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Da Natureza das Estruturas

Vitor Amaral Lotufo - 1

Ao largarmos um tijolo dizemos:


Caiu no chão Agora, ao invés de só deixar cair o
tijolo, vamos jogá-lo longe.

Alargamos a órbita.
Mas, também podemos dizer: Quando o tijo- Se a Terra fosse um gás o tijolo
lo estava em nossa mão, estava numa órbita percorreria toda a órbita
fixa em relação à Terra.
Se a Terra fosse um gás sem atrito, o tijolo
completaria sua órbita.
Jogando o tijolo cada vez mais longe:
Quanto mais longe, maior a
largura da elipse da órbita.
Até um ponto em que , quan-
do o tijolo começa a cair já
O tijolo começaria a cair em não tem Terra embaixo, aí
direção ao centro da Terra, então o tijolo percorrerá uma
cada vez com maior veloci- órbita em volta da Terra,
dade, até contornar o centro como um satélite artificial.
com velocidade máxima
e retornaria depois de um Centro da Terra
tempo à nossa mão.
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A maior parte das estruturas que criamos, estão associadas à idéia
de se produzir um vão livre. É por esse motivo que vamos compará-
las a órbitas.
Um tijolo ao se deslocar numa órbita, ao se movimentar, consegue A mesma idéia do tijolo em órbita pode ser aplicada às nossas cons-
fazê-lo porque o universo não é maciço, isto é tem cheios e vazios, truções, elas não caem, prosseguem uma determinada órbita, e como a
(Não conseguimos movimentar uma laranja dentro de uma caixa Terra não é um gás, essa órbita pode ser interrompida pelo chão.
fechada cheia de laranjas). A diferença entre uma construção e o tijolo em órbita é que a construção
E quando se movimenta tem a capacidade de gerar forças, de com- percorre uma órbita fixa em relação à Terra e o tijolo não.
pressão no sentido de sua trajetória e de tração no sentido oposto à Existem forças como o peso agindo constantemente, mas são neutraliza-
sua trajetória das por reações que também ficam agindo continuamente.
Não há movimento mas há tendência ao movimento (energia potencial).

Traçaõ Compressão
Tindari, basílica. Arquitrave
pré fraturada.
L’Arte del Costruire - Salvato-
re Di Pasquale

Quando o tijolo atinge o chão, êle descarrega uma força com a in- As pedras laterais conjunta-
clinação da tangente de sua trajetória. mente com os apoios, fixam a
Essa força é a soma da componente vertical que é o peso do tijolo, órbita da pedra central.
e de uma força horizontal associada à órbita.
Descarrega também energia cinética devido à sua velo-
cidade, mas como trataremos de estruturas imobiliza-
das, consideraremos por hora somente a ação do peso.

Força pro-
vocada pela Terra: reação Terra Força provocada na Terra
à ação do tijolo pelo tijolo no sentido de sua
trajetória
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A força provocada pelo tijolo na
Terra pode ser destrinchada em
duas:
Uma vertical “v” (na direção do
centro da Terra, é o peso do tijolo),
Esta é a
e outra horizontal.
força que o tijolo descar-
A reação da Terra também pode ser Esta é a reação da
rega na Terra, seguindo a direção
destrinchada em duas: Terra , mesma direção sen-
Horizontal da tangente à trajetória. Ela pode ser
Uma igual e contraria a vertical, é tido inverso. Pode ser dividida
dividida em duas forças, uma que é o
a que vai impedir que o tijolo con- em duas forças, uma vertical
próprio peso do tijolo e outra que é
tinue afundando na Terra, e outra que vai se opor ao peso
uma horizontal
horizontal, que vai impedir que o e outra horizontal. Peso
tijolo deslize horizontalmente
Terra

Quanto mais larga a órbita em relação à altura, maior será a força horizontal.

