cepa de Staphylococcus aureus resistente à
meticilina (MRSA) (JEVONS, 1961).

Os primeiros relatos de MRSA foram observados em infecções causadas


por cepas em ambientes hospitalares, que foram posteriormente referidos como
S. aureus resistente à meticilina associado ao ambiente de assistência à saúde
(HA-MRSA). Porém, no início da década de 1990, os primeiros casos de S. aureus
resistentes à meticilina relacionados à comunidade (CA-MRSA) foram encontra-
dos, seguidos por rápida expansão clonal e um grande aumento de percentual
(UDO et al., 1993; LOWY, 2003; STEFANI et al., 2012).

Historicamente as linhagens de complexo clonal 30 (CC30) e (CC5) só


eram encontradas na comunidade (CA-MRSA), mas ultimamente também vêm
sendo encontradas em ambientes de cuidados de saúde apresentando caracterís-
ticas genéticas, bacteriológicas, clínicas e epidemiológicas distintas, originalmen-
te caracterizadas HA-MRSA (KAPLAN, 2005; KLEVENS et al., 2007).

O MRSA representa uma grande ameaça à saúde pública em todo o mun-


do, devido a rápida propagação e diversificação de clones de MRSA com virulên-
cia e resistência antimicrobiana cada vez maiores (SALES et al., 2012).

Nos hospitais brasileiros, estima-se que isolados de MRSA sejam respon-


sáveis por aproximadamente 37% das infecções por S. aureus (PEREZ; D’AZEVE-
DO, 2008). Estudos anteriores apresentavam o clone epidêmico brasileiro (BEC)
como o causador pela maioria das infecções por MRSA no Brasil entre os anos
de1995 e 1998 (OLIVEIRA et al., 2002).

O BEC era a linhagem mais disseminada no Brasil, e ele apresenta um ele-


mento genético móvel denominado SCCmec tipo IIIA, porém, estudos recentes
sugerem uma mudança epidemiológica, e as linhagens mais disseminados são de
CC5 e CC30 que apresenta o SCCmec tipo IV ou V, que têm apresentado maior
virulência (PEREZ; D’AZEVEDO, 2008).

Com isso, o trabalho em questão tem como objetivo avaliar a epidemio-


logia molecular de MRSA no Brasil, baseado na literatura mais recente. Além
disso, o presente estudo visa fornecer conhecimento para melhor compreensão
dos fluxos de disseminação dos complexos das linhagens de MRSA e auxiliar na
manutenção da vigilância epidemiológica ativa.

A metodologia utilizada foi uma revisão da literatura, com buscas de artigos


indexados em plataformas digitais de pesquisa como; Scielo, Pubmed, LILACS. Para
o presente estudo foram selecionados artigos que relatassem sobre epidemiologia
molecular de MRSA no Brasil, no idioma de inglês e português, publicados entre
1961 e 2016, que realizassem investigação molecular das linhagens de MRSA. Para
tal, foram utilizadas como palavras chaves: S. aureus, Resistência, SCCmec, Meticili-
na e Brasil. Como critério de exclusão foram descartados artigos que falavam sobre

115
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

virulência, resistência antimicrobiana e artigos que não apresentassem técnicas de in-


vestigação molecular de determinação da linhagem de MRSA. Os artigos escolhidos
foram criteriosamente analisados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão
definidos, realizando assim uma revisão, integrativa da literatura.

Esse estudo é de suma importância, pois essa mudança epidemiológica tem


um grande impacto na prescrição de antibióticos na clínica médica, já que atual-
mente os antibióticos são receitados sem se conhecer o agente causador da infecção,
sendo assim, podendo levar a um aumento ainda mais expressivo no número de
cepas multirresistentes, tais quais a linhagens emergentes CC30 e CC5. 1.

Staphylococcus

Os Staphylococcus são bactérias Gram-positivas, fazem parte da família


Micrococcacceae, apresentam formato de cocos, catalase-positiva, são micror-
ganismo imóveis, têm crescimento acelerado em muitos meios de cultura e são
metabolicamente ativos (SILVA, 2009). Fazem parte da microbiota humana, mas
podem causar supuração, várias infecções, formação de abscessos e infecções
cutâneas como furunculose (MURRAY, 1992). Também podem ser agentes cau-
sadores de infecções mais graves como: osteomielite, endocardite e artrite infec-
ciosas, podendo levar a uma septicemia fatal (SPICER, 2002), além disso, estão
relacionadas a intoxicações alimentares, síndrome do choque tóxico, e síndrome
da pele escaldada (DINGES et al., 2000).

De acordo com a literatura, o gênero Staphylococcus compreende 38 espé-


cies, entre elas o Staphylococcus aureus que é a espécie mais virulenta e o patógeno
mais importante para a saúde pública, principalmente no que tange a resistência
antimicrobiana e infecções relacionadas a ambiente de assistência à saúde (SAKAI
et al., 2004). O S. aureus se diferencia morfologicamente das outras espécies por
sua pigmentação dourada de suas unidades formadoras de colônias e por ser a
única espécie a produzir a enzima coagulase. Estudos apontam que a maioria das
pessoas em todo o mundo sofrem algum tipo de infecção causada por S.aureus no
decorrer da vida, isso se dá por serem patógenos oportunistas, cuja gravidade pode
variar de uma intoxicação alimentar ou infecção cutânea à sepse fatal (SILVA, 2009).

Sendo uma bactéria comumente encontrada na flora natural do ser huma-


no em sítios, como: narinas, virilha, axila, orofaringe, períneo. Isso se dá, pelo fato
de que o S. aureus apresenta grande plasticidade genômica, com ampla variabili-
dade molecular e grande quantidade de linhagens, conferindo grande capacida-
de adaptativa a essa espécie (PEREIRA et al., 2014).

Para continuar a leitura, acesse: https://bit.ly/3nN1azj

116
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

3 BACILOS GRAM-NEGATIVOS FERMENTADORES -


ENTEROBACTERIACEAE
Neste subitem, iremos abordar a maior família de bactérias clinicamente
importantes. Este grupo heterogêneo compreende microrganismos responsáveis
por praticamente todos os tipos de infecções que são observadas na prática clínica.

As bactérias que pertencem à família Enterobacteriaceae são microrganis-


mos ubiquitários encontrados em diversos ambientes, como no solo, na água e
na vegetação. Elas fazem parte da microbiota normal da maioria dos animais,
incluindo o homem. Atualmente, essa família é composta por cerca de 51 gêneros
e 279 espécies, sendo destes, 26 gêneros causadores de infecções humanas. No en-
tanto, menos de 20 espécies são responsáveis por 95% das infecções em humanos
(BRASIL, 2004; BRASIL, 2013; PROCOP et al., 2018).

Sua importância clínica está fundamentada na sua representatividade em


mais de 80% de todos os bacilos Gram-negativos de importância médica isolados
na rotina microbiológica, sendo seu isolamento possível em qualquer amostra
clínica. São agentes causais de infecções hospitalares e na comunidade. Uma boa
parte de suas espécies são patogênicas ao homem, causando diarreias, infecções
geniturinárias, infecções respiratórias e em feridas e queimaduras. Cerca de 70%
das infecções urinárias e de 50% das septicemias são causadas por suas espécies.

Algumas são consideradas enteropatogênicas por causarem infecções no


Trato Gastrointestinal (TGI), ocorrendo transmissão através de água e alimentos con-
taminados (Salmonella sp., Shigella sp., E. coli e Yersiniaenterocolitica) (BRASIL, 2013).

3.1 CARACTERÍSTICAS DA FAMÍLIA


ENTEROBACTERIACEAE
Os bacilos gram-negativos não esporulados apresentam motilidade vari-
ável, oxidase negativos e crescem em meios básicos (caldo peptona), meios ricos
(ágar sangue, ágar chocolate e CLED) e meios seletivos (Mac Conkey, EMB). São
anaeróbios facultativos (crescem em aerobiose e anaerobiose), fermentam a glico-
se com ou sem produção de gás, são catalase positivos e reduzem nitrato a nitrito
(BRASIL, 2004; PROCOP et al., 2018).

Umas das características mais importante das bactérias gram-negativas é


a presença de uma endotoxina que compõe a parede celular desses microrganis-
mos, sendo o protagonista de uma manifestação clínica potencialmente letal: o
choque endotóxico. A endotoxina é um lipopolissacarídio (LPS) farmacologica-
mente ativo, contido na parede celular das espécies gram-negativas. Os efeitos
biológicos das endotoxinas foram demonstrados experimentalmente: quantida-
des pequenas injetadas por via intravenosa nos animais causam febre, leucope-

117
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

nia, hemorragia capilar, hipotensão e colapso circulatório – sinais e sintomas que,


em grande parte, são praticamente iguais aos observados nos seres humanos com
sepse gram-negativa (PROCOP et al., 2018; MURRAY et al., 2018).

O LPS também tem importância laboratorial uma vez que tem função an-
tigênica e varia entre as diferentes espécies no polissacarídeo O. Outros antígenos
amplamente empregados são o antígeno capsular (K) e as proteínas flagelares (H)
(MURRAY et al., 2018).

Em cerca de 99% dos isolados relativos a enterobactérias de importância


clínica, podemos encontrar em ordem de probabilidade a: Escherichia coli, Kleb-
siella spp., Enterobacter spp., Proteus spp., Providenciaspp., Morganella spp., Citrobacter
spp., Salmonella spp., Shigella spp., Serratia spp. Porém em casos atípicos podemos
observar também a presença das espécies: Edwarsiella spp., Hafnia spp., Yersinia
spp. (PROCOP et al., 2018; MURRAY et al., 2018).

Essa família tem muita relevância clínica devido aos seus fatores de viru-
lência (Discutidos na unidade 1). Alguns deles são comuns em todos os membros
clinicamente relevantes e estão destacados no Quadro 35.

QUADRO 35 – FATORES DE VIRULÊNCIA COMUNS GERALMENTE ASSOCIADOS A ENTERO-


BACTERIAS

Fatores de virulência Características


Induz processo inflamatório e pode causar
Endotoxina ou LPS
Choque endotóxico.
Cápsula Protege contra a fagocitose.
Variação de fase antigênica Antígenos O, K e H variam entre as espécies.
Introduz fatores de virulência em células eu-
Sistemas secretórios tipo III
carióticas-alvo.
Sequestra nutrientes como Ferro a partir de
Sequestro de fatores de crescimento
grupamentos heme.
Resistência aos efeitos bacterici-
Impede a ligação do sistema complemento.
das do soro
Podem criar rápida resistência contra antimi-
Resistência aos antimicrobianos
crobianos (plasmídeos).
FONTE: Adaptado de Murray et al. (2018)

118
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

NTE
INTERESSA

Você já ouviu falar da Peste Negra?


Foi uma das pandemias mais mortais da história que ocorreu entre os anos de 1347 até
1351. Segundo os livros de história, levou à morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Eu-
ropa e Ásia. O microrganismo responsável pela doença era uma enterobactéria conhecida
como Yersiniapestis. Naquela época não havia conhecimento sobre bactérias, muito me-
nos sobre o uso de antibióticos, como atualmente.

3.2 IMPORTÂNCIA CLÍNICA

3.2.1 Escherichia coli


E. coli (Figura 8) é o mais comum e importante membro das enterobacté-
rias, uma vez que está associada a maior parte das infecções por membros dessa
família, incluindo gastroenterite e infecções extraintestinais, como infecções do
trato urinário, meningites e sepses. Uma variedade de cepas pode causar doen-
ças, sendo alguns sorotipos associados à maior virulência (ex.: E. coli O157 é a
causa mais comum de colite hemorrágica e síndrome hemolítico-urêmica) (PRO-
COP et al., 2018; MURRAY et al., 2018).

FIGURA 8 – NA IMAGEM À ESQUERDA, OBSERVAMOS A PRESENÇA DE BACILOS GRAM NEGA-


TIVOS E NA DIREITA, COLÔNIAS EM ÁGAR MACCONKEY: AMBOS SÃO ESCHERICHIA COLI.

FONTE: <www.microbe-canvas.com>. Acesso em: 20 mar. 2021.

Uma variedade de fatores de virulência está associada a E. coli, sendo ade-


sinas e exotoxinas as que estão presentes nas cepas mais virulentas, ocasionando
as doenças clinicas mais comuns dessa espécie: as gastroenterites (Figura 9) e as
infecções do trato urinário.

119
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 36 – E. COLI E SUAS CARACTERÍSTICAS

• E. coli enterotoxigênica (ETEC) adere ao intestino delgado


através de fatores de colonização e produz as toxinas termo-
labil e termoestável.
• E. coli enteropatogênica (EPEC) adere ao intestino delgado
através de adesinas (pili formadores de feixes, intimina),
provocando danos à mucosa intestinal.
• E. coli enteroagregativa (EAEC) adere ao intestino delgado
através da fimbria de aderência agregativa (AAF), também
provocando danos à mucosa intestinal.
• E. coli produtora de toxina de Shiga (STEC) adere inicial-
Propriedades
mente ao intestino através de pili formadores de feixes e in-
timina e, em seguida, produz as toxinas de Shiga Sti e Stx2
que afetam a mucosa do colon.
• EIEC invade e destrói a mucosa do colon.
• Cepas uropatogênicas se ligam a células da bexiga e do trato
urinário superior através de adesinas (fimbria P, AAF e outras)
e produzem a hemolisina Hlya que lisa as células, levando a
liberação de citocinas, no estímulo da resposta inflamatória.
• A maioria das cepas que causa meningite neonatal expressa
o antigeno capsular K1.
• Representam os bacilos aerobios Gram-negativos mais co-
muns do trato gastrintestinal.
• Infecções do trato urinário, infecções intra-abdominais e septi-
cemias geralmente têm origem endógena (ou seja, são causadas
por E.coli da própria flora do paciente); cepas causadoras de gas-
Epidemiologia
trenterites são geralmente adquiridas de fontes exógenas.
• Meningites são principalmente restritas aos recém-nascidos.
• Infecções intra-abdominais são relacionadas com a saída de
bactérias do intestino durante trauma ou cirurgias; infec-
ções geralmente polimicrobianas.

120
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

• Gastrenterites: causadas por várias cepas apresentando fa-


tores de virulência especificos; os sintomas das doenças são
um reflexo do local e patologia das infecções.
• Infecções do intestino delgado (ETEC, EPEC, EAEC): ca-
racterizadas por diarreia aquosa, vômito, e febre baixa.
• Infecções do intestino grosso (STEC, EIEC): caracteriza-
das por diarreia sanguinolenta (colite hemorrágica) e do-
res abdominais.
• Síndrome hemolitica-urêmica: complicação associada à in-
Doenças fecção por STEC e EIEC.
• Infecções do trato urinário: podem ser restritas à inflama-
ção da bexiga ou podem envolver o trato urinário superior,
principalmente os rins, quando associada a febre e dores
nos lados do corpo.
• Infecções intra-abdominais polimicrobianas: caracteriza-
das pela formação de abscessos (causados pelas bactérias
associadas a estas infecções) e septicemia.
• Meningite: em recém-nascidos, não são diferenciadas de me-
ningites de outras causas (p.ex., Streptococcus do grupo B).
• A coloração de Gram de isolados de Enterobacteriaceae é
mais intensa nas extremidades das bactérias, o que dá uma
aparência "bipolar".
• As bactérias crescem rapidamente na maioria dos meios de
cultura.
• As enterobacterias patogênicas, à exceção de STEC, são de-
Diagnóstico
tectadas principalmente por testes de amplificação de ácido
nucleico (NAATs), que foram recentemente disponibiliza-
dos comercialmente.
• Cepas produtoras de toxina de Shiga são detectadas em
meios de cultura seletivos ou por ensaios para a detecção
das toxinas ou dos genes que as codificam.
• Infecções por enterobactérias patogênicas são tratadas sin-
tomaticamente, a menos que haja infecções generalizadas.
• A antibioticoterapia deve ser orientada por testes de sensibi-
lidade in vitro, devido à resistência aumentada a penicilinas,
cefalosporinas e carbapenens, mediada por B-lactamases de
espectro estendido e carbapenemases.
Tratamento, • Práticas apropriadas para controle de infecções são utili-
controle e zadas para reduzir o risco de infecções nosocomiais (p.ex.,
prevenção restringindo-se o uso de antibióticos e evitando o emprego
desnecessário de cateteres no trato urinário).
• Manutenção de um alto padrão de higiene para reduzir o risco de
contato com cepas causadoras de gastrenterites, principalmente
no caso de viajantes com destino a regiões menos desenvolvidas.
• Cozimento adequado de carne e derivados para reduzir os
riscos de infecção por STEC.
FONTE: Murray et al. (2018, s.p.)

