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O ensino de recreação: repensando

algumas práticas

Edmilson Santos dos Santos1

Resumo Introdução
Este trabalho tem por objetivo analisar os Ao longo da história dos cursos de formação em
pontos pelos quais os livros que sugerem ati- Educação Física, duas perspectivas de trabalho
vidades "práticas" em recreação ancoram-se aparecem de maneira bastante nítida quando se
para justificar determinados procedimentos e trata de recreação e lazer. De um lado encontra-
referendar determinadas práticas acadêmicas mos aqueles profissionais que se auto-avaliam
como sendo verdadeiras. Para isso, foram como sendo práticos e, de outro, aqueles que são
analisadas vinte e duas obras que tratam so- sinalizados (principalmente pelos discursos dos
bre recreação infantil. As estratégias utiliza- primeiros) como sendo teóricos.
das pela literatura de experimentação para
constituir a verdade sobre a disciplina de Re- Essas duas perspectivas, de forma implícita, dis-
creação estão vinculadas a uma separação ní- putam a forma como deve ser orientado o dis-
tida entre teoria e a prática, como realidades curso na área de recreação e lazer. Se analisar-
opostas, o reforço da heteronomia da criança mos sob esse prisma, há uma relação de poder
e a simplificação da realidade a seus aspectos instituída e pouco debatida no cenário acadê-
superficiais. mico. Numa perspectiva ou em outra, as bibli-
ografias, os eventos e os cursos não se compa-
Palavras-chave: Recreação, Ensino, Lazer. tibilizam; cada um utiliza estratégias diferentes
na elaboração de suas verdades. Podemos até
dizer que o próprio nome da disciplina, em al-
Abstract guns casos, costuma direcionar a forma como
ela deve ser interpretada. Geralmente, quando a
Thispaper aims at analyzing the topics by which disciplina recebe a denominação de recreação,
the books which suggest practical activities in ela está associada àquilo que se convencionou
recreation justify certain procedures and chamar de atividades práticas. Quando se de-
authorize certain academic practices as valid. nomina lazer, sua discussão está voltada para as
To reach this result 22 books dealing with child análises mais gerais dessa problemática. E, na-
recreation were analyzed. The strategies used by queles currículos onde a disciplina se denomina
experimental literature to build truth on the recreação e lazer, há o predomínio da primeira
discipline of Recreation are subjected to the sobre o segundo.
separation between theory and practice, the
backing up of the child's heteronomy and the Essas regularidades acabam por constituir um
simplification of reality. conjunto de práticas que balizam aquilo que
deve ser aceito como verdadeiro pelas comuni-
Keyword: Recreation, Teaching, Leisure. dades acadêmicas. Cada discurso que se forma a
partir desse quadro é ungido de um certo po-

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der2 para fazer com que seus enunciados sejam nas compreender quais são as estratégias e práti-
considerados verdadeiros, como também pro- cas acadêmicas que fazem com que determina-
curam desconstituir, negando-o ou endereçan- dos discursos apareçam como sendo verdadeiros
do-o como erro o discurso do outro. e outros, falsos.

Como observaremos ao longo do trabalho, aqui Para dar conta dessa problemática, fomos buscar
reside uma diferenciação de natureza episte- no referencial foucaultiano, principalmente nas
mológica importante. Não entendemos a verdade suas reflexões sobre as relações entre poder e sa-
como uma construção que deve ser equacionada ber, os ingredientes para essa análise.
através do debate sobre a relação entre o sujeito do
Como todos sabemos, o livro tem sido um aliado
conhecimento e o objeto a ser conhecido com vis-
pedagógico importante dos professores na tarefa
tas a encontrar a verdadeira essência das coisas.
de ensinar. Nos últimos anos, um número cada
Dirigimos nossa atenção para as estratégias utili-
vez maior de profissionais tem se dedicado a
zadas nesse jogo de interesse entre grupos, para
produzi-los. Se, por um lado, isso representa um
assinalar quem é que
acréscimo em nossa possibilidade de formação
está autorizado a di-
continuada, por outro, a literatura carece de
zer a verdade ou quem
Não entendemos a a possui. Desta forma, contrapontos que tenham a finalidade de garantir
verdade como uma preferimos que esse a tensão crítica tão fundamental ao trabalho
construção que deve trabalho seja analisado acadêmico.
ser equacionada como um discurso que Sendo o livro de recreação e lazer um espaço privi-
através do debate procura rastrear uma legiado para apresentar ou constituir determina-
sobre a relação entre o história política do das verdades, sua análise apresenta-se como um
sujeito do conhecimento na3 área da campo profícuo na identificação dos diferentes
recreação e lazer . projetos que gravitam nessa disciplina. Neste sen-
conhecimento e o
tido, o objetivo deste trabalho foi identificar os
objeto a ser conhecido Com isso, queremos nos
pontos pelos quais os livros que sugerem atividades
com vistas a distanciar da teoria recreativas (chamaremos aqui de literatura de ex-
encontrar a clássica do conhecimento, perimentação5 ) ancoram-se para justificar deter-
verdadeira essência à medida que ela deixa minados procedimentos e referendar certas práti-
oca e sem interesse o dis-
das coisas curso daqueles que, na cas acadêmicas como sendo verdadeiras.
história, procuram ga- Foram analisados vinte e dois livros direcionados
rantir uma certa naturalidade e perenidade ao para atividades de experimentação em recreação6
conhecimento, deslocando o debate para uma que estavam à disposição nas bibliotecas de três
história interna da verdade4. Faculdades de Educação Física7.
Portanto, nossa atenção está voltada para as es- Para consecução do estudo, numa primeira parte,
tratégias pelas quais um determinado discurso de apresentaremos o corpo teórico que irá subsidiar a
recreação é verificado para apresentar, seduzir e análise dos livros textos. Após faremos uma análi-
convencer os outros sobre a veracidade de seus se da literatura, centrando nossa atenção em al-
enunciados. Consequentemente, na lógica de guns pontos que fragilizam a argumentação inter-
nosso trabalho, não faz sentido perguntarmos na da literatura de experimentação e que abrem
quem está com a verdade entre os diferentes dis- brechas para uma outra forma de pensar a prática
cursos sobre a recreação e lazer. Queremos ape- pedagógica na disciplina de Recreação e Lazer.