A vertical é sempre igual, pois o peso não


muda, o que muda é a horizontal que será
maior quanto mais inclinada for a tangente
à órbita, no ponto de colisão
Horizontal 1 é menor que a Horizontal 2

Horizontal 1 Horizontal 2

Peso Peso
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Comparando com uma construção:
Como a construção não está em movimento, ela só descarrega no chão A diferença do tijolo do que foi jogado no ar para o do
forças tangentes aos pontos de apoio, essas forças tangentes são a soma arco é que este está com órbita fixa e não cai porque seu peso vai
resultante da ação do peso (metade em cada apoio) e forças horizontais. se apoiar metade no tijolo vizinho da esquerda e metade no vizinho
Quanto mais larga a órbita maiores serão as forças horizontais, as forças da direita.
verticais permanecem iguais pois o peso não se altera.
Com certeza existe uma forma ideal para essa “órbita”, pois cada tijolo
precisa fornecer ações contrárias aos tijolos vizinhos para que estes não se
movimentem.

A fundação precisa fornecer reações con-


trárias ao peso e às forças horizontais, caso
contrario o arco se movimentará.
Se atribuirmos à fundação a função de
Força Força resistir somente às forças peso, podemos
horizontal horizontal colocar na horizontal um tirante preso aos
Tangente Metade do peso Metade do peso dois apoios do arco que absorverá as forças
Tangente à
à “órbita” do arco do arco horizontais.
“órbita”
Será uma estrutura denominada AUTO-
PORTANTE
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Para simplificar a
visualização trabalha-
remos somente com as
forças Ações, omitindo
as Reações
Altura da parábola vezes dois

Altura da parábola

Tirante H
Metade do peso

Tangente no
O tirante faz com ponto de apôio.
que as horizontais se É o prolongamento
equilibrem (são sem- da linha que une o
pre iguais) O cálculo estrutural desse arco é resolvido da seguinte maneira: dobro da altura com
os apoios
O arco precisa ter a forma da curva correta. Essa curva é a de uma
Consi-
catenária invertida, que é a aproximadamente a curva ideal para
As deramos que o arco descarre-
cargas iguais ao longo da própria curva.
forças indicativas de ga na fundação uma força que é a
A forma da catenária, quando a flecha (altura) não supera o vão,
peso deveriam sempre soma resultante de todas as forças
muito parecida com a de uma parábola, que é muito parecida com a
apontar para o centro de mas- da seção do tijolo que se apoia na
de uma elípse.
sas do nosso planeta, mas em fundação portanto sua linha de
Como são curvas parecidas, vamos considerar que seja uma parábo-
função da escala consideramos ação passa pelo eixo do
la, pois fica mais fácil para determinarmos os ângulos das tangentes,
como verticais e paralelas tijolo.
pois é só prolongarmos as linhas que unem o dobro da flecha da
umas às outras. parábola com os apoios
Pela regra do paralelogramo, basta sabermos uma das forças (no
caso o peso do arco dividido por dois), e o ângulo da tangente para
determinarmos os valores das forças horizontais e das tangentes.
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Se o arco tiver a forma de órbita correta, ao longo de
todo o seu percurso existirá somente compressão.
Os tijolos vão querer sempre se aproximar e não se
afastar uns dos outros.

Esta O peso do
força é a que vem do tijolo central se divide
tijolo de cima, surgindo em duas forças que descarre-
uma resultante de sua soma gam nos vizinhos
com o peso deste tijolo

As
resultantes
devem sempre passar Pesos dos tijolos
pelo centro de gravidade
de cada tijolo, para que a
órbita esteja correta

Então vamos dobrar a altura da parábola, unir com o ponto de apôio e


caminhar para o ponto médio da horizontal, temos um triângulo retângulo
geométrico, vamos compará-lo ao triângulo de forças, pois os triângulos
são semelhantes:
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Os dois triângulos assinalados são semelhantes

A altura do triângulo geométrico (o dobro da altura do


arco), está para a altura do triângulo de forças (metade do
peso do arco), assim como a metade do vão do arco está
para a força horizontal.
O triângulo geométrico é produto de nosso projeto, portan-
to conhecemos todas suas medidas, calculando o peso do
arco e comparando os dois triângulos que são semelhantes,
descobrimos o valor das forças horizontal e da tangente

Dobro da altura da parábola


que desconhecíamos.

