Você está na página 1de 12

AÇÃO EDUCATIVA

Diretoria
Clelb Aparecida Martins Vieira Cupertino
Maria Machado Malta Campos
Vera Masagão Ribeiro

Coordenação executiva
Maria Virgínia de Freitas

Coordenação de educação
Roberto Catelli Jr.

Assessoria editorial
Daníele Brait

Organização da obra
Fernando Cássio
Roberto Catelli Jr.

Revisão de texto
Daniele Brait
Fernando Cássio

Projeto gráfico e diagramação


Aeroestúdio

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


[Antonio Carlos de Souza Júnior, CRB8/9119)

A638C
AÇAO EDUCATIVA
EDUCAÇÃO É A BASE?
Educação é a Base? 23 educadores discutem a BNCC / Fernando
23 EDUCADORES DISCUTEM A BNCC
Cássio. Roberto Catelli Jr. - São Paulo: Ação Educativa, 2019.
320p.: Brochura
Fernando Cássio
ISBN 978-85-86382-54-3 Roberto Catelli Jr. (organizadores)
1. Base nacional comum curricular. 2. Educação. 3. Políticas
públicas. I. Autor. II. Titulo.
CDD 379.2

Sf" ação 1® edição


fS educativa São Paulo 2019

Rua General Jardim, 660


CEP 01223-010 São Paulo-SP
Tel. 11 3151 2333
S? ação _
www.acaoeducativa.org.br educativa
brasil. Lei n. 13.005, de 25 junho de 20H. Aprova o Piano \acionai de Educação -PNE.e
dá outras providências. Disponível em: <\\ASAv.plaiialfo.í^()\.br/cci\ il_05/_ato2011-2014/2014/
BASE, QUE BASE?
lei/113005.htm>. Acesso em: 15 jun. 2018. O CASO DA MATEMÁTICA
BRASIL; CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resoiução n. 1 de 14
2010. Define Diretrizes Operacionais para impiantação do Ensino tin , i j Antonio José Lopes Bigode
anos. Disponível em: <portaI.mec.gov.br/inciex.plip^opbon-com c ocman Doutor em Didática da Matemática pela Universidade Autônoma de Barcelona,
&alias=2483-rceb001-10&ltemici=30192>. Acesso em: 18 |iin.-Oi b.
professor pesquisador do Centro de Educação Matemática (CEM),jornalista e autor
BRASIU CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO^^^^^^^ ^™ de livros de Metodologia de Ensino da Matemática.
2010. Define Diretnzes Operacionais para a rnatncui 7()\lEC/2010%20Res%20
ção Infantil. Disponível em:<ww.eeepi.pro.br,^orn.a
CNE%20CEB%2006%20-%20Novas%20dirclrizes%20oper..c.o J,„i3..^20para%20EF%20
9%20anos.pdf>.Acesso em: 18 jun. 2018. Comum Curricular: Educaçaoln-
BRASIU MINISTÉWO DA EDUCAÇAa go,, brAv^ontenl/
Sloads/2018/06/BNCC.ELEFJ10518_versaonna
fantil e Ensino Fundamental. Disponível e . no 2018.
Acesso eni: 9 ago. IdadeCcr-
rLvSIL; ministério DA EDUCAÇÃO. Pacto t-ac-o"! P ,^.^1 <pacto.mec.
Sfíiçao "O"d" alfabetizaçao: reflezõcs e ^
gov.brrtmages/p<if/Formacao/eademo_avalmeao.pd 22'sei. 2014.
da Educação. 2007.
A discussão sobre como a Matemática é apresentada na Base Nacional
rRASIU MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO^ ,8 jun. 2018.
O^onível em:<portal.mee.gov.br/arqu.vos/l,vro/l.v .] ^012. Instim Comum Curricular (BNCC) proposta-imposta pelo Ministério da Edu
Lti . ministério da educação. Portaria n. 80/, ^ diretnzes cação(MEC), pode ser feita de múltiplas perspectivas, da visão epistemo-
, Nacional pela Alfabetizaçao na Idade Certa e as aç .^ j„|,a_brasil/legislacao/
lógica sobre a natureza do pensamento matemático à concepção didática
"'^^rorsponível em: < download.inep.gov.br educacao_b--^ ^^,3
NACIONAL DE ESTUDOS E que veicula. Ainda que seus defensores tentem aparentar neutralidade,
Itw ministério
BBAS»;'^ da EDUCAÇÃO;
educacionais INSTITUTO
ANÍSIO TEIXEIRA. Avaliaçao , Alfabetizaçao: sustentando uma suposta assepsia ao bater na tecla de que "a matemática
^^^3nentop Msico. Brasília:
Pedagogia Inep,2013.
do oprimido. .„ p.z
17 ed. Rio de Janeir^ . e Terra, 1987. Paulo/Brasília: é imune a ideologias" ou que "base não é currículo", o documento não
consegue esconder sua orientação ideológica expressa numa visão que
FEE .^ppi jvI. R. L. Ossentidos da alfabetizaçao: São Pau o
'/j^ECAnep/Comped,2000. ^^,.4 reduz a matemática a uma coleção estanque de itens que não passam de
descritores de avaliação, agora rebatizados de "habilidades".
Neste capítulo faremos considerações sobre alguns aspectos da Base,
'<''^foemGes«oePrdHcasEducaeionais).S.o Paulo: vers.d.^e J com foco no processo de elaboração, na visão de conhecimento e de en
j Plano Nacional de Educação. Apresentado p sino que defende, na estrutura engessada e no vazio de suas prescrições.