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Elementos para análise volvimento, quais os jogos que são desafiadores
para elas, qual o papel do professor em suas apren-
Uma prerrogativa importante do debate acadê-
dizagens e qual o nível de criação das atividades,
mico é a possibilidade de visões distintas ou con-
estes tópicos não aparecem como questões rele-
correntes exporem suas perspectivas para que elas
vantes nas obras analisadas.
também possam ser objetos de reflexões e críticas
públicas. Como uma das intenções desse traba- O que está em jogo nesse debate é como são cons-
lho é projetar uma análise crítica sobre obras que tituídos certos contextos que permitem sinalizar
subsidiam o trabalho de professores e alunos em aqueles discursos que
processo de formação acadêmica, apresentaremos aparecem como ver-
nossa linha de raciocínio na expectativa de que dadeiros (indepen- Essa realidade, um
suas incompletudes, hiatos e simplificações pos- dentemente dos con- tanto quanto
sam permitir a amplificação do debate. teúdos que eles ex-
desconfortável para
pressão) e aqueles
O principal motivo que deu origem à investiga-
discursos que são
nós, na medida que
ção, está relacionado ao poder que o livro na área
considerados falsos. Essa estávamos na posição
de recreação tem sobre o planejamento da disci-
realidade, um tanto de anunciadores de
plina, principalmente quando queremos construir
quanto desconfortável um discurso falso,
algumas estratégias de trabalho junto com os es-
para nós, na medida que nos exigiu interpretar
tudantes. E muito comum nos primeiros dias de
estávamos na posição (se- esse contexto a luz de
aula dos Cursos de Educação Física assistirmos
gundo os alunos) de
aos estudantes perguntando quando iniciam as
anunciadores de um
um referencial que
discurso falso (por não permitisse fazer uma
aulas práticas ou quando irão aprender os
joguinhos que aparecem nos livros de recreação.
sinalizarmos como análise mais
Esse fenômeno já havia sido percebido no estu-
conteúdo aquilo produtiva
do realizado por Valente (1997).
que está nos livros de
Diante de um contexto que apresenta um cenário experimentação), nos exigiu interpretar esse
distinto daquilo que é aceito pelo senso comum contexto à luz de um referencial que permitisse
dos estudantes como sendo a recreação, eles fazer uma análise mais produtiva. Foi nesse
costumam reivindicar a verdade anunciada pela momento que nos aproximamos da literatura
literatura de experimentação. O constrangimento foucaultiana com o sentido de extrairmos de seu
produzido por essa prática objetiva garantir, por pensamento elementos para análise da relação
um lado, uma certa unidade do conhecimento e, entre o saber e o poder.
por outro, inibir o pensamento dissidente, Para Foucault, é através das relações de poder que
divergente ou simplesmente diferente. produzimos aquele conhecimento que deve apa-
Em geral, esses livros costumam apresentar um recer como verdadeiro e aquele que será sinaliza-
conjunto de atividades para serem experimenta- do como falso. Nenhum conhecimento pode ser
das no cotidiano. A tese principal é que as considerado como verdadeiro sem poder, e ne-
atividades ali expostas permitem a sua duplica- nhum poder pode ser constituído sem um tipo de
ção sem qualquer tipo de mediação com o coti- saber. Não se trata de fazer do poder o lado
diano. E importante destacar que a maioria da negativo dessa relação e buscarmos no saber a al-
literatura não faz qualquer tipo de ressalva em ternativa para superá-lo. Foucault nos alerta que
relação aos seguintes pontos: quem são as crian- precisamos estar atentos, pois não há um saber
ças, quais seus níveis de motivação e de desen- redentor, idôneo capaz de desfazer as coerções ou

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más intenções do poder. Portanto, não podemos Em nosso caso, a materialização desse discurso
negar a existencia do poder nem sua força em pode ser observada na reivindicação dos estudan-
constituir certos cenários como sendo verdadei- tes pedindo que a disciplina fosse "prática" em
ros a partir de algum tipo de saber. O que move contraposição a uma que eles consideravam teó-
o conhecimento é uma tensão permanente entre rica. Por conseguinte, a verdade estaria do lado
saber e poder na busca da constituição da verda- da prática e não da teoria.
de. Esta parece ser a própria dinâmica do conhe-
cimento. A todo momento, estamos diante de Para fazer uma primeira provocação, poderíamos
verdades que são combatidas, negadas e supera- perguntar: quem duvida de que os livros de recre-
das não por uma verdade verdadeira, mas sim ação não estão tratando de recreação? Há uma sé-
por um novo saber produto de uma nova relação rie de indícios que sim: a existência própria do
de poder também contextual, histórica e que será livro como relacionado à área de recreação, de um
superada ali adiante. corpo de profissionais que se propõe a produzir
sobre essa área e um certo senso comum (compar-
Diante desse caso, talvez fosse mais prudente agir- tilhado pelos estudantes) de que essa disciplina deve
mos como um intelectual de oposição, pois como concentrar sua atenção nas atividades de experi-
retrata Blacker (1990): mentação, anunciadas como sendo atividades prá-
ticas. Compreender as estratégias utilizadas por esse
"Em vez de esposar a verdade, o papel primeiro do
intelectual de oposição deveria ser o de combater a
regime de verdade para apresentar o que deve cons-
forma pela qual ela é arbitrariamente manufaturada tar na disciplina de recreação e lazer torna-se um
e disseminada (p. 164). objetivo importante a ser seguido por aqueles que
ministram essa disciplina.
Foi na história que a recreação se tornou um
objeto possível de ser analisado, interpretado e
descrito e, se o poder pode tomá-la como alvo de
A continuidade entre senso
investigação, foi porque tornou-se possível de-
comum e a disciplina de
sencadear estratégias ou técnicas de saber para
recreação.
produzir verdades. Portanto, iremos em direção
a essa atmosfera para analisarmos as estratégias Uma das principais estratégias do regime de
que permitiram - e permitem - constituir a recre- verdade que baliza o discurso dos livros de re-
ação como uma disciplina que trata exclusiva- creação, é a garantia da continuidade entre o
mente de atividades de experimentação, confor- entendimento, em nível do senso comum, so-
me demonstram os livros da área. bre as atividades a serem realizadas, o conteú-
do que é proposto pela literatura de experi-
Como já dissemos anteriormente, são as rela-
mentação. Talvez essa seja uma das estratégias
ções de poder que permitem, através de práti-
importantes para seduzir o estudante de iní-
cas concretas, a constituição de regimes de ver-
cio de curso: não estabelecer uma cisão tão
dade8 , ou seja, a delimitação daquilo que deve
radical entre o discurso trazido por ele e aque-
aparecer como verdadeiro e aquilo que deve ser
le produzido pela academia.
sinalizado como falso em um dado momento e
contexto histórico. Nesse sentido, não há pro- Se, por um lado, isso pode ser uma estratégia
dução de verdades desinteressada e livre. Toda a pedagógica importante de aproximação do estu-
verdade está envolvida na produção de deter- dante, a permanência desse discurso em nível de
minadas práticas que garantem o privilégio e o senso comum constrói o alicerce na qual será in-
poder de grupos em poderem dizer aquilo que vestido o poder para determinar a verdade sobre
consta como verdadeiro. o saber na área de recreação.