Força horizontal (H) / Vão / 2 = Peso / 2 / 2 alturas

Triângulo
Força
geométrico
horizontal
Metade do vão

Metade do
Força que o
peso do arco
arco descarrega
na fundação

Triângulo
de forças
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Quando anotamos kg
estamos simplificando kgf
Exemplo :

O vão do arco é de 5 metros e a altura de 2 metros.


O desenvolvimento do arco é de aproximadamente de 6,50 m, cons-
truido em tijolos meia vez, resultando a espessura de 0,15 m com
revestimentos e largura de 0,30 m.

2,00 m
Adotando-se o peso médio de 280 kg/m² de alvenaria, mais 50 kg/m²
de carga acidental e multiplicando-se o total por 1,4 (segurança),
temos o total de 462 kg/m².
A superfície do arco é de 6,50 m x 0,30 m = 1,95 m².

4,00 m
Multiplicando-se a superfície do arco 1,95 m² por 462 kg/m² teremos
a carga total de 901 kg, que dividido por 2 dará 451 kg de peso por
fundação.

2,00 m
Comparando-se a força horizontal com a metade do vão (5m / 2 )
2,50 m e a metade do peso (901 kg / 2) 451 kg com o dobro da altura
(2 m x 2) 4 m,
H / 2.50 m = 451 kg / 4 m H
Teremos para a força horizontal : 282 kg 451 kg
Usando Pitágoras descobrimos quanto vale a força tangente, que é a Tangente
hipotenusa do triângulo de forças = e (451² kg + 282² kg ) = 532 kg.
que é a força que efetivamente comprime os tijolos. 2,50 m
Uma área de 11 x 30 cm deve suportar essa força (a seção do arco). 5,00 m
Dividimos 532 kg por 330 cm² = 1,6 kg / cm², que é muito pouco,
pois um tijolo de qualidade razoável deve aguentar mais de 50 kg /
cm². O problema não termina aí, pegando um tijolo
Os aços que usamos para concreto armado CA-50 aguentam 5000 na mão, achamos que é uma coisa muito dura
kg/cm², diminuídos de 15% por segurança = 4250 kg/cm². que não acontecerá nada quando o puxarmos ou
Então, na horizontal, como tirante para resistir a força de 282 kg, pre- apertarmos, mas na verdade todos os materiais
cisamos de uma seção de Aço / 282 kg = 1 cm² / 4250 kg/cm² modificam sua forma ao serem submetidos à
Área de aço = 0,05 cm² ou seja um diâmetro de 0,26 mm de aço. forças.
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UT TENSIO SIC VIS (CEIIINOSSSTTUV)


