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MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS

Tipos de migrações:
As migrações adotam diferentes classificações de acordo com os espaços que envolvem, a duração
dos movimentos, a vontade dos migrantes e a sua relação com a lei (Figura 2).

Figura 2: Tipos de migrações.

Quando ao espaço

- Externas

As pessoas deslocam-se para fora do país de origem, apresentando duas formas: a emigração e a imigração. Se este
movimento se efetuar entre países/regiões dentro do mesmo continente estamos perante uma migração intracontinental (intra =

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dentro); se o movimento se efetuar entre países/regiões de continentes diferentes estamos perante uma migração
intercontinental (inter = entre) (Figura 3).

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i Figura 3: Exemplos de migrações intracontinenteias e intercontinentais.

- Internas

As pessoas deslocam-se de uma região para outra mas dentro do mesmo país. Neste tipo de migrações são muito distintas as
situações dos Países Desenvolvidos (PD) e dos Países Em Desenvolvimento (PED). Nos PD, após uma primeira fase em que
se assistiu à fuga de pessoas do campo para a cidade, assiste-se, atualmente, a uma crescente corrente de pessoas que fogem
da cidade para o campo – êxodo urbano. Estes movimentos são motivados pelo desenvolvimento dos transportes pois, por
exemplo, permitem que as pessoas vivam no campo e continuem a trabalhar na cidade, pelo menor custo das habitações, pelo
estilo de vida mais tranquilo no campo ou pelas melhores condições ambientais.

Nos PED assiste-se à fuga das pessoas do campo para a cidade – êxodo rural (Figura 4). Estes movimentos são motivados pelas
diferenças salariais (geralmente os salários são superiores nas cidades), pelo excesso de mão de obra existente no campo
(fruto do crescimento populacional) ou pelas melhores oportunidades sociais ou culturais existentes nas cidades.

Aos movimentos que são efetuados diariamente entre a residência/habitação e o local de


trabalho/estudo, e vice-versa, dá-se o nome de movimentos pendulares (Figura 5).

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Figura 4 e 5: Abandono nas áreas rurais em detrimento das áreas urbanas (êxodo rural). Ida diária e regresso de alunos para a escola (movimentos pendulares).

Quando à duração

- Definitivas ou permanentes

As pessoas deslocam-se para outro local durante um período de tempo superior a um ano (ou mesmo para sempre), com o
objetivo de aí formar residência (Figura 6). As razões podem ser muito variadas, mas, regra geral, são motivadas por questões
laborais ou escolares ou ainda pelas guerras e as más condições de vida em geral.

- Temporárias

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As pessoas permanecem na área de destino um curto período de tempo, inferior a um ano, tendo a intenção de regressar ao
seu local de origem. As migrações temporárias podem ainda ser consideradas migrações sazonais, ou seja, próprias de uma
estação do ano, quando estas se realizam em épocas específicas do ano (nomeadamente quando uma família se deslocam
para áreas balneares/praias para aí passarem férias (motivação turística); ou quando as pessoas, por exemplo, se deslocam
temporariamente para a apanha da fruta (motivação laboral) (Figura 7).

Figura 6 e 7: Chegada de emigrantes portugueses à Gare de Austerlitz em 1965. Paris, França (migração definitiva). Imigrantes na apanha da maçã em Marrocos
(migração temporária sazonal com motivação laboral).

Quando à tomada de decisão

- Voluntárias ou livres

Movimentos associados ao fator económico (busca de melhores salários) ou à realização profissional,


surge por vontade própria, por livre iniciativa da população (Figura 8).

- Forçadas

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Por razões de ordem religiosa ou política (por exemplo a perseguição de minorias étnicas), guerras ou
catástrofes naturais (sismos, tsunamis, furacões, inundações), a população pode ser obrigada a
deslocar-se para outras áreas (Figura 9).

Figura 8 e 9: Partida de emigrantes portugueses no Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Porto (migração voluntária). Fuga de refugiados Sírios em 2014. Turquia (migração
forçada).