UM PROCESSO SEM TRANSPARÊNCIA

A discussão sobre os fundamentos de uma Base Comum Nacional,


para atender ao que estava disposto nas Diretrizes e Bases da Educação
Nacional de 1996, levou o MEC a criar, em 2012, um grupo de trabalho

123
122
sobre Direitos à Aprendizagem e ao Desenvolx imento que produziu o do es ° controle sobre os objeti\ os, o conteiicio e até sobre os métodos da
cumento Direitos à Aprendizagem e ao Desenvolvimento na Educação Bá cld°u ^Vez mais
organização do trabalho pedagógico da sala de aula edadaeducação
escola ficou
padronizada, es\ aziando a ação dos profissionais so-
sica: Subsídios ao currículo nacional, publicado em julho de 2014, apre re as categorias do processo pedagógico, de forma a cercear um possível avan-
sentado oficialmente em fevereiro de 2015 e engavetado em seguida,sem Ço progressista no interior da escola e atrelar esta instituição às necessidades
quaisquer explicações do MEC. reestruturação produti\a e do crescimento empresarial.(FREITAS,2014)
O fato é que os princípios do texto eram incompatíveis com os propó noite para o dia, os principais meios de comunicação foram inun
sitos do MEC,que àquela altura já vinha sendo pautado por seus novos da os com artigos e entre\ istas com representantes dos reformadores em
rceiros^ representantes de instituições associadas a empresas do setor presariais, que alardeavam um clamor uni\ersal pela base, fazendo uso de
financeiro, industrial e grupos de mídia, que daqui em diante serão deno uma variedade de argumentos falaciosos, por exemplo o de que "a crise do
minados reformadores empresariais.- Começava uma nova disputa pela sistema de ensino se de\ ia à falta de uma base" e que "só a BNCC poderia
hegemonia da educação brasileira. garanür equidade", pois "a base \'ai garantir que os alunos de todo o Brasil
Enquanto o grupo formado pelo MEC trabalhava para finalizar seu aprenderão as mesmas coisas", que "a base garante qualidade comum para
documento,estava em curso o golpe parlamentar e também uma reorga termos escolas mais justas", que a base "foi um sucesso na Austrália, que é
nização de forças que dominou o MEC após o impeachment. Os reforma uma federação como o Brasil", que "agora um aluno que mora no Piauí po
dores empresariais se movimentavam com grande desenvoltura por meio derá se mudar para Santa Catarina sem preocupações com os conteúdos".
de suas fachadas
organizando institucionais,
eventos como o de
sobre a necessidade Movimento
uma base pela Base (MpB),a
e influenciando
A lista de argumentos infantis é longa, e dispenso comentá-las neste
texto. Vale o registro de um ato falho cometido pela representante de uma
genda do MEC com estudos que geravam artigos e editoriais dos princi instituição ligada ao setor bancário numa mesa redonda de um programa
^ is veículos de mídia, e, ainda, do modelo da base adotado pelo MEC, de TV,para quem "a base é importante para a escola pública, pois a escola
om estrutura de códigos. privada não precisa de uma base", ela estava sendo sincera, pois as escolas
isla luta pelo controle do processo pedagógico das escolas, o Estado é cada vez de elite não arriscarão seus projetos pedagógicos e uma formação integral
mais disputado por forças sociais liberal-conservadoras que procuram assumir, entrando na onda de uma base cujo maior propósito, ao que tudo indica,
por meio de avaliações externas,o controle e o fortalecimento dos processos de é enfraquecer a escola pública. Não sendo possível esconder as digitais
avaliação intemos da escola (formais e informais) e a partir destes subordinar do caráter excludente embutido na imposição da base que foi aprovada,
as categorias do processo pedagógico a seus interesses, vale dizer, preservar e o MEC apelou para a publicidade, tentando convencer adolescentes e
jovens de que um futuro dourado se anunciava no horizonte.
tfaú ÍÜnibanco], Bradesco, Santander, Gerdau, Natiira, Volkswagen, entre outras - alem de
1 , go Victor Civita, Fundação Roberto Marinho Fundação Leinann, Instituto Ayrton Senna,
^ ei Educação,são
Amigos da Escola. A FALÁCIA DA PAR I ICIPAÇÃO MASSIVA
chamados os reformadores empresariais da educação nos Esta-
NA CONSTRUÇÃO DA BASE
2 idos, em te""o criado pela pesquisadora americana Diane Ravitch (2011). Ele reflete uma
dos políticos, mídia, empresários, empresas educacionais, institutos e fundações privadas
coal'^ .g^jores alinhados com a idéia de que o mercado e o modo de organizar a iniciativa privada A percepção que sc tem c que a democracia do processo de eonstrução
g pesÇ*^' gsta mais adequada para "consertar" a educação americana, do que as propostas feitas
é Jucadores profissionais(FREITAS,2014). da base foi intencionalmente desprezada, a ponto de precisar mobilizar
pel''®
125
124
recursos e um grande aparato micliático, que incluiu anúncios de de Matemática' cujos pareceres traziam críticas contundentes em relação
TV,artigos e editoriais nos grandes íornais, sites das instituições assoc,- aos propósitos, ao processo, à estrutura e aos conteúdos da BNCC.Porém,
ao MpB e entrevistas com representantes dos reformadores empres^^S tais análises sequer foram utilizadas na reformulação, segundo um dos
fcdatores da Base, "por falta de tempo". Os documentos críticos produ
todos batendo na mesma tecla que alardea\ a o recebimento de milh^ç
contribuições. A suposta participação ampla dos professores é uma fg]^ zidos por instituições como SBEVl, ANPEd, ABdC, SBPC entre outras^
que foi desmentida por uma pesquisa recente (CASSIO, 2017). A também foram desconsideradas.
menta de consulta dava aos interessados a possibilidade de escolher O que fazer quando se tem leitores críticos questionando o âmago da
cinco alternativas^ e no tratamento dos dados utilizou-se de uma estg^!^ base que se pretende impor? A saída foi encomendar pareceres "chapa
tica esperta que anabolizou os números da consulta, b.ste autor qu^^ branca" e favoráveis. Sabe-se que a Fundação Lemann e o MpB contrata
exemplo,interagiu com a plataforma lendo e se posicionando em ram pareceres que depois foram enviados ao AlEC.
aos 243 verbetes de Matemática da primeira \ersão da Base, foi
c]o MEC como se representasse 243 indivíduos. O processo de construção
^ O jogo de cena usado para falsear a participação dos educadores Vapt, vLipt! A primeira versão da base foi feita em menos de três meses,
reu também nos 27 seminários estaduais de discussão da segunda versà^ partindo do princípio de que não é possível produzir um documento cur
gjsíCC- No de São Paulo, os grupos de discussão por disciplina/segmçj.^^^ ricular sério e democrático num período tão curto,somos levados a pensar
estavam limitados a 10 professores, em geral indicados por diretores de
jsja sala de Matemática havia sete professores de Ensino Médio ^ que para alcançar tal feito só mesmo partindo de um documento pronto,
anos finais do Ensino Fundamental, ou seja, 1 7 "representantes^-^ que só precisaria de uma tradução, no caso de ter sido inspirado num
.jhgj-es de professores de Matemática da rede estadual paulista que currículo estrangeiro, e de uns ajustes para remover as digitais do provável
m a oportunidade sequer de escolher quem deveria representada^ "Ctrl+C, Ctrl-hV". Esta hipótese é plausível, se levarmos em conta o alto

