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Da Natureza das Estruturas

Vitor Amaral Lotufo - 1

DA NATUREZA DAS ESTRUTURAS Vitor Amaral Lotufo


Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 2
Ao largarmos um tijolo dizemos:

Caiu no chão Agora, ao invés de só deixar cair o


tijolo, vamos jogá-lo longe.

Alargamos a órbita.
Mas, também podemos dizer: Quando o tijo- Se a Terra fosse um gás e a força da
lo estava em nossa mão, estava numa órbita gravidade estivesse concentrada em
fixa em relação à Terra. seu centro o tijolo percorreria toda
E quando o largamos, ele percorreria um tre- a órbita, sempre uma elípse.
cho de órbita e estacionaria em outra órbita
junto ao chão. Quanto mais longe, maior a
Jogando o tijolo cada vez mais longe: largura da elipse da órbita.
Até um ponto em que , quan-
do o tijolo começa a cair já
Se a Terra fosse um gás sem não tem Terra embaixo, aí
atrito e a força da gravidade então o tijolo percorrerá uma
estivesse concentrada em seu órbita em volta da Terra,
centro, o tijolo começaria a como um satélite artificial.
cair em direção ao centro da A circunferência é um caso
Terra, cada vez com maior particular da elípse.
velocidade, até contornar o
centro com velocidade máxi-
ma e retornaria depois de um Centro da Terra
tempo à nossa mão, percor-
rendo uma órbita elíptica.
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Um saltimbanco jogando laranjas de uma mão para outra, desenha órbitas elípti-
cas com as laranjas. A mesma idéia do tijolo em órbita pode ser aplicada às nossas cons-
Agora imagine um saltimbanco , tipo “Superman” que consegue jogar tijolos ao truções, elas não caem, prosseguem uma determinada órbita, e como
invés de laranjas e numa velocuidade tão grande, a ponto dos tijolos encostarem a Terra não é um gás, essa órbita pode ser interrompida pelo chão.
uns nos outros, ele formou um arco com os tijolos e agora num dado momento a A diferença entre uma construção e o tijolo em órbita é que a cons-
terra endureceu e ficou somente um arco de tijolos sobre a terra, parado. trução percorre uma órbita fixa em relação à Terra e o tijolo não.
Existem forças como o peso agindo constantemente, mas são neutra-
lizadas por reações que também ficam agindo continuamente.
Não há movimento mas há tendência ao movimento (energia poten-
A maior parte das estruturas que criamos, estão associadas à idéia cial).
de se produzir um vão livre. É por esse motivo que vamos compará-
las a órbitas.
Um tijolo ao se deslocar numa órbita, ao se movimentar, consegue
fazê-lo porque o universo não é maciço, isto é tem cheios e vazios,
(Não conseguimos movimentar uma laranja dentro de uma caixa
fechada cheia de laranjas). Tindari, basílica. Arquitrave
pré fraturada.
E quando se movimenta tem a capacidade de gerar forças, de com- L’Arte del Costruire - Salvato-
pressão no sentido de sua trajetória e de tração no sentido oposto à re Di Pasquale

sua trajetória

As pedras laterais conjunta-


Traçaõ Compressão mente com os apoios, fixam a
órbita da pedra central.

Quando o tijolo atinge o chão, êle descarrega uma força com a


inclinação da tangente de sua trajetória.
Essa força é igual à força com que foi lançado.
Força pro-
vocada pela Terra: reação Terra Força provocada na Terra
à ação do tijolo pelo tijolo no sentido de sua
trajetória
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A força que lançou o tijolo pode ser distrin-
chada em duas, uma vertical que determinará
até que altura o tijolo vai subir pois vai sendo
diminuida pela ação da força da gravidade, e
uma horizontal que vai produzir um movimen-
Esta é a
to retilineo e uniforme, determinando o vão ou
Esta é a reação do chão, força que o tijolo descarrega no
o espaço horizontal que o tijolo vai percorrer.
mesma direção sentido chão, seguindo a direção da tangen-
Quando essa órbita for interrompida pelo chão,
inverso. Pode ser dividida em Horizontal te à trajetória. Ela pode ser dividida
este deve fornecer forças contrárias e iguais
duas forças, uma vertical que em duas forças, uma que é o próprio
para deter o tijolo.
vai se opor ao peso acelerado peso do tijolo acelerado pela força
A reação do chão também pode ser destrincha-
pela força da gravidade e da gravidade e outra que é uma
da em duas: Peso
outra horizontal. horizontal
Uma igual e contraria a vertical, é a que vai
impedir que o tijolo continue afundando na Chão
Terra, e outra horizontal, que vai impedir que
o tijolo deslize horizontalmente

Quanto mais larga a órbita em relação à altura, maior será a força horizontal.

A vertical sérá sempre igual se o peso e a


altura alcançada não mudar, a horizontal
será maior quanto mais inclinada for a tan-
gente à órbita, no ponto de colisão
Horizontal 1 é menor que a Horizontal 2

Horizontal 1 Horizontal 2

Peso Peso
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Comparando com uma construção:
Como a construção não está em movimento, ela só descarrega no chão A diferença do tijolo do que foi jogado no ar para o do
forças tangentes aos pontos de apoio, essas forças tangentes são a soma arco é que este está com órbita fixa e não cai porque seu peso vai
resultante da ação do peso (metade em cada apoio) e forças horizontais. se apoiar metade no tijolo vizinho da esquerda e metade no vizinho
Quanto mais larga a órbita maiores serão as forças horizontais, as forças da direita.
verticais permanecem iguais pois o peso não se altera.
Com certeza existe uma forma ideal para essa “órbita”, pois cada tijolo
precisa fornecer ações contrárias aos tijolos vizinhos para que estes não se
movimentem.

A fundação precisa fornecer reações con-


trárias ao peso e às forças horizontais, caso
contrario o arco se movimentará.
Se atribuirmos à fundação a função de
Força Força resistir somente às forças peso, podemos
horizontal horizontal colocar na horizontal um tirante preso aos
Tangente Metade do peso Metade do peso dois apoios do arco que absorverá as forças
Tangente à
à “órbita” do arco do arco horizontais.
“órbita”
Será uma estrutura denominada AUTO-
PORTANTE
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Para simplificar a
visualização trabalha-
remos somente com as
forças Ações, omitindo
as Reações
Altura da parábola vezes dois

Altura da parábola

Tirante H
Metade do peso

Tangente no
O tirante faz com ponto de apôio.
O cálculo estrutural desse arco é resolvido da seguinte maneira:
que as horizontais se É o prolongamento
equilibrem (são sem- da linha que une o
Se o arco tiver a forma de uma elipse, e se tiver de resistir somente ao seu
pre iguais) dobro da altura com
próprio peso, este será percorrido somente por forças de compressão (não
os apoios
existirá flexão).
Dizemos que o arco tem uma forma natural.
Consi-
Essa curva é a de uma elipse que é muito parecida com a de uma catenária
As deramos que o arco descarre-
invertida, que é a curva ideal para cargas iguais, distribuidas ao longo da
forças indicativas de ga na fundação uma força que é a
própria curva.
peso deveriam sempre soma resultante de todas as forças
A forma da catenária, quando a flecha (altura) não supera o vão, é muito
apontar para o centro de mas- da seção do tijolo que se apoia na
parecida com a de uma parábola, que é muito parecida com a de uma elípse.
sas do nosso planeta, mas em fundação portanto sua linha de
Como são curvas parecidas, vamos adotar a parábola, pois ela é muito fácil
função da escala consideramos ação passa pelo eixo do
de ser desenhada, ficando mais fácil para determinarmos os ângulos das
como verticais e paralelas tijolo.
tangentes, pois é só prolongarmos as linhas que unem o dobro da flecha da
umas às outras.
parábola com os apoios para termos as tangentes.
Pela regra do paralelogramo, basta sabermos uma das forças (no caso o peso
do arco dividido por dois), e o ângulo da tangente para determinarmos os
valores das forças horizontais e das tangentes.
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Se o arco tiver a forma de órbita correta, ao longo de
todo o seu percurso existirá somente compressão.
Os tijolos vão querer sempre se aproximar e não se
afastar uns dos outros.

