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BRASÍLIA
2020
Este trabalho, nos termos de legislação que
resguarda os direitos autorais, é considerado
propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE
GUERRA (ESG).
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A BR 319 e sua importância estratégica para a Defesa Nacional
Adna Luana da Costa Souza1
RESUMO
Este artigo científico tem como foco explicar os efeitos negativos decorrentes da falta de
investimentos na BR 319, quanto aos interesses que têm relação com o tema Defesa Nacional.
O déficit nas contas públicas, o discurso de proteção à biodiversidade e aos povos da floresta,
reduzem a possibilidade de investimentos no setor de transportes, comprometendo a integração
nacional, o desenvolvimento regional, o intercâmbio fronteiriço do Brasil com os países
vizinhos e as ações estratégicas do MINFRA. Ao relacionar o projeto da BR 319 e as ações
estratégicas, identificou-se vazios demográficos, a ausência do Estado, a carência de integração
com as demais regiões do país e países fronteiriços, o que torna a região vulnerável a ação de
organizações que cometem crimes ambientais e transnacionais. Ao final deste artigo, se espera
equacionar esses problemas através de um planejamento de longo prazo, no qual se aplique
políticas públicas que envolvam todas as instituições, em especial o Ministério da Defesa,
propiciando o desenvolvimento sustentável à região amazônica, a fim de que a presença do
Estado seja consolidada e se possa garantir efetivamente a soberania brasileira na região, com
reflexos positivos para a Defesa Nacional.
Palavras-chave: BR 319. Desenvolvimento. Defesa Nacional.
1
Assessora Técnica da Diretoria de Defesa e Segurança Nacional da Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República. Trabalho de Conclusão do Curso de altos Estudos em Defesa (CAED) da Escola
Superior de Guerra (ESG), Campus Brasília, 2020.
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1 INTRODUÇÃO
Por meio das fontes levantadas e já elencadas, além de outras, que surgiram no decorrer
do desenvolvimento deste artigo, buscou-se realizar uma pesquisa bibliográfica e documental,
analisando, registrando e correlacionando os aspectos e as variáveis do tema, inclusive
coletando dados diretamente em órgãos governamentais, como o Ministério da Defesa (MD) e
o Ministério da Infraestrutura (MINFRA).
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A região Norte do Brasil ainda precisa ser, completamente integrada ao restante da Nação.
(BOGONI, et al, 2015, p. 103), em seus estudos sobre desafios para a integração, narra que
houve um tempo, que além de estar distante dos centros do poder, a região estava esquecida,
para não dizer abandonada à própria sorte.
Já Gheller, Gonzales e Mello (GHELLER et al, 2015, p. 20), em seus estudos sobre a
Amazônia e o Atlântico Sul, definem que “a criação de uma infraestrutura seja um objetivo de
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longo prazo, sobretudo pela dificuldade em integrar e conectar a região como um todo, tendo
em vista suas características naturais.” Além de que, há muitas dificuldades de se construir
novas malhas viárias ou recuperar as que foram abertas em décadas passadas, em especial
quando cortam reservas ambientais. A obtenção de licença ambiental, pressões internas e
externas e pendengas judiciais, levadas a cabo contra o Estado por organizações não-
governamentais (ONG) e de determinados grupos em defesa dos povos indígenas são exemplos
concretos dessas dificuldades.
Entre 1970 e 2015, houve mudanças substanciais no controle e na
destinação de parcelas territoriais, situadas ao longo das rodovias amazônicas.
No passado, foram destinados 100 km de cada lado das grandes rodovias para
uso federal, disponibilizados à implantação de projetos de colonização e
mineração. Contudo, ainda hoje, depois de quatro décadas, essa cartografia
mostra outro panorama, pois o Governo Federal e seu aparato político e jurídico
intervieram no ordenamento territorial, no sentido de que os blocos de
florestas, situados nas margens destas rodovias, num raio de 10, 50, 100, 200
km, fizessem/façam parte de um conjunto de unidades de conservação, além
de consistirem, em alguns casos, de terras indígenas e parques nacionais. Isso
registra a interferência com inserção de políticas voltadas para diminuir as
ações predatórias sobre uma parcela da Amazônia (OLIVEIRA NETO;
NOGUEIRA, 2016, p. 21).
Conservation Strategy Fund indicou que a BR-319 causaria prejuízo atualizado de até 316
milhões de reais em um período de 25 anos, demonstrando que a reconstrução da BR-319 não
é viável economicamente, e este prejuízo pode ser maior se forem considerados os custos
ambientais e as medidas mitigatórias e compensatórias que devem ser implantadas para reduzir
os impactos ambientais (FLECK 2009).
Por outro lado, os transtornos decorrentes da desestruturação da rede provocaram, em
escala local, uma “desordem” numa velocidade sem precedentes, estabelecendo processos de
abandono de propriedades, desde residências, fazendas e até postos de combustível. Uma
década após a inauguração da rodovia, ela já apresentava inúmeros problemas que afetavam,
diretamente, o fluxo de veículos que a utilizavam e, em pouco tempo, a BR-319 se constituiu
numa via intrafegável aos veículos que circulavam diariamente, apresentando problemas para
o fluxo de passageiros e escoamento de mercadorias entre as cidades de Manaus, Manicoré,
Humaitá e Porto Velho.
Muito se fala sobre a também chamada de Rodovia Manaus - Porto Velho mas sempre se
tem algo a somar. É um direito de ir e vir; além de uma possibilidade para o turismo; o retorno
da rota para escoar a produção do Polo Industrial de Manaus; mais uma alternativa de acesso
ao restante do país; inclusão de Manaus e Boa Vista na malha rodoviária nacional. Rodovias
significam alternativas de acesso e possibilidades de novas atividades econômicas.
