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Ângulo de contato e molhabilidade

• Quando um líquido está em contato com uma superfície sólida e com uma
segunda superfície fluida como o ar, ele assume uma determinada forma,
determinada pelo chamado ângulo de contato.

Ângulo () entre a interface líquido–sólido e a interface líquido-vapor

•  < 90: líquido molha bem a superfície.

•  > 90: líquido não molha bem a superfície.


Ângulo de contato e molhabilidade
• Equação de Young: define um ângulo de contato () de uma gota
macroscópica e estática de líquido sobre um substrato liso e homogêneo.

• Segundo ele, o ângulo depende da atuação de três efeitos competitivos: a


tensão superficial do sólido (SG), a tensão superficial do líquido (LG), e a
tensão interfacial sólido-líquido (SL):
𝛾𝑆𝐺 − 𝛾𝑆𝐿
cos 𝜃 =
𝛾𝐿𝐺
Equação de Young

• Para uma mesma temperatura e pressão, o ângulo de contato de um sistema


será sempre o mesmo (condição de equilíbrio).

• Quanto maior SL: maior o ângulo, menos o líquido molha.

• Quanto maior SG: menor o ângulo, líquido molha mais.

• Quanto maior LG: maior o ângulo, líquido molha menos.


Molhabilidade
Habilidade de um líquido de permanecer em contato com uma superfície sólida
(molhar o sólido).

• Se uma quantidade de líquido é colocada sobre uma superfície sólida (ou sobre
um outro líquido), duas possibilidades podem ocorrer:
1) O líquido se espalha sobre o sólido (ou líquido), formando um filme homogêneo
e contínuo, em que o ângulo de contato é zero;

2) O líquido depositado forma uma ou mais gotas (ou lentes) com ângulo de
contato diferente de zero.

Água molhando vidro (esquerda) e


água sobre vidro com tratamento
hidrofóbico (direita).
Processos de espalhamento
• O espalhamento depende de forças intermoleculares e é determinado por
forças adesivas (através da interface) e coesivas (dentro de cada fase).

Forças adesivas entre o líquido e o sólido causam o espalhamento do líquido


sobre a superfície sólida.
Forças coesivas entre as moléculas do líquido fazem com que a gota se
arredonde, evitando o contato com o sólido.

• O coeficiente de espalhamento pode ser escrito em função da diferença entre


o trabalho de adesão (Wa) e de coesão (Wc):

𝑆𝐿/𝑆 = 𝑊𝑎 − 𝑊𝑐 𝑊𝑎 = 𝐿 + 𝑆 − 𝐿𝑆

𝑆𝐿/𝑆 = 𝛾𝑆 − 𝛾𝐿 − 𝛾𝑆𝐿 𝑊𝑐 = 2𝐿

SL/S > 0 → predomina Wa: espalhamento espontâneo

SL/S < 0 → predomina Wc : formação de gota ou de lente


Processos de espalhamento: complicações
• Até aqui: assumimos valores de tensão superficial e ângulo de contato
constantes.
• Não consideramos: efeito da viscosidade do líquido e de forças externas.

• Variações na tensão superficial: podem ser temporais e locais


• Variações no ângulo de contato: resultam dos gradientes de , de
heterogeneidade química e geométrica (rugosidades) no substrato, além de
histerese.

• Variações em  na interface líquido-vapor (LV):


- pode ocorrer em líquidos puros devido a variações de temperatura, que causam
diferenças locais na taxa de evaporação;

- ou de composição, por exemplo, em misturas de


componentes com diferentes volatilidades, como
álcool e água.

Efeito Marangoni Lágrimas do vinho


Gradientes de tensão superficial
• O aumento na temperatura abaixa a tensão superficial.
• Mudanças na composição também podem criar gradientes de .

• Como a região de alta tensão


superficial puxa mais fortemente
o líquido das regiões vizinhas, o
fluxo de líquido ocorrerá das
regiões de baixa tensão
superficial para as de alta tensão.

Myers, D.
Ângulo de contato: efeito da composição química
• Histerese do ângulo de contato: o ângulo de avanço a fica maior que o de
recuo r.
• Quando a frente do líquido avança, ela tende a ficar retida sobre regiões de
maior ângulo de contato.
• Quando a parte de trás da gota é arrastada, ela tende a ficar retida sobre as
regiões de baixo ângulo de contato.

• Exemplo: gotas de chuva no vidro.

Histerese do ângulo de contato

Myers, D.
Ângulo de contato: efeito da rugosidade do substrato
• Em superfícies quimicamente homogêneas, o ângulo de contato pode ser
alterado pela rugosidade do substrato.
• A extensão da histerese observada em uma escala macroscópica depende da
relação entre o tamanho da rugosidade e o tamanho da amostra de líquido
aplicada.

Myers, D.

• A rugosidade tem a propriedade de acentuar a tendência do ângulo de contato:


- Se  > 90, o líquido tende a não penetrar nos vazios e buracos da superfície,
causando um  aparente maior .
- Se  < 90, o líquido molha melhor a superfície heterogênea.
Medidas de ângulo de contato
• Método mais usado: observação de uma gota estática ou séssil sobre o
substrato utilizando um microscópio óptico ou uma lupa.