Esta O peso do
força é a que vem do tijolo central se divide
tijolo de cima, surgindo em duas forças que descarre-
uma resultante de sua soma gam nos vizinhos
com o peso deste tijolo

As
resultantes
devem sempre passar Pesos dos tijolos
pelo centro de gravidade
de cada tijolo, para que a
órbita esteja correta

Então vamos dobrar a altura da parábola, unir com o ponto de apôio e


caminhar para o ponto médio da horizontal, temos um triângulo retângulo
geométrico, vamos compará-lo ao triângulo de forças, pois os triângulos
são semelhantes:
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Os dois triângulos assinalados são semelhantes

A altura do triângulo geométrico (o dobro da altura do


arco), está para a altura do triângulo de forças (metade do
peso do arco), assim como a metade do vão do arco está
para a força horizontal.
O triângulo geométrico é produto de nosso projeto, portan-
to conhecemos todas suas medidas, calculando o peso do
arco e comparando os dois triângulos que são semelhantes,
descobrimos o valor das forças horizontal e da tangente

Dobro da altura da parábola


que desconhecíamos.

Força horizontal (H) / Vão / 2 = Peso / 2 / 2 alturas

Triângulo
Força
geométrico
horizontal
Metade do vão

Metade do
Força que o
peso do arco
arco descarrega
na fundação

Triângulo
de forças
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Quando anotamos kg
estamos simplificando kgf
Exemplo :

O vão do arco é de 5 metros e a altura de 2 metros.


O desenvolvimento do arco é de aproximadamente de 6,50 m, cons-
truido em tijolos meia vez, resultando a espessura de 0,15 m com
revestimentos e largura de 0,30 m.

2,00 m
Adotando-se o peso médio de 280 kg/m² de alvenaria, mais 50 kg/m²
de carga acidental e multiplicando-se o total por 1,4 (segurança),
temos o total de 462 kg/m².
A superfície do arco é de 6,50 m x 0,30 m = 1,95 m².

4,00 m
Multiplicando-se a superfície do arco 1,95 m² por 462 kg/m² teremos
a carga total de 901 kg, que dividido por 2 dará 451 kg de peso por
fundação.

2,00 m
Comparando-se a força horizontal com a metade do vão (5m / 2 )
2,50 m e a metade do peso (901 kg / 2) 451 kg com o dobro da altura
(2 m x 2) 4 m,
H / 2.50 m = 451 kg / 4 m H
Teremos para a força horizontal : 282 kg 451 kg
Usando Pitágoras descobrimos quanto vale a força tangente, que é a Tangente
hipotenusa do triângulo de forças = e (451² kg + 282² kg ) = 532 kg.
que é a força que efetivamente comprime os tijolos. 2,50 m
Uma área de 11 x 30 cm deve suportar essa força (a seção do arco). 5,00 m
Dividimos 532 kg por 330 cm² = 1,6 kg / cm², que é muito pouco,
pois um tijolo de qualidade razoável deve aguentar mais de 50 kg /
cm². O problema não termina aí, pegando um tijolo
Os aços que usamos para concreto armado CA-50 aguentam 5000 na mão, achamos que é uma coisa muito dura
kg/cm², diminuídos de 15% por segurança = 4250 kg/cm². que não acontecerá nada quando o puxarmos ou
Então, na horizontal, como tirante para resistir a força de 282 kg, pre- apertarmos, mas na verdade todos os materiais
cisamos de uma seção de Aço / 282 kg = 1 cm² / 4250 kg/cm² modificam sua forma ao serem submetidos à
Área de aço = 0,05 cm² ou seja um diâmetro de 0,26 mm de aço. forças.
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Se sabemos calcular um arco, sabemos calcular toda e qualquer estrutura,


podemos chamar este arco de: a ferramenta mínima das estruturas.

Numa viga de concreto armado são colocadas outras ferragens


Se colocarmos esse arco sobre
que são: duas barras em cima da viga, que servem para deixar o
dois pilares, ele estará funcio-
conjunto da ferragem com rigidez e não mudar sua forma duran-
nando exatamente igual a uma
te a concretagem pela mesma razão o tirante é feito sempre no
viga Arco mínimo com duas barras, já os estribos tem a função de formar
outros arcos menores dentro da viga, melhorando sua atuação.
Tirante

Estribos
Arcos no
Pilares
concreto
Para ficarmos mais conven-
cidos que esse arco tirante é
uma viga, vamos completar os
vazios com tijolos:
Uma
O tirante dentro parte do concreto Tirante
do concreto faz o papel do arco
Se ao invés de tijo-
los preenchermos
esse espaço com
concreto, inclusi-
Tirante ve mergulhando o
tirante dentro desse Tirante
concreto para pro-
tegê-lo, temos uma
viga de concreto
armado
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Nesses exemplos o arco é que transporta as forças verticais através do vão para os
apôios, se o tirante for fazer esse papel, ele deverá ser curvo e não reto e se o arco não
tiver de transportar cargas ele poderá deixar de ter a forma de arco e poderá ser reto.
Esta estrutura funciona igual às anteriores.
Cada um dos dois arcos, o de compressão e o de tração,
descarregam,arco descarrega nos apôios, tangentes que dividi-
Neste caso
das produzem horizontais opostas que se equilibram e verticais
o tirante trans-
que se somam.
porta seu próprio
Se as alturas estruturais desses dois exemplos forem iguais, as
peso para os apôios,
estruturas se equivalem.
por esta razão é cur-
Podemos então juntar mais possibilidades aos exemplos mostra-
vo, e a curva natural
dos antes:
para este caso não
é exatamente a
parábola, mas sim
a catenária.
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Reforçando a ideia

Vamos amarrar uma corda entre duas árvores. As árvores são os apoios ou pilares e a
corda vai vencer o vão entre essas árvores. Ao dependurarmos pesos na corda verifi-
camos que sua forma vai se alterando conforme a posição e o valor dos pesos.
IMPORTANTÌSSIMO: A corda ao receber uma carga nunca ficará reta na horizontal,
mesmo para suportar o seu próprio peso ela apresentará uma curvatura, porque é pre-
ciso que possam aparecer reações contrárias para dar suporte ao peso, se ela estiver na
horizontal, tais reações não aparecerão.
P
A corda como é flexível, altera sua forma, porque não resiste a esforços de compressão,
somente os de tração, então ela acaba assumindo a forma da resultante que é chamada
também “funicular” ( do latim funiculum ou cordão ).
Primeiramente vamos colocar um peso de 100 kg (P) bem no meio da corda, verificamos
que o peso puxou para baixo a corda.
Os 100 kg se dividem em duas forças T¹ e T², que podem ser entendidas como resul-
tantes da soma de horizontais e das duas matades do peso , que esticam a corda e esta Duas meta-
descarrega T¹ e T² nas árvores. des de P
Vamos decompor essas forças em forças horizontais e verticais. T²
A soma das verticais V¹ e V² será igual ao peso total (100 kg). Neste caso particular H²

em que o peso está centralizado as duas (V¹ e V²) serão iguais, mas se o peso de 100 T¹
kg estiver fora do centro elas terão valores diferentes.
As horizontais formam binários, se no centro da corda tem uma direção, nos apôios P
terão direções contrárias porém mesmos valores. T² T¹
Repare que as horizontais junto às árvores apontam para dentro denotando compres-
são entre elas e as do meio da corda apontam para fora denotando tração, mas todas
com o mesmo valor, pois se assim não for, estaria existindo movimento causado pela
força que fosse maior.
Tendo entendido como funciona a estrutura, podemos calcula-la que é o ato de
atribuir quantidades de força para as peças componentes da estrutura, para depois H¹

dimensiona-la, que é escolher materiais e quantifica-los para que aguentem as forças
encontradas. Notem que qualquer procedimento de cálculo e dimensionamento é pre- V²

cedido pelo projeto, que no caso é a corda amarrada a duas árvores num determinado
comprimento que produz uma dada flecha.
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Cálculo da estrutura
Para calcularmos essa estrutura, ou a corda, devemos:

