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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n3-460
RESUMO
O pão de queijo, uma iguaria da culinária brasileira, já é comercializado em muitos países
do mundo, o desenvolvimento tecnológico que evoluiu os processos produtivos e as formas
de armazenamento e transporte permitiram a exportação desse produto. O objetivo do
artigo é avaliar o risco de investimento da expansão da produção de uma fábrica de pão de
queijo situada na cidade de Goiânia-GO com a criação de uma filial na cidade de Santos-
SP com o intuito de otimizar o processo de exportação dos produtos. O método utilizado
para tal análise utilizou-se do conceito de opções reais com a aplicação do Modelo de
Black-Scholes-Merton. Com a utilização das equações deste método concluiu-se que a
criação de uma fábrica em outra cidade se mostra uma opção rentável no prazo analisado
de 2 anos, mas a utilização de transporte interestadual não se mostra uma opção
economicamente viável.
ABSTRACT
The famous brazilian pão de queijo (a kind of cheese bread) is already being sell in many
countries of the world, new technologies and production processes made this possible. This
present paper has the purpose of making a critical analysis and evaluate the investment risk
of expanding the production of a pão de queijo factory, originally located in the city of
Goiânia-GO, to the city of Santos-SP in order to optimize the process of exporting the
products. The method used in this analysis was the concept of real options with the
application of the Black & Scholes. Using the equations of this method it was concluded
that setting up a factory in another city prove to be a cost effective option within the 2 year
period analyzed, but implementing a interstate transportation is not a real economically
viable option.
1 INTRODUÇÃO
O pão de queijo é uma iguaria típica e originária do estado de Minas Gerais, apesar
de ser consumida em outros estados brasileiros e também no exterior. Destaca-se como um
dos principais ingredientes para a sua produção o polvilho, derivado da mandioca, o que
exclui o uso da farinha de trigo, tornando este produto de panificação livre de glúten,
possibilitando a comercialização para pessoas com doença celíaca (Pereira et. al, 2004) e
altamente consumido por consumidores adeptos de produtos considerados saudáveis.
Não se sabe desde quando esse alimento é comercializado na cultura regional, no
entanto, as indústrias e maquinários cada vez mais tecnológicos, certamente ampliaram a
produção e distribuição deste produto ao longo do tempo. Para Pereira et. al (2004) o
congelamento das massas de pão de queijo também foi uma fator essencial para a
ampliação de mercado interno e externo.
Nagata (2015) ressalta que a maneira de comercialização deste produto pode se dar
de diversas formas: assado, massa crua ou massa moldada e congelada. Da mesma maneira
que sua venda, o processo produtivo também não é algo padronizado, existem diversas
receitas com ingredientes variados e inclusive com misturas prontas para facilitar o
processo de produção.
O desenvolvimento de tecnologias e o desenvolvimento industrial, em geral, afetam
inclusive os processos produtivos da manufatura, o armazenamento e transporte dentre
outros fatores. Para Rios (2012, p. 5), ainda que “a participação da indústria de
transformação no PIB tenha caído de 2005-2011, diversos indicadores revelam que,
analisado com uma perspectiva a longo prazo, o setor industrial apresentou razoável
dinamismo nos últimos 15 anos”. Para a autora a quantidade de exportações que o Brasil
realiza cresceu, significativamente, no período estudado.
Dado o desenvolvimento tecnológico na indústria de pão-de-queijo com o passar do
tempo, incluindo a possibilidade de conservação do produto com o congelamento,
expande-se o horizonte de possibilidades de comercialização deste alimento e, ao gerir uma
fábrica com produção e distribuição local, é comum questionar-se sobre as opções de
expansão do negócio. É nesse contexto que o presente artigo é desenvolvido.
Ao obter contato com os sócios de uma fábrica de pão de queijo em Goiânia-GO, que
exporta o produto para Lisboa (Portugal), o produtor se mostrou interessado em avaliar
opções de expansão do seu negócio com uma visão mais estratégica e de longo prazo, por
isso foi realizada a coleta de informações para o desenvolvimento do estudo de opções reais
para a expansão do negócio citado.
Tal opção refere-se à criação de uma nova fábrica na cidade portuária de Santos-SP
com o intuito de realizar vendas na região além de iniciar o processo de exportação do
produto, visto que é um produto brasileiro sem empresas concorrentes estrangeiras. Ainda
que já existem empresas brasileiras com essa proposta, o mercado internacional é
extremamente grande e ainda há locais que podem comercializar este produto para
residentes brasileiros, ou de outras nacionalidades que apreciam a culinária brasileira.
