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Bruno Savi de Castro Melo – Um olhar sobre o imaginário do mundo moderno

A partir do século XX pensadores como Deleuze, Adorno e Lacan vieram a fazer uma revisão
critica acerca da identidade e diferença, dizendo que não vemos as coisas de maneira idêntica
pois assim o sejam, mas porque é conveniente (seguro) ter uma visão do mundo cujas
diferenças são rejeitadas e marginalizadas, ou seja, vemos muito mais aquilo que
necessitamos ver do que aquilo que realmente poderíamos ver se enxergássemos o mundo
sem essa lógica repetitiva. Sabemos que a lógica conduz nosso modo de pensar e que nosso
imaginário atua em nossa lógica, portanto atuar numa construção de um imaginário mais livre
é emancipar-nos de uma visão limitante, ou seja, o grande temor de deixarmos de sermos os
mesmos (a diferença perante a identidade) deve ser despido para que nos aproximemos da
realidade, e um meio para que isso ocorra é expandindo o nosso imaginário.
Bom, é necessário expandir esse imaginário, mas o que é esse imaginário? De onde ele vem?
O imaginário de um ser é uma união entre o imaginário coletivo e pessoal, que adquirimos a
partir de nossas vivencias, lembranças e percepções, que no mundo de hoje estão totalmente
ligadas a um sistema onde nos é obrigado a imaginar de acordo com um padrão, imposto em
prol da manutenção desse sistema, pois o imaginário está diretamente ligado a nossas
memorias, opiniões e ações, nossa lógica, nosso modus operandi, e é por ele que somos
controlados pelo sistema.
Agora que não podemos negar a importância do imaginário e todo seu aspecto libertador e
provedor de mudanças, fica clara a luta contra o reducionismo do imaginário, do apagamento
de culturas e contra o padrão, essa insistente força contrária a evolução que vem moldando o
imaginário coletivo a séculos. Em tempos onde os algoritmos são o novo cabresto de um
mundo-tela a existência de um Museu Virtual Afro-Brasil e dos vídeos da TV Brasil no
YouTube é um grande símbolo de resistência nessa luta, mas ocupar esse vasto espaço que é
a internet não basta se quem determina o que é visto ou não são os algoritmos, portanto para
que o imaginário artístico sobre os povos não europeus exista nos dias de hoje, com o avanço
da web3.0 e a voracidade dos algoritmos penso em algumas opções para refletir enquanto
artistas, que irei enumerar e dar nomes meramente ilustrativos:
1 – Jogar o jogo do inimigo
2 – Destruir a máquina
3 – Construir entre as margens
Por 1 quero dizer que aprendendo a lidar com os mecanismos do sistema, podemos usar os
algoritmos para impulsionar o imaginário decolonial, usando as ferramentas que nos são
dadas, conquistar não só espaço, mas visibilidade dentro do sistema, por muitas vezes tendo
que usar de mascaras para chegar ao “grande público”, citando como exemplo os trabalhos
cinematográficos de Jordan Peele, o que muitos artistas chamam de “se vender” é pouco a
pouco acrescentar ao imaginário coletivo algumas novas informações, para não tira-los
totalmente da zona de conforto e ser visto como diferença, mas adentrar suavemente e
lentamente a essa rede de informações, para que isso gere mudanças futuras (Com o
empurrão de Jordan vieram séries televisivas como Them, Watchmen, Lovecraft Country, e
assim uma corrente progressista é formada, em busca de uma mudança lenta e gradual nos
moldes padrões).
Por 2 quero ir contra a correnteza, atacar o algoritmo, hackear o sistema, lutar para derrubar
toda uma estrutura que está se consolidando a cada dia (por cima de outra, e outra e outra,
que terão a sua vez de serem destruídas), aqui as ações são diretas, em busca de visibilidade
também, para recrutar mais agentes da destruição, um exemplo a ser citado é o coletivo
CrimethInc..
Por 3 podemos pensar em construir uma internet livre (e também um mundo), seguir pela
margem, ganhando espaço, visibilidade e tamanho não dentro de um sistema, mas por fora
dele, se tornando autônomos, como Rojava ou Christiania, abandonar o sistema já posto e
construir um novo, um salto para fora do imaginário coletivo, que lhe jogará ao abismo (no
melhor sentido da palavra) dos movimentos marginais e experimentais dentro da arte, uma
busca por autonomia, repensando e reconstruindo os imaginários decolonizados dentro de um
espaço onde o sistema não tem o poder de intervir, essa ação é discreta, passa batido pelos
algoritmos e serve como um porão, que virá a ser descoberto em um tempo futuro e talvez
esteja tão consolidado e lotado de ratos (no melhor sentido da palavra) que o sistema irá fazer
de tudo para extermina-los, numa espécie de crônica afrofuturista, mas se o coletivo se
mantiver forte, ganhará espaço na história, continuará resistindo, se consolidando e
crescendo.
O item 3 também pode ser desdobrado em 3.1 e pensado como uma TAZ (Hakim Bey), algo
temporário, fora das vistas do sistema e autônomo, gerando um aumento de informações
decoloniais dentro de um grupo e depois se dispersando, para que cada um, livre de si, faça o
que quiser com essas informações anexadas ao seu imaginário.
Independente de qual numero escolha para atuar, ou que crie uma outra opção, o importante é
aumentar e decolonizar o teu imaginário (buscando fundo, pois essas coisas ainda não se
encontram na superfície) para automaticamente ao fazer arte repassar esse imaginário e
contribuir para um imaginário coletivo mais livre, você produz aquilo que consome, não
consuma enlatados, para não cagar parafusos como um robô.
Sou muito fã do cinema oriental, irei recomendar alguns diretores para ajudar nessa grande
troca de informações decoloniais que o professor nos permitiu, pois ele, ao criar esse
exercício, cria também uma rede de informações com grande potencial de aumentar nosso
imaginário, como citado em 3.1, agradeço o espaço.

Park Chan-wook
Sion Sono
Apichatpong Weerasethakul
Hideaki Anno
Takashi Miike
Lav Diaz
Djibril Diop Mambéty
Hirokazu Kore-eda
Flora Gomes
Jean-Pierre Dikongué
Toshiaki Toyoda
Abbas Kiarostami
Elem Klimov
Ousmane Sembène
Forugh Farrokhzad

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