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Bento (1999), parafraseando Scheffler, alerta para postura passiva diante da prática, pois ela iria,
os perigos de uma proposta de trabalho acadê- sem qualquer custo ou esforço intelectual seu,
mico alicerçada no senso comum: constituir a verdade da recreação. Como o
objetivo, nessas atividades, não é compreender
" Apesar de reconhecimento do peso da tradição e
como as crianças aprendem, para que elas se tor-
senso comum, Scheffler advoga a necessidade de uma
base científica para o ensino, de modo a que o pro-
nem autônomas e criativas, realizar atividade prá-
fessor possa julgar e escolher procedimentos na base tica não passa de uma repetição mecânica de ex-
de uma compreensão teórica, em vez de uma mera periências motoras.
conformidade a receitas compiladas de sabedoria das
gerações anteriores" (p. 194). A premissa de que há um mundo prático parte
do princípio (que é bastante primário) de que o
Uma primeira observação que podemos destacar dualismo teoria/prática é a única forma de com-
diz respeito às regras internas para elaboração da preendermos racionalmente o real9. Essa simpli-
literatura de experimentação. E comum esta lite- cidade costuma ser referendada quando se utiliza
ratura, produzida para professores, recreacionistas a sala de aula, sem as devidas considerações
ou estudantes de terceiro grau, não apresentar sobre a diferença entre o ambiente de laborató-
suporte bibliográfico capaz de sugerir a funda- rio, utilizado na formação inicial dos docentes, e
mentação teórica de sua criação ou de onde sur- o cotidiano como espaço de experimentação.
giram tais atividades.
Avessos à reflexão, os estudantes costu-
Não raro, nós vamos encontrar atividades de ex- mam experimentar
perimentação que aparecem em duas ou mais essas atividades como se Perguntas do tipo
obras apenas com uma mudança de nome ou na fossem um ensaio, um
"que reação as
sua organização interna sem que com isso seja laboratório para as
atividades que eles
diferentes crianças
expressa a fonte. Duas hipóteses são interessan-
tes nesse caso: ou as atividades são colhidas no esperam aplicar no poderiam ter frente
cotidiano das brincadeiras infantis ou elas foram cotidiano. a uma determinada
copiadas de alguém sem apresentar a fonte. atividade?" são
Perguntas do tipo "que
reação as diferentes
substituídas pela
Talvez esse posicionamento esteja relacionado à
postura de alguns professores e valorizada de crianças poderiam ter necessidade
maneira incisiva pelos estudantes, de que traba- frente a uma determinada co nstru ídalin ven tada
lhar com recreação é trabalhar com a prática no atividade?" são substituí- de que a aula deve
seu sentido mais vulgar, como uma atividade que das pela necessidade satisfazer,
não precisamos ter critério e coerência. construída/inventada de primeiramente,
que a aula deve satisfazer,
Nesse quadro, teoria é interpretada como sendo aos interesses
primeiramente, aos
algo desprendido do cotidiano, uma abstração. interesses de movimento
de movimento dos
Essa postura acaba por sugerir uma crítica, mui- dos estudantes do terceiro
tas vezes caricaturada e grotesca, por parte da- estudantes do terceiro grau
queles que se propõem a fazer atividades de ex- grau. A aula boa é aquela
perimentação, de que seu trabalho não é produto em que eles se movimentaram bastante e não
de teoria e sim da prática. aquela em que eles aprendem como é que as cri-
Nesse caso, a prática surge como produto da ge- anças aprendem essas atividades; em nenhum
ração espontânea, que se basta a si própria. Para momento eles se perguntam quais os diferentes
essa concepção, caberia ao recreacionista uma

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constrangimentos que dificultam a participação de atmosferas interessantes e desafiadoras para as
de todos; em nenhum momento o olhar do ob- crianças, De Vries (1991, p.7) sugere que:
servador (do professor) é posto em cheque, no
"(•••) será muito útil ao professor que ele consi-
sentido de ele deslocar a sua atenção para os ní-
dere o que aqueles desafios significam do ponto
veis de aprendizagem de todos os estudantes e o de vista teórico (discutidos no terceiro capítulo).
seu papel no rompimento da heteronomia. Com Só assim, unindo teoria e a prática, o professor
isso, o trabalho dos professores costuma referen- poderá constituir um trabalho cada vez mais pro-
dar práticas tradicionais no trabalho com crian- fundo e equilibrado, com jogos relevantes para o
ças, como veremos na última seção desse estudo. desenvolvimento das crianças."

Para nós, a teoria é um conjunto de proposições


Penso não exagerar oriundo da ação cotidiana que orienta e dá direção
ao afirmar que o No cenário descrito a essa mesma atividade. Nesse sentido, não in-
indivíduo julga que acima, há uma dificul- terpretamos a atividade prática como possuindo
se conhece não pela dade de se compreen- existência em si, algo que exista fora de nossas
experiência der que uma simples intenções, e a teoria como pura abstração. Essa
existencial de ser atividade possui todo postura anula a possibilidade de compreender-
um quadro de referên- mos, como sinaliza Negrine (1994), o significa-
corpo, mas pelas cias teóricas que não do simbólico do jogo para as crianças ou, como
representações saltam aos olhos de faz Kamii e DeVries (1991), as diferentes variá-
científicas que as imediato nem pene- veis que interferem na aprendizagem do jogo. Sem
ciências lhe oferecem tram em nossa mente a articulação dessas duas dimensões não será pos-
p sível diferenciar o profissional de Educação Físi-
or osmose. Para compreendê-la, teríamos que olhar ca do não profissional.
a prática como produto de uma ação reflexiva,
As evidências nos apontam para uma continui-
tarefa essa que exigiria um esforço intelectual
dade entre a concepção de prática existente no
negligenciado e secundarizado nas obras analisadas.
cotidiano das pessoas comuns e aquela compar-
Para Bento (1999):
tilhada pelos autores dos livros de experimenta-
"Pensar praticamente, procurar a ação adequada a ção em recreação. Para aqueles que estão absor-
cada situação particular, é a expressão imediata des- tos no cotidiano, o mundo teórico, entendido
sa racionalidade prática, constituída e constituinte como abstração, não é um porto seguro para de-
de conhecimento experimental que emana da refle- senvolver atividades práticas. Não é difícil ouvir-
xão na ação"{p.\95).
mos dessas pessoas que a teoria na prática não
Procurando focalizar a problemática do papel do funciona. Daí resulta a total negligência e falta
professor no jogo infantil, enquanto um agente de de preparo para interpretar o universo teórico/
reflexão teórico-prática, Negrine (1994) ressalta que: prático em que estão imersas as atividades.

"(...) tudo parece indicar que o adulto deve estar Ao duvidar da teoria, em nenhum momento
preparado para fazer a leitura do jogo da criança, aqueles que estão no cotidiano se perguntam que
interpretar seu significado simbólico e, em alguns ca- teoria é essa que se propõe a abarcar a prática em
sos, quando utiliza o jogo como ferramenta de tra- toda a sua complexidade de forma a lhe sufocar,
balho, também para implicar-se no jogo e, dessa for- a lhe arrancar a possibilidade do novo e da trans-
ma, alavancar o desenvolvimento da criança." formação? Que prática é essa que não pode ser
(p.13).
compreendida como produto e objeto da teoria,
Analisando o papel do professor na construção de uma análise mais sistemática e sofisticada? Que