^^^d âmica da tal audiência repetia a estrutura da plataforma digital qq grau de semelhança da base de Matemática com o currículo australiano
Adi""*'' ..wI.c.E
entos cabia apenas optar entre as já citadas alternativas. Um aspe^^Q (ACARA)^ e com a base norte-americana (Coimnon Core). Tal "inspira
jeste encontro foi que o grupo de matemática do Ensino Fuuçjg, ção", sempre negada por seus redatores, é assumida pelos reformadores
tal rejeitou praticamente todos os itens do modo como que estava^^ empresariais. No início de 2015 o site do MpB (e depois o do próprio
^^"ostos, mas suas considerações desapareceram dos relatórios elaborg, MEC) trazia um lirrk para o currículo australiano. Em julho do mesmo
eqnip^ MpB, Undime e Consed.
MEE- ntilizoLi outros artifícios para tentar legitimar sua BNCC. 5 CrisHano AJberto .Muni/ (UiiB, ex-presiclentc cia SBEM), lole de Freitas Druck (IME-USP),

LiF"
Jelesgl-EF,
foi o p- 391-392)
os leitores críticos convidados pelo próprio M^C
escondendo o fato de que suas proposições
Adair Mendes Nacaruto (USF). Cárnien Lúcia Brancaglion Passos (UFSCar), Maria Alice Gra-
vina(UFRGS).
(PN foram consideradas. Isto ocorreu nas análises dos especialistas 6 Sociedade Brasileira cie Educação Matemática. Associaçcão Nacional de Pós-Graduaçào e Pes
quisa eni Educação, Associação Brasileira de Currículo, Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência.

• concordo fortemente; concordo; sem opinião; discordo; e discordo fortemente. 7 Disponível eni; <w\\w.australiaiicurriciiliini.edu.au/f-U)-curriculuin/niatlieniaHcs/>. Acesso em:
9ago. 2018.
3 jg grupo que anjilisou os conteúdos dos anos do Ensino Ftmdiimentül.
ano, a Fundação Lemann organizou um seminário internacional com a duzidos. O MEC nunca respondeu por que resolveu adotar tais modelos
presença de um ministro australiano que assinou acordos de cooperação e, com certo constrangimento, os redatores'' se recusaram a explicar por
que aceitaram um modelo imposto de cima para baixo, um template com
com o MEC; o MpB encomendou de Phil Oaro, um dos mentores do
estrutura fechada à semelhança do modelo australiano/norte-americano.
Common Core norte-americano, parcccrcs sobre a base brasileira que es
A construção da base "partiu do zero", fazendo de conta que os Pa
tava sendo elaborada.
râmetros Curriculares Nacionais (PCN) não existiram - embora já
Antes de prosseguir cabe um comentário sobre o currículo australia estivessem enraizados nos sistemas educacionais -, e ignorou várias ações
no Não se questiona aqui a base adotada na Austrália que,supõe-se, deve do próprio MEC e outros programas de grande qualidade produzidos
ser boa para os australianos e não consta que tenha sido feita às pressas. por educadores e especialistas reconhecidos, tanto na comunidade de
Ao contrário, levou oito anos e reflete as necessidades daquele país; até o Educação Matemática como em outras áreas do conhecimento'^; descon
niomento não temos notícia de uma oposição dos educadores australianos siderou as experiências acumuladas e fez questão de ignorar a pesquisa
" sua base. O mesmo poderia ser dito sobre o Coinmori Core norte-ame- acadêmica sobre currículo, processos de aprendizagem e formação de
icano, embora nos EUA haja resistências à intervenção dos interesses professores.
ivados^ na educação pública, mas também pelo fato de o prestigioso A maioria dos especialistas em Educação Matemática convidados pelo
Mjííouu/ Council ofTeachers of Mathematics ter publicado seus padrões MEC para fazer a leitura crítica da BNCC de Matemática se posicionou
nrriculares que têm sido referência para a construção de bases e currícu- contrariamente, e não apenas a partes do documento, mas principalmente
em muitos países e por defenderem princípios que não se encaixam na aos princípios gerais que o estruturam e o orientam:
tura de códigos alfanuméricos (NCTiVI, 2000). Em comum, nem o
nem o Common Core se apresentam como solução miraculosa no que diz respeito às aprendizagens inateniátieas, com base na perspecti
va teórico-episteinológiea, quanto metodológica da Educação Matemática,
^ vai salvar a educação de seus respectivos países e aumentar os índices revela, em muitos aspectos, um certo retrocesso em relação aos avanços
yQliãções inieTnacior\ais.^^ conquistados nos últimos documentos e políticas do MEC,em especial dos
de Matemática não passou de um arremedo das bases austra- PCN, CESTAR, Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, e mais,
lianâ
Q norte-americana, não apenas pelo modelo de códigos que engessa recentemente, do PNAIC de matemática. Além disso, conhecimentos fun

