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PARTE 1 – O FLECHA AZUL

INICIO DA VIAÇÃO COMETA

OS ÔNIBUS AMERICANOS

O JEITINHO BRASILEIRO

A TENTATIVA COM MB E A DINASTIA SCANIA

O PAI DO FLECHA

OS MODELOS DE FLECHA AZUL

PARTE 2 – AMOR DE PAI

BREVE HISTÓRICO

SR. HUMBERTO E AS MÁQUINAS

O PAPEL DA CMTC

MEU PAI NA COMETA

TRANSPORTADORA LIDERANÇA

PARTE 3 – A GARAGEM DE PESO

QUANDO E COMO COMEÇOU

O CANAL NO YOUTUBE

A CONSTRUÇÃO DA GARAGEM

7171 SENDO VENDIDO E A MUDANÇA DO CANAL

NOVA POSTURA E NOVOS CARROS

A PANDEMIA E 7239

A IDÉIA DOS INVESTIDORES

A MAIOR COLEÇÃO DE FLECHA AZUL DO BRASIL


INICIO DA VIAÇÃO COMETA

O avanço tecnológico é algo sentido dia a dia em todas as fases da história. Nos anos
30 em São Paulo não foi diferente. Após a semana de Arte Moderna de 1922, a revolução de
1932 e vários outros episódios emblemáticos para São Paulo e para o País, a expansão
territorial de bairros da cidade era algo inevitável.

Essa expansão dependia também de transporte público que ligasse tais bairros mais
distantes à região central da cidade, assim como ocorreu em outros grandes centros como
Londres, por exemplo. Ainda tomando Londres como exemplo paralelo a São Paulo,
percebemos que na época foi “comum” a mesma empresa que lançava um empreendimento
imobiliário se responsabilizar pelo transporte que levava até o local, por um lado viabilizando
seu projeto e por outro garantindo um lucro extra com venda de passagens.

Esse conceito foi adotado por uma das figuras centrais de nossa história: Major Tito
Masciolli! Ex-piloto da Força Aérea Italiana radicou-se no Brasil e iniciou um empreendimento
imobiliário na região do Jabaquara, cidade de São Paulo. Concomitantemente colocou uma
linha de ônibus para atender os compradores de seus lotes.

Não demorou muito para o Major Tito perceber que “trocando em miúdos” o serviço
de “Auto-ônibus” dava mais lucro e girava mais rápido do que o empreendimento imobiliário
em si. Desta forma, começou a focar cada vez mais em sua empresa de ônibus e logo começou
a fazer a linha São Paulo à Santos (litoral do estado e ideal para quem está na região do
Jabaquara).

Sua empresa no início chamou-se “Auto Viação Santos – Jabaquara”, porém desde o
início ostentava um Cometa como símbolo da empresa, dando ar de algo ágil e imponente.
Após tantos anos datas são sempre precárias, mas todo esse início se deu entre 1936 e 1937.

O início das operações se deu com ônibus bicudos, ainda com estilo “auto-carro” ou
seja, quase que uma van dos dias de hoje, bagagem colocada no teto, estepe a vista na traseira
do veículo, etc... Não demorou muito para o logo do COMETA se tornar mais famoso do que o
nome da então Empresa e portanto passar a ser o nome oficial VIAÇÃO COMETA!

OS ÔNIBUS AMERICANOS

Nos anos 40 do século XX o Brasil não produzia quase nada, ao menos quase nada
industrializado, tratava-se de um País fundamentalmente rural. Sendo assim tudo que era
maquinaria vinha importado de outros países.

Com o congelamento de tudo ao redor do mundo durante a Segunda Guerra Mundial,


após 1946 o mundo ansiava por novos modelos de automóveis, caminhões e ônibus. Para os
automóveis o cambio automático, então chamado de “hidramático” foi a maior novidade, e
tinha por objetivo permitir que mutilados da Guerra pudessem voltar a dirigir usando apenas
uma perna.

Para os Ônibus, as carrocerias frontais, suspensão a ar e um motor extra para tocar o


ar condicionado foram as coqueluches do final dos anos 40. Assim a VIAÇÃO COMETA
apresentou uma série de ônibus da marca FAEGOL modelo TWIN COACH que entraria em
atividade no eixo Rio – São Paulo pela nova estrada prestes a ser inaugurada: Rodovia
Presidente Dutra!