Portanto, este trabalho apresenta a construção do referido estudo com esta seção
como introdução ao tema e contextualização. A seção 2 apresenta o referencial teórico
considerando reflexões sobre as variáveis de tempo e o prazo necessário na utilização do
modelo para implantação da fábrica citada. A seção 3 descreve a metodologia utilizada
para avaliar e tomar a decisão e escolha necessária de implantação do modelo de exportação
que se pretende. A quarta seção traz o desenvolvimento da pesquisa com aplicação do
Valor Presente Líquido (VPL) e a utilização de Opções Reais (OR) na pequena empresa e
fábrica de pão-de-queijo. A quinta e última seção traz as considerações finais, conclusões
e sugestões que podem auxiliar na expansão do produto internacionalmente.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 OPÇÕES REAIS (OR)
Uma opção real é o direito, mas não a obrigação, de tomar uma iniciativa de negócios,
como abandonar um projeto, expandir a produção ou parcelar investimentos (Selva et. al,
2020). É semelhante ao conceito de opções financeiras, em que há o direito de comprar ou
vender algum bem ou ativo por um bem com valor pré-definido, em alguma data
determinada (Amaram & Howe, 2003). Segundo os autores a Teoria de Opções Reais
(TOR) avalia qual o momento certo de um negócio, a fim de fomentar a decisão de quando
se investir, lançar um novo produto, ou para auxiliar a tomada de decisões rotineiras. É
uma análise numérica que compreende fatores como, por exemplo, a dinamicidade do
mercado que confere certa incerteza ao ambiente externo às empresas.
Tal como as opções financeiras, existem três princípios que caracterizam esse
modelo: flexibilidade, incerteza e irreversibilidade (Dixit & Pindyck, 1994; Trigeorgis,
1996):
(i) flexibilidade: analisa o quanto a empresa consegue alterar os progressos financeiros
através da continuidade de produção ou dos seus possíveis reinvestimentos;
(ii) incerteza: os riscos considerando as ameaças ou oportunidades que podem impactar a
decisão do investidor;
(iii) irreversibilidade: são decisões realizadas que antecipam alguma ação que pode gerar
impacto na empresa, estas decisões são irreversíveis e podem alterar outras decisões.
e) A taxa de juros, também afeta diretamente no preço das opções. Quando a taxa
de juros sobe no mercado o preço do ativo objeto tende a aumentar, ocasionando
um acréscimo no preço da opção de compra. Por outro lado, se o preço do ativo
subir com o aumento da taxa de juros, ocorre uma queda no valor da opção de
venda.
Wawrzeniak (2014) também postula que este modelo não considera variáveis
subjetivas como crises políticas, inovação tecnológica, dificuldades em concessões de
créditos, não sendo indicado para se calcular opções longe do valor de seu exercício. Por
outro lado, as principais vantagens da escolha desse modelo são sua rapidez e baixa
complexidade o que permite calcular um grande número de opções em um curto espaço de
tempo (BLANK.SYS Consultoria e Sistemas, 2003).
3 METODOLOGIA
Essa seção tem como objetivo apresentar os passos metodológicos que foram
executados para se atingir o objetivo deste estudo, conforme definido por Moreira (2009).
Portanto, a fim de aplicar o modelo de Opções Reais, utilizando o método de Black &
Scholes (1973), as seguintes etapas foram atendidas, conforme a figura 1 abaixo:
Esse artigo busca apresentar uma técnica para avaliar o risco de um investimento.
Analisa-se a melhor opção para que se escolha se é viável a implementação de uma segunda
fábrica de pão de queijo em uma unidade portuária de Santos (São Paulo). O objetivo é
decidir se, com a nova fábrica, as exportações anuais e vendas locais serão mais vantajosas
que continuar a utilizar um transporte mensal para a cidade de Santos e, desta forma,
colocar o produto no Porto.
Inicialmente, realizou-se uma análise das premissas para se implementar uma fábrica
e seus respectivos custos, através de pesquisa e coleta de dados. Então, estimou-se os custos
considerando o contexto específico: custo de implementação, custos operacionais de
funcionamento, custos operacionais de exportação, custo de venda e projeção da demanda
(analisando a sazonalidade de consumo).