Quando à relação com a lei

- Legais ou documentadas

Ocorre quando o migrante tem autorização de entrada e/ou permanência no país/região de chegada.

- Ilegais, indocumentadas ou clandestinas

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Por vezes, pode ocorrer a chegada de migrantes a um país/região que não respeite as formalidades legais. Neste caso trata-se
de uma migração clandestina ou ilegal, ou seja, o migrante não tem autorização de entrada e/ou permanência no país de
chegada.

Causas das migrações:


As migrações são causadas por uma grande diversidade de fatores (Figura 10). Estes fatores originam movimentos populacionais
das áreas repulsivas para as áreas atrativas. Na atualidade, os movimentos migratórios mais importantes têm origem nas
regiões menos desenvolvidas, mais pobres e que apresentam um elevado crescimento demográfico e têm como destino as
áreas mais atrativas tais como as regiões mais desenvolvidas, mais ricas, mais industrializadas e onde a pressão demográfica é
menor.

Figura 10: Causas das migrações.

Causas naturais

Estas migrações realizam-se devido à ocorrência de catástrofes naturais como os sismos, as erupções vulcânicas, as
inundações, as secas, os tsunamis ou condições climáticas adversas (Figura 11).

Causas económicas

Nas áreas de partida não há, muitas vezes, harmonia entre o crescimento demográfico e o aumento de recursos (como por
exemplo, o aumento da produção agrícola para alimentar o crescente aumento da população ou o aumento do número de
postos de trabalho) pelo que a população está associada a situações de pobreza, salários baixos, desemprego ou más

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condições de vida em geral. Assim, a solução passa por procurar melhores condições de vida numa outra área
economicamente mais desenvolvida (Figura 12).

Figura 11 e 12: Destruição causada pelo sismo ocorrido na fronteira entre o Irão e o Iraque a 12 de novembro de 2017. Habitação precária na cidade de Addis Abada,
Etiópia.

Causas socioculturais

No âmbito destas migrações estão motivos socioculturais como por exemplo os artistas ou investigadores que procuram
cidades importantes para desenvolverem e promoverem as suas pesquisas e/ou mostrarem as suas obras. Um outro exemplo
são os estudantes que optam por estudar em Universidades de renome internacional como por exemplo Cambridge no Reino
Unido, Sorbonne em França, Coimbra em Portugal ou Harvard nos EUA.

Causas bélicas
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Estas migrações provêm essencialmente dos PED atingidos pelos conflitos armados (guerras), lutas e/ou perseguições étnicas,
tensões sociais graves ou instabilidade política onde não estão garantidos os Direitos Humanos.

Causas religiosas

As perseguições religiosas são outro exemplo de motivações para a deslocação de um povo. A intolerância religiosa manifesta-
se num conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a crenças religiosas diferentes. Em casos extremos esta intolerância dá
origem a perseguições, originando a fuga forçada da população contribuindo para o aumento dos refugiados.

As peregrinações a locais religiosos como por exemplo a Cova da Iria em Fátima, a São Tiago de Compostela em Espanha, a
Lourdes em França, ao Vaticano (religião cristã), ou a Meca na Arábia Saudita (religião muçulmana) é outra das causas das
migrações.

Consequências das migrações:

As migrações têm consequências importantes para a população. Estes efeitos dos movimentos migratórios são sentidos nas
áreas de partida tanto a nível demográfico como socioeconómico (Quadro 1).
Quadro 1: Consequências nas áreas de partida

Consequências demográficas Consequências económicas Consequências sociais

Diminuição da população absoluta e da pressão Diminuição da mão de obra dos diversos setores
Enriquecimento e intercâmbio cultural
demográfica de atividade

Pode conduzir a um Saldo Migratório negativo Abandono dos campos agrícolas nas áreas rurais Abandono das infraestruturas e serviços públicos

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Diminuição da Taxa Bruta de Natalidade e de
Diminuição do desemprego Introdução de novas ideias, técnicas e hábitos
Fecundidade