Essa foi a frase que Robert Hooke (1635-1703) escreveu em anagrama para assegurar a primazia
da descoberta que: O ALONGAMENTO É PROPORCIONAL À FORÇA.
Hooke estava dizendo que um material quando resiste a uma força e transmite essa mesma força
para outro material, o faz através de um movimento interno de suas partículas absorvendo a força
e se deformando, não importa em que estado esteja, gasoso, líquido ou sólido.
Hooke estava dizendo que um material sujeito a uma força de tração se alonga, e sujeito
a uma força de compressão encurta e que num certo intervalo a força e a modificação de
tamanho são proporcionais.
Então, toda força produz movimento, se houver uma reação, esse movimento será muito pequeno,
mas sempre vai haver um pequeno movimento (até que o material entre em equilíbrio entre ação
e reação).
Não existe portanto nenhuma estrutura ou material perfeitamente rígido essa é a grande importância
dos vazios, se os materiais fossem absolutamente maciços eles não resistiriam nem transmitiriam
forças pois não haveria como modificar a sua forma.
A capacidade de se alterar a forma está estritamente ligada à resistência de forças.
Não afundamos no chão porque ele fornece uma reação igual e contrária ao nosso peso, isto é,
sempre vamos afundar um pouco no chão, vamos afundar até que apareça uma reação contrária
e igual ao nosso peso e isso acontece quando o material do solo entra em equilíbrio depois de ter
sido amassado conforme sua elasticidade e resistência.
É lógico que o solo também vai afundar, mas como o nosso peso vai se distribuindo por uma área
cada vez maior de subsolo, cada vez a força vai ser menor por unidade de área, produzindo um
afundamento menor.
A grande descoberta de Hooke foi então que colocando um peso numa balança de mola, esta vai
esticar.
E existe uma relação entre força e deslocamento em relação à seção e passo da mola.
Então, toda ação provoca uma reação em sentido contrário, e vai haver um encurtamento ou
uma elongação das partes por onde essa ação e reação passam, os materiais interessantes para as
estruturas são aqueles que se deformam na presença de alguma força e depois voltam ao mesmo
tamanho depois de cessarem as forças.
11N0este caso o material trabalhou no regime ELÁSTICO em relação à força. Se o material
modifica sua forma, não retornando à sua forma inicial antes da força ser aplicada, ele traba-
lhou no regime PLÁSTICO e se houve separação das partículas do material dizemos que houve
RUPTURA.
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Young trabalhou com a descoberta de Hook e propôs o Módulo de Elasticidade que Tudo o que é comprimido encurta e tudo o que é tracionado en-
é característico de cada material: força atuante dividido pela seção do material comprida, não importa em que regime, elástico ou plástico.
(tensão), dividido pela porcentagem de alongamento ou encurtamento do mate-
rial.

Módulo de Elasticidade de alguns materiais. Resistêrncia de alguns materiais usados nas construções
Fonte: “The New Science of Strong Materials”- J.E.Gordon

Borracha 70 kg/cm² A madeira usada em estruturas suporta em média 100 kg/


Plásticos 14.000 kg/cm² cm² à tração ou compressão.
Ttijolo 70.000 kg/cm²
O tijolo suporta em média 50 kg/cm² à compressão (de-
Madeira 140.000 kg/cm² pendendo de sua qualidade e da argamassa usada).
Fiber-glass 170.000 kg/cm²
Concreto 240.000 kg/cm² O concreto suporta entre 150 a 300 kg/cm² à compressão
Vidro 700.000 kg/cm² (dependendo de seu traço).
Alumínio 730.000 kg/cm²
Aço 2.100.000 kg/cm² O aço CA-50, 5.000kg/cm² à tração ou compressão.
Diamante 12.000.000 kg/cm² O tijolo e o concreto não devem, ser usados à tração

O significado do Módulo consiste no seguinte:


Se aplicarmos uma força igual ao milésimo do módulo de elasticidade em um pedaço de um determinado material com 1
cm² de seção, ele diminuirá ou aumentará de tamanho, conforme a força for de tração ou compressão de um milésimo de seu
comprimento.

Para sabermos quanto um material cresce ou diminue de tamanho (DL) quando uma força é aplicada, basta multiplicarmos a força (F) pelo comprimento
da peça em questão (L) e dividirmos pelo módulo de (E) elasticidade, multiplicado pela seção (S) da peça.

DL = F (Força) x L (comprimento) / E (Elasticidade) x S (seção)

Exemplo:
Uma Força de 367,5 kg traciona uma barra de aço de 500 cm de comprimento e 0,08 cm² de seção. Qual será o tamanho final da barra?
Dl= 367,5 kg x 500 cm / 2.100.000 kg/cm² x 0,08 cm² = 1,09 cm
mais 500 cm total: 501,09 cm.