coi
údos por ano, mas também pelo conteúdo em si. Numa leitura da damentais consolidados por meio da pesquisa científica no campo da Edu
versão, foi possível encontrar verbetes inteiros literalmente tra- cação Matemática não são contemplados na proposta. Ao contrário, vemos
pH alguns retrocessos inexplicáveis e insustentáveis (...).(Cristiano Alberto Mu-
niz, UnB, ex-presidente da SBExVI)
ia entre a Fundação Lemann, o Consed e a Undime. o seminário trouxe representantes
g P^'^®g"érios da educação de Austrália, EUA,Chile e Reino Unido.
àoS fes injetou mais de 1 bilhão de dólares para que os EUA tivessem uma base comum, 11 A redação da BNCC, pelo menos a do Ensino Médio, foi terceirizada, com a contratação da
I por cima do modelo de federalismo que caracteriza aquele país. Fundação Vanzolini. Este é um dos moti\os pelos quais os nomes dos redatores da base não são
'^cretária executiva do MEC,que passou em 2018 a integrar a equipe da candidatura de tornados públicos.
jQ >^^'^'^ckmin à Presidência da República, definiu como meta educacional de um eventual
12 Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC)de Matemática (2014), que estava
jear posições no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avalia o de- em curso quando a BNCC estava sendo escrita; Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Mé
estudantes em Língua Portuguesa, Matemática e Ciências. Disponível em: <politica.
br/noticias/eleicoes,alckmin-apresenta-cquipe-de-educacao-e-cita-incta-e-elevar-l-do- dio (2015); Pró-Letramcnto (2012); Programa Gestão da Aprendizagem Escolar(CESTAR)(2008);
Acesso em:9 ago. 2018. entre outras iniciativas.

,íb/

128 129
Por conta do posicionamento crítico que \ inha das universidades e ^ justificati\^as e argumentos de natureza psico-cognitiva e didá-
associações de educadores, estes setores foram excluídos do processo ^P'stemológica. Na primeira \ ersào da BNCC de Matemática esta-
V3 CSCrifr^
elaboração das versões subsequentes. As equipes passaram a ser formaçj^ ° que as crianças devem contar coleções com até 30 objetos no
sno, com até 100 no 2-, e com até 1000 no 3^ ano.
por membros indicados por dirigentes municipais (ündime) e estaduais
(Consed)e alguns acadêmicos de confiança do MLC.'' Com° 3presenta-se a proposta, onde os números vão aparecendo magica-
Os argumentos utilizados para justificar uma reforma com tendênci^^ ^ ente dissociados da construção de estruturas, há equívoco tanto na capaci-
autoritárias beiraram o ridículo:"os PCN não scr\ em porque não são obrj^ *^ognitiva de nossas crianças como no trato metodológico para a expan-
sao e desenvolvimento do sistema numérico, fazendo com que no primeiro
tórios"; "o Ensino Médio é ruim porque tem I 3 disciplinas . Este últí^ ano o trato se limita ao 30 e no segundo tendo como referência o 100, o que
mo argumento, utilizado para justificar a reforma do Ensino Médio poj. ^ P''ofundo equh oco quanto aos processos de alfabetização matemática.
Medida Provisória, foi repetido exaustivamente nos editoriais de mídia^ ( ristiano Alberto Muuiz, UiiB, ex-presidente da SBEM)
' do porém, na direção contrária dos currículos internacionais utilizado^ ímpeto prescriti\'o se manteve na \ ersào final, com alterações ape
modelos na propaganda oficial -o currículo australiano possui oito nas na redefinição dos limites em cada ano, antecipando a experiência
e 16 disciplinas; as metas curriculares de Portugal têm cerca de 20 com números até 1000 unidades para o 2^ ano. Sem entrar no mérito
^^ciplinas distribuídas em quatro percursos de aprendizagem. sobre até quanto uma criança pode contar em um determinado ano esco
lar, esta oscilação entre 100 e 1000 é emblemática, pois explicita a irres
A VISÃO DO CONHECIMENTO E DO ENSINO ponsabilidade de se produzir uma base às pressas e sem a participação dos
PA matemática na BNCC educadores. A questão de fundo não é o texto da habilidade em si, mas a
lera primeira versão da base, à época ainda chamada de BNC,com visão determinista sobre o que se de\'e fazer nesta ou naquela idade,como
1 nga lista de itens prescritos, veio à lembrança o filme Bananas de se o desenvolvimento das crianças mudasse de nível a cada aniversário
H Allen(1971)^ no episódio em que Esposito, o líder revolucionário comemorado.
As escolhas dos redatores da base não estão apoiadas na produção cien
^ública de San Marcos, país fictício na América Central que acaba-
f^Lrrubar
va ds ^
uma sangrenta ditadura,faz seu primeiro discurso ao povo: tífica brasileira ou internacional sobre processos de aprendizagem, currí
culo, metodologia ou sobre o debate epistemológico dos conhecimentos
gscutem,a partir de hoje a língua oficial de San Marcos é o sueco. matemáticos. O desprezo pela produção acadêmica fica explícito quando
era uma comédia de ficção, mas a BNCC deveria ser coisa se toma conhecimento das leituras críticas encomendadas pelo próprio
sefi^^i^ dedáhoj®para decretar, à revelia da comunidade de educadores, que
professores têm que ensinar isto e não aquilo, sem MEC,em que a maioria dos pareceres apontou aberrações, ligeireza, la
cunas, desconexão, falta de fundamentos e erros. Apesar de as críticas
terem sido feitas sobre o conteúdo da primeira versão, as mudanças ocor
uipe de Matemática, apenas um dos participantes tinlia produção sobre currículo re- ridas até a versão definitiva foram meramente cosméticas, tendo permane
13 Janela comunidade de Educação Matemática, a maioria é totalmente desconhecida nos
cido intacta a característica fragmentada, prescritiva e desprovida de uma
^gjos \\^odyAllen(1971). Disponível em* <vwvw.youtube.coinAvatcii?v=VORP3Eo\vI\vc>.
visão de área consistente.