1- Somar o valor dos pesos que dependuramos na corda e o peso da própria corda, teremos então, H¹
o valor total das forças verticais que atuam nessa estrutura. Neste caso podemos desprezar o peso
próprio da corda, então o total será os 100 kg. V¹ V²
2- Medir os ângulos que as pontas da corda formam com os apoios (as árvores). Pois esses ângu-
los é que determinarão os valores das forças T¹ e T², que decompostas determinam as horizontais T¹ T²
que as árvores devem resistir.
Como a corda praticamente apresenta o desenho de um triângulo, a tangente da corda nos apôios
é a própria direção da corda.
3- Sabemos também que as forças horizontais são iguais e contrárias (a mesma força horizontal que a parte esquerda da corda aplica na árvore, a da direita
também aplica com sentido contrário na outra árvore.
Marcamos as duas forças horizontais, o tamanho não importa pois desconhecemos o valor, basta que sejam de mesmo tamanho. A partir daí marcamos os
paralelogramos de forças, e obtemos assim os tamanhos das forças verticais que chegam nas árvores. Neste caso como o peso está centralizado (a corda chega
com o mesmo ângulo nas duas árvores), as forças verticais obtidas tem o mesmo tamanho.
4- Sabemos �
Para det�
Um desses triângulos é o triângulo de forças H¹, T¹ e V¹ , o outro triângulo é um triângulo semelhante ao primeiro, do qual conhecemos as medidas dos catetos,que
são a medida da �
A soma das verticais V¹+V² é 100 kg (item 1), como a carga está centralisada e os apôios em nivel, elas são iguais à metade de 100 kg ou seja 50 kg.
Agora é aplicar regra de três:
H¹ / 5 m (metade do vão) = 50 kg (V¹) / 1 m (altura estrutural).
H¹ = 50 kg x 5 m / 1 m, H¹ = 250 kg
Para sabermos o valor de T¹ basta aplicar Pitágoras. T = e((V¹)² + (H¹)²) = 255 kg
Podemos também resolver tudo por desenho, basta atribuir uma escala para a força conhecida que é P e depois comparar seu comprimento com as demais
forças no próprio desenho.
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Dimensionamento da estrutura O mesmo exercício com o peso descentralizado

Depois de encontradas as forças que atuam na estrutura, passamos ao di- Vamos ter de comparar dois pares de triângulos semelhantes, os da direita (geo-
mensionamento que é verificar que dimensões os materiais construtivos métrico com o de força) e os da esquerda (geométrico com o de força).
precisam ter. Para isso precisamos de dados sobre os materiais que estamos Sabemos que a soma das duas verticais perfazem o total do peso ou seja os 100
utilizando, e que geralmente são fornecidos pelos institutos de pesquisa. kg (V¹ + V² = P) , mas como o peso é descentralizado V¹ é diferente de V², mas
Quando se atribue um determinado valor para a resistência de um material, é inversamente proporcional aos vãos, isto é V¹ esta para 7,50 m assim como
não é o valor médio de ruptura desse material, porque estaríamos aceitando V² esta para 2,50 m.
que grande parte das estruturas pudessem ruir; esse valor deve ser um V¹ = (V² x 7,50 m) / 2,50 m ou
dado seguro, por exemplo a madeira Peroba Rosa deve resistir a uma força V¹ = 3 V², substituindo
de 85 kg kg/cm² no sentido de seu eixo longitudinal, provavelmente para V¹ + V² = 100 kg,
rompermos uma peça dessa madeira precisaremos imprimir uma força 3 V² + V² = 100 kg, V² = 25 kg e V¹ = 75 kg , agora é só comparar os triângulos
muito maior. geométricos com os de forças, e teremos:
Repare que a maior força que a corda precisa resistir é justamente T¹ e T² H¹ = (V¹ x 2,50 m) / 1 m,
ou 255 kg. H¹ = 187,5 kg e
H² = 187,5 kg pois H² = ( 25 kg x 7,50 m) / 1 m
e T¹ = e(75² kg + 187,5² kg), T¹ = 202 kg,
Após consultarmos uma tabela de cordas, encontramos a corda de sisal de
T² = e (25² kg + 187,5² kg), T² = 189,2 kg
1/4 de polegada de diâmetro que aguenta 140 kg, então concluímos que ela
não é suficiente para aguentar os 255 kg de força, então ou colocamos duas
cordas de 1/4” ou escolhemos uma mais grossa que é a de 3/8” de diâmetro, A corda tem de suportar a maior das duas forças, a corda escolhida é a de 5/16”
que aguenta 290 kg, de diâmetro.

Corda de Sisal Alcatroada

Diâmetro (pol) Resistência Mínima (kgf) Metros por quilo


1/4 140 33
5/16 225 20
3/8 290 15 2,50 m 7,50 m
1/2 550 9
5/8 900 5 H² V²

3/4 1100 3,5

1m

7/8 1500 3
1 1800 2,2
1.1/4 2850 1,5
1.1/2 3900 1
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Tornando a corda uma estrutura autoportante O peso Uma tesoura mínima.
do telhado se Arco compri-
Repare que ela é exatamente
concentra neste mido
Se colocarmos por exemplo uma vara de bambú na horizontal, caberá à a estrutura do bambú e corda
este suportar as forças horizontais, agora as árvores precisarão aguentar ponto invertida, mas sempre, compres-
somente as forças verticais.da mesma maneira que o arco com um tirante são do lado de cima e tração em
pode ficar autoportante. baixo, e o funcionamento é o
Precisaremos também verificar se o bambú resiste à flambagem, pois ele Tirante mesmo.
trabalha à compressão. Gaudí usou e abusou desse
princípio, construindo modelos
invertidos, para obter as curvas
naturais, pois a corda é flexível
e vai se acomodar na forma
correta.

H H
V V

Da mesma maneira podemos tarbalhar com dois


arcos um de compressão e outro de tração desde que
P
as cargas sejam divididas entre os dois arcos.

Como o bambú está na ho-


rizontal, as cargas devem
ser colocadas na corda,
ou colocar suportes para
as cargas que colocarmos
sobre o bambú caminhem
imediatamente para a
corda. Neste caso a corda
que vai desenhar um arco
e esse arco natural terá a
forma de uma parábola.
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UT TENSIO SIC VIS (CEIIINOSSSTTUV)


Essa foi a frase que Robert Hooke (1635-1703) escreveu em anagrama para assegurar a primazia
da descoberta que: O ALONGAMENTO É PROPORCIONAL À FORÇA.
Hooke estava dizendo que um material quando resiste a uma força e transmite essa mesma força
para outro material, o faz através de um movimento interno de suas partículas absorvendo a força
e se deformando, não importa em que estado esteja, gasoso, líquido ou sólido.
Hooke estava dizendo que um material sujeito a uma força de tração se alonga, e sujeito
a uma força de compressão encurta e que num certo intervalo a força e a modificação de
tamanho são proporcionais.
Então, toda força produz movimento, se houver uma reação, esse movimento será muito pequeno,
mas sempre vai haver um pequeno movimento (até que o material entre em equilíbrio entre ação
e reação).
Não existe portanto nenhuma estrutura ou material perfeitamente rígido essa é a grande importância
dos vazios, se os materiais fossem absolutamente maciços eles não resistiriam nem transmitiriam
forças pois não haveria como modificar a sua forma.
A capacidade de se alterar a forma está estritamente ligada à resistência de forças.
Não afundamos no chão porque ele fornece uma reação igual e contrária ao nosso peso, isto é,
sempre vamos afundar um pouco no chão, vamos afundar até que apareça uma reação contrária
e igual ao nosso peso e isso acontece quando o material do solo entra em equilíbrio depois de ter
sido amassado conforme sua elasticidade e resistência.
É lógico que o solo também vai afundar, mas como o nosso peso vai se distribuindo por uma área
cada vez maior de subsolo, cada vez a força vai ser menor por unidade de área, produzindo um
afundamento menor.
A grande descoberta de Hooke foi então que colocando um peso numa balança de mola, esta vai
esticar.
E existe uma relação entre força e deslocamento em relação à seção e passo da mola.
Então, toda ação provoca uma reação em sentido contrário, e vai haver um encurtamento ou
uma elongação das partes por onde essa ação e reação passam, os materiais interessantes para as
estruturas são aqueles que se deformam na presença de alguma força e depois voltam ao mesmo
tamanho depois de cessarem as forças.
11N0este caso o material trabalhou no regime ELÁSTICO em relação à força. Se o material
modifica sua forma, não retornando à sua forma inicial antes da força ser aplicada, ele traba-
lhou no regime PLÁSTICO e se houve separação das partículas do material dizemos que houve
RUPTURA.
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Young trabalhou com a descoberta de Hook e propôs o Módulo de Elasticidade que é Tudo o que é comprimido encurta e tudo o que é tracionado en-
característico de cada material: força atuante dividido pela seção do material (ten- comprida, não importa em que regime, elástico ou plástico.
são), dividido pela porcentagem de alongamento ou encurtamento do material.