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TRAÇÃO

Imaginemos que dentro de uma barra COMPRESSÃO


sujeita à tração, existam braços, e que
realmente eles é que são os responsá- Enquanto os braços encurtam devido à
veis pela resistência à tração; é como se compressão, sua cintura quer se alargar
eles cumprissem o papel de resultantes e quando um dos lados encurtar mais
da somatória das forças de tração que que o outro, as forças de compressão
percorrem a barra. vão se apoiar mais no lado que encur-
Enquanto os braços encompridam pela tou.
ação das forças de tração, a cintura E ao contrário da tração, quando a
tende a ficar mais estreita. tendência é para o equilíbrio, agora a
Como nenhum material é absolutamen- tendência é para o desequilíbrio.
te homogêneos sempre os braços de Este é o efeito da FLAMBAGEM.
um dos lados vai esticar mais do que
os do outro lado, mas isso acontecendo Braços
a maior força recairá no lado que ficou
mais curto e assim por diante. Quando Cintura Cintura
a força é de tração a peça vai esticando
e se auto corrigindo e tenderá a ficar
cada vez mais alinhada com o eixo das
forças.
Se um dos lados ficar mais comprido
do que o outro, as forças vão tensionar
mais o lado menor, e este vai tender a
igualar o outro lado.
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Cálculo da Flambagem

Se a peça for cilíndrica, a flambagem pode


acontecer para qualquer um dos lados, mas
Se o comprimento do lado mais curto for se for prismática, a flambagem com certeza
diminuindo a ponto de sua distância ao eixo vai ocorrer em um dos lados da menor lar-
da peça se reduzir de um terço, começará a gura.
existir tração no lado oposto, ficando o lado Para calcularmos se a flambagem vai atingir
que encurtou responsavel por toda a carga. o limite, precisamos saber se:
Esse é o limite de FLAMBAGEM, pois a partir o encurtamento de um dos lados, pode ficar
daí quando um lado é tracionado e o outro com- menor que a linha que saindo dos pontos
primido, passa a existir flexão (tração numa face, de aplicação das forças, passa pelo terço da
compressão na outra), e muitas vêzes o material largura da peça.
que estamos utilizando não resiste bem tração. A partir daí a peça vai trabalhar à flexão,
que será visto mais à frente. Este
ponto é o
terço da lar-
Quando o encurtamento dos gura
braços de um dos lados atinge A
o limite de flambagem os braços peça não pode
opostos começam a trabalhar à tra- Se encurtar mais do que este
ção. E a cintura começa a trabalhar voce estiver comprimento, caso contrário
à compressão e não mais à sobre uma jangada na haverá flambagem
tração, empurrando a face água não fique fora do
oposta para fora 1/3 central da jangada,
pois caso contrário ela pode Esta
virar, suspendendo o lado linha é
oposto. considerada o
comprimento da
O mecanismo interno, peça
que dramatizamos com braços retos e
cintura, na verdade seria melhor carac-
terizado por curvas e infinitas cintura,
mas dificultaria sua compreensão.
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Mesmo que as cargas estejam absoluta- Verificação da Flambagem no Arco de Tijolos
Arcoo de tijolos retificado
mente centradas comprimindo a peça,
dependendo da relação comprimento Para verificar a flambagem no arco de tijolos do exercicio Arco retificado sem
largura, pode existir flambagem. anterior, vamos desenrolar o arco como se fosse uma coluna de 532 kg escala
Isso porque todos os materiais tem calor, 6,50 metros de altura, 0,30 m de largura e 11 cm de expessura.
tendo calor vibram, então mesmo que Vamos imaginar aplicado à esta coluna uma carga de 532 kg
apliquemos a força de compressão ab- que é a carga de compressão no pé do arco. Observando a for-
solutamente centrada em algo de formas ma do arco, vemos que só existe uma possibilidade de flamba-
absolutamente regulares a força vai gem, é na espessura de 11 cm e para fora, não para dentro.
momentaneamente atuar fora do Precisamos saber então se a hipotenusa dobrada do triângulo que
eixo, e como tudo o que é tem como catetos 325 cm e 5,5 cm, com o carregamento da força

3,25
comprimido diminue de de 532 kg, pode ficar com o mesmo tamanho da hipotenusa dobrada do
tamanho , um dos lados triângulo que tem por catetos 350 cm e 1,83 cm. Limite de
pode encurtar mais Se ficar maior o arco suporta a flambagem, se for menor, precisarão ser feitos Flambagem
que o outro. reforços ou modificar sua forma.
Hipotenusa 1 = e(325² + 5,5²) = 325,0465 x 2 = 650,093
Hipotenusa 2 = e(325² + 1.83²) = 325,0052 x 2 = 650,0104