Os Twin Coach eram ônibus modernos, porém tinham alguns atributos que os
deixavam em segundo plano perante os GMs da época: o seu motor era central, acarretando
maior vibração, ruído e calor no salão; essas carrocerias eram na verdade destinadas ao
serviço urbano, tanto assim que na mesma época a CMTC de São Paulo comprou os mesmos
Twin Coach urbanos. O que foi feito era na verdade uma adaptação com poltronas mais
confortáveis para o serviço rodoviário, a ausência da porta traseira e a porta dianteira em
padrão de acionamento direto.

Para quem pode estar achando curioso o ônibus urbano ser adaptado ao serviço
rodoviário, um número expressivo de MB O-362 urbanos sofreram essa adaptação nos aos 80
para atender linhas de cidades do interior.

Vale ressaltar desde esse momento no nosso livro como é importante compreender
que quando falamos de frota e sua renovação, os veículos co-existem por algum período, ou
seja, quando os Twin Coaches entraram em operação os ônibus dos anos 30 e 40 que faziam
parte da frota da Cometa continuavam rodando e eram substituídos gradativamente... Isso
sempre foi assim e continuou sendo assim pelos próximos anos até os anos 90.

Desta forma, os novos ônibus Twin Coach estavam em operação entre Rio e São Paulo,
porém vários outros modelos ainda operavam em linhas como: São Paulo – Jundiaí, São Paulo
– Campinas, São Paulo - BH, etc...

Nesse mesmo momento cria-se um mito na empresa “A linha Rio – São Paulo”, que
rapidamente passaria a ser considerada a “Elite” da empresa. É importante entender que a
viação cometa tinha como seu “marco zero” a cidade de São Paulo e daquele ponto começou a
expandir suas linhas, porém nunca superando 500km do epicentro. Com o tempo a linha mais
longa da empresa foi Belo Horizonte – Curitiba, ainda assim a linha passava por São Paulo
como seu ponto de apoio e troca de motorista.

Os ônibus norte americanos eram o estado da arte no início dos anos 50 e os GMs ou
GM Coaches eram o que havia de mais moderno, um modelo chamado “Imperial” (GM 4103)
passou a integrar a frota da Cometa e se tornou o “garoto propaganda” da empresa para
alavancar a linha São Paulo - Curitiba.

Eu acredito eu vale destacar nesse momento a infeliz dicotomia que se perpetuava no


Brasil a partir do inicio dos anos 50 com uma competição entre o transporte rodoviário x
transporte ferroviário, isto é, com o impulsionamento da indústria automobilista importantes
ligações como São Paulo – Rio, São Paulo – Curitiba, São Paulo - Belo Horizonte dependiam
quase que exclusivamente do transporte rodoviário, excluindo-se o transporte aéreo que não
faz parte do escopo do nosso assunto.

A viação Cometa aproveitou muito bem, ou aproveitou-se desse fato para oferecer o
melhor serviço possível em seus ônibus importados... com a ausência da concorrência
ferroviária e frente aos preços das passagens aéreas, a viagem em um ônibus importado de
última geração parecia ser realmente a melhor opção!

Linhas mais curtas para o interior de São Paulo (Sorocaba, Jundiaí, Campinas, etc...)
desde então ratificavam o conceito de ficar com os ônibus que deixavam de operar nas linhas
mais longas por já estarem mais velhos e serem menos confortáveis. Esse conceito, ou modus
operandi veio a mudar apenas na geração dos Flechas, conforme veremos a seguir.

O MORUBIXABA

Em que pese o Morubixaba fazer parte do time de “Ônibus Americanos”, achei no


mínimo justo abrir um espaço independente para ele em nosso livro, haja visto seu papel na
História da Viação Cometa e na História do transporte Rodoviário em geral.

O GM PD4104 representou um daqueles poucos momentos da história do Brasil em


que estávamos em pé de igualdade com países de primeiro mundo no tocante a equipamentos
e nível tecnológico.