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relação há entre a divulgação desse discurso prá- ler e reproduzir não tem nenhuma capacidade de
tico no campo acadêmico e a estruturação de autodeterminação, apenas é um copista.
cursos paralelos à formação de recreacionistas que
Acreditamos que o motivo principal para essa rea-
se propõem unicamente a apresentar atividades
lidade está relacionado ao desprezo aos subsídios
práticas, fáceis de serem consumidas?
teóricos. A sua ausência reflete, em se tratando de
Sem compreendermos os interesses que permi- um trabalho realizado por professores, de uma
tem que determinados discursos interfiram nas negação esquizofrênica da teoria, alegando a auto-
ações e nas práticas pedagógicas no âmbito da suficiência da prática. Diante desse realidade, é
recreação, será impossível analisarmos a sua von- muito comum os textos apresentarem algumas
tade de verdade (de poder). contradições e discursos fantasiosos que poderiam
ser evitados com uma análise séria e criteriosa.
"(...) essa vontade de verdade, como os outros siste-
mas de exclusão, apoia-se sobre um suporte Um paradoxo importante que encontramos ao
institucional: ela é ao mesmo tempo aprofundada e rastrear essa literatura é que a noção de prática
renovada por uma quantidade de práticas como a
que esses autores têm não passa de uma abs-
pedagogia, ê claro, como o sistema dos livros, da edi-
tração, de uma idéia que não tem repercussão no
ção, das bibliotecas, como as sociedades sábias de
outrora, os laboratórios de hoje. Mas ela é renovada real. As atividades de experimentação não
também, mais profundamente sem dúvida, pela passam de uma idéia abstrata do que sejam as
maneira pela qual o saber e posto em ação na socie- crianças e seus comportamentos em sala de aula.
dade, pela qual ele é valorizado, distribuído, repar- Como exigir criatividade,
tido e, de alguma maneira, atribuído. (...) Assim, descontração e prazer - Um paradoxo
aparece aos nossos olhos apenas uma verdade, que discurso anunciado na importante que
seria riqueza, fecundidade, força doce e insidiosa- parte introdutória de encontramos ao
mente universal. E nós ignoramos, em compensação,
quase todas as obras rastrear essa literatura
a vontade de verdade, como prodigiosa maquinaria
analisadas - apresentando é que a noção de
destinada a excluir." (Foucault, 1993, p.5).
atividades onde as
prática que esses
Os livros analisados apresentam um inventário crianças passam, a maior
bastante significativo de atividades de experimen- parte do tempo, uma atrás
autores têm não passa
tação de fácil assimilação. O problema reside prin- da outra, à espera de sua de uma abstração, de
cipalmente no seu caráter instrumental. Como vez para realizar a uma idéia que não tem
apoio didático, eles não fazem observações capa- atividade determinada repercussão no real
zes de conduzir o leitor a compreender os limites pelo professor? O que faz
e a complexidade das atividades ditas prática. Ao com que essas crianças
reproduzi-las os alunos correm o risco de repeti- respeitem tal determinação?
rem as simplificações, exclusões (trataremos des-
Essas atividades só podem dar certo se nós eli-
se tema mais adiante) e injustiças e erros que
minarmos aquilo que há de mais infantil na cri-
encontramos nesses manuais.
ança: sua espontaneidade, seu comportamento
Na atividade O Semáforo de Fritzen (1985, p. incerto, sua rebeldia e reforçarmos sua hetero-
16) a relação que as crianças deverão fazer sobre nomia. No pátio, eliminamos as cadeiras e as
a sinalização é inversa àquelas exigidas pelo Có- classes, mas garantimos sua imobilidade através
digo Internacional de Trânsito. No vermelho, elas do discurso da ordem, travestido de atividade
deverão continuar, no verde elas deverão parar e recreativa ou de garantia do direito de todos à
quem errar deverá sair da atividade. Quem pro-
duz uma atividade dessa, confia que quem o irá

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brincadeira. Metaforicamente, nós poderíamos Como as obras não objetivam fundamentar o que
dizer que as crianças, nesses livros, estão sem entendem por recreação, elas deixam brechas
vida, mortas. O que permanece de vivo é apenas enormes entre aquilo que anunciam, mesmo que
a idéia - aqui sim, pura abstração do que sejam superficialmente, e aquilo que aparece no corpo do
seus comportamentos, suas aprendizagens e seus trabalho. Para exemplificar, apresentaremos a [
interesses. Portanto, não há nada de real nessas seguinte passagem do trabalho de Fritzen (1987): j
propostas. Ao final, restaria apenas um "E nos momentos de maior desinibição de relax, \
inventário de atividades, algumas até criativas, de descontração, oferecidos pelos jogos e brincadeiras
para serem exploradas, pensadas e não aplicadas que as pessoas desbloqueiam e se descontraem e se
de imediato. realiza uma aproximação maior, uma melhor
integração" (p.9). Mais adiante, na atividade Maria
Como podemos observar, as bases para a elabo-
Ordena, ele diz que : "Se o animador mandar fazer
ração de trabalhos de experimentação em recrea-
alguma coisa, sem dizer também Maria Ordena,
ção serão considerados verdadeiros quanto mais
ninguém deverá atender. Caso isto aconteça, aquele
simples forem suas análises, para ficar ao alcance
que o fizer, sairá da brincadeira." (p-42).
do senso comum, e quanto mais nós pudermos
reforçar a tese de que ser prático é não ser teóri- Os verbos mandar e sair e o comportamento que
co. A inversão desse raciocínio (numa superação o animador deve seguir nas duas atividades apre-
aos maniqueísmos cartesianos10) implicaria no sentadas desse autor não são compatíveis com o
esfacelamento completo dessa perspectiva. que é anunciado anteriormente. O exemplo con-
tradiz completamente aquilo que é apresentado
no início do trabalho.
O real: uma brincadeira
Freqüentemente o discurso da recreação também
sem graça
vem associado a palavras como liberdade de ex-
Nesta seção, iremos explorar algumas passagens pressão, criatividade, prazer e espontaneidade. A
dos livros analisados que consideramos estratégi- função desses discursos é despistar o leitor das
cas para apresentar os pontos pelos quais a ver- contradições existentes em suas propostas. Esses
dade desses manuais procuram se ancorar. Im- discursos não passam de práticas pedagógicas
portante salientar que os pontos selecionados de dissimuladoras ou de encenação para direcionar
maneira intencional não são discursos isolados, a atenção do leitor aos aspectos mais românticos
mas sim fazem parte de todo um conjunto de das obras, inscritos nas palavras alegria,
práticas que tem por finalidade garantir a confi- criatividade e prazer.
guração de um determinado quadro como ver-
Como podemos observar em Ferreira (1999), o
dadeiro. Eles foram selecionados para reforçar
texto discursa liberdade de expressão e é o pro-
aquilo que procuramos criticar nessas obras.
fessor que escolhe o que deve ser feito e diz quan-
Inicialmente nossa avaliação busca analisar a for- do termina.
ma como a área da recreação é concebida nos
"Cada grupo escolhe um integrante de cada vez. O
livros. Em nosso estudo, constatamos que difi- escolhido ficará de pé no centro da sala, falando sem
cilmente os trabalhos apresentam um conceito parar sobre um assunto determinado pelo professor.
claro que ultrapasse aquele que consta nos dicio- Ganha aquele que falar mais tempo sobre o assunto
nários. Para Toseti, "A palavra recreação vem do determinado pelo professor sem interrupções, no tem-
latim, recreare, cujo significado é recrear. Portan- po determinado por ele. "(p. 15).
to as atividades recreativas devem ser espontâneas,
criativas e nos trazer prazer"' (s/d, p.14).

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Um outro detalhe mais preocupante nessa possuem alguma deficiência, que na maioria das
atividade é que o professor poderá escolher te- vezes sequer participam dos jogos, e as meninas
mas que coloquem em situações desconfortáveis negras principalmente, sob o manto da pretensa
aqueles alunos que tenham dificuldades de falar democracia racial existente no Brasil, são os últi-
em público ou que talvez tenham pouco a dizer mos a serem escolhidos e os primeiros a serem
sobre o assunto escolhido por ele. Aqui, o cho- condenados pelos fracassos. Acabam acusados, em
que de culturas poderá trazer conseqüências ain- rituais públicos ou pelo olhar, de serem os res-
da mais danosas à criança se o professor escolher ponsáveis pela derrota da equipe no jogo ou por
um tema distante das vivências dos alunos. terem errado. Nem os conflitos, muito comuns a
uma sociedade complexa, nem as formas de
Discursam participação e apresentam atividades
inter-vençãos são
onde quem for pego ou errou o primeiro exercí-
apresentadas para que
Os mais fracos, os
ocorram aprendizagens mais gordinhos, as
cio fica de fora ou é penalizado.