121
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

3.2.2 Klebisiella pneumoniae

A espécie mais importante do gênero Klebsiella é a K. pneumoniae, que é uma


autora bem conhecida de pneumonia. Bactérias desse gênero apresentam, em sua
superfície, uma cápsula mucoide bem evidente (bacilos grandes envolvidos em uma
cápsula abundante), o que torna sua identificação pela coloração de Gram e por cultura
relativamente fácil. As bactérias desse gênero causam pneumonia, adquirida tanto na
comunidade quanto no ambiente hospitalar, com destruição de espaços alveolares,
formação de cavidades e marcada porprodução de escarro contendo sangue. Ademais,
podem provocar infecções no trato urinário, sepse, artrites e enterites. Fazem parte
da microbiota, podendo colonizar a pele, o TGI e a nasofaringe dos seres humanos
(PODSCHUN; ULLMANN, 1998; PROCOP et al., 2018; MURRAY et al., 2018).

QUADRO 37 – K. PNEUMONIAE E SUAS CARACTERÍSTICAS

• Cápsula mucóide de polissacarídeos, bem evidente.


Propriedades
• Produção de carbapenemases e outras B-lactamases.

• Amplamente distribuída na natureza e baixo nível de colo-


nização em indivíduos sadios.
• As doenças se manifestam principalmente em pacientes
Epidemiologia
com comprometimento das funções pulmonar ou de con-
trole das secreções respiratórias (p.ex., alcoólatras, pacientes
internados, em estágio terminal).
• Pneumonia: envolvendo significativamente um ou mais ló-
Doenças bulos pulmonares ("pneumonia lobar"), com formação de
cavitações e produção de escarro com sangue.
• A coloração de Gram do escarro apresenta bactérias e uma
Diagnóstico intensa resposta imune celular características
• Crescimento relativamente fácil em cultura.
• O tratamento deve ser orientado por testes de sensibilidade
a antimicrobianos in vitro, porque cepas multirresistentes
Tratamento, são comuns, principalmente em ambientes hospitalares.
controle e • Práticas apropriadas de controle de infecções são utilizadas
prevenção para reduzir o risco de infecções nosocomiais, incluindo a
identificação de cepas resistentes em portadores assintomá-
ticos, bem como o uso restrito de antibióticos.
FONTE: Murray et al. (2018, s.p.)

122
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

DICAS

Você já ouviu falar em KPC? Que tal pesquisar sobre? Iremos discutir os testes
de sensibilidade a antimicrobianos na próxima unidade.

3.2.3 Proteusmirabilis
O membro mais comum do gênero Proteusé o P. mirabilis, constituinte do mi-
crobioma humano (TGI), é causa importante de infecção do trato urinário em adul-
tos normalmente saudáveis. O P. mirabilisproduz grande quantidade de urease, uma
enzima que quebra a ureia em dióxido de carbono e amônia. Esse processo aumenta
o pH da urina, produzindo magnésio e cálcio na forma de cristais de estruvita e apa-
tita, respectivamente, levando à formação de cálculos renais. Outras bactérias que
infectam o trato urinário e produzem urease que podem causar o mesmo efeito são
os Staphylococcus saprophyticus (PROCOP et al., 2018; MURRAY et al., 2018).

QUADRO 38 – P. MIRABILIS E SUAS CARACTERÍSTICAS

Propriedades • Produção de urease.

• Presente no trato gastrointestinal, podendo migrar para o


trato urinário e causar doença.
Epidemiologia • Pacientes com histórico de infecções por essa bactéria apre-
sentam maior risco de serem infectados do que aqueles que
nunca foram infectados pela mesma.

• Infecções do trato urinário, incluindo cistite na bexiga) e


Doenças
pielonefrite (no rim) com formação de cálculos.

• Cresce prontamente em cultura e apresenta um tipo caracterís-


tico de motilidade, na superfície de ágar em placas, chamado
de swarming (a colônia rapidamente se espalha e cobre toda a
Diagnóstico
superfície da placa, com uma fina camada de bactérias).
• Identificação definitiva por testes bioquímicos ou espectro-
metria de massa .
• Geralmente sensível a ampicilina e cefalosporinas; resisten-
Tratamento,
te à tetraciclina.
controle e
• A diminuição do uso de sondas no trato urinário reduz o
prevenção
risco de infecções hospitalares.
FONTE: Murray et al. (2018, s.p.)

123
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

FIGURA 9 – FENÔMENO SWARMING DE P. MIRABILIS EM ÁGAR SANGUE

FONTE:<www.microbe-canvas.com>. Acesso em: 20 mar. 2021.

3.2.4 Salmonella spp.


São descritos mais de 2.500 sorotipos de Salmonella, geralmente considerados
como espécies individuais, sendo que as mais comuns são: Salmonella typhi, Salmonella
enteritidis, Salmonella choleraesuis e Salmonella typhi-murium. (MURRAY et al., 2018).

As espécies de Salmonella podem colonizar todos os animais, particular-


mente as aves, e são capazes de provocar doenças em vários hospedeiros, incluindo
o ser humano. Seu habitat natural pode ser dividido em três categorias: altamente
adaptadas ao homem (S. Typhi e S. Paratyphi A, B e C), altamente adaptadas aos
animais (S. Dublin – bovinos, S. Choleraesuis – suínos) e salmonelas zoonóticas (res-
ponsáveis por surtos frequentes em diversas partes do mundo, sendo os alimentos
seu principal veículo de transmissão). As principais doenças clínicas humanas são
a gastroenterite, sepse, infecções no sistema nervoso central e febre entérica, além
das infecções assintomáticas. AS. typhi é um patógeno exclusivamente de humanos,
que pode causar doenças graves e sobreviver na vesícula biliar, estabelecendo-se o
estado de portador crônico. A Figura 14 detalha as características do gênero (BRA-
SIL, 2011; PROCOP et al., 2018; MURRAY et al., 2018).

NTE
INTERESSA

Uma vez que cepas de Salmonella spp. são encontradas em aves, é muito
comum relacionar infecções de causa alimentar a esse microrganismo. Lembrou daquela
maionese com ovo estragada?

124
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

QUADRO 39 – SALMONELLA SPP. E SUAS CARACTERÍSTICAS

• A virulência de S. typhi é regulada por genes localizados em


duas grandes ilhas de patogenicidade, que facilitam a ade-
rência, a internalização e a replicação da bactéria dentro das
Propriedades
células intestinais e macrófagos.
• As bactérias são transportadas do intestino ao fígado, baço e
medula óssea, pelos macrófagos.
• Ao contrário da maioria das espécies de Salmonella, que são ad-
quiridas pela ingestão de alimentos contaminados (p.ex., carne de
aves, ovos e derivados do leite), a S. typhi é um patógeno exclusi-
vamente humano, adquirido por contato interpessoal ou ingestão
de alimentos ou água contaminados por indivíduos infectados.
• Anualmente, ocorrem entre 400 e 500 casos de infecção por S. typhi
Epidemiologia
nos Estados Unidos, a maioria das quais adquirida em viagens
internacionais, mais de 27 milhões de casos, com um número es-
timado de 200 mil mortes por ano, ocorrem em todo o mundo.
• A dose infectante é baixa, de modo que a disseminação pelo
contato interpessoal é comum.
• A colonização assintomática por longos períodos é frequente.
• Febre entérica: 10 a 14 dias após a ingestão de S. typhi, os pacien-
tes têm aumento gradual de febre, com queixas inespecíficas de
dor de cabeça, mialgia, febre e anorexia. Estes sintomas persistem
Doenças
por uma semana ou mais, seguidos por sintomas gastrintestinais.
• Colonização assintomática: Infecção crônica de baixa inten-
sidade, em que a S. typhi se instala na vesícula biliar.
• S. typhi presente no sangue na primeira fase da doença e iso-
lada das fezes, após a instalação da bactéria na vesícula biliar.
• A cultura de fezes geralmente é negativa, porque a fase bacte-
rêmica é transitória e o pequeno número de bactérias presente
Diagnóstico
nas fezes pode dificultar sua detecção.
• Embora historicamente os testes sorológicos tenham sido uti-
lizados para demonstrar infecções presentes ou passadas, eles
são considerados inespecíficos e sem sensibilidade.
• Infecções por S. typhi ou infecções generalizadas por outras
bactérias devem ser tratadas com antibióticos eficazes (esco-
lhidos por meio de testes de sensibilidade in vitro); podem ser
utilizados fluoroquinolonas (p.ex., ciprofloxacina), cloranfe-
Tratamento,
nicol, trimetoprim-sulfametoxazol ou cefalosporinas de am-
controle e
plo espectro, mas casos de resistência regionais são comuns
prevenção
devido ao uso irrestrito de antibióticos em alguns locais.
• Portadores de S. typhi devem ser identificados e tratados.
• Vacinação contra S. typhi pode reduzir o risco da doença em
viajantes com destino a áreas endémicas.
FONTE: Murray et al. (2018, s.p.)

125
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

3.2.5 Shigella spp.


As espécies do gênero  Shigella  são, na realidade, variantes bioquímicas
(biogrupos) de E. coli; entretanto, mantém-se em um gênero separado por razões
históricas. Provavelmente é mais fácil imaginar as Shigella como variantes de E.
coli Enteroinvasora (EIEC) e a produtora da toxina shiga (STEC). São conhecidas
quatro espécies de Shigella, sendo que a Shigellasonnei é responsável pela grande
maioria das infecções em países desenvolvidos, enquanto que a  Shigellaflexne-
ri predomina em países em desenvolvimento (MURRAY et al., 2018).

O homem é o reservatório primário das shigelas. Sua transmissão é por via


fecal-oral, principalmente através de água e alimentos contaminados. Sua maior in-
cidência é em países em desenvolvimento, principalmente por conta das condições
precárias de saneamento. Em países desenvolvidos podem acontecer surtos esporá-
dicos. Comumente, 10 a 20% das doenças entéricas e 50% das diarreias com sangue
ou disentéricas, em crianças menores de cinco anos, são causadas pela Shigella spp.

QUADRO 40 – SHIGELLA SPP. E SUAS CARACTERÍSTICAS

• Aderem, invadem e se replicam nas células da mucosa do cólon.


• Replicam-se no citoplasma de células fagociticas e movem-
-se de uma célula para outra sem contato com o meio extra-
celular, mantendo-se assim protegidas da resposta imune.
• Induzem a morte celular programada de macrófagos, resul-
tando na liberação de interleucina-18, levando ao estímulo
Propriedades de resposta inflamatória localizada.
• A exotoxina A-B (toxina de Shiga, semelhante à toxina de
STEC), produzida por S. dysenteriae, bloqueia a síntese pro-
teica e danifica o endotélio vascular.
• A toxina de Shiga também pode provocar danos às células
endoteliais dos glomérulos, causando falência renal: síndro-
me hemolítica urêmica.
• São estimados 500 mil casos de infecção por Shigella anualmente
nos Estados Unidos; 90 milhões de casos em todo o mundo (sen-
do uma das causas mais frequentes de gastrenterite bacteriana).
• Os seres humanos são os únicos reservatórios dessa bactéria.
• A transmissão da doença ocorre de pessoa a pessoa pela via
fecal-oral.
• É uma doença que afeta principalmente crianças, estando em
Epidemiologia maior risco aquelas de menor idade, em creches, berçários e cen-
tros de custódia; estão também sob risco irmãos e pais destas
crianças, assim como populações em condições higiênicosanitá-
rias inadequadas e homossexuais masculinos.
• Um número relativamente pequeno de bactérias pode provocar
doenças (são altamente infecciosas).
• Doença de ocorrência mundial e não sazonal (o que explica a
transmissão interpessoal com pequeno inóculo).

126
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

• A shigelose se apresenta inicialmente como diarreia evoluindo,


em 1 a 2 dias, para dores abdominais e tenesmo com ou sem fezes
sanguinolentas).
Doenças • Disenteria bacteriana é uma forma grave da doença, causada por
S. dysenteriae.
• Condição de portador assintomático, que se manifesta em um pe-
queno número de pacientes (reservatório para infecções futuras.
• A microscopia não é válida, porque não diferencia Shigella de
E. coli ou outros bacilos Gram-negativos presentes em fezes de
indivíduos saudáveis.
• A cultura em meios seletivos específicos para o isolamento de
Shigella é válida, mas deve-se ter cuidado no manuseio destas
Diagnóstico culturas, visto que a bactéria é altamente infecciosa (infecções
adquiridas em laboratório não são incomuns).
• Multiplex NAATs (que detecta simultaneamente múltiplos en-
teropatógenos) estão se tornando frequentes e poderão substi-
tuir as culturas nos próximos anos, principalmente em labora-
tórios que dispõem de recursos.
• A antibioticoterapia diminui o tempo da infecção sintomáti-
ca, a eliminação bacteriana nas fezes e a infectividade através
de contato interpessoal . O tratamento deve ser orientado por
Tratamento, testes de sensibilidade in vitro.
controle e • Tratamento empírico pode ser iniciado com uma fluoroqui-
prevenção nolona ou trimetoprim-sulfametoxazol.
• Medidas apropriadas de controle das infecções devem ser im-
plementadas para impedir a disseminação da bactéria, incluin-
do lavagem das mãos e destinação adequada de roupas sujas.
FONTE: Murray et al. (2018, s.p.)

3.3 ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO


As Enterobactérias, já detalhadas anteriormente, é um grupo bastante
amplo de gêneros e espécies, logo, a sua identificação é relativamente extensa e
depende de variadas provas bioquímicas. Iremos discutir aqui algumas das alter-
nativas utilizadas na rotina, seja na triagem ou na identificação presuntiva.

O esquema inicial para identificação de Bacilos Gram-negativos segue


destacado na Figura 16. Como via de regra, a principal prova para a diferenciação
desses microrganismos é em relação à capacidade de fermentar glicose. Existem
várias formas de verificar essa característica química, que vai desde da utilização
do Caldo OF até a utilização do Caldo TSI. Uma vez identificado a capacidade
de fermentação, o próximo passo é a realização da prova da oxidase (discutida
adiante). Enterobactérias são fermentadoras e oxidase negativas.

127
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

FIGURA 10 – ESQUEMA PARA IDENTIFICAÇÃO INICIAL PARA BACILOS GRAM-NEGATIVOS

FONTE: O autor (2021)

FIGURA 11 – AGAR TRIPLE SUGAR IRON (TSI) UTILIZADO PARA IDENTIFICAÇÃO PRESUNTIVA
DE ENTEROBACTÉRIAS

FONTE: <https://bit.ly/3eWzyno>. Acesso em: 4 abr. 2021.

128
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

FIGURA 12 – REAÇÕES QUE OCORREM NO ÁGAR TSI

FONTE: Procop et al. (2018, s.p.)

Entre as provas presuntivas, podemos destacar entre as mais utilizadas no Brasil:

• Tubo de Rugai
• Meio IAL ou Enterokit
• Meios EPM-MiLi-Citrato
• Sistema Bactray®

Em ambos os sistemas, várias provas bioquímicas são testadas conjunta-


mente, entre as quais podemos destacar:

• Fermentação da glicose
• Fermentação da lactose
• Motilidade
• Utilização de citrato
• Descarboxilação da lisina
• Produção de sulfeto de hidrogênio (H2S)
• Produção de gás (CO2)
• Oxidase
• Produção de indol
• Produção de urease
• Produção de fenilalanina desaminase

129
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

FIGURA 13 – PROVAS PRESUNTIVAS PARA IDENTIFICAÇÃO ENTEROBACTÉRIAS

FONTE: <https://lojalaborclin.com.br/>. Acesso em: 4 abr. 2021.

Em cima: Kit IAL ou Enteroki.


No meio: Tubo de Rugai (Esquerda) e EPM-Mili-Citrato (Direita).
Em baixo: Sistema Bactray®.

