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2 - Por sua vez, o ECA reforçou a adoção do texto constitucional pela doutrina da proteção
integral à criança e ao adolescente (artigo 1º), reconhecendo ainda que, em sua interpretação e
aplicação, devem ser consideradas as suas finalidades sociais, as exigências do bem comum, os
direitos e deveres individuais e coletivos, e, especialmente, a condição peculiar da criança e do
adolescente como pessoas em desenvolvimento (artigo 6º).
4 - Nesse sentido, o artigo 5º, inciso X, da Constituição da República decreta: são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizaçãopelo
dano material ou moral decorrente de sua violação.
6 - Na mesma direção, o item 8.2 das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração
da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing) dispõe que, em princípio, não se
publicará nenhuma informação que possa dar lugar à identificação de um jovem infrator.
7 - Por seu turno, o artigo 143 do ECA - ora ameaçado pelo temerário projeto de lei em comento
- diz que é vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a
crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional, e seu parágrafo único
determina que qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente,
vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco e residência.
8 - Para assegurar essa vedação, o artigo 247 do ECA considera como infração administrativa a
conduta de divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de
comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou judicial
relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional, punível com multa de três a vinte
salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência; se o fato for praticado.por
órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista, a autoridade
judiciária poderá determinar a apreensão da publicação (ECA, artigo 247, § 2º).
9 - Não custa lembrar que as crianças e os adolescentes, assim como qualquer pessoa brasileira
adulta, são igualmente protegidos pelo princípio da presunção de inocência (CR/88, artigo 5º,
inciso LVII), o que torna inconstitucional qualquer divulgação de foto, vídeo ou imagem de
adolescente a quem se atribua mera imputação da prática de ato infracional, independentemente
da idade.
11 - Com relação às pessoas adultas, cabe destacar o advento da Lei Federal nº 13.859, de 19 de
setembro de 2019, aprovada pela atual Legislatura do Congresso Nacional, que considerou crime
a conduta de constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução
de sua capacidade de resistência a exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade
pública ou a submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei (artigo
13, incisos I e II).
12 - O artigo 28 da mesma Lei também preconiza ser crime divulgar gravação ou trecho de
gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida
privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado ou acusado.
13 - Inevitável questionar que o mesmo Congresso Nacional que, justamente, aprovou uma lei
destinada à proteção da imagem e dignidade de pessoas adultas acusadas de crimes, cogite
aprovar, na mesma legislatura e em lamentável retrocesso, legislação antagônica em detrimento
de nacionais em peculiar condição de desenvolvimento – os adolescentes.
14 - Para enfatizar a magnitude do retrocesso propugnado pelo projeto de lei ora combatido,
podemos resgatar as disposições do antigo Código de Menores de 1979, que, em seu artigo 3º,
há mais de 40 anos atrás, propugnava:
Art. 3º Os atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a menores são
gratuitos e sigilosos, dependendo sua divulgação, ainda que por certidão, de deferimento da
autoridade judiciária competente. Os editais de citação limitar-se-ão aos dados essenciais
à identificação dos pais ou responsável.
Parágrafo único - A notícia que se publique a respeito de menor em situação irregular nãoo
poderá identificar, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco e
residência, salvo no caso de divulgação que vise à localização de menor desaparecido.
15 - Por fim, nota-se que o Projeto de Lei nº 7.553/2014 afronta normas do direito constitucional,
infraconstitucional e do direito internacional, colocando o país em uma situação de ofensa ao
princípio da vedação do retrocesso, amplamente reconhecido no plano internacional,
especialmente em matéria de direitos humanos.
E, reafirmando sua oposição a toda e qualquer proposta legislativa que represente retrocessos
aos direitos fundamentais à imagem e à identidade de crianças e adolescentes, mesmo quando
acusadas da prática de ato infracional, conclamam os membros do Congresso Nacional e as
organizações representativas da Sociedade Brasileira, representada por cada cidadão, coletivo
ou organização formal, para que resistam e rejeitem integralmente o Projeto de Lei nº
7.553/2014.
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