Módulo de Elasticidade de alguns materiais. Resistência de alguns materiais usados nas construções
Fonte: “The New Science of Strong Materials”- J.E.Gordon

Borracha 70 kg/cm² A madeira usada em estruturas suporta em média 100 kg/


cm² à tração ou compressão.
Plásticos 14.000 kg/cm²
Ttijolo 70.000 kg/cm² O tijolo suporta em média 50 kg/cm² à compressão (de-
Madeira 140.000 kg/cm² pendendo de sua qualidade e da argamassa usada).
Fiber-glass 170.000 kg/cm²
Concreto 240.000 kg/cm² O concreto suporta entre 150 a 300 kg/cm² à compressão
Vidro 700.000 kg/cm² (dependendo de seu traço).
Alumínio 730.000 kg/cm² O aço CA-50, 5.000 kg/cm² à tração ou compressão.
Aço 2.100.000 kg/cm²
Diamante 12.000.000 kg/cm² O tijolo e o concreto não devem, ser usados à tração
O significado do Módulo consiste no seguinte:
Se aplicarmos uma força igual ao milésimo do módulo de elasticidade em um pedaço de um determinado material com 1
cm² de seção, ele diminuirá ou aumentará de tamanho, conforme a força for de tração ou compressão de um milésimo de seu
comprimento.

Para sabermos quanto um material cresce ou diminue de tamanho (DL) quando uma força é aplicada, basta multiplicarmos a força (F) pelo comprimento
da peça em questão (L) e dividirmos pelo módulo de (E) elasticidade, multiplicado pela seção (S) da peça.

DL = F (Força) x L (comprimento) / E (Elasticidade) x S (seção)

Exemplo:
Uma Força de 367,5 kg traciona uma barra de aço de 500 cm de comprimento e 0,08 cm² de seção. Qual será o tamanho final da barra?
Dl= 367,5 kg x 500 cm / 2.100.000 kg/cm² x 0,08 cm² = 1,09 cm somando-se o comprimento inicial 500 cm, total: 501,09 cm.

Em termos de porcentag�
1 cm num comp�
cada 10 metros de comprimento.
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TRAÇÃO COMPRESSÃO

Imaginemos que dentro de uma barra Imaginemos que dentro de uma barra sujeita à compressão,
sujeita à tração, existam braços, e que existam braços, e que realmente eles é que são os responsáveis
realmente eles é que são os responsá- pela resistência à compressão; é como se eles cumprissem o
veis pela resistência à tração; é como se papel de resultantes da somatória das forças de compressão que
eles cumprissem o papel de resultantes percorrem a barra.
da somatória das forças de tração que Enquanto os braços encurtam pela ação das forças de compres-
percorrem a barra. são, a cintura tende a ficar mais larga.
Enquanto os braços encompridam pela Como nenhum material é absolutamente homogêneo sempre
ação das forças de tração, a cintura os braços de um dos lados vão encurtar mais do que os do
tende a ficar mais estreita. outro lado mas, ao contrario do que acontece quando a tensão
Como nenhum material é absolutamen- é de tração, a tendência não é para o equilíbrio mas sim para o
te homogêneo sempre os braços de um desequilíbrio, este fenômeno é chamado de flambagem.
dos lados vão esticar mais do que os Qualquer peça sujeita à compressão apresentará variações de
do outro lado mas, isso acontecendo Braços taxa de compressão numa mesma seção, um dos lados estará
o lado mais curto vai receber a maior mais comprimido que o outro.
parte da força, fazendo com que este Então como os materiais nunca são absolutamente homogêne- Cintura
agora encompride mais que o outro e Cintura os, a resultante da compressão nunca vai estar absolutamente
assim por diante. centrada e todos os materiais vibram (calor etc) e mesmo que
Quando a força é de tração a peça vai a resultante estivesse centrada, devido à vibração, ela por um
esticando e se auto corrigindo ficando leve instante saiu do centro, as forças de compressão vão se
cada vez mais alinhada com o eixo das apoiar mais em um dos lados que conseqüentemente encurtará
forças. mais que os outros e se um dos lados ficou mais curto, nunca
Se um dos lados ficar mais comprido mais outro lado passará a encurtar mais que este pois a peça
do que o outro, as forças vão tra- teria que encompridar para que fosse feita a passagem de apoio
cionar mais o lado menor e este vai para algum dos outros lados, a não ser que fosse tão longa que
tender a igualar o outro lado. permitisse a existência de uma curvatura tipo “S”
E ao contrário da tração, quando a tendência é para o equilí-
brio, agora a tendência é para o desequilíbrio.
Este é o efeito da FLAMBAGEM.
Então desde o primeiro instante em que há compressão existe a
flambagem.’
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 19
Cálculo da Flambagem

Se a peça for cilíndrica, a flambagem pode


acontecer para qualquer um dos lados, mas
Se o comprimento do lado mais curto for se for prismática, a flambagem com certeza
diminuindo a ponto de sua distância ao eixo vai ocorrer em um dos lados da menor lar-
da peça se reduzir de um terço, começará a gura.
existir tração no lado oposto, ficando o lado A flambagem vai atingir o limite, se a curva
que encurtou responsavel por toda a carga. que passa pelos pontos de aplicação das
Esse é o limite de FLAMBAGEM, pois a partir forças de compressão e o ponto que marca
daí quando um lado é tracionado e o outro com- um terço da largura no meio da peça, ficar
primido, passa a existir flexão (tração numa face, menor que o comprimento da peça
compressão na outra), e muitas vêzes o material
que estamos utilizando não resiste bem tração. Ultrapassando esse limite, a peça vai traba-
lhar à flexão, que será visto mais à frente. Este
ponto é o
terço da lar-
A gura
Quando o encurtamento
hipotenusa des-
dos braços de um dos lados
te triângulo não pode
atinge o limite de flambagem os
encurtar mais do que este
braços opostos começam a trabalhar Se comprimento, caso contrá-
à tração. voce estiver rio começará a haver
sobre uma jangada na flexão
água não fique fora do Esta
1/3 central da jangada, linha é o
pois caso contrário ela pode comprimento da
virar, suspendendo o lado peça
oposto.

O mecanismo interno,
que dramatizamos com braços retos e
cintura, na verdade seria melhor carac-
terizado por curvas e infinitas cinturas,
mas dificultaria sua compreensão.
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 20
Mesmo que as cargas estejam absoluta- Verificação da Flambagem no Arco de Tijolos
Arco de tijolos retificado
mente centradas comprimindo a peça,
dependendo da relação comprimento Para verificar a flambagem no arco de tijolos do exercicio Arco retificado sem
largura, pode existir flambagem. anterior (pag. 8), vamos desenrolar o arco como se fosse uma 451kg escala
Isso porque todos os materiais tem calor, coluna de 3,25 metros de altura (metade do desenvolvimento do
tendo calor vibram, então mesmo que arco pois no meio o peso é zero, vai aumentando até chegar ao
apliquemos a força de compressão ab- máximo nos apôios) , 0,30 m de largura e 11 cm de expessura.
solutamente centrada em algo de formas Vamos imaginar aplicado à esta coluna uma carga de 451 kg que
absolutamente regulares a força vai é a carga de compressão no pé do arco. Observando a forma do
momentaneamente atuar fora do arco, vemos que só existe uma possibilidade de flambagem, é na
eixo, e como tudo o que é espessura de 11 cm e para fora, não para dentro.
comprimido diminue de Precisamos saber então se a hipotenusa do triângulo que tem como catetos
tamanho , um dos lados 325/2 cm e 1,83 cm, com o carregamento da força de 451 kg, pode ficar menor