DICAS

Quer saber mais sobre os kits para identificação de enterobactérias. Verifique


alguns manuais:

Sistema Enterokit: https://bit.ly/3unCvDZ

Sistema Bactray: https://bit.ly/3xNoEJl

130
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

4 BACILOS GRAM-NEGATIVOS NÃO FERMENTADORES


Os bacilos Gram-negativos não fermentadores são patógenos oportunistas
de plantas, animais e humanos. São aeróbios, não esporulados e se caracterizam
por serem inábeis na utilização de carboidrato como fonte de energia median-
te da fermentação. Todos eram originalmente incluídos no gênero Pseudomonas,
com base na incapacidade de fermentar carboidratos e na morfologia das células
bacterianas – pequenos bacilos geralmente agrupados em pares.

As Pseudomonas foram divididas, com o acréscimo de novos gêneros, den-


tre os quais a Burkholderia e a Stenotrophomonas são os patógenos humanos mais
comuns. Membros desses gêneros são encontrados no solo, na matéria orgânica
em decomposição e água, assim como em áreas úmidas do ambiente hospitalar.

Essas bactérias podem utilizar vários compostos orgânicos como fonte de


carbono e nitrogênio, de modo que elas podem sobreviver e replicar em ambien-
tes onde a disponibilidade de nutrientes é reduzida. Essas bactérias, em parti-
cular, as  Pseudomonas, produzem uma variedade impressionante de fatores de
virulência e todas são resistentes aos antibióticos mais frequentemente utilizados.
Não chega a surpreender o fato de essas bactérias serem patógenos oportunis-
tas em pacientes hospitalizados. Sua identificação laboratorial apresenta-se como
um grande desafio até mesmo para os microbiologistas mais experientes. Isso se
deve ao fato da complexidade dos testes utilizados, do elevado custo que os kits
completos possuem, além de possuírem baixa incidência em amostras clínicas.
Cabe destacar que muitos laboratórios de microbiologia não realizam a sua iden-
tificação (BRASIL, 2004; MURRAY et al., 2018).

Neste capítulo, focaremos nas espécies mais frequentemente isoladas de cada


gênero: Pseudomonas aeruginosa, Burkholderiacepacia e Stenotrophomonas maltophilia.

4.1 IMPORTÂNCIA CLÍNICA

4.1.1 Pseudomonas aeruginosa


Esta bactéria corresponde ao bacilo Gram-negativo mais frequentemente
associado a infecções oportunistas em pacientes hospitalizados. A P. aeruginosa
produz vários tipos de adesinas, toxinas e enzimas capazes de destruir tecidos,
de modo que seja surpreendente o fato desta bactéria não causar doenças, mas
que tais doenças sejam mais comuns no ambiente hospitalar. Uma explicação
para isto é o fato de os fatores de virulência da bactéria não serem suficientes para
causar doença (a suscetibilidade do hospedeiro e a probabilidade de contato com
a bactéria é o que definem o risco de se adquirir a doença) (MURRAY et al., 2018).

131
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

QUADRO 41 – P. AERUGINOSA E SUAS CARACTERÍSTICAS

• Componentes da superfície bacteriana (isto é, pili, flagelos,


lipopolissacarídeo, cápsula mucóide de alginato) aderem a
células-alvo.
• A cápsula de alginato protege a bactéria da fagocitose e da
ação de antibióticos.
• A exotoxina A bloqueia a síntese proteica das células-alvo
(efeito semelhante ao da toxina diftérica).
Propriedades
• Os pigmentos (piocianina e pioverdina) produzem formas
tóxicas do oxigênio, estimulam a liberação de citocinas e re-
gulam a secreção de toxinas.
• A elastase, a fosfolipase e as toxinas extracelulares causam
destruição tecidual e inibem a atividade de neutrófilos.
• A resistência natural ou adquirida, pela bactéria, aos anti-
bióticos dificulta o tratamento das infecções que provocam.
• Infecções pulmonares: variam de irritação leve nos bronquios
traqueobronquite) à necrose do parênquima pulmonar (bron-
copneumonia necrosante).
• Infecções primárias da pele: variam de infecções oportunistas de
ferimentos existentes (p.ex., por queimaduras) a infecções locali-
zadas dos folículos pilosos (p.ex., infecções associadas à imersão
em águas contaminadas, como em banheiras).
• Infecções do trato urinário: infecções oportunistas em pa-
cientes que se utilizam de cateteres urinários e, também,
após o uso de antibióticos de amplo espectro capazes de se-
Epidemiologia
lecionar cepas resistentes.
• Infecções do ouvido: podem variar de irritação leve no ouvido
externo ("otite do nadador") à destruição invasiva dos ossos do
crânio próximo ao ouvido infectado ("otite maligna").
• Infecções oculares: infecções oportunistas de córneas que
apresentam pequenas lesões; podem ser muito agressivas,
com perda total da visão.
• Bacteremia: disseminação da bactéria a partir do sítio primário de
infecção para outros órgãos e tecidos, pode ser caracterizada por
lesões necróticas da pele (ectima gangrenoso).
• Febre entérica: 10 a 14 dias após a ingestão de S. typhi, os pacien-
tes têm aumento gradual de febre, com queixas inespecíficas de
dor de cabeça, mialgia, febre e anorexia. Estes sintomas persistem
Doenças
por uma semana ou mais, seguidos por sintomas gastrintestinais.
• Colonização assintomática: Infecção crônica de baixa inten-
sidade, em que a S. typhi se instala na vesícula biliar.

132
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

• Crescem rapidamente em meios de cultura comuns de laborató-


rio e apresentam morfologia característica na coloração de Gram.
• A P. aeruginosa é identificada pelas características das colônias
Diagnóstico
apresenta β-hemolise em ágar sangue, pigmento verde e odor
parecido como de uvas) e por testes bioquímicos simples (reação
de oxidase positiva, utilização de carboidratos pela via oxidativa).
• O tratamento consiste principalmente em combinações de
antibióticos (p.ex., um aminoglicosídeo com um β-lactâmico
ativo); a monoterapia é geralmente ineficaz; a resistência a
múltiplos antibióticos é comum.
Tratamento, • Os esforços para o controle das infecções hospitalares devem
controle e se concentrar na prevenção da contaminação de equipamen-
prevenção tos médicos esterilizados e da transmissão nosocomial; o uso
desnecessário de antibióticos de amplo espectro pode selecio-
nar bactérias resistentes.
• Não há vacina disponível para pacientes de alto risco de ad-
quirir infecções por esta bactéria
FONTE: Murray et al. (2018, s.p.)

4.1.2 Burkholderiacepacia
B. cepacia é um complexo de várias espécies estreitamente relacionadas,
que colonizam e causam doenças em determinados grupos de pacientes: portado-
res de fibrose cística, pacientes com doença granulomatosa crônica (DGC – uma
imunodeficiência primária na qual os leucócitos têm deficiência na capacidade de
eliminação de microrganismos intracelulares), ou cateteres vasculares ou do tra-
to urinário. Diferentemente da P. aeruginosa, a B. cepacia apresenta relativamente
poucos fatores de virulência (MURRAY et al., 2018).

QUADRO 42 – B. CEPACIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

Propriedades • Relativamente baixo nível de virulência.

• Presente em áreas úmidas de ambientes hospitalares.


Epidemiologia
• Coloniza pacientes com suscetibilidade aumentada a infecções.

• Infecções pulmonares: a maioria das infecções graves afeta pa-


cientes com doença granulomatosa crônica ou fibrose cística, nos
quais podem evoluir para situações em que há destruição signifi-
Doenças cativa do tecido pulmonar.
• Infecções oportunistas: infecções do trato urinário em portadores
de cateter; bacteremia em pacientes imunossuprimidos, portado-
res de cateter intravascular contaminado

133
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

• Crescem prontamente em meios de cultura de uso comum em


laboratório.
Diagnóstico • Podem ser classificados no complexo B. cepacia por testes bio-
químicos, mas a identificação em nível de espécies requer se-
quenciamento genético e espectrometria de massa.
• Geralmente é sensível às sulfas, como trimetoprim-sulfame-
toxazol; pode apresentar sensibilidade in vitro a piperacilina,
cefalosporinas de amplo espectro e ciprofloxacina, mas a res-
Tratamento,
posta clínica ao tratamento com estas drogas é baixa.
controle e
• Evitar o contato com indivíduos que tenham risco de infec-
prevenção
ções pela bactéria e monitorar cuidadosamente pacientes co-
lonizados, quanto à possibilidade de progressão da doença.
• Não há vacina disponível.
FONTE: Murray et al. (2018, s.p.)

4.1.3 Stenotrophomonas maltophilia


Do mesmo modo que a B. cepacia, a S. maltophilia é um patógeno oportunista
depacientes imunossuprimidos.

QUADRO 43 – S. MALTOPHILIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

• Sua principal característica de virulência é a resistência a an-


Propriedades
tibióticos.

• Presentes em áreas úmidas de hospitais.


• Pacientes imunossuprimidos, tratados com antibióticos de
amplo espectro, principalmente carbapenens, têm maior ris-
Epidemiologia co de adquirir infecções por esta bactéria.
• A fonte de infecção é atribuída a cateteres intravenosos con-
taminados, desinfetantes, equipamentos de ventilação me-
cânica e máquinas de gelo.

• Infecções oportunistas: diversas infecções (principalmente


Doenças
bacteremias e pneumonias) em pacientes imunossuprimidos.

• Cresce prontamente em meios de culturas de uso comum


em laboratório.
Diagnóstico
• Podem ser identificados por testes bioquímicos ou espectro-
metria de massa.

134
TÓPICO 4 — PRINCIPAIS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: ISOLAMENTO E
IDENTIFICAÇÃO

• Geralmente são sensíveis às sulfas, como trimetoprim-sul-


fametoxazol; são uniformemente resistentes aos antibióticos
Tratamento, carbapenens.
controle e • Evitar o contato com pacientes com alto risco de ter infecção
prevenção pela bactéria e monitorar cuidadosamente aqueles que estão
colonizados quanto à possibilidade de progressão da doença.
• Não há vacina disponível.
FONTE: Murray et al. (2018.)

4.2 ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO


As provas para identificação de Bacilos Gram-negativos não fermentadores,
assim como as enterobactérias, exigem uma sequência de provas bioquímicas. Cons-
tatada a presença de incapacidade de fermentar glicose, seguimos para a prova da
oxidase. Na Figura 14 podemos ver o fluxograma para identificação de Pseudomonas.

135
UNIDADE 2 — LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA CLÍNICA

FIGURA 14 – FLUXOGRAMA SIMPLIFICADO PARA IDENTIFICAÇÃO DE PSEUDOMONAS

FONTE: <https://microbe-canvas.com/>. Acesso em: 4 abr. 2021.

DICAS

Quer conhecer a identificação de Bacilos Gram-Negativos não fermentadores


com mais detalhes?
Consulte o site da ANVISA sobre o assunto: https://bit.ly/3b6Ukzw

136
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• As bactérias gram-positivas (particularmente os cocos) constituem os micror-


ganismos isolados com mais frequência em amostras clínicas.

• Essas bactérias estão disseminadas na natureza e podem ser isoladas do am-


biente ou como habitantes comensais da pele, das mucosas e de outras partes
do corpo dos seres humanos e animais.

• A ampla presença das bactérias gram-positivas na natureza dificulta, em certas


ocasiões, a interpretação de seu isolamento de amostras obtidas de pacientes.

• O isolamento desses microrganismos a partir de amostras deve ser sempre


correlacionado com a condição clínica do indivíduo.

• Neste tópico iremos abordar a importância do isolamento e identificação cor-


retas das bactérias envolvidas em processos patológicos.

• Os Staphylococcus spp. estão entre os agentes mais frequentes nas principiais


afecções humanas.

• As doenças causadas pelo S. aureus são classificadas em dois grupos: Piogênicas lo-
calizadas ou “produtoras de pus” e hidrolíticas e citotoxinas causadas por toxinas.

• Entre os Streptococcus spp., as espécies que mais chamam atenção na rotina clínica
são o Streptococcus pyogenes, o Streptococcus agalactiae e o Streptococcus pneumoniae.

• Os Enterococcus são bactérias amplamente distribuídas na natureza, fazem parte


da microbiota normal do ser humano, principalmente do trato gastrointestinal.

• Os isolamentos dos cocos gram-positivos não apresentam muitas dificulda-


des, crescem bem em ágares não seletivos.

• A principal prova para diferenciar os cocos gram-positivos é a prova da catalase.

• As bactérias que pertencem a família Enterobacteriaceae são microrganismos ubiqui-


tários, encontrados em diversos ambientes, como no solo, na água e na vegetação.

• Sua importância clínica está fundamentada na sua representatividade em


mais de 80% de todos os bacilos Gram negativos de importância médica iso-
lados na rotina microbiológica.

137
• E. coli é o mais comum e importante membro das enterobactérias, uma vez
que está associada a maior parte das infecções por membros dessa família,
incluindo gastroenterite e infecções extraintestinais, como infecções do trato
urinário, meningites e sepses.

• Os bacilos Gram-negativos não fermentadores são patógenos oportunistas de


plantas, animais e humanos.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

138
AUTOATIVIDADE

1 (Pref. Petrópolis-RJ, 2012) É característica das bactérias gram-negativas:

a) ( ) menor resistência a penicilinas e cefalosporinas.


b) ( ) parede celular espessa, formada por várias camadas de peptidoglicano.
c) ( ) membrana nuclear retém a safranina, fornecendo coloração.
d) ( ) camada de lipossacarídeo, formando membrana externa à parede celular.
e) ( ) reter o cristal violeta, que é o corante primário.

2 (Controllab, 2008) As bactérias da família Enterobacteriacea são frequente-


mente isoladas em espécimes clínicos e algumas são consideradas entero-
patogências por causarem preferencialmente infecções gastrointestinais.
São consideradas enteropatógenos as bactérias relacionadas na alternativa:

a) ( ) Salmonella spp., Salmonella typhi, Klebsiella pneumoniae, E.coli.


b) ( ) Salmonella typhi, outras Salmonella, Shigellaspp, Enterobacterspp.
c) ( ) E.coli, Salmonella typhi, outras Salmonella, Shigellaspp.
d) ( ) Salmonella typhi, outras salmonellas, Shigella spp., Yersiniaenterocolitica e
vários sorotipos de Escherichia coli.

3 Com relação ao diagnóstico microbiológico de bactérias do gênero Staphylo-


coccus e Streptococcus, escolha a alternativa, que correlaciona corretamente a
espécie e parâmetros utilizados na sua identificação.

a) ( ) Staphylococcus aureus (cocos Gram positivos, catalase positiva, coagula-


se negativa e DNAse negativa).
b) ( ) Staphylococcus epidermidis (cocos Gram positivos, catalase positiva, coa-
gulase negativa e resistência à novobiocina).
c) ( ) Staphylococcus saprophyticus (cocos Gram positivos, catalase positiva,
DNAse negativa e resistência à novobiocina).
d) ( ) Streptococcus pyogenes (cocos Gram positivos, catalase negativa, resis-
tência à bacitracina).
e) ( ) Streptococcus pneumoniae (cocos Gram positivos, catalase negativa, resis-
tência à optoquina).

4 Bactérias Gram-positivas, especialmente os cocos, estão entre os microrga-


nismos mais frequentemente isolados de amostras biológicas humanas em
laboratórios de microbiologia. Em uma cultura com crescimento de cocos
gram positivos, a correta diferenciação é fundamental para a determinação
da espécie isolada em um cultivo. Um Biomédico, diante de uma cultura
bacteriana pura com crescimento de um coco gram positivo, catalase nega-
tiva, α-hemolítico e susceptível à optoquina, deve identificar corretamente
a espécie bacteriana como:

139
a) ( ) Staphylococcus aureus.
b) ( ) Streptococcus pneumoniae.
c) ( ) Streptococcus agalactiae.
d) ( ) Enterococcus faecalis.
e) ( ) Nenhuma das espécies acima

5 Pseudomonas aeruginosa é um patógeno tipicamente oportunista, podendo


causar várias doenças, principalmente em imunodeprimidos. Atualmente, é
considerado um patógeno alerta em infecções nosocomiais devido a sua ca-
racterística de manutenção em locais úmidos e elevada resistência a muitos
antibióticos e antissépticos. Assinale a alternativa que descreve corretamente
a análise de identificação microbiológica da Pseudomonas aeruginosa.

a) ( ) Não fermenta glicose, oxidase positiva e algumas cepas produzem um


pigmento azul-esverdeado chamado piocianina.
b) ( ) Oxidase e catalase positivos, móvel, aeróbio, não fermentador.
c) ( ) Fermentadores da glicose, anaeróbios facultativos, oxidase positiva.
d) ( ) Aeróbias, móveis e oxidase negativa.
e) ( ) Aeróbias, não fermenta glicose, oxidase negativo.