"Se o aluno se confundir ou errar, poderá pagar baseadas em outros meninas, os que
com uma pequena corrida" (Silva, 1997, p. 15). princípios de convi- possuem alguma
Aqui a competição é carregada de uma conotação vência. Os livros agem deficiência, que na
negativa, à medida que aquele que errou terá que como se isso não fizesse maioria das vezes
se expor publicamente através de uma atividade parte da realidade, como
sequer participam
que não tem nada a ver com a competição. Para se isso fosse uma ficção.
dos jogos, e as
Kamii (1991), "Quando os adultos lidam de
Quando anunciam as meninas negras
maneira errada e destrutiva com a competição,
habilidades que serão principalmente, são
ela se torna altamente indesejável." (p.272).
desenvolvidas,
os últimos a serem
Discursam motivação, mas não criam critérios apresentam uma ta-
xinomia ultrapassada. E
escolhidos e os
de equiparação dos rendimentos para que as dis-
putas possam ser mais equilibradas, dando con- muito comum nos textos primeiros a serem
dições a todos de ganharem e não apenas os mais aparecerem que condenados pelos
habilidosos nas competências do jogo que o pro- determinadas atividades fracassos
fessor escolheu. desenvolvem a coorde-
nação, a sociabilização ou a afetividade sem que
"Em decúbito ventral, passar a corda no peito dos
esses conceitos tenham sido previamente traba-
pés e segurado com as duas mãos. Tentar elevar o
lhados e detalhados. Com isso, essas palavras se
máximo os pés e as mãos. Vence a melhor per-
formance." (Moreno, 1997, p.182).
tornaram expressões de um discurso vazio, repe-
tidos sem nenhum sentido.
Para nós, esse último elemento, a performance, é
o que mais os professores de Educação Física têm Nesse caso, uma pergunta interessante a fazer é:
dificuldade de lidar. Por desconhecerem ou por como tratar da coordenação de maneira abstrata
não analisarem as habilidades que contribuem de se para diferentes atividades nós teremos diferen-
maneira decisiva no desempenho das atividades tes arranjos neuro-musculares e, portanto, diferen-
propostas, sejam elas recreativas ou não, os pro- tes coordenações? Se todas atividades exercitam
fessores acabam por reforçar preconceitos e im- algum arranjo neuro-muscular não precisamos ci-
pedir que as crianças valorizem a diversidade das tar, a todo momento, que ela, a coordenação, é
performances existentes em cada coletivo ao objetivo de todas atividades. Esse exemplo pode
vivenciarem atividades de competição. Os mais
fracos, os mais gordinhos, as meninas, os que

97
ser explorado com outras palavras (sociabilização, mente porque negligenciam o papel do professor
afetividade) que são anunciadas em muitos desses nesse processo.
manuais, mas não dizem como se dão essas apren-
Esse parece ser um outro ponto em que as obras,
dizagens nem como nós as avaliamos.
aqui analisadas, não conseguem encontrar uma
Os trabalhos, que apresentam uma rápida passa- explicação razoável. Para minimizar essa proble-
gem pelas questões teóricas ou que simplesmente mática alguns autores costuma substituir a ex-
não as apresentam, conduzem o leitor a uma pressão professor por orientador, animador ou até
relação puramente instrumental com as ativi- educador. Alguns autores acreditam que esse des-
dades, alimentando a consciência comum de um locamento dará uma nova virtude ao profissional
certo preconceito à dimensão teórica. Os traba- que irá trabalhar com recreação. Esta postura
lhos de Orso (1998, 1999), Santos (1998), nominalista serve apenas para justificar algo que
Ferreira et ali (1993, 1999), Moreno (1997), Sil- as obras não conseguem fazer através da aborda-
va (1996,1997,1998), Pimentel (1996), Civilate gem de seus conteúdos.
(1999) e Fritzen (1985, 1987) são as expressões
Infelizmente, nesses manuais, o papel do profes-
desse princípio de trabalho.
sor se choca frontalmente com aquilo que é dito
Nesse sentido, as atividades apenas apresentam como ato de recrear: espontaneidade, prazer e
um roteiro utilitarista que poderia ser seguido por criatividade. Há poucos espaços para a criação e
qualquer pessoa que estivesse à frente de um gru- a espontaneidade nas atividades apresentadas,
po de crianças. O perigo dessas propostas é que o pois as atividades reforçam a heteronomia.
leitor apressado ou desavisado pode acreditar que
basta ter alguns conhecimentos práticos das Outra palavra que deixa em posição descon-
atividades (uma bagagem extensiva de brincadei- fortável os autores é a competição. Apesar de
ras) que eles alcançarão objetivos, muitas vezes apresentarem atividades onde existe o confronto
apresentados de maneira simplória, como por de equipes com objetivos opostos, a palavra
exemplo: o jogo ou a brincadeira são integrantes competição é seguidamente desconsiderada.
indispensáveis do desenvolvimento infantil. Toda Para muitos, há uma oposição entre recreação e
e qualquer brincadeira? De que maneira uma competição e uma índole má na primeira. Kamii
brincadeira pode levar a uma postura positiva & DeVries (1991) interpretam que os professo-
frente a uma determinada atividade? Essas ques- res costumam ter um sentimento dúbio em re-
tões não podem ser dribladas, esquivadas. A re- lação às atividades onde ocorrem competições e
núncia a esse debate apenas desnuda a falta de isso dificulta sua utilização no desenvolvimento
competência em discutir esse tema de uma ma- infantil.
neira mais profunda. "Após descobrirem seu par, as crianças se abaixarão
de mãos dadas. 0 último par ou dupla a se encon-
Nesse caso, trabalhos como o deNegrine (1994)
trar será considerado perdedor. Os alunos perdedores
e Kamii & DeVries (1991) são importantes à não deverão ser eliminados da atividade. 0 nosso
medida que apresentam uma densa discussão objetivo não é destacar apenas os vencedores. Pode-
sobre o papel do jogo no desenvolvimento in- mos criar critérios para não restringir (eliminar) os
fantil. A partir do que sugere esses atores, é pos- alunos do jogo. Por exemplo: cada aluno recebe um
sível nós estabelecermos metas mais objetivas e crédito de dez pontos. Ao invés de ser eliminado, ele
claras no trabalho com crianças. Fora desse qua- vai perdendo pontos. Se ele perder os dez pontos, ele
dro teórico, as atividades estão desprovidas de passa a ajudar na organização do jogo. O importan-
te é manter participando do início ao fim da
qualquer possibilidade mais séria de colabora-
atividade''''(Santos, 1998, p.78).
rem com o desenvolvimento infantil, principal-