“Não há país desenvolvido sem uma infraestrutura de transporte efetiva”. E partindo dessa
frase dita pelo Ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, o Caderno de Estratégias
(CE), lançado no ano de 2019 pelo MINFRA, teve como base a Política Nacional de
Transportes (PNT) e vislumbra “um país com mais produtividade e oportunidades, regiões
geoeconômicas mais integradas e desenvolvidas.” (grifo nosso) (BRASIL, 2019, p. 4).
O trabalho, a partir desse momento, procurou analisar, com foco na Defesa Nacional,
algumas ações principais do Mapa Estratégico. A escolha foi baseada em critérios de afinidade
com o tema. Por exemplo: a estratégia de “melhorar a competitividade da infraestrutura
logística nacional” guarda sua relação com o tema defesa e, ao mesmo tempo, os projetos de
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recuperação das rodovias da Amazônia podem ser encaixados nessa estratégia, como é o caso
do Licenciamento da BR 319.
Seguindo os critérios mencionados, dentro do primeiro eixo estruturante do CE, destacou-
se a ação que visa à melhoria da competitividade da infraestrutura nacional. No segundo eixo
foram selecionadas 3 ações estratégicas: o fortalecimento da articulação institucional, assegurar
a qualidade da infraestrutura de transportes e a otimização da aplicação de recursos públicos.
A primeira ação estratégica selecionada, melhoria da competitividade da infraestrutura
logística nacional, busca “melhorar os índices de produtividade e reduzir os custos logísticos,
por meio da oferta da infraestrutura de transportes integrada, moderna, segura e eficiente.”
(BRASIL, 2019, p. 6).
Quanto ao “fortalecimento da articulação institucional”, não se identificou correlação
com o projeto de Licenciamento da BR 319 a essa ação estratégica, todavia ele foi considerado
muito importante para a DN, tendo em vista que trata das relações institucionais. Este ponto é
considerado essencial, pois o Brasil deve “buscar a interação da PND com as demais políticas
governamentais, visando fortalecer a infraestrutura de valor estratégico para a defesa nacional.”
(BRASIL, 2012, p. 10).
No segundo eixo estruturante, o fortalecimento da articulação institucional com os atores
do setor, visa a “fortalecer o diálogo com diferentes esferas do governo […] de forma a
identificar, políticas, estratégias e ações prioritárias.” (BRASIL, 2019, p. 6).
Seguindo o segundo eixo, a ação estratégica: assegurar a qualidade da infraestrutura de
transportes, possui a finalidade de “manter a infraestrutura de transportes existente em
condições adequadas, por meio de estratégias, métodos e tecnologias para atuar […] na sua
melhoria, conservação, revitalização ou restauração.” (BRASIL, 2019, p. 7).
Finalizando, a otimização da aplicação de recursos públicos significa “priorizar os
investimentos do setor público e os impactos na economia, na sociedade e no meio ambiente,
considerando a distribuição modal ótima da matriz viária brasileira.” (BRASIL, 2019, p. 7).
Observa-se que o projeto de Licenciamento da BR 319 se encaixa em todas as estratégias.
Como exemplo, nesse caso, o projeto foi enquadrado dentro da estratégia “melhoria da
competitividade da infraestrutura logística nacional”, tendo em vista que, realizando a
concessão de uma rodovia federal à iniciativa privada, haverá significativa melhora desta
rodovia, gerando maior competitividade no âmbito da logística nacional.
O Quadro 1 da página seguinte faz a comparação entre as ações estratégicas selecionadas,
o projeto de Licenciamento da BR 319 do MINFRA, e o previsto na PND e na END. A última
coluna explica o porquê de determinada ação estratégica está diretamente ligada, de forma
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O General de Brigada Luiz Eduardo Rocha Paiva possui doutorado em Aplicações, Planejamento e Estudos
Militares na Escola de Comando e Estado–Maior do Exército (ECEME – RJ). Fez o Curso de Estado-Maior na
Escola Superior de Guerra do Exército Argentino e é Professor Emérito da ECEME. Tem publicado diversos
artigos sobre temas políticos e estratégicos, em jornais e revistas nacionais e estrangeiras.
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acabam não sendo contemplados. É nesse ponto que se verifica a possibilidade de melhoria
dessas duas estratégias.
É nítida a necessidade de investimentos na manutenção e ampliação da matriz de
transporte da região amazônica. E essas necessidades são sempre maiores que as
disponibilidades orçamentárias, mas essa assertiva não pode ser justificativa para que se deixe
de pensar em projetos para todos os modais.
O que se propõe é que sejam elaborados projetos estratégicos com previsão de execução
gradativa ao longo dos próximos trinta anos, conforme disponibilidade de recursos.
Os projetos devem ser pensados como de estado e não de governo, para que tenham
perenidade, mesmo diante das trocas sucessivas de chefes de estado ao longo desse tempo
previsto. Além disso, os projetos devem prever a manutenção e ampliação do modal de
transporte.
As propostas de transformação das OM em PP descritas acima, apesar de distintas,
possuem três objetivos comuns: associar a Defesa Nacional aos demais campos do poder,
dominar a pluralidade dos transportes na Amazônia e integrar o Amazonas e os países
fronteiriços ao restante do país.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MARTINS, G.de A.; PINTO R. L. Manual para elaboração de trabalhos acadêmicos. São Paulo:
Atlas, 2001.
https://www.diariodaamazonia.com.br/importancia-da-br-319-para-economia-da-regiao-
norte/. Acesso em: 28 abr 2020.