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UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DOUBLE PLATE PARA OSTEOSSÍNTESE DE

FRATURA COMINUTIVA DE FÊMUR EM CÃO - RELATO DE CASO

MILENA HAUER ANFILO¹;


ITALLO BARROS DE FREITAS²;
CAMILA BRITO DA SILVA³;
ANDRÉ LUIZ SANTOS4;
JOÃO LUIZ ANDROUKOVITCH5;

¹Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – MILENA HAUER ANFILO¹;


²Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – JOÃO LUIZ ANDROUKOVITCH²;

RESUMO: O presente trabalho traz a descrição do caso de uma cadela, Golden Retriever, de
cinco meses de idade que após acidente automobilístico sofreu fratura cominutiva em epífise
distal de fêmur esquerdo. O animal foi submetido a osteossíntese fêmur pela técnica de ‘’Double
Plate’’, que promoveu adequada estabilização e evitou lesão iatrogênica na linha de crescimento
distal femoral. A paciente apresentou apoio do membro em 21 dias, recebeu alta após 30 dias de
pós operatório, sem sequelas e qualquer complicação.

PALAVRAS-CHAVE: canino, ortopedia, double plate.

ABSTRACT: The present work presents the description of the case of a female dog, Golden
Retriever, five months old who, after a car accident, suffered a comminuted fracture in the distal
epiphysis of the left femur. The animal was submitted to femoral osteosynthesis using the
‘’Double Plate’’ technique, which provided adequate stabilization and avoided iatrogenic injury
to the distal femoral growth line. The patient presented limb support in 21 days, was discharged
after 30 days postoperatively, without sequelae and any complications.

KEYWORDS: canine, orthopedic, double plate.


INTRODUÇÃO

Dentre as diversas afecções ortopédicas que acometem os animais de companhia,


destacam-se as fraturas em ossos longos (BATATINHA, 2021), caracterizadas pela perda da
solução de continuidade óssea, podendo causar diferentes graus de lesão dos tecidos moles
adjacentes, incluindo o aporte sanguíneo com perda da função do osso e comprometimento
da função do sistema locomotor (BRINKER, PIERMATTEI & FLO, 2009; DENNY&
BUTTERWORTH, 2006). As fraturas podem ser classificadas de acordo com a localização
anatômica, estabilidade da fratura, extensão da lesão óssea, presença de ferida externa
comunicante, direção, número de linha de fratura e possibilidade de reconstrução (KEMPER,
2010). Levando estes quesitos em consideração, as classificações mais comuns são fechada
ou aberta, completa ou incompleta, transversa, obliqua ou em espiral, múltipla ou
cominutiva, estável ou instável e por fim proximal, distal ou diafisária (DENNY &
BUTTERWORTH, 2006).
As fraturas de fêmur são as mais comuns em cães, representando 20 a 25% de todas
as fraturas e 45% das fraturas dos ossos longos (SOUZA et al, 2011). Essas fraturas ocorrem
devido a ação de forças fisiológicas ou não fisiológicas aos ossos, direta ou indiretamente. O
principal método de diagnóstico é a radiografia, a qual é de grande importância para auxílio
dos médicos veterinários na escolha da melhor técnica de redução e estabilização da fratura.
O tratamento de fraturas é baseado na avaliação do score de fatores biológicos,
mecânicos e clínicos. É necessário realizar uma estabilização absoluta ou relativa, em casos
de fraturas transversas e cominutivas consequentemente. O objetivo da correção cirúrgica é
permitir o apoio precoce do membro e recuperação total do membro afetado, por meio da
consolidação óssea.
As técnicas tradicionalmente utilizadas na osteossíntese dos ossos longos em cães
são pinos intramedulares, haste bloqueada, fixador esquelético externo, placa óssea, pinos
intramedulares e fixação esquelética externa, placa óssea associada ao pino intramedular
(plate-rod) (REEMS, 2003; FOSSUM, 2014). Para escolha do método ideal para tratamento
da fratura, devem ser levados em consideração alguns fatores relacionados ao paciente,
proprietário e condições no pós-operatório, como peso, idade, número de ossos envolvidos e
grau de comprometimento do tecido mole (GOODWIN et al., 2005). O comportamento e
ambiente em que o animal vive, bem como cooperação do proprietário no pós-operatório
também são fatores importantes na escolha.
O objetivo deste trabalho é relatar o sucesso de um caso de osteossíntese de fêmur
com ‘’Double Plate’’ em uma cadela com fratura próximo à linha de crescimento distal, com
consolidação óssea em 30 dias de pós-operatório.

MATERIAL E MÉTODOS

Uma cadela da raça Golden Retriever, de cinco meses de idade e 15kg, foi atendida
na clínica após atropelamento. De acordo com o proprietário a mesma estava estável após o
acidente, no exame clínico o animal apresentava edema e claudicação de elevação do
membro pélvico esquerdo.
Foi realizado exame radiográfico do membro sob sedação com Metadona 0,4mg/kg por
via intramuscular e Propofol 4mg/kg por via intravenosa, visando melhor posicionamento e
mínima dor na manipulação (Figura 1 e Figura 2).
A radiografia confirmou a suspeita de fratura de fêmur, e classificou como
fratura cominutiva em epífise distal de fêmur esquerdo com desvio de eixo ósseo anatômico.

