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História da animação - Pan.

Cinema da animação
Jeferson H. F. Ferreira - Cinema de Animação e Artes Digitais/UFMG

Introdução.
Atualmente, vê-se a animação em todo lugar: na tv com as séries infantis, cinema com
os filmes animados, streaming com os animes e publicidade com as técnicas visuais que
utilizam de animações como, por exemplo, o motion design. É fato, a animação ganhou o
mundo e continua a ascender desenvolvendo e aprimorando técnicas cada vez mais avançadas
em diversas direções, entretanto, como tudo na vida, nem sempre foi assim. A animação
também teve um início.
Antes dos efeitos especiais ultra-realistas do cinema, antes dos projetos 3D, antes das
técnicas 2D otimizadas pela digitalização e antes mesmo do cinema, a arte de dar vida às
imagens já era desenvolvida.

Pré-cinema.
Na verdade, o início da animação é mais remoto do que se pode imaginar. Estudos
recentes indicam que homens primitivos utilizavam da luz do fogo para animar artes
rupestres.

O sistema visual está predisposto a usar sombras e iluminação para entender a


profundidade e as dimensões de um objeto; mudar a luz através de uma superfície,
portanto, pode criar a ilusão de que um objeto pode estar se movendo em
profundidade, mesmo que seja estático em tamanho e posição. (Needham, et al.,
2022, Discussão: Arte à luz do fogo).

Neste estudo, percebeu-se que os desenhos na caverna de animais, como o rinoceronte


com 8 chifres, ao serem expostos à luz das chamas que eles utilizavam, dá a ilusão de
movimento. Como se estes animais estivessem sendo animados.

Além disso, milénios depois, surgiram outras técnicas com o objetivo de dar essa
ilusão de movimento para as imagens estáticas. Por exemplo, o teatro de sombras, originário
da China há cerca de 5 mil anos, utilizando recortes com formas específicas, uma tela e uma
fonte de luz projetada na tela com as figuras no meio de modo que suas sombras sejam
projetadas para o público. Dessa maneira, as figuras eram movimentadas e interagiram de
forma que contassem uma história. Ademais, avançando mais na história, a Lanterna mágica
de Athanasius Kircher, criada no século 17, foi outro método relevante para a história da
animação. Com o início da ciência moderna, muitas invenções foram forjadas, dentre elas,
esse dispositivo em questão utilizava de uma caixa de grandes proporções que projetava em
superfícies brancas, em um ambiente escuro, as imagens pintadas em chapas de vidro fino
com uma iluminação interna própria.

Fora isso, houve também os dispositivos óticos mecânicos que utilizavam de ilusões
visuais para trazer a sensação de animação das imagens. Dentre eles: o taumatrópio, o
zootropo e o flip book. Sendo este último o mais perto da animação 2D tradicional que viria a
surgir logo em seguida por trabalhar imagem a imagem que, vistas em sequência, dão a ilusão
de movimento.

Cinema.
A humanidade continuou avançando e, portanto, também suas ferramentas e
tecnologias. Com o surgimento da câmera fotográfica e filmadora a animação como é
conhecida hoje deu seus primeiros passos. Após o surgimento das técnicas de edição do
Meliés na qual utilizava-se para parar de filmar no meio da cena e voltar momentos depois
resultando no que chama-se atualmente de corte, surgiu o primeiro filme de animação em
1900: Desenho Encantado. Esse, nada mais era do que um desenhista interagindo com um
desenho do quadro que, por meio do corte, alterava a imagem dando a ilusão de que ela
reagia ao que o desenhista fazia em cena.
Já em 1906, virá a surgir o curta Fantasmagorie de Émile Cohl. O cartunista desenhou
as imagens no papel com nanquim e usa uma técnica de negativo que inverte as cores dando a
impressão de ter sido uma ilustração de giz na lousa. Fantasmagorie surge como a primeira
animação moderna, visto que essa utiliza o método de animação tradicional frame a frame
onde cada fotograma é uma arte criada. Tal qual o mencionado flip book, mas com um
método de troca de “páginas” diferente. No flipbook é uma paginação manual e no
fantasmagorie é por meio do dispositivo cinematográfico.