140
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Microbiologia Clínica para o Controle de
Infecção em Serviços de Saúde. Edição Comemorativa para o IX Congresso Brasilei-
ro de Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar Salvador, 30 de agosto a 3 de
setembro de 2004. Editora Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), 2004.

BROOKS, G. F. et al. Microbiologia Médica de Jawetz, Melnick e Adelberg. 26


ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

ENGELKIRK, P. G.; ENGELKIRK, J. D. Microbiologia para as Ciências da Saú-


de. 11 ed. Rio De Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 2021.

LABORATÓRIO IVAN GARCIA, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3ujHAxf.


Acesso em: 15 mar. 2021.

LOJA LABORCLIN, 2021. Disponível em: https://lojalaborclin.com.br. Acesso


em: 15 mar. 2021.

MICROBE, 2021. Disponível em: www.microbe-canvas.com. Acesso em: 15 mar. 2021.

MICROBENOTES, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3eWzyno. Acesso em: 15 mar. 2021.

MURRAY, P. R. et al. Microbiologia Médica Básica. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2018.

PROCOP, G. W. et al. Diagnóstico Microbiológico: Texto e Atlas Colorido. 7 ed.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

SALVATIERRA, C. M. Microbiologia: Aspectos morfológicos, bioquímicos e me-


todológicos. São Paulo: Saraiva, 2014.

141
142
UNIDADE 3 —

MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS
E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A
ANTIMICROBIANOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao fim do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer as principais micobactérias relacionadas a doenças hu-


manas, bem como seus aspectos fisiopatológicos e laboratoriais;

• compreender os antibióticos assim como suas funções frente às


bactérias de interesse clínico;

• conhecer os passos básicos definidos para atribuir um diagnósti-


co microbiológico de qualidade realizando testes de suscetibili-
dade a antimicrobianos.

PLANOS DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – MICOBACTÉRIAS

TÓPICO 2 – TESTES DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS


(TSA) E ANTIBIÓTICOS

TÓPICO 3 – NOÇÕES SOBRE A AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

143
144
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

MICOBACTÉRIAS

1 INTRODUÇÃO

As micobactérias são bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR), aeróbios


e Gram-positivos imóveis. Sua parede celular é composta por cadeias médias a
longas de ácidos micólicos, sendo essa característica relacionada à resistência na
descoloração com soluções de ácido (fracas a fortes).

O gênero Mycobacterium sp. é constituído por espécies como M. tuberculo-


sis, M. leprae, e outras denominadas micobactérias não causadoras de tubercu-
lose. Focaremos esse tópico na espécie M. tuberculosis causadora da tuberculose
(PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

2 IMPORTÂNCIA CLÍNICA DAS MICOBACTÉRIAS


A tuberculose (TB) trata-se de uma doença infecciosa que mais mata no mun-
do, superando as mortes causadas pela AIDS, que apresenta coincidência de 10% dos
casos de TB (ou seja, o paciente com AIDS desenvolve TB). Estimou-se uma incidên-
cia de 10,6 milhões de casos em 2016, concentrando 87% de casos em 30 países.

No Brasil, ao contrário de outros países da África e da Ásia, existe uma


tendência de redução de incidência na última década, com cerca de 69 mil novos
casos diagnosticados entre 2016 e 2017, totalizando 4.500 óbitos. O Brasil está
entre os 30 países de alta ocorrência para tuberculose, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS). No entanto, a coinfecção por TB-HIV e a doença mul-
tirresistente ainda não são consideradas alarmantes em relação ao total de casos
diagnosticados (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

As doenças que as bactérias álcool-ácido resistentes causam são resulta-


do da reposta imune do hospedeiro infectado, sendo apenas cinco gêneros de
importância clínica: Mycobacterium sp., Nocardia sp., Rhodococcus sp., Gordonia e
Tsukamurella sp. (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

O M. tuberculosis provoca a doença quando entra em contato com o hos-


pedeiro a partir da transmissão interpessoal por aerossóis infecciosos (PROCOP,
2018; MURRAY, 2018), sendo um patógeno intracelular capaz de provocar uma
infecção que pode durar a vida toda. A existência de infecções persistentes, sem
progressão para doença, envolve uma delicada relação entre o hospedeiro e o pa-

145
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

rasita: balanço entre crescimento bacteriano e controle imunológico do hospe-


deiro. Quando a regulação feita pelo hospedeiro é cessada, a doença manifesta-se
progressivamente (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

Quando em contato com o hospedeiro, o M. tuberculosis entra pelas vias res-


piratórias, penetrando nos alvéolos, onde é fagocitado por macrófagos alveolares. As
bactérias impedem a fusão dos fagossomos com os lisossomos e escapam da morte
provocada pelos macrófagos. Entretanto, em resposta à infecção pelo M. tuberculosis,
os macrófagos secretam as citocinas IL-12 e TNF-α que, por sua vez, recrutam células
T e células natural-killer para a área dos macrófagos infectados, ativam esses macró-
fagos e estimulam a morte intracelular (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

O agrupamento de células necróticas (chamado granuloma) resultante vai


conter a infecção, mas também permitirá a sobrevivência de algumas bactérias.
Estas são as bactérias que vão causar doença posteriormente, quando a resposta
imune não mais ocorrer (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

FIGURA 1 – FISIOPATOLOGIA DO M. TUBERCULOSIS

FONTE: Adaptado de Khusro et al. (2016)

I- Macrófago
II- Leucócitos
III- Granuloma
IV- M. tuberculosis

3 IDENTIFICAÇÃO E ISOLAMENTO DAS MICOBACTÉRIAS


O diagnóstico da TB, além da avaliação clínica realizada pelo médico, deve
fundamentar-se nos métodos a seguir, que irão proporcionar ao clínico as informa-
ções necessárias para melhor encaminhamento do tratamento ao paciente.

146
TÓPICO 1 — MICOBACTÉRIAS

3.1 BACILOSCOPIA DE ESCARRO


A baciloscopia de escarro deve ser realizada em duas amostras: uma no
primeiro momento e, independentemente do resultado desta primeira, deve ser
coletada a segunda amostra no dia seguinte, preferencialmente ao despertar.
Em casos suspeitos nos quais as duas amostras tenham sido negativas, amostras
adicionais podem ser solicitadas (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

Esse método é fundamental tanto para o diagnóstico quanto para o controle do


tratamento, não sendo aceitável, exceto para crianças, o diagnóstico de TB pulmonar
sem a investigação pela baciloscopia de escarro (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

O método de coloração específico adotado no Brasil e de custo mais baixo


é o de Ziehl-Neelsen (Figura 2). Na figura podemos observar as setas indicando o
bacilo corado pela fucsina.

FIGURA 2 – BACILOSCOPIA DE ESCARRO (COLORAÇÃO DE ZIEHL-NEELSEN) COM DIFEREN-


TES CARGAS BACILÍFERAS

FONTE: O autor (2021)

A sensibilidade da baciloscopia é superior a 80% na primeira amostra,


com aumento de 12% com a segunda amostra. O exame direto permite descobrir
as fontes mais importantes de infecção, os casos bacilíferos, recomendando-se a
coleta de ao menos duas amostras de escarro para confecção de lâmina e colora-
ção (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

A baciloscopia do escarro é indicada nas seguintes condições (PROCOP,


2018; MURRAY, 2018):

a) Sintomático respiratório durante estratégia de busca ativa.


b) Em caso de suspeita clínica e/ou radiológica de TB pulmonar independente do
tempo de tosse.
c) Acompanhamento e controle de cura em casos pulmonares com confirmação
laboratorial.

147
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

A sensibilidade do teste tem certa limitação e sua especificidade também


não é de 100%. Falsos positivos podem ocorrer, quer por outras micobactérias ou
por bactérias como Nocardia sp. e Rhodococcus equi (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

O resultado é fornecido baseando-se na quantidade de bacilos encontra-


dos por campo observado:

Negativo: nenhum bacilo em 100 campos observados.


Positivo +: 10 a 99 BAAR em 100 campos observados.
Positivo ++: 1 a 10 BAAR por campo em 50 campos observados.
Positivo +++: em média mais de 10 BAAR por campo em 20 campos observados.

NOTA

Baciloscopia no escarro ainda é o exame de melhor custo-benefício no diag-


nóstico da TB, pois tem baixo custo e boa sensibilidade, caso o examinador seja treinado.

3.2 CULTURA PARA MICOBACTÉRIAS


Na microbiologia clínica contamos com vários meios de cultura disponíveis
para crescimentos das micobactérias, o mais utilizado no Brasil e aprovado pela
OMS é o meio de cultura de Löwenstein-Jensen (Figura 3).

FIGURA 3 – MEIO DE CULTURA DE LÖWENSTEIN-JENSEN

FONTE: <https://bit.ly/3nQrUPp>. Acesso em: 12 dez. 2020.

148
TÓPICO 1 — MICOBACTÉRIAS

A - Mycobacterium tuberculosis
B e C - Mycobacterium não-tuberculosis

As principais indicações de cultura para micobactérias são (PROCOP,


2018; MURRAY, 2018):

a) Casos suspeitos de TB pulmonar com exame direto persistentemente negativo.


b) Diagnóstico de formas extrapulmonares (meningoencefálica, renal, pleural,
óssea ou ganglionar).
c) Suspeita de resistência micobacteriana às drogas, seguida do Teste de Sensibi-
lidade (TS).
d) Tecidos e cavidades em que a baciloscopia é rara ou ausente, assim, solicita-se
cultura sempre em urina, líquidos cavitários (pleural, pericárdico, peritoneal e
líquor) e secreções não pulmonares.

Os meios líquidos de cultura têm-se tornado cada vez mais frequentes.


Apesar do alto custo comparado ao Löwenstein, esses métodos são mais rápi-
dos, com crescimento em média de 15 dias em comparação ao anterior, que leva
até 60 dias para observar algum crescimento. Provavelmente, os meios líquidos
irão substituir o Löwenstein em médio prazo. Em caso de suspeita de TB de vias
urinárias, lembrar-se de solicitar pelo menos cinco amostras de urina em dias al-
ternados, utilizando toda a urina da manhã (após a centrifugação, pode ser feita
baciloscopia e cultura) (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

ATENCAO

Os meios líquidos de cultura são mais rápidos, mas podem resultar falsos posi-
tivos para outras micobactérias não tuberculosas simbióticas apenas no ser humano.

3.3 TESTE MOLECULAR RÁPIDO PARA TUBERCULOSE


Em 2014, o Ministério da Saúde implantou um teste rápido para TB em di-
versas cidades, chamado GeneXpert®. Esse teste consiste na utilização de escarro
do paciente, permitindo a identificação da micobactéria com sensibilidade de 90%.
É um teste de amplificação de ácidos nucleicos, utilizado para detecção de DNA do
M. tuberculosis. O teste fornece, ainda, através da técnica de PCR, se o bacilo é re-
sistente à rifampicina, com sensibilidade de 90% no resultado. O principal objetivo
é facilitar o diagnóstico, principalmente em áreas onde há dificuldade técnica para
realizar a baciloscopia tradicional. Este teste está indicado prioritariamente para o
diagnóstico de tuberculose laríngea e pulmonar em adultos e adolescentes; a utili-
zação desta técnica em crianças apresenta sensibilidade de 66%, tornando seu uso
limitado para esta faixa etária (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).
149
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

Uma limitação deste método é que como é capaz de detectar bacilos mor-
tos ou inviáveis, não deve ser utilizado para casos de retratamento (reingresso
pós-abandono e recidiva), sendo recomendado para infecções primárias. A técni-
ca pode ser utilizada em diferentes amostras, como: escarro, lavado broncoalveo-
lar e líquor (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

O teste molecular para o diagnóstico de TB já é utilizado em todo o Brasil


como instrumento auxiliador no diagnóstico da forma pulmonar, principalmente
em locais em que há baixa quantidade de técnicos treinados para leitura de bacilo
álcool-ácido resistente no escarro (PROCOP, 2018; MURRAY, 2018).

NOTA

A radiografia de tórax, bem como a tomografia computadorizada, auxilia no


diagnóstico de tuberculose. Tais ferramentas não serão abordadas neste livro, porém, você
pode pesquisar melhor quais os critérios utilizados.

DICAS

Leia o artigo: Mycobacterium tuberculosis resistente: de onde vem a resistência?

Disponível em: https://bit.ly/33i02KK

150
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• As micobactérias são bacilos álcool-ácido resistentes, aeróbios e Gram-positi-


vos imóveis.

• O gênero Mycobacterium é constituído por espécies do complexo M. tubercu-


losis e M. leprae.

• A TB trata-se de uma doença infecciosa que mais mata no mundo, superando


as mortes causadas por AIDS, que apresenta coincidência de 10% dos casos
de tuberculose (TB).

• O M. tuberculosis é um patógeno intracelular capaz de provocar uma infecção


que pode durar a vida toda.

• A baciloscopia de escarro deve ser realizada em amostras de dias consecutivos.

• A sensibilidade da baciloscopia é de mais de 80% na primeira amostra, com


aumento de 12% com a segunda amostra.

• O meio de cultura mais utilizado no Brasil, aprovado pela OMS, é o de


Löwenstein-Jensen.

• Em 2014, o Ministério da Saúde implantou um teste rápido para TB.

151
AUTOATIVIDADE

1 (IBFC-EBSERH, 2017) O estudo das micobactérias apresenta grande impor-


tância em medicina humana e animal. No gênero Mycobacterium, incluem-
-se os agentes da tuberculose (M. tuberculosis, M. bovis e M. avium) e da lepra
(M. leprae). Em relação a esse gênero, assinale a alternativa incorreta.

a) ( ) Aerobiose estrita.
b) ( ) Coram-se pela mistura fucsina mais ácido fênico aquecido, que penetra no
citoplasma e resistem à descoloração com uma mistura de ácido e álcool.
c) ( ) Os bacilos apresentam-se como bastonetes finos, corados em vermelho,
sobre fundo corado em azul.
d) ( ) A bacterioscopia do escarro pela coloração de Ziehl-Neelsen é um método
simples, porém de extrema valia no diagnóstico da tuberculose pulmonar.
e) ( ) No método de coloração de Ziehl-Neelsen outras espécies de micobac-
térias podem se corar. Assim o resultado do B.A.A.R. positivo num es-
carro implica na ideia de que se trata do M. tuberculosis com margem
grande de segurança e deve ser encarado como um valor absoluto.

2 (FGV-FIOCRUZ, Tecnologista em Saúde, Diagnóstico Bacteriológico, 2010)


A hanseníase é causada pelo Mycobacterium leprae. Da  mesma forma que
manifestações clínicas da infecção por M. tuberculosis, manifestações clíni-
cas da hanseníase dependem da resposta imune tardia (hiperssensibilidade
do tipo IV) do paciente contra as bactérias. Sobre o diagnóstico da hansení-
ase, assinale a alternativa correta.

a) ( ) O meio de isolamento primário para M. leprae pode ser o Löwenstein-


-Jensen ou o Middlebrook 7H10, porém o microrganismo não apresenta
crescimento em MGIT suplementado.
b) ( ) Para o diagnóstico baciloscópico, os sítios  recomendados para coleta
consistem em: lóbulos auriculares bilaterais, cotovelo direito, raspado
de mucosa nasal e da lesão.
c) ( ) A coloração é feita por meio do método clássico de Ziehl-Neelsen, usa-
do no exame de escarro da tuberculose com frequência. Esta, pode ser
realizada a quente ou a  frio, fornecendo material de qualidade. Uma
baciloscopia negativa afasta o diagnóstico de hanseníase.
d) ( ) A interpretação da baciloscopia envolve o uso da escala logarítmica de
Ridley adaptada, que varia de 0 a 6+, sendo o maior valor correspon-
dente a mais de ≥ 100.000 BAAR em 100 campos microscópicos.
e) ( ) O índice morfológico é a avaliação morfológica, portanto  qualitativa,
do M. leprae. É expresso pelo percentual (%) de bastonetes totais numa
população de 100 a 200 bacilos.