Figura 1: à esquerda, Figura 2: à direita,


radiografia Médio-Lateral do radiografia Ventro-Dorsal
membro para diagnóstico da para diagnóstico da
fratura. fratura.

Fonte: Bruna Luisa Dal Gobbo, 2022.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o diagnóstico, a paciente foi encaminhada para tratamento cirúrgico. Foram


realizados exames pré-operatórios para realização do protocolo anestésico do animal.
Hemograma, bioquímicos e eletrocardiograma se apresentaram dentro da normalidade. O
protocolo anestésico consistiu Metadona 0,3mg/kg associado à Dexmedetomidina 0,3mcg/kg
para Medicação Pré Anestésica. Indução com Propofol 4mg/kg intravenoso, seguida de
intubação oro-traqueal com traqueoubo 6,5. Manutenção anestésica com infusão contínua de
FILK (Fentanil, Lidocaína e Cetamina) e Isoflurano.
Após tricotomia a paciente foi posicionada em decúbito lateral direito. Antissepsia
foi realizada com clorexidine alcóolico 0,5%.
A fratura foi abordada por meio de uma incisão craniolateral do trocanter maior em
direção aos côndilos femorais, seguida pela incisão da fáscia lata e rebatimento da
musculatura para acessar os fragmentos ósseos. Utilizou-se pinças de redução espanhola
para redução da fratura e inserção temporária de um pino de steimann intramedular, inserido
normógrado, para auxiliar a fixação da placa. Por se tratar de uma fratura cominutiva e
muito próximo a linha de crescimento, não seria possível a inserção de uma placa com dois
parafusos distais sem causar lesão na linha de crescimento. A placa reta lateral de aço inox
nove furos foi inserida com dois parafusos bloqueados proximais e um distal. Adicionalmente
uma placa reta seis furos medial foi utilizada para completar a quantidade de corticais a serem
estabilizadas numa osteossíntese com um parafuso bloqueado proximal e um distal. Em seguida
o pino intramedular foi removido e iniciou-se o fechamento da fáscia lata e redução do espaço
morto com fio Poliglecaprone (PGCL) 2-0 em padrão simples contínuo e Cushing
consequentemente. Demorrafia com Nylon 4-0 padrão Sultan.
O objetivo da aplicação dessa técnica foi aumentar a resistência do sistema de fixação,
evitando assim o acometimento da linha de crescimento distal do osso fraturado. Foram
realizadas imagens radiográficas no pós-operatório imediato, as quais demonstraram colocação
correta dos implantes e alinhamento do membro fraturado (Figura 3 e Figura 4).

Figura 3: à esquerda, radiografia Figura 4: à direita, radiografia


Crânio-Caudal do membro, em Latero-Medial do membro em
pós operatório imediato. pós-operatório imediato.

Fonte: Bruna Luisa Dal Gobbo, 2022.

A terapia pós-operatória consistiu do uso de Carprofeno 4,4mg/kg SID durante 7 dias,


Cefalexina 30mg/kg SID durante 7 dias, Dipirona 25mg/kg TID e Tramadol 3m/kg BID durante
10 dias. Além do uso de colar elizabetano 24 horas por dia até a remoção dos pontos, repouso
em piso não escorregadio, passeios diários com coleira e guia para estimular o apoio do
membro e limpeza dos pontos com antisséptico a base de Clorexidine. A paciente foi liberada
após 48 horas de internamento, já com retorno funcional do membro acometido. Após 10 dias a
paciente retornou a clínica para retirada dos pontos de pele. A remoção dos pontos foi feita em
15 dias e nova radiografia em 21 dias de pós operatório.
As imagens radiográficas com 21 dias de pós-operatório mostraram alinhamento correto
do membro, ausência de sinais de osteomielite e formação de calo ósseo (Figura 5 e Figura 6).
A orientação para os proprietários foram da realização de radiografias de controle no período de
30 a 60 dias para avaliação da consolidação óssea e planejamento futuro de remoção dos
implantes.
Figura 4: à esquerda, Figura 6: à direita,
radiografia Médio-Lateral radiografia Médio-Lateral
com 21 dias de pós-operatório. com 21 dias de pós-operatório.

Fonte: Bruna Luisa Dal Gobbo, 2022.

CONCLUSÃO
A técnica de ‘’Double Plate’’ foi eficaz no tratamento da paciente, permitiu apoio em 21
dias, retorno precoce do membro e mostrou-se uma alternativa ao tratamento de fraturas
próximas à linha de crescimento.
REFERÊNCIAS

BATATINHA, R.; JUNOR, D. B. Prevalência de fraturas em cães e gatos


atendidosemprojeto de extensão da clínica cirúrgica na Cidade de Petrolina/PE– 2016
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KEMPER, B.; DIAMANTE, G. A.C. Estudo Retrospectivo das Fraturas do


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CAVINI, J. H. (2011). Afecções ortopédicas dos membros pélvicos em cães: estudo
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