162,5 cm
pode encurtar mais que o comprimento da peça 325/2 ou 162,5.
que o outro. Se ficar maior o arco suporta a flambagem, se for menor, precisarão ser feitos reforços
ou modificar sua forma.
Hipotenusa = e(325/2² + 1,83²) = 162,510304
Força que com- Elasticidade do
1,83 cm
Então: prime o arco tijolo

325 cm
DL = 451 kg x 162,510304 cm / 70.000 kg/cm² x 330 cm² = 0,00317282 cm
comprimento da seção do Quanto o arco
Quanto o arco Esta medi-
tangente que liga o arco diminue no comprimento
diminue no comprimen- da (a hipotenusa) depois de
terço da largura ao devido à compressão
to devido à compressão sofrer a compressão não póde ficar
apôio
menor que a metade do compri-
Isso quer dizer que o comprimento do arco vai diminuir 0,0032 cm aproximadamente, com essa diminuição o mento da peça. Este é o limite de
comprimento total da hipotenusa 162,510304 cm vai ficar com 162,5071312 cm, que ainda é maior do que o flambagem, pois se encurtar
comprimento inicial da peça 162,5 cm. mais a face oposta sofre-
Não haverá tração no lado oposto. rá tração.
É importante lembrar que consideramos a carga centrada, se estiver fora de centro, as linhas que consideramos
ficarão menores e portanto a tendência à flambagem aumentará.
Quando há aproximação ao limite de flambagem a força no lado que encurta ficará dobrada então é importante
verificarmos se o dobro da força não atinge o máximo que o material suporta.
Importante também é que o arco precisa resistir também à forças externas acidentais que não foram considera-
das
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 21
Este pilar curvo doTeatro aberto em Cannes projetado pelo Vamos imaginar um pilar semelhante, com curvatura muito pequena,
arquiteto Roger Taillibert e pelo Instituto de Estruturas Leves quase reto.
Univ Stutgart, é extremamente didático: Com uma pequena diminuição de seu comprimento, ele ficará pratica-
mente reto e portanto pode flambar na direção oposta, direção esta em
Claramente ele só pode flambar na direção em que é curvo, mas está preso a que os cabos não tem ação.
cabos que impedem a flambagem, impedindo inclusive que ele possa flambar
para os lados.
A única possibilidade de se alcançar o limite de flambagem seria havendo uma
diminuição exageradamente grande em seu Desenhamos um arco
comprimento. num pedaço de espuma
para dramatizar o efeito
da flambagem.
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 22
Vejamos quando comprimimos um material no limite de sua resistência à compressão, quanto que esse material diminue de tamanho em termos de porcenta-
gem, e qcom qual comprimento ele diminue de 1 cm carregado com a carga limite.
Madeira carga limite 100 kg/cm² em termos de porcentagem, diminuirá de::
DL/L = 100 kg x / 140.000 kg/cm² x 1 cm² = 0,0007 cm
ou seja uma peça de madeira com 1429 cm (14,29 m) de comprimento, carregada com 100 kg/cm² diminuirá 1 cm em seu comprimento
Alvenaria, carga limite 50 kg/cm² em termos de porcentagem, diminuirá de::
DL/L = 50 kg x / 70.000 kg/cm² x 1 cm² = 0,0007 cm
ou seja uma peça em tijolos com 1429 cm (14,29 m) de comprimento, carregada com 50 kg/cm² diminuirá 1 cm em seu comprimento
Concreto, carga limite 200 kg/cm² em termos de porcentagem, diminuirá de::
DL/L = 200 kg x / 210.000 kg/cm² x 1 cm² = 0,00096 cm
ou seja uma peça em tijolos com 1050 cm (10,50 m) de comprimento, carregada com 200 kg/cm² diminuirá 1 cm em seu comprimento
Aço, carga limite 5000 kg/cm² em termos de porcentagem, diminuirá de::
DL/L = 5000 kg x / 2100.000 kg/cm² x 1 cm² = 0,0024 cm
ou seja uma peça de aço com 417 cm (4,17 m) de comprimento, carregada com 5000 kg/cm² diminuirá 1 cm em seu comprimento

Sabemos agora como calcular uma viga vagão.


Quando a carga está distribuída horizontalmente na corda, a párte que trabalha à tração, sabemos que esta assumirá a forma de uma parábola.
Muito bem, com este equipamento poderemos calcular qualquer outra estrutura, basta substituirmos a viga que queremos calcular por esta viga vagão, as forças
serão as mesmas.
Apenas um detalhe precisa ser respeitado:
Ambas precisam ter a mesma altura estrutural,, isto é a distância entre a resultante das forças de compressão e a de tração deve ser a mesma.
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 23

Treliças
As cargas nas treliças devem sempre descarregar nos nós, ou Nós Arcos de compressão
apoiadas ou dependuradas como é o caso deste exemplo ao
lado.
Não se deve colocar cargas apoiadas no meio de uma bar-
ra, pois essa barra passaria a trabalhar à flexão (compressão
numa face tração na outra) enquanto que com cargas somente
nos nós as barras vão trabalhar ou só à compressão ou só à
tração. Arcos de tração
Nos dois desenhos percebemos que nas treliças existem vá- Nós
rios arcos de tração e de compressão.
Bem no meio do de cima, vemos um arco de tração que está
dependurado como se fosse uma rede dependurada no pri-
meiro arco de compressão. Este se apoia num outro arco
de tração que por sua vez está dependurado em outro arco
de compressão, e assim por diante. O último precisa de um
tirante.
Existem muitas possibilidades para a configuração de uma
treliça, mas a regra básica é: arco com o vazio para baixo
trabalha à compressão, vazio para cima tração.
No centro das treliças podemos notar que existem superpo- Arcos de compressão
sições de arcos, no caso são quatro, isto é pelo ponto central
da parte de baixo passam três forças de traçao uma de cada
arco de tração, já nos nós vizinhos passam somente dois arcos
portanto duas forças e nos nós das pontas passa somente um Arcos de tração
arco, uma força, isso significa que as barras horizontais da
área central serão as mais solicitadas, as forças que passarão
por elas serão maiores.
Se as pernas de um arco tiverem uma inclinação negativa, isto
é “os pés “ para dentro, já não é mais um arco, então no limite
suas pernas podem estar na vertical.
Para calcular uma treliça, basta ir caminhando do centro para
as bordas e aplicando o que já fizemos com a rede e com os
arcos, tendo o cuidado de incluir as cargas que forem apare-
cendo.
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 24
Exemplo

Assim no exemplo ao lado, bem no centro, temos uma carga de 1000 866 kg 2309 kg
kg dependurada num arco de tração (ângulos da treliça = 60°), essa
força vai se dividir em duas de 577 kg tracionando as duas barras, 60°
mas é importante observar que como já vimos com a corda, nesse
passo aparecem também duas forças horizontais que vão ter a contra- 1000 kg 1000 kg 1000 kg
1732 kg 1500kg
partida no apoio em cima.
Estas barras estão dependuradas num arco de compressão e descarre- Arco de
gam nesse arco as forças de 577 kg, que se dividem em duas forças de tração depen-
577 kg , as horizontais se contrapõe, enquanto que as outras descem Arco de tração
durado num arco
pelo arco que se apoia num outro arco de tração. de compressão
Nesses apoios, existem outras cargas de 1000 kg, que se dividem em
duas, uma horizontal de tração de 577 kg e outra também de tração 575 Kg
de 1155 kg, que se somam as duas em que a força que vem do arco de
compressão se divide ambas de 577 kg. Arco de com- 575 kg
As horizontais se contrabalançam, as outras caminham até os pontos pressão apoiado
de apoio de arco de tração. num arco de
Este arco de tração está dependurado em um outro arco de compres- tração Arco de compressão
são, que recebe então os 1732 kg, que se dividem em duas forças. As
horizontais de 1732 kg se contrapõe as outras descem pelo arco até os Uma de 575 kg
apoios da treliça. Arco de tração dependura- da do arco de compressão e
Nos apoios estas forças de 1732 kg se dividem em horizontais de 866 do num arco de compressão outra de 1155 kg que vem da de
kg que se contrapõe e em verticais de 1500 kg que vão pelos apoios 1000 kg
até as fundações.
Ao somarmos todas as horizontais de tração e compressão, que passam Duas de 575 kg.
Arco de tração Uma que vem da do
pelo centro da treliça vemos que elas são iguais de sentidos opostos e
valem 2309 kg. 1732 kg (575 kg + 1155 arco de compressão e
kg) trazidas pelo arco de 575 kg outra que vem da
tração e que se divide em 1000 kg 1000 kg força de 1000 kg
Dimensionamento outras duas de 1732 kg
Da mesma maneira que agimos com o arco de tijolos, para dimensionar Arco Arco de compressão
as peças da treliça, sabemos que algumas tem de resistir a 2309 kg, as de compres-
peças centrais em cima à compressão e em baixo à tração, a comprimida são preso por
precisa ser verificada flambagem. um tirante
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 25