Receção de poupanças envidas pelos emigrantes


Diminuição da Taxa de Crescimento Natural Diminuição dos encargos da Segurança Social
(remessas)

Aumento da mortalidade Aumento dos salários Retrocesso no desenvolvimento regional

Diminuição do espírito empreendedor e


Envelhecimento da população Diminuição da população urbana
produtividade

Também nas áreas de chegada se verificam consequências a nível demográfico e


socioeconómico (Quadro 2).
Quadro 2: Consequências nas áreas de chegada

Consequências demográficas Consequências económicas Consequências sociais

Aumento da população absoluta e da pressão Aumento da mão de obra dos diversos setores de
Enriquecimento e intercâmbio cultural
demográfica atividade

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Fragmentação e perda de direitos dos
Pode conduzir a um Saldo Migratório positivo Dificuldade de integração dos imigrantes
trabalhadores

Aumento da Taxa Bruta de Natalidade e de


Disponibilidade de mão de obra barata Falta de habitação e aumento dos bairros de lata
Fecundidade

Envio de poupanças para o país de origem dos


Aumento da Taxa de Crescimento Natural Aumento dos encargos da Segurança Social
migrantes

Diminuição da mortalidade Diminuição dos salários Saturação das infraestruturas e serviços públicos

Aumento do espírito empreendedor e Aumento dos conflitos sociais, do racismo e da


Rejuvenescimento da população
produtividade xenofobia

Grandes ciclos migratórios internacionais:

Pode dizer-se que, ao longo da História, as migrações internacionais contribuíram para o povoamento do Mundo e, nos tempos
atuais, para o seu repovoamento já que existem, segundo a ONU, milhões de pessoas que não vivem nos seus países de
origem. Neste contexto é possível identificar quatro grandes ciclos/fases migratórios/as (três deles nos últimos dois séculos),
sendo que um deles pode ser subdividida em dois momentos com características totalmente diferentes.

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1ª fase – Até ao século XIX

O maior período de migrações teve início no século XVI, com as colonizações portuguesa e espanhola do Novo Mundo. A
América do Norte foi ocupada, principalmente, por colonos britânicos e franceses e a América do Sul e Central por colonos
portugueses e espanhóis. Um outro fluxo muito importante foi a saída forçada de escravos africanos para as Américas com o
intuito de trabalharem nas diversas colónias.

⇒ Áreas de partida – sobretudo continente europeu e africano

⇒ Áreas de chegada – sobretudo continente americano

2ª fase – Desde o século XIX até meados do século XX (até ao final da Segunda Guerra Mundial)

Elevados fluxos migratórios desde início século XIX até sensivelmente à Primeira Grande Guerra (1914-1918). O aumento muito
elevado da população do continente europeu (explosão demográfica motivada pela melhoria nos cuidados de saúde e de
higiene) e a precariedade (más condições de vida) da população (motivadas pela falta de emprego e/ou baixos salários devido
ao desenvolvimento da indústria) motivou a saída de milhões de europeus sobretudo para a América e para a Oceânia
(migração intercontinental). Esta migração foi facilitada pelo desenvolvimento dos meios de transporte, nomeadamente o
desenvolvimento de navios transatlânticos (Figura 13).

Baixos fluxos migratórios entre Primeira Grande Guerra (1914-1918) e o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). As
dificuldades de navegação (ou o medo de viajar pois os navios eram, frequentemente, afundados) levaram à redução dos fluxos
migratórios. Também a crise económica de 1929-1930 (que conduziu à falência de muitos bancos e empresas) levou a que
muitos países recetores de migrantes restringissem a imigração, ou seja, proibissem a entrada de imigrantes.

⇒ Áreas de partida – sobretudo continente europeu

⇒ Áreas de chegada – sobretudo continente americano

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Figura 13: RMS Titanic - Um de três transatlânticos de passageiros britânico, da Classe Olympic, construído e operado pela White Star Line.