131
130
Os objetivos são fragmentados por eixos e anos, não ex idenciain a integração SOBRE A ABORDAGEM K A PRESCRIÇÃO DE CONTEÚD*^^
f;0-
nem mesmo dentro da própria matemática (...). (...)
Chamou atenção dos profcs.sorc.s c parcceristas a falta de fund^f^
Oa forma como o documento está redigido, não estão exjDlícitas as conexões sobre a natureza da matemática e o discurso vazio sobre a área,
entre os conhecimentos dos diferentes eixos e os componentes curriculares pelo fato de que não foi explicado como a Matemática pode ser ao
do Ensino Fundamental.(...) tempo área e componente curricular. Comparando-se todas as ^o
Falta ao documento uma explicitação da concepção de aprendizagem. BNCC,observa-se uma preocupação cm mostrar mais substância,
(Adaír Mendes Nacarato, USF) número de páginas da .segunda x crsão duplicado em relação ã pri^^^
aparente ênfase no trabalho interdisciplinar (...) não se confirma quando por exemplo. Isso, no entanto, não conseguiu iluminar o documento» P
a técnica de redação utilizada, com parágrafos recheados de frases cie
se apresentam os objetivos de aprendizagem, ísto é, estes se mostram como to e discursos bem-comportados sobre a importância dos eixos temáti^
"uma matemática voltada a si mesma".(Cármen Lúcia Brancaglion Passos,
UFSCar) serviu apenas como tentatixa de edulcorar a lista dos 254 descritoros
avaliação. Apesar da referência a "processos matemáticos" de resoloÇ^
Quando se lê as proposições relativas à área "Matemálica", nelas não se tem de problemas, de inx cstigação, de descnxoix imento de projetos e model^
referências à integração com as outras áreas. Ou seja, o que é dito no texto gem, a lista de habilidades não dá margem para que tais processos sejni^
inicial não é contemplado nas proposições especrficas da área da Matemáti levados a sério.
ca (Maria Alice Gravina, UFRGS)
O texto inicial cie apreseníação da .Matemática tem organização particidnr
^j-istíano Alberto Muniz, professor da UnB que coordenou o Progra- mente confusa: apresenta icleia.s não concatenadas entre si e não deixa cln^c?
^ggXAR c foi autor de um dos cadernos do PN^AIC de Matemática, exata e completamente nina vi.são de como e por quê a Matemática tem uni
rn^
ritou qrie grande parte dos objetivos propostos na BNCC transpiram papel importante a cumprir iia formação integral a que, por lei, os estudante®
jo sentido sociocultural da produção matemática e de sua apren- têm direito. (lole dc Freitas Driick, LISP)
'a P
e ainda uma ausência de referências a contextos socioculturais. o documento não traz discussão alguma sobre a natureza do conhecimento
^gpeci^h às articulações internas dos diferentes subcampos da mate- matemático, bem como do conhecimento matemático escolar e do papel do
' ^om outras áreas do conhecimento científico e cultural, professor no processo cic aprendizagem do aluno. Nos anos iniciais, fica ^
xt\átíca percepção de um espoiitaneísmo com usos de estratégias pessoais, sem siste-
Jtaí^ as perspectivas históricas e da etnomatemática, que não são contem- matização/formalização dc conceitos.(Adair Mendes Nacarato, USF)
na BNC,Assim, valores sociais, culturais e afetivos do aprender inate- Observamos uma desconlinuidadc na seqüência de objetivos de aprendiza
P .(."ca não estão explicitados na aprendizagem escolar da matemática pro- gem no eixo "Ceoinetria"(...). (Maria Alice Gravina, UFRGS)
pela BNC,não trazendo de forma explícita as tendências da Educação
P n^ática, tais como o enfoque histórico, cultural, comunicacional, Iiidi- O tratamento estanque e fragmentado dos conteúdos é uma das prin
como as novas tecnologias que, quando presentes, são marginais e
cipais marcas dessa base, que x ai na contramão dos axanços da Educação
^j-lcas- Ern síntese, parece haver um sileiiciamento na j^roposta do que é Matemática dos últimos 50 anos por romper com algumas conquistas ob
^l^^^geolar, dos aspectos da história da matemática, dos temas transversais; tidas no PCN de Matemática, engessar e as práticas pedagógicas e pasten-
maneira acanhada. (Cristiano Alberto Muniz,
0^ SBEM) rizar os materiais instnicionais.
L/nB'
132 133
Há muitos exemplos que mostram como a BNC.C. é apartada da escola 4. Propõe-se o uso de um flu\ograma'\ representação utilizada por
programadores, para que os alunos decidam o óbvio, ou seja, que um
real, seja pela prescrição de conteiidos que os professores nunca tiveram número é par.
na sua formação inicial, seja pela ignorância a respeito do que se faz na (EF06MA04) Construir algoritmo em linguagem natural e representá-lo por
sala de aula. Tal como na comédia de Woody Allen, a lista de conteúdos fluxograma que indique a resolução cic um problema simples (por exemplo,
para o Ensino Médio na primeira versão da BNCC de Matemática era en se um número natural qualquer é par).
cabeçada com a prescrição do ensino de "vetores . Esse modus operandi 5. Descuido e falta de rigor na proposição de "habilidades".
aparece em várias passagens do documento: (EF06MA1 5) Associar pares ordenados de números a pontos do plano carte-
siano do F quadrante, em situações eomo a loealização dos vértices de um
1 As crianças do E ano do Ensino Fundamental (6 anos) agora têm polígono.
render "álgebra". Os professores estão assustados com o novo con- Como alunos do 6^ ano vão representar a abseissa do vértiee C de
H e de fato não há álgebra no 1" ano, mas sim uma reclassificação, um triângulo equilátero de coordenadas A(0, 0), B(l, 0) e C(l/2, y) sem
°',aisquer fundamentos, de atividades que semirre foram trabalhadas conhecer números irraeionais e o teorema de Pitágoras?
bito da lógica,impondo, ,uma
no anau .,
nova "verdade" a professoras e profes-
6. A primeira versão tratava meros exercíeios eomo habilidades:
nue ensinam nos anos iniciais.
''''7i7F01MA09) Organizar e ordenar objetos familiares ou representações por (EF09MA15) Determinar o ponto médio de um segmento de reta e a distân
cia entre dois pontos quaisquer no plano cartesiano, sem o uso de fórmulas,
fi uras, por meio de atributos, tais como cor, forma e medida. e utilizar esse conhecimento para caleular, por exemplo, medidas de períme
Acerto a proposta é trazer para o currículo algumas idéias da chama- tros e áreas de figuras planas construídas no plano.
Álgebra, uma área da pesquisa epistêmico-cognitiva ainda pouco
^ cída-e inconclusiva -, pois ainda em fase de estudos por pesquisa- 7. O eonjunto de platitudes e frases de efeito desprovidas de importân
especialistas em Educação Matemática. cia reinventou a roda, na justificativa da abordagem da geometria analíti
dores ca na segunda versão:
O ensino da tabuada desaparece de forma explícita, sendo substi- o trabalho com a geometria analítica deve ser proposto de modo articulado
com a álgebra.
, 1 por duas "habilidades":
*lp,03ivlA03) Construir e utilizar fatos básicos da adição e da multiplicação E daria para ser diferente? Afinal, foi exatamente eom este propósito
ra o cálculo mental ou escrito. que a geometria analítica foi criada por Descartes e Fermat no século
XVII. Tal orientação subestima os saberes dos professores, sendo equiva
''^F04MA'1)Identificar regularidades em seqüências numéricas compostas
Af^ 1im nnmaarr» nnfiiml lente a dizer que "números são usados para contar".
j. uidltiplr^^ de um número natural.
jj^p-oduz-se o conceito de múltiplo no 6" ano, mas a resolução de 15 Solicitado a justificar a c,\istência deste conteúdo eni uni evento público, um dos redatores da
base lançou mão de definições da Wikipédia para explicar aos presentes o que estava tentando dizer.
^ rnas sobre múltiplos aparece somente no 7" ano. Como se pode Não conseguindo convencê-los. rcconlieceu que era contra o tópico, mas que a equipe de elabora
ção fora obrigada a introduzir o conceito por prcssilo das entidades de computação.
rim conceito apartado dos problemas que o geram?

