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Por mais de um milênio o direito tinha como fonte o príncipe e a Igreja. Defendeu-se a vitória
da razão sobre a fé cega.
Depois de dois milênios, em trinta anos, só o Brasil criou 5,9 milhões de normas1.
Conforme António Manuel Hespanha, em sua magnífica obra “Cultura Jurídica Europeia –
Síntese de um Milênio”2 em Portugal foi encontrado registro de 400 leis.
Enquanto não nos perguntarmos seriamente a quem isso serve, que é o Príncipe que lucra com
tantas normas, continuaremos a nos debater em vão.
O sistema jurídico vigente prevê regras de hierarquia e intepretação. Porém, para que elas
sejam eficaz mente aplicadas, o operador do direito teria que conhecer todas as normas
vigentes. Pergunto, quem conseguirá?
Certamente surgirá um cientista de TI que irá dizer, aí entra a Inteligência Artificial. Negativo.
Quem está contente e quem realmente acredita que nosso Legislativo exerce seu papel de
forma democrática, republicada e racional? Mal eles conseguem dar conta de suas brigas
políticas, quiçá debater temas sérios em tempo necessário para maturação de um tema para
que ele vire uma lei.
Quantos Juízes, descontes com a ordem vigente, criam lei através de seus julgados, utilizando-
se de sua criatividade e sob o argumento do livre convencimento. Se fosse livre convencimento
estava bom. Vemos na prática sentenças repetidas, cópia e cola.
1
https://ibpt.com.br/quantidade-de-normas-editadas-no-brasil-30-anos-da-constituicao-federal-de-
1988/
2
Página 184-208. Editora Almedina. Coimbra. 1945. Edição de 2020.
A advocacia (pública e privada) não fica atrás. A maioria transformou-se em escravo do cliente
e das grandes causas para poder sobreviver e faturar.
O ministério público, que deveria ser o fiscal da lei, transformou-se em carrasco cujo chicote é
a lei. É rato ver uma requisição de extinção do processo em face do digníssimo promotor
convencer-se de que o acusado é inocente.
De antemão, defendo-me para que ninguém se sinta ofendido. Não estou a acusar qualquer
um dos profissionais que lidam com o direito. Estou apenas colocando-nos a todos a refletir.
Será que estamos realmente ajudando a sociedade a progredir?
Não se questiona mais o direito. O que se vê de forma colossal é o uso do direito para fins
próprios. É o Estado que usa o direito para arrecadar. O contribuinte que quer que as leis
sirvam aos seus fins empresariais e assim vai.
Há uma legitimidade em que cada um queira um direito para si. Mas, quando vivemos em
sociedade o interesse individual (incluindo aqui o direito individual do Estado) tem que
convergir com o social.
Volto a perguntar, evoluímos? Ou criamos um monstro que ninguém mais consegue controlar?
Diante de todo esse cenário de excesso de normas, o Judiciário tem sido chamado a resolver as
controvérsias que surgem diante de tantas normas, tal como está previsto no sistema
desenhado na Constituição Federal.
O problema está posto, diante de tantas normas jurídicas agravou-se um problema que se
queria evitar com o princípio da legalidade, a insegurança jurídica.
Hoje a insegurança jurídica é um dos problemas, senão o maior deles, que aflige toda a
sociedade.
O empresário teme empreender pois não sabe qual leis estará infringindo e em que momento
será punido.
O funcionário público (utilizei esses termos para ser o mais abrangente possível, incluindo
presidente, juízes, policiais etc.) teme ser punido pois também não sabe qual lei infringirá ao
agir. Em um dia o policial pode prender, no outro não pode. E lei diz uma coisa, o juiz diz outra.
Assim, para ser o máximo abrangente, tanto os atores públicos como privados estão inseguros
para agir.
Se parar para refletir ainda vivemos o grande leviatã de Hobbes, viemos a guerra de todos
contra todos.
Será que essa moda de que para tudo criamos uma Lei que criminaliza, que pune, conforme a
dor de um ou outro grupo está correta?
Será que o problema do Brasil se resolve com criarmos mais leis? Será que ao final não
precisamos mais é de Educação e Psicólogo?