3ª fase – Desde o final da Segunda Guerra Mundial (1945) até sensivelmente 1970

Nesta fase as principais correntes migratórias foram em direção e dentro do continente europeu (migração intracontinental) pois
não só ocorrera uma elevada mortalidade da sua população, que provocara a falta de mão de obra (a maioria dos que
morreram eram jovens pelo que restaram os mais idosos), como também a Europa ficou parcialmente destruída pelo que havia
a necessidade da sua reconstrução.

⇒ Áreas de partida – sobretudo países do sul do continente europeu e de países do norte do continente africano

⇒ Áreas de chegada – sobretudo países da europa central e ocidental como a França ou a Alemanha
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4ª fase – Diminuição dos fluxos migratórios e o surgimento de novas tendências (desde 1970 até a atualidade)

Sensivelmente entre 1970 e os finais de 1980 as migrações tiveram uma redução muito acentuada devido às diversas crises
económicas motivadas pela subida muito acentuada dos preços do petróleo de 1973 e 1980 (conhecidas por Choques
Petrolíferos), que conduziram ao elevado desemprego. Ppor essa razão muitos países recetores de migrantes restringiram a
imigração.

A partir de 1990 surgiram novas tendências migratórias. Esta última grande vaga migratória, está marcada por uma grande
diversidade de áreas de partida e áreas de chegada. A Europa continua a ser um dos destinos mais procurados devido ao
desenvolvimento dos países da Europa ocidental e central e também devido às condições climáticas e históricas dos países sul
da Europa que atraem turistas. Com o crescente desenvolvimento económico e industrial dos países do sul e leste da Ásia,
estas regiões tornaram-se também grandes focos atrativos de migrantes. As atuais correntes migratórias têm proveniência,
sobretudo, nos PED de África e da Ásia motivadas pelas desigualdades entre os países mais desenvolvidos e os países menos
desenvolvidos (Figura 14).

⇒ Áreas de partida – sobretudo países do continente africano e asiático

⇒ Áreas de chegada – sobretudo a Europa central, Europa ocidental e Europa do sul; alguns países do sudeste asiático

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Figura 14: Principais fluxos migratórios na atualidade.

Características dos fluxos migratórios atuais:


No passado verificava-se sobretudo a migração de pessoas pouco qualificadas (com fracos estudos). Contudo na atualidade
verifica-se uma corrente migratória muito acentuada de migrantes muito qualificados tal como por exemplo os enfermeiros
portugueses que migram para o Reino Unido em busca de melhores condições de vida. Por outro lado, no passado as
migrações eram efetuadas sobretudo por população jovem do sexo masculino. Na atualidade, cada vez mais se verificam as
migrações efetuadas por indivíduos do sexo feminino (apesar de ainda predominarem as migrações efetuadas por indivíduos do
sexo masculino) e as migrações familiares. Pode ainda salientar-se que no passado as migrações eram maioritariamente
definitivas e que, na atualidade, cada vez se verificam mais migrações temporárias, motivadas pelo desenvolvimento dos
transportes e consequente aumento do turismo e ainda o aumento de contratos de trabalho de curta duração.

Há atualmente Países Desenvolvidos que são, ao mesmo tempo, países de emigração e imigração.

Estes países recolhem trabalhadores de países menos desenvolvidos para desenvolver trabalhos menos qualificados (como a
construção de obras públicas, a restauração ou a agricultura) e, ao mesmo tempo, perdem população qualificada devido à falta
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de empregos ou condições laborais pouco favoráveis. Este movimento é, normalmente, apelidado de fuga de cérebros (do
inglês brain drain), ou seja, a emigração de pessoas com elevada qualificação técnica e científica.

Factores atractivos e repulsivos que influenciam as migrações:


As migrações são condicionadas por um conjunto muito variado de factores repulsivos que estimulam a população a deixar o
seu país. Por outro lado, alguns factores atractivos favorecem a convergência de população para os países mais
desenvolvidos (Figura 15).

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