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XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”


Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

ANÁLISE DO MOBILIÁRIO ESCOLAR


EM UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA
ESTADUAL NO MUNICÍPIO DE SANTA
LUZIA/MG
Wemerton Luis Evangelista
wemerton.evangelista@ifmg.edu.br
Viviane Gomes Marçal
viviane.gomes@ifmg.edu.br
Raissa Farias
raissafarias672@gmail.com
Karina Soares da Silva
karinna.soares@hotmail.com

O presente artigo realizou uma análise ergonômica no ambiente de


uma escola da rede estadual de ensino, localizada no município de
Santa Luzia/MG, Brasil. A metodologia utilizada para tal, foi
qualitativa de campo e quantitativa, utilizando, para efetivar os
resultados planejados, a medição dos mobiliários já existentes para os
discentes da escola e a análise da NBR 14006/2008 – Móveis
Escolares. Ao final, foi possível concluir que os móveis utilizados são
inadequados perante a norma já citada, devendo ser substituído
quando possível. Importante ressaltar que as propostas contidas neste
artigo, são meios de obter melhores efeitos no desempenho e ensino,
além de prevenir problemas relacionados a saúde e acidentes.

Palavras-chave: Ergonomia Escolar, Conforto ambiental, mobiliário


1. Introdução

Segundo a Associação Internacional de Ergonomia (IEA), na definição realizada no ano


de 2000, a ergonomia pode ser considerada como o estudo das interações dos homens com
demais elementos do sistema, aplicando a teoria, os princípios e o método de projeto. Em
síntese, a ergonomia visa melhorar o bem-estar humano e o desempenho geral do sistema.

Couto (1995) declara que onde há o ser humano, deveria aplicar a ergonomia, assim,
deve ter ergonomia no ambiente de trabalho. A partir disto surge a criação da Norma
Regulamentadora de Ergonomia, sendo esta a NR 17 (2009), onde contém as definições das
condições do ambiente de trabalho, incluindo aspectos relacionados aos mobiliários, aos
equipamentos, às condições ambientais do posto de trabalho, a organização do trabalho, entre
outros. Portanto, seguindo a declaração realizada por Couto, se torna necessário a integração da
ergonomia no ambiente escolar.

Como o estudante passa longas horas de sua vida sentado no mobiliário escolar, este se
torna um elemento fundamental e de suma importância no procedimento educacional, sendo o
responsável pelo conforto psicológico e físico do estudante, favorecendo ou prejudicando seu
aprendizado (IIDA; BUARQUE, 2016.)

Visto a importância da ergonomia em qualquer ambiente de trabalho e dos demais


fatores citados a cima, este trabalho apresenta uma análise ergonômica do mobiliário da Escola
Estadual localizada no município de Santa Luzia/MG. Este provém de informações adquiridas
por medições e análises ao mobiliário, além de observações aos postos de trabalhos e a
movimentação dos funcionários, realizando o uso de pesquisas qualitativas de campo e
quantitativas para alcançar os resultados.

2. Ergonomia escolar

De acordo com Iida e Buarque (2016), a ergonomia atualmente se interessa cada vez
mais pelas atividades voltadas para escolaridade e ensino, contribuindo para a eficiência destes.
Um fato encontrado com estes estudos voltados para as escolas, é que o aluno passa cerca de 4
horas sentados em carteiras, fato no qual provoca solicitações estáticas da musculatura,
dificultando a circulação e produzindo monotonia e fadiga.

Relacionado a infraestrutura e ambiente das escolas, para os mesmos autores, os projetos


adequados dos espaços podem interferir no desempenho dos docentes e discentes. Por exemplo,
nas salas de aula, deve-se atentar ao posicionamento do quadro em relação a iluminação natural
e artificial, para que não sejam provocados ofuscamentos. Os ambientes físicos, como a
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iluminação, temperatura e ruídos, influenciam diretamente no conforto físico e psicológico,
logo, no rendimento do ensino (IIDA E BUARQUE, 2016).

Devido estes longos períodos sentados, os mesmos autores afirmam que, surgem
posturas inadequadas que causam dores e degenerações que podem prosseguir por toda a vida
dos discentes.