6,50
Força que com- Elasticidade do 1,83
prime o arco tijolo 5,5

Então: DL = 532 kg x 650,093 cm / 70.000 kg/cm² x 330 cm² = 0,01497 cm 11


Quanto o arco comprimento seção do Quanto o arco
diminue no comprimen- do arco arco diminue no comprimento
to devido à compressão devido à compressão

Isso quer dizer que o comprimento do arco vai diminuir 0,015 cm aproximadamente, com essa diminuição o
comprimento total 650,093 cm vai ficar com 650,078 cm, que ainda é maior do que o limite de flambagem
650,0104 cm.
Não haverá tração no lado oposto.
É importante lembrar que consideramos a carga centrada, se estiver fora de centro, as linhas que consideramos ficarão
menores e portanto a tendência à flambagem aumentará.
Quando há aproximação ao limite de flambagem a força no lado que encurta ficará dobrada então é importante verificarmos se o dobro da força não atinge
o máximo que o material suporta.
Importante também é que o arco precisa resistir também à forças externas acidentais que ainda não foram verificadas .
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Este pilar curvo doTeatro aberto em Cannes projetado pelo arquiteto R. Tailli-
bert e pelo Instituto de Estruturas Leves Univ Stutgart, é extremamente didático:
Claramente ele só pode flambar na direção em que é curvo, mas está preso a
cabos que impedem a flambagem, impedindo inclusive que ele possa flambar Desenhamos um arco num pedaço
para os lados. de espuma para dramatizar o efeito
A única possibilidade de alcançar o limite de flambagem seria havendo uma da flambagem.
diminuição exageradamente grande em seu comprimento.
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Acabamos de ver como funciona a ferramenta mínima das estruturas.


Toda e qualquer estrutura funciona exatamente igual ao arco atirantado

Numa viga de concreto armado são colocadas outras ferragens


Se colocarmos esse arco sobre que são: duas barras em cima da viga, que servem para deixar o
dois pilares, ele estará funcio- conjunto da ferragem com rigidez e não mudar sua forma duran-
nando exatamente igual a uma te a concretagem pela mesma razão o tirante é feito sempre no
Arco mínimo com duas barras, já os estribos tem a função de formar
viga
outros arcos menores dentro da viga, melhorando sua atuação.
Tirante

Estribos
Arcos no
Pilares
concreto

Para ficarmos mais conven-


cidos que esse arco tirante é
uma viga, vamos completar os
vazios com tijolos: Uma
O tirante dentro parte do concreto Tirante
Se ao invés de tijo- faz o papel do arco
do concreto
los preenchermos
esse espaço com
concreto, inclusi-
ve mergulhando o
tirante dentro desse
Tirante concreto para pro-
tegê-lo, temos uma Tirante
viga de concreto
armado
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Nesses exemplos o arco é que transporta as forças verticais através do vão para os
apôios, se o tirante for fazer esse papel, ele deverá ser curvo e não reto e se o arco não
tiver de transportar cargas ele poderá deixar de ter a forma de arco e poderá ser reto.
Esta estrutura funciona igual às anteriores.
Neste caso
o tirante trans-
porta seu próprio
peso para os apôios,
por esta razão é cur- P
vo, e a curva natural
para este caso não
é exatamente a
parábola, mas sim
a catenária.