98
Esse exemplo traduz a nossa preocupação. Pri- tadas e comentadas são apresentadas as possibili-
meiro, o professor elabora um jogo onde há alu- dades de entendimento do aluno, a partir do seu
nos que deverão ser "eliminados" e ele não sabe o desenvolvimento motor, social, moral, emocio-
que fazer com essas crianças. Segundo, só traba- nal, político e cognitivo, a sua percepção frente
lha a partir da lógica de perdedores e ganhado- aos conflitos, o olhar do professor diante desse
res, sem enfrentar o problema da competição no contexto e as alternativas possíveis para a solução
desenvolvimento infantil. Por último, propõe um dos problemas. Aqui, teoria e prática produzem
critério que somente prolonga o tempo de uma realidade que se distancia do utilitarismo da
atividade daquele que deverá sair, sem garantir literatura de experi-
Aqueles trabalhos que
uma solução adequada àqueles que perderam os mentação. Essa obra é um
dez pontos. Tendo em vista seu desempenho, os contraponto importante e
se propõem a
excluídos do jogo são levados a uma posição de necessário para aqueles desenvolver atividades
auxiliares do professor como se esse fosse o que desejam compre- recreativas no âmbito
objetivo da atividade. ender a profundidade e a da escola não dão a
complexidade do trabalho devida atenção aos
Para Kamii (1991):"OS adultos devem lidar com a
competição mais naturalmente, para que a criança
com recreação e jogos aspectos pedagógicos
também veja o fato de ganhar como nada mais do com crianças.
que ganhar. Sua glorificação coroa o ganhador com
Para nós, o papel importante do professor nas
um sentimento de superioridade e o perdedor com
um sentimento de falha. Quando os adultos lidam atividades recreativas é atuar no processo educativo
de maneira errada e destrutiva com a competição, que envolve o jogo. Nesse caso, Negrine (1994)
ela se torna altamente indesejável." (p.272). faz uma avaliação preocupante: o professor não
estuda com profundidade o componente simbóli-
Mais adiante ela destaca:
co do jogo. A falta de referencial teórico ou de
"Para Piaget, o desenvolvimento de habilidades de observações sobre os aspectos relacionados com a
competir em jogo acompanha o desenvolvimento da aprendizagem do jogo, nos trabalhos por nós ana-
habilidade de descentração e coordenação de ponto lisados, apenas reforçam essa tese.
de vista" (p.274).(...) "0 dever do professor não é
evitar jogos competitivos, mas guiar as crianças quanto Um outro ponto também problemático é a rela-
a esse desenvolvimento, para que elas se tornem ção entre a recreação como meio ou como fim
jogadoras justas e capazes de comandar a si no trabalho desenvolvido pela Educação Física
próprias" (p.281). na escola. Aqueles trabalhos que se propõem a
Desconsiderar essas reflexões faz parte da estra- desenvolver atividades recreativas no âmbito da
tégia para construir a verdade de que a competi- escola não dão a devida atenção aos aspectos pe-
ção interfere de maneira negativa no desenvolvi- dagógicos. Parece existir um jogo de dissimula-
mento infantil. Os que costumam sugerir uma ção. Primeiramente são apresentados alguns dis-
abordagem mais elaborada recebem a tacha de cursos desarticulados e sem consistência teórica
teóricos. Assim, fica fácil constituir a distinção e que criticam a Educação Física, a escola e, logo
anunciar quem está com a verdade prática. após, as atividades aparecem como respostas às
preocupações anunciadas.
Diferentemente das abordagens utilitaristas, o
trabalho que nos chama a atenção é o de Algumas perguntas poderiam ser feitas para ex-
Constance Kamii & Retha DeVries, Jogos em gru- plorar esse debate. Se há autores que sinalizam
po na educação infantil: implicações da teoria de que só se joga, no sentido de recrear-se, de ma-
Piaget. Em cada uma das atividades experimen-

99
neira autônoma, por que o professor administra a disciplina teria um papel importante na trans-
atividade o tempo todo? Como trabalhar com formação desse quadro. Por outro lado, as
espontaneidade se os objetivos são estabelecidos atividades contidas no livro apresentam uma es-
pelo professor? Como ficam os interesses dos alu- trutura rígida incompatível com a idéia de brin-
nos e o seu papel frente a determinadas obriga- car, de recrear. Em diversas atividades, nós ire-
ções como, por exemplo, ficar em fila? O que mos encontrar as crianças em filas, exercitando
fazer com os interesses divergentes? O que fazer uma de cada vez, com uma inspiração mecanicista
com o prazer de algumas crianças que são que é capaz de produzir inveja àqueles professo-
constrangidas, através do professor ou de uma res classificados de tecniscistas ou compor-
pretensa democracia, a participarem de atividades tamentalistas. Diferentemente da ludicidade
que eles não gostariam? Como interagir diante anunciada, as atividades dependem diretamente
das relações de gênero? Quais as implicações do da intervenção do professor.
currículo oculto nas
Seguindo a classificação criada por Faria Jr.
atividades? Como de-
(1982), o estilo por comando, de inspiração
Mesmo assim, apenas vemos compreender a tecnicista, deixa pouco espaço para criação:
tensão entre inclusão e
22% dos bonecos são exclusão ? Como diminuir
"E um estilo de ensino onde o professor ê o elemento
negros e a sua a diferença nos humano preponderante, com um papel bem defini-
totalidade é do sexo rendimentos das crianças do. E ele que determina os objetivos da aula, escolhe
masculino. Parece-me para que as atividades as atividades, fornece as indicações precisas sobre o
que executar" (p.53).
que essa não é possam garantir um
proporção mais equilíbrio entre as Orso (1999) também elimina toda a complexi-
equipes? Esses são dade que envolve o recreio ao apresentá-lo como
adequada para
questionamentos simples, local de trocas. Análises recentes têm demonstra-
garantir o outros mas que nós não iremos
do que há relações de poder que impedem que
grupos étnicos sua encontrar respostas na
esse espaço possa ser plenamente usufruído por
representação na maioria dos livros todos11; portanto, está longe de alcançar os
sociedade brasileira q objetivos por ele assinalado.
ue se propõem apresentar
atividades de experimentação às crianças. Outros dois exemplos são sugestivos para essa
análise. No trabalho de Guerra (1984), uma das
O trabalho de Orso (1999) chega a esboçar, de atividades é pular corda. Em nenhum momento a
uma forma muito superficial, essa conexão: "A autora faz qualquer comentário sobre os ele-
escola está cada vez mais séria, propondo arrancar mentos que podem garantir o sucesso e o
habilidades específicas dos alunos. Nela só restou o insucesso dos alunos na atividade. O que fazer
recreio como um local de trocas, de afeto e de brin- com aqueles alunos que interpretam essa atividade
car. O recreio, por sua vez, está pobre e sem con- como exclusiva do sexo feminino? Como garan-
teúdo." (p.8).Mais adiante ele acrescenta: "Di- tir uma boa excitação a todos se alguns não con-
ante dessa realidade, torna-se importante a valo- seguem saltar tanto quanto gostariam? Qual o
rização do brincar, (...)" (p.8). papel do professor frente a essas dificuldades?
Essas perguntas são fundamentais para o desen-
Na obra citada, o conceito de brincar não é apre-
volvimento dessa atividade no contexto escolar e
sentado em nenhum momento. Como não está
que não têm resposta na obra.
explícito em seu trabalho o papel que ele atribui
a Educação Física, nós podemos deduzir que essa Em Santos (2000), vamos encontrar toda uma