A General Motors em 1953 revolucionou o mercado de ônibus rodoviários na América


do Norte com o lançamento do GM PD4104, era nítido aos olhos o salto do 4103 para o 4104,
enquanto seu antecessor tinha janelas pequenas quadradas que lembravam muito os ônibis
dos anos 40, o 4104 vinha com grande área envidraçada com janelas aerodinâmicas, sem
contar o interior em vários tons de acabamento, salão amplo e um ar condicionado com um
motor willys independente para manter o carro gelado!

Em 1954 esse era a principal estrela desfilando pelas estradas dos EUA e Canadá e no
Brasil não foi diferente! A Viação Cometa importou uma frota de 4104´s para rodar em São
Paulo, em especial no Eixo Rio – SP!

Nos anos 50 era algo absolutamente normal andar de carro importado no Brasil e com
os ônibus não era diferente! A produção Brasileira era acanhada em todos os sentidos e
começava a querer brotar as montadoras no Brasil. É bem verdade, já começava a existir
encarroçadoras para ônibus, especialmente utilizando chassis de caminhão como Ford F1,
Chevrolet boca de sapo, Studebaker, os recém chegados mercedes 312 e assim por diante.

O JEITINHO BRASILEIRO

Os 4104´s se tornaram uma “febre” na viação cometa e fora dela! A Cometa era a
única empresa do Brasil que havia comprado esses carros e fazia questão e não vender
nenhuma unidade a ninguém! Com o enorme sucesso do modelo, a cometa começou a enviar
velhos ônibus GM ODC para terem a frente re-estilizada imitando descaradamente os 4104´s,
esses passaram a ser chamados de Cururu, um tipo de sapo bobalhão, diferente dos originais
4104´s que eram chamados de MORUBIXABA, que em um dialeto indigina significa Chefe da
tribo!

Não demorou muito e praticamente toda a frota da cometa começou a passar por
reforma para ganharem a frente do 4104, até monobloco mercedes nos anos 60 ganhou esse
“facelift”!

Apesar de várias reformas a Cometa na época nunca conseguiu uma frota 100%
padronizada com todos os carros com a mesma frente! O dinamismo do momento exigia
renovação de frota e pela sua importância no mercado a cometa era referência para
fornecedores de chassi e carroceria, que insistiam em mandar para ela veículos teste e assim
por diante.

A TENTATIVA COM OS MERCEDES E A DINASTIA SCANIA

Qualquer pessoa com um mínimo de noção comercial pode imaginar o que significa
para uma marca ter seu nome associado a uma empresa do tamanho da Viação Cometa. Acho
válido novamente relembrar que a substituição de veículos em uma frota é algo que se da de
forma gradativa então é necessário tirarmos da cabeça a idéia de que ao chegar um modelo
ele substitui totalmente a frota até então em operação.

No final dos anos 50, inicio dos anos 60 os velhos GM ODC junto dos Twin Coaches já
estavam bem cansados, estamos falando em veículos rodando há mais de uma década, e
mesmo em uma empresa com princípios únicos na sua política de manutenção, chega uma
hora que os carros precisam ser substituídos.

É muito difícil julgar agora, de longe, um comentário leviano do tipo: “como a cometa
que tinha uma frota de GMs foi comprar MB?” é algo inerente ao apreciador do Sofá, aquele
que fala sem ter efetivamente colocado a mão na massa!

Com certeza houve uma boa negociação entre Viação Cometa e Mercedes Benz do
Brasil e uma frota de ônibus monobloco HL321 foi colocada em operação em linhas mais
curtas, na linha de Itapetininga chegaram a pintar na frente do carro São Paulo – Itapetininga!

Não demorou muito e veio mais um lote, dessa vez de mercedes monobloco O – 326
(Mercedão) esses foram os primeiros Flecha Azul e chegaram a operar na linha São Paulo –
Curitiba, prometendo um serviço de melhor qualidade do que o oferecido até então.

O Flecha Azul Mercedes era um bom carro, mas ao mesmo tempo a Cometa foi
também abordada pela Scania que ofereceu os chassi L75 com carroceria Ciferal, iniciando os
carros chamados de Papo Amarelo.