2.1 Mobiliário Escolar

Bergmiller et al. (1999, p. 6), afirmam que “o mobiliário escolar é um elemento de apoio
ao processo de ensino. O conforto físico e o psicológico do aluno vão influenciar no rendimento
da aprendizagem de forma direta”.

Considerando que durante a infância e adolescência o discente não se desenvolve de


forma constante, os móveis utilizados durante este período não podem manter as mesmas
proporções (BURGMILLER et al., 1999). Além do mais, um dos principais problemas no
âmbito do mobiliário escolar, é o fato da maioria das escolas públicas do Brasil, utilizam o
mesmo mobiliário escolar nos três turnos, com clientelas diferentes, ou seja, discentes com
medidas antropométricas diferenciadas. (REIS, MORO e SOBRINHO, 2003)

Oliveira et al. (2010), afirma que é necessário o design do mobiliário se adequar a


antropometria dos alunos, para isso, se faz necessário um levantamento antropométrico da
população estudantil a nível nacional. Reis, Moro e Sobrinho (2003), exemplificam e enfatizam
a gravidade da situação, ao ressaltar que a altura poplítea, sendo esta a altura máxima do assento,
em crianças de até 7 anos de idade fica próxima de 27cm e em adultos de 18 anos, até 50cm.
Considerando que uma criança passa onze anos do ensino fundamental até o médio nos bancos
escolares, é tempo mais do que suficiente para acomodar esse aluno por meio dos hábitos
inadequados, que podem levá-lo a uma série de desordens musculoesquelético, comprometendo
a sua saúde e rendimento.

A NBR 14006 - Móveis Escolares; Assentos e Mesas para Conjunto Aluno de


Instituições Educacionais (ABNT, 2008), define o tamanho adequado para as cadeiras e mesas
dos discentes, sendo que para cada altura de aluno existe um determinado conjunto. Porém
essas especificações técnicas não são muitos utilizadas pelas escolas e fabricantes,
provavelmente pela falta de um selo de qualidade, falta de exigência do consumidor e dos
órgãos fiscalizadores (OLIVEIRA et al, 2010).

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3. Ergonomia na escola em estudo

3.1 Caracterização geral da escola

Na Escola Estadual em que ocorreu a pesquisa recebe alunos do primeiro ao nono ano,
sendo seu maior público de região periférica com poucas oportunidades para que tenham boa
qualidade de vida. Ademais, dispõe do projeto de Educação para Jovens e Adultos (EJA), além
de atividades integradas como, balé, taekwondo, xadrez e acompanhamento para alunos com
necessidades, promovendo desta forma a inclusão escolar.

Esta contém um amplo espaço aberto em seu exterior, utilizado pelos alunos no período
do intervalo e para estacionamento. O espaço interno é composto por salas de aula, sala de
professores, sala de apoio para alunos com necessidades especiais, secretária, diretoria,
biblioteca, sala de vídeo, cozinha, refeitório e quadra esportista. Nesta pes1quisa, a ênfase foi a
análise dos os mobiliários utilizados pelos discentes nas salas de aula.

3.2. Análise ergonômica do mobiliário com foco nos discentes

A escola apesar de possuir um mobiliário novo e conservado, contém apenas um


tamanho de mesa e cadeira (FIGURAS 1 e 2), fato que impede a adequação em todos os itens
da norma NBR 14006/2008 - Móveis escolares - Cadeiras e mesas para conjunto aluno
individual. As tabelas 1 e 2 demonstram as dimensões apropriadas e as encontradas, em
milímetros, segundo a norma já citada.

Figura 1 - Cadeira para discentes encontrada na escola

Fonte: Elaborada pelos autores

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Figura 2 - Mesa para discentes encontrada na escola

Fonte: Elaborada pelos autores

Importante salientar, que assim como na NBR 14006, as tabelas apresentam as alturas
dos indivíduos por classes de cores, onde a cor lilás representa os alunos que possuem de 1,08
a 1,21 metros de altura, a cor amarela de 1,19 a 1,42 metros, a vermelha de 1,33 a 1,59 metros
e pôr fim a cor verde, que varia de 1,46 a 1,765 metros.

Tabela 1 - Tabela de dimensionamento das mesas estudantis

Fonte: NBR 14006, adaptada pelos autores

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Tabela 2 - Tabela de dimensionamento das cadeiras estudantis.