Tesoura
1000 kg
A tesoura comummente usada para estruturar telhados é um tipo de
treliça.
Como em qualquer treliça, para melhor “performance”, as cargas devem
estar nos nós, nunca no meio das barras.
No desenho ao lado vemos cargas de, por exemplo 1000 kg trazidas
pelas vigas para a tesoura, ignoramos as que chegam diretamente aos
apoios. 1000 kg
Essas cargas de 1000 kg se dividem e percorrem a estrutura.
Como a tesoura foi desenhada com as pernas formando ângulo de 30°
com a horizontal, cada carga de 1000 kg de divide em duas outras iguais
de 1000 kg.
As que percorrem as pernas da tesoura, vão para os apoios, as outras duas
percorrem as peças intermediárias da tesoura, encontram-se no meio e
se dependuram no pendural.
Pelo pendural chegam ao topo da tesoura dividem-se em duas também 2 de 1000 kg
e caminham pelas pernas até chegarem aos apoios.
Quando chegam aos apoios dividem-se em horizontais e verticais.
Notem que são três verticais em cada apoio de 500 kg cada uma pois no
total temos 3000 kg de carga vertical (dividido por dois igual a 1500 kg),
as horizontais valem 500 kg / tg 30° = 866 kg. Como são três forças o 1000 kg
total vai ser de 2598 kg que é a força que traciona o tirante.
Passam pelas pernas 3 forças de 1000 kg, totalizando 3000 kg de com-
pressão e o pendural 1000 kg tração e as peças inclinadas 1000 kg com-
pressão. O tirante precisa resistir a 3 x 866 ou 2598 kg.

Dimensionamento Agora
Resultante de são tres for-
Se essa tesoura for construida com a madeira peroba que aguenta 85 1000 kg que depen- ças de 1000 kg
kg/cm², precisaremos para as pernas algo em torno de 36 cm² de seção, durada no pendural vai que se dividem
e para o tirante serão necessários 32 cm² de área útil, fora as partes re- para o topo da tesoura em tres horizon-
cortadas para a execução dos encaixes. tais de 866kg e
As peças comprimidas precisam ser verificadas à flambagem. tres verticais de
500kg
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 26
Flexão

Até agora, procuramos resumir a atuação da estrutura a duas partes uma su-
perior que resiste à compressão e outra inferior que resiste à tração, e essas
duas se encontram nos apoios, formando aquilo que denominamos ciclo
estrutural.
Nestes casos a resultante das forças de tração e a de compressão passam
exatamente pelo eixo das peças estruturais e as peças trabalham com toda a
sua seção resistindo somente tração ou somente compressão.
Nas peças que trabalham à flexão, o ciclo estrutural não aparece tão em
evidência, precisaremos então encontrar por onde passam as resultantes
das forças de tração e compressão e avaliar quanto de força essas peças
podem suportar.
Uma peça trabalha à flexão quando um lado esta sendo tracionado en-
quanto o outro comprimido e tração e compressão não estão separados
fisicamente, havendo transição entre um máximo de tração e um máxi-
mo de compressão e entre estes um ponto onde tração e compressão se
anulam.
As resultantes de tração e compressão, não passam pelo eixo da peça,
mas por caminhos que precisamos determinar.

O detalhe mostra o encontro de um arco de tração com um de compressão


no eixo central da viga chamado de linha neutra, a componente horizontal
de compressão se opõe à componente horizontal de tração, tornando nula a
resultante horizontal.
Quando as linhas se aproximam, significa menos material que a peça
dispõe para resistir às forças internas.
No primeiro exemplo claramente a seção mais crítica está no meio do vão,
enquanto que no terceiro exemplo, a seção mais crítica está sob a carga.
Examinando um corte da parte central da viga no primeiro exemplo, vamos
notar de baixo para cima, um máximo de tração que vai diminuindo à medida
que se aproxima do meio da seção onde chega a zero, passando à compressão
crescendo até chegar a um máximo de compressão na parte de cima.
Colocando num gráfico:
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 27

Corte transversal de uma peça Gráfico Demonstrativo


retangular submetida à flexão
O gráfico demonstra a nuance da capacidade de resistir às forças. Divi-
dimos em quadradinhos que simbolizam cada um uma unidade de força
que aquela região suporta
Compressão máxima
Este é o
ponto de aplicação A compressão é máxima no
da resultante das for- tôpo e depois vai diminuindo
ças de compressão em direção à linha neutra onde
chega a zero e começa a inver- Resultante
são, passando a existir tração, das forças de
numa nuance até atingir na face compressão
Nem tração nem de baixo o máximo de tração
compressão
Linha neutra

As resultantes não estão no meio de


Este é o ponto de Resultante cada região (de tração ou de compres-
aplicação da resul- das forças são), mas sim neste caso a dois terços
tante das forças de de tração da altura tracionada ou comprimida
tração a partir da linha neutra. (no centro de
gravidade de cada triângulo).
A altura estrutural será então a distân-
cia entre as duas resultantes.
Por essa razão
Tração máxima não podemos con-
tar que toda a área
de compressão ou
de tração possa
suportar o máxi-
mo que o material
aguenta, mas sim a
metade.
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 28
Cada quadradinho equivale a uma unidade de área multiplicado por uma unidade de força, então teremos no meio uma unidade de área vezes uma unidade de
força (para cima compressão para baixo tração), a seguir uma unidade de área vezes duas unidades de força (curva de nível 2), depois uma unidade de área
vezes três unidades de força, e assim por diante, até uma unidade de área vezes 6 de força.
Precisamos localizar as resultantes, pois no final para o cálculo, precisamos saber qual a distância entre a resultante de tração da de compressão.
As resultantes estarão no plano do eixo vertical da viga e dividem exatamente ao meio a quantidade de quadradinhos, então elas distam da metade da viga,
a metade dessa altura dividido por raiz quadrada de dois.
A capacidade que essa viga tem de resistir tração e compressão será reduzida para a metade, pois podemos verificar pelo gráfico que a parte mais externa da
viga pode suportar um máximo enquanto que a parte o central não vai suportar nada, vale a média.
Se toda a metade da viga pudesse trabalhar a um máximo de tração ou compressão, sua capacidade seria medida multiplicando-se sua área pela taxa máxima
que suporta .
Comparando-se esse resultado com o que ela efetivamente pode suportar mostrado no gráfico, constatamos que uma viga de seção retangular só vai poder
ser exigida com a metade da carga máxima.
A viga pode ter outras formas de perfil, o que vai alterar sua capacidade de resistência e a posição das resultantes.
Se a viga tiver o perfil circular, só resistirá a 1/4 da resistência específica nominal, e as resultantes ficarão mais próximas do centro, reduzindo a altura estru-
tural.
No gráfico abaixo foram representadas em cada nível a quantidade de área vezes o nível de tensão (de 1 a 6).
As resultantes dividem números iguais de quadradinhos, então estarão dentro do nível 4, podemos considerar que as resultantes distam 30% da altura (diâ-
metro) a partir do centro da viga.
A partir do momento em que conseguimos determinar a posição das resultantes e a quantidade de carga máxima que as partes tracionada e comprimida são
capazes de suportar, podemos calcular uma viga fletida da mesma maneira que os casos que já vimos anteriormente.