Duas meta-
des de P T²
Reforçando a ideia


Vamos amarrar uma corda entre duas árvores. As árvores são os apoios ou pilares e a T¹
corda vai vencer o vão entre essas árvores. Ao dependurarmos pesos na corda verifica-
mos que sua forma vai se alterando conforme a posição e o valor dos pesos. P
A corda como é flexível, altera sua forma, porque não resiste a esforços de compressão, T² T¹
somente os de tração, então ela acaba assumindo a forma da resultante que é chamada
também “funicular” ( do latim funiculum ou cordão ).
Primeiramente vamos colocar um peso de 100 kg (P) bem no meio da corda, verificamos
que o peso puxou para baixo a corda.
Os 100 kg se dividem em duas forças T¹ e T², que podem ser entendidas como resul-
tantes da soma de horizontais e das duas matades do peso , que esticam a corda e esta H¹

descarrega T¹ e T² nas árvores.
Vamos decompor essas forças em forças horizontais e verticais. V¹ V²
A soma das verticais V¹ e V² será igual ao peso total (100 kg). Neste caso particular
em que o peso está centralizado as duas (V¹ e V²) serão iguais, mas se o peso de 100 kg
estiver fora do centro elas terão valores diferentes.
As horizontais formam binários, se no centro da corda tem uma direção, nos apôios
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terão direções contrárias porém mesmos valores.
Repare que as horizo� -
ção, mas todas com o mesmo valor, pois se assim não for, estaria existindo movimento causado pela força que fosse maior.
Tendo entendido como fun�
depois dimensiona-la, que é escolher materiais e quantifica-los para que aguentem as forças encontradas. Notem que qualquer procedimento de cálculo e
dimension� echa.
Cálculo da estrutura
Para calcularmos essa estrutura, ou a corda, devemos:
1- Somar o valor dos pesos que dependuramos na corda e o peso da própria corda,
teremos então, o valor total das forças verticais que atuam nessa estrutura. Neste caso H²

podemos desprezar o peso próprio da corda, então o total será os 100 kg.
2- Medir os ângulos que as pontas da corda formam com os apoios (as árvores). V¹

Pois esses ângulos é que determinarão os valores das forças T¹ e T², que decompostas
determinam as horizontais que as árvores devem resistir. T¹ T²
Como a corda praticamente apresenta o desenho de um triângulo, a tangente da corda
nos apôios é a própria direção da corda.
3- Sabemos também que as forças horizontais são iguais e contrárias (a mesma força
horizontal que a parte esquerda da corda aplica na árvore, a da direita também aplica
com sentido contrário na outra árvore.
Marcamos as duas forças horizontais, o tamanho não importa pois desconhecemos o valor, basta que sejam de mesmo tamanho. A partir daí marcamos os
paralelogramos de forças, e obtemos assim os tamanhos das forças verticais que chegam nas árvores. Neste caso como o peso está centralizado (a corda chega
com o mesmo ângulo nas duas árvores), as forças verticais obtidas tem o mesmo tamanho.
4- Sabemos �
Para det�
Um desses triângulos é o triângulo de forças H¹, T¹ e V¹ , o outro triângulo é um triângulo semelhante ao primeiro, do qual conhecemos as medidas dos catetos,que
são a medida da �
A soma das verticais V¹+V² é 100 kg (item 1), como a carga está centralisada e os apôios em nivel, elas são iguais à metade de 100 kg ou seja 50 kg.
Agora é aplicar regra de três:
H¹ / 5 m (metade do vão) = 50 kg (V¹) / 1 m (altura estrutural).
H¹ = 50 kg x 5 m / 1 m
H¹ = 250 kg
Para sabermos o valor de T¹ basta aplicar Pitágoras.
T = e((V¹)² + (H¹)²) = 255 kg
Podemos também resolver tudo por desenho, basta atribuir uma escala para a força conhecida que é P e depois comparar seu comprimento com as demais
forças no próprio desenho, que são a medida da metade do vão e a altura, que é distância entre as horizontais que tracionam e as horizontais que comprimem.
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Dimensionamento da estrutura O mesmo exercício com o peso descentralizado