Fonte: NBR 14006, adaptada pelos autores

Portanto, é possível ressaltar que, em relação as mesas, a altura do tampo e a


profundidade mínima do tampo não estão dentro da norma, no caso da profundidade do tampo,
não há registros sobre as condições educativa exigirem a necessidade de reduzir para 450mm.
E em referência as cadeiras, a altura do assento, a profundidade útil do assento e a altura do
ponto S, também não se encontram dentro da NBR 14006/2008, tais dados errôneos, se
encontram de vermelho nas tabelas.

Para a resolução dessas questões, Bergmiller et al. (1999, p. 15), recomendam “a adoção
de tamanhos diferentes de cadeiras e mesas, a fim que sejam atendidos os requisitos básicos de
postura para a realização das diversas atividades na sala de aula, por parte de alunos de
diferentes estaturas.” Oliveira (2010, p. 58), sugere outra solução sendo está, o mobiliário
ajustável adequado a NBR 14006/2008.

Porém é importante salientar que a escola depende de auxilio externo para compra de
novos mobiliários, não tornando estas opções viáveis para a atualidade. Portanto, recomenda-
se, para que não prejudique em excesso a postura dos alunos e para que estes não se sintam
desconfortáveis no móvel, o uso de outras atividades que possam ser feitas em pé ou sentados
no chão. Estas, fariam com que diminuíssem o tempo continuo sentados, podendo até estimular
o interesse dos alunos pela aula em questão.

3.3. Análise ergonômica do mobiliário com foco nos funcionários

A respeito dos professores, na sala de aula, o acento encontrado na escola é símil aos
dos discentes, como demonstrado a seguir na figura 3, o que se torna incorreto segundo Soares
e Santos (2016), que afirmam que, por mais que estes não passem tempo excessivo sentados, é
recomendado para esse momento, cadeiras estofadas tanto no assento quanto no encosto e

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devem possuir altura ajustável e encosto inclinável, propiciando desta forma, melhor regulação
da coluna quando sentarem.

Figura 3 - Carteira para docentes encontrada na escola

Fonte: Elaborada pelos autores

Outro recurso interessante citado pelas mesmas autoras é, a utilização do quadro


ajustável, que se adequaria as diferentes alturas, e “eliminaria o movimento de esticar-se a um
ângulo maior que 90º, e de inclinar o pescoço para cima”.

Um fator importante para a melhoria da saúde dos professores e demais funcionários, é


o início da prática da Ginástica Laboral, que é, de acordo com Lima (2005), a junção de diversas
atividades físicas, realizadas durante o expediente do trabalho e pensada de acordo com o que
o profissional exerce na instituição, tendo como finalidade a diminuição do sedentarismo, a
melhoria da qualidade de vida, o controle do estresse, entre outros.

Silva (2012), afirma que a Ginastica Laboral é uma atividade indispensável no cenário
escolar, principalmente atrelada ao docente. Como na escola já existe um profissional da Saúde,
sendo ele o professor de educação física, a mesma tem possibilidade de executar esta importante
atividade, com o auxílio deste profissional.

Nos demais ambientes de trabalho da escola, encontra-se mesas para trabalho, mesas de
reuniões e mesas auxiliares. De acordo com a NBR 13966/1997 - Móveis para escritório –
Mesas – Classificação e características físicas e dimensionais, as mesas de trabalho são mesas
que possibilitam “produção e execução de tarefas manuais ou informatizadas, sendo
normalmente utilizada por uma só pessoa”. As mesas de reuniões, normalmente são utilizadas
por um grupo de pessoas e proporcionam a realização de reuniões e discussões de trabalhos. Já
as mesas auxiliares, possuem funções secundárias, podendo ser utilizadas como uma superfície

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de apoio ou suporte de equipamentos. Nas figuras 4, 5, 6 e 7 estão demonstradas as mesas de
trabalho encontradas na escola:

Figura 4 - Mesa de trabalho, encontrada na secretária

Fonte: Elaborada pelo autor

Figura 5 - Mesas de trabalho, encontradas na supervisão

Fonte: Elaborada pelo autor

Figura 6 - Mesas de trabalho, encontradas na biblioteca

Fonte: Elaborada pelo autor

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Figura 7 - Mesas de trabalho, encontrada na copiadora