134
135
A TECNOLOGIA De nossa perspectiva, é inútil debater se as crianças de 6 anos são capazes
de contar até 20, 30 ou 100; ou se divisão de frações deve ser ensinada no
A referência à tecnologia é nm e/jgoc/o, c não traz c|iialcjuer habilida 6° ou no 7" ano do Ensino Fundamental. O que vale discutir são as ques
de própria relativa às Tecnologias da InforTiiação e da Comunicação ou tões de fundo; neste caso, o princípio de distribuir conteúdos/habilidades
ao pensamento computacional, reduzindo a relação entre Matemática e por série/ano é um dos grandes equívocos desta BNCC e prenuncia um
Tecnologia à sugestão do uso de ferramentas sem qualquer compromisso, grande desastre para o ensino.
como se fosse indiferente construir um triângulo com régua e compasso Embute uma concepção equivocada de que todos os alunos de uma
ou com um software de geometria dinâmica; construir o gráfico de uma mesma idade aprendem conceitos e procedimentos de um mesmo jeito e
função quadrática com lápis e papel quadriculado ou com uma planilha em um mesmo tempo, embora saibamos que isto não ocorre nem entre
eletrônica. Nenhuma palavra sobre a sintaxe dos aplicativos que podena alunos de uma mesma classe, inclusive nas escolas privadas de elite.
ser relacionada às linguagens utilizadas na matemática, como no caso da Talvez o maior retrocesso da BNCC seja sugerir que a matemática
quebra- sobre aspectos e processos próprios de ferramentas como recur- deve ser ensinada de modo linear, hierarquizado, rígido e de caminho
sÍ iteração, modelagem, simulação, visualização, movimento, algont- único, e não por meio de uma rede conceituai que possibilita variados
percursos, tal como fora sugerido nos PCN para o Ensino Fundamental
Sazedo Dantas (Unespar), pesquisador so- (Figuras 1 e 2, na próxima página).
bre o uso das tecnologias no ensino, o papel da tecnologia na educação A orientação de que a Vlatemática pode ser ensinada na perspectiva
de um currículo estruturado como rede é fruto de pesquisa científica do
Torfitara pTodução de significados matemáticos além daqueles cumentada em dissertações, teses e artigos acadêmicos; está presente em
A ns materiais didáticos
ítLrar aritmética, álgebrahabituais possibilitam;
e geometria na resolução de problemas; currículos de muitos países, inclusive em alguns dos citados pelo MEC
em sua propaganda oficial. A associação conteúdo/série, característica
! imzer a experimentação para o centro da atividade de produção de
^nhecímento matemático;
dos programas tradicionais dos anos 1930 até os anos 1980, tomou de
surpresa a comunidade de educadores e pesquisadores, que considerava
Sâtivizar a importância de algumas atividades matemát cas por exem- que essa abordagem que já tivesse sido superada. A BNCC ressuscitou
* 1 tirar do cenário principal os processos puramente algebricos e por uma aberração.
gm cena a iteração numérica, a visualização geométrica dinâmica. Vale lembrar que a idéia de organizar curríeulos em ciclos'^ está basea
da nos estudos de Emilia Ferreiro, psicolinguista argentina que desvendou
P tretanto, nas 396 páginas da BNCC não há qualquer indício de os mecanismos pelos quais as crianças aprendem a ler e a escrever. Sua
visâo tecnologia que
jqjg há compromisso vá além
de fato eom das referênciasnautilitário-mecani-
a tecnologia BNCC. pesquisa revolucionou a concepção sobre a alfabetização das crianças, o
cistas. que levou os educadores a rever radicalmente seus métodos e práticas.
SÉRIE VEKSl/S CICLO
16 A implementação dos ciclos cie aprciuli/.agcm ocorreu pela primeira vez na gestão da prefeita
para•- ossobre
propósitos desta reflexão pouco importa discutir os detalhes
os itens prescritos, ainda que sejam da ordem das centenas.
Luiza Erundina (1989-1992) no município de São Panlo, que tinha o educador Paulo Freire como
Secretário de Educação.
pontua»^
137
136
FtGURA 1. ESQUEMA DE CONEXÕES ENTRE CONTEÚDOS PARA O ENSINO DOS NÚMEROS Uma de suas descobertas foi a clc que as crianças aprendem
RACIONAIS (BRASIL. 1998, P. 139).
dos e em ritmos distintos umas cias outras, e que o processo de 3' ^
não se encerra no ano leti\'o, o tempo burocrático da escola- \
grandezas
contínuas,
po para as crianças atingirem determinados objetivos de
comprimento,
relação
parte/todo superfície sistemas que eliminaram a reprovação no ano do Ensino
grandezas
escala f
composição e instituindo o ciclo, experimentaram nma radical diminuição da ^
discretas decomposição de
racionais, rep.
figuras planas e da evasão escolar.
fracionária e
decimal
leit ura. Fenômeno semelhante se passa com a aprendizagem da
interpretação