Corte de uma seção de viga circular Gráfico de forças


A viga
roliça tem mais Esta faixa Resultante das for-
quadradinhos é responsavel ças de compressão
nesta faixa do que por menos de
na de cima mas cinco unida-
suporta menos des de carga
carga enquanto a
de cima mais
de cinco As resultantes vão estar aproximada-
mente a 20,8% da altura total da viga,
das bordas.
A altura estrutural será de 58,4 % da
Resultante das altura total da viga
forças de tração
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 29

Cisalhamento (cisão, divisão)


Quando uma peça estrutural resiste a uma tensão de compressão ou de tração, resiste porque os pedacinhos ou moléculas ou átomos estão coesos e a força que
foi aplicada não foi suficiente para desagrega-los.
Cisão quer dizer separação, daí cisalhamento.
Os elementos estruturais quando se rompem, cisalham, isto é se separam..
Para que uma carga seja transportada por uma viga para os apôios, é preciso que cada pedacinho que forma a viga consiga entregar para seus vizinhos a força
vertical e a horizontal.
Qualquer material deveria resistir igualmente tanto à compressão como à tração,
pois a coesão entre suas partículas é sua resistência à tração ou à compressão; mas
poucos materiais possuem essa qualidade, pois a sua construção interna vai fazer
com que haja diferenças.
Por exemplo a madeira é um material formado por um feixe de fibras, que resistem
bem no sentido longitudinal dessas fibras, porém transversalmente essa resistência
fica reduzida a cerca de 10% tanto à compressão como à tração.
O concreto e o tijolo quando se solidificam, apresentam microfissuras que prejudi-
carão sua resistência à tração também cerca de 10% da de compressão.
Dizemos que numa viga submetida à flexão, tem sua parte de baixo solicitada à
tração e a de cima à compressão, mas na verdade perpendicularmente à qualquer
força de tração aparecem forças de compressão e vice-versa (cada micro pedacinho
do material atua por eua vez omo uma micro viga transmitindo para seus vizinhos os apôios, forças em sentido oposto), como está indicado no desenho acima,
isso significa que cada pedacinho da viga sofre compressão num sentido e tração no outro, e se o material não resistir, à tração, ele romperá perpendicularmente
à tração.
O desenho indica também pela espessura das linhas a variação da intensidade dessas forças partindo de um mínimo no centro e atingindo um máximo na peri-
feria. Os arcos com abert�
externos, forças atuantes maiores.
Se o material da vi�
valor de sua resistên� -
sistência à compressão e�
bem tanto compressão quanto tração, mas somente quando a direção das forças é no sentido de suas fibras, transversalmente a resistência é muito pequena,
também � bras.
Numa peça comprimid�
e quando tracionada a situação será o inverso; então logicamente existe cisalhamento também em pilares e tirantes.
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 30

A Ferramenta Mínima
Quando construimos uma estrutura, queremos construir algo que tenha capacidade de transportar cargas (forças) através de um espaço (vão).
Precisamos então saber que forças teremos de transportar, através de que vão e qual o efeito dessas
forças em nossa estrutura e que dimensões a estrutura terá de ter.
Vamos começar fazendo isso com estruturas bem simples e depois aplicaremos estes conhecimentos às
estruturas mais complexas.
Queremos transportar o peso de 1 kg, através de um vão de 1 m, utilizando uma corrente. Percebemos
imediatamente que precisamos fixar a corrente nos apoios com dois preguinhos para que ela não escorregue.
A corrente descarrega em cada apoio forças na inclinação exata da tangente aos elos das pontas da
corrente, que estão presos aos pregos. Neste caso essa tangente se confunde com a própria corrente.
A corrente transportou para os apoios não só o seu próprio peso (que não levaremos em conta) mas
também metade do peso de 1 kg (metade para cada lado caso este esteja centralizado). Como o peso de 1 kg
é uma força vertical e as forças que chegam aos apoios são inclinadas, percebemos que apareceram novas
forças, forças horizontais, as que faziam a corrente escorregar antes de colocarmos os pregos.
Repare que existe um triângulo retângulo geométrico, cujos catetos são, a metade do vão e a altura entre
a parte mais baixa da corrente e os apoios (a flecha), e outro formado pelas forças, cujos catetos são, a força
horizontal e a vertical (a metade do peso) e estes triângulos são semelhantes (ângulos iguais) e por semelhança
entre triângulos podemos descobrir quanto vale a força horizontal.
Por exemplo:
A força horizontal está para a metade do peso 0,5 kg, assim como a metade do vão 50 cm está para a
flecha da corrente 20 cm. Ou seja H= 0,5 kg x 50 cm / 20 cm
H= 1,25 Kg
Isso quer dizer que a força horizontal que quer arrancar os pregos é de 1,25 kg, se colocarmos um bam-
buzinho na horizontal, capaz de aguentar a força de 1,25 Kg, poderemos tirar os pregos. Esse bambuzinho
vai ser comprimido pelas forças horizontais, enquanto que a corrente, que só é capaz de transportar forças de
tração, vai ser tracionada e precisa ser capaz de aguentar força tangente aos elos das pontas, que é a hipotenusa
do triângulo de forças, portanto aplicando Pitágoras, temos C² = 0,5²Kg + 1,25² Kg
C= 1,346 Kg
No ponto onde está dependurado o peso, num mínimo trecho, a corrente esta na horizontal e precisa
aguentar somente 1,25 Kg que é a força horizontal.
Criamos um sistema de viga autoportante. A viga autoportante consegue transportar cargas através de um
vão e só necessita somente dos apoios para descarregar as forças verticais.
Quando necessitava dos preguinhos, os apoios é que resistiam às forças horizontais.
Observando a primeira imagem da corrente, vemos que ela desenha uma curva e que somente após receber a carga de 1 Kg ficou parecendo um triângulo.
Da Natureza das Estruturas
Vitor Amaral Lotufo - 31

Cálculo de uma viga de madeira


Na figura abaixo está representada uma viga de peroba com a bitola de 6 x 16 cm, percorrendo um vão de 2,50 m, recebendo uma carga distribuida total de
600 kg (240 kg/m). Em primeiro lugar prercisamos localizar por onde passam as resultantes de compressão e tração. Para seção retangular de viga é aproxi-
madamente 1/6 da altura da viga a partir das bordas, na parte central da viga, que é o lugar mais crítico.
2,50 m
1/6 de 16 cm Altura estrutural Eixo da resultante das
forças de compressão
0,16 m

Eixo da resultante
das forças de tração

Em seguida traçamos a parábola, tendo como limites os eixos das resultantes de compressão e de tração. Para isso dobramos a altura estrutural no centro e uni-
mos com os eixos dos apôios da viga. Essas linhas servem para desenharmos a parábola e ao mesmo tempo são as tamgentes à parábola junto aos apôios.

Esta curva em
amarelo é a parábola que tem
como limites a resultante das forças
Viga de pero- de compressão e a de tração
ba 6 x 16 cm
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Vitor Amaral Lotufo - 32

Metade do vão 1,25 m


H
T P/2
Dobro da
Triângulo geométrico altura estrutural Triângulo
0,21333 m de forças
Viga de pero-
ba 6 x 16 cm