152
3 (Prefeitura de João Pessoa-PB, 2018) Sobre a tuberculose, é correto afirmar que

a) ( ) É uma doença causada pelo Mycobacterium leprae.


b) ( ) A tuberculose pulmonar pode apresentar-se sob a forma primária, se-
cundária ou miliar.
c) ( ) A tuberculose primária é mais comum em adultos.
d) ( ) Na tuberculose pulmonar primária, o paciente apresenta-se com febre
alta e falta de sudorese.

4 (Prefeitura de Natal-RN, 2018) Os profissionais de saúde (PS) e os estudan-


tes da área de saúde estão sujeitos a maior risco de infecção e adoecimento
por tuberculose (TB). Dentre os profissionais de saúde, mais vulneráveis ao
risco de infecção tuberculosa destacam-se os enfermeiros, que apresentam
de três a 20 vezes mais chances de contaminação quando comparados à
população geral (BRASIL, 2011). Sobre a Prevenção da tuberculose em pro-
fissionais de saúde, considere as afirmativas abaixo.

A prevenção primária consiste na adesão aos procedimentos de con-


I trole de infecção em unidades de saúde, como por exemplo o uso de
máscara N95 durante o contato com portadores de TB.
A prevenção secundária ou o tratamento da infeção latente está indicada para
II
PS com suspeita de TB, mas que ainda aguardam diagnóstico comprobatório.
OPS com sinais ou sintomas compatíveis com TB deve procurar auxílio
III
médico e ser submetido aos exames laboratoriais e à radiografia de tórax.
No caso de suspeita de TB miliar, o profissional de saúde deve per-
IV manecer afastado de suas atividades até que o diagnóstico de TB seja
excluído ou até que seja considerado não infectante.

Estão corretas as afirmativas:

a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) II e IV.
d) ( ) III e IV.

153
154
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

TESTES DE SENSIBILIDADE A
ANTIMICROBIANOS (TSA) E
ANTIBIÓTICOS

1 INTRODUÇÃO

No decorrer dos anos, o termo “resistência bacteriana” vem despertando


um olhar de alerta nos hospitais e laboratórios de análises clínicas. Muitos de
vocês já devem ter ouvido falar nestas palavras e para podermos compreender
como chegamos a esta situação, primeiramente devemos descrever como são re-
alizadas as técnicas de antibiograma nos laboratórios.

O Teste de Sensibilidade a Antimicrobianos (TSA), ou antibiograma, tem


grande relevância clínica e sua leitura ainda é considerada uma das grandes di-
ficuldades do teste. A metodologia mais utilizada é chamada de Kirby e Bauer
devido a sua praticidade, baixo custo e confiabilidade nos resultados. Para a exe-
cução da técnica, faz-se necessário que as instruções sejam seguidas de forma
rigorosa para a obtenção de resultados robustos e que possam ser comparados
com as tabelas internacionais de referência. Neste tópico, vamos abordar os testes
utilizados, bem como os antibióticos que são utilizados.

2 PRINCÍPIOS PARA A REALIZAÇÃO DO TSA


Para a realização da técnica, é necessário ter material clínico, neste caso,
é utilizado cultura pura de microrganismos isolados. Uma cultura pura é aquela
em que se observa apenas um tipo de microrganismo em crescimento na placa
(Figura 4). Estas culturas devem ser recentes, também denominamos de culturas
novas ou jovens. Então, assim que o material for coletado e semeado em meio de
cultura, o ele será incubado e ocorrerá o crescimento, esse é o momento adequado
para a realização da técnica. O tempo de incubação destas culturas varia de 18 a
24 horas (LABORCLIN, 2019).

155
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

FIGURA 4 – CRESCIMENTO DE CULTURA PURA EM MEIO ÁGAR SANGUE

FONTE: <https://bit.ly/2PREn9b>. Acesso em: 12 dez. 2020.

Como mencionado, o passo a passo da técnica deve ser realizado de ma-


neira rigorosa, por isso, é muito importante que todos os passos sejam revisados
antes do início do procedimento.

Em seguida, é necessário realizar a escolha dos antimicrobianos, esta es-


colha deve ser realizada de acordo com a realidade do ambiente hospitalar e das
condições do paciente. É necessário ter conhecimento se o medicamento é utili-
zado via oral ou injetável, pois a diferença das vias de administração interfere na
farmacocinética do medicamento (LABORCLIN, 2019).

UNI

Acadêmico, lembra-se da farmacocinética? Ela foi abordada na disciplina de far-


macologia e é crucial que você tenha esse conhecimento para melhor entender esse conteúdo.

No momento da leitura do resultado, deve-se ter cuidado em reportar


resistências intrínsecas, pois podem ocorrer erros no momento das medições
e na execução da técnica, o que automaticamente irá interferir nos resultados.
Para finalizar, devemos sempre nos manter atualizados aos manuais das Or-
ganizações Internacionais diante dos grupos microbianos, seus halos e inter-
pretações (LABORCLIN, 2019).

156
TÓPICO 2 — TESTES DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS (TSA) E ANTIBIÓTICOS

E
IMPORTANT

Acadêmico, você sabe a diferença entre resistência intrínseca e adquirida? A


resistência intrínseca ocorre de forma natural como parte de um processo de evolução
bacteriana ou através de um erro analítico.
Já a resistência adquirida ocorre por meio da pressão seletiva exercida pelo uso indiscri-
minado de antimicrobianos, podendo ocorrer mutações genéticas, originando genes de
resistência que podem ser transferidos entre as espécies bacterianas.

2.1 AMOSTRA
Como mencionado, as colônias devem ser recentes, cultivadas em intervalo de
18 a 24 horas. As colônias permanecem viáveis para a execução do teste até cerca de 24
horas. Caso não seja realizado, faz-se necessário fazer o repique, ou seja, semear em
novo meio de cultura para a obtenção de colônias jovens e puras (LABORCLIN, 2019).

A pureza da amostra também deve ser avaliada e este é um fator muito


importante, caso ocorra contaminação do meio deve-se re-isolar o microrganismo
a ser testado para evitar erros na medição dos halos e na avaliação do microrga-
nismo que está envolvido no processo patológico (LABORCLIN, 2019).

2.2 MÉTODOS
Os métodos utilizados na realização do TSA envolvem métodos conven-
cionais e automatizados. Entre os convencionais temos:

Disco-Difusão em ágar (Kirby-Bauer): qualitativo – disponibilizados em


discos individuais e/ou adaptáveis em dispensadores.

Diluição (CIM): Quantitativo.


Teste de gradiente de concentração (ex.: E-Teste®).
Microdiluição em ágar.
Microdiluição em caldo.

Para os métodos automatizados, destaca-se a Determinação da Concen-


tração Inibitória Mínima (CIM).

157
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

3 TESTE POR DIFUSÃO EM ÁGAR: MÉTODO DE KIRBY-BAUER


A técnica consiste no preparo de uma suspensão de bactérias de cultivo recen-
te, esta suspensão deve ser semeada em uma placa contendo Ágar Mueller-Hinton.
Em seguida, os discos de papel contendo os antimicrobianos devem ser adicionados
com o auxílio de uma pinça, que deve ser flambada a cada troca de disco (Figura 5
e 6). Posteriormente, a placa deve ser incubada em estufa e analisado o padrão de
crescimento ou inibição ao redor de cada disco, sendo então necessário realizar a
medição de cada halo. Após a medição, os valores devem ser comparados a tabelas
apropriadas de acordo com a espécie bacteriana testada (LABORCLIN, 2019).

FIGURA 5 – ILUSTRAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DOS DISCOS EM PLACA

FONTE: <https://bit.ly/3vE33Ry>. Acesso em: 12 dez. 2020.

3.1 PROCEDIMENTO
Para a realização do método de difusão em ágar, deve-se retirar as placas
e os discos do refrigerador da geladeira ou freezer cerca de 20 a 30 minutos an-
tes do início do teste para que adquiram a temperatura ambiente (LABORCLIN,
2019). Abaixo, o passo a passo do teste:

• utilizar de colônias recentes;


• com o auxilio de uma alça bacteriológica (alça de platina) tocar/colher a colô-
nia a ser testada;
• em seguida, suspendê-la em salina estéril (NaCl 0,85%) até se obter uma tur-
vação seguindo a Escala 0,5 de Mac Farland (1x108 UFC/mL);
• umedecer o swab estéril na suspensão bacteriana, comprimindo-o contra as
paredes do tubo (para tirar o excesso);
• após, semear de forma suave em 5 direções na placa, abrangendo toda a superfície;
• aguardar de 10 a 15 minutos para a superfície do ágar secar;
• com auxílio de uma pinça flambada e resfriada, colocar os discos de antibió-
tico sobre a superfície do meio inoculado, exercendo uma leve pressão com a
ponta da pinça para uma boa adesão dos discos;
• para finalizar, incubar a placa com os discos em estufa bacteriológica a 36 °C
por 18 a 24 horas;
• realizar a interpretação dos resultados.

158
TÓPICO 2 — TESTES DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS (TSA) E ANTIBIÓTICOS

3.2 INTERPRETAÇÕES DOS RESULTADOS


Os resultados devem ser analisados com o auxílio de uma régua ou paquíme-
tro para medir o diâmetro dos halos inibitórios de cada disco (Figura 6). Consultar a
tabela apropriada para determinar a sensibilidade ao antimicrobiano testado. Após a
verificação, o resultado pode ser descrito em 4 categorias (LABORCLIN, 2019):

Sensível (S): a infecção pode ser tratada com a dosagem recomendada do


antimicrobiano.
Resistente (R): não inibem o microrganismo, gerando ineficácia clínica.
Intermediário (I): antibióticos que alcançam níveis sistêmicos e teciduais, mas a
resposta é baixa.
Susceptibilidade Dose Dependente (SDD): na SDD, a suscetibilidade de um isolado
depende do regime de dose que é utilizada no paciente. Nesta situação, é necessário
usar um regime de dose diferenciado, ou seja, doses mais altas que resultam na maior
exposição do isolado ao medicamento, comparando-se com a dose padrão.

FIGURA 6 – MEDIÇÃO DOS HALOS DOS ANTIBIÓTICOS

FONTE: <http://www.profbio.com.br/aulas/ac2_06.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2020.

159
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

DICAS

Acadêmico, assista ao vídeo para visualizar a realização da técnica de difusão


em ágar e leitura do resultado:
https://www.youtube.com/watch?v=kusZJqSaBzQ&t=243s.

4 DILUIÇÃO OU CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA


(CIM): MÉTODO QUANTITATIVO
Além do antibiograma em discos, também existem técnicas que podem
ser realizadas como o método de diluição em tubos (Figura 7), que foi uma das
primeiras a serem desenvolvidas e atualmente ainda é considerado como método
de referência (LANGFIELD, 2004; CLSI, 2006).

FIGURA 7 – TESTE DE SENSIBILIDADE EM TUBOS

FONTE: <https://bit.ly/3ejClI8>. Acesso em: 12 dez. 2020.

A metodologia fornece resultados qualitativos e quantitativos. No entan-


to, apresenta algumas desvantagens como, por exemplo, a dificuldade na detec-
ção de contaminação no caso de teste com materiais clínicos, o tempo de preparo
para a execução é aumentado, a geração de grande quantidade de resíduos e a
interpretação dos resultados ocorre pela densidade da turbidez (Figura 8) provo-
cada pelo crescimento microbiano (OSTROSKY et al., 2008).

160
TÓPICO 2 — TESTES DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS (TSA) E ANTIBIÓTICOS

FIGURA 8 – LEITURA DE TURBIDEZ EM TUBOS

FONTE: <https://bit.ly/33k18pa>. Acesso em: 12 dez. 2020.

DICAS

Acadêmico, assista ao vídeo que traz o procedimento completo para a técnica


de CIM: https://www.youtube.com/watch?v=QwHk6VM1leo

5 TESTE DE GRADIENTE DE CONCENTRAÇÃO (E-TESTE®)


Esta técnica é realizada através de uma tira plástica de gradiente de concen-
tração, a qual apresenta quinze concentrações de antibióticos. O princípio do teste
baseia-se na difusão do gradiente antimicrobiano no ágar para a determinação da
sensibilidade da amostra bacteriana ao antimicrobiano testado (ANVISA, 2021).

Após a preparação do inóculo, com o auxílio de um swab a amostra conten-


do de 1 a 2 x 108 UFC/mL, é semeada sobre a superfície da placa de Ágar. Após 15
minutos, em média, as fitas de Etest® são dispensadas sobre o ágar. Em placas de
150 mm de diâmetro, deve-se aplicar no máximo 5 fitas e, em placas de 90 mm, 2
fitas. Em seguida as placas são incubadas, e após o período de incubação, a deter-
minação da CIM é lida como o ponto de intersecção entre a fita de Etest® e a zona
de inibição do crescimento do microrganismo (Figura 9), a qual assume a forma
elíptica, dando origem ao nome do teste “Episilometer test” (ANVISA, 2021).

161
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

FIGURA 9 – AVALIAÇÃO DO ETEST®

FONTE: <http://www.cqc.com.br/produtos/etest>. Acesso em: 12 dez. 2020.

6 MICRODILUIÇÃO EM ÁGAR
Na diluição em Ágar, as concentrações seriadas de antimicrobianos são
adicionados em placa contendo meio de cultura e cada placa contém apenas uma
concentração. Portanto, uma das desvantagens deste teste é a quantidade de pla-
cas que necessitam ser preparadas, geralmente de 6 a 12 placas podem ser neces-
sárias para avaliar a sensibilidade de um antimicrobiano (ANVISA, 2021).

• As amostras devem ser inoculadas simultaneamente sobre a superfície do


ágar utilizando o multi-inoculador, o qual dispensa de 1 a 3 microlitros con-
tendo aproximadamente o inóculo final de 1 x 104 UFC/mL.
• O multi-inoculador possui de 32 a 96 pinos, permitindo que este número de
amostras seja inoculado simultaneamente na placa de Petri de 90 e 150 mm,
respectivamente.
• Após a inoculação as placas devem ser incubadas por 16 a 20 horas, a 35± 2 ºC
(dependendo do gênero bacteriano e do antimicrobiano testado) (Figura 10).

Após este período, a CIM é determinada como a concentração que previne


o crescimento macroscópico bacteriano (ANVISA, 2021).

FIGURA 10 – MICRODILUIÇÃO EM ÁGAR

FONTE: <https://bit.ly/33fgg7v>. Acesso em: 12 dez. 2020.


162
TÓPICO 2 — TESTES DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS (TSA) E ANTIBIÓTICOS

7 MICRODILUIÇÃO EM CALDO
Esta técnica é extremamente vantajosa, pois tem baixo custo, uso reduzido de
materiais, é considerada rápida e é trinta vezes mais sensível do que outros métodos
usados na literatura, permitindo determinar a CIM (ELOFF et al., 1998; COWAN, 1999;
GABRIELSON et al., 2002; LANGFIELD et al., 2004; CUSHNIE; LAMB, 2005; ALVES et
al., 2008; OSTROSKY et al., 2008; SALAZAR-ARANDA et al., 2009; PALOMBO, 2011).

As placas de microdiluição podem conter o antimicrobiano liofilizado ou


congelado e são inoculadas com o auxílio de um dispositivo plástico com o pro-
pósito de obter-se uma concentração bacteriana final de aproximadamente 5 x
104 - 105 UFC/mL por poço da placa de microdiluição (Figura 11).

Os painéis de microdiluição devem permanecer incubados a 35± 2 ºC por


16 a 20 horas (dependendo do gênero bacteriano e do antimicrobiano testado).
Após a incubação, a leitura da placa, com a determinação da CIM, será realizada
visualmente, de preferência com o auxílio de um espelho parabólico, que ampli-
fica a imagem e facilita a leitura (ANVISA, 2021).

FIGURA 11 – MICRODILUIÇÃO EM CALDO

FONTE: Adaptado de Rozzato (2012)

163
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

8 DETERMINAÇÃO DA CIM (AUTOMATIZADO)


Para a determinação da CIM pelo método automatizado, podem ser
utilizados os seguintes aparelhos:

Vitek®
Vitek-2® (bioMérieux, Hazelwood, MO)
Walk-Away® (DADE, West Sacramento, CA)
BD Phoenix®

A utilização deste método permite a execução mais rápida, pois estes equi-
pamentos realizam a detecção óptica, que pode detectar alterações discretas de
crescimento bacteriano. Além disso, os aparelhos Vitek®, Vitek-2®, Walk-Away®
e BD Phoenix® são capazes de realizar simultaneamente a identificação de bacté-
rias Gram-positivas e Gram-negativas e unir os resultados de identificação e do
TSA em um único relatório (ANVISA, 2021).