100
6
seqüência pedagógica que teve a preocupação de trolar a criança e não para lhe garantir um desen-
garantir patamares mínimos de desempenho volvimento criativo. Como explicar que crianças
motor para que as crianças pudessem participar de oito anos tenham que fazer atividades de aque-
em condições mais equilibradas, com grande sa- cimento se elas chegam na aula ansiosas, esbafo-
tisfação e criatividade do ensino do pular corda. ridas e contagiadas com a possibilidade de reali-
Sem o domínio dessa competência, as crianças zar atividade na rua? Elas correm, saltam, vibram,
estariam desenvolvendo uma atividade que ape- se mexem como se estivessem na aula mais im-
nas reproduziria sua desigualdade de acesso a essa portante. Que compreensão de criança e de es-
aprendizagem. cola é essa que consta nos livros? Realizar jogos
calmos no final das aulas é para satisfazer as cri-
Em seis trabalhos analisados, não encontramos
anças ou para adequar o corpo àquela concepção
sequer referências bibliográficas. Decorre dessa expressa nas paredes e ambientes da escola?
constatação três hipóteses: ou esses trabalhos são
produtos de um ato de criação próprio desses O último ponto de nossa avaliação está relacio-
autores, ou fazem parte do conhecimento de to- nado ao simbolismo expresso nas representações
dos, ou as atividades são copiadas de outros au- gráficas contidas nos livros. Em vários trabalhos,
tores e não se quer apresentar a fonte. não encontramos desenhos explicativos das
atividades que possam orientar melhor o enten-
A primeira hipótese parece pouco sustentável, na dimento da dinâmica do jogo. Em outros, en-
medida em que algumas atividades aparecem em contramos situações problemáticas do ponto de
mais de um autor com apenas algumas variações uma visão multicultural de identidade.
como, por exemplo, corrida do ovo e corrida da
batata. O que muda nas atividades é apenas o Em apenas um trabalho (Moreno, 1997) nós en-
que vai ser colocado em cima da colher. No se- contramos desenhos capazes de anunciar outro
gundo caso, nós iremos encontrar uma outra pro- contexto étnico diferente daquele do branco.
blemática. Se essas atividades fazem parte da Mesmo assim, apenas 22% dos bonecos são ne-
memória coletiva da sociedade, e que em alguns gros e a sua totalidade é do sexo masculino. Pare-
casos atravessam séculos, como as brincadeiras ce-me que essa não é proporção mais adequada
de pegar, por que os trabalhos não explicitam, para garantir o outros grupos étnicos sua repre-
nas suas introduções, que a proposta do livro é sentação na sociedade brasileira. Deixar de
apenas coletar ou arquivar aquelas atividades pre- mencioná-los faz parte dessa racionalidade
sentes no cotidiano lúdico da sociedade? Nesse preconceituosa que posou na mente de homens e
sentido, as obras teriam muito mais uma finali- mulheres, alguns até de boa vontade, e que já
dade histórica, de preservação da memória do que causou grandes estragos à humanidade.
a pretensão de contribuir com o desenvolvimen-
Concordamos com Silva (2000) quando discute
to infantil. A última hipótese, a menos provável,
quem é que tem o poder de definir a identidade
por isso pretendemos não discutir, representa uma
ou a diferença:
limitação intelectual que não colabora para a va-
lorização desse campo de conhecimento. "Não se trata, entretanto, apenas do fato de que a
definição da identidade e da diferença seja objeto de
A taxinomia utilizada para distribuição das disputa entre grupos sociais assimetricamente situa-
atividades também não oferece um horizonte se- dos relativamente ao poder. Na disputa pela identi-
guro para a estruturação de uma proposta de tra- dade estão envolvids outras disputas mais amplas por
balho. Há propostas como pequenos jogos mo- outros recursos simbólicos e materiais da sociedade.
derados, calmos e grandes jogos. Parece que, em A afirmação da identidade e a anunciação da dife-
muitos casos, o objetivo é estabelecido para con- rença traduzem o desejo de diferentes grupos sociais,

101
7
assimetricamente situados, de garantir o acesso pri- Essas questões são fundamentais para que nós
vilegiado aos bens sociais. (...) A identidade e a dife- possamos inscrever as atividades no contexto pe-
rença nao sao inocentes" (p.81) dagógico da escola. As atividades jamais poderão
Nos demais trabalhos ocorre uma situação ainda ser qualificadas como propostas não problemáti-
pior. Os personagens são assexuados, para não cas. Sem discutirmos o que queremos com nos-
dizer figuras que lembram o sexo masculino, e sos alunos, não basta oferecer-lhes atividades que,
não existe a preocupação de incluir outros perso- pedagogicamente, podem fazer um movimento
nagens de raça ou outras normalidades. Esse contrário àquilo que acreditamos ser importante
exemplo, aliado ao processo brutal de exclusão para sua formação. A não observância dessas ques-
da raça negra, dos portadores de necessidades tões apenas desnudam a resistência desses livros
especiais às políticas de visibilidade dos livros em acompanharem as discussões mais recentes
didáticos, das revistas, dos programas de televi- no campo pedagógico.
são, apenas corroboram para a continuidade das Os pontos explorados aqui da literatura de expe-
injustiças produzidas pela sociedade brasileira. Os rimentação abrem uma brecha importante para
livros aparecem e parecem como se não tivessem analisarmos o conteúdo que as obras anunciam
nada a ver com isso. Esse conformismo com o como sendo verdadeiro e aquilo que é possível
instituído é o pior exemplo que esses trabalhos de se pensar sobre essas verdades.
dão aos estudantes de Educação Física.

No trabalho de Constance Kamii & Retha


DeVries (1991) nós iremos encontrar um cuida- Considerações finais
do muito especial com essa problemática. Há uma
Uma das estratégias que utilizamos para desen-
riqueza étnica que complementa a perspectiva
volver esse trabalho foi desconstituir uma certa
filosófica e ética apresentada anteriormente. A
idéia sobre a verdade que não permite pensar-
responsabilidade intelectual da obra é produto de
mos a diversidade nem criticarmos aquilo que
uma elaboração sofisticada e engajada.
um determinado grupo de professores anuncia
Outra análise interessante pode ser realizada com como sendo uma verdade universal.
as taxinomias: desafios individuais, confronto de
Ao selecionarmos a literatura de experimentação,
duplas, confronto de grupos, circuitos recreativos
nosso objetivo era compreendermos quais as es-
e atividades pelas idades. Como todo o processo
tratégias utilizadas para garantir força de verda-
de classificação, esta estratégia, principalmente
de a seus enunciados. Entre os principais estão:
quando não explicada de forma consistente, suge-
instituir um discurso e um debate que não ultra-
re uma separação que não pode ser compreendida
passe os limites do senso comum; produzir dis-
dentro de outras perspectivas de análise. Se o pro-
cursos fantasiosos sobre a recreação para desviar
cesso de construção motora é produto também dos
a atenção daquilo que é efetivamente proposto
aspectos culturais, qual é a lógica de distribuí-los
enquanto atividade; não apresentar conceitos cla-
por idades? O que determina que um jogo é mo-
ros sobre os principais temas apresentados; des-
derado se numa sala de aula nós vamos encontrar
pir as atividades de toda a complexidade que en-
diferenças orgânicas na resposta ao exercício? Por
volvem as aprendizagens, para que sua assimila-
que os jogos com bola não podem ser considera-
ção seja fácil; constituir uma certa identidade es-
dos como jogos de corrida? Por que apresentar jo-
tética, em relação às imagens valorizadas pela
gos adequados ao sexo? Os autores não expressam
cultura hegemônica; garantir a participação do
(e não podem expressar) com clareza o que que-
professor como personagem central na adminis-
rem com essas classificações.

102
tração das atividades recreativas, reforçando a 07. CIVILATE, Héctor. Jogos recreativos: para clubes,
heteronomia das crianças. academias, hotéis, acampamentos, spa e colônias
de férias. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.
Sem os pontos apresentados, não é possível com-
preendermos como os livros de experimentação 08. DE VRIES, Retha. Bons jogos em grupo: o que
podem estar relacionados a determinadas verda- são eles? In: KAMII, Constance & DeVries,
des sobre a recreação. A fragilidade desse discur- Retha. Jogos em grupos na educação infantil:
so também representa a fragilidade da própria implicações da teoria de Piaget. Tradução de
comunidade acadêmica de propor alternativas Marina Célia Dias Carrasqueira. São Paulo:
que superem a simplicidade e a simplificação que Trajetória Cultural, 1991. p.3-12.
dão sustentação a esse regime de verdade. 09. FARIAS Jr., Alfredo Gomes, Corrêa, Eugênio da
Esperamos que esse trabalho possa sugerir refle- Silva e Bresane, Roselaine da Silva. Práticas de
xões que permitam a construção, a constituição ensino e educação física: estágio supervisionado.
ou a invenção de uma outra proposta para o en- Rio de Janeiro: Ed. Interamericana, 1982.
sino da recreação nas Faculdades de Educação 10. FERREIRA, Solange Lima et ali. Recreação. Rio
Física baseados em outros critérios acadêmicos de Janeiro, 1993.
no trato com o conhecimento.
11. _________, Solange Lima. Atividades recreativas
para dias de chuvas. Rio de janeiro: Sprint, 1999.