De posse desses valores, torna-se possível calcular o fluxo de caixa e o Valor Presente
Líquido (VLP) do projeto. É necessário, também, o conhecimento de uma série histórica
de consumo para utilizar como referência de distribuição da variância da demanda e preço.
Portanto, aplicou-se a Simulação de Monte Carlo (SMC) para o cálculo da demanda, do
preço e sua variância (Souza et. al, 2019).
A aplicação do método de Black-Scholes, segundo Lima (2015), assume que os
preços dos ativos evoluem segundo um movimento geométrico browniano utilizado para
modelar variáveis financeiras. A definição das opções é feita a partir de fatores que
influenciam no cálculo do VPL, como o crescimento da demanda, o lucro, os custos e
outras variáveis que são fatores fundamentais para análise de risco do investimento (Souza
et. al, 2018).
Conforme os métodos, na lógica das opções reais (OR), calculam-se as equações 1,
2, 3 e 4 acima para encontrar o valor de call ou put e, finalmente, o valor do VPL estratégico
da equação 5 abaixo:
Figura 2: Exportação dos produtos de padaria. Série Histórica do Ministério da Economia, Indústria,
Comércio Exterior e Serviços (2019)
C Preço da opção de Compra (call), Valor da Opção Real (mil R$) 110,22
S0 Valor Atual do Projeto (mil R$) 409
X Custo de implementação do Projeto (mil R$) 324
rf Taxa livre de risco (SELIC anual em fev/2020) 3,5%
T Tempo para vencimento da OR (anos, com final em 2022) 2
σ Desvio-padrão de retorno do projeto (VPL da SMC) 16%
Probabilidade de uma variável aleatória, de distribuição normal
N(d1) padronizada, ser menor ou igual a d1 0,926762
Probabilidade de uma variável aleatória, de distribuição normal
N(d2) padronizada, ser menor ou igual a d2 0,889867
Portanto, foi possível calcular o valor call ou a OR que resultou em valor positivo de
R$ 110,22 mil. Os valores encontrados, indicam alta viabilidade na implantação e
expansão de uma nova unidade em Santos (SP). O Investimento Inicial considerado do
projeto foi de R$ 96.940,00. Devido a isso aplicou-se o VPL como Valor Atual do Projeto
com preço de R$ 15,00 e demanda de 11.920 kg/mês, cujo o resultado foi de R$ 409 mil.
Como Custo de Implementação utilizou-se o VP (Valor Presente) do projeto com os
Custos de Transporte e Produção, neste caso a demanda é limitada a 9.600 kg/mês e preço
de R$ 15,00. O resultado utilizado como Custo de Implementação do Projeto foi de R$
324 mil. O VPL estratégico (equação 5), portanto, foi de R$ 409 mil + R$ 110,22 mil, isto
é R$ 519,22 mil. Isso demonstra, pelo resultado, que a utilização de opções reais fornece
uma nova visão de investimento, na medida em que se considera as incertezas no processo
de produção.
5 CONCLUSÃO
Tendo em vista o objetivo do trabalho de avaliar, utilizando Opções Reais, a criação
de uma nova fábrica de pão de queijo na cidade portuária de Santos (São Paulo), conclui-
se que o estudo alcançou o objetivo a que se propôs. O modelo por Opções Reais avalia o
projeto sobre probabilidades de situações de incerteza, as quais possibilitam analisar os
projetos em perspectivas não determinísticas. O modelo Black-Sholes-Merton mostra-se
adequado à aproximação e estimativa dos resultados randomizados.
Da mesma forma, a opção almejada pelos proprietários do negócio apresentou-se
viável, visto que o valor do Valor Presente Líquido foi de R$ 409 mil e o valor do VPL
estratégico de R$ 519,22 mil, isto é, ambos positivos e vantajosos no ponto de vista
econômico. Porém, as perspectivas de ganho são maiores do que, inicialmente e numa visão
determinística, foram presumidas.
A alternativa avaliada, a opção de implementação da fábrica, em contraste com o
transporte de parte da produção na cidade portuária desejada, reduz os custos de operação
e logística, os custos operacionais mensais, aumenta a produção e sua capacidade de
oferecer uma quantidade maior de produtos no mercado consumidor. A vantagem
estimada, considerando a opção rela (OR), é de R$ 110,22 mil. Portanto, numa avaliação
com opções reais e VPL estratégico, a perspectiva de expansão torna-se mais atraente, ao
invés da continuação da exportação utilizando transporte da produção de Goiânia (GO)
para o Porto da cidade de Santos (SP).
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