Tudo isso estava acontecendo realmente ao mesmo tempo e até a padronização de


pintura da frota ficou comprometida, pois os Morubixabas estavam rodando todos prateados
com detalhes azul e teto bege, enquanto os Mercedes 321, conhecidos como Senemby, os
Flecha Azul e os Papo Amarelo eram uma pintura misturada entre bege e Azul.

Uma opinião particular que tenho sobre essa fase é que na verdade os Mercedes
tinham uma vantagem competitiva, eles tinham motor traseiro, nessa época a Scania ainda
não tinha chassi de motor traseiro no Brasil, obrigando a ter 1. O maior ruído do motor dentro
do carro, 2. A porta de entrada atrás do eixo dianteiro, pois o eixo era avançado.

Apesar dessa minha colocação, aparentemente a opinião dos passageiros era


diferente, logo na sequência a Cometa compra uma série de ônibus chassi Scania L76 com uma
carroceria quase igual do Papo Amarelo, apenas um pouco mais longa, e faz a pintura alusiva
ao Morubixaba e batiza esse carro de Flecha de Prata.

Nesse momento a Scania já estava ganhando competitivamente da Mercedes e


prematuramente os monoblocos começam a ser vendidos, abrindo espeço para a mais
moderna carroceria da Ciferal, o Lider, que dentro da Cometa foi batizado de Jumbo B,
conhecido por todos como Jumbinho, no episodio Historias da era de ouro com o comandante
Teixeira ele comenta ter trabalhado com esses carros em Campinas, ele frisa dizendo “Jumbo
Maçarico!”

Em 1968 a Scania lança no Brasil o chassi 110 com Turbo compressor e a Cometa não
perde tempo e lança o “Turbo Jumbo”! vale ressaltar que nessa época a Turbina era visto
como um item insólito, moderno, e quase que dispensável! Como pensamos até hoje sobre
certos equipamentos que dizemos: “quanto mais coisa, mais chance de quebrar...” assim era o
pensamento dos mecânicos e motoristas antigos da época!

A cometa mais uma vez com espírito de Vanguarda apostou na novidade e deu certo!
Passou a operar com uma frota de Scanias turbinados em várias linhas! O eixo Rio São Paulo
ainda ostentava os Morubixabas com quase 15 anos de rodagem nesse momento, já clamando
por “ajuda” dos “mais jovens”, até porque alguns Morubixabas já haviam dado baixa depois de
tantos anos, seja em acidentes ou outros problemas, mas nenhum jamais foi vendido da
Cometa!

Com os ônibus mais antigos sendo substituídos, deixando na história os ODC´s, os Twin
Coaches, a saída repentina dos Mercedes da Frota e com os Morubixabas já respirando mais
fundo, a Cometa na virada dos anos 60 para 70 chega a essa nova década como uma empresa
fundamentalmente Scania! Claro que em 1970 Papo Amarelo, Flecha de Prata e muito
provavelmente até algum Monobloco ainda estava em operação na empresa, devemos
lembrar que desde sempre a Cometa mantinha linhas exclusivas para funcionários etc... Mas a
empresa tinha a maior frota Scania do Mundo em operação!

A idéia não é contar novidades ou fatos super desconhecidos, mas acredito que seja
válido ressaltar que a Cometa teve um ou dois Ciferal Lider com mecânica Magirus chamados
de Juimbo G e um chassi Scania importado diretamente da suécia com mecânica traseira
também encaroçado em um Lider chamado de Jumbo C.

A cometa no início dos anos 70 tinha o que existia de melhor no mercado Brasileiro
naquele momento, o bordão “Scania é Scania” é uma verdade e deve ser respeitado, ao menos
naquele momento a diferença era brutal! Entre 1970 e 1972 gradualmente os Morubixabas
começaram a deixar a operação e o eixo Rio – São Paulo passou a ser atendido exclusivamente
por Jumbinhos. Quase 20 anos de operação do Detroit 6-71 GM 4104 entre São Paulo e Rio,
quem viveu essa época viveu... quem dirigiu, dirigiu... pois a Cometa fez questão de vender
carros para o Chile e picar o restante, de forma que a imagem dos anos dourados não fosse
maculado com esses carros caindo nas mãos do turismo e perdendo seu glamour!

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