12. FOUCAULT, Michael. Microfísica do poder.


Tradução Roberto Machado. Rio de janeiro:
Referências Bibliográficas Edições Grall, 1979.

01. ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica. 13._________ , Michael. História da Sexualidade
São Paulo: Edições Loyola, 1990. I: a vontade de saber. Tradução de Maria Thereza
da Costa Albuquerque e J. A. A. Guilhon
02. ATLAN, Henri. Com razão ousem ela: intercrítica
Albuquerque. 7o ed. Rio de janeiro: Edições
da ciência e do mito. Tradução Fátima Gaspar e
Grall, 1985.
Carlos Gaspar. Lisboa: Instituto Piaget, s/d.
14. __________ , Michael. A ordem do discurso.
03. BECKER, Howard S. Métodos de pesquisa em
Campinas: Unicamp, 1993. (mímeo).
Ciências Sociais. 3 ed. Tradução de Marco
Estevão e Renato Aguiar. São Paulo: Ed. 15 ____________, Michael. A verdade e as formas
Hucitec, 1997. jurídicas. Tradução Roberto Machado e
Eduardo Jardins Morais. Rio de Janeiro: Nau
04. BENTO, Jorge Olimpo, Garcia, Rui e Graça,
Ed., 1999.
Amândio. Contexto da pedagogia do desporto:
perspectiva e problemas. Lisboa: Livros Horizontes, 16. FRITZEN, Sílvio José. Dinâmica de recreação e
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05. BLACKER, David. Foucault e a responsabilidade 17.________ , Sílvio José. Jogos dirigidos: para grupos,
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O sujeito da educação: estudos foucaultianos. RJ: Vozes, 1987.
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de médio porte. São Paulo: ícone, 1998. recreação e lazer. Porto Alegre: Sagra, 1984.

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In: KAMII, Constance & DeVries, Retha. Jogos no recreio: por um espaço desportivo. In.:
em grupos na educação infantil: implicações da Santos, Edmilson Santos dos (Org.) Educação
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1991. p. 269-285. P.146-151.
21. KAMII, Constance & DeVries, Retha. Jogos em 35. ________ , Edmilson Santos dos. Infância, escola
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Carrasqueira. São Paulo: Trajetória Cultural,
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1991.
recreativa na 1ª infância: 2 e 3 anos. Rio de
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científicas. São Paulo: Perspectiva, 1978.
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24. MORENO, Guilherme. Jogos e contestes. Rio de Rio de Janeiro: Sprint, 1997.
Janeiro: Sprint, 1997.
Silva, Tomaz Tadeu da (org.) Identidade e diferença.:
25. _________ , Guilherme. Recreação 1000 exercícios a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis,
com acessórios. Rio de janeiro: Sprint, 1998. RJ: Vozes, 2000.
26. NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento 39. TOSETI, Solange. A educação física. Erechim:
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27. ORSO, Darci. Atividades recreativas: resgatando 40. VALENTE, Márcia Chaves. Lazer e recreação no
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1998. 1997.
28. _____ , Darci. Brincando, brincando se aprende.
Novo hamburgo: Ed. Feevale, 1999.

29. PAIVA, Ione Maria R. de. Brinquedos cantados.


Rio de Janeiro: Sprint, 1998. Notas
30. PEREIRA, Maria Solange. Jogos na escola, nos 1
Prof. Ms. Edmilson Santos dos Santos é Professor
grupos, na catequese. São Paulo: Paulinas, 1984. da Faculdade de Educação Física do
31. PIMENTEL, Figueiredo & Rebelo, Vitória. 268 UNILASSALE e ULBRA.
jogos infantis. Belo Horizonte: Villa Rica, 1996. 2
A concepção de poder utilizada neste estudo é
32. RORTY, Richard. Relativismo: encontrar e extraída do pensamento foucaultiano e está
fabricar. In.: Áureo, Antônio e Salomão, Waly. definido no livro: Foucault, M. História da
(Orgs.) Banco Nacional de Idéias: relativismo sexualidade I : a vontade de saber. Tradução de
enquanto visão de mundo. Rio de Janeiro: Maria Thereza da Costa Albuquerque. 7 ed., Rio
Francisco Alves, 1994. P.115-134. de Janeiro: Edições Grall,1985.
3
33. SANTOS, Carlos. Jogos e atividades lúdicas na Como nos apresenta Foucault (1999), referenciado
alfabetização. Rio de Janeiro: Sprint, 1998. em textos de Nietzsche: "(...) o conhecimento é,
cada vez, o resultado histórico e pontual de condições

104
que não são da ordem do conhecimento. (...) o distinções já fazem parte do senso comum ocidental,
conhecimento é sempre uma certa relação estratégica mas isto não é argumento suficiente para que as
em que o homem se encontra situado. É essa relação mantenhamos!' (p.l 19).
estratégica que vai definir o efeito de conhecimento 10
O plural se refere ao duplo maniqueísmo: colocar
e por isso seria totalmente contraditório imaginar
a prática como a expressão mais fiel do todo ou
um conhecimento que não fosse, em sua natureza,
resumir a complexidade do real a uma dimensão
obrigatoriamente parcial, oblíquo, perspectivo" (p.
unificadora, como fazem os que confiam em
23 - 24).
grandes síntese.
4
Foucault (1999) diz que há duas histórias da 1
Santos (1998) observou que, no recreio, os espaços
verdade. A história interna da verdade é aquela
são distribuídos a partir de uma lógica que
que é produzida pela história da ciência onde
privilegia os mmeninos mais fortes, altos, velhos,
existem princípios lógicos a serem perseguidos pelo
das turmas mais adiantadas.
discurso.
5
A literatura de experimentação é aquela que
apresenta um inventário de atividades para serem
desenvolvidas no dia-a-dia.
6
Diante da dificuldade de expressar uma linha
coerente na seleção dos textos ou uma justificação
que diminua o poder da subjetividade, concordamos
com Becker (1997) quando diz que a melhor
alternativa nesses casos é expor com clareza nossos
pressupostos para que possam ser controlados de
forma crítica pelos outros. Não houve nenhum
critério de exclusão a priori. Selecionamos todos
aqueles trabalhos que se direcionavam ao público
infantil que se encontravam na biblioteca de três
instituições de ensino superior e que foram
produzidos de 1980 até 2000.
7
Os livros foram encontrados nas bibliotecas das
faculdades de Educação Física da Ulbra, La Salle
e Ufrgs. Como a intenção do estudo é repensar a
prática acadêmica na área da recreação, fomos atrás
daquelas bibliografias que estão à disposição dos
estudantes em suas faculdades.
8
Ampliamos a noção de regime de verdade da obra
de Foucault não restringindo a uma análise sobre
os paradigmas que orientam a sociedade. Para
Foucault (1979), "cada sociedade tem seu regime
de verdade, sua política geral de verdade, isto é, os
tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar
como verdadeiros" (p.12).
9
Rorty (1994): "Temos que admitir que essas

105
106

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