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Excesso de Leis, Judiciário e Racionalidade

Onde está a razão?

Lutamos por séculos para combater o misticismo, a ignorância os preconceitos e os erros. A


ciência triunfou diante da fé. Será?

Por mais de um milênio o direito tinha como fonte o príncipe e a Igreja. Defendeu-se a vitória
da razão sobre a fé cega.

Pugnou-se pela tripartição dos poderes, Legislativo, Judiciário e Executivo.

A supremacia da Lei, a única rainha soberana na república democrática.

Depois de dois milênios, em trinta anos, só o Brasil criou 5,9 milhões de normas1.

Conforme António Manuel Hespanha, em sua magnífica obra “Cultura Jurídica Europeia –
Síntese de um Milênio”2 em Portugal foi encontrado registro de 400 leis.

É de ficar maluco ou, não é?

Enquanto não nos perguntarmos seriamente a quem isso serve, que é o Príncipe que lucra com
tantas normas, continuaremos a nos debater em vão.

É impossível crer que advogados, promotores, juízes e a população conseguem ou conseguirão


compreender as leis em sua plenitude e de forma Racional.

O sistema jurídico vigente prevê regras de hierarquia e intepretação. Porém, para que elas
sejam eficaz mente aplicadas, o operador do direito teria que conhecer todas as normas
vigentes. Pergunto, quem conseguirá?

Certamente surgirá um cientista de TI que irá dizer, aí entra a Inteligência Artificial. Negativo.

O problema está na raiz. Está na razão, ou na falta dela.

O bom sendo certamente responde a essa questão.

Alguns pontos merecem reflexão.

Quem está contente e quem realmente acredita que nosso Legislativo exerce seu papel de
forma democrática, republicada e racional? Mal eles conseguem dar conta de suas brigas
políticas, quiçá debater temas sérios em tempo necessário para maturação de um tema para
que ele vire uma lei.

Quantas “autoridades” receberam e recebem o poder de legislar e extrapolam esse poder


diariamente, criando normas através de portarias, instruções normativas etc. Tudo para
delegar aquilo que o Legislativo deveria fazer e não faz.

Quantos Juízes, descontes com a ordem vigente, criam lei através de seus julgados, utilizando-
se de sua criatividade e sob o argumento do livre convencimento. Se fosse livre convencimento
estava bom. Vemos na prática sentenças repetidas, cópia e cola.

1
https://ibpt.com.br/quantidade-de-normas-editadas-no-brasil-30-anos-da-constituicao-federal-de-
1988/
2
Página 184-208. Editora Almedina. Coimbra. 1945. Edição de 2020.
A advocacia (pública e privada) não fica atrás. A maioria transformou-se em escravo do cliente
e das grandes causas para poder sobreviver e faturar.

O ministério público, que deveria ser o fiscal da lei, transformou-se em carrasco cujo chicote é
a lei. É rato ver uma requisição de extinção do processo em face do digníssimo promotor
convencer-se de que o acusado é inocente.

De antemão, defendo-me para que ninguém se sinta ofendido. Não estou a acusar qualquer
um dos profissionais que lidam com o direito. Estou apenas colocando-nos a todos a refletir.
Será que estamos realmente ajudando a sociedade a progredir?

Será que perdemos a razão diante do mundo líquido?

Não se questiona mais o direito. O que se vê de forma colossal é o uso do direito para fins
próprios. É o Estado que usa o direito para arrecadar. O contribuinte que quer que as leis
sirvam aos seus fins empresariais e assim vai.

Há uma legitimidade em que cada um queira um direito para si. Mas, quando vivemos em
sociedade o interesse individual (incluindo aqui o direito individual do Estado) tem que
convergir com o social.

Volto a perguntar, evoluímos? Ou criamos um monstro que ninguém mais consegue controlar?

Diante de todo esse cenário de excesso de normas, o Judiciário tem sido chamado a resolver as
controvérsias que surgem diante de tantas normas, tal como está previsto no sistema
desenhado na Constituição Federal.

A questão é, o Judiciário dará conta? Seremos governado e viveremos dependente de uma


decisão judicial para poder viver?

O problema está posto, diante de tantas normas jurídicas agravou-se um problema que se
queria evitar com o princípio da legalidade, a insegurança jurídica.

Hoje a insegurança jurídica é um dos problemas, senão o maior deles, que aflige toda a
sociedade.

O empresário teme empreender pois não sabe qual leis estará infringindo e em que momento
será punido.

O funcionário público (utilizei esses termos para ser o mais abrangente possível, incluindo
presidente, juízes, policiais etc.) teme ser punido pois também não sabe qual lei infringirá ao
agir. Em um dia o policial pode prender, no outro não pode. E lei diz uma coisa, o juiz diz outra.

Assim, para ser o máximo abrangente, tanto os atores públicos como privados estão inseguros
para agir.

Se parar para refletir ainda vivemos o grande leviatã de Hobbes, viemos a guerra de todos
contra todos.

Será que essa moda de que para tudo criamos uma Lei que criminaliza, que pune, conforme a
dor de um ou outro grupo está correta?

Será que o problema do Brasil se resolve com criarmos mais leis? Será que ao final não
precisamos mais é de Educação e Psicólogo?

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