1- Desenhamos o triângulo geométrico: metade do vão, dobro da altura estrutural e tangente à parábola.
2- Representamos a metade da carga ou seja 300 kg num dos apoios e representamos o paralelogramo de forças, aparecendo então a força T na tangente à
parábola e a força H, que é a força horizontal , ambas geradas pela força T nos apoios.
3- Comparamos esses dois triângulos que são semelhantes para saber quanto vale H.
H / 1,25 m = 300 kg / 0,21333 m
H = 375 kg m/ 0,21333 m
H = 1758 kg
Para suportar essa força horizontal (de compressão e de tração), temos metade da seção da viga ou 6 x 8 cm = 48 cm².
Cada cm² de seção de viga esta apto a suportar 85 kg/cm² mas lembrando do gráfico de forças teremos de considerar que a viga à flexão só pode suportar a
metade dos 85 kg/cm² ou seja 42,5 kg /cm².
Multiplicamos 42,5�
cálculo, as forças horizontais são de 1758 kg. .
Na prática é comum abusarem das vigas de madeira pois a carga admissivel por medida de segurança é acerca de 1/5 da encontrada em experimentações.
É importante lembrar que a maior força que a viga deve aguentar não é a horizontal, mas sim a inclinada, que é quem trouxe as horizontais e verticais para os
apoios.
A madeira é um material feito como se fosse uma somatória de tubinhos, apresentando maior resistência longitudinal do que a transversal,
A força inclinada é a soma vetorial da horizontal com a vertical.
Verificamos a resistência da madeira quanto às forças longitudinais (horizontais), resta portanto verificar se ela resiste às forças transversais (verticais) e neste
caso a resistência da madeira é bem menor, próximo a 10% da resistência longitudinal, mas para resistir à essa força ela tem toda sua seção horizontal, no caso
será de 6 cm (largura da viga) x 125 cm (metade do vão) = 750 cm², que pode suportar uma carga de 8,5 kg / cm² ou 6375 kg que é bem maior que a metade da
carga que está carregando a viga 1250 kg.
Usualmente é comum encontrarmos peças de madeira submetidas à forças muito maiores do que as aconselhadas pelo cálculo, isto acontece porque a resistência
real da madeira é muito superior à indicada pelos institutos de pesquisa, mais de 5 vezes, pois os institutos devem prever defeitos, ataques de insetos, fungos etc,
que às vezes não são percebidos visualmente pelo construtor.
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Vitor Amaral Lotufo - 33

Cálculo de uma viga de concreto armado

O concreto armado é um material composto por concreto e aço.


O concreto conforme seu traço, resiste em torno a 200 kg/cm² à compressão e próximo a 30 kg/cm² à tração.
Devido à sua baixa resistência à tração ele é reforçado com aço próprio para concreto armado, que resiste 5000 kg/cm² ( CA-50) tanto á compressão como á
tração.
Para que as barras de aço colaborem com o concreto, é preciso que haja uma aderência ótima entre os dois materiais, preferindo-se usar varias barras finas no lugar
de uma única mais grossa, pois quanto maior a superfície de contato, melhor a aderência.
É importante também sempre fazer um gancho nas pontas das barras de ferro submetidas à tração para aumentar a aderência.
Para o cálculo, devemos proceder exatamente igual fizemos para a viga de madeira, com uma diferença, o eixo da resultante das forças de tração fica no eixo da
posição das barras de aço. Por exemplo, se estimamos usar barras de 1 cm de diâmetro e prevermos uma cobertura de 2 cm de concreto, o eixo da resultante de
tração ficará a 2,5 cm da face da viga (2 cm + 1/2 cm) e não a 1/6 da altura total da viga.
Roteiro:
1- Estima-se as dimensões da viga: altura entre 8 a 10% do vão, largura entre 1/5 da altura e no mínimo 10 cm.
2- Estima-se a carga total que a viga deve suportar, que é a soma da carga acidental (por exemplo, para uso residencial, 200 kg/m²), e a carga permanente,
representada pelo próprio peso da estrutura (o volume da laje e viga multiplicado por 2500 Kg/m³, mais o peso do piso).
3- Multiplica-se a carga total por 1,4 (coeficiente de segurança).
4- A ferramenta mínima � -
te das forças de tração, onde passa a ferragem principal da viga.
5- Então, a altura estrutural de uma viga de 60 cm será de 47 cm (sessenta centímetros menos dez e menos três centímetros).
6- O triângulo geométrico� -
remos saber e pela metade da carga total da viga.
H = metade da carga total x metade do vão / dobro da altura estrutural.
7- O aço usado em c�
que é um coeficiente � -
plo, dividimos por �
tem 1 cm² de seção.
8-1 A área de concreto que trabalha à compressão precisa ser suficiente também para suportar a força horizontal. A resistência do concreto pode variar con-
forme seu traço, p�
1,4, teremos então 107 Kg/cm² como resistência característica do concreto.
8-2 Mas a metade da v�
m�
8-3 Agora multiplicamo�
não ajuda nem na tração nem na compressão.
8-4 Se esse valor for maior que a força H, significa que a viga resistirá se for menor, precisamos rever as dimensões da viga. No exemplo a viga tem por
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seção 12 x 60 cm = 720 cm², a parte da seção que está sendo comprimida é a metade de cima, portanto é de 360 cm². Vamos agora multiplicar a área com-
primida por 53,5 Kg/cm² = 19260 Kg, que é superior aos 8000 Kg da força horizontal, portanto aguenta.

Lajes

As lajes são vigas com pouca altura e grande largura.


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Vamos percorrer agora um outro caminho para entendermos o funcio-
namento estrutural dos arcos.
Para isso vamos examinar o que acontece quando apoiamos uma es-
cada na parede:
Dividimos o peso P em duas forças, uma -H e uma T, esta caminha
pela escada até atingir o chão, onde é dividida em duas a P que é o peso
e uma horizontal H que deve ser anulada por uma reação causada pelo
atrito da escada com o chão. A outra força -H é anulada por uma reação
igual da parede. A força -H é de mesma intensidade que a H.
Agora vamos colocar outra escada em oposição à primeira, pronto te-
mos um arco, a força -H da direita se opõe à -H da esquerda. No chão,
se quizermos ignorar a capacidade de atrito, basta unirmos os pés das
escadas com um tirante (uma corda por exemplo).
As forças que estica essa corda sempre vão ser exatamente iguais com
sentido contrário às forças que agem no topo.
Este arco foi construido com somente duas peças, mas podemos
construir arcos com muitas peças, para explicarmos melhor como
funciona a coisa, vamos dividir cada lado do arco em duas peças, e comparando novamente o arco com
escadas, vemos no desenho ao lado um dos lados do arco dividido em doi.
Observe que colocamos uma escada equilibrada sobre outra.
A de cima empurra a de baixo com a força H². É preciso que a de baixo empurre a de cima com força
igual para que haja equilíbrio, com a vantagem de a de baixo contar também com o peso da de cima.
Se unirmos os pontos onde há inflexão de direção veremos que eles definem uma curva muito próxima
da que se denomina catenária, que é a curva natural de uma corrente (latim catena).
Como há equilíbrio dizemos que o arco percorre a curva natural de forças.
Gaudi esplorou muito essa particularidade para criar suas magníficas obras.
Se as forças não se equilibrarem, onde houver desequilíbrio vai haver flexão, no mesmo lugar do arco,
uma face vai estar sendo comprimida enquanto a outra sofre tração.
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Arco semi circular, dividido em quatro partes iguais.
Fazendo um paralelo com as escadas equilibradas, no centro cada metade passa para o outro lado somente forças horizontais.
Estimando-se que cada metro quadrado de alvenaria de meio tijolo pese 280 kg/m² e acrescentando-se mais 70 kg como carga acidental, teremos 350 kg/m² de
carga.
Cada peça tem 1/8 da circunferência de raio 3,00 m (6 ,00 m x p = 18,85 m) / 8 = 2,36 m de comprimento, que multiplicado por 1 metro linear terá 2,36 m²,
que multiplicado pela carga por metro quadrado dará 825 kg para cada pedaço do arco.
Os pedaços de arco são considerados retos, pois a força que o pedaço de arco de cima entrega para o debaixo tem a direção dessa reta, num ângulo de 67,5°,
a força horizontal H será 825 kg x tg 67,5° = 1992 kg.
O pedaço de arco de baixo descarrega no chão a soma dos dois pesos, totalizando 1650 kg, num ângulo de 22,5° com a vertical, provocando uma horizontal Hb
igual a 1650 kg x tg 22,5° = 684 kg.
Subtraindo 864 kg de 1992 kg teremos ainda uma força horizontal de 1128 kg, que desequilibrando o arco, que necessitará então de reforços para absorver essa
força. Quando for resolvido o problema, que é de flexão, toda a metade do arco se enrijecerá, passando este a descarregar uma força horizontal na fundação
igual a 1992 kg em correspondência a que um semi arco descarrega no outro
-H

825 kg
H = 1992 kg -Hb = 864 kg
Hc = 1128 kg
825 kg

825 kg

Hb =
864 kg
Reprodução de estudo de arcos por Leonardo
da Vinci (L’Arte del Costruire - Salvatore di
Pasquale)
1650 kg

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