Depois de encontradas as forças que atuam na estrutura, passamos ao di- Vamos ter de comparar dois pares de triângulos semelhantes, os da direita (geo-
mensionamento que é verificar que dimensões os materiais construtivos métrico com o de força) e os da esquerda (geométrico com o de força).
precisam ter. Para isso precisamos de dados sobre os materiais que estamos Sabemos que a soma das duas verticais perfazem o total do peso ou seja os 100
utilizando, e que geralmente são fornecidos pelos institutos de pesquisa. kg (V¹ + V² = P) , mas como o peso é descentralizado V¹ é diferente de V², mas
Quando se atribue um determinado valor para a resistência de um material, é inversamente proporcional aos vãos, isto é V¹ esta para 7,50 m assim como
não é o valor médio de ruptura desse material, porque estaríamos aceitando V² esta para 2,50 m.
que grande parte das estruturas pudessem ruir; esse valor deve ser um V¹ = (V² x 7,50 m) / 2,50 m ou
dado seguro, por exemplo a madeira Peroba Rosa deve resistir a uma força V¹ = 3 V², substituindo
de 85 kg kg/cm² no sentido de seu eixo longitudinal, provavelmente para V¹ + V² = 100 kg,
rompermos uma peça dessa madeira precisaremos imprimir uma força 3 V² + V² = 100 kg, V² = 25 kg e V¹ = 75 kg , agora é só comparar os triângulos
muito maior. geométricos com os de forças, e teremos:
Repare que a maior força que a corda precisa resistir é justamente T¹ e T² H¹ = (V¹ x 2,50 m) / 1 m,
ou 255 kg. H¹ = 187,5 kg e
H² = 187,5 kg pois H² = ( 25 kg x 7,50 m) / 1 m
e T¹ = e(75² kg + 187,5² kg), T¹ = 202 kg,
Após consultarmos uma tabela de cordas, encontramos a corda de sisal de
T² = e (25² kg + 187,5² kg), T² = 189,2 kg
1/4 de polegada de diâmetro que aguenta 140 kg, então concluímos que ela
não é suficiente para aguentar os 255 kg de força, então ou colocamos duas
cordas de 1/4” ou escolhemos uma mais grossa que é a de 3/8” de diâmetro, A corda tem de suportar a maior das duas forças, a de 5/16”
que aguenta 290 kg,

Corda de Sisal Alcatroada

Diâmetro (pol) Resistência Mínima (kgf) Metros por quilo


1/4 140 33
5/16 225 20
3/8 290 15 2,50 m 7,50 m
1/2 550 9
5/8 900 5 H² V²

3/4 1100 3,5

1m

7/8 1500 3
1 1800 2,2
1.1/4 2850 1,5
1.1/2 3900 1
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O mesmo exercício com o peso descentralizado

Vamos ter de comparar dois pares de triângulos semelhantes, os da direita (geométrico com o de força)
e os da esquerda (geométrico com o de força).
Sabemos que a soma das duas verticais perfazem o total do peso ou seja os 100 kg (V¹ + V² = P) ,
mas como o peso é descentralizado V¹ é diferente de V²O mesmo exercício com o peso des-

centralizado Triân-
gulo geométrico 2
Vamos ter de comparar dois pares de triângulos semelhantes, os da di-
reita (geométrico com o de força) e os da esquerda (geométrico com o
de força). Triângulo geométrico 1 Tri-
Sabemos que a soma das duas verticais perfazem o total do peso ou seja
ângulo de for-
os 100 kg (V¹ + V² = P) , mas como o peso é descentralizado V¹ é dife-
ças 1
rente de V² Triângulo de
forças 2
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(altura estrutural).
A soma das verticais V¹+V² é 100 kg (item 1), como a carga está centralisada e os apôios em nivel, elas são iguais à metade de 100 kg ou seja 50 kg.
Agora é aplicar regra de três:
H¹ / 5 m (metade do vão) = 50 kg (V¹) / 1 m (altura estrutural).
H¹ = 50 kg x 5 m / 1 m
H¹ = 250 kg
Para sabermos o valor de T¹ basta aplicar Pitágoras.
T = e((V¹)² + (H¹)²) = 255 kg
Podemos também resolver tudo por desenho, basta atribuir uma escala para a força conhecida que é P e depois comparar seu comprimento com as demais
forças no próprio desenho.

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