As vantagens de se utilizar estes equipamentos é a rapidez na emissão de


resultados, a padronização intra e interlaboratorial e a redução do trabalho manual.
No entanto, estes sistemas não fornecem valores exatos de CIM e por isso acabam
gerando alguns problemas que estão sumarizados no quadro 1 (ANVISA, 2021).

QUADRO 1 – PRINCIPAIS PROBLEMAS DOS MÉTODOS AUTOMATIZADOS

Espécie / Gênero Antimicrobiano Tipo de problema


Detecção do baixo grau de resistência.
Vancomicina Confundir espécies móveis intrinsecamente
Enterococcus resistentes com E. faecium e E. faecalis.
Detecção de cepas resistentes por pro-
Ampicilina
dução de β - lactamase
Pode ocorrer tanto falsa resistência
Oxacilina quanto falsa sensibilidade, ambas são
Staphylococcus relativamente raras
Vancomicina Detecção do baixo grau de resistência
Baixa acurácia na avaliação da sensibili-
Streptococcus Todos
dade aos antimicrobianos
Enterobactérias Quinolonas Falsa sensibilidade e falsa resistência

β-lactâmicos Falsa sensibilidade e falsa resistência


Escherichia coli e Detecção de cepas produtoras de β-lac-
β-lactâmicos
Klebsiella pneumoniae tamases de espectro ampliado

164
TÓPICO 2 — TESTES DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS (TSA) E ANTIBIÓTICOS

Citrobacter spp.
Detecção de resistência mediada por
Enterobacter spp.
β-lactâmicos B-lactamases cromossômicas induzi-
Serratia spp. e
veis (AmpC)
Providencia spp.
Pseudomonas
β-lactâmicos Falsa sensibilidade e falsa resistência
aeruginosa
Bacilos
Carbapenem Falsa resistência
Gram-negativos
Bacilos
Cefepima Falsa resistência
Gram-negativos
FONTE: <https://bit.ly/3tggV32>. Acesso em: 12 dez. 2020.

165
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A resistência bacteriana vem sendo observada e são encontradas com maior


frequência, por isso é muito importante a utilização dos testes de sensibilida-
de a antimicrobianos.

• Além do antibiograma que é o método mais utilizado ainda existem outros


métodos como: ]
O Diluição (CIM): Quantitativo.
O Teste de gradiente de concentração (Ex. E-Teste®).
O Microdiluição em ágar.
O Microdiluição em caldo.

• É importante ressaltar que cada método possui suas particularidades, no entanto,


é necessário que a execução do teste seja realizado com precisão para a obtenção
de resultados robustos, cuidados como manuseio da amostra, pureza e inóculos
preparados de forma adequada são extremamente importantes.

• Além dos métodos convencionais ainda existem os automatizados que apresen-


tam vantagens como execução mais rápida, pois estes equipamentos realizam a
detecção óptica, que pode detectar aterações discretas de crescimento bacteriano.
No entanto, estes sistemas não fornecem valores exatos de CIM e por isso acabam
gerando alguns problemas.

166
AUTOATIVIDADE

1 (VUNESP-EBSERH, Biomedicina, Análises clínicas, 2020) Assinale a alter-


nativa correta em relação aos testes de avaliação da resistência aos antimi-
crobianos, comumente denominados antibiogramas ou TSA.

a) ( ) Os objetivos são detectar possível resistência ao medicamento em pa-


tógenos comuns e assegurar a suscetibilidade a drogas de escolha para
infecções específicas.
b) ( ) Sistemas automatizados possuem uso restrito por não contemplarem
painel ou placas de antibióticos para amostras de secreções.
c) ( ) No método da difusão do disco, os discos especiais de papel-filtro im-
pregnados com concentração padronizada de antibiótico são colocados
sobre uma placa de ágar MacConkey contendo o inóculo.
d) ( ) O método da diluição é utilizado para determinar quantitativamente a
maior concentração do antimicrobiano necessária para inibir o cresci-
mento in vivo de um microrganismo (CIM).
e) ( ) No método de difusão do disco, a placa contendo meio de cultura, inó-
culo e discos de antimicrobianos deve ser de 70 mm e conter de 7 a 12
discos, com incubação a 39 ± 2 ºC por 24 a 36 horas.

2 (FCC-Prefeitura de São José do Rio Preto-SP, Técnico em Patologia Clínica, 2012)


Na prova de disco-difusão em ágar, vários discos contendo antimicrobianos fo-
ram dispensados sobre a superfície de ágar, distribuído em placas de Petri, após
a aplicação do inóculo bacteriano em determinada concentração. A placa foi, en-
tão, incubada por 4h e os diâmetros dos halos de inibição do crescimento bacte-
riano, ao redor de cada disco, foram avaliados. A cepa de bactéria foi altamente
sensível, pois foi totalmente inibida, não apresentando crescimento no ágar. O
teste, assim, forneceu um resultado quantitativo de concentração inibitória míni-
ma de cada antimicrobiano. Nesta situação, verifica-se que:

a) ( ) a concentração inibitória mínima de cada antimicrobiano permitiu ade-


quar a dose terapêutica.
b) ( ) o resultado quantitativo foi importante para indicar a melhor terapia.
c) ( ) o tempo de incubação foi insuficiente para crescimento bacteriano, in-
validando a prova.
d) ( ) a infecção será controlada pelo uso de qualquer um dos antimicrobia-
nos avaliados na prova.
e) ( ) a prova de disco-difusão foi muito bem realizada e útil para o tratamen-
to do paciente.

167
3 (Prefeitura de Campinas-SP, Biomedicina 2013) Diferentes métodos laboratoriais
podem ser empregados para a realização de testes de sensibilidade a antimicro-
bianos. Entre esses ensaios, está o método de disco-difusão em ágar, o qual é
baseado na presença ou ausência de um halo de inibição em torno do disco. Em
relação ao método de disco-difusão em Ágar, assinale a alternativa incorreta.

a) ( ) Entre os muitos meios disponíveis, o ágar Müeller-Hinton é o melhor


para testes rotineiros de sensibilidade contra bactérias porque permite
crescimento satisfatório dos patógenos não fastidiosos.
b) ( ) Os testes de sensibilidade são extremamente necessários quando a infec-
ção se deve a um micro-organismo sensível a uma droga muito eficaz.
c) ( ) Os testes de sensibilidade a antimicrobianos são recomendados quando
o microrganismo causador da infecção é capaz de demonstrar resistên-
cia aos agentes antimicrobianos comumente usados.
d) ( ) O número de agentes testados deve ser limitado para aumentar a sensi-
bilidade e a relevância do teste.

168
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

NOÇÕES GERAIS SOBRE A AÇÃO


DOS ANTIMICROBIANOS

1 INTRODUÇÃO

O profissional analista clínico deve ter um bom conhecimento em relação aos


antimicrobianos, pois a realização dos testes de susceptibilidade são fundamentais
para orientar a prescrição do clínico. Compreender a farmacocinética e a farmacodi-
nâmica são os pontos iniciais para diferenciar as diferentes classes de antimicrobia-
nos. Para estudar antibióticos, é importante entender alguns conceitos básicos, além
dos dois acima citados (Quadro 2) (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020):

QUADRO 2 – CONCEITOS BÁSICOS

Mostra como fica a concentração sérica do antimicrobiano


Farmacocinética com o passar do tempo. Isso é importante para saber em
(PK) quanto tempo ele fica acima da concentração mínima para
eliminar a bactéria (concentração inibitória mínima - MIC).
Demonstra o efeito do antimicrobiano no corpo com o pas-
Farmacodinâmica
sar do tempo, exibindo quanto tempo ainda ele fica efetivo
(PD)
mesmo que esteja muito acima ou pouco abaixo do MIC.
Relação PK/PD Determina a eficácia final de um antimicrobiano.
É a mínima concentração necessária para conseguir eliminar
determinada bactéria. As concentrações são determinadas
MIC
por meio de diluições. O MIC é representado por números
dessas diluições (2, 4, 8, 16 etc.).
São aqueles que eliminam a bactéria, normalmente por rom-
pimento de parede celular. São mais potentes, por isso são
Antimicrobianos indicados para infecções graves. Entretanto, têm maior risco
bactericidas de danos e efeitos colaterais.
Exemplos: betalactâmicos, glicopeptídios, aminoglicosídeos
e quinolonas.
Impedem a reprodução bacteriana, controlando a infecção,
mas não aniquilam a bactéria, como os bactericidas. Em
Antimicrobianos
compensação, têm menos efeitos colaterais e podem ser usa-
bacteriostáticos
dos em tratamentos prolongados. Exemplos: macrolídeos,
tetraciclinas, sulfamidas e oxazolidinonas.
Quando dois antimicrobianos são potencializados com a as-
Sinergismo sociação entre eles.
Exemplo: penicilina + aminoglicosídeo.

169
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

Quando a associação de dois antimicrobianos diminui o efei-


Antagonismo to dos dois ou de pelo menos um deles.
Exemplo: penicilina + macrolídeo.
Quando a associação de dois antimicrobianos não interfere
Indiferença no efeito um do outro.
Exemplo: carbapenêmicos + glicopeptídios.
Precisam ficar acima do nível do MIC por muito tempo, mas
não necessariamente com doses altas. São feitas várias doses
Tempo-
durante o dia para manter a concentração sempre acima do
dependentes
MIC de tratamento. Exemplo: cefalosporinas e penicilinas
(betalactâmicos em geral).
Quanto maior a dose atingida, melhor será o desempenho,
Concentração- ainda que esta dose seja obtida apenas uma vez ao dia e não
dependentes fique o tempo todo acima do MIC de tratamento.
Exemplo: aminoglicosídeos.
FONTE: Adaptado de Brunton et al. (2019) e Ritterm et al. (2020)

2 PRINCIPAIS ANTIMICROBIANOS DE USO CLÍNICO


Os betalactâmicos incluem penicilinas (naturais e semissintéticas), cefa-
losporinas (de primeira a quinta geração), carbapenêmicos, monobactâmicos e
associações a inibidores da betalactamase (Tabela 1). Todos os antibióticos be-
talactâmicos agem interferindo na síntese da parede bacteriana e são, no geral,
bactericidas. A resistência aos betalactâmicos pode ser resultado de alterações no
alvo do agente (“proteínas ligadoras de penicilina”), degradação antimicrobiana
pelas betalactamases, ou redução da permeabilidade da membrana bacteriana
externa. O anel betalactâmico é a parte importante na estabilidade desse grupo
e é o local de ação das enzimas que promovem resistência a ele (betalactamases)
(BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020;).

TABELA 1 – ANTIBIÓTICOS BETALACTÂMICOS

Penicilina V
Naturais Penicinila G (Benzilpenicilina): Cristalina,
procaína e benzatina
Oxacilina
Semissintéticas
Meticilina
Penicilinas
Ampicilina
Aminopenicilinas
Amoxicilina
Carbenicilina
Carboxipenicilinas
Ticarcilina
Ureidopenicilinas Piperacilina

170
TÓPICO 3 — NOÇÕES GERAIS SOBRE A AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS

Cefalexina
Cefadroxila
Primeira Geração
Cefalotina
Cefazolina
Cefoxitina
Cefuroxima
Segunda Geração
Cefaclor
Cefalosporinas
Cefmetazol
Cefotaxima
Terceira Geração Ceftriaxona
Ceftazidima (Anti-Pseudomonas)
Quarta Geração Cefepima
Ceftarolina
Não Classificada
Ceftolozana
Imipenem
Meropenem
Carbapenêmicos
Ertapenem
Doripenem
Monobactâmicos Aztreonam
Ácido clavulânico (Associado com Amo-
xicilina)
Sulbactam (Associado com ampicilina)
Inibidores da betalactamase
Avibactam (Associado com Ceftazidima)
Tazobactam (Associado com piperacilina
ou ceftolozana)
FONTE: Adaptado de Brunton et al. (2019) e Ritterm et al. (2020)

2.1 PENICILINAS
O espectro de ação das penicilinas está vinculado a bactérias Gram-positivas
não produtoras de penicilinase, cocos Gram-negativos, anaeróbios e espiroquetas. As
penicilinas naturais incluem a Penicilina V, a Penicilina G e suas variações, sendo a
G amplamente utilizada. A forma cristalina (sódica/potássica), de uso exclusivamen-
te parenteral, possui meia-vida de 30 minutos a 2 horas, sendo indicada para menin-
gite por Streptococcus pneumonie, Neisseria meniingitidis e sífilis (forma neurológica).

Também pode ser utilizada em infecções por certos anaeróbicos e associa-


da a aminoglicosídeos para tratar endocardites. A procaína é de uso intramus-
cular e possui uma meia-vida de 12 horas, sendo utilizada para tratar infecções
de menor gravidade, como faringoamigdalite, erisipela e gonorreia. A Benzatina
(bastante conhecida pelo nome Benzetacil®) é de uso intramuscular com meia-vi-

171
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

da de 21 a 28 dias, sendo utilizada para profilaxia de febre reumática, tratamento


de faringoamigdalite e sífilis (exceto a forma neurológica, visto que não atravessa
a barreia hematoencefálica) (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

Entre as penicilinas semissintéticas, temos a Oxacilina que pertence à famí-


lia das isoxazolilpenicilinas, a qual não apresenta atividade contra anaeróbios. Sua
meia-vida é de 30 a 60 minutos e a eliminação é renal. A principal característica da
droga é a resistência à ação das penicilinases produzidas por Staphylococcus aureus.

As indicações clínicas limitam-se ao tratamento de infecções ocasionadas


por Staphylococcus aureus sensíveis à Oxacilina, independentemente da gravidade
da doença. A Meticilina se enquadra no mesmo grupo, porém, não é utilizada
rotineiramente (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

NOTA

Acadêmico, lembra-se da unidade anterior, na qual mencionamos o Staphylo-


coccus aureus resistente à meticilina (MRSA)?
Releia sobre o tema na unidade anterior, pois esse microrganismo é de grande interesse clínico.

As aminopenicilinas são antimicrobianos bastante conhecidos e ampla-


mente utilizados, sendo elas a ampicilina e a amoxilicina. A ampicilina apre-
senta estabilidade tanto para utilização oral quanto parenteral, sua meia-vida é
de 50 a 60 minutos, com eliminações renal e hepática. É eficaz contra bactérias
aeróbias Gram-positivas, anaeróbias Gram-positivas, algumas aeróbias Gram-ne-
gativas (Escherichia coli, Proteusmirabilis, Haemophilus influenza, Salmonella typhi e
não typhi, e Neisseria meningitidis) e anaeróbias Gram-negativas (Bacteroides spp.,
exceto Bacteroides fragilis e Fusobacterium spp.). É indicada para o tratamento de
infecções de vias aéreas superiores (sinusite, otite, faringoamigdalite), infecções
pulmonares, infecções urinárias, salmoneloses e meningites por Listeria monocyto-
genes e Streptococcus agalactiae (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

A amoxicilina é semelhante a ampicilina, mas com absorção oral mais efe-


tiva, levando à permanência de concentrações séricas 2 vezes maiores. A meia-vi-
da é de 1 hora e a concentração da droga no líquor é muito variável naqueles com
meningite, não sendo indicada para esse caso. Sua única apresentação é oral. Em
comparação com a ampicilina, apresenta maior ação contra infecções por Haemo-
philus sp. As indicações terapêuticas incluem o tratamento do Helicobacter pylori
(droga adjuvante) e da doença de Lyme. A amoxicilina é a aminopenicilina mais
utilizada para tratamentos pela via oral por ter boa ação contra bactérias da ca-
vidade oral, trato respiratório superior e inferior, seja sozinha ou conjugada com
clavulanato (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

172
TÓPICO 3 — NOÇÕES GERAIS SOBRE A AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS

DICAS

Acadêmico, você sabe o que é a doença de Lyme? A Doença de Lyme é uma


enfermidade infecciosa transmitida por carrapatos de várias espécies, que podem causar le-
sões na pele, no sistema nervoso central e periférico e no coração, além de dores articulares.
Para saber mais, leia: https://www.reumatologia.org.br/noticias/doenca-de-lyme/.