Gotas de solução aquosa depositadas


sobre silício

• Cuidados a serem tomados:

- Contaminação no líquido

- Heterogeneidade no sólido: contaminação, substâncias adsorvidas e ondulações.

- Histerese no ângulo de contato em substratos com regiões quimicamente


heterogêneas: ângulo de contato de avanço maior que o de recuo.
Como modificar ângulos de contato
𝛾𝑆𝐺 − 𝛾𝑆𝐿
cos 𝜃 = Equação de Young
𝛾𝐿𝐺

• Alterar a tensão superficial do sólido, a tensão superficial do líquido ou a


tensão interfacial sólido-líquido.

Shaw, D. J.

(a) Uma camada de ácidos graxos adsorvidos sobre o vidro aumentam bastante o
ângulo de contato da água (superfície água-vidro trocada por água - hidrocarboneto).

(b) A molhabilidade de substratos hidrofóbicos aumenta com a presença de


surfactantes.
Como modificar ângulos de contato
𝛾𝑆𝐺 − 𝛾𝑆𝐿
cos 𝜃 = Equação de Young
𝛾𝐿𝐺

• Algodão hidrofílico x hidrofóbico.


Molhabilidade - aplicações
• Molhabilidade: formação de filmes estáveis, sem defeitos, capazes de recobrir
a superfície de forma homogênea:

- Adesão

- Recobrimento

- Pintura

- Lubrificação

Microscopia de força atômica de filmes poliméricos de poli (N-isopropilacrilamida)


secando sobre substratos de mica (Rezende C. A., 2007).
Molhabilidade - aplicações
• Desmolhabilidade: obtenção de filmes instáveis que podem se romper dando
origem a superfícies micro (e nano) estruturadas.

• Aplicações em dispositivos ópticos e fotônicos.


Molhabilidade - aplicações
• Molhabilidade: tingimento, mercerização e branqueamento de tecidos e papel.

Microscopia eletrônica de varredura (MEV)


de amostras de papel de filtro. MEV de tecido de poliéster
(Derler, S. Colloid. Surf. B
108, 2013).

• Solução contendo o corante deve molhar a superfície para garantir uma


coloração homogênea (superfície rugosa).

• Tintas devem molhar o papel e secar sem se espalhar demais.


• Bolhas de ar devem ser removidas para que o acabamento seja bom.
Molhabilidade – aplicações
• Molhabilidade: herbicidas e medicamentos para animais.

• Superfícies que geralmente contém cera ou outras


substâncias hidrofóbicas.

• A incorporação de agentes que promovam molhabilidade


(diminuição de ângulo de contato) é importante.

• Surfactantes aniônicos são os produtos


comerciais mais utilizados como
agentes de molhabilidade.
Molhabilidade - aplicações
• Desmolhabilidade: repelência à água (hidrofobicidade e superhidrofobicidade) e a
outros líquidos.
• Objetivo: tornar o ângulo de contato o maior possível!
• Tecidos podem se tornar repelentes à água por meio de tratamentos com
surfactantes catiônicos de cadeias longas (cloreto de estearamido metil piridina).

• Tratamentos com
silicones e
fluorocarbonos
tornam superfícies
repelentes à óleo.

• Rugosidade

• Ceras em penas de aves e silanização de vidro (troca de grupos OH por Si-CH3).


Molhabilidade - aplicações
• Repelência à água e a outros líquidos (auto-limpantes): efeito da
rugosidade (protuberâncias hidrofóbicas).
• Sistemas biomiméticos para obter superhidrofobicidade (  150 para água):
inspiram-se na natureza (estruturas hierárquicas).
Estruturas com 3–10 m Estruturas com 70–100 nm

Folha de lótus:
 = 162

Folha de arroz:
 = 157
Molhabilidade - aplicações
• Criação de estruturas hierárquicas (micro e nanoestruturadas): reação de
corrosão de metais; auto-organização; deposição eletroquímica, etc.

• Recobrimento da superfície rugosa com material hidrofóbico ou de


baixa tensão superficial.

Deposição galvânica de Inseto feito do mesmo


prata sobre substrato de material
cobre e recobrimento
com HDFT:
 = 173

Z. Guo, W. Liu, B-L. Su. Journal of Colloid and Interface 353, 335-355, 2011.
Molhabilidade - Flotação de partículas minerais
• Minérios são extraídos em misturas de partículas moídas.
• Óleos coletores adicionados em pequena quantidade adsorvem seletivamente nas
partículas minerais, permitindo sua adesão a bolhas de ar.
• Os óleos coletores não adsorvem em silicatos, o que determina que partículas vão
flutuar e quais serão molhadas pela água e irão afundar.

• Para 1t de minério, utiliza-se 3t de água, 50 g de óleo coletor e 50 g de agente


espumante para recuperar 90% do minério presente.

• Pré-tratamento com sulfato de alumínio ou de zinco, que altera o potencial zeta da


partícula, evitando agregação.

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