Fonte: Elaborada pelo autor

A norma traz como dimensões corretas da mesa de trabalho as imagens demonstradas nas
figuras 8 e 9:

Figura 8 - Dimensões gerais da mesa de trabalho (vista lateral)

Fonte: NBR 13966/1997, adaptado pelo autor

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Figura 9 - Dimensões gerais da mesa de trabalho (vista frontal)

Fonte: NBR 13966/1997, adaptado pelo autor

Todas as mesas presentes na escola, apresentadas anteriormente, possuem


profundidades errôneas, apresentando valores inferiores ao recomendado pela norma, que
afirma que o mínimo deveria ser de 600mm, exceto a mesa de reunião, exposta na figura 12.
Recomenda-se, portanto, quando possível, a aquisição de novas mesas para os funcionários,
que atenda aos requisitos da NBR 13966/1997.

Pode-se observar também que grande parte das cadeiras não são adequadas. Seria
interessante que a cadeira utilizada para os serviços nas mesas de trabalho e de reuniões sejam
estofadas no encosto e no assento e possuam altura que se adapta e encosto que se inclina, assim
como citado anteriormente para as dos professores em sala de aula.

4. Conclusões

A partir dos resultados apresentados nesse artigo, é possível notar que, na escola em
questão, os ambientes e mobiliários não são adequados para todos os usuários, sejam estes
estudantes, professores, técnicos-administrativo ou demais funcionários, com necessidades e
características individuais. Para a situação inadequada de desacordo com a norma vigente do
mobiliário escolar, este deve ser substituído, quando possível. É importante ressaltar que as

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propostas são meios para obter bons efeitos no desempenho e ensino, além de prevenir
problemas de saúde e acidentes.

5. Referências

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14006:2008 - Móveis Escolares;


Assentos E Mesas Para Conjunto Aluno De Instituições Educacionais. Rio de Janeiro, 2008.

BERGMILLER, Karl Heinz et al. Ensino Fundamental: Mobiliário Escolar - Série Cadernos Técnicos I nº 3.
Brasília/DF: FUNDESCOLA - MEC, 1999.

CHIAPETA, Andrês Valente. Mobiliário escolar e a realidade brasileira. Buenos Aires: Revista Digital - Ano
15 - Nº 143, 2010. Disponível em: < http://www.efdeportes.com/efd143/mobiliario-escolar-e-a-realidade-
brasileira.htm> Acesso em 20 ago. 2017.

COUTO, Hudson de Araújo. Ergonomia aplicada ao trabalho: manual técnico da máquina humana. Belo
Horizonte: Ergo, 1995. V. 1.

IIDA, Itiro; BUARQUE, Lia. Ergonomia: Projeto e Produção. 3ª edição. São Paulo: Editora Edgard Blucher,
2016.

International Ergonomics Association – IEA.

NR, Norma Regulamentadora Ministério do Trabalho e Emprego. NR-17 - Ergonomia. 2009.

OLIVEIRA, Juliana Mendes et al. Ergonomia De Carteiras Escolares E Sua Influência No Estresse Físico
De Alunos Do Ensino Fundamental. Revista Estudos em Design, Rio de Janeiro, 2010. Disponível em:
<https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/18818/18818.PDF>. Acesso em: 1 abr. 2018.

OLIVEIRA, Juliana Mendes. Avaliação Técnica E Ergonômica De Carteiras Escolares Confeccionadas


Com Aglomerados De Bagaço De Cana-De-Açúcar. Lavras/MG, 2010. Disponível em:
<http://www.prpg.ufla.br/ct-madeira/wp-content/uploads/2012/07/Juliana-Mendes-de-Oliveira-
BIBLIOTECA.pdf>. Acesso em: 17 set. 2017.

REIS, Pedro Ferreira.; MORO, Antônio R. Pereira e SOBRINHO, Francisco de Paula Nunes. A altura do
mobiliário escolar e a distribuição de pressão na região glútea em crianças. Congresso Internacional de
Educação Física – FIEP – Foz do Iguaçu, 2003. Disponível em:
<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/EDUCACAO_FISICA/artigos/press
aogluteadaPUC-PADRAO.pdf.> Acesso em: 1 abr. 2018.

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