As cefalosporinas fazem parte do grupo dos betalactâmicos, pois sua es-


trutura química compreende esse núcleo no anel cefêmico. Apresentam grande
semelhança de mecanismo de ação, espectro e efeitos adversos. Não devem ser
usadas em endocardites estafilocócicas (baixa penetração na vegetação) e não são
efetivas contra Enterococcus ou S. aureus oxacilina resistentes. Esse grupo de an-
tibióticos age por meio da inibição da síntese da parede celular bacteriana, com
ação bactericida. A excreção da droga é predominantemente renal. São divididas
em 4 gerações, discutidas a seguir (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

As de primeira geração são indicadas para o tratamento das infecções por


Staphylococcus aureus meticilina sensível (abscessos cutâneos, foliculite, celulite),
determinados Streptococcus sp. (erisipela) e alguns bacilos Gram-negativos entéri-
cos (Escherichia coli, Klebsiella spp. e Proteus mirabilis). Entre as bactérias Gram-po-
sitivas, as cefalosporinas (de todas as gerações) não apresentam atividade contra
MRSA (a não ser por uma cefalosporina nova, a ceftarolina), Enterococcus sp.,
cepas de Pneumococo totalmente resistentes a penicilina e Listeria monocytogenes.
São utilizadas, habitualmente, na antibioticoprofilaxia cirúrgica e podem ser usa-
das durante a gestação (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020)

As cefalosporinas de segunda geração apresentam maior ação contra as cefa-


losporinases (betalactamases). Apresentam ação, também, contra bactérias anaeróbias
Gram-positivas (semelhante à cefalosporina de primeira geração), cocos Gram-nega-
tivos, Haemophilus e enterobactérias. Pseudomonas aeruginosa não é sensível ao uso das
cefalosporinas de segunda geração (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

As cefalosporinas de terceira geração têm maior resistência às betalacta-


mases e podem ser utilizadas no tratamento de infecções no sistema nervoso cen-
tral, como meningites. Importante destacar que as cefalosporinas dessa geração
não possuem boa atividade contra a Pseudomonas (utilizar de terceira geração)
(BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

As de terceira geração apresenta atividade contra cocos Gram-positivos infe-


rior às cefalosporinas de primeira geração, bem como baixa atividade contra o pneu-
mococo. A ceftazidima deve ser reservada para infecções por Pseudomonas aeruginosa,

173
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

como pneumonias, pielonefrites, meningoencefalites e osteomielites. Deve-se obser-


var o perfil de sensibilidade, uma vez que o surgimento de cepas resistentes de Pseu-
domonas sp. é bastante comum (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

As cefalosporinas de quarta geração foram desenvolvidas com o intuito de


conservar a boa atuação contra bacilos Gram-negativos (incluindo a P. aeruginosa) e
ampliar o espectro na tentativa de recuperação da atividade contra bactérias Gram-po-
sitivas, em especial o Staphylococcus sp. (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

As cefalosporinas não classificadas são a Ceftarolina e a Ceftolozana e possuem


como principal vantagem (adicionalmente as de quarta geração) a cobertura para Gram-
-positivos meticilina resistentes, principalmente o estafilococo (MRSA) – nenhuma cefa-
losporina mantinha essa capacidade (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

Os betalactâmicos inibidores de betalactamase apresentam atividade an-


tibacteriana mínima, mas são potentes. Além disso, são associados às penicilinas
para obter espectro antimicrobiano mais amplo (incluindo anaeróbios) e atuam
melhor nas enzimas codificadas por plasmídeos, apresentando pouca atividade
contra Pseudomonas aeruginosa, diversas enterobactérias, Staphylococcus epidermi-
dis e MRSA (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

Os carbapenêmicos são os antibióticos de espectro mais abrangente, com


estrutura química semelhante à penicilina e substituição no anel tiazolidínico do
ácido 6-aminopenicilânico do enxofre por carbono, com presença de dupla-ligação.
O mecanismo de resistência contra carbapenêmicos envolve a produção de car-
bapenemases, principalmente por enterobactérias como Klebsiella sp. Além disso,
há resistência por meio da produção de metalobetalactamases, principalmente para
Pseudomonas sp. e Acinetobacter sp. (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

DICAS

Acadêmico, você já deve ter ouvido falar da bactéria KPC (Klebsiella pneumoniae
carbapenemase), certo? A Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemases, popularmente
conhecida como KPC, é uma bactéria restrita ao ambiente hospitalar, cuja característica é a
produção de uma enzima betalactamase denominada carbapenemase, que tem a proprieda-
de de inibir a ação dos antibióticos carbapenêmicos (imipenem, meropenem e ertapenem),
dificultando ou reduzindo as opções terapêuticas disponíveis. Para entender mais sobre essa
superbactéria e as medidas de contenção a infecções hospitalares por ela, leia o texto:

Prevenção e Controle de Infecção causada pela Klebsiella Pneumoniae resistente aos


carbapenêmicos (KPC)

Disponível em: https://bit.ly/3vMT64i

174
TÓPICO 3 — NOÇÕES GERAIS SOBRE A AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS

2.2 AMINOGLICOSÍDEOS
Os aminoglicosídeos se ligam ao ribossomo bacteriano, inibindo irreversi-
velmente a síntese proteica e são, em geral, indicados ao tratamento de enterobac-
térias, bacilos Gram-negativos (observar padrão de sensibilidade) e terapêutica
combinada no tratamento de endocardites ou outras infecções graves por cocos
Gram-positivos – situações em que não se pode usar dose única diária.

Os efeitos adversos incluem nefrotoxicidade e ototoxicidade, principalmen-


te afetando a função vestibular. Podem causar bloqueio neuromuscular e miopatias
em pessoas com miastenia, ou que estão em uso de bloqueadores neuromuscula-
res. Deve-se ter atenção à função renal durante o uso, normalmente a insuficiência
renal associada a aminoglicosídeos aparece após uma semana de utilização da me-
dicação e é não oligúrica (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

Têm ótima ação para potencializar efeito de outros antimicrobianos (si-


nergismo), especialmente de betalactâmicos. E em produtores de carbapenema-
ses pode ser a única droga sensível. Por exemplo: KPC resistente também à poli-
mixina (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

TABELA 2 – PRINCIPAIS AMINOGLICOSÍDEOS DE USO CLÍNICO

Usada no tratamento da tuberculose (casos resistentes), bru-


celose, peste e tularemia. É frequentemente usada com penici-
Estreptomicina
linas para potencializar a primeira classe em infecções graves
por enterococos.
É utilizada, principalmente, para o tratamento da encefalopa-
Neomicina
tia hepática. Apresenta menor nefrotoxicidade.
Usada em infecções graves por enterobactérias e bacilos Gram-
Amicacina
-negativos.
Gentaminica As indicações são semelhantes às do uso da amicacina.
FONTE: Adaptado de Brunton et al. (2019) e Ritterm et al. (2020)

2.3 MACROLÍDEOS
Os macrolídeos atuam na inibição da síntese proteica, impedindo a fixação
do RNA transportador ao ribossomo e bloqueando a disponibilidade de aminoáci-
dos. Podem apresentar atividade bactericida ou bacteriostática. Os efeitos adversos
incluem náuseas, diarreia, dor abdominal, dispepsia e tonturas. Os dois macro-
lídeos mais amplamente utilizados atualmente são a azitromicina, que apresenta
melhor posologia, e a claritromicina (BRUNTON et al. 2019; RITTERM et al., 2020).

175
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

E
IMPORTANT

Acadêmico, você sabe a diferença entre bactericida e bacteriostático?


Bactericida tem a capacidade de lesionar a célula bacteriana, levando à morte; o compos-
to bacteriostático tem a capacidade de impedir ou intervir no seu crescimento/reprodu-
ção sem causar sua morte diretamente.

TABELA 3 – PRINCIPAIS MACROLÍDEOS DE USO CLÍNICO

Considerada a droga de escolha em casos pacientes com hiper-


sensibilidade as penicilinas. Tem espectro contra gram positi-
vas, cocos gram negativos, bactérias sem parede celular e al-
Eritromicina
guns anaeróbios. Os bacilos Gram negativos são naturalmente
resistentes à eritromicina. Ocorre resistência cruzada com ou-
tros macrolídeos e lincosaminas.
Macrolídeo semissintético derivado da eritromicina, apresenta
atividade contra Streptococcus (incluindo o pneumococo) e Sta-
phylococcus cerca de 4 vezes maior do que a eritromicina. Também
Claritromicina apresenta atividade contra Haemophilusinfluenzae, Haemophilus-
ducreyi, Mycobacterium leprae, Mycobacterium avium-intracellu-
lare e Toxoplasma gondii. As indicações clínicas principais incluem
faringites, amigdalites, otites e sinusites purulentas.
Macrolídeo, também derivado da eritromicina, apresenta me-
lhor atividade contra bactérias Gram negativas, porém tem
menor eficácia contra cocos e bacilos Gram positivos. Bacilos
Gram negativos, como Klebsiella, Proteus, Citrobacter, Enterobac-
ter, Serratia e Pseudomonas, são, naturalmente, resistentes à ação
Azitromicina da azitromicina, que pode ser utilizada para o tratamento de
infecções respiratórias agudas (otites, sinusites, pneumonias),
uretrites e cervicites ocasionadas pela Chlamydiatrachomatis,
cancro mole (H. ducreyi) e doença de Lyme (Borrelia burgdor-
feri).É o antimicrobiano de escolha para o tratamento de infec-
ções respiratórias agudas, como otites, sinusites e pneumonias;
A apresentação da droga é via oral. As indicações incluem infec-
Roxitromicina ções respiratórias altas e baixas (faringite, otite, sinusite, amigda-
lite e bronquite), uretrites não gonocócicas e piodermites.

FONTE: Adaptado de Brunton et al. (2019) e Ritterm et al. (2020)

176
TÓPICO 3 — NOÇÕES GERAIS SOBRE A AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS

2.4 QUILONONAS
São derivadas do composto quinoleína, substância presente em vários al-
caloides e drogas antimaláricas sintéticas. Apresentam ação bactericida, agindo por
inibição da DNA-girase. As quinolonas podem levar a náuseas, vômitos, dispepsia e
outros efeitos gastrintestinais, também é descrito aumento de transaminases. Com-
preende 3 gerações, a primeira é representada pelo ácido nalidíxico que possui ação
bactericida contra bactérias Gram-negativas, entretanto não tem atividade contra
Pseudomonas aeruginosa. A concentração em vias urinárias é elevada, contrastando
com a reduzida concentração tissular. A apresentação da droga é oral e sua concen-
tração liquórica é baixa, portanto, inadequada para o tratamento de meningoencefa-
lites. A principal indicação é o tratamento de infecções urinárias baixas por entero-
bactérias do trato urinário. É pouco utilizada atualmente devido à grande resistência
e ao uso a cada 6 horas (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

E
IMPORTANT

Conhecer o espetro de ação dos antimicrobianos, bem como os casos de resis-


tência intrínseca, é fundamentar na realização dos Testes de Susceptibilidade à Antimicrobia-
nos. Tenha cuidado na escolha dos antimicrobianos e evite gastos desnecessários na técnica.

A segunda geração de quinolonas são ativas contra Pseudomonas aeruginosa,


o que não acontece na de primeira geração. O Norfloxacino é o principal represen-
tante e é disponibilizado somente para uso oral, apresentando baixa taxa de absorção
e, consequentemente, nível sérico insuficiente para infecções sistêmicas. Entretanto,
tem excelente concentração em vias urinárias, justificando seu uso em infecções uri-
nárias baixas. A excreção da droga é renal, com espectro de ação incluindo grande
parte dos bacilos Gram-negativos entéricos (Escherichia coli, Klebsiella spp., Salmonella
spp., Shigella spp., Proteusspp., Enterobacter spp., Yersinia spp., Morganella spp. e Citro-
bacter spp.), Haemophilus spp., Neisseria spp. e Pseudomonas spp. As indicações clíni-
cas incluem infecções urinárias baixas, profilaxia de infecções urinárias recidivantes,
prostatites nas quais o agente etiológico seja a Escherichia coli e uretrite/cervicite por
Neisseria gonorrhoeae (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

As quinolonas de terceira geração têm um espectro de ação contra ente-


robactérias, Staphylococcus sp., Neisseria spp. e Pseudomonas aeruginosa, possuindo
atividade pouco eficaz contra S. pneumoniae. Têm pouca penetração no trato res-
piratório baixo e, por isso, não devem ser usadas no tratamento de pneumonia
adquirida na comunidade isoladamente. A administração da droga pode ser feita
por via oral ou parenteral e a eliminação é predominantemente renal. Os princi-
pais representantes são o Ciprofloxacino e o Ofloxacino. O Ciprofloxacino pode
ser utilizado no tratamento de infecções por enterobactérias, Staphylococcus, Neis-

177
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

seria spp. e Pseudomonas aeruginosa. As principais indicações incluem infecções uri-


nárias altas e baixas, salmoneloses (incluindo febre tifoide), shigeloses, osteomie-
lites, infecções das vias biliares e respiratórias (Haemophilus e enterobactérias). O
reservado atualmente apenas para tratamento de M. tuberculosis pelo Ministério
da Saúde (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

Mas alguns de vocês podem se perguntar? Mas quinolonas não são utili-
zadas em infecções respiratórias? A resposta é sim! Nesse caso temos as quinolo-
nas respiratórias. São elas: Levofloxacino, Moxifloxacino e o Gemifloxacino. Con-
siderando a primeira, que é a mais comum entre todas, o espectro de ação inclui
patógenos Gram-positivos (Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Sta-
phylococcus aureus e Enterococcus faecalis), Gram-negativos (Haemophilusinfluenzae,
Moraxellacatarrhalis, Escherichia coli, Salmonella spp., Shigella spp., Yersiniaenteroco-
litica) e agentes como Legionella pneumophila, Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia
spp. O levofloxacino está indicado, preferencialmente, nas infecções respiratórias
(alta e baixa), uma vez que a concentração tecidual, principalmente nas primeiras
24 horas, é considerada bastante satisfatória, além da sensibilidade da maioria dos
patógenos. Outras indicações incluem infecções do trato urinário, gastrintestinal e
de partes moles. Não devem ser utilizadas para o tratamento de meningites bacte-
rianas (baixa concentração no líquor) (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

2.5 SULFONAMIDAS
Os principais agentes utilizados na prática médica são a sulfadiazina e a
associação do sulfametoxazol (SMX) a uma diaminopirimidina, ou a trimetoprima
(TMP). As sulfas são ferramentas importantes no tratamento de doenças oportu-
nistas ou em pacientes imunodeprimidos, considerando o SMX. O espectro de ação
engloba cocos Gram-positivos (sensibilidade variável), fungos como Pneumocystis
jirovecii, protozoários como Isospora belli, micobactérias como Mycobacterium kansa-
sii, Mycobacterium marinum e Mycobacterium scrofulaceume espécies como Nocardia
asteroides. O SMX-TMP é a medicação de escolha para pneumocistose, isosporíase
e nocardiose. Habitualmente, é utilizado para infecções urinárias (baixas) não com-
plicadas por agentes sensíveis, donovanose, legionelose, salmonelose, doença de
Whipple (terapia combinada), alternativa para toxoplasmose e infecções por Steno-
trophomonas maltophilia. O SMX em associação com TMP pode ser ainda opção para
tratamento de infecções por Staphylococcus MRSA, desde que devidamente identifi-
cada sensibilidade em cultura (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

2.6 GLICOPEPTÍDIOS
Os glicopeptídios são agentes bactericidas que atuam inibindo a síntese
e o agrupamento do peptidoglicano da parede celular e alterando a permeabili-
dade da membrana citoplasmática e a síntese do RNA. Entre as principais dro-
gas da classe de glicopeptídios, destacam-se a vancomicina e a teicoplanina. Em
relação à vancomicina, as principais indicações clínicas envolvem infecções por

178
TÓPICO 3 — NOÇÕES GERAIS SOBRE A AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS

agentes etiológicos, como o MRSA, Enterococcus resistente à ampicilina, pneumo-


coco resistente à penicilina, Clostridium difficile (colite induzida por uso de antimi-
crobianos) e Staphylococcus epidermidis (principalmente naqueles com dispositivos
intravasculares, próteses e imunossuprimidos).