operador
e contrução de
plantas, mapas
Não se aprende um conceito decorando sna definição, como se
relações
numéricas probabilidade
densidade,
há um século. A pesquisa sobre educação matemática m^st
densidade
demográfica conceito está relacionado a outros, formando um campo conce^
gráficos
porcentagem L não pode ser confinado num ano leti\o específico. Também sabe
lemas
conceitos podem ter vários significados, o que implica qoe as^ x^xrm^
transversais
geradoras da aprendizagem podem ser variadas e, portanto,
modo categórico para ser introduzido e/ou consolidado.
Veja-se o caso das frações, que têm ao menos seis subconstrutos. ^
figura 2. ESQUEMA DE CONEXÕES ENTRE CONTEÚDOS PARA O ENSINO DE GRANDEZAS pode ser vista e tratada como: relação parte-todo, operador,
E medidas (BRASIL, 1998. P. UO). quociente e número racional, dentre outros significados. A apren i ^
grandezas grandezas
das frações, que é introduzida nos anos iniciais do Ensino Fundameii
diretamente
proporcionais
inve rsarnente
proporcionais
pode se prolongar até o término dos anos, com os alunos podendo
gráficos grandezas não
truir seus significados à medida que enfrentam problemas de níveis is iii
probabilidade
de um evento
\
cartesianos

/ /
proporcionais tos ao longo de sua \-ida escolar. Isto quer dizer que fração nao e assvii-ito
grandezas
desta ou daquela série. K po.ssívcl que tenhamos numa mesma sala de avila
porcentagem construção de
figuras em escala
alunos com experiências diferentes, o que lhes permite compreender e
razão [identificação, plantas, resolver problemas que envolvem o conceito de fração relacionado a rinna^
escalas r croquis. mapas
::ínúmero racionaTj interpretação, leitura
e comparação) determinada idéia e nivcl, mas não outra. Numa mesma classe, estndan<^Q
unidade de razao que tem
razões que envolvem semelhança de
[ homotetia [ lado a lado, há alunos com experiências distintas com frações.
medida [sistema
métrico)
valor constante
medidas de mesma
grandeza
figuras planas
Não é uma base que garantirá que um aluno de 6^ ano vai Prod^i^
fazer mediço®®
relação entre
comprimento e
razões que envolvem
medidas de
renda per
capita
zir significado para a divisão de frações só porque está prescrito no
?om instrumentos
diversos
diâmetro de um grandezas diferentes trabalho e EF06MA10. Se assim fosse, a maioria dos que leem este capítulo, ind, •
círculo densidade consumo r V\ ^
unidades de
demográfica
do os CEO das empresas que sustentam o VlpB, saberiam algo alé
medidas [ velocidade| |densidade regra "mantém a primeira c nudtiplica pelo inverso cia segunda", ^
explicar a divisão de frações sem se referir a pizzas ou a barras de
^1;
138 139

L
Até mesmo porque a divisão de frações não pode ser ensinada da mesma Para não ter que assumir sua faceta intenencionista de padronizar os
forma como se ensina a sua adição. Sistemas estaduais, os representantes das organizações sociais vinculadas
Cabe ao professor identificar os conhecimentos prévios dos alunos, grandes empresas e o próprio MEC insistem que base não é currícu
suas idéias e dificuldades para decidir que idéias vai privilegiar, o que fazer lo, que a base é um conjunto de normas, que currículo é ação e que o
e quando fazer. Ao amarrar os conteúdos por série, ignorando estudos so conteúdo da base representa apenas 60% do currículo, que ficará a cargo
dos estados. Mas os currículos dos estados terão que incluir a base, caso
bre aprendizagem e didática, a BNCC tira dos professores as suas prerro
gativas profissionais,sua autonomia para organizar seus cursos em função Contrário seus alunos correrão o risco de não obterem "bons" resultados
nas avaliações nacionais.
dos conhecimentos que só eles têm sobre seus alunos. É isso, no fim das Deve-se considerar que cm muitas escolas''^, não será possível sequer
contas, o que poderia garantir uma aprendizagem sólida.
dar conta dos 60% obrigatórios,sem perder de vista que estes 60% corres
CONSIDERAÇÕES FINAIS pondem a 100% do que está prescrito na BNCC. Frente a isso, os currí
culos estaduais tenderão a reproduzir o texto da base com acréscimos çj
jsja verdade, numa primeira visão e salvo melhor juízo, extensa parte dos tópicos optativos. Afinal, um conteúdo específico relacionado à cultr
objetivos de aprendizagem da Matemática, em todos os anos escolares, têm de uma região não cai nas provas organizadas pelo Inep. E grande o r"
nsco
orn estilo de redação mais apropriado a descritores de itens de avaliaçao de os professores não se arriscarem a privilegiar os 40%,sabendo
que Sc..
jg testes de múltipla escolha de avaliações de rendimento escolar de larga rao cobrados apenas pelos 60% que estão na base e diante da possibilj^^
escala,(lole de Freitas Druck, USP) de de serem responsabilizados pelos resultados nas avaliações nacion
£stá claro que o foco dessa base está no "ensino e não na aprendiza- Embora o MEC negue, a BNCC é um mecanismo de intervenção
currículos estaduais.
iim ensino cujas características principais são a prescrição fragmen-
Não faltam sistemas de ensino que acreditam nas boas hitençõ^^
^ ^a'de tópicos, o engessamento e a pasteurização dos sistemas de ensino, arquitetos da base, um exemplo é a rede municipal de São Paulo, prim
(dendo propósitos escusos que não são assumidos pelo MEC e seus
do país a se alinhar à BNCC. A parte relativa à matemática é
'eíros-
-iros. A estrutura rígida que dá todo poder aos códigos alfanuméricos
turada e fundamentada, foi construída com a participação de m- r
^Str
"
eontrol^r o trabalho dos professores e está a serviço das avaliações
escala, das indústrias de testes, de materiais instrucionais e de res, tem boas propostas e seria muito interessante se fosse ^^plemenj- "
para formação ligeira de professores. Não se trata de uma ficção: O único problema é que ela de fato não tem nada a ver com a
^ Hvros^^ para treinar alunos para "melhorar" seus índices nas avalia- Recebeu alguns retoques, incorporando parágrafos sobre compç|..^
ena
larga escala; já se discute a certificação de professores que terão socioemocionais que não consta\ am nas primeiras versões da basç
erscgrd'* índices para obter bônus e cursos que se propõem a formar tras referências para sugerir afinidade. Porém,dificilmente o Currfçx ^
^oxes em cinco semanas, como fazem os departamentos de RH das Cidade, como foi batizado, será implementado se pretender úe
.ac de telemarketing. lar
18 São comuns na periferia cio nuinic í|3Ío ck* São Paulo escolas com alta rotativi(|.,ç|^
qx exemplo, a coleção Aprova Brasil: Matemática - Ensino Fundamental, cia Editora quatro professores cie uma mesma disciplina em um mesmo ano letivo, o que ^oniprou^^'^^
Ver.P' mente a aprendizagem c o desenvc)l\imento dos alunos.

