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De acordo com Mendonça, M. M.

(2013), a expressão “humanismo” pode ser definida como


“um conjunto de princípios que estabelecem a valorização e a dignidade inerentes à pessoa,
independentemente de qual seja a sua condição atual no mundo, prescrevendo que cada
homem deve ser tratado por qualquer outro homem e por todas as instituições sociais sob a
regência de valores morais como respeito, justiça, honra, amor, liberdade, solidariedade
etc.”
O escritor Nogare (1985, p. 63) mencionava que o caráter central da consciência da época
da Renascença era de que o homem tinha consciência de que não era um mero expectador
do universo, mas que o mesmo poderia modifica-lo, melhorá-lo, recriá-lo. Foi esse aspecto
que fez com que os humanistas começassem a pensar e reavaliar de forma profunda sobre
o engajamento terreno e suas atividades. O pensamento humanista foi de extrema
importância, pois liberta o homem do autoritarismo religioso. O homem podendo ser um
pensador e podendo ter liberdade foi uma conquista para com a sociedade. E a partir desse
movimento, podemos vivenciar o que chamamos de liberdade de expressão, sem amarras
ou condenações, mesmo que ao longo da história tivermos tido tropeços como a ditadura
miliar. No entanto, após essa libertação de agarras e o homem possuidor de sua liberdade
declarada, houve a criação do humanismo antropocêntrico alienante, na qual o homem se
coloca acima de tudo e se torna individualista.
Em meados de 1960, após o descontentamento com duas vertentes predominantes da
Psicologia, a experimental e cientificista e a psicologia sociológica, houve o movimento de
uma psicologia, na qual foi caracterizada como terceira onda, com a predominância de um
descontentamento dos aspectos mecanicistas e materialistas da cultura ocidental. Essa
terceira onda visava humanizar a atividade psicológica, sem ter que limitar seus
conhecimentos no behaviorismo ou psicanálise, dois movimentos predominantes na época.
Profissionais da abordagem humanistas acreditavam que as abordagens behaviorista e
psicanalítica focavam apenas em aspectos separados do ser humano, excluindo a
subjetividade e complexidade da pessoa para dar ênfase em partes. Portanto, deve-se
entender que a psicologia humanista vem com o objetivo de ampliar os conhecimentos
sobre o sujeito, abrangendo todas as suas partes como um todo, tanto no seu lado obscuro
quanto em seu lado positivo, dando ênfase não só no inconsciente, mas no consciente do
ser, sua liberdade e totalidade no presente. O sujeito tem a liberdade e o potencial de
crescimento em suas escolhas, mesmo que sejam declaradas como positivas ou negativas
socialmente.
Ao longo da trajetória da história da Psicologia, podemos destacar autores que
contribuíram para a abordagem humanista, como: Maslow – pai espiritual da psicologia
humanista, acreditava que todos os indivíduos possuíam uma força inata que os levava à
autorrealização, colocada em prática visando a aplicação plena do seu potencial -; Carl
Rogers – abordagem centrada na pessoa, os sujeitos mudam seus pensamentos de forma
consciente e racional à partir da incondicional, personalidade constituída no presente.
Podemos perceber então a importância da abordagem humanista do homem para a Gestalt-
terapia, pois se faz necessário entender o homem em sua totalidade, mesmo que o mesmo
se apresente em partes no processo terapêutico. Precisamos entender que o sujeito precisa
da autonomia e que a mesma precisa enxergar o potencial que ultrapassa sua existência,
esse potencial de crescimento, essa positividade é o que move o homem, pois é através
dela que o mesmo consegue se reerguer e se transformar.
Deve-se ressaltar que tanto o cliente quanto o terapeuta precisam dessa visão positiva, na
qual o terapeuta precisa se nortear pela empatia, a não julgar por valores morais
estabelecidos pela sociedade, se baseando na dignidade humana e ética humanista através
da experiência do cliente, respeitando a mesma e olhando atentamente para a comunidade
que norteia o cliente. Fazendo com o que o cliente consiga ter uma consciência de si e do
seu mundo, fazendo com o que o cliente tenha uma relação de intimidade no eu espaço de
vivências.
Buber (1982, p. 44) assegura:
Vemos ainda a poética humanista gestáltica em outra ver-/tente clínica, quando ante
o apelo do “incurável” abrimos mão ^das certezas para operar com a esperança... É
também por meio dessa poética que, ao encontrar o outro à sua frente, não se
pergunta como fazer para tratá-lo, e sim como recebê-lo sem rótulos, como escutar
a voz do seu silêncio, como reconhecer nele a mesma humanidade que me
atormenta, me eleva e me permite seguir confiante na evidência da nossa
identidade... Porém, quando diante do sobressalto inesperado da sua singularidade,
essa mesma poética faz que se calem e se recolham todas as vozes da minha
ciência, na escuta reverente do mistério que se anuncia. Assim meu testemunho
privilegiado levará à construção de um saber visceralmente enraizado no fenômeno
humano.
Portanto, o humanismo que queremos retratar na Gestalt a partir da visão holística e
positiva pretende libertar o ser humano de tendências individualistas e antropocentradas,
nasce da expansão da consciência empática, nos empulsiona para a aceitação total e busca
a fraternidade.

Referências:
Moreira, Virginia. (2010). Convergências e divergências entre as psicoterapias de Carl
Rogers e Frederick Perls. Revista do NUFEN, 2(1), 20-50. Recuperado em 31 de março de
2022, http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
25912010000100003&lng=pt&tlng=pt.
Veras, R. P., Lima, P., Mendonça, M. M., Rodrigues, H. E., Cardoso, C. L., & Rehfeld, A.
(2013). Gestalt-terapia: fundamentos epistemológicos e influências filosóficas (Vol. 1).
Summus Editorial.

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