A associação a aminoglicosídeos (gentamicina/estreptomicina) no tratamento


de infecções por Enterococcus é utilizada para o tratamento em casos graves. A admi-
nistração da vancomicina é realizada por via intravenosa, reservando-se a via oral, ex-
clusivamente, aos casos de colite por C. difficile. Atravessa a barreira hematoencefálica
somente em meninges inflamatórias (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

A teicoplamina tem mecanismo de ação, espectro e a eliminação semelhan-


tes aos da vancomicina. Possui meia-vida mais longa e pode utilizar dose única
diária intramuscular. As indicações são semelhantes às da vancomicina, com possi-
bilidade de administração ambulatorial por ser dose única diária em apresentações
intravenosa e intramuscular, e alternativa terapêutica para reações de hipersensibi-
lidade à vancomicina. Não há passagem da droga pela barreira hematoencefálica,
mesmo em meninges inflamadas (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

E
IMPORTANT

Clinicamente, o uso da Vancomicina é muito importante, principalmente con-


tra MRSA e na colite pseudomembranosa. Lembre-se que o uso é exclusivamente hospi-
talar. Existem relatos de resistências intermediarias e totais contra a Vancomicina, por sorte
são casos relativamente raros. Pesquise mais sobre as cepas VISA e VRSA.

2.7 LICOSAMIDAS
As lincosamidas (lincomicina/clindamicina) são medicações com algu-
mas similaridades com os macrolídeos. Atualmente, a clindamicina é a única
medicação utilizada da classe e inibe a síntese proteica por intermédio da ligação
com a subunidade 50S ribossomal (efeito bacteriostático). Apresenta espectro de
ação contra bactérias aeróbias Gram-positivas e bactérias anaeróbias. As indica-
ções clínicas incluem infecções comunitárias por Staphylococcus aureus (celulite,
furunculose etc.), infecções de cavidade oral, osteomielite, infecções por bactérias
anaeróbias (exceto Clostridium difficile) e alternativa ao tratamento de toxoplas-
mose e pneumocistose. Além disso, é ótima opção para cobertura de estafilococos
sensíveis à meticilina e, por vezes, MRSA. Seu principal efeito colateral é o risco
de colite pseudomembranosa (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

179
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

2.8 CLORANFENICOL
O Cloranfenicol inibe a síntese de proteínas devido ao bloqueio específico
dos ribossomas bacterianos, na subunidade 50S. É um dos antimicrobianos com
maior espectro entre os demais, que inclui bactérias Gram-positivas aeróbias, como
Streptococcus (pneumococo, Enterococcus, grupo viridans), Staphylococcus aureus (me-
ticilinossensível) e epidermidis, Listeriamonocytogenes e Corynebacteriumdiphtheriae.

Bactérias Gram-negativas, como Haemophilusinfluenzae, Salmonella, Shi-


gellaspp., Escherichia coli, Proteusmirabilis, Citrobacter spp. e Klebsiella spp., tam-
bém apresentam sensibilidade. O cloranfenicol possui atividade contra anaeró-
bios, como Clostridium e Bacteroides fragilis, e outros patógenos, como Chlamydia,
Mycoplasma, Rickettsia e Bartonella (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

Alguns microrganismos, como Pseudomonas aeruginosa, Serratia marcescens,


Providencia spp. e Proteus rettgeri, são naturalmente resistentes, enquanto algumas
enterobactérias, como Haemophilus, Streptococcus, Staphylococcus e Bacteroides fra-
gilis, desenvolvem resistência secundária à droga. A utilização do cloranfenicol
é restrita a determinadas situações específicas, como abscesso cerebral (excelente
penetração liquórica e atividade contra anaeróbios), salmonelose e meningite por
Haemophilus em crianças. É eficaz no tratamento de rickettsioses (febre Q, febre
maculosa, tifo epidêmico), bartoneloses e infecções por anaeróbios, como Bacte-
roidesfragilis (apendicite, pelviperitonite, aborto séptico, perfuração de vísceras,
abscessos) (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

E
IMPORTANT

O cloranfenicol tem efeito adverso bastante desatacado na literatura, apesar de


raro. A aplasia de medula óssea ocorre em um a cada 60 mil pacientes. Como atravessa a
placenta e é encontrado no leite, seu uso deve ser evitado em gestantes e lactantes.

2.9 TETRACICLINAS
As tetraciclinas são antimicrobianos caracterizados pela presença do anel
tetracíclico em sua estrutura molecular e apresentam ação bacteriostática, pois
agem inibindo a síntese proteica bacteriana. Ligam-se, de maneira reversível, a por-
ção 30S do ribossomo, bloqueando a ligação do RNA transportador e impedindo
a síntese proteica. As principais são a tetraciclina, a oxitetraciclina (ação curta) e a
doxiciclina (ação longa). Na prática clínica, utilizam-se, em nosso meio, a tetraci-
clina e a doxiciclina, respectivamente, tetraciclinas de ação curta e longa, que serão
discutidas conjuntamente (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

180
TÓPICO 3 — NOÇÕES GERAIS SOBRE A AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS

O espectro de ação inclui diversas bactérias aeróbias e anaeróbias, porém o


surgimento de resistência e toxicidade determinaram muitas restrições com relação
às indicações clínicas, constituindo alternativa terapêutica para muitas infecções.
As indicações incluem doença de Lyme (Borrelia burgdorferi), brucelose (terapia
combinada), granuloma inguinal (Calymmatobacterium granulomatis), infecções por
Chlamydia trachomatis (linfogranuloma venéreo, tracoma), Chlamydophila pneumoniae
(pneumonias), Helicobacter pylori, doença inflamatória pélvica aguda, rickettsioses,
espiroquetas (leptospirose e sífilis) e cólera. Os efeitos adversos gastrintestinais são
comuns, como dispepsia, náuseas e vômitos. É possível ocorrer pancreatite, assim
como retardo no desenvolvimento ósseo e escurecimento dentário de crianças (Fi-
gura 12), podendo ser associados à hipoplasia do esmalte, e, por isso, a administra-
ção é desaconselhada a menores de 8 anos. É possível haver interferência na ação
renal do hormônio antidiurético (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

FIGURA 12 – MANCHAS DENTÁRIAS CAUSADAS PELA TETRACICLINA

FONTE: <https://bit.ly/3vO912D>. Acesso em: 7 abr. 2021

2.10 IMIDAZÓLICOS
O principal é o metronidazol, derivado do 5-nitroimidazólico, cujo me-
canismo de ação é a inibição da replicação do DNA. É ativo contra a maioria dos
anaeróbios Gram-negativos, incluindo bacteroides e espécies de Clostridium sp.
Também é ativo contra protozoários e parasitas, como Trichomonas vaginalis, Giar-
dia lamblia e Entamoeba histolytica.

As indicações clínicas abrangem perfuração intestinal, peritonites e pel-


viperitonites, apendicite perfurada, aborto séptico, abscessos (hepático, cerebral
etc.) e colite pseudomembranosa. O metronidazol também pode ser utilizado no
tratamento combinado da úlcera por Helicobacter pylori e é o tratamento preferido
para colite pseudomembranosa (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

181
UNIDADE 3 — MICOBACTÉRIAS, ANTIBIÓTICOS E TESTES DE SUSCETIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

2.11 POLIMIXINAS
As polimixinas são antimicrobianos polipeptídios com mecanismo de ação
distinto dos demais antimicrobianos utilizados atualmente. Dessa forma, a possibili-
dade de resistência cruzada com outros antimicrobianos é muito remota, permitindo
que as polimixinas sejam ativas contra muitas espécies de bactérias multirresistentes.
As polimixinas interagem com a molécula de polissacarídeo da membrana externa
das bactérias Gram-negativas, retirando cálcio e magnésio, necessários para a esta-
bilidade da molécula de polissacarídeo. Esse processo é independente da entrada
do antimicrobiano na célula bacteriana e resulta no aumento da permeabilidade da
membrana, com rápida perda do conteúdo celular e morte da bactéria. Os dois re-
presentantes dessa classe são a Colistina e a Polimixina B. O uso desses antibióticos é
restrito e deve ser avaliado o custo-benefício, uma vez que a nefrotoxicicidade é um
efeito colateral importante (RITTERM et al., 2020; BRUNTON et al., 2019).

2.12 OXAZOLIDINONAS
As oxazolidinonas compreendem uma nova classe de drogas lançada no
mercado brasileiro em 2000 como opção aos glicopeptídios para tratamento de infec-
ções causadas por cocos Gram-positivos resistentes à vancomicina. O único represen-
tante dessa classe é a linezolida. A linezolida age por intermédio da inibição da sín-
tese proteica por se fixar na subunidade 50S do ribossomo. É bacteriostática contra
a maioria dos microrganismos sensíveis, e o espectro de ação abrange Staphylococcus
aureus (mesmo resistentes à meticilina), Staphylococcus coagulase negativo, Streptococ-
cus pneumoniae, Enterococcus faecium e Enterococcus faecalis. Não há ação contra a maio-
ria dos patógenos Gram-negativos (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

2.13 ESTREPTOGRAMINAS
As estreptograminas incluem a combinação quinupristina e dalfopristina, as
quais realizam a inibição da síntese proteica por meio da ação sobre o ribossomo e
são bacteriostáticas isoladamente. In vitro, a associação é sinérgica e bactericida. O
espectro de ação dessa associação inclui Enterococcus faecium (inclusive os resisten-
tes à vancomicina), Staphylococcus spp. e Streptococcus pneumoniae, portanto, infecções
por cocos Gram-positivos. É importante salientar que não possui boa atividade con-
tra Enterococcus faecalis. É considerada uma alternativa terapêutica contra infecções
por agentes sensíveis em pacientes com intolerância a outras drogas, ou por agentes
resistentes a glicopeptídios e penicilina (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

2.14 GLICILCICLINAS
A tigeciclina é a única representante da classe das glicilciclinas, que é
derivada da minociclina. Seu espectro de ação é contra Gram-positivos em ge-
ral (incluindo MRSA e Enterococcus multirresistentes); Gram-negativos em geral

182
TÓPICO 3 — NOÇÕES GERAIS SOBRE A AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS

(incluindo KPC e Acinetobacter multirresistente); Mycoplasma pneumoniae e, ainda,


anaeróbios como Bacteroidesfragilis e Peptostreptococcus, mas não tem ação contra
Pseudomonas sp. (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

2.15 LIPOPEPTÍDEOS TRICÍCLICOS


Esta nova classe de antibióticos apresenta apenas um representante, a dap-
tomicina. É efetiva no tratamento de bactérias Gram-positivas, inclusive MRSAs e
Enterococcus resistentes à vancomicina. É aprovada para o uso em endocardites por
S. aureus de câmaras cardíacas direitas e a única razão disso é que foi estudada ini-
cialmente nessa população, mas off label é utilizada para endocardites causadas por
Gram-positivos em geral (BRUNTON et al., 2019; RITTERM et al., 2020).

NOTA

O uso off label refere-se ao uso de drogas farmacêuticas que não seguem as
indicações homologadas para aquele fármaco. Ou seja, apresentam uma prescrição, mas
são utilizadas em outra.

DICAS

Leia o artigo:

CONSUMO DE ANTIMICROBIANOS E O IMPACTO NA RESISTÊNCIA BACTERIANA EM


UM HOSPITAL PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, BRASIL, DE 2012 A 2016

Disponível em: https://bit.ly/3vKy8mN

183
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O profissional biomédico deve ter um bom conhecimento em relação aos an-


timicrobianos, pois a realização dos testes de susceptibilidade são fundamen-
tais para orientar a prescrição do clínico.

• Compreender a farmacocinética e a farmacodinâmica são os pontos iniciais


para diferenciar as diferentes classes de antimicrobianos.

• As penicilinas naturais incluem a Penicilina V e a Penicilina G e suas varia-


ções, sendo a G a mais utilizada.

• A Oxacilina que pertencente à família das isoxazolilpenicilinas, não apresenta


atividade contra anaeróbios.

• As aminopenicilinas são antimicrobianos bastante conhecidos e amplamente


utilizados, sendo elas a ampicilina e a amoxilicina.

• As cefalosporinas fazem parte do grupo dos betalactâmicos, pois sua estrutura


química compreende esse núcleo no anel cefêmico. São divididas em 4 gerações.

• As cefalosporinas não classificadas são a Ceftarolina e a Ceftolozana e possuem


como principal vantagem a cobertura para Gram-positivos meticilinorresistentes.

• Os betalactâmicos inibidores de betalactamase apresentam atividade antibac-


teriana mínima, mas são potentes.

• Os aminoglicosídeos ligam-se ao ribossomo bacteriano, inibindo reversivel-


mente a síntese proteica e são, em geral, indicados ao tratamento de entero-
bactérias, bacilos Gram-negativos.

• Os macrolídeos atuam na inibição da síntese proteica, impedindo a fixação do


RNA transportador ao ribossomo e bloqueando a disponibilidade de aminoácidos.

• As quinolonas respiratórias. São elas: Levofloxacino, Moxifloxacino e o Ge-


mifloxacino.

• As sulfas são ferramentas importantes no tratamento de doenças oportunistas


ou em pacientes imunodeprimidos.

• Entre as principais drogas da classe de glicopeptídios, destacam-se a vanco-


micina e a teicoplanina.

184
• As lincosamidas (lincomicina/clindamicina) são medicações com algumas si-
milaridades com os macrolídeos.

• Cloranfenicol é um dos antimicrobianos com maior espectro entre os demais,


que inclui bactérias Gram positivas aeróbias e Gram negativos.

• As tetraciclinas são antimicrobianos caracterizados pela presença do anel te-


tracíclico em sua estrutura molecular e apresentam ação bacteriostática, pois
agem inibindo a síntese proteica bacteriana.

• Para finalizar, conhecer o espetro de ação dos antimicrobianos bem como os


casos de resistência intrínseca é fundamentar na realização dos Testes de Sus-
ceptibilidade à Antimicrobianos.

CHAMADA

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185
AUTOATIVIDADE

1 (CONSULPLAN, 2017  ) A penicilina foi descoberta em 1928 pelo médi-


co Alexander Fleming e permanece até hoje como uma excelente classe de
antimicrobianos. Das penicilinas naturais descritas a seguir, assinale as que
são de administração exclusivamente intramuscular.

a) ( ) Penicilina G benzatina e penicilina V.


b) ( ) Penicilina V e penicilina cristalina aquosa.
c) ( ) Penicilina G procaína e penicilina G benzatina.
d) ( ) Penicilina cristalina aquosa e penicilina G procaína.

2 (INSTITUTO AOCP-EBSERH, 2015) A Organização Mundial da Saúde


(OMS) reconheceu, nesta quarta-feira, que a resistência a antibióticos dei-
xou de ser uma ameaça e se tornou uma realidade na saúde pública global.
A afirmação está em um novo relatório, o primeiro elaborado pela entidade
sobre a escala mundial do problema. Segundo a OMS, a resistência a anti-
bióticos acontece “em cada região do mundo e afeta a todos, independente-
mente da idade ou país de origem”.
(https://bit.ly/3h2Oymi)

Com relação à temática da resistência bacteriana aos antibióticos, assinale a


alternativa correta.

a) ( ) Os antibióticos podem ser considerados um dos pilares da saúde mun-


dial e uma forma de fazer com que as pessoas vivam saudáveis por
mais tempo. Porém, o uso inapropriado desses medicamentos os tor-
nou praticamente ineficazes em alguns casos.
b) ( ) O mundo caminha para uma era pós-antibiótico na qual infecções cor-
rentes e feridas menores poderão ser curadas com facilidade, sem in-
correr em risco de morte, restando aos profissionais e autoridades de
saúde a preocupação com as superinfecções.
c) ( ) A resistência aos antibióticos está relacionada à utilização de antibióticos ina-
dequados para cada infecção e não ao tempo de uso de tal medicamento.
d) ( ) O acompanhamento e a vigilância de casos envolvendo superbactérias
tem se mostrado instrumentos eficientes no controle das infecções, dis-
pensando quaisquer outras medidas mais dispendiosas.
e) ( ) A bactéria Staphylococcus epidermidis, encontrada na pele e responsável
principalmente por Infecções de pele, foi a primeira a apresentar resis-
tência à penicilina, em 1950.

186
REFERÊNCIAS
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