UO U1
conta da BNCC tal como está estruturada. Ou opta por treinar os alunos referências
para as avaliações nacionais ou privilegia o desenvolvimento do pensa BRASIL; MINISTÉRIO DA EDfCAÇÃO. Base \'acional Comum Curricular. I" versão.
mento matemático dos alunos. Os especialistas da Secretaria Municipal Disponível em: <historiadabncc.nicc.go\.br/clocunientos/BNCC-APRESENTACAO.pdf>.
Acesso em:9 ago. 2018.
de Educação de São Paulo terão que fazer uma escolha: ou se mantêm BRASIL; MINISTÉRIO D.-\ EDL'CAÇ.\0. Base Kacional Comum Curricular. 2® versão
fiéis ao Currículo da Cidade ou aderem à BNCC. revista. Disponível em: <iiisloriaciabncc.niec.go\.br/ciocumentos/bncc-2versao.revista.pcif>.
Outro complicador que comprometerá a autonomia dos estados tem Acesso em:9 ago. 2018.
a ver com a produção de materiais didáticos. A Secretária Executiva do BRASIL; MINISTÉRIO DA EDUC.-\Q>.\0. Base Nacional Comum Curricular: Educação In
fantil ^ Ensino Fundamental. \ersão. Disponí\cl eni: <\v\\Av.obser\atoriodoensinomedio.
MEC definiu como critério de classificação para o próximo ciclo do u£prbr/wp-content/uploads/2017/ü4/BNCC-Documcnto-Final.pdf>. Acesso em:9 ago. 2018.
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) o alinhamento incon BRASIL; ministério D.A EDDC.AÇ.KO. Base Nacional Comum Curricular. Educação
T fantil e Ensino Fundamental. Brasília; .MEC / SEB.
coiTium.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf>. 2017.em:
.Acesso Disponível em: <basenacional
Í8 fev. 2018.
dicional à BNCC, o que obrigou os editores a desconstruir livros e a
descaracterizar os projetos pedagógicos de muitas obras que já vinham uRASIL; ministério DA EDUC.AÇ.^O. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática.
editando. O edital foi publicado antes mesmo de o Conselho Nacional gcília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: <])ortal.inec.gov.br/seb/arquivos/pdf/matematica.
Acesso em:9 ago. 2018.
de Educação(CNE)aprovar a BNCC para o Ensino Fundamental, no í^ÁSSlO, F. Participação e participacionismo na construção da Base Nacional Comum Cur-
final de 2017. * ular. Nexo Jornal, 2 dez. 2017. Disponível em: cwAs-w.ne.xojornal.com.br/ensaio/2017/
P^^tjj.jpação-e-participacionismo-na-construção-da-Base-Nacional-Comum-Curricular>.
A autonomia das equipes estaduais ficará seriamente comprometida y^essoem: 20mai.2018.
se os livros didáticos comprados e distribuídos pelo MEC vierem pasteu itrEITAS,L. C. Os reformadores empresariais da educação e a disputa pelo controle do pro-
rizados, todos com o carimbo "de acordo com a BNCC". A padronização esso pedagógico na escola. Educação O Sociedade, Campinas, v. 35. n. 129, p. 1085-1114,
disfarçada de flexibilização é contrária à valorização das diversidades re- 20H'
tJATIONAL COUNCIL OF TEACvMERS oi* MATHEMATICS. Principies and Standards
'onais nos currículos. No caso da Matemática, a tendência é que, com / School Mathematics. 2000. Disponível em: <\vuAv.nctm.org/Standards-and-Positions/
prínciples-and-Standards/>. Acesso em:9 ago. 2018.
raras exceções, seu ensino e os materiais didáticos sejam praticamente os n aVITCH,d. Vida e morte do grande Sistema Escolar Americano: Como os testes padroniza-
rnesmos nos distintos sistemas de ensino, como já ocorre nas escolas que do8^ O modelo de mercado ameaçam a Educação. Porto .Megre: Sulina, 2011.
usam sistemas apostilados. Como o foco é o ensino, os professores serão
rientados a usar livros didáticos engessados e plataformas digitais para
duzir atividades, gerenciar avaliações etc.
A docência e os projetos pedagógicos estão em risco, pois a margem
a o exercício da docência com liberdade e criatividade será curta. A
P^^sequência é um enfraquecimento do ensino da Matemática apenas da
^ ol3 alguém acredita que as escolas privadas irão aderir à
? por tudo isso, a BNCC deve ser revogada e seu processo de constru-
dovo ser devolvido à sociedade, com a participação real de educado-
ais e especialistas. ::
resy y

U2 U3

Você também pode gostar