Estúdios.
Dito isso, a animação ganhou popularidade e, assim como o cinema convencional,
teve um avanço em técnicas e tecnologias. A sociedade se estruturou com esse novo setor
industrial dando início aos estúdios de animação. Por ser muito trabalhoso criar imagem por
imagem, sendo inúmeras imagens por segundo, as animações eram todas curta-metragens.
Esses curtas eram exibidos nos cinemas antes dos filmes live action, ou seja, tradicionais.
Dentre esses estúdios, destaca-se o Sullivan Studios, responsável pela criação de Felix
the cat, primeiro personagem animado a atingir uma popularidade tal capaz de atrair o
público do cinema. Acontece que, com a alta demanda, meios de tornar a produção dessa
série mais prática foram criados. Uma delas é a simplificação no design dos personagens
tornando-os mais fáceis de desenhar e replicar. Vale citar, inclusive, que eles começaram a
reutilizar o cenário desenhando os demais elementos por cima, como camadas, não
precisando desenhar tudo do zero em cada frame.
Essas técnicas agilizaram as produções dando menos trabalho e reduzindo o tempo de
desenvolvimento.
Outro estúdio de destaque na época foi o dos irmãos Fleischer famosos pela Betty
Boop, Popeye e os primeiros a trazerem uma animação mais séria com Superman. Entretanto,
o destaque desse estúdio está na técnica criada chamada de rotoscopia. Esta constitui-se em
utilizar modelos humanos para a criação dos desenhos. Para isso, eles gravavam a cena com
atores e desenhavam por cima das filmagens. Esta técnica dá uma maior naturalidade aos
movimentos e posturas e é uma enorme avanço para a animação utilizada até hoje, com
métodos e meios muito mais avançados, na captura de movimentos que resultam em
animações de jogos ou efeitos especiais de filmes que precisam alteram aspectos físicos dos
atores para representar personagens não humanos ou muito deformados.
Essa técnica, inclusive, foi utilizada por outro estúdio de grande importância para a
história: Disney. Na criação do longa Branca de neve e os sete anões. O primeiro longa
animado a receber um Oscar, responsável anos depois por influenciar na criação de categorias
próprias para filmes animados. Embora tenha utilizado da técnica dos irmãos Fischer, a
Disney trouxe, da mesma forma, um novo método que viria a revolucionar a história da
animação. Sendo ela a câmera multiplano, capaz de simular o efeito de paralaxe, sensação de
que os objetos se movam independentemente no movimento da câmera. Ou seja, enquanto o
fundo se move mais lentamente, o meio se move mais moderadamente e a frente com uma
velocidade maior, esse é o efeito paralaxe. A câmera multiplano divide a imagem em vários
planos do qual cada um se move de uma maneira, tal qual o fenômeno físico mencionado.

Conclusão.
Com isso, chegamos à animação 2D tradicional. A partir disso, inúmeras obras
surgirão com diversos avanços. Tempos depois, com o enorme avanço tecnológico, tal qual
ocorreu nos avanços anteriores, houve novas revoluções na história da animação. A mais
emblemática foi a computadorização resultando na técnica 3D e, mais a frente, em efeitos
especiais que virão a agir no meio live action camuflado de “realidade” mesmo que ainda seja
uma técnica da animação computacional.
Assim como a tecnologia, a animação não para de evoluir e se aprimorar. Presente em
todas as mídias, de diversas maneiras, essa técnica continua a fazer história.

Referências.
NEEDHAM, et al. Art by firelight? Using experimental and digital techniques to explore
Magdalenian engraved plaquette use at Montastruc (France), 2022. Disponível em :
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0266146#sec010 - Acesso
em 14 de Outubro de 2022.

LUCENA JR. Alberto. Arte da animação: técnica e estética através da história. Senac: São
Paulo, 2002, pp. 27-119, disponível em:
https://paisagemsonora.org/bibliografia_animacao/Arte-da-Animacao-Alberto-Lucena-web.p
df) - Acesso em 